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Dedico esse livro a Jesus, que foi a maior

prova de morte e renascimento em


toda história da humanidade!
Agradeço a todas as pessoas e situações
que me jogaram no chão, pois neste
exato momento conheci outras que
me levantaram e me fizeram melhor
Prefácio

palavra morte sempre me


assombrou. Mesmo que eu soubesse
que ela fazia parte da vida. Talvez, a
única parte certa e confiável dela.

Então, quando surge o Ricardo, com a


provocativa fra- se “Espero que você
Morra”, recuei. Morrer, até então,
significava perder a vida. Só que o sentido
da frase era muito mais profundo. Eu
precisava morrer, para viver.
A morte, na verdade, era a única palavra
que nos fazia sentir vivos. Comecei a
experimentar pequenas mor- tes. E era
difícil morrer.
Temos, todos os dias, recursos que
alimentamos para não deixarmos certas
coisas morrerem na gente. O ape- go é
grande demais para ser desprezado.
Então, dei o primeiro salto. O que exigiu
mais coragem. Matar aquilo que estava
velho dentro de mim era ne- cessário,
para que nascessem coisas novas.
Justo eu que era tão amiga das mudanças,
estava ape- gada à rotina e ao conforto de
uma vida com segurança.
Morri para a segurança e olhei para minha
intensa ca- pacidade de sabotar a mim
mesma. Matei esse pedaço de mim, que
insistia em me segurar. Esqueci meus hábi-
tos e alguns deles morreram de fome.
Parei de nutrir ilusões e muitas delas morreram.

Matei a culpa. Assumi a responsabilidade.


Deixei de lado papéis, que morreram de
esquecimento. As neuro- ses precisaram
ser exterminadas, uma a uma.
E eu velei todos os problemas, sabendo
que não me acompanhariam mais.
O Ricardo é um exterminador de
limitações. Através de suas
provocações, ele consegue que cada
ser huma- no faça uma alquimia,
transformando aquilo que limi- ta em
algo que potencializa.
Na prática, ele faz a gente morrer um
pouco por dia. Através das reflexões, traz
para a consciência coisas que ficavam
guardadas na caixa de Pandora e nos sen-
sibiliza a entender finitude, permanência e
os ciclos que perpetuamos sem perceber.
Vivemos como se fossemos eternos, e
quando recebe- mos um chamado que nos
acorda para a vida, consegui- mos
entender a força de transformação que
temos para deixar de viver a vida em
ponto morto.
‘Espero que você morra’, não é uma
ferramenta que te ajuda a matar o que te
impede de viver. Ele te convida a refletir
sobre a finitude, o tempo, as limitações e
ex- termina AS POSSIBILIDADES DE VOCÊ
SER INFELIZ.
Se ninguém vai sair vivo daqui, é bom
matar o que nos impede a viver, dia após
dia.
Obrigada por nos desejar isso!

— Cinthia Dalpino
Jornalista, escritora, ghost
writer e criadora do Mãe
At Work
Prólogo

odos sabemos que a morte não


existe sem a vida, mas poucos se
dão conta de que a vida não exite
sem a morte.

Foi através desta descoberta que renasci.

Hoje todos dizem que sou um cara intenso.


Me jogo sem rede de proteção nas
experiências que a vida me traz e tento
me reinventar diariamente fazendo com
que todo meu sistema de crenças, meus
julgamentos e con- vicções sejam
queimados com o raiar do dia.
Desta forma, é como se a cada manhã eu
me deixasse contaminar por uma nova
maneira de enxergar a vida. Mais que um
mutante, me sinto parte dessa experiência
que contagia.
Por isso, eu espero que você morra, ao
terminar esse li- vro. Porque só a morte do
seu velho eu pode fazer com que você
sinta a vida pulsar.
Não existe nada mais impactante que a
iminência da morte para provocar na
gente a experiência da trans- formação. A
alquimia da qual o sábio Jung tanto falava.
Nessa trajetória, percorri caminhos que me
fizeram dar de cara com a morte – física,
mental, espiritual e energé- tica. Foram
tantas mortes ao longo da minha vida, que
quando olho para trás, vejo que parece
que vivi muitas vidas em uma.
Esse entendimento foi possível porque
abandonei o apego – e entendi que para
me relacionar com o mundo eu precisava,
primeiro, entender como me relacionar
comigo mesmo.
De todas as inteligências que desenvolvi,
talvez a inte- ligência relacional tenha sido
a mais importante delas. Graças a ela,
consegui ser um agente de transformação,
além de transformar a mim mesmo.
Vivo, não me apavoro com o medo da morte.

Esse livro fala sobre a vida, sobre a morte,


sobre o re- nascimento, perdas e
principalmente, como nos rela- cionamos
com tudo isso enquanto estamos com o
cora- ção batendo.
Que a morte nos acompanhe e para
sempre nos lem- bre que é preciso
saber viver.
“O valor de um ser humano reside na capacidade de ir
além de ele próprio, de sair de dentro de si próprio, de
existir dentro de si próprio e para as outras pessoas.”

Milan Kundera
Sumário

A relação
COM A MORTE
A relação
COM A VIDA
A relação
COM MINHA ORIGEM
A relação
COM O DINHEIRO
A relação
COM O SUCESSO
A relação
COM A DISCIPLINA
A relação
COM O COTIDIANO
A relação
COM O HUMOR
A relação
COM OS SACRIFÍCIOS
A relação
CURINGA
A relação
COM O PÚBLICO
A relação
COM AS REAÇÕES
A relação
COM A AUSÊNCIA
A relação
COM A MINHA HISTÓRIA

MORRENDO UM POUCO POR DIA


A relação
COM A MORTE

u era amante da Certeza quando


ela trouxe o Medo. Sorrateiramente.
Mesmo que eu soubesse que ele circulava
por aqueles arredores e que chegaria
quando eu estivesse desprevenido, jamais
tinha imaginado que lidaria com ele
justamente quando estava de mãos da-
das com ela.

Mas a vida tem dessas. Ela te faz perceber


que você não é invencível justamente
quando você está ali. No pódio. E eu
estava de braços dados com ela. Ela não
podia ter me traído. Não daquele jeito.
Mas talvez tenha sido a maneira que ela
descobriu que me desarmaria por com-
pleto. Eu, que pretendia entender tudo,
não entendia o que a vida queria me dizer.
Quando a Certeza me deixou, disse
apenas: “A vida não é feita de Certezas”.
Eu fiquei ali, com aquela sombra que
restava dela, sem saber que o Medo não
me provo- caria só a dor. Ele me mostraria
um outro caminho.
Quando a Certeza me deixou, eu fiquei
com o Medo. Mas só através dele conheci
a Força. Ela tinha uma es-
tratégia clara. E ela viria de onde eu
menos esperava. A comunicação me
possibilitava entender os outros – mas será
que eu entendia a mim mesmo?
O Medo fez com que eu enxergasse
minhas Fraquezas e resgatasse a Força.
Aprendi a perdoar e a enxergar a mi- nha
vida de outro jeito quando a Certeza se
despediu. “Eu já fui embora tantas vezes”,
ela disse. Mas ela nunca tinha saído
daquele jeito. Não pela porta dos fundos.
Já fazia tempo que tentávamos engravidar.
Eu e minha esposa Adriana tínhamos
uma comunicação verbal e não verbal
excelente entre quatro paredes. Mesmo
assim, estávamos desconectados da fonte
da vida no momento que mais
precisaríamos confiar no que não
podíamos enxergar.
Os tratamentos tinham sido diversos, e só
quando de- sistimos da ideia de ter filhos,
a vida se encarregou de trazer a força do
incontrolável.
Pois bem: ela estava grávida. Grávidos e
felizes, nos vi- mos num momento mágico
de nossas vidas. A felicida- de reinava
absoluta dentro da nossa casa.
Cada pequena peça de roupa daquele
bebê que vinha com presença sem estar
presente trazia um novo signi- ficado e
ocupava lugar de destaque num ambiente
que parecia ter esquecido que os sonhos
ainda podiam ser alimentados.
Naquela tarde, quando decidimos ir para o
hospital, ela já estava de oito meses.
Demos as mãos. Eu sabia que a Certeza
tinha aparecido num momento em que eu
du- vidava dela. Tinha entrado nas
profundezas do ateísmo até reencontrar a
minha própria fé e me reconectar
com tudo que desacreditava. Os milagres
tinham sido a prova de que a vida era o
maior dos milagres. E o sol do Miguel, meu
filho, estava prestes a brilhar. Eu estava
seguro.
Entrei no banheiro do hospital e encarei
minha ima- gem no espelho. Quem era
aquele homem?
Ele estava sobre a mesa de bilhar. Era
uma criança. Ti- nha três anos. Dançava,
falava pequenas bobagens per- mitidas
para sua idade. Fazia as pessoas rirem.
Ele gostava de extrair o melhor das
pessoas. Sabia que era bom nisso. Lavou o
rosto. Estava nervoso com a pos- sibilidade
do nascimento do filho.
“A morte é nossa única Certeza”

Foi alguém que soprou essa frase no meu


ouvido quan- do me vi quase inconsciente
de dor. Quem já sentiu esse eclipse da vida
que oculta a luz e traz uma escuridão sem
precedentes, entende a dimensão da dor e
das pro- fundezas que eu visitava naquele
momento.
Não que minha morte estivesse próxima.
Talvez a nossa morte nem doa tanto assim.
As mortes que acontecem durante a nossa
vida é que nos fazem enfrentar as noi- tes
escuras da alma.
Estávamos no último mês de gravidez. Ele
tinha nome. Miguel. Mas o coração não
batia. A dor maior foi a de sair da
maternidade pela porta dos fundos.
Enquanto os pais saiam do hospital com
seus bebês no colo, eu acompanhava seu
corpo sendo levado para o carro do IML,
cuidadosamente estacionado naquele
local onde ninguém conseguia enxergar
quando chegava ali cheio
de esperança.

Não tive tempo de segurar meu filho no


colo com vida. Talvez por isso tenha
pensado no meu pai naquele ins- tante.
Talvez por isso, tenha pensado na vida.
Fazia quatro anos que eu não o ouvia, não
o abraçava. E ele estava vivo. Talvez
precisasse de colo.
Por que, em vida, temos que deixar os
arrependimentos para a hora da morte?
Um ano depois deste dia, eu estaria
alimentando meu próprio pai, minutos
antes que ele próprio abandonasse a vida.
Essa foi a possibilidade que a morte me
deu. De enxer- gar a vida. Mergulhar nas
profundezas da dor e me comunicar com
as minhas tristezas – dialogar com o
medo.
Hoje quando a Certeza aparece eu a
convido a saltar. Sei que ela não traz
nenhum aprendizado. A certeza me fez
acreditar. O medo me fez enfrentar a vida.
E me mos- trou que nunca sabemos o que
vem depois.
Nesses momentos, em que já sabia me
comunicar com o mundo, escutei o grito
da minha alma. Eu já não podia deixar de
conversar com ela.
Eu precisava me comunicar com o mundo,
sabia que essa era a habilidade importante
e revolucionária – tão importante quanto a
inteligência emocional – mas an- tes de
mais nada eu precisava saber me
comunicar co- migo mesmo.
Enxergar todas as dores, todos os
sentimentos, com ho- nestidade e
perceber que me permitir saltar era a
única coisa que eu poderia fazer enquanto
estivesse vivo.
A vida era uma impermanência. Eu tinha que viver.
A relação
COM A VIDA

