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CASO II

Elvis, após separar-se de sua cônjuge, Priscilla, no final do ano de 2022, retornou para a
residência de seu genitor, onde passou a residir desde então.
Ocorre que, em virtude da situação conflituosa do fim do relacionamento, Elvis,
extremamente apaixonado pela sua esposa, passou a apresentar quadro depressivo e
de ansiedade, desestabilizando-o sob todos os aspectos, principalmente no que
concerne à sua cognição. Tal fato foi comprovado após Elvis ter se consultado com seu
médico, o qual tratou de elaborar um laudo técnico descrevendo seu quadro clínico de
vulnerabilidade.
Ato contínuo, ainda no mês da separação, Elvis, em uma noite de bebedeira, revelou ao
seu amigo Tom a sua situação emocional, bem como suas intenções em reatar seu
relacionamento a qualquer custo.
Tom, ao ouvir a história de Elvis, informou-lhe que conhecia uma pessoa que mexia com
entidades e que poderia ajuda-lo a reconquistar sua esposa, o “pai de santo” alcunhado
de Arebamba de Oxóssi.
Empolgado com a informação e, confiando na palavra de seu amigo, buscou contato com
o referido “pai de santo”, através das redes sociais, onde se identificavam diversas
publicações de promessas de resolução de problemas de ordem amorosa e demais
questões da vida cotidiana.
Elvis passou a trocar diversas mensagens com Arebamba contando sua história e
revelando todas as suas intimidades, inclusive seu quadro clínico. Com isso, o “pai de
santo” respondeu-lhe, por diversas vezes, que estava pressentindo uma energia pesada
e que diversas entidades malignas estariam rondando a pessoa de Elvis, o que teria
promovido o rompimento da sua relação com Priscilla, bem como atrapalhando o
andamento da sua vida e comprometendo a sua saúde física e psicológica. Para tanto,
trabalhos espirituais seriam de extrema necessidade para resolver sua situação, tendo
sido solicitado a Elvis que este marcasse uma “consulta espiritual” em seu local de
atendimento.
Uma semana após, Elvis dirigiu-se ao local de atendimento de Aribamba para a
realização da consulta espiritual, tendo-lhe sido cobrada a importância de R$ 7.000,00
(sete mil reais), sob o argumento da suposta necessidade de aquisição de materiais a
serem utilizados para a solução das questões amorosas que demandaram tal consulta.
Ato contínuo, Elvis passou a ser cobrado continuamente por Aribamba, o qual insinuava
que tais pagamentos seriam necessários para dar continuidade aos trabalhos, e que caso
isso não ocorresse, “o trabalho não alcançaria o seu objetivo”.
Aribamba, passou então a afirmar para Elvis que: “o seu problema de ordem amorosa é
muito sério” e que por essa razão o “trabalho seria muito demorado”, como também
custoso. Sustentou, ainda, que a sua interrupção acarretaria em prejuízos à saúde do
requerente, bem como de seus familiares. Atemorizado com tais afirmativas, temendo
pelo “iminente injusto”, Elvis anuía com as demandas de Aribamba.
Nesse contexto, Aribamba, percebendo a anuência de Elvis, aumentou vorazmente os
pedidos de aportes financeiros, sempre sob o argumento de que novos trabalhos
precisariam ser realizados, a fim de evitar que as entidades não se voltassem contra a
sua pessoa. Enquanto isso, Elvis, temendo as palavras do “pai de santo”, bem como
almejando reatar seu relacionamento, prontamente, realizava os sucessivos
pagamentos, por meio de depósito na conta do “pai de santo.
Dois meses após, vendo seus recursos financeiros se esgotarem, Elvis, buscou a ajuda do
seu amigo Tom, com o intuito de reverter a questão. Ocorre que, este, ao ouvir as
pretensões de Elvis, alertou-lhe de que este não deveria “brincar” com entidades, em
hipótese alguma, convencendo-lhe a acompanha-lo em um ritual religioso com
Aribamba.
