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9 Semiologia Do Sistema Urinc3a1rio1
9 Semiologia Do Sistema Urinc3a1rio1
Sistema Urinário
MARILEDA BONAFIM CARVALHO
gem semiológica e na interpretação dos resulta- dos ao aparelho urinário. Portanto, a anamnese deve
dos dos exames para fins diagnósticos e prognós- envolver todos os itens de caráter geral que compreen-
ticos. A identificação deve incluir, necessariamente, dem a queixa atual (tipo, frequência e duração do
os itens espécie, raça, sexo, idade e procedência. problema) e informações sobre apetite/vômito/tipo
O sistema urinário pode ser acometido por uma de alimento consumido, fezes/defecação, comporta-
grande variedade de afecções. Muitas doenças mento/déficit neuromotor, funções/transtornos repro-
(pielonefrite, urolitíase e cistite, dentre outras) dutivos, doenças/tratamentos anteriores, vacinação,
podem ocorrer em animais de todas as espécies, vermifugação, tratamentos em andamento ou efe-
machos ou fêmeas, jovens ou adultos. Contudo, tuados nos últimos dias, possíveis cirurgias/aciden-
existem afecções que ocorrem especificamente em tes/esforço físico recentes e outros que possam ser
algumas espécies (como por exemplo obstrução particularmente importantes para o animal em ques-
uretral por tampões nos felinos) e outras que aco- tão. Também devem ser feitas perguntas sobre as-
metem preferencialmente algumas raças (como por pectos que, dircta ou indiretamcnte, revelem o es-
exemplo displasia renal em cães Lhasa Apso e Shih tado e a função dos órgãos urinários, explorando mais
Tzu). Considerando a idade do paciente, o clíni- detalhadamente, inclusive, itens já questionados na
co pode conduzir os exames de forma mais efi- anamnese geral (Tabela 9.2).
ciente. Muitos problemas se manifestam nos pri-
meiros meses de vida, enquanto outros aparecem
na vida adulta. Um exemplo interessante é a in- Exame Físico Geral
continência urinária das cadelas cuja causa mais
No momento da execução do exame físico geral
provável será ureter ectópico se o sintoma apare-
do paciente, os órgãos urinários devem ser consi-
cer no animal jovem, mas tratar-se-á, provavelmen-
derados. Contudo, em função das particularidades
te, de distúrbio hormonal se for em cadela adulta
anatómicas de cada espécie animal, tanto no que
castrada.
se refere à conformação geral como às peculiari-
dades dos órgãos urinários, os acessos semiológicos
são distintos para cada caso. Com base nas infor-
Anamnese mações obtidas na anamnese e nos resultados do
O primeiro aspecto a ser considerado na anamnese exame físico geral, o clínico deve decidir sobre a
é o conhecimento de que muitas das doenças que necessidade de aprofundar a investigação por meio
acometem os órgãos urinários resultam em compro- de exames especiais do sistema urinário, que in-
metimento sistémico. Por outro lado, muitas doen- cluem o exame específico e os complementares
ças com sintomas sistémicos (exemplo: diabetes me- (Tabela 9.3).
lito, lúpus eritematoso, erliquiose, toxemia e mio-
patia de esforço, dentre outras) e outras afecções lo- Exames Específicos e
calizadas (exemplo: piometra) podem causar doen-
ça renal secundária suficientemente grave para cau- Complementares do Trato Urinário
sar a morte. Assim, o paciente pode apresentar sin- Concluída a avaliação inicial do paciente, se
tomas indicativos de alterações em diversos órgãos e for encontrado qualquer indício de doença do tra-
sistemas, além daqueles especificamente relaciona- to urinário, ficam indicados exames complemen
Semiologia do Sistema Urinário 433
tares que serão eleitos de acordo com as possibi- Exame dos Rins
lidades diagnosticas aventadas. Dentre os exames
especiais, a urinálise destaca-se por ser necessá- Para examinar os rins, deve ser feito exame
ria em praticamente 100% dos casos. Outros exa- físico de ambos os órgãos, sempre que possível, e
mes incluem as provas de função renal, exames também do seu produto mais acessível - a urina.
radiográficos, ultra-sonografia e uretrocistoscopia. Os exames complementares dos rins incluem tan-
A técnica de palpação destaca-se no exame físico de to avaliações feitas por inspeção e palpação, como
rotina. A palpação dos órgãos urinários, seja externa exames laboratoriais e provas de função renal
ou por via retal, é útil para verificação das (Quadro 9.1 e Tabelas 9.4 e 9.5).