rapiraca é um município brasileiro


situado no in- terior do estado de
Alagoas.
Um lugar mais conhecido como ‘agreste
Alagoano’. Mas era ali que eu estava
naquela noite, durante uma das turnês da
Liga dos Vendedores.
Basicamente o que fazíamos era ensinar as
pessoas a se comunicarem.
De comunicação eu entendia bem – sabia
me expressar, ler o outro, interpretar o
que o outro dizia sem falar nada e fazer
com que cada uma das pessoas que
participassem do treinamento, soubessem
o poder de uma boa comunicação.
Compartilhar o que eu tinha
aprendido fazia com que eu tivesse
uma nova experiência de vida.
Era inspirado e movido por contribuição.
Como se dei- xar marcas na vida do outro
fosse uma maneira de per- manecer no
mundo. Como se o sucesso alheio fosse
uma extensão da minha existência. Eu me
orgulhava ao
conseguir perceber em cada pessoa, o
desdobramento daquilo que fazia através
dos meus ensinamentos.
Muitos dos meus alunos chegavam onde
eu jamais che- garia. E talvez por isso a
experiência era ainda mais fan- tástica, já
que a individualidade de cada um, que
pega- va o conhecimento transmitido e
aplicava em sua vida com suas
habilidades próprias, fazia com que a
mágica acontecesse de maneira adversa
para cada um.
Não eram fórmulas prontas: eu buscava
fazer com que cada um encontrasse o
melhor dentro de si e a partir daquilo,
experimentasse em sua vida, algo que
pudesse transformar os outros e causar
impacto.
Somos a coisa mais rara do Universo.
Cada um de nós
– por termos vida, DNA específico,
impressão digital e ideias que por
mais que sejam compartilhadas,
jamais podem ser iguais, porque
temos particularidades espe- cíficas
que nos fazem incorporar todas as
informações que processamos através
do conhecimento e da nossa própria
história, antes mesmo de aplicar
qualquer téc- nica. A nossa história de
vida nos faz únicos.
A comunicação é a habilidade do século e
a inteligência relacional – uma habilidade
de mobilizar pessoas e re- cursos em prol
de um objetivo comum – nunca foi tão ne-
cessária. Com a cegueira coletiva que
vivemos, seguimos com um clique e em
poucos segundos deixamos nosso mundo
ser impactado pelo olhar do outro – mesmo
que ele não tenha nada para colaborar com
nosso propósito.
Se em um segundo 67 mil pesquisas são
feitas no Google e 69 mil vídeos são
vistos, estamos vivendo numa era onde a
comunicação é rápida, instantânea – mas
nun-
ca foi tão superficial. Enquanto dois
milhões e meio de e-mails são enviados a
cada segundo no mundo, poucos deles
dizem o que querem dizer.
Antes do boom da internet, meu
maior instrumen- to sempre foi minha
voz – ou melhor, a comunicação. Se
uma boa comunicação é capaz de
potencializar a criatividade, a
inovação e gerar resultados aci- ma
da média, uma comunicação pífta
pode colocar tudo a perder.
Desde pequeno sempre fui o cara que
tentava enxer- gar através das palavras.
Enquanto circulava entre as pessoas que
entravam na loja de sapatos do meu pai
para escolher o parceiro de caminhada, eu
conseguia entender o que determinava
uma compra. Mesmo que nenhuma
palavra tivesse sido dita.
Naquela época, ainda pequeno, eu ainda
não tinha cur- so de metalinguagem e
programação neurolinguística. Não
imaginava que eu me tornaria palestrante,
treina- dor, coach, psicólogo, terapeuta e
vendedor.
Nem sonhava o que o mundo me
reservava. Mas era faminto e curioso por
natureza. O termo inteligência relacional
ainda não era conhecido, e eu usava essa
ha- bilidade para me relacionar com as
pessoas e extrair o melhor de cada uma.
Intuitivamente ou através de téc- nicas
que eu aprendi na escola da vida.
Era uma fome insaciável de decifrar
pessoas. Quanto mais eu as decifrava,
maior era minha capacidade de interagir
com elas.
Habilidoso em perceber mais do que as
pessoas que- riam dizer, eu treinava isso
dentro de casa com a minha
mãe, quando ela fingia estar brava e sorria
por dentro, sem conseguir dar bronca no
seu filho caçula que insis- tia em fazer o
que não estava no script.
Dentro daquela velha loja de sapatos eu
me via no olhar de cada um que ali
entrava.
Sabia quando estavam dispostos a gastar,
quando ti- nham dinheiro contado no
bolso, e quando estavam em dúvida se
fariam uma compra. E logo que meu pai
partiu, por motivos desconhecidos, das
nossas vidas, deixando aquele negócio
para que pudéssemos admi- nistrar, me vi
diante de um grande desafio.
Se instintivamente eu entendia um pouco
de vendas e comunicação, na prática,
não sabia nada de estoque, fluxo de caixa
e muito menos do rombo que tínhamos na
empresa.
Só que tinha que resolver, e se aquilo não
fosse resolvido, não tinha comida em casa.
Era simples assim. Por força dos
acontecimentos, precisei desenvolver
aptidões como comunicação, vendas e
negociação.
Eu precisava de todas elas para viver e
sobreviver na- quela selva de pedras onde
morava. E se eu tinha a fa- cilidade
natural de entender as pessoas, em suas
lin- guagens corporais e verbais,
identificando padrões de comportamento,
paixões e habilidades, eu conseguia
identificar o que cada um tinha de melhor
com o pé nas costas.
Mesmo que ninguém tivesse me ensinado
nada disso nos inúmeros cursos que eu
tinha feito para alavancar as vendas,
aperfeiçoar a comunicação e me tornar
im- placável em tudo que me dispunha a
fazer.
Eu não sabia ao certo se aquela era uma
necessi- dade de agradar tinha
nascido comigo – o quar- to filho de
uma família numerosa, ou uma habi-
lidade que eu ia desenvolvendo dia após
dia para construir relacionamentos
consistentes e criar conexão com as
pessoas.
De qualquer forma, eu tinha que buscar
meu lugar ao sol dia após dia, por isso, me
virava como podia desde criança. E esse
era um desejo quase insaciável de apro-
vação. Relacionar-se com as pessoas era
necessário. En- tendê-las e me fazer
entender era quase obrigatório.
Então, quando eu estava no palco, era
como se eu com- pilasse todos os meus
anos de vendas, estudos, imersões e
transmitisse para uma plateia em algumas
horas. E eu fazia aquilo com paixão.
Eu já estava fazendo aquele percurso pelas
cidades durante algum tempo. Gostava de
pessoas, mas não imaginava o quanto
podia impactá-las. Como todo ser humano,
em determinados momentos, mesmo
depois daquelas apresentações calorosas,
onde todos aplaudem do começo ao fim, eu
não me sentia preenchido.
Pensava em como podia ter feito melhor,
me preocu- pava se as pessoas sairiam
dali com algo que pudesse transformar a
vida delas e não recuava e nem desistia
enquanto não encontrava alguma faísca
no olhar de alguém que provasse que
havia possibilidade de que aquela chama
se espalhasse.
Eu sabia, desde pequeno, que uma boa
comunicação era o segredo para uma
venda efetiva. Já tinha escrito dois livros,
gravado vídeos sobre o assunto, e
palestrado em
boa parte do país introduzindo conceitos
de PNL para que as pessoas pudessem e
soubessem se comunicar com maestria.
Uma boa comunicação era a chave para
conse- guir qualquer coisa na vida.
Pela primeira vez na história, bilhões
de pessoas de todos os países
estavam conectadas graças à
internet. Mas quem conseguia
construir relacionamentos con-
sistentes?
Somos impactados pela mídia que nos
vende com maes- tria tudo aquilo que não
precisamos – e passamos a ter como objeto
de desejo. Somos persuadidos a comprar
no- vas ideias, de pessoas que nem
conhecemos, através das redes sociais. Por
isso, sempre busquei a consciência de que
precisava pensar por mim mesmo – e ter
uma boa comunicação que me permitisse
expor o que eu pensava para quem
estivesse disposto a me ouvir.
Foi dessa forma que conquistei milhares de
seguidores nas redes sociais, vendi
milhares de livros e espalhei aquilo que
me movia – a sede por comunicação.
Sabia que a comunicação era o primeiro
ponto ao qual eu precisava me dedicar
para desenvolver a inteligên- cia
relacional. Tudo o que fazemos na vida gira
em torno de uma conversa. Era assim que
eu estabelecia padrões de relacionamento,
e sabia que aquilo era essencial.
Naquela noite abafada com o calor – não
só do clima como da emoção gerada
depois do evento - eu senti que um homem
se aproximava com lágrimas nos olhos.
Seu coração chegava perto de mim antes
mesmo que seu corpo se aproximasse.
Sua expressão era de gratidão.
“Eu gostaria de te agradecer”, ele disse, quase
engasgado
com aquela emoção a flor da pele. Subiu
ao palco com uma folha na mão.
Peguei aquela folha enquanto ele dizia que
queria me agra- decer por ter mudado sua
vida. Até então eu não tinha tido a dimensão
de como impactava a vida das pessoas.
Mesmo que já tivesse recebido inúmeros
feedbacks, pessoas batendo na porta do
instituto relatando casos incríveis de como
tinham revertido inclusive problemas sérios
como a depressão, aquele momento era
como uma confirmação de que eu deveria
continuar no caminho que estava.
Lembrei da minha indecisão, ainda no
hotel, e olhei em seus olhos enquanto ele
contava que tinha faturado meio milhão
graças aos meus vídeos. Aos poucos, foi
contando sua história.
Era um professor sem muita expressão no
interior de Arapiraca e sempre sonhou em
ser dono de algo. Até o dia que encontrou
um vídeo meu na internet.
Começou a consumir todo o meu conteúdo
e dia após dia assistia meus vídeos e lia
tudo que pudesse alimen- tar seus sonhos.
Quando viu um dos vídeos que falava
sobre pegar as rédeas da própria vida,
teve um estalo. Precisava de coragem.
Sentindo como se eu estivesse ao seu lado
o encorajan- do, ele abriu a empresa e
começou com um primeiro contrato de
500 mil reais. A empresa fazia limpeza em
tubulações, e começou a atender grandes
clientes. Cada um pagava milhares de
reais.
Fiquei honrado. Não pelo impacto que tinha causado na
vida de um professor esperançoso de um
lugar distante, mas em como eu estava
conseguindo, através do digital, chegar em
pessoas do mundo todo, que depois eu
conhe- ceria pessoalmente, porque
simplesmente não conse- guia ficar longe
daquele calor humano.
Era aquela troca que me nutria. Mais que
o reconhe- cimento, mais que o lucro,
mais que ser aplaudido. Á medida que ele
contava sua história, era como se um
filme passasse pela minha cabeça.
Justo eu que estava passando por uma
crise existencial na noite anterior, com a
sensação de que tudo que eu cons- truía
não teria uma ‘continuidade’, me deparava
com uma grande prova de que eu já
estava deixando minhas mar- cas pelo
mundo.
Deixar uma marca no mundo estava
intimamente ligado com o fato de deixar
pegadas. E quando eu pensava em pe-
gadas, logo vinha a lembrança de que eu
tinha vestido o último sapato do meu avô, e
o do meu pai também, e não conseguia
imaginar quem vestiria meu último sapato.
Eu ainda não conseguia entender que as
marcas que eu deixaria no mundo seriam
estas histórias e comecei a entender o
quanto a minha história e as histórias das
pessoas que tinham cruzado meu
caminho simples- mente porque seguiam
meus rastros, eram mais que uma herança
ou uma forma de me manter vivo mes- mo
depois que meu coração parasse de bater.
Tinha passado bons anos remendando a
história de meu pai, mas já vivia a minha
fazia muito tempo. Ao ouvir aquele relato,
num lugar onde a probabilidade de
encontrar alguém que seguisse meus
passos era tão
pequena, comecei a entender algo que eu
já dizia nas minhas palestras, quando
estava inflamado diante de milhares de
pessoas num palco, mas que nem sempre
incorporava em minha vida.
Então, ali em Arapiraca, diante daquele
homem, que me mostrava num papel o
faturamento de sua empresa, fiz um
compromisso comigo mesmo. Me
comprometi em transmitir a minha
verdade.
Me comprometi a continuar propagando
tudo aquilo que eu aprendia,
compartilhando conhecimento, afim de
transformar a vida de pessoas que
estivessem dis- postas a absorver aquilo
que eu tinha para falar.
Me comprometi a viver, no sentido literal
da palavra, sem me deixar abalar com as
críticas que poderiam me brecar quando
eu inventava uma moda qualquer den- tro
do meu escopo de trabalho.
Me comprometi, acima de tudo, a
mostrar para as pes- soas que elas
deveriam se permitir para que pudessem
viver suas vidas no máximo potencial,
mergulhando nas experiências de vida que
tinham nascido para ter, emocionando e
deixando-se emocionar.
Acima de tudo, entendi que por mais
que eu dissesse para todo mundo que
eles próprios eram a coisa mais rara do
Universo, eu ainda não valorizava a
minha história.
Tinha muita convicção de que tudo que eu
estudara e adquirira de conhecimento
poderia impactar muita gente, mas ainda
me via tímido para escancarar meus
defeitos e expor minhas feridas mais
profundas.
Nunca tinha compartilhado, com franqueza e humilda-
de, como aprendera cada um dos métodos
que pareciam ter nascido comigo, mas
tinham sido talhados desde o momento do
meu nascimento.
Eu sabia que a minha história de vida,
que não tinha como ser a mesma
história de qualquer outra pessoa no
Universo, poderia transmitir muito
mais do que se eu simplesmente
contasse as técnicas e métodos que ti-
nha aprendido, treinado e
incorporado.
Minha vida tinha trazido a verdade que eu
carregava no bolso e tentava espalhar por
onde passava. E se as pessoas achavam
que ser vendedor era ser mentiroso, eu
queria quebrar esse paradigma. Mas, para
levar a verdade no meu discurso, tinha
que contar porque eu odiava a mentira.
Então, resolvi que abriria a caixa de
Pandora. Era hora de me desnudar. Meu
coração começou a bater com for- ça. Só
perceber as batidas do coração já me
emocionava. Porque, no fundo, eu sabia
que a vida só acontecia en- quanto ele
estivesse batendo.
Olhar para a morte sempre tinha me
ensinado a viver.
“Ás vezes paro para pensar e me pergunto – se não
houvesse consciência humana, o que seria de nós?

Foi através da maça que Eva recebeu a consciência. E


a partir daquele momento, metafórico, tirou o
véu de Isis e passou a enxergar a nudez, o erótico. E
passou a ter um entendimento maior das coisas.

Até então, o homem vivia no Paraíso.

No momento de consciência, vemos a nudez do outro.


Deve ser por
isso que, quando nos desnudamos para o outro,
trazemos consciência.
Consciência de quem somos de verdade. Não das
mentiras que contamos a nós mesmos.”
A relação
COM MINHA ORIGEM

eu primeiro despertar – o momento que


passei a ter consciência do meu eu – foi aos
três anos. A ruptura
se deu quando tive a notícia de que minha
mãe – aquela que me protegia e me trazia
segurança através de seu olhar
– estava bem longe de mim – internada em um hospital.

Naquele momento eu ainda não sabia que


ela tinha um problema no coração.
Mas quem via o coração apertar era eu.
Corações são criaturas selvagens. Talvez
por isso as costelas lhes sir- vam de
gaiolas.
“Esse menino está doente. Precisa levar
ele ao hospital”, disse minha tia.
Lembro que aquelas palavras ressoavam e
ecoavam. Eu vomitava de desgosto e
tinha febre. Dois sintomas que remetiam
à uma doença que ganhava status de
epide- mia naquela época – a meningite.
No caminho do hospital, não suspeitei que
o pior podia acontecer. Se estar longe de
minha mãe já era ruim, fi-
car internado sozinho em observação era
ainda pior. E quando me vi num berço ao
lado de um monte de crian- ças, sendo
obrigado a adormecer sem nenhum adulto,
a febre veio implacável.
Era uma febre que me deixava quase
inconsciente – mas trazia uma consciência
– era como se, através dela, eu me
apoderasse do meu corpo.
Quando acordei, ensopado de suor, a
enfermeira entendeu que aquele era um
sinal ruim. Mas eu queria ir embora.
Os procedimentos e a burocracia do
hospital os obriga- vam a me manter sob
observação para controlar os pos- síveis
riscos de um surto se espalhar. Então,
enquanto eu gritava que queria sair
daquele lugar, a enfermeira me amarrava
braços e pernas para que eu ficasse imó-
vel, sucumbindo à doença imaginária.
Naquele dia, a memória inicial que marcou
minha vida foi a força que precisei
encontrar dentro de mim para conseguir
desamarrar aqueles panos e fugir do
berço, assim como Hermes, o Deus dos
viajantes e vendedores.
Era como se a febre tomasse todo meu
corpo e me des- se uma nova energia. Eu
sabia que ela me movia – e eu tinha
consciência de que ninguém poderia me
manter ali, nem amarrado.
Naquele dia, depois de me soltar, pulei. E
enquanto ten- tavam me manter ali,
amarrando com todas as forças, minha tia
voltava do pediatra, que pedia para que
assi- nassem os termos de alta.
“Esse menino não está com meningite. Ele
está com sin- toma de saudade. Saudade
da mãe”. Estava explicado.
Meu pai e minha tia, numa saga heroica
me tiraram dali e me levaram para o
hospital onde minha mãe estava
internada. Mesmo que ela estivesse sem
condições de receber visitas, burlaram a
segurança dizendo que eu seria internado
e conseguiram me enfiar no quarto dela.
De pijamas, sentei ao seu lado em sua
maca e senti meu coração se acalmar.
Talvez tenha sido a primeira vez que me
recorde da sensação de ter um coração
batendo dentro do peito. Enquanto minha
mãe afagava meus cabelos e dizia que
sairia dentro de pouco tempo, mesmo com
o coração dando sinais de que já não batia
muito bem, eu sentia.
Quando sentimos, somos humanos.

Talvez seja isso que nos diferencie dos


robôs. A inteli- gência artificial pode
reproduzir qualquer comporta- mento, ou
profissão. Os algoritmos, em pouco tempo,
substituirão pessoas.
Mas só os humanos têm a capacidade de
se emocionar ou fazer com que os outros
se emocionem. O coração humano é o
maior comunicador que existe dentro do
corpo. Ele manda oxigênio para todos os
órgãos indis- criminadamente, acelera
quando nos apaixonamos e bate devagar
quando estamos sem vontade de viver.
O coração é capaz de dizer muito,
mesmo quando está machucado. Ou
quando está em seu pleno funciona-
mento.
Naquele cenário, ao lado de uma mãe
quase incapaz de falar, eu ouvia seus
batimentos através de uma máqui- na que
os reproduzia.
Eu ainda nem sabia que poderia existir
qualquer doen- ça que pudesse fazer o
coração parar de bater. De algu- ma forma,
aquele problema do qual ninguém falava
abertamente, existia. E era remediado por
uma equipe de médicos que testava uma
nova solução ainda muito pouco conhecida
na época – a tal ponte de safena.
Quando voltei para casa minha mãe
permaneceu no hospital. Mas meu coração
já tinha sido remendado. Só o fato de a
encontrar curava todas as minhas dores.
Em casa recebi a visita da assistente
social que não en- tendia como os meus
sintomas tinham sumido em pou- cas
horas.
Essa era a primeira vez que eu tinha
consciência de al- guma coisa. E a
consciência aumenta nossa percepção
acerca de tudo. Sem consciência qualquer
ato pode ser justificado. Conscientemente,
eu só entendia que era responsável pelos
meus atos. Mesmo os inconscientes.
Claro que aos quatro anos eu não
elaborava nada disso. Só sentia que não
conseguia ficar perto da minha mãe. Tinha
sentido meu coração doer com a ausência
dela e não queria mais sentir aquele
aperto dentro do peito.
Nessa época, coincidia o período que
minha família tentava me dissuadir a ir
para a escola.
Só que a escola, além de me afastar das
atividades de moleque na rua, me faria
estar longe dela novamente. Talvez por
isso eu sabotasse a ideia de que ela me
matri- culasse. E mamãe tentava a todo
custo me convencer. Mesmo que
indiretamente.
Para mim estava bom demais ficar em
casa na barra da saia dela. Já gostava de
andar pela rua com crianças
mais velhas, entrar e sair da loja de
sapatos do meu pai enquanto observava
os funcionários e observar o com-
portamento das minhas irmãs, que na
maioria das ve- zes faziam exatamente
aquilo que era esperado delas.
Como caçula da família eu tinha certa
atenção da mi- nha mãe. Minha vinda,
além de desejada, tinha sido ar- quitetada
por ela que com 3 filhas mulheres, queria
um menino a qualquer custo.
De fato, tínhamos um laço daqueles que a
gente sabe que é forte, mas ninguém
pode ver – só sentir. Esperta, ela não
tentava me persuadir. Ela fazia com que
eu en- contrasse as respostas.
Assim, numa conversa improvável ela me
convenceu a ir à escola pela primeira vez
sem muito esforço. Me levava na lábia
como ninguém.
Como eu era uma criança daquelas que
adoravam gibis e vivia para cima e para
baixo olhando as figurinhas, ela entendia
que ler seria uma grande vantagem– e me
tentava me convencer que era na escola
que eu seria capaz de assimilar letras e
números.
Duro na queda, eu dizia que não ia. Que
entendia as fi- guras. Sem saber, já
estudava a comunicação corporal dos
personagens e sabia exatamente o que
estavam di- zendo em cada uma das
tirinhas.
Estava decidido a não ir à escola. Mas
minha mãe insis- tia – ‘então, você não
quer ser nada quando crescer? ’ Eu
pensava, pensava, e não encontrava
qualquer argu- mento que pudesse
contradizê-la.
Certa noite, enquanto esperava o tempo
passar na janela, depois do jantar, ouvi
um barulho – e logo de-
pois, surgiu uma figura carismática pela
rua e acenou para mim.
Sorri de volta e na manhã seguinte eu já
tinha a respos- ta na ponta da língua.
“Mãe. Eu quero ser lixeiro”

Ela me olhou, surpresa com aquela


afirmação. “Jura? ”
“Juro. Eu não preciso ir na escola para
aprender a ler. Quero ser lixeiro”.
Entendendo onde eu queria chegar,
começou a arti- cular com o pequeno
garoto de cinco anos que já sabia como
buscar argumentos para não estar onde
queriam que ele estivesse.
“Hun...”, disse, enquanto colocava a
panela no fogo para esquentar um pão
amanhecido na manteiga.
“Sabe o lixeiro que sempre vem recolher os
lixos aqui da rua? ”, ela disse.
Fiz sinal afirmativo com a cabeça.

“Ele deve saber ler... senão como ele vai


saber em que rua ele precisa recolher os
lixos? ”
Meu estômago já dava sinais de fome ao
sentir o cheiro da manteiga derretida no
pão e foi impossível argumentar.
Mas logo no primeiro dia de aula, depois de
ser conven- cido de aprender a ler, voltei
com ares de quem tinha conseguido uma
informação valiosa.
“Mãe, você sabia que para ser lixeiro não
precisa saber ler? Quem precisa saber ler
é o motorista do caminhão de lixo”.
Ela me olhou, enquanto eu jogava a
mochila sobre a mesa e respirou fundo.
“Sabe... vai ter o dia das mães daqui a
pouco. Eu adora- ria que você participasse
da apresentação. Adoraria ga- nhar esse
presente”.
Ela tinha ido na jugular – ou melhor – no coração.

Para um menino que era o quarto filho


numa numerosa família e vivia sendo
esquecido pelo pai nos lugares, ter a
oportunidade de dar um presente único
para a mãe era mais que uma maneira de
chamar a atenção. Era uma maneira de se
fazer lembrar.
“Tudo bem... eu vou dar esse
presente”. Selamos aquele
acordo com um beijo.
Um dia depois da apresentação, dei o
veredito: “Mamãe, agora já dei seu
presente. Não vou mais à escola”.
Talvez ela soubesse que aos cinco anos
não haveria nada tão importante para se
aprender numa escola. Talvez ela tivesse
sido vencida pelo cansaço. Talvez ela
simplesmente tivesse decidido respeitar
meu argumen- to. De qualquer forma, ela
concordou – mesmo que isso gerasse uma
onda de comentários dos familiares, que
implicavam que eu seria um vagabundo.
Mesmo que o coração dela não fosse
forte, ela tinha a força certa para
decidir e enfrentar aqueles que con-
frontavam sua decisão. Até mesmo
quando a decisão fosse
absolutamente contra todos os
paradigmas.
Prova disso é que, um ano depois, quando
entrei na es- colinha, me tornei um dos
destaques da sala. No final do ano, na
festa de formatura, quando as crianças
precisa- riam escolher uma fantasia, decidi
o que seria.
Não – não era um lixeiro. Era um palhaço.