Dessa forma, Elvis, acompanhou Tom e Aribamba, este acompanhado de mais duas
pessoas, Dodô e Osmar, em um ritual religioso realizado em um terreiro. Ao longo do
ritual, as pessoas que acompanhavam Aribamba passaram a afirmar em tons
ameaçadores que estavam a “incorporar santos”, aludindo que se Elvis não efetuasse as
transferências, lhe dariam “tombos” e que o requerido “jogaria um ebó” para que os
familiares do requerente morressem de câncer.
Não fosse o bastante, ainda afirmaram ter ciência do endereço do genitor de Elvis, e que
iriam aparecer por lá e, por meio de entonação extremamente agressiva, proferiram
promessas de mal maior à família de Elvis, bem como ao próprio, e que este “sofreria as
consequências” caso resolvesse desafiar as entidades.
Finalizado o ritual, Elvis extremamente atemorizado, foi levado para casa por Tom, o qual
insistiu que aquele tomasse cuidado para nada de ruim lhe acontecer.
Após novas transferências bancárias para Aribamba, tais pagamentos alcançaram a
inacreditavelmente e vultosa quantia de R$ 1.800.000,00 (um milhão e oitocentos mil
reais). Registre-se que o primeiro depósito feito por Elvis foi direcionado ao CENTRO DE
CULTO AFRO DE ARIBAMBA, e os demais depósitos foram efetivados na conta pessoal do
“pai de santo”.
Mesmo após toda essa situação, as cobranças persistiam. Enquanto isso, Elvis, ao não
vislumbrar qualquer resultado positivo de tal empreitada, se viu cada vez mais
deprimido e isolado, a ponto de não mais sair de casa.
A partir daí, o genitor de Elvis, Vernon, preocupado com a saúde do filho e
extremamente inconformado ao saber da sua relação com Aribamba, buscou as
autoridades policiais para que alguma medida fosse tomada, inclusive porque muitas
das transferências realizadas pelo seu filho ocorreram a partir da conta da empresa da
família, na qual Elvis atuava como responsável financeiro.
Ao ser interrogado na delegacia, Aribamba negou ter praticado qualquer tipo de ameaça
contra a pessoa de Elvis ou de seus familiares e que teria agido de forma legal, por meio
dos seus cultos espirituais e religiosos, atendendo aos pedidos de Elvis.
Quando questionado sobre os valores pagos por Elvis, Aribamba afirmou que não mais
possuía qualquer importância em sua conta, justamente porque tais valores foram
destinados às compras dos materiais para os “trabalhos espirituais”.
Requisitado pela delegada responsável pelo caso, foi deferida a quebra do sigilo bancário
de Aribamba, apurando-se que ocorreram diversas transferências de valores expressivos
para determinadas contas, dentre elas a conta bancária de Tom, Dodo e Osmar, além de
uma corretora imobiliária UJ imóveis.
Ao ser intimado para prestar esclarecimentos, Tom negou ter recebido alguma vantagem
financeira transferida por Aribamba, contudo, alegou que o referido valor recebido em
sua conta se trataria de um percentual “por indicação”.
A delegada, intrigada com a situação requisitou a quebra do sigilo telefônico e de dados
de Tom, tendo sido deferido pelo juízo responsável, sendo sucedida de uma busca e
apreensão nos telefones de Tom. Com isso, foram localizadas diversas conversas entre
Tom e Aribamba, em que aquele fornecia informações privadas da vida pessoal e
financeira de Elvis a este, inclusive o próprio endereço do seu genitor.
Dodo e Osmar afirmaram na delegacia que nada sabiam, porém, teriam sido convocados
por Aribamba para encenar um ritual, a fim de atemorizar uma pessoa, para que essa
realizasse os pagamentos dos “trabalhos espirituais”.
Por fim, as investigações policiais detectaram que a UJ imobiliária teria recebido a
importância de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) como forma de pagamento de um
apartamento de luxo, o qual foi registrado em nome Aribamba.

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