características anatómicas e para avaliação da sensi- Os rins podem apresentar diversos tipos de
bilidade. É importante ressaltar que o examinador alterações tanto congénitas quanto adquiridas
não pode executar movimentos bruscos. O contato (Tabela 9.7). Estes órgãos possuem grande capa-
de pelo menos uma das mãos do examinador com o cidade de reserva funcional e podem manter a
corpo do paciente deve sempre ser mantido durante
produção de urina, como também suas demais
as trocas de posição. A pressão necessária para palpar
funções, enquanto sofrem algum tipo de doença.
cada órgão deve ser aplicada de forma gradativa, até
Assim, ao serem examinados os rins, o clínico deve
que se atinja o grau mínimo necessário. O término da
avaliar (1) a possibilidade de existência de algu-
pressão também deve ser feito de forma gradativa.
Estes cuidados evitarão desconforto desnecessário ao ma doença renal em curso, sem comprometimento
paciente e, principalmente, impedirão que um grau importante da função e (2) a possibilidade de
normal de sensibilidade venha a ser erroneamente haver déficit da função renal. Quando ocorre défi-
interpretado como dor decorrente de doença. O au- cit da função renal, o exame do paciente deve ser
mento da sensibilidade ou dor, quando existir, será conduzido de modo a elucidar a causa envolvida.
manifestado por gemidos ou reação de defesa, du- Nos casos de déficit funcional com comprome-
rante o toque suficientemente profundo, mas suave, timento da função de depuração (redução severa
da área afetada. Outro dado a ser destacado é que a da filtração glomerular), o paciente apresenta au-
ausência de sensibilidade dolorosa ou mesmo de al- mento das concentrações séricas dos produtos fi-
terações anatómicas detectáveis à palpação dos ór- nais do metabolismo de substâncias nitrogenadas
gãos urinários não descarta a possibilidade de doen- (creatinina e ureia). Este achado laboratorial, de-
ça. Muitas afecções, inclusive várias de caráter grave, nominado azotemia, pode ter causa pré-renal, re-
não cursam com alterações perceptíveis à palpação. nal ou pós-renal (Tabela 9.6). Se o problema per-
434 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Quadro 9.1 - Técnica para palpação externa dos rins em cães e gatos.
A palpação externa dos rins é feita com as gemas dos dedos (indicador, médio e anular), posicionados um junto ao
outro e ligeiramente flexionados. As gemas dos dedos são posicionadas o mais profundamente possível, abaixo das
apófises transversas das vértebras lombares, a partir do ângulo formado com as últimas costelas, e vão sendo des-
lizadas em direção caudal e caudo-ventral. Este procedimento deve ser feito com ambas as mãos, simultaneamente,
aplicadas cada uma de um dos lados do corpo do paciente, dirigidas uma contra a outra (como se as gemas dos
dedos de uma das mãos fossem tocar as da outra). Uma vez localizado o órgão, o examinador deve avaliar tamanho,
forma, características da superfície, consistência e sensibilidade.
Tabela 9.4 - Sumário das técnicas indicadas para o exame dos rins de cães, gatos, equinos e ruminantes.
Aplicabilidade
Exame físico de rotina
Perfil bioquímico sérico (exames mais comuns) Dosagens das concentrações séricas de creatinina, ureia, pro-
teína, potássio e fósforo, dentre outros Clearance de
Avaliação da função glomerular Avaliação da creatinina Razão proteína:creatinina urinária Excreção
fracionada de sódio Densidade ou osmolalidade urinária
função tubulointersticial Teste de privação de água
Causas pré-renais
Desidratação severa
Insuficiência cardíaca
Hipoadrenocorticismo
Outros
Causa renal Doença renal com comprometimento da função
Causas pós-renais Obstrução uretral (parcial ou total) Obstrução de
colo vesical (parcial ou total) Ruptura de bexiga
Deslocamento de bexiga (hérnia perineal)
siste, o paciente sofre alterações orgânicas impor- me nefrótica, que se caracteriza por proteinúria, hi-
tantes em função de quebra da homeostase e passa poprotcinemia, edema e ascite.
a apresentar um conjunto de sinais e sintomas clí-
nicos e laboratoriais, que caracterizam o quadro
conhecido como síndrome urêmica ou uremia (Qua- Exame dos Ureteres
dro 9.2). Esta condição pode se apresentar tanto
sob a forma aguda como sob a forma crónica, de acordo Os ureteres podem sofrer processos obstru-
com o tipo de doença renal em curso.