Mas eu não queria ser um palhaço


qualquer. Eu queria ser um palhaço com
pompons cor de rosa. Até a pro- fessora
achou estranho quando minha mãe a
intimidou com seu jeito atrevido.
“E qual o problema? ”

Enquanto me vestia, ela dizia que


independente do jei- to que as pessoas me
olhassem, era para eu me lembrar de duas
coisas para o resto da vida: ser verdadeiro
e honesto.
Sorri, ainda sem entender o motivo
daquele discurso e nem percebi se
haviam olhares diferentes à minha
direção.
Vestido de palhaço rosa recebi meu
primeiro diploma – e até hoje quando vejo
aquela foto entendo de onde veio a força
para que eu não bloqueasse minha
criatividade.
Quando você libera sua criatividade e
tem um propósi- to, você alcança
qualquer objetivo.
Tudo que eu precisei para chegar onde
estou com deze- nas de diplomas, livros e
sendo reconhecido como uma autoridade
em comunicação e vendas, foi de uma
pes- soa que permitia na medida certa ser
quem eu era.
Se hoje me tornei um cara que
simplesmente quer que as pessoas vejam
que podem mais e que saiam da Ma- trix
em que vivem é porque mesmo atacado e
ridicula-
rizado eu construí, desde pequeno, uma
maneira pecu- liar de enxergar a vida –
simplesmente porque minha mãe não me
ensinou que eu precisava ser sério para ser
levado a sério.
Eu vivia fantasiado por onde andava.
Como ganhava apenas uma fantasia por
ano, na época de Carnaval, usava até não
poder mais – e mudava a personalidade
de tal forma que minha mãe se via
obrigada a tirar a capa das fantasias para
que eu não alucinasse e saísse querendo
voar.
- Filho, você pode voar, mas eu vou tirar
essa capa, por- que na sua idade não é
apropriado
E eu embarcava no mundo da fantasia.

Ela dosava bem a fantasia com a realidade


fazendo com que todos os filhos
absorvessem os valores que ela con-
siderava importantes – por isso, era
comum tanto ver a família na Igreja
quanto os próprios padres dentro da minha
casa.
Talvez tenha sido através da fé que ela
tenha suportado tantos desafios ao longo
da vida.
Seu coração, frágil desde o dia que ela foi
internada pela primeira vez quando eu
ainda era pequeno, em ne- nhum
momento ficou 100%. Hoje eu percebo que
a úni- ca coisa que talvez tenha ajudado
minha mãe a sobre- viver foi a linguagem
do médico e a maneira como ele lidava
com as aflições dela quando estava
preocupada.
Talvez isso reforce minhas crenças do
quanto é impor- tante o poder da
linguagem.
No caso dela, foi vital.
Em sua primeira operação, o cardiologista
percebeu que ela tinha quatro filhos e
disse que tentaria salvá-la de qualquer
jeito, pois uma mãe não podia deixar qua-
tro crianças desamparadas.
Então, mesmo que ela surgisse com
sintomas, o médico sempre colocava ela
para cima. Por isso, ela mal tomava
remédios. Quando tinha uma queixa ele
dizia que não era nada e ela saia do
consultório tranquila. Os sinto- mas
passavam antes que ela chegasse dentro
de casa.
No final das contas, o médico morreu
antes dela. E com a morte dele que os
problemas começaram. Coinciden-
temente seu substituto tinha participado de
sua cirurgia anos antes e ficou espantado
que ela ainda estivesse viva.
“Ninguém apostava que a senhora viveria
mais de dois anos”, soltou, deixando-a
boquiaberta.
Este mesmo médico determinou sua ruína,
pouco a pouco. Dizia que ela tinha uma
cardiopatia grave quan- do ela tossia,
determinava que poderia ser tuberculose e
se tinha qualquer dor de barriga, mandava
fazer exa- mes no rim.
Como ela somatizava os sintomas, cada
vez que ia no consultório, voltava pior.
Então passou a prescrever dietas porque
considerava que ela tinha problemas no
intestino. Ela deixou de comer quase tudo.
Magra, na base da papinha, pegou uma
virose e foi in- ternada. Foi nessa
internação que seu coração parou de
bater.
Assim como em sua primeira internação,
quando eu ti- nha uma febre que
queimava tudo e obrigava meu pai a me
internar, em sua última internação eu
também es-
taria internado. A suspeita era de ter
contraído o vírus influenza.
Até hoje não sei porque adoeci. Talvez meu
corpo esti- vesse sentindo que era hora
dela se despedir e essa des- pedida fosse
difícil o bastante para que eu não pudesse
enfrenta-la.
Mesmo adulto, reagi à sua morte como
uma criança de quatro anos.
Era aquele mesmo menino de quatro anos
internado enquanto sua mãe ficava
ausente pela primeira vez.
Mais uma vez, eu sentia as dores da alma
no próprio corpo.
Quando ela partiu a dor da perda me fazia
entender a sensação que ela tinha tido
quando, aos cinco meses de gravidez,
achou que eu estaria morto, porque
ninguém podia ouvir meu coração dentro
de sua barriga.
Talvez naquele momento, num ato de
generosidade, ela tenha dado alguns
compassos para que o meu vol- tasse a
bater. Tinha três meninas, dois abortos e
sabia que se eu morresse, suas tentativas
de ter um menino se esgotavam.
Contrariando a tudo e a todos, confiando
no próprio instinto, ficou de repouso
absoluto crente de que eu es- tava vivo.
Só fui saber dessa história durante uma
sessão de re- gressão, anos depois.
Mas foi aí que entendi que ela tinha
emprestado um pouco do seu generoso
coração para dar forças para que
eu pudesse nascer. Talvez por isso eu era
guiado por ele na maioria das vezes.
Por alguns segundos, logo depois de sua
morte, lembrei do Miguel cujo coração
tinha parado de bater ainda na barriga da
minha esposa.
Olhei para a foto do meu filho, que
durante anos tinha sido a foto de fundo do
meu celular e deixei ele ir.
Me lembrei da regressão que tinha feito e
do quanto tinha chorado – lembrei do
choro daquele menino que dizia “Mãe... Eu
estou aqui”.
Então, chorei.
“Mas sei que uma dor assim pungente Não há de ser
inutilmente...
A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo
dessa linha
Pode se machucar
Azar!
A esperança equilibrista Sabe que o show de todo
artista
Tem que continuar...”

Elis Regina. O bêbado e o equilibrista


A relação
COM O DINHEIRO

eu avô era sapateiro. Português,


veio para o Brasil ainda novo tentar a
vida.
Foi ele quem ensinou o ofício ao meu pai,
que nasceu no Brasil, depois que meu avô
trouxe toda a família.
Meu avô veio e começou a vida aqui como
sapateiro e logo abriu uma pensão. Então
deu um jeito de se aven- turar com uma
loja de calçados. Era um cara que confia-
va em todo mundo – característica de
quem é generoso demais para desconfiar
de alguém.
Além disso ele era um cara aberto que
tinha CNPJ e podia trazer quem quisesse
de Portugal. Então fazia favores pra todo
mundo e chamava as pessoas de Por-
tugal para trabalharem com ele. Era desse
jeito que ele abarcava as pessoas em sua
rede de contatos e se tor- nava uma figura
especial que centralizava em si, uma
grande teia. Só que conforme a teia ia
ficando maior, ele ia tendo dificuldade de
ter domínio sobre ela. Sem esse domínio
não tinha como ter controle. Logo, perdeu
a capacidade de administrar até mesmo
seu próprio
negócio que ficava a mercê de pessoas que
se aproxima- vam na tentativa de arrancar
um pedaço daquilo que era pequeno
demais para ser dividido.
Meu pai, como herdeiro da loja, passou a
administrar aquilo como a sua vida.
Só que se engana quem acha que ele
administrava bem a própria vida: meu pai
tinha um vício bem conhecido nas
redondezas – não podia sentir o cheiro de
uma cana que logo entrava no bar.
Assim, mesmo que a gente não
percebesse, quem se dava conta de que
no meio da semana ela já estava
trançando as pernas, dava um jeito de
passar a mão no dinheiro dele ali mesmo
na loja.
Eu ouvia um pouco de tudo – e como
desde pequeno ficava circulando pela loja,
sabia pelo menos que o pa- pai bebia e
que muita gente enganava ele. Ele era
uma figura que me desconcertava.
Como estava sempre brincando, tinha um
espírito des- prendido e uma facilidade em
fazer amigos, eu cresci com a imagem de
que ele era uma figura conhecida no
bairro. O jeito irresponsável dele, de certa
forma, o tor- nava atraente de vez em
quando.
Me lembro uma vez quando roubaram seu
carro que ele chegou sem qualquer
resquício de preocupação dizen- do que
aquilo não era nada.
Foi com o passar do tempo, esse
implacável, que come- cei a entender que
a facilidade de fazer amigos dele não era
tão constante assim. Na verdade era uma
depen- dência de álcool que o fazia
descontrair e parecer mais descontraído.
Embora parecesse até charmoso, sua
maneira de levar a vida levou a família à
ruína financeira – e eu só desco- bri isso
aos vinte anos – quando ele fugiu com a
amante e nos deixou.
Foi naquele momento que despertei – era
no meu colo que cairiam as pendências e
fios desamarrados que ele tinha deixado
pelo caminho.
As dívidas eram astronômicas.

Eu olhava para toda aquela bagunça e


sentia raiva de todas as vezes que ele
tinha dito que sucesso dependia de sorte.
“Meu filho, sucesso é coisa de quem nasce
com a quina virada para a lua”, era o que
costumava dizer.
Naquele instante eu comecei a entender
que a sorte ja- mais o favoreceria – ele era
um cara que não tinha a mí- nima ideia do
que acontecia dentro da loja, ou fora dela.
Era o pai pobre. Comprava, vendia, fazia
escambo. Era um comerciante que andava
mal das pernas e sempre tentava se
equilibrar.
Ainda um estudante, eu conseguia
identificar que tudo que ele sempre fizera
era terceirizar os maus resultados. Sempre
dizia que o mercado estava ruim, a
política, bo- tava a culpa nas pessoas, mas
nunca puxava a respon- sabilidade para si.
Ou eu assumia a loja e tentava reverter
aquele quadro ou não teríamos para onde
fugir.
Talvez esse tenha sido um dos momentos
que fui exigi- do – e passei a ter a
responsabilidade que até então nun- ca
imaginava que teria. Trabalhava
incansavelmente e tinha em mente que
não ia parar enquanto não cobrís- semos
os rombos e a loja estivesse prosperando.
Aos poucos as contas começaram a
estabilizar. Eu tinha que tirar aquilo do
buraco – e estava, pouco a pouco, dando
um jeito de sobreviver.
Foi nesse período que ele reapareceu. Das
cinzas, pediu perdão à família, voltou à
nossa casa, mas eu já ocupava seu espaço
dentro da loja de sapatos.
O tempo foi passando e eu entendia cada
vez mais do ne- gócio. Batia metas,
colocava novas metas, aprendia com os
erros e começava a ficar viciado em
vender. Mas sabia que o segredo de uma
boa venda era a verdade. Enten- dia que
um bom vendedor de sapatos precisava,
acima de tudo, conhecer o pé que calçaria
aquele calçado.
Era como vestir um sonho.

Eu conseguia entender mais do que o


simples gosto do freguês. Eu conseguia
observar não só a maneira de ca- minhar
daquelas pessoas, como que trilhas
queriam tri- lhar. Eu via seus sonhos nas
pontas dos pés. E entendia as pegadas
que elas queriam deixar.
Era decifrando o olhar de cada um que
entrava na loja que eu conseguia entender
exatamente o que iam com- prar. E aquilo
começou a ficar cada vez mais intuitivo e
automático. Eu saia para comprar as novas
coleções e já as observava com o olhar de
cada cliente.
Era um olhar de observador. Eu via além do
que as pala- vras diziam. Se a pessoa dizia
que estava ali só para olhar, eu conseguia
atravessar seu desejo e encontrar justa-
mente aquilo que nem ela sabia que estava
procurando.
Com o passar do tempo, comecei a
transmitir esse olhar para os
colaboradores da loja, que ficavam felizes
com suas vendas.
Os representantes, linguarudos, contavam
para os ou- tros lojistas que iam até lá
justamente para saber o que eu estava
fazendo de tão especial.
Eu dizia que o segredo de um bom
vendedor era obser- var e ser verdadeiro.
Então, comecei a aconselhar pessoas que
queriam abrir lojas de calçados. Já
palpitava nas tendências e enten- dia de
curva de demanda e oferta. Quando eu
compra- va uma coleção, ela esgotava das
prateleiras.
Aquela facilidade de fazer negócio
começou a ficar cada dia mais evidente.
Eu sabia antecipar o desejo do clien- te.
Por isso, não precisava sequer argumentar.
Eu trazia justamente o que ele estava
buscando, estando sempre um passo à
frente na negociação.
Enquanto estava ali, na minha zona de
conforto, era al- guém que não tinha medo
de arriscar.
Mesmo que ainda houvesse um medo de
rejeição – era contornável ter o não de um
cliente. Meu produto era um sapato.
Mas meu calo começou a apertar quando
comecei a relembrar a história que lia nos
gibis quando ainda era criança. Lembrava
do Tio Patinhas nadando em dinhei- ro e
das autobiografias que tinha devorado na
adoles- cência quando quis descobrir a
fórmula para ficar rico.
Certa tarde, enquanto pensava diante de
uma nuvem cinza que parecia se
aproximar espantando os clientes da
região, vi um carro brilhante estacionar.
Era uma Mercedes.
De dentro dela saia uma figura tão
simpática quanto enigmática.
Era uma época em que eu andava
pensativo. Queria a fórmula para ficar rico,
mas sabia que sem muito traba- lho seria
impossível prosperar.
Aquele homem, com sotaque português
carregado che- gou de mansinho e se
apresentou. Ele era o que a gente
chamava de ‘fornecedor de caixa branca’,
ou seja – fazia sapatos sem marca.
Analfabeto, tinha vindo de Portugal, onde
morava no verão e aparecia pelo Brasil
quando fazia frio na Euro- pa. Assim,
estava sempre bronzeado – o que
reforçava sua aparência de bom vivant.
Tudo que eu já tinha ouvido falar era que
ele tinha feito fortuna. Com mais de
sessenta anos e uma experiência
respeitável, ele me olhou curioso e
perguntou o que es- tava acontecendo.
Minha cabeça estava estourando de tanto pensar.

Ele mostrou os sapatos e logo entrou


dentro da minha mente, sem pedir
licença.
“Posso te falar uma coisa? ”

Despertei daquela viagem sem rumo e o encarei.


“Você assumiu a loja do seu pai. Eu
trabalho só por pra- zer. Você sabe o que é
trabalhar por prazer? ”
Fiquei pensativo. Eu tinha a impressão que
gostava do que fazia. Era fascinado por
pessoas, estava conseguin- do bons
resultados, mas não eram suficientes e
aquela loja não me deixaria rico.
Nos meus sonhos, queria me aposentar aos
40 e não precisar mais trabalhar.
Não por dinheiro.
“Você quer ficar
rico? ”
Aquela pergunta me fazia voltar ao tempo.
De repente eu era aquele menino com
moletom do Mickey e calça velha. Tinha
doze anos e entrava numa festa onde um
amigo dizia ‘que bom que você vem
sempre com a mes- ma roupa. Assim as
pessoas te reconhecem’.
Era meu uniforme das festas – a única
roupa que eu ti- nha de sair – e só
ganhávamos uma nova no aniversário.
Mesmo que eu soubesse que aquelas eram
as condições da minha família, sonhava
com o dia que não precisaria me privar de
tanta coisa.
“Eu vou te ensinar o que é
preciso” Disse, como se lesse
meus pensamentos.
“Para ser rico você só precisa de três
coisas. Abra as torneiras ao máximo,
feche todos os ralos e atrase seu
padrão de vida em seis anos”.
Fiquei ali, me sentindo a própria Alice no
País das Ma- ravilhas diante de um
universo imaginário. Cheguei a lembrar da
figura do Chapeleiro Maluco que dizia a ela
quando pensava que estava louca.
“Vou te contar um segredo: as melhores
pessoas são assim! ”
Eu estava acordado e lúcido diante do
português que disparava a falar. Dizia que
eu deveria deixar o dinhei- ro entrar,
cortar os custos com mãos de ferro e
atrasar
o padrão mesmo com muita vontade de
comprar algo melhor.
“No sétimo ano você vai ver o resultado”, disse,
convicto.

Daquele dia em diante eu não procurava


mais a saída. Porque a saída dependia do
lugar para onde eu queria ir.
Foi justamente nessa época que passei a
dar consultoria para colegas varejistas.
Compartilhava meu conheci- mento com
todos eles que me perguntavam o que
fazer para crescer como vendedor e
lojista.
Meu pai, sentado em sua cadeira
observando meus mo- vimentos, certa vez
interrompeu meu movimento;
“Filho, você está criando cobras. Você está
alimentando seus inimigos”.
Foi só nesse momento que eu percebi que
tinha um po- der de fogo nas mãos.
Eu tinha reestruturado a loja, estava
financeiramente estável, prosperando, e já
tinha muito conhecimento aplicado.
“Conhecimento é o que move o mundo”,
pensei.

Eu gostava de me comunicar, sabia


vender, identificar o que as pessoas
queriam e antecipar desejos de compra,
mas ainda estava nos bastidores da
operação.
Me lembrei do dia em que ainda era jovem
e para es- capar de dançar a quadrilha
pedi para ser o locutor da festa junina.
Tinha sido a primeira vez que pegara um
microfone e fi- zera algo no improviso. Só
que tinha feito de uma forma tão intensa,
que as pessoas passaram a não apenas
se
acostumarem com a minha presença,
como elas não conseguiam dissociar a
quadrilha com a minha locução.
Eu tinha entrado naquela função com a
minha alma. E, como dizem, todo dom traz
um compromisso. E eu não podia fugir
dele. Nem do dom, nem do compromisso.
Aquela sensação veio forte. Eu lembrava
das palavras do português, da minha mãe
e as de meu pai. E tentava tirar minhas
próprias conclusões.
Eu sabia que estava viciado no lance de
vender, mas existia algo por trás daquilo
que eu ainda não podia identificar.
Já tinha facilidade de transitar por onde eu
queria, sabia me portar tanto num jantar
de gala como num churrasco na laje, lia
muito, fazia cursos e mais cursos e
aplicava tudo que sabia ali na loja de
calçados.
Mas eu queria mais.

