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CAPÍTULO 2 – EXPLORAÇÃO DO SUBSOLO

O primeiro requisito para se abordar qualquer problema de Mecânica


dos Solos consiste num conhecimento, tão perfeito quanto possível,
das condições do subsolo, isto é, no reconhecimento da disposição,
natureza e espessura das suas camadas, assim como das suas
características, com respeito ao problema em exame. [...] Tanto a
escolha do método e da técnica como a amplitude das investigações
devem ser função das dimensões e finalidades da obra, das
características do terreno, dos dados disponíveis de investigações
anteriores e da observação do comportamento de estruturas próximas.
(CAPUTO, 2020).

2.1 – Investigações geotécnicas

A investigação geotécnica consiste na realização de ensaios que visam


conhecer o comportamento mecânico do solo, através da caracterização de seu
perfil e determinação de sua resistência. Essa caracterização é de suma
importância para a escolha da fundação de uma edificação, bem como dos
equipamentos que serão utilizados.

Figura 2.1.1 – Caracterização do subsolo

Fonte: adaptado de GENARE ENGENHARIA (2020).


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A falta da investigação geotécnica pode gerar patologias e problemas


construtivos como fissuras, trincas, deslizamentos e desaprumos.

Figura 2.1.2 – Patologias geradas por recalque

Fonte: PINHEIRO (2016).

 CASO DA TORRE DE PISA: construída sobre um terreno de argila e


areia, a torre começou a inclinar após a progressão de construção do
terceiro andar. O recalque diferencial ocorreu devido a uma fundação de
menos de 3,00m em um subsolo fraco e instável. A construção, iniciada
em 1173, foi paralisada por quase um século. O sétimo andar foi finalizado
apenas em 1319. Entre os anos de 1990 e 2001, a torre passou por um
processo de reforma e reforço estrutural.
Figura 2.1.3 – Torre de Pisa

Fonte: PINHEIRO (2016).

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 CASO DOS PRÉDIOS DE SANTOS: construídos nas décadas de 50 e 60,


na orla de Santos, cuja primeira camada apresenta em torno de 20,0m de
solo compacto, não foi verificado, através de uma investigação completa,
que abaixo desta havia um solo extremamente mole, tendo alguns pontos
com resistência nula. Foram utilizadas fundações rasas para edificações
de até 10 andares. Com o tempo, os recalques foram causando o
desaprumo nas edificações.
Figura 2.1.4 – Prédio de Santos

Fonte: FECCI (2018).

Figura 2.1.5 – Análise do solo na orla de Santos

Fonte: FECCI (2018).

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2.2 – Investigações de campo

Segundo Schaid (2000), no Brasil, estima-se que o custo envolvido na


realização de sondagens de reconhecimento varia entre 0,2 a 0,5% do custo total
da obra. Os métodos de investigação geotécnica compreendem as sondagens
de simples reconhecimento (abertura de poços) e os ensaios de campo.

A programação das sondagens é normatizada pela ABNT NBR 8036, que


especifica que o número de pontos, bem como sua localização em planta
dependem do tipo da estrutura e das condições geotécnicas do subsolo. A tabela
abaixo especifica o número de sondagens em função da área do terreno:

Tabela 2.2.1 – Programação de sondagens do subsolo


Área (m²) N. de Furos
≤ 200 2
200 – 400 3
400 – 600 3
600 - 800 4
800 - 1000 5
1000 - 1200 6
1600 - 2000 7
2000 - 2400 8
> 2400 Critério do Projetista
Fonte: ABNT NBR 8036 (1983).

Os furos devem ser realizados de forma a cobrir toda a área da construção


que esteja sob carregamento, devendo ser conduzidos de acordo com as
condições geológicas do local. A seguir, apresenta-se algumas recomendações
práticas:

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Figura 2.2.1 – Disposição dos furos

Fonte: O autor (2020).

O procedimento em campo de uma investigação geotécnica inicia-se com


a visita ao local. Neste momento, deve-se proceder uma análise visual e a coleta
de informações sobre as edificações vizinhas. Para a implantação do projeto,
faz-se necessário também a análise topográfica do relevo.

Segundo Caputo (2020), a profundidade a ser alcançada pelas sondagens


deve levar em conta a distribuição de pressões. Na prática, sugere –se que a
profundidade média das sondagens para fundações, a partir de sua cota,
considere:

𝑧 ≥ (0,8 𝑎 1,0) ∗ 𝑝 ∗ 𝑏 Equação 2.2.1

Onde “p” é a pressão média na base de fundação e “b” a menor dimensão


em planta do elemento de fundação.

Figura 2.2.2 – Profundidade dos furos

Fonte: O autor (2020).