tivos parciais ou totais que resultam, a longo pra-
Outra condição bastante peculiar é a do pacien-
zo, em grande dilatação pelo acúmulo de urina
te com glomerulonefrite crónica. Neste caso os rins
normal ou contaminada por infecções, caracteri-
perdem a capacidade de conservar proteína e desen-
zando o quadro de megaureter. O desenvolvimento
de megaureter, em um grande número de casos
volve-se uma condição sistémica denominada síndro-
observados em cães e gatos, é secundário a pro-
cesso congénito de falha na implantação do ure-
ter na bexiga (ureter ectópico), com ocorrência
Quadro 9.2 - Conceito de síndrome urêmica
(uremia).
de obstrução. Em animais pequenos, o exame dos
ureteres é possível somente por inspeção indire-
Conjunto de sinais e sintomas que caracterizam as ta, por meio de radiografia contrastada (urografia
manifestações sistémicas resultantes de mau funcio- excretora). Este exame radiográfico é útil para
namento dos rins. Na síndrome urêmica existem com- diagnosticar processos obstrutivos ureterais, com
prometimentos gastrointestinais, neuromusculares,
ou sem megaureter e ainda é adequado para diag-
cardiopulmonares, endócrinos, hematológicos e of-
nosticar os casos de ruptura ureteral. Em condi-
tálmicos. A azotemia também é um dos achados la-
boratoriais da síndrome urêmica.
ções excepcionais, parte dos ureteres pode ser exa-
minada por meio de ultra-sonografia. Nos casos
436 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
palpação retal ou vaginal (com um dedo) e de pal- normal à micção, que é particular para cada espé-
pação externa (mão sob forma de pinça). Nos cie animal (Tabela 9.10).
equinos e nos bovinos, a bexiga pode ser examina- As alterações da micção podem estar relacio-
da por palpação retal; nas fêmeas é possível exa- nadas a vários problemas que incluem tanto afecções
minar a bexiga por palpação vaginal. Durante a pal- do trato urinário como afecções extra-urinárias. Com
pação vesical verifica-se localização, volume, for- o exame clínico completo e o detalhamento na
ma, consistência, tensão e sensibilidade. Caso a avaliação do trato urinário é possível diagnosticar
bexiga contenha pouco volume de urina, pode ser a causa do transtorno da micção. Os termos
avaliada a espessura da parede e, muitas vezes, é semiológicos apropriados para cada tipo de altera-
possível detectar a presença de cálculos ou de ção da micção e suas possíveis causas estão apre-
massas anormais. Quando indicado, durante a sentadas nas Tabelas 9.11 e 9.12.
palpação, pode ser feita expressão manual da be-
xiga para verificar se a uretra está patente (de- Frequência da Micção
sobstruída) ou para coleta de amostra de urina. A
Para manter o equilíbrio de água, o volume da
bexiga também pode ser examinada por meio de
urina produzida em 24 horas deve ser proporcio-
radiografias e ultra-sonografia, que são métodos de
nal ao volume de água ingerida. Entretanto, quando
inspeção indireta (Fig. 9.2). Em pequenos animais,
ocorre aumento de perda de água por vias extra-
as grandes distensões de bexiga, causadas por re-
renais (respiração, transpiração, defecação, lacta-
tenção de urina, podem ser detectadas por inspe-
ção), deve haver diminuição do volume de urina
ção direta do abdome. Nestes casos, o conteúdo
produzida, a menos que haja aumento compensa-
líquido pode ser identificado e delimitado por meio
tório da ingestão de água. A frequência de micção,
de percussão digito-digital (som maciço).
indicada pelo número de vezes que o animal urina
Na tabela 9.9 estão apresentadas as técnicas
em 24 horas, deve ser proporcional ao volume de
para exame da uretra.
urina produzida no mesmo período (Tabela 9.13).
Cada espécie animal tem um padrão para a fre-
quência de micção (lembrar que os recém-nasci-
Avaliação da Micção dos sempre urinam muito mais que os adultos).