Entendia que quanto mais consciência eu


adquiria das coisas, mais demência vinha.
Minha teoria era de que quem não tinha
nada dentro de uma bexiga conseguia
enxergar toda a bexiga. Quanto mais
informação eu co- locasse nela, mais ela
expandiria.
Mais uma vez, lembrei da Alice no País das
Maravilhas. Eu era a própria Alice, perdida,
dizendo:
“Quando acordei hoje de manhã, eu
sabia quem eu era, mas acho que já
mudei muitas vezes desde então”.
Calcei meus sapatos e resolvi que era hora
de dar pega- das maiores.
Se o português dizia que era uma questão
de tempo, eu sabia que tudo começava no
segundo seguinte em que se tomava uma
decisão.
“Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia o
seguinte:

‘Viva cada dia da sua vida como se fosse o último, um


dia você com certeza vai estar certo’.

Aquilo me impressionou e, desde então, nos últimos 33


anos, eu me olho no espelho toda manhã e pergunto
para mim mesmo:

‘Se hoje fosse o meu último dia de vida, eu gostaria de


fazer o que eu tenho que fazer? ’. Sempre que a
resposta é ‘não’ por muitos dias
seguidos, eu sei que preciso mudar alguma coisa.”

Steve Jobs
A relação
COM O SUCESSO

empre fui um grande fã do Michael Jackson.

No começo nem sabia o porquê, mas


ficava hipno- tizado cada vez que assistia
uma performance daquele cara. Não era o
show de luzes, a infraestrutura, a mega-
lomania. Era algo que me seduzia em suas
apresenta- ções, como se elas trouxessem
o ingresso a um universo paralelo do qual
eu queria fazer parte.
Comecei a notar as pessoas
extraordinárias logo que me dei conta de
que existiam alguns seres humanos que se
destacavam em áreas diferentes.
Se quando jovem era aficionado por gibis
e depois bio- grafias – assim que comecei
a crescer, entendi que o su- cesso de
pessoas reais era o que me interessava.
Porque nenhuma daquelas pessoas
tinha qualquer traço dife- rente, DNA
mágico ou sangue azul correndo nas
veias. Eram simplesmente humanos
que tinham algum ta- lento e sabiam
extrair o melhor de si mesmos quando
estavam em cena.
Em algum momento, entendi que era
aquilo que eu queria ser.
Mas para um jovem sapateiro que ainda
perdia grande parte do tempo contando os
cheques devolvidos pelo banco, pensando
em estratégias para vender mais sapa- tos
ou agradar clientes, era difícil imaginar
uma transi- ção de carreira que me
colocasse sob a luz dos holofotes.
Naquela época eu nem sabia se gostava de
holofotes. Ge- ralmente uma luz
direcionada em nós faz crescer nossas
aptidões e coloca uma lente de aumento
em nossos de- feitos. Muitos preferem
fugir das posições de destaque,
justamente por querer evitar essa lente de
aumento.
Eu me limitava a ser um bom observador.

Observava trejeito, postura, olhar, tom de


voz e uma série de características de
pessoas sem tanto brilho ou qualquer
entendimento de como se comunicar da
me- lhor maneira possível. E se você quer
uma boa amos- tragem é só entrar numa
loja de sapatos. Ali eu tinha a variedade
que tanto procurava. Diariamente, estava
apto a identificar comportamentos dos
mais diversos tipos – e interações entre
pessoas que jamais se cruza- riam em
outra ocasião.
Pode se dizer que eu tinha facilidade de
identificar perfis, mesmo que a pessoa não
abrisse a boca para falar. Era a maneira
como movia o olhar em direção ao objeto
de desejo, ou como movimentava os lábios
ao dar uma des- culpa qualquer para não
adquirir um produto ofertado.
Diante de tanta informação, eu sabia que
por mais que estudasse PNL, técnicas
diversas de interpretar e trans- formar
pessoas, meu maior laboratório era a vida.
Por isso, sempre gostava de estar
entre pessoas. E conseguia
estabelecer padrões de
relacionamento com base nas
conversas, me colocar no outro,
pensar no co- letivo e estudar o
comportamento de cada um que pas-
sava por mim, sem o filtro do
julgamento. Isso fazia com que as
pessoas naturalmente confiassem em
mim. Sem saber, eu usava as
ferramentas da inteligência re-
lacional dia após dia.
Ao mesmo tempo, sentia uma facilidade
de interca- lar idades. Á medida que
começava a desenvolver pa- lestras sobre
vendas – no que dizia respeito a questão
comportamental – conseguia absorver
feedbacks tanto de pessoas com mais de
oitenta anos, quanto de jovens
– além de interagir e transitar por espaços
ocupados por todas as idades.
Isso me intrigava.

Eu tinha às vezes a impressão de ser um


ermitão ou um guru daqueles que á estão
na maior idade e quando me expressava,
chegava na mente de jovens que tinham
idade para serem meus filhos. Claro que
no começo eu me sentia uma espécie de
forjador de vínculos. Meu sa- botador
interno me fazia acreditar que eu estava
fin- gindo ser quem não era para agradar
qualquer público.
Só no dia em que me deparei com um
espetáculo do Mi- chael Jackson, no
intervalo do Super Bowl, que percebi do
que se tratava a comunicação.
O intervalo do Super Bowl tinha a maior
audiência do mundo na televisão – e era
responsável pela maior ver- ba de
publicidade americana. Portanto, era um
espaço pra lá de requisitado. Nesse
espaço figuravam músicos
da estirpe do Michael. E eu, intrigado para
entender qual a lógica permeava a
escolha do artista que estre- laria no
intervalo mais concorrido do ano, comecei
a perceber que era justamente a facilidade
de se comuni- car com todos os tipos de
público que tornava o artista popular.
Ali você não via um músico de um nicho
específico que não conversava com o
público jovem – ou um rock star que não
fosse conhecido pelos tigrões da velha
guarda.
E não era um espaço dedicado a amadores.

Ali, só quem conseguia se comunicar com


a massa – com excelência – falar com
todas as idades e ainda emo- cionar, é que
teria espaço garantido.
E para isso, um bom astro não poupava
esforços. Até sa- patos antigravidade que o
fizessem se inclinar sem cair, ele mandava
fazer especialmente para que suas apre-
sentações levassem ao público a sensação
de estarem participando de algo mágico.
Tive esse insight muito antes de começar
a fazer isso. Na verdade, quando percebi,
nem sabia que um dia o Michael Jackson
me inspiraria a fazer meu próprio tra-
balho.
Quando a gente começa a enveredar por
um novo cami- nho – seja ele qual for –
somos bombardeados de infor- mações e
muitas vezes não fazemos uma triagem do
que pode agregar em nossa vida e do que
podemos descartar sem pensar duas
vezes.
No meu caso, foi fácil identificar o que eu
deveria des- cartar.
Comprometido com a verdade e
absolutamente con- victo de que eu não
repetiria fórmulas prontas, passei a
investigar pessoas obsessivamente.
Não que eu tivesse virado detetive ou
coisa assim – mas ao mesmo tempo que
eu estudava o jeito de cada per-
sonalidade que admirava, continuava
observando os hábitos de consumo de
cada pessoa que cruzava meu caminho.
E quando eu falo em consumo, falo em
consumir. Desde um sapato, até uma foto
no Instagram.
A grande verdade é que os bons
vendedores conse- guiam curtidas,
vendas, e bons resultados – indepen-
dente daquilo que estivessem ofertando
ao público. Compartilhar ideias e dividir
inspirações me fazia construir uma rede
sólida de relacionamento, criando laços
produtivos nos negócios por meio de
afinidades pessoais.
Logo que saquei a lógica, percebi que se
tratava de comunicação, pura e simples.
Um chef de cozinha precisava vender o
prato para o dono do restaurante, que
precisava vender o prato para o garçom,
que precisava vender o prato tanto para a
Dona Maria que entrasse ali para celebrar
seu aniver- sário de casamento, quanto
para o Seu João, que fosse jantar
diariamente após sua jornada de executivo
bem-
-sucedido.

Da mesma forma, o músico precisava


encantar o em- presário, que precisaria
vender a ideia para o dono da gravadora,
para que pudessem agradar ao público.
O segredo de um bom negócio –
independente do seg- mento – era mais
que o poder de convencimento – era
conseguir traduzir aquilo que o artista
fazia de melhor numa embalagem que
atingisse o público.
Quando me dei conta de que a
matemática das vendas não tinha a ver
com nicho certo e sim com o jeito certo de
levar o produto – percebi que o produto
pouco im- portava. Eu conseguia vender
qualquer coisa. Desde que soubesse do
que estava falando e levasse a mensa-
gem correta – e esse telefone sem fio
chegasse direiti- nho onde deveria chegar.
Curiosamente, nesta época, comecei a
palestrar. Por- tanto, o produto que eu
vendia tinha nome e sobreno- me: Ricardo
Ventura.
Longe de ser artista, eu era quase um
operário. Porque eu só queria controlar
minhas emoções, entender como fazer o
que eu queria fazer e repetir infinitas
vezes até que aquilo desse certo. O maior
desafio era não tornar um processo
criativo em algo mecânico. Mas eu estava
decidido. E, além de decidido, tinha a
ambição de traba- lhar em algo que me
desse mais prazer e não precisasse me
preocupar tanto com dinheiro.
Porque, por mais que o comércio estivesse
prosperan- do, minha posição era
estratégica e mergulhada em bu-
rocracias. Eu contava centavos para
entender o que o português falava e
parecia ouvir suas palavras ecoando em
minha mente – fechar os ralos e abrir as
torneiras.
Isso significava que, mesmo quando
começasse a entrar mais dinheiro que sair,
eu precisaria resistir ao impul- so do gasto
frenético, como todo empresário em
cresci-
mento. Mas eu não deveria fazer isso uma
ou duas ve- zes – eu precisaria fazer isso
durante sete longos anos. E ao mesmo
tempo que aquilo parecia massacrante, eu
sentia que era um desafio perfeito.
Meu entusiasmo ao começar a fazer
palestras sobre vendas era nítido – e
quando fazemos algo com prazer, por mais
que nos falte técnica – aquilo parece
despertar algo adormecido em nós há
muito tempo.
Eu entrava no palco e sentia que tinha
nascido para falar em público. E nem
conseguia reconhecer aquele menino que
mal sabia como interpelar a garota mais
bonita da sala. Foi curioso que, nessa
época, quando eu ainda era inábil em
comunicação, uma das maiores per- das
ficou tatuada na minha memória.
Apaixonado por uma garota que mexia
com os instintos masculinos dos garotos
da sala, ficava todos os dias aguardando
que ela passasse diante de nós. Era
quando eu e meu amigo Lui- sinho
suspirávamos diante da presença dela.
Só que um dia, sozinho, esperando ela
passar, tomei um susto. Eis que o próprio
Luisinho surgiu com ela de mão dada na
esquina de onde ela surgia, porque tinha
tido a ou- sadia de conversar com ela
quando ela desceu do ônibus.
Naquela tarde, fiquei desconsolado.
Primeiro porque ti- nha perdido a
oportunidade de conversar com ela. Segun-
do, porque meu amigo tinha feito aquilo
antes de mim.
Por sorte, anos depois, conheci a minha
esposa e sabia que não podia perdê-la
para outro Luisinho.
Da mesma forma que me enchi de
coragem para abor- dá-la, hoje eu uso esta
mesma energia para seduzir a minha
plateia.
A melhor hora sempre é agora.

Era diante do público, onde eu levava


aquilo que sa- bia por ter assimilado
tantos anos de conhecimento em vendas
atrelado ao conhecimento em PNL que me
movia para outro patamar, que eu recebia
o feedba- ck de pessoas que começavam
a se movimentar por minha causa. E
aquilo, além de me encher de orgulho, me
fazia ter a certeza de que era aquele um
caminho sem volta.
Conforme a procura pelas palestras ia
aumentando, eu ia testando novos
formatos. Workshops, treinamentos
– e mesmo quando não tinha quem
pagasse por aquilo eu dava um jeito de
encher a sala e fazer a coisa acon- tecer.
Era dessa forma que eu me movimentava
rumo ao meu sonho – ganhar dinheiro
com o que se ama e trabalhar por prazer
não deveria ser algo inatingível.
Observava as estratégias dos caras de
talento e as se- guia. E quando ouvia
críticas em relação a ser um ven- dedor,
sempre fazia o sujeito questionar a si
mesmo
– afinal, quem não vende a si mesmo
quando quer con- vencer alguém de algo?
Eu questionava na medida e tentava
sempre identificar oportunidades futuras.
Tinha atenção ao que era dito e
preservava a qualidade das relações, mais
que a quan- tidade delas.
Uma vez, depois de uma discussão
acalorada com um daqueles amigos que
insistia em me sabotar, dizendo que
persuadir alguém era o mesmo que
enganar, eu o fiz refletir sobre como era o
funcionamento de um júri num tribunal.
- Você acredita que a justiça condena com
base em que? Em justiça ou conforme a
melhor peça apresentada pelo advogado?
Entramos num consenso quando ele
percebeu que quem convencia, de fato, era
a melhor peça apresentada.
Portanto, saber comunicar e argumentar
era quase uma questão de sobrevivência –
em qualquer âmbito da vida. Toda vez que
eu lembrava da maneira como mi- nha
mãe me levava, através da linguística – e
o quanto aquilo tinha sido fundamental
para minha formação como ser humano
desde criança eu tinha mais certeza do
caminho que estava percorrendo.
Certo dia, antes de começar uma
concorrida palestra, na qual eu inventava
uma abordagem diferente, ouvi um ritmo
diferente e me vi a cantarolar. Era o hino
na- cional – em jazz. Aquilo me remeteu à
minha infância, quando a Silvia, minha
primeira professora, tinha pe- dido para os
alunos levarem o hino nacional. Como eu
tinha aquele vinil guardado, levei,
orgulhoso.
Enquanto ela ouvia, eu aguardava seu posicionamento.

Quando terminou de escutar, me olhou


fundo nos olhos com um sorriso e disse que
aquela versão era fantástica.
“Me empresta esse disco? ”