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2.3 – Métodos de investigação geotécnica

Com relação à retirada de amostras, os métodos empregados para


exploração do subsolo são classificados em:

 ENSAIOS COM RETIRADA DE AMOSTAS: consiste na abertura de


poços de exploração e na execução de sondagens. As amostras, por sua
vez, podem ser deformadas (destinadas apenas à identificação e
classificação do solo) ou indeformadas (requer conservação de textura,
estrutura e umidade. Em laboratório, podem ser realizados os ensaios:
granulometria, limites de Atteberg, densidade, umidade, cisalhamento
direto, adensamento, entre outros.

 ENSAIOS IN LOCO: ensaios que são realizados in situ e não requerem a


retirada de amostras.

Dentre os principais métodos de investigação geotécnica, destacam-se:

 ABERTURA DE POÇOS OU TRINCHEIRAS: de acordo com a ABNT


NBR 9604, os poços e trincheiras são perfurações que permitem o exame
visual das paredes de escavação, bem como a retirada de amostras
deformadas e indeformadas. Estas últimas são executadas em blocos
cúbicos de 15 a 40 cm:

Figura 2.3.1 – Poços

Fonte: CONTECH (2020).

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As trincheiras são mais utilizadas em obras lineares como estradas,


ferrovias e barragens.

Figura 2.3.2 – Trincheiras

Fonte: Google imagens (2020).

 SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO (ESCAVAÇÕES A


TRADO): este tipo de sondagem é executada através do equipamento
trado tipo cavadeira ou helicoidal, podendo também ser utilizado
equipamentos mecânicos. A sondagem a trado é normatizada pela ABNT
NBR 9603 e permite a retida de amostras deformadas.

Figura 2.3.3 – Trados manuais (a) cavadeira (b) helicoidal (c) motorizado

Fonte: Google imagens (2020).

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Figura 2.3.4 – Trado mecânico

Fonte: Google imagens (2020).

 SONSAGEM A PERCURSSÃO (STANDARD PENETRATION TEST –


SPT): o SPT é um tipo de sondagem que, além da retirada de amostras,
fornece a resistência dinâmica a cravação do solo. De acordo com a
ABNT NBR 6122, para qualquer edificação deve ser feita uma campanha
de investigação geotécnica preliminar constituída, no mínimo, por
sondagens a percussão. No Brasil, este tipo de sondagem é normatizado
pela ABNT NBR 6484. O SPT é realizado a cada metro, sendo que os
primeiros 45,0cm são divididos em 3 segmentos e os 55,0cm restantes
são desconsiderados. O ensaio consiste em registrar o número de golpes
necessários para a cravação do equipamento a cada 15,0cm de solo.
Figura 2.3.5 – Ensaio SPT

Fonte: Google imagens (2020).

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Figura 2.3.6 – Equipamento SPT

Fonte: Google imagens (2020).

Figura 2.3.7 – Procedimento do ensaio

Fonte: FLORIANO (2015).

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De acordo com a resistência apresentada, os diferentes tipos de solos são


classificados como:

Tabela 2.3.1 – Classificação dos solos em função do SPT


Índice de resistência à
Solo penetração Designação1)
N
≤4 Fofa(o)
5a8 Pouco compacta(o)
Areias e siltes Medianamente
9 a 18
arenosos compacta(o)
19 a 40 Compacta(o)
> 40 Muito compacta(o)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
6 a 10 Média(o)
argilosos
11 a 19 Rija(o)
> 19 Dura (o)
1) As expressões empregadas para a classificação da compacidade das areias (fofa,
compacta, etc.), referem-se à deformabilidade e resistência destes solos, sob o ponto de
vista de fundações, e não devem ser confundidas com as mesmas denominações
empregadas para a designação da compacidade relativa das areias ou para a situação
perante o índice de vazios crítico, definidos na Mecânica dos Solos.
Fonte: ABNT NBR 6484 (2001).

Questão de reflexão:

Quais as principais informações obtidas em uma sondagem geotécnica?


De que forma o tipo de solo influência na escolha do equipamento utilizado?

Fonte: Google imagens (2020).

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Exercícios do capítulo

1) [CGU/2012]. Em um projeto de pavimentação, os estudos geotécnicos


devem fornecer elementos necessários ao projeto e construção dos
pavimentos e devem contemplar estudos relativos a qualificar e quantificar
as jazidas, avaliar as condições do subleito e realizar sondagens para
dimensionamento de fundações de obras de arte. Assim, considerando o
relatório de sondagem da figura, a profundidade do nível d'água e o valor
do NSPT para a profundidade de 15m seriam, respectivamente:

a) 5,0m e 17.
b) 5,5m e 33.
c) 5,5m e 16.
d) 5,5m e 17.
e) 5,5m e 4.

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