Para avaliação da micção devem ser conside- Contudo, diversas condições fisiológicas ou pato-
radas as informações obtidas durante a anamnese lógicas podem implicar alteração do número de
(Tabela 9.3). A esse respeito deve ser lembrado vezes que o animal urina. As variações na frequência
que são frequentes informações não precisas que, de micção recebem denominações específicas que
não raramente, decorrem de falta de clareza das incluem polaquiúria ou polaciúria, oligosúria e
perguntas formuladas pelo veterinário. O ideal é iscúria ou retenção de urina. Outra condição que
que a avaliação seja feita pelo próprio clínico (ins- também modifica a frequência de micção é a per-
peção), assim que possível. Para identificar os trans- da de urina decorrente de incontinência urinária
tornos da micção, deve ser considerada a postura (ver Fig. 9.3 e Tabela 9.14).
Tabela 9.9 - Sumário das técnicas semiológicas indicadas para o exame da uretra de c ães, gatos, equinos e
ruminantes.
Aplicabilidade
Exame físico de rotina
Inspeção direta Exames específicos e Permite o exame do meato urinário externo em todos os animais
complementares
Inspeção direta por uretroscopia Eficiente para avaliação interna da uretra e para biopsia; pode
ser empregada em todos os animais nos quais seja possível a
cateterização vesical (como parte da cistoscopia tra n s u retrai)
Equinos Geralmente só urinam quando não estão trabalhando. A postura para micção é similar para ca-
valos e éguas e consiste em extens ão dos membros torácicos seguida por abaixamento do abdo-
me e inspiração, que resultam em aumento da press ão intra-abdominal. O cavalo faz ligeira
exposição do pênis
Ruminantes As vacas adiantam os membros pélvicos, arqueiam o dorso e elevam a cauda. Os bovinos machos
urinam tanto quando estão parados como quando estão andando ou comendo. A urina é eliminada
na cavidade prepucial, de onde escorre através do meato. Os ovinos adotam as mesmas posturas de
micção observadas em bovinos
Caninos As cadelas flexionam os membros pélvicos de modo que o períneo fique paralelo ao solo, faltando
pouco para tocá-lo. Os cães levantam um dos membros pélvicos e direcionam o jato para um objeto
selecionado. Quando filhotes, antes da maturidade sexual, os machos adotam a mesma postura de
micção das fêmeas. Os cães adultos, principalmente os machos, podem urinar pequenas quantida-
des, muitas vezes seguidas, para marcar território
Felinos A postura adotada, tanto pelas fêmeas como pelos machos, é a mesma das cadelas. Os felinos fazem
uma pequena cova onde depositam a urina, cobrindo-a após a micção.
Machos e fêmeas sexualmente maduros podem ter o hábito (não desejado pelo proprietário) de
eliminar urina sob a forma de spray (marcação de território). Primeiro o animal cheira o alvo,
então se vira de costas e emite o jato. O alvo é sempre uma superfície vertical de cerca de 20cm
acima do solo
Caracteriza-se por sinais de desconforto ou de dor à micção, podendo haver dificuldade para eliminação d a
urina. De acordo com a causa e a intensidade do problema, as manifesta ções de disúria podem variar tanto
quanto ao tipo como quanto à intensidade. Assim, a disúria pode ser classificada como micção dolorosa, estrangúria
ou tenesmo vesical
Causas possíveis
• Enfermidades dolorosas da bexiga, uretra, vagina ou prep úcio
• Enfermidade dolorosa de outros órgãos comprimidos pela prensa abdominal durante a mic ção
• Peritonite aguda
• Tumores ou cálculos vesicais
• Obstruções uretrais
Micção dolorosa Durante os esforços de micção, o animal apresenta gemidos, desassossego, movimentos de um lado
para o outro, olhares dirigidos para o ventre, agitação da cauda, "sapateado"
Estrangúria Caracteriza-se por esforços prolongados, com intervenção enérgica da prensa abdominal, sem
eliminação de urina, ou que acabam por produzir eliminação de poucas gotas ou de poucos jatos
finos de urina, acompanhados de manifestação de dor (gemidos)
Tenesmo vesical É um esforço constante, prolongado e doloroso para emissão de urina. Nos casos extremos, o
animal pode conservar constantemente a postura de mic ção. Nesse quadro, a vontade de urinar é
constante, mesmo que a bexiga contenha volume de urina pequeno ou esteja vazia
ou tratadores dos animais. O veterinário deve A presença de sangue na urina merece inves-
obter informações sobre o aspecto da urina le- tigação especial, feita por inspeção do paciente,
vando em consideração que, na maioria das ve- tanto durante o ato da micção como durante um
zes, a resposta só será válida se a urina foi vista período de intervalo (lembrar que, muitas vezes,
durante ou imediatamente após a micção. As o informante observou atentamente e pode for-
alterações de urina, mais comumente descritas necer os detalhes, se for questionado). Para esta
pelos informantes, incluem urina anormalmente inspeção, o clínico deve considerar três momen-
escura e de odor fétido. Também há relatos de tos distintos durante a micção: a fase inicial ou de
presença de sangue, de cálculos pequenos, de eliminação do primeiro jato de urina, a fase inter-
muco, de catarro ou de pus. Uma observação mediária ou do jato médio, e a fase de conclusão
importante a ser feita é a de que, em nosso meio, ou do jato final. Adicionalmente, considera-se a
com muita frequência, os informantes descrevem fase de repouso ou de intervalo entre as micções
como "pus na urina" o que, na realidade, seriam (Tabelas 9.17 c 9.18; Quadros 9.4 e 9.5 e Fig. 9.4).