Senti meu coração bater mais forte. Minha


professora queria levar meu disco para
casa.
“Olha o seu não tem letra então vamos
escolher o da Mariana para ver a letra,
mas esse é muito legal e eu quero ouvir
na minha casa! ”, completou.
Nem imagino de onde ela tenha resgatado
a psicologia para conseguir que aquele dia
não se transformasse num trauma. Era
justo meu início na escola e eu era ávido
por aprovação, com uma timidez que
atingia ní- veis acima da média.
A maneira como ela tinha se colocado, o
tom de voz, a postura – e as palavras
escolhidas a dedo, tinham feito toda a
diferença na minha vida.
Talvez por causa dela, comecei a me soltar
mais em sala de aula. Eu sabia que, de
alguma forma minha opinião, gosto e
estilo eram importantes. E começava a me
mos- trar – exatamente do jeito que eu era.
Sem pretensão de atrair a atenção. Só que
naturalmente acabava lideran- do a
turminha que precisava sempre de um
porta voz.
Foi ainda na infância que eu aprendi a
negociar – desde as balas de troco na
adega perto de casa, até as horas de sono
com a minha mãe. Eu era bom de
negociação, principalmente porque fazia
aquilo com jogo de cin- tura e as pessoas,
quando notavam já estavam sendo
conquistadas.
Costumo dizer que todo canalha é um
conquistador, mas nem todo conquistador
é um canalha.
Por isso, quando comecei a identificar os
padrões de comportamento das pessoas
ficava fácil entender o que fazia com que
uma pessoa fosse persuadida a fazer algo.
Quando percebi, já era tão natural para
mim que, mes- mo sem eu querer, já
exercia o papel de ‘influenciador’ nas
rodas de conversa. Engraçado que alguém
com um poder de comunicação nas mãos
pode fazer grandes avanços ou grandes
estragos.
A sorte é que eu não usava minha
facilidade em con- vencimento para o mal
– o que eu queria mesmo era que todo
mundo entendesse o poder que tinha
dentro de si.
O curioso é que, para isso, eu tinha que
aprender a des- pertar a comunicação com
o velho Ricardo, com o novo e com o
futuro. Era como falar com aqueles que
estavam fora, tentando entender cada vez
mais aquele que esta- va dentro – e ambos
mudavam na mesma velocidade – quase
impossível de se acompanhar.
O que eu tinha em mente era mais que
formar vende- dores ou coaches. Eu até
usava a PNL como habilidade
complementar – mas o processo era quase
intuitivo.
Eu começava a perceber num piscar de
olhos o que aquela pessoa poderia fazer
para ser a melhor versão dela mesma e
isso começou a formigar dentro de mim.
Só que, para ensinar outras pessoas a
serem a melhor versão de si mesmas eu
precisava ser a minha melhor versão.
Quando me dei conta já estava assistindo
vídeos de grandes oradores e
contemplando cada detalhe na
comunicação não verbal. Sabia que as
palavras diziam muito, mas que os
detalhes poderiam dizer ainda mais.
Ao mesmo tempo que também observava
meus pró- prios avanços, tinha medo de
estar criando um persona- gem de mim
mesmo. Esse medo me acompanhava com
tanta força que às vezes eu visitava o meu
eu jovem para ver tudo aquilo que tinha
mudado.
Tinha mudado tanta coisa que às vezes eu tinha a im-
pressão de ter vivido dez vidas em uma.
Compartilhar conhecimento era cada vez
mais impor- tante e quando senti que
estava apaixonado por isso a ponto de
fazer sem precisar que me pagassem, senti
que era essa minha verdadeira missão. Mas
já estava ganhan- do pra fazer isso. O que
era ainda mais recompensador.
Até que um dia, num treinamento que eu
tinha bati- zado de ‘extreme speaker’,
onde eu fazia justamente aquilo que nem
ousava chamar de trabalho – me de- parei
com a força que movia aquele trabalho.
Se antes eu imaginava que meu trabalho
só impactava aqueles que estavam se
relacionando comigo, naquele dia, per-
cebi que o fruto deste mesmo trabalho
poderia impac- tar muito mais.
O Moisés – como vou chamá-lo aqui – era
uma figura política de grande relevância
em sua cidade. Daquelas pessoas com o
coração tão bom que logo enche a sala de
amor quando entra em qualquer
ambiente.
Como não é tão comum assim encontrar
uma pessoa em cargo político que seja
íntegro, congruente e hones- to, me senti
honrado em tê-lo em um dos meus cursos,
mesmo sem saber ao certo o que ele ia
fazer lá- já que aparentemente tinha sido
eleito algumas vezes em car- gos públicos
e era ovacionado em sua região.
Até que ele foi se apresentar. Tinha
verdade na voz, e uma paz de espírito no
olhar que transmitiam mais que confiança.
Depois de sua apresentação, onde
geralmente trago um feedback positivo e
algumas críticas construtivas, ele se pôs a
chorar.
Era um choro de felicidade, que me
comovia e delegava a mim um poder
que eu nem sabia que tinha.
Surpreso, perguntei o porquê daquela
reação emotiva – e ele estava
simplesmente feliz – em poder ter alguém
que o fizesse extrair o melhor de si –
porque ele sabia que podia ir mais longe.
Sentia isso com toda a energia que
circulava em seu corpo. Mas nunca
soubera como transformar ou colo- car
para fora esse leão que rugia. Era como se
o medo de parecer um grande orador o
impedisse de se comunicar com
transparência, porque sabia que a maioria
dos po- líticos corruptos fossem
habilidosos em construir gran- des
personagens em torno de si mesmos.
Tentei explicar que ele trazia a verdade. E
não há nada mais poderoso para um
ser humano do que encontrar dentro
de si, a essência daquilo que quer
explodir para o mundo e transformar
aquilo em potência, articulan- do a
voz, postura, jeito de se posicionar –
entregando, de fato aquilo que quer
entregar, mas numa embala- gem que
valoriza o produto.
Por isso, ele não deveria ter medo de
brilhar. De ser quem ele estava disposto a
ser e ocupar esse espaço, fa- zendo aquilo
que mais tinha habilidade.
Naquele instante eu entendi a proporção
do que estava fazendo. Meu papel,
naquele lugar, era ensinar as pes- soas a
se inclinarem, sem cair. Ou seja, fazerem
as pes- soas repercutirem o show, sem
entenderem o truque por trás da
apresentação.
E, como um eco do meu pensamento,
comecei a in- terpretar uma figura que me
inspirava – e que era um grande líder
político e espiritual de seu tempo.
“Nosso maior medo não é sermos
inadequados. Nosso maior medo é que nós
somos poderosos além do que po- demos
imaginar.
É nossa luz, não nossa escuridão, que mais
nos assusta. Nós nos perguntamos: “Quem
sou eu para ser brilhan- te, lindo,
talentoso e fabuloso?
Na verdade, quem é você para não ser?
Você é um filho de Deus.
Você pensando pequeno não ajuda o
mundo. Não há nenhuma bondade em
você se diminuir, recuar para que os
outros não se sintam inseguros ao seu
redor.
Todos nós fomos feitos para brilhar, como
crianças bri- lham. Nós nascemos para
manifestar a glória de Deus dentro de nós.
E enquanto permitimos que nossa própria
luz brilhe, nós inconscientemente damos
permissão a outros para fazer o mesmo.
Quando nós nos libertamos do nosso
próprio medo, nossa presença
automaticamente libertará outros”.
Enquanto citava o discurso de Nelson
Mandela, sentia a sala vibrar em outra
frequência.
Aparentemente, ninguém mais tinha medo
de ser quem era de verdade.
Nem de trazer aquela verdade à tona.

Percebi que possibilitar que as pessoas


encontrassem sua própria grandeza era
mais que uma missão de vida
– era também o meu jeito de fazer a
minha luz brilhar e dar permissão aos
outros para que fizessem o mesmo.
“Há um lugar no seu coração E eu sei que é amor
E este lugar pode ser
Muito mais brilhante do que amanhã

E se você realmente tentar Você descobrirá que não há


necessidade de chorar Neste lugar você vai sentir
Que não há mágoa ou tristeza Há caminhos para
chegar lá

Paremos o existir e comecemos o viver”

Michael Jackson, Heal The World


A relação
COM A DISCIPLINA

u tinha aproximadamente seis anos


quando a luta marcial entrou na minha vida.
Minha primeira ex-
periência foi com o judô.

Como toda criança eu sabia que aquilo era


mais que um esporte – era quase uma arte
conseguir com tão pouca idade, aliar
técnica, força e disciplina. E à medida que
fui crescendo, a disciplina foi ganhando
cada vez mais minha atenção.
E isso fazia uma diferença absurda no meu
desempe- nho em outra esfera – a dos
negócios.
Meu professor, o Rossano, dizia que se a
gente treinas- se duas horas por dia, nosso
oponente treinaria três. Se treinássemos
quatro, nosso oponente treinaria seis. Se
treinássemos seis, ele faria musculação
além do treino.
Então, tentávamos sempre dar o melhor de
nós em cada treino. Porque ele não
aceitava menos que isso.
Assim, desde jovem, cresci com a ideia de
que dava para fazer sempre um pouco
mais. Tanto no esporte, quanto na vida.
Quando eu sentia que aquilo estava
confortável, bus- cava dar um passo
adiante. Era como uma obsessão pelo
desconforto causado pelas novas
sinapses – não que fosse
desconfortável fazer novas sinapses –
é que eu estava sempre ávido por algo
que ainda não tinha feito. Era como
uma sede de realizar e me
surpreender.
Foram muitos anos de judô, até eu
começar o jiu jitsu que exigiu ainda mais
de mim. Eu sabia que desportis- tas se
cercavam de uma cadeia de profissionais
de alto nível para conseguirem os
melhores resultados.
Foi através dos treinos que eu entendia
que, para traba- lhos braçais, preferia
fazer em grupo. Para os mentais, só
conseguia fazer sozinho.
Para mim, era impossível estudar em
grupo por exem- plo. E isso começou justo
na época da faculdade. O bom era que
como eu gostava de fazer apresentações,
eu pegava o conteúdo dos trabalhos e
pedia para apresen- tar – só pra que não
tivesse que ficar mais de uma hora
confinado tentando fazer alguma
atividade intelectual ao lado de alguém.
Não sei se isso bloqueava minha linha de
raciocínio ou eu simplesmente não tinha
desenvolvido uma certa resiliência em
aceitar o ritmo dos outros. De qualquer
forma, eu me auto impunha um ritmo
sempre maior do que parecia suportar.
Era a mesma premissa dos treinos – se
estava confortá- vel, eu procurava algo
mais. Gostava de me sentir pro- vocado,
desafiado ou simplesmente estar um
passo à frente. Eu queria que as pessoas
olhassem e não vissem mais. Que quando
olhassem, enxergassem apenas um frame
do passado.
Sabe como a luz da estrela?

Você olha aquela luz da estrela e ela não


est á mais bri- lhando daquele jeito.
Aquilo é um frame do passado. E eu queria
levar esse conceito para os negócios.
Sabia que quando as pessoas me
olhassem, elas teriam que ver um Ricardo
que já estava no passado, por mais que eu
estivesse um passo à frente.
Por isso, buscava alcançar os resultados
das atitudes que via anteriormente
enquanto já estava articulando novas
coisas nos bastidores.
Isso me norteou muito durante um bom
tempo, quan- do eu ainda tentava
implementar outras coisas além do que se
tornava cotidiano. Porque eu via que tudo
que se tornava cotidiano já não bastava
mais para preencher minha sede de
chegar mais longe.
Eu estava começando a ficar viciado em
desafios – to- mava novas ações para
digitalizar e imprimir o meu futuro.
Hoje tenho em mente que sempre
tenho que imprimir meu futuro com
as ações que os outros não veem. Mas
nem sempre isso é fácil e confortável de
ser feito.
Na transição, do comércio para a vida de
mentor de pa- lestrantes, muitas águas
rolaram. Na verdade, foi ainda na loja que
percebia que as pessoas vinham aceitar o
que eu dizia por aderência ao grupo.
Se um vendedor estava tendo maus
resultados, ele simplesmente procurava
replicar a maneira como eu instruía os
demais e naturalmente mudava a perfor-
mance. E eu não queria falar de vendas.
Queria falar
de neurolinguagem – e falar de coisas
complexas para pessoas simples em
ambientes populares acabou se tor- nando
a minha especialidade.
Essa era minha habilidade – a inteligência
relacional. Eu estava apto a circular em
todos os tipos de ambien- tes, persuadir e
me comunicar com toda a variedade de
pessoas, em distintas classes sociais – e
adaptar a comu- nicação, de forma que
conseguisse atingir cada camada
desejada.
Quando comecei a cobrar pelos
treinamentos que fazia, entendi que um
bom treinador era que nem o Rossano, de
quem eu reclamava muito no começo,
mas que ex- traía o melhor de mim como
atleta. Um bom treinador provocava. E eu
tinha que provocar as pessoas que que-
riam resultados.
Eu tinha que fomentar perguntas, fazê-las
se compro- meterem, mostrar que a ótica
do meu professor de luta, que me fazia
treinas o mesmo movimento até que ele
tivesse perfeito, era uma clara estratégia
de me fazer fi- car melhor e invencível
naquilo.
Era como o Ayrton Senna, que dizia que
corria com chuva ou sem chuva e fazia o
percurso mesmo de olhos fechados,
repetidas vezes. Ou como o Oscar, grande
es- trela do basquete, que não saia da
quadra se não tivesse feito cem cestas
seguidas durante seu treino matinal.
Só que meu maior oponente estava longe
de ser um ad- versário que vinha de fora.
Á medida que meu trabalho foi crescendo
e a exposição aumentando, eu tinha que
brigar comigo mesmo. Como eu era
referencial externo – e mesmo que
soubesse que
tinha feito um bom trabalho, precisava
que alguém me dissesse isso – quando
recebia feedbacks negativos, da- queles
fortes, que me detonavam, ainda assim,
buscava a ressignificação.
Eu precisava de reconhecimento.

Foi nesse período que comecei a trabalhar


com cren- ças potencializadoras e crenças
limitantes. Eu cortava quando alguém
dizia que eu era um lixo e também ig-
norava quando me colocavam num
pedestal como se fosse um Deus.
O crescimento me fazia perceber que mais
difícil do que ingressar numa nova área,
era crescer dentro dela. Assim fui
entendendo que essa era a grande ruína
das celebridades.
Não que eu fosse uma celebridade – mas
sustentar a base emocional para se
desprender de uma crítica era tão
relevante quanto conseguir falar em
público.
Era justamente entendendo isso que eu
sentia o porquê de tantas pessoas
sabotarem a si mesmas e preferirem não
encarar um palco – o tal do medo do
oponente que vivia dentro delas – aquele
medo das críticas que fatal- mente viriam.
Todos nós temos defeitos – e uma grande
dificuldade que, com holofotes pairando
sob nós, esses defeitos fi- quem
evidentes. Quando a gente se expõe, está
corren- do o risco de não ser aceito. E
ninguém quer lidar com a rejeição.
Certa vez subi a um palco com centenas
de pessoas. Confiante, entrei de salto alto
e literalmente me dei mal. A plateia que
geralmente conquisto em 4 minutos,
só esquentou depois de 40 minutos – e
isso demandou uma energia tremenda
para que eu pudesse identificar onde não
estava agradando.
Eu estava em busca do sentir. E quando se
está no palco, a coisa que mais amedronta
é que os sentimentos ga- nham
proporções gigantescas.
Só que o ser humano tem fugido cada vez
mais do sen- tir. Ele tem medo do que
provoca desconforto. Comecei a notar que
aqueles que chegavam a mim para
vender, na verdade queriam entender
como lidar com as pró- prias emoções que
pareciam cavalos selvagens quando
estavam diante de uma plateia.
Foi nesse mesmo período que comecei a
gravar vídeos no Youtube.
Com medo de parecer um idiota ridículo, já
que era um território basicamente jovem,
eu comecei a rir de mim mesmo. Entender
que quem ria de quem tentava, não tinha
a coragem de tentar. Que todo mundo,
quando di- zia que não deveríamos fazer
algo, queria era nos puxar para dentro do
quadrado, para que não explorássemos as
possibilidades ilimitadas do universo.
As pessoas não querem sair da zona de
conforto. Essa é a diferença do tímido e do
louco. Tímido não se aceita e tem medo. O
louco não tem medo do que as pessoas
possam pensar.
Mas eu ainda estava no fio. Naquele fio
invisível, que também me impedia de ser
louco. Ser louco era ir con- tra as crenças,
as regras, os regulamentos, os protoco-
los sociais. E cada vez mais eu sentia que
as pessoas se- guiam tantos protocolos
que quanto mais os seguiam, mais
limitavam o próprio sucesso.
Eu entendia que a grande fórmula – se é
que chamar isso de fórmula também não
era limitar algo – era se permitir. E
permitir.
O grande aprisionamento mental se dá
quando somos crianças. Para minha sorte,
tinha tido uma grande mu- lher na minha
infância que jamais aprisionara minha
mente.
Diferente do Rossano, a minha mãe não
exigia discipli- na – ela deixava eu me
expressar da maneira que qui- sesse –
onde quisesse.
Foi desse jeito que eu aprendi o que era
estar aberto ao que a vida tinha a
oferecer. Nesse aspecto eu percebia que a
vida sempre trazia coisas que eu não
estava espe- rando. Tanto no positivo,
quando as oportunidades se abriam por
portas que eu jamais imaginara, como no
negativo, quando você dava tudo de si e se
sentia usado pelo outro.
Assim como a minha mãe tinha permitido
que eu usas- se a roupa rosa de palhaço
na infância, eu percebia que quanto mais
eu me despisse de pré-conceitos, mais tra-
ria possibilidades.
Então quando comecei a entender e
gostar do univer- so dos treinamentos e
palestras a primeira peneira que passei
para falar sobre qualquer tema era: ‘vou
me di- vertir com isso? ’
Desde que passei a sentir prazer no que
fazia, enten- di que eu só conseguiria
fazer algo bem quando fizes- se com
prazer. Logo, o processo se
retroalimentava. E como eu gostava de
trabalhar emoções, lúdico, diver- são e
interesse e sabia que adultos nada mais
eram que
crianças envelhecidas, comecei a me
dedicar à forma mais que ao conteúdo
daquilo que apresentava.
Eu já não era um simples palestrante –
onde eu estava, tentava tocar as pessoas
com o olhar. Sabia que todos queriam ser
sentidos com os olhos. E entendia que as
janelas da alma não poderiam ficar de fora
já que abrir as cortinas para o mundo era
fundamental para quem queria interagir
em qualquer nível.
Foi um processo interessante e prazeroso
– principal- mente porque, para falar com
qualquer público, eu ti- nha que ter
repertório. Para ter repertório, qualquer
um precisa consumir tudo. Televisão,
internet, memes. O que estivesse na boca
do povo acabava abastecendo minhas
ideias.
No dia que fiz o primeiro evento para
formar comunica- dores, tentando ensinar
cada um como quebrar o gelo, magnetizar
a plateia e envolver os convidados,
percebi que não era só treino, como dizia
meu professor de luta. Não era só permitir
e dialogar, como dizia minha mãe. Não era
só se relacionar, como fazia meu pai. Era
en- contrar o que cada um tinha de único e
explorar isso de maneira que o diferencial
trouxesse impacto.
Era saber se relacionar consigo mesmo,
saber aquilo que tinha de melhor dentro
de si e conseguir expressar isso da melhor
forma possível para ser entendido pelo
outro.
Como dizia a essência do Jiu Jitsu para
conseguir re- sultado, valia a lei do
‘mínimo esforço, para máxima eficiência.
E se os samurais acordavam todos os dias
di- zendo ‘hoje é um belo dia para morrer’,
eu já tinha inte- riorizado esse princípio
fazia muito tempo.
Cada dia eu deixava o velho Ricardo
morrer para que nascesse outro novo.
Era desse jeito que eu descobria como
ainda tinha tanto tesão em fazer coisas
que nunca tinha experimentado. Eu não
era mais um equilibrista.
Soltei o peso do corpo e saltei.
“Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à
morte.”

Zygmunt Bauman
A relação
COM O COTIDIANO

utro dia ouvi que a maior


autorização que recebe- mos na vida é
quando alguém nos autoriza a ser-
mos imperfeitos.

Fiquei reflexivo enquanto Tólstói ecoava na


minha mente, dizendo o quanto a
sociedade exigia de nós uma felicidade
permanente que seria incompatível com a
nossa condição humana.
Logo, eu estava tão rodeado de pessoas
inquietas em busca da felicidade que elas
não conseguiam perceber que quanto
mais procuravam, mais se distanciavam
dela. Elas não conseguiam enxergar a
felicidade na im- perfeição, e ficavam
sempre esperando janeiro do ano que vem
– sem se darem conta de que o tempo
cronoló- gico era uma mera contagem
criada pelo homem.
Assim, nessa busca frenética, criava-se
mais ansiosos crônicos que esqueciam do
campo de possibilidades a serem
exploradas no hoje, para projetarem a vida
para um futuro que nunca chega.
Ao mesmo tempo, via gente agarrada ao
passado que- rendo reviver épocas em
que tinha feito algo ou reali- zado um
grande feito. Ambos não conseguiam estar
no presente. Viviam presos no eco do
tempo.
Só que ânsia das pessoas que
experimentam a dor e o vazio de uma
existência incompleta fazem com que, a
cada dia, esse vazio seja preenchido de
alguma forma.
Percebi isso quando ainda era um simples
vendedor de sapatos.
Talvez não tenha coisa mais comum na
vida de um ven- dedor, que perceber
certos padrões de comportamento entre
mulheres – e o primeiro padrão que eu
percebi foi o do consumo para preencher
um vazio.
Para muitas mulheres, cujo vazio
existencial era evi- dente, os sapatos
vinham a calhar – e elas pareciam encher
os armários com todos os tipos que
pudessem fazê-las esquecer do quanto era
importante dar passos concretos em busca
daquilo que queriam.
Lembrei de um episódio, onde uma mulher
aparente- mente bem-sucedida saiu de
seu carro em direção à loja de sapatos e
não hesitou em comprar todos os pa- res
que podia.
Em silêncio, saiu da loja e me deixou
reflexivo. No seu sorriso com requintes de
superficialidade eu podia en- xergar sua
infelicidade, quase escancarada no rosto.
Eu era perito em comunicação não verbal,
mesmo sem ain- da ter feito qualquer
especialização que me capacitasse para
isso.
Se hoje posso decifrar através de pequenos
gestos, o que aquele ser humano é capaz
de esconder através das pa-
lavras, na época eu já tinha o olhar
treinado, e não pre- cisava de muito para
entrar a fundo na alma de quem entrava
na loja de sapatos para encontrar
companhias para os pés cansados, mas
vivia uma simbólica dor exis- tencial que
impedia que caminhasse por onde queria.
Se eu pudesse dizer que tinha lido a
mente dela – o que não era verdade – eu
apostaria que aquela sua atitude escondia
uma insegurança em se relacionar, em
viver a vida com plenitude, em escolher o
sapato que mais gos- tava ao invés de
seguir a moda.
Era através dos gestos matematicamente
calculados que ela dizia que estava dentro
da normalidade, tentan- do timidamente
ser comum. Sufocando loucamente a
vontade de tirar aquela máscara e se jogar
na vida.
À s vezes tenho a impressão de que essa
película prote- tora nos faz perder a
conexão não só com o mundo real, mas
com quem somos de verdade. E essa
máscara vai ficando cada vez mais grossa,
impedindo que possamos viver a vida do
jeito que somos.
Então, desde aquele dia, quando alguém
que parecia tão feliz e realizada com suas
compras tentava escon- der sua angústia
com um sorriso e uma nota fiscal em
mãos, percebi que o teatro que muitos
estavam susten- tando era a grande ruína
da humanidade. A psique hu- mana
cobraria seu preço, mais cedo ou mais
tarde.
Sabendo disso, fiquei atento aos
movimentos que me rodeavam. Era raro
encontrar vida e espontaneida- de. Era
quase um presente quando eu me
deparava com alguém que tinha a
capacidade de ser quem era de verdade.
Mas estas pessoas que frequentemente
eram chamadas de loucas ou subversivas,
tinham suas próprias ideias – e não viviam
como zumbis tecnológicos ou em busca de
likes para aumentar a estima, perdida em
algum lugar do passado.
Naquela tarde, a caminho do local onde eu
faria uma palestra para o TED, no coração
do Rio de Janeiro, ex- perimentei as mais
diversas sensações relembrando os
trejeitos superficiais daquela madame –
que se torna- vam cada dia mais comuns
no meu dia a dia.
Então, percebi que as compras eram
apenas uma das fugas. Os vazios estavam
sendo preenchidos com a so- fisticação
dos softwares que não deixavam que a
me- mória se lembrasse de sensações
ruins.
Era como uma anestesia permanente para a alma.

Anestesiados e sendo guiados por uma


tecnologia que detecta todas as nossas
preferências através dos algo- ritmos,
muitos viviam como personagens dos
filmes de ficção científica que víamos anos
atrás e imaginávamos serem fantasiosos
demais.
Estávamos não só preenchendo os vazios
com os apli- cativos, como nos
alimentando com o que eles nos
forneciam.
Subi ao palco ansioso para falar sobre o
assunto que me perturbava – os
aplicativos que resolviam tudo.
Percebi que poderia ter comprado uma
passagem aérea para me deslocar ao Rio,
chamar um motorista, esco- lher um hotel,
me hospedar na casa de alguém, esco-
lher onde comer e quais lugares visitar,
simplesmente
através dos algoritmos que faziam esse
papel de ras- trear minhas preferências.
O vazio do cotidiano líquido também me
fazia postar fotos nas redes sociais, curtir
as fotos dos amigos, e pas- sar o dia
mergulhado na própria solidão, na
companhia de um robô instalado dentro
de um celular que faz as vezes de um
grande anfitrião que nos mostra por onde
caminhar enquanto não temos tempo de
viver.
Sentindo falta do olho no olho entendi que
aquele dia eu falaria sobre o dano
irreversível que estávamos cau- sando à
nós mesmos. Lembrei do tempo das
cavernas, onde nossos ancestrais tinham
que fazer conexões ob- servando o outro
para conseguir comida.
Lembrei de como estamos desconectados
de nós mesmos para economizarmos
tempo – terceirizando decisões.
Os aplicativos estão apagando nossos
genes. E isso é preocupante.
Naquele dia, diante daquelas pessoas que
se identifi- cavam com meu discurso, que
ainda contava sobre as companhias
fugazes atraídas através de um aplicativo
que fazia match entre pessoas, fiz com
que todos se le- vantassem e se
reconectassem com a pessoa que esti-
vesse ao lado.
Enquanto pedia que eles encarassem seus
parceiros e olhassem nos olhos do outro,
podia sentir a expressão de desconforto
causada pelo estranhamento que era
olhar para o outro.
“Olha para os olhos desta pessoa”,
comecei. “O que es- ses olhos já viram e
querem ver? ”, perguntei. “Quais
lembranças esses olhos querem apagar da
memória? ” “Olha os lábios dessa pessoa.
O que já proferiram? Que palavras rudes já
disseram? ”
Foi desta forma que os fiz enxergar quanta
comunica- ção existia entre duas pessoas
sem que houvesse ne- nhuma palavra.
Talvez este dia, no qual precisei passar
uma mensagem em um curto espaço de
tempo, tenha sido o meu maior desafio na
minha carreira de comunicador.
Eu tinha sido convidado pelo próprio
anfitrião do even- to – que já tinha
passado pela formação de extreme
speaker, e se portava como um grande
maestro, coorde- nando as energias e
ritmos de cada convidado, afinando a
sintonia com o palco.
Como ele me conhecia, logo que levou
meu nome para conhecimento da
curadoria para que eu pudesse con- tribuir
com o evento, houve um certo
desconforto.
Um palestrante?

As palestras naquele tipo de evento eram


sempre feitas por doutores, mestres, porta
vozes de ONG´s, cientistas, pessoas que
normalmente não palestram – mas são fei-
tas com o intuito de tocar as pessoas.
Existia a ideia de que um palestrante seria
um repli- cador de conteúdo e não um
criador. E eu precisaria quebrar essa
barreira, emocionar, dar vida ao meu dis-
curso, de forma que impactasse as
pessoas e desse uma dinâmica diferente
ao que eu tinha para dizer.
Coloquei os elementos que eu sabia que
funcionariam no meu roteiro, mas ainda
precisava de coragem para
colocar a minha digital e meu estilo. E
trazer profundi- dade com clareza era o
maior desafio.
Emocionar com poucas palavras é
comunicar com sentido. Dar voz para
coisas complexas de um jei- to simples
é uma verdadeira arte. Se comunicar
com o corpo, além de simplesmente
impactar através da voz que chega aos
ouvidos e pode ser interpretada de
diversas maneiras, dependendo do
ouvinte.
Naquela tarde, enquanto o evento era
transmitido para o mundo todo, pude
entender, como um grande cientista da
vida, como experimentar e fazer com que
as pessoas experimentassem – a vida em
todas as suas tonalidades – era a força do
meu trabalho.
Logo no começo da minha carreira como
palestrante tive que lidar com o ceticismo
de algumas pessoas das pla- teias que se
perguntavam, ‘mas onde isso foi estudado?

Eu tentava fazer as pessoas sentirem para
que soubes- sem do que eu iria falar a
seguir. Desta forma, mostrava, na prática,
o que era rapport, mapa, filtro, critério,
entre outras coisas que eu já tinha
estudado, mas não sabiam nomear.
Nomear algo que sentimos é algo que não
fazemos com tanta frequência.
E me incomodava quando simplesmente se
dedicavam a teorias ao invés de
mostrarem exemplos práticos do que
diziam. Para mim, a prática ensinava muito
mais que qualquer teoria. Principalmente
quando fazíamos uma pessoa entender um
contexto, para depois explicá-lo.
Só que desde pequenos éramos instruídos
a seguir pa- drões. Já a escola, que tenta
seguir uma grade curricular,
adestrar e robotizar crianças para que
vivam em socie- dade.
A única coisa que pouca gente
percebeu é que a vida não segue uma
grade. E os pais, na ânsia de quererem
que seus filhos cheguem num lugar
onde todo mundo chega, ficam cegos
para as possibilidades que pode- riam
existir caso se abrissem ao novo.
Talvez por isso o vazio e a inenarrável
facilidade de de- legar aos aplicativos
todas as decisões que a vida coti- diana
pede.
Quando não somos os donos das decisões,
não nos dei- xamos contaminar pelo que
vem de fora. E impedimos a nós mesmos
de ter um repertório maior.
Desde pequeno me deixei contaminar pelo
mundo do ou- tro. Sempre acreditei que a
melhor maneira de evoluir, aprender e
criar meu mundo, era através dessa
contami- nação – que poderia abrir meus
horizontes e me fazer en- xergar de uma
outra forma.
A primeira vez que percebi que tinha uma
silenciosa contaminação fazendo com que
eu absorvesse algo que não era meu, foi
quando a minha professora, Nei- de,
discretamente me pediu para ler uma
poesia na sala de aula.
No auge dos meus quatorze anos,
hormônios saltando pela pele, eu exercia
certa liderança no meu grupo de amigos.
Rápida, ela identificou o lobo chefe da
matilha e me usou com sapiência para que
eu influenciasse meu pequeno grupo de
amigos.
Dizendo que minha voz era de veludo, me
fez ler poe- sias para a classe. E isso me
fazia entender que poesia
era um alimento para a alma. Eu era
convidado a co- nhecer um novo mundo, o
das metáforas.
Foi a partir deste momento que
comecei a notar que eu era a
somatória de todos os meus
comportamentos. E que estes
comportamentos eram a somatória de
vivên- cias e crenças.
Eu passei a perceber que éramos a
contaminação do ex- terno e não tinha
como existir sem contaminação.
Cada livro que eu lia, cada pessoa com a
qual conversa- va, cada universo
particular que me afetava fazia com que
eu me moldasse, pouco a pouco.
Por isso passei a não evitar a comunicação
com qual- quer tipo de instrumento ou
voz.
Até mesmo os aplicativos faziam parte do
experimento com a vida.
A princípio achei que eles aceleravam a
comunicação, mas pouco a pouco entendi
que o que fazíamos quando confiávamos
as decisões a eles era terceirizar o controle
da nossa vida.
Aquilo começou a dar um nó na minha
cabeça. Eu sabia que o livre arbítrio não
existia totalmente. Até mesmo numa loja
de sapatos para que uma escolha
aconteces- se, aquele sapato escolhido,
mesmo dentre 300, tinha sido escolhido
por alguém anteriormente.
Perceber que estávamos sempre
dentro das opções que nos eram dadas
entendi que nosso universo de escolha
é sempre controlado. E, dentro dele,
escolhemos algu- mas coisas.
O lado bom disso era que quanto menos
opções tivésse- mos, mais rápidas seriam
as decisões, e menos energia gastaríamos.
Só que aí me dei conta que o Big Data
sempre escolhia com base no rastro que
eu deixava.
O que os aplicativos e redes sociais faziam
era simples- mente pegar meu rastro e
jogar para frente, tentando prever meus
padrões de comportamento. E comecei a
acreditar que essa inteligência artificial,
na verdade, não trazia qualquer evolução.
Patinávamos na mesmi- ce – repetindo
padrões ad infinitum.
Se eu pegasse o e-mail dos meus clientes
no Facebook, ele rastreava estes e-mails e
me dava as coordenadas de acordo com o
perfil de quem me seguia. Ou seja: es-
colhia novos seguidores de acordo com
um perfil para mostrar a minha
propaganda para estas pessoas.
Desta forma, quanto mais massificado
fosse meu con- teúdo, mais pessoas eu
teria o poder de atingir. Isso es- tava claro.
Quanto mais massificado, mais fácil para
os aplicativos de massa e para o comércio.
Esses pequenos insigh- ts iam construindo
novas crenças. Eu sabia usar essa
inteligência a meu favor, para vender
meus produtos. Mas será que eu queria
ser tocado por ela? Será que eu queria
experimentar o sorvete que o meu
algoritmo di- zia que eu ia gostar com base
no que eu já tinha experi- mentado? Ou
seria possível participar a cada momento
de novas experiências, de modo que o
algoritmo ficasse cada vez mais complexo
e dificultasse seu trabalho de decidir por
mim?
Eu queria ter a possibilidade de não usar o
aplicativo e andar pela rua. Ser impactado
pelo cheiro, pela cor, pela fachada de cada
lugar e decidir, genuinamente, se era ali
que eu iria entrar.
Eu precisava experimentar a vida.
Caso contrário, me tornaria um ser
humano limitado pelas próprias es-
colhas.
Conforme fui crescendo, entendi que onde
não tinha contaminação, não tinha
evolução, quanto menos pes- soas eu
conversasse, menos repertório teria.
Quanto menos livros lesse ou menos
programas assistisse, meu jeito de ver o
mundo seria limitado e incoerente com a
realidade.
Então, percebi o quanto as pessoas
estavam fechadas em seus microuniversos,
impedindo a própria evolução.
Entendi porque demorava tanto para o ser
humano evoluir, já que isso só aconteceria
se fossemos contami- nados por uma
invasão alienígena que nos fizesse dar um
salto de milhões de anos.
E percebi que limitar a complexidade das
decisões fazia nosso cérebro ficar burro.
Se eu passasse a vida fazendo as
mesmas coisas, passa- ria a vida
passando pelas mesmas experiências.
Uma pessoa que passa 30 anos comendo
pizza de muça- rela e calabresa não é uma
entendedora de pizza, ela é uma
entendedora de pizza de muçarela e
calabresa.
Essa é uma grande questão. Muitos de nós
acreditam que os anos sejam repetitivos.
Eu sou da opinião que os anos são uma
criação humana. E que não existe tempo.
O tempo que temos para viver é hoje. É
agora. É o que está.
Mas os responsáveis pela repetição dos
anos, que se tornam rotinas maçantes
com zero aprendizado, so- mos nós,
quando andamos em círculos e não
saímos do lugar.
Estamos catalogando tempo e tendo
a falsa ideia de que sempre
poderemos fazer aquilo que temos
von- tade. Que podemos
experimentar o que quisermos
quando quisermos. Mas não nos
permitimos experi- mentar,
escravizados pelos nossos próprios
rastros que nos mantém reféns das
mesmas experiências vividas no
passado.
Vejo pessoas que só se deixam contaminar
pela própria família, passando 30 anos
fazendo exatamente as mes- mas coisas e
indo para o mesmo lugar, e entendo como
existem vertentes radicalmente distantes.
O significado da palavra experiência pode
mudar num segundo: se uma empresa
considera que um colabora- dor tem
experiência por ficar 30 anos no mesmo
cargo, será que, de fato, ele tem
experiência se fez a mesma coisa ao longo
de 30 anos?
Ter experiência em uma coisa só nos
limita. E eu, que gosto de comunicação,
tento me reinventar diariamen- te. Sou o
cara que não vê problema em entrar toda
se- mana na pizzaria, desde que não se
coma sempre o mes- mo sabor de pizza.
Só que as pessoas estão vivendo
repetidas doses – e overdoses – daquilo
que já viveram.
O Facebook, que traz um rastro de tudo
que você cur- tiu, gostou, digeriu ou odiou
na internet, consegue tra- çar uma linha
de raciocínio com base no que você era no
dia anterior.
Por mais que você tenha interesse
por coisas novas, sempre vai ter o
fantasma do seu rastro, deixado para
trás, mas trazendo referências de
outras coisas, reves- tidas de
novidades, com base no que você já
viveu.
Tenho uma amiga que deu um match
numa rede social de relacionamento,
porque a tal rede identificou que aquele
era o perfil ideal para ela. Semanas
depois, ela percebeu que o cara era a
cópia do seu ex, de quem ti- nha se
separado por falta de afinidade. Só que a
rede tinha se baseado nos gostos
anteriores, então, de fato, ela só
encontraria mais sugestões do mesmo,
porque aquele aplicativo em especial,
entendia que ela gostava daquele perfil.
Nosso cotidiano está nos empobrecendo. E
nos deixando menos questionadores .
Como dizia Bauman, “nenhuma sociedade
que esquece a arte de questionar pode
esperar encontrar respostas para os
problemas que as aflige”.
Quando nos deixamos contaminar,
podemos agregar à nossa personalidade
aquilo que faz sentido. Mas, muitas vezes,
nos contaminamos com tudo e
esquecemos de cultivar nossas próprias
ideias. Esquecemos de formar a nossa
verdade a partir de tudo aquilo que
absorvemos do mundo. E ficamos
incapazes de tomar decisões.
E se eu estou falando de decidir, não estou
falando ape- nas do perfil consumidor
existente dentro de cada um
de nós – estou falando, sobretudo, do
perfil que criamos para atender uma
demanda social e sermos aceitos – sem
que precisemos mostrar a nós mesmos.
Vamos alimentando a ideia de que temos
que ser bons filhos, bons funcionários,
bons amantes, e quanto mais colocamos
carga, mais distantes ficamos do que
somos. Replicamos conceitos que os outros
esperam que replique- mos – e perdemos a
originalidade – que é o que é nosso de
origem.
Enquanto trainer de palestrantes, observo
muito. Prin- cipalmente o tanto de gente
que pega modelos prontos de ideias que
caem no gosto popular, para não criar no-
vos conceitos e correr o risco de ser
julgado.
Antes era difícil chegar no mundo do outro.
Hoje pode- mos ter um rastro superficial
dos gostos e preferências de cada um.
Com isso, quem entende de estratégias
digi- tais de vendas, consegue levar ao
público algo customi- zado – e, desta
maneira, muitos empreendedores fazem
conteúdo sob demanda, sabendo onde
estão pisando.
Desta forma, a rede se retroalimenta. As
pessoas cur- tem determinados
conteúdos, são agrupadas, as mes- mas
coisas lhes são oferecidas e elas sentem a
falta sensação de pertencimento. Assim,
não experimentam nada novo.
Ser um cientista da vida é ser um
experimentador de conceitos, ideias,
e novas versões de si mesmo. É se
reinventar, se reescrever, se permitir
entrar e sair de cena, sem medo dos
julgamentos e aplausos.
Ser um cientista da vida é ter a
capacidade de absorver um pouco de
cada um dos lugares – de não se deixar
cegar pela facilidade com que nos são
ofertadas as opor- tunidades para que
possamos perder menos tempo es-
colhendo o que é melhor para nós.
Ser um cientista da vida é saber que o
‘melhor’ ou ‘pior’ não precisa ser tabulado
como bom ou ruim. É se deixar levar pelas
experiências, sejam elas boas ou ruins,
para que façam parte da constituição da
sua realidade.
Nesses tempos líquidos, vejo que minha
missão se apro- xima de integrar o ser
humano, fazendo com que ele entenda
que é muito maior do que supõe ser.
Tudo é comunicação e o que vejo cada vez
mais é que as pessoas não sabem usar as
formas de comunicar o que está
acontecendo, nem com elas próprias –
nem entre elas. A comunicação entre as
pessoas está doente. E pre- cisamos curar
isso. A sobrevivência humana depende
da comunicação. Podemos criar novas
janelas de opor- tunidade a partir do
momento que entendemos como co-
municar – nossas necessidades, desejos, e
principalmen- te, dar voz a aquilo que nos
toca e pode ser uma poderosa ferramenta
de transformação para outras pessoas.
Vejo, cada vez mais, durante os
treinamentos que faço, que as pessoas
podem criar novas realidades. Podem
ser curadoras de suas histórias,
trazendo alegria, sain- do da
depressão, criando novos caminhos.
Quando descobrimos nossa melhor
versão, e conse- guimos levar ela para o
mundo, devolvemos a ele tudo aquilo que
recebemos – e, desta forma, multiplicamos
e ampliamos.
Hoje, mesmo quando estou gravando um
vídeo ou me vejo no palco, ainda me
vejo um comerciante. Um
comunicador – uma pessoa que tenta
exercitar a cada dia novas aptidões. Sei
que as oportunidades de negó- cios estão
em todos os lugares e buscava a cada
momen- to construir redes sólidas de
relacionamento que não fossem forçadas.
Você não precisa mentir para ser um
vendedor de sonhos. Você não precisa
mentir para criar um novo mundo.
Em tempos líquidos, onde as pessoas
acreditam que a comunicação está
ligada à velocidade do roteador quando
postam, conectadas no sinal da internet
banda larga, a verdadeira comunicação
está longe do universo tecnológico – e é só
se conectando de verdade com você
mesmo que você se conecta com o outro.
É só sabendo o que pode oferecer para si,
preenchendo um vazio existencial com
aquilo que faz sentido, é que pode ofertar
aquilo que muda a vida do outro.
Caso contrário, seríamos meros robôs. E
até eles estão criando sua própria
linguagem.
Como diria o Chacrinha, um dos maiores
comunica- dores de todos os tempos
‘Quem não se comunica, se trumbica’.
“Não importa o que as pessoas te dizem. Palavras e
ideias podem mudar o mundo”