cristais eliminados em abundância; "odor fétido
anormal", para o que seria característico da es-
pécie, além de outros equívocos. Seja qual for a COLETA DE URINA PARA
alteração descrita, a informação deve ser valida-
da pela inspeção feita pelo próprio veterinário. EXAME LABORATORIAL
Uma amostra de urina, coletada adequadamen-
te, deve ser enviada para exame laboratorial A coleta de urina para exames laboratoriais deve
(urinálise e outros exames indicados). É impor- ser feita obedecendo rigorosamente os crité-
tante, também, a certificação de que a urina não rios necessários para cada caso. As amostras
esteja sendo contaminada por material provenien- podem ser obtidas por micção espontânea, por
te do trato genital (secreções vaginais, uterinas, cateterismo vesical e por cistocentcse. No caso
prostáticas e prepuciais). de coleta por micção espontânea recomenda-
444 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
Figura 9.4 - Alterações macroscópicas da urina. (A) gato com cistite hemorrágica, notar o jato de urina sanguinolenta
(hematúria) obtido por expressão manual da bexiga; (B) urina de equino com pielonefrite, notar floculação decorrente
de piúria e depósito constituído principalmente por cristais; (C) (D) (E) e (F) representações esquemáticas para locali-
zação de hemorragias do trato urinário de acordo com a quantidade de sangue presente em cada um dos jatos de urina
(primeiro, intermediário e final).
446 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
crónica; cistografia de contraste duplo para sibilidade de doença renal. A produção de urina
diagnóstico de cálculos vesicais radiolucentes). com estas características, muitas vezes, está re-
4. Se ao examinar o paciente forem detectados lacionada a doenças renais graves e possível
sinais indicativos de doença do trato urinário, insuficiência renal. Adicionalmente, este tipo de
ou se for necessário diagnóstico diferencial, a urina pode estar relacionado a doenças como
urinálise (exames físico, químico e sedimen- diabetes melito ou insípido, polidipsia psico-
toscópico de urina) é imprescindível. Mesmo gênica, uso de diuréticos não revelado pelo
nos casos de processos mecânicos como a proprietário, dentre outros problemas. 7. A
obstrução uretral por cálculos já detectados, a hematúria macroscópica pode ser relatada
urinálise deve ser feita no momento conve durante a anamnese c observada ao exame fí-
niente, para verificação de possível distúrbio sico do paciente. As hematúrias podem ocorrer
concorrente ou predisponente. por lesão mecânica (trauma acidental ou por
5. As doenças do trato urinário, exceto nos casos urólitos), inflamação ou neoplasia de qualquer
dramáticos como a obstrução uretral (iscúria e órgão do sistema urinário ou genital. A
tenesmo vesical) e nefrite intersticial aguda observação precisa do tipo e momento de ocor-
causada por leptospirose (sinais sistémicos e rência da perda de sangue traz informações,
alteração macroscópica de urina), dentre ou muitas vezes decisivas, para a localização do
tros, podem cursar de forma insidiosa, ou se problema. Gotejamcnto de sangue ou de secreção
rem "suportadas" pelos animais domésticos sem sanguinolenta pela vulva ou óstio prepu-cial,
manifestações relevantes. O examinador deve fora dos momentos de micção, são indicativos de
estar atento para os pequenos detalhes da re transtorno dos órgãos genitais (comum na doença
senha e anamnese que, combinados a resulta prostática do cão). Nas fêmeas também devem
dos por vezes aparentemente irrelevantes do ser consideradas as manifestações fisiológicas
exame físico, indiquem a necessidade de
de cio, parto e puerpério.
urinálise e de exames especiais para conclusão
bem-sucedida do diagnóstico.
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