Robin Williams
A relação
COM O HUMOR

m dos caras que mais admiro é o


Silvio Santos. A capacidade dele de ser
um showman, empresário, comunicador, e
se misturar com todos os públicos, clas-
ses, sendo unânime em todas elas, faz
dele uma espécie de gênio – que temos o
prazer de contemplar ainda vivo.
Acredito que quem sabe se comunicar, não
envelhece.

Assim como o Silvio, todo bom


comunicador tem a ida- de que ele quiser
ter.
Percebi isso quando comecei a interagir
com grupos de adolescentes e jovens em
meu canal do Youtube, ao mesmo tempo
que conseguia dialogar com senhores de
mais de 80 anos em minhas palestras,
Talvez o segredo da comunicação – e
também do não envelhecimento – seja
se banhar na experiência do ou- tro – e
conseguir ser o que o outro é naquele
momento.
Sempre que vi o Silvio em ação, notei o
quanto ele era habilidoso em vender,
desde simples títulos de capitali- zação,
até sonhos.
Quem sabe vender – vende qualquer coisa.
E é capaz de seduzir através das palavras
para que o outro abra lite- ralmente as
portas da esperança e sinta aquela
vontade de pertencer a uma tribo
exclusiva.
Da primeira vez que comecei a estudar
comunicação subliminar e persuasão,
estudei obsessivamente um cara chamado
Neil. Eu tinha contato com PNL e gati- lhos
de persuasão, e pensava o tempo todo
‘como esse cara consegue manipular? ’
Infelizmente muitos de nós veem a palavra
‘manipular’ com conotação negativa.
E ela até pode ser – se usarmos a
manipulação para atendermos objetivos
contrários ao que a pessoa deseja.
Mas também podemos manipular uma
pessoa sim- plesmente mostrando a
ela aquilo que ela verdadeira- mente
quer – mas não tem coragem de
verbalizar.
Por isso a manipulação em vendas pode servir tão
bem.

Certo dia, acompanhando minha cunhada


numa con- cessionária de carros, ela
observava três modelos dife- rentes de
veículos – com valores diferentes entre si.
Naquele dia, ela tinha um claro interesse
em comprar um modelo que estava
avaliado em R$42 mil reais, mas estava
quase efetivando a compra do modelo de
R$ 36 mil, justamente porque o vendedor,
sem qualquer habi- lidade, apenas se
limitava a responder suas perguntas.
Fiquei observando a situação, sem tentar
persuadir ninguém, e quando ela olhou
para mim, perguntou:
“Ricardo, o que você acha? ”
Com permissão para entrar em cena, pedi
ao vendedor um papel, uma calculadora e
uma caneta – ferramen- tas de trabalho
simples que ele não tinha em mãos – e
comecei a enumerar as diferenças entre
cada um dos modelos.
Escrevi num papel:

“Temos isso aqui por 36 mil e isso tudo


aqui por 6 mil a mais. Agora me responda
‘Quanto tempo você vai ficar com o carro?’
Ela disse que talvez durante 5 anos e eu continuei.

“Então 6 mil divido por 5 anos igual a 1200


reais ao ano, divido por 12 meses igual a
100 reais, divido por 30 dias igual a 3,33
reais.
Você vai deixar de comprar o carro dos
seus sonhos por três reais por dia?”
Ela pensou e optou pelo modelo de 42 mil
reais, e eu saí de lá convicto de que as
pessoas não sabem utilizar as formas de
comunicar o que está acontecendo.
Neste caso estamos falando da venda de
um carro, mas podemos tirar algumas
lições desse episódio.
Quantas oportunidades perdemos
diariamente porque não nos
dedicamos com energia e entusiasmo
naquilo que queremos? Quantas vezes
durante o dia deixamos de contribuir
com as pessoas ou gerar qualquer
resul- tado impactante na vida do
outro?
Se a nossa maior arma na comunicação é
a energia, de que forma estamos usando?
Estamos nos comunicando com presença,
transmitindo nossas ideias com clareza?
Estamos sendo hábeis na
identiftcação das necessida- des das
pessoas? Transparentes nas conversas?
Temos a capacidade de envolver as
pessoas levando-as a faze- rem um
questionamento mais intenso? Um
questiona- mento interno que as mova
para uma ação?
Desde pequenos dizem que eu faço
perguntas que são difíceis de se
responder.
Perguntas que desencadeiam uma leitura
interna, in- comodam, e, através delas,
consigo identificar as quali- dades
extraordinárias de cada um fazendo com
que as pessoas se sintam capazes de fazer
qualquer coisa.
Olhar as pessoas requer tempo,
humildade, discerni- mento e
espiritualidade. E enxergar mais do que as
pes- soas conseguem ver naquele
momento nos traz uma nova dimensão
dos relacionamentos.
Talvez eu seja um grande provocador de
sensações. E goste de transformar o
abacaxi em suco, e juntar tudo para fazer
ficar com um gosto diferente. Ou talvez eu
seja só aquele cara que gosta de provocar.
De qualquer forma, tento sempre
estremecer os pi- lares de quem estiver
pela frente. Quando tenho pi- lares sólidos
não me permito experimentar. E se não
experimento, não me permito mudar.
Desde criança minha mãe me dava a liberdade de
ser
– e mesmo que eu sempre soubesse que
tinha o poder de escolher quem eu queria
que me contaminasse, eu cresci sabendo
que entrar na vida do outro é diferente de
ser um cara invasivo. O segredo é que as
pessoas te convidem a entrar no mundo
delas – e não o contrário.
Conforme fui crescendo, fui sendo
impactado pela ava- lanche tecnológica
que hoje recria a maioria das profis- sões.
Desta forma, muito do material humano,
no futu- ro, será substituído por robôs.
A única habilidade humana que
sempre será necessá- ria é a
capacidade de se comunicar e
emocionar.
O robô pode até passar uma linguagem,
mas jamais conseguirá interpretar seus
sentimentos. Algoritmo nenhum consegue
distinguir se seu sorriso é verdadei- ro ou
falso na alma!
Inevitavelmente, as máquinas estão cada
vez mais hu- manas, e os seres humanos
cada vez mais robóticos. Porque, como
estamos limitando nossas experiências e
revivendo nossos próprios rastros, sem
criar novas perspectivas, enclausurados
no mundo das telas do celular que não nos
permitem conversar numa mesa de bar,
está cada vez mais fácil e previsível
entender o comportamento humano já
que ele repete padrões como uma
máquina faria.
As relações humanas estão frias e as
máquinas cada vez mais humanizadas.
Pessoas robotizadas numa convi- vência
doentia com aplicativos que simulam até
mesmo o tom de voz de um humano.
Desta forma, tem sido desafiador para
aqueles que vi- vem a própria vida sem
amarras, porque são justamen- te estes
que tem sido alvo das maiores críticas, já
que aquilo que incomoda no outro
geralmente é uma carac- terística sua que
te fere e está relegada à sombra.
Percebo o quanto a comunicação externa
é capaz de conquistar o outro, mas o
quanto a comunicação inter- na conquista
você mesmo.
Sem extrair o melhor de si mesmo, você é
incapaz de extrair o melhor do outro. E
dentro de cada um de nós existe uma
melhor versão de si mesmo.
Mas muitos passam a vida toda sem
encontrar e resga- tar essa versão. É como
se as pessoas não se permitis- sem ser
quem elas realmente podem ser.
Talvez por isso os grandes comunicadores
e pessoas com destaque naquilo que
fazem pareçam seres de ou- tro planeta.
Talvez eles sejam – do planeta dos loucos.
O louco faz o que deseja sempre.
Independente das con- sequências. Eles
permitem ser quem são e através da
espontaneidade conseguem tocar seu
público.
Mas só conseguem tocar seu público
porque estão abso- lutamente conectados
com sua própria verdade e per- mitem-se
desconstruir e reconstruir a cada instante.
Desde pequeno estudo histórias e
biografias de gran- des personagens e
personalidades que passaram pelo mundo.
Em comum, eles deixaram suas marcas –
e estas marcas são perceptíveis
justamente porque eles se per- mitiram
ser eles mesmos – e jamais aceitaram ser
quem a sociedade dizia que deveriam ser.
Uma das grandes damas da televisão
brasileira, Hebe Camargo, que foi uma
comunicadora capaz de atingir grandes
massas e extrair de seus entrevistados a
gar- galhada, mesmo quando o assunto
parecia sério demais para ter um ponto de
vista permeado pelo humor, mos- trou o
quanto aprender com humor podia ser a
manei- ra mais rápida e efetiva para o
telespectador.
As pesquisas apontavam que as pessoas
memorizavam mais as entrevistas feitas
pela loura que aparentava ser
fútil mas interagia de verdade com seus
convidados, do que as matérias
tradicionais dos noticiários.
Isso porque aprender com humor é mais
rápido, e traz uma aderência maior e mais
instantânea, quando você ri, você se
diverte e acontecem reações químicas
dentro de você.
A relação
COM OS SACRIFÍCIOS

inha aproximadamente nove anos.

Estávamos todos na cozinha de casa,


onde nos reu- níamos para as refeições.
Família numerosa, quatro filhos, e eu tive a
ideia de abrir a geladeira para pegar uma
garrafa de vidro fechada com um
refrigerante.
Tinha acabado de voltar da rua, mãos sujas
de tanto brin- car. Talvez por isso não tenha
percebido que havia algo nas palmas das
mãos que faziam as coisas escorregarem.
Naquele momento, quando agarrei a
garrafa com as duas mãos, senti o peito
disparar por segundos. En- quanto ela
vagarosamente escorregava pelas minhas
mãos, eu via tudo em câmera lenta.
O movimento dos olhos do meu pai,
observando com pânico, aquela garrafa de
vidro estraçalhando no chão. O rosto da
minha mãe, como se tivesse presenciando
um atropelamento – e o silêncio que
interrompia até as batidas do meu coração
– que duraram apenas alguns segundos
depois que aquele vidro se quebrou.
Talvez aquela cena não tivesse ficado tão
marcada na minha memória se meu pai
tivesse dito que era só uma garrafa de
refrigerante. Ou se eu levasse uma
simples bronca por sujar toda a cozinha.
O fato é que, mesmo sem apanhar, o que
eu presenciei depois daquela cena, foi um
ritual de palavrões, ódio e gritos. Meu pai
estava absolutamente descontrolado com
o que eu acabara de fazer, como se
tivesse cometi- do o desperdício do século,
mesmo que aquele refrige- rante custasse
o equivalente a três reais.
Hoje sei que aquela ira não veio só por
causa do tal li- trão de Coca Cola. Ela
começou bem antes, quando, do dia para
a noite, saímos do que chamávamos de
‘classe média’, para a total escassez.
Mesmo sendo dono de uma loja de
sapatos, meu pai acumulava dívidas que
faziam com que seus credores vivessem
de juros. Quando resolveu pagar todo
mundo, vendeu praticamente tudo que
tínhamos, até mesmo um carro recém
adquirido pela minha irmã mais velha que
se esforçava para pagar o consórcio.
Dessa maneira, era como se todas as
fontes secassem da noite para o dia, e eu,
que parecia ser o filho do comer- ciante
mais popular do bairro, aprendi a conviver
com a rotina do ‘não temos dinheiro para
isso’.
A escassez era tamanha que
economizávamos no litro de óleo. Me
lembro que certa vez, quando os alunos
da escola precisavam levar doações para
um evento, es- crevi que não poderíamos
contribuir com nada, o que desencadeou
uma onda de ironia por parte da professo-
ra de classe, que me interpelava como um
filho de um comerciante não tinha como
trazer nada.
Naquela época, eu não os desafiava,
apenas aprendia a conviver com a
realidade da maneira como ela se apre-
sentava. Até o dia em que a diretora me
chamou em sua sala – sem que eu tivesse
cometido qualquer inconve- niência em
sala de aula.
_ Feche a porta por
favor Ela disse
quando entrei.
- Você sabe que seu pai não paga a
mensalidade da es- cola há três meses?
Para mim, além de ser uma novidade,
aquele assunto não deveria estar sendo
levado a meu conhecimento. Mesmo
assim, ela continuava, com sua pedagogia
in- clusiva, educativa e religiosa.
- Se seu pai não pagar a mensalidade
atrasada, você vai precisar sair da escola.
Era como se eu fosse um adulto sendo
demitido de seu local de trabalho, onde
cultivava seus únicos e melho- res amigos.
Cheguei em casa cabisbaixo e passei o
recado para a mi- nha mãe, que interpelou
meu pai de maneira incisiva e quase
autoritária.
“Aqui estão as mensalidades do seu filho.
Dê um jeito de pagá-las”
Sabe-se lá como ele arranjou dinheiro,
mas, naquele dia, quando o refrigerante
caiu no chão da cozinha, era como se ele
descontasse toda a raiva – dos credores,
da diretora, e talvez até de si mesmo – e
descontasse no fi- lho mais novo.
Mesmo sem proferir um único golpe, suas
palavras fe- riam mais do que uma
bofetada. Só que não era só em casa que
minha vida era de luta. Como ainda
treinava judô, era desafiado a lutar fora
dos tatames – e nunca revidava.
Da primeira grande surra, tomada depois
de um valen- tão me desafiar em frente a
todos, tirei uma grande li- ção – meu
mestre afirmava que eu tinha condições
para ter revidado. Então, daquele dia em
diante, prometi a mim mesmo que se
fosse desafiado, levaria até as últi- mas
consequências.
Bastou um menino maior e mais forte me
bater para minha certeza cair por terra. O
segundo ensinamento era que, além de
ter condições, eu tinha técnica – coisa que
ele não tinha.
Então, no terceiro desafio, levei a maior
surra de todos os tempos. O meu
adversário era muito grande.
Meu mestre disse de uma vez por todas –
não impor- ta o tamanho do seu oponente
e sim o quanto você se prepara.
Eu tinha uma vaga ideia do que ele estava
falando – mas eu usava essas lições para
me preparar para uma outra batalha – a
da vida adulta.
Se meu pai parecia perdido na
organização financeira da casa e tínhamos
tão pouco dinheiro para contar no fim do
mês, eu pensava que me preparar era
necessário, mas queria me preparar para
ser alguém que não preci- sasse lutar
tanto quanto meus pais.
Não que eu não quisesse lutar, mas
estava exausto de sentir aquela sensação.
Ver minha mãe nadando con-
tra a maré e colocando a cabeça para fora
para tentar respirar era desgastante.
Ninguém gosta de ver a pró- pria mãe
sofrer.
Ao mesmo tempo, para os filhos, ela
tentava fazer não faltar nada – e carinho e
atenção nós tínhamos mais que realmente
merecíamos – ela era mais que uma pes-
soa que nos desafiava ir além – se não
tinha dinheiro para o óleo de cozinha, ela
dava um jeito de ter para comprar os
livros.
Ah, os livros. Nessa época eu acreditava
que se detives- se conhecimento, teria
poder – e poder para mim era o mesmo
que dinheiro. Via como o fato de não ter
dinhei- ro impactava na autoestima da
minha família e como as pessoas
humilhavam meu pai por dever para os
outros. Então, eu acreditava que quem
tinha dinheiro seria bem tratado. E, por
isso, queria ficar rico.
Só que achava que o caminho para isso
era entender o que ninguém entendia.
Naquela época eu era crente que o
dinheiro poderia tra- zer respeito. Mas não
tínhamos grana nem para com- prar os
livros que eu queria tanto ler.
A solução vinha da minha mãe, que
coordenava grupos de evangelho na Igreja
e dava um jeito de levar livros para casa.
Se eu não me alimentava tão bem, porque
a gente só tinha arroz feijão e ovo para
comer, por outro lado eu devorava os
livros que ela trazia.
Até mesmo as enciclopédias – tão grossas
e aparente- mente difíceis de ler – eram
alvo da minha curiosidade.
Eu era faminto por conhecimento.

Mesmo que nenhuma delas detivesse a


fórmula do sucesso, elas me inspiravam e
faziam com que eu vis- lumbrasse novos
horizontes. Para mim, a matemática era:
se você for inteligente e souber se
comunicar, têm poder.
Na época, já estudava a história de Assis
Chateubriand, um dos homens públicos
mais influentes do seu tempo. E entendia
que ele tinha feito tanto dinheiro sabendo
usar a comunicação a seu favor.
O mais curioso era que, embora eu
buscasse ler enci- clopédias, não buscava
apenas respostas. Cada página fazia com
que eu tivesse um ímpeto ainda maior por
perguntas.
E, quanto mais eu crescia e os anos se
passavam, mais percebia o movimento
contrário – as pessoas estavam com um
acesso cada vez maior ao conhecimento,
só que ao mesmo tempo, cada vez mais
rasas. A cultura era massiva, mas era
superficial.
Como as redes sociais que traziam a
facilidade de postar coisas com poucos
caracteres – o poder de síntese, ao in-
vés de contribuir para se extrair o
melhor conteúdo de cada coisa, estava
servindo para que as pessoas não se
aprofundassem no conteúdo – e cada
vez mais eu sentia um desinteresse
profundo – até começar a onda da leitu-
ra e interpretação de títulos e
matérias. Com desculpas como ‘falta
de tempo’, as pessoas encontravam o
jeito perfeito de não raciocinar por elas
próprias.
Claro que isso criava uma brecha gigante
para quem produzia conteúdo poder
manipular quem não a lia –
e se eu já acreditava que comunicação e
conhecimento eram a chave do poder,
pude perceber com meus pró- prios olhos
como números na internet faziam com que
novos ídolos nascessem. E à medida que
isso acontecia, me espantava com a
repercussão do meu próprio canal.
Quando eu entrava numa tela de celular
dando minha opinião sobre um assunto,
aquilo repercutia de várias maneiras.
Muitos relatavam como tinham sido impac-
tados – e da mesma forma que era
assustador perceber que minha voz podia
ser ouvida – era curioso notar como era
simples e fácil manipular a opinião pública.
Quanto mais lia sobre as pessoas que
admirava – já adulto – entendia que até
mesmo a simples combinação de roupa de
cada um deles, passava uma mensagem.
Se comunicar estava além de dizer algo.
A maior transação futebolística do mundo,
envolven- do um jogador de futebol
brasileiro, também trouxe à tona fatos
interessantes – a maneira como ele foi
vesti- do para assinar o contrato bilionário
– dizia muita coisa.
Era o mesmo jeito despojado do criador do
Facebook quando saia de chinelos para
assinar os contratos que movimentavam
sua fortuna. E até isso passava uma
mensagem.
Eu sabia que conhecer algo era o nosso
maior tesouro – nem que esse
conhecimento fosse relacionado a domi-
nar uma bola em campo. Mesmo assim,
também tinha plena certeza que nenhuma
técnica poderia ser repro- duzida e copiada
por outras pessoas da mesma maneira.
Jamais existirá outro Pelé, ou um novo
Ayrton Senna. Justamente porque só se
encontra o próprio potencial
quando se encontra a si mesmo – e as
pessoas estavam caminhando cada vez
mais para a massificação.
Cada vez que se tenta copiar o outro,
perde-se o brilho da originalidade, da
espontaneidade e essa poeira cósmica,
que forma os seres humanos, relatada de
maneira tão bela por Einstein, começa a se
desfazer,
Porque fica fácil copiar modelos prontos.

É como escolher entre abrir um negócio


próprio e comprar uma franquia. Com a
franquia você não precisa decidir nada –
as decisões e orientações são dadas por
alguém que já percorreu aquele caminho.
Desta forma, você simplesmente obedece
algo cujo ris- co é matematicamente
calculado, mas não sai da linha nem tenta
arriscar nada novo.
Quando não criamos nosso estilo de
vida agimos como se estivéssemos
adotando um modelo pronto que nos
foi vendido e obedecendo cegamente
a este estilo, sem cogitar a hipótese
de criar algo novo e percorrer um
caminho que pode ser único.
A alquimia da vida é encontrar a medida
certa de criar a sua realidade sem se
deixar transformar por aquilo que não
condiz com o que acredita. Entrar num
lugar, absorver conhecimento sem
necessariamente precisar concordar com
aquilo que viu, viveu ou ouviu.
Nessa odisseia, fui entender o quanto
quem domina o conhecimento domina o
mundo, logo no México, du- rante a lua de
mel em Chichen Itza, cujas ruínas são
consideradas uma das sete maravilhas do
mundo. Foi lá que o guia turístico nos
contou sobre como eram feitos os
sacrifícios humanos.
Para que chovesse, eles diziam que era
preciso extrair o coração das crianças
ainda vivas e oferecer aos deuses. Desta
forma, abriam o abdome abaixo da caixa
torácica e, inseriam a mão para agarrar o
coração, puxá-lo ainda batendo e cortar os
ligamentos para soltá-lo, mas de for- ma
que ele continuasse pulsando.
Diante do relato daquela atrocidade, que
parecia fazer sentido para os moradores
locais da época, já que todos celebravam a
chuva que caia após os rituais, entendi,
finalmente, como o conhecimento fazia
com que ho- mens detivessem o poder.
Anos depois, descobriu-se que quando
sabiam que ia chover, providenciavam o
sacrifício. Desta forma, os líderes eram
tidos como sábios e poderosos, já que a po-
pulação acreditava que o milagre da
chuva tinha sido possível graças ao
esforço e à oferenda concedida ao Deus
da chuva.
Com aquele nó na cabeça se desfazendo,
voltei para o hotel com um nó em outra
região do corpo – desta vez no estômago.
Era a primeira vez que me deparava com
uma situação na qual a crueldade
inimaginável dos humanos precisa- va ser
observada com frieza.
Sem conseguir comer, mesmo com a
fartura de ali- mentos do restaurante do
hotel, fui dar uma volta em busca de
respostas. Queria entender o porquê de os
líderes religiosos usarem o poder e o
conhecimento para manipular a
população, fazendo-a crer que eram os
portadores dos milagres.
Me lembrei dos padres frequentando
minha casa, ainda pequeno. De como as
religiões travavam o co-
nhecimento humano e modificavam as
histórias para trazerem suas próprias
versões, coniventes com seus interesses –
e comecei a buscar algum motivo para
acreditar em Deus.
Sem conseguir encontrar, me vi como
aquele menino que, ainda criança,
decorava fórmulas prontas para a prova,
repetindo o que era dito, sem sequer
entender o significado da frase.
Se a relação entre poder, dinheiro e
conhecimento era tão óbvia, eu começava
a enxergar tudo sob um outro prisma – e
esse prisma me distanciava daquilo que
até então tinha sido cultivado com tanta
pureza pela mi- nha mãe – me distanciava
da minha fé.
Cético, voltei para o hotel e pedi o vinho
mais caro. Por alguns segundos, lembrei do
padre tomando goladas es- condido, do tal
sangue de Cristo que ele mostrava nas
cerimônias.
Buscando as respostas, mais uma vez, eu
encontrava ainda mais perguntas. E
refletia sobre a minha própria existência.
“Da escola de guerra da vida: o que não me mata, me
fortalece”

Friedrich Nietzsche
A
relação
CURING
A

uando a gente começa a refletir


sobre a própria existência é inevitável
parar para pensar no valor
de nossas vidas. De vez em quando a
gente percebe que viver pode ser uma
grande aventura – mas antes de se dar
conta disso, passamos a tentar explorar a
origem das coisas.
Mesmo sem ter feito filosofia, sempre fui
um filósofo – se aquela figura do Palhaço
com a roupa rosa era a marca da minha
infância, na vida adulta, ser um palhaço
era como ser uma figura provocativa,
espontânea que criava novas
oportunidades de trazer alegria ao dia a
dia.
Na prática, era como se, dentro do jogo da
vida, eu fosse o curinga, aquela carta que
não está formando par com nenhuma
outra dentro do baralho, e se diferencia
das demais. Como um bobo da corte que
não se deixa levar a sério.
Mesmo vivendo nossas vidas num mundo
de aventu- ras, consideramos tudo dentro
da normalidade. Só que houve um
momento da vida em que eu buscava
algo
fora do normal para explicar racionalmente
a presença de um criador.
Estava desenganado, acima de tudo das
religiões, e ten- tava explicar tudo através
da biologia e da razão. Já não considerava
que os padres podiam ser intermediários
de Deus desde os meus 15 anos, mas
depois de adulto fiquei ainda mais
questionador.
Através da biologia eu pensava – Deus não
existe. E desde que o padre disse para
minha mãe que eu seria ateu, eu me
considerava um.
Eu buscava o self desde sempre. Queria
entender o mís- tico, o sobrenatural, desde
que me conhecia por gente. Só que
quando cai em Jung, comecei a questionar
Deus.
Um dia, nessa provocação, desafiei Deus.

Pedi que ele fizesse então um milagre para


todo mundo entender que ele existia de
fato.
Eu tinha uns 34 anos quando pedi isso.

Certa noite, acordei assustado na


madrugada e me dei conta – estar vivo já
era um milagre. O organismo era uma
coisa muito louca. 23 pares de
cromossomos, mais 23 pares de
cromossomos.
Nessa época tentávamos engravidar e não
conseguía- mos, mesmo com os
tratamentos.
Curiosamente, era o milagre que estávamos
buscando
– gerar uma vida parecia simples – e
biologicamente to- dos aparentemente
eram capazes de fazê-lo.
Mas o milagre se dava quando aquela energia se
fazia.
Jung dizia que quando retornássemos para
p self, não estaríamos mais aqui – e era um
retorno para o sagrado. Um retorno para o
paraíso e para a consciência plena.
Todo esse processo, de anos, teve uma
certa alquimia. Primeiro me coloquei
contra, depois admiti ser ateu e então não
acreditava em mais nada – até que a coisa
ia indo, indo e justamente naquilo que eu
mais acreditava era o mais sagrado de
tudo.
Como eu não tinha percebido aquilo antes?

Como vivíamos em mais perfeita harmonia


dentro da natureza? Como essa poeira
cósmica criava vida? Qual era a metáfora
da vida? Deus pegou um pedaço de bar-
ro, fez o homem e soprou nas narinas
dele. Isso era só poeira cósmica. Tudo era
matéria do Universo.
Não dava pra ser por acaso. Não era
normal juntar um monte de matéria e essa
matéria ter vida. Matéria com vida era
algo inexplicável.
E aí que percebi que o grande milagre que
eu tanto pe- dia era a nossa vida.
Eu tinha pedido um grande milagre e a
resposta estava dentro de mim:
o grande milagre de Deus é você.
Acordei e chorei, eram quatro horas da
manhã e eu pe- dia perdão por ter sido
ateu por tanto tempo.
Era como uma revelação universal me
provocando de volta e me dizendo ‘cara,
você quer mais prova que eu existo? Você
é a prova. Você é o milagre”
Mas eu só poderia ter esse discernimento
por causa da minha inteligência.
Era como a resposta que Jung dera a um
repórter em sua época, quando este lhe
perguntava se ele acredita- va em Deus
‘Não. Eu conheço Deus’
Era tudo muito mais simples. Não tinha
que ter qual- quer doutrina, o pecado, o
pode e não pode. E percebi que as
religiões eram manipulações do sagrado.
Eu po- deria ter esse discernimento.
Toda religião detinha o poder. E esse poder
vinha atra- vés do conhecimento.
Primeiro eu associava conhecimento a
dinheiro, depois eu comecei a entender
que o verdadeiro poder não esta- va no
dinheiro, estava no próprio conhecimento
em si.
Na linha natural, dinheiro era o último estágio.

Fazia mais sentido que as pessoas não


compravam o que você era, e sim o que
podia fazer por elas.
Foi desse jeito que compreendi que os
loucos governa- vam o mundo, porque
além do conhecimento, tinham uma
impetuosidade que levava tudo até as
últimas con- sequências.
Mesmo que o limite entre a
inconsequência e a loucu- ra fosse tênue,
eles sabiam dosar a coragem de maneira
que, quando tinham resultado, aquilo se
tornava mais que uma certeza absoluta –
era como se não enxergas- sem qualquer
possibilidade de derrota.
O louco faz o que deseja sempre –
independente das consequências.
Além de sermos o maior milagre do
Universo, conser- vamos dentro de nós
uma chama ardente que carrega
nossa melhor versão. E talvez tudo que
precisemos fa- zer é permitir que a
alquimia da qual Jung tanto falava, venha
à tona.
Assim como ele foi a encontro de sua
pedra filosofal e conseguiu atingir e
expressar a essência de sua psico- logia, o
fato de estarmos conectados através
deste li- vro demonstra que estamos
ambos em busca de nossa vida eterna. E a
vida eterna pode ser representada de
várias maneiras – seja através de um livro
que eterni- ze seus pensamentos para a
posteridade mesmo depois que você for
embora, como uma ideia que você dita pro
vento.
Durante nossa vida passamos por
transformações e estados de
consciência sempre em busca da paz
inte- rior – só que esquecemos que
essa paz só é alcançada se damos voz
a todos os outros sentimentos e
emoções.
Então, sufocamos impiedosamente tudo
que nos faça sentir, para que a tal
meditação – ou o aplicativo que si- mule
um barulho de água de cachoeira – traga a
paz que nem sabemos se um dia existiu
dentro de nós.
Quando trago questionamentos, trago
desconforto. Porque só através da
expressão do que somos, podemos nos
tornar quem queremos ser. Só se
comunica com quem está fora, quem é
capaz de se comunicar consigo mesmo.
Se passado, presente e futuro se
misturam nesse cal- deirão do tempo que
nos deixa afundados em medo do
desconhecido e nos faz repetir velhas
fórmulas para que saibamos tatear onde
estamos pisando, alguém que queira
expandir o próprio movimento dentro do
mundo
deveria estar apto a soltar as amarras com
o passado e a se libertar do medo e da
aprovação de quem não se deixa
embarcar na vida.
Quando digo que a vida é uma grande
viagem, é por- que esse é o único barco
que podemos guiar, mas não podemos
controlar. Podemos dar a direção em
busca do caminho que queremos
seguir, mas não podemos dar meia
volta e revisitar lugares que já
visitamos.
Nos treinamentos, onde tento extrair o
melhor de cada um para que a
comunicação seja efetiva com o mundo
externo, tento deixar claro que, para que
saibamos co- municar aquilo que
queremos, temos que saber nos co-
municar com nós mesmos. E isso implica
em conhecer e reconhecer o que somos de
verdade.
É improvável que um grande comunicador
seja de mentira. Não dá para atuar em
cena fingindo ser um personagem, porque
a vida não é uma peça de teatro.
Só conseguimos contagiar, energizar e
tocar as pessoas quando extraímos o
melhor de dentro de nós. E acessar essa
fonte é um caminho que devemos
percorrer antes que seja tarde.
Porque, por mais que devamos nos
contaminar com o que nos rodeia, o ideal
seria que todos soubessem o seu caminho,
para levar uma rota para aqueles que
ainda não sabem por onde ir.
Desgovernados, somos arrebanhados por
quem ter o melhor discurso. Na política e
na vida, vivemos como espectadores ao
invés de subirmos no palco e mostrar- mos
a que viemos.
No dia a dia, poucos fazem suas atividades
com vida, magia e prazer. Os movimentos,
frases e trabalhos aca- bam sendo
mecanicamente reproduzidos, e, quando
entramos numa empresa, é comum
vermos pessoas até mesmo seguindo o
mesmo dress code, com a mesma ma-
neira de agir, falar e se conectar com o que
vem de fora.
Quando temos medo de assumir nossa
loucura, que nos eleva, somos mediamos e
ficamos dentro da normalida- de. E a
normalidade nos embota. Timidamente
ficamos no limiar, sem saber dar um passo
adiante, com medo de se destacar no
rebanho e ser advertido.
Outro dia um amigo disse que quando me
via trabalhar nem conseguia imaginar
como era trabalhar com tanto prazer.
Eu estava descontraído, rindo,
conversando e montan- do as
apresentações de uma palestra que faria
na sema- na seguinte.
Estupefato, ele não conseguia entender
como conse- guir resultado sendo ele
mesmo.
“Eu sigo o padrão da empresa. Faço as
coisas como me mandam”, dizia.
Mesmo assim, insisti para que ele
começasse todos os dias a fazer as coisas
que mais lhe davam prazer. Para mim,
essa era a melhor forma de ser criativo.
Ou, como eu gostava de dizer – o curinga
da empresa.
A carta curinga era aquela que era
diferente das outras, e podia circular entre
o baralho todo, exercendo seu papel de
maneiras absolutamente diferentes em
cada lugar, justamente por não se prender
a nenhum padrão.
“Não são as técnicas que tem que
funcionar – são as pes- soas”, expliquei.
Queria que as pessoas expandissem a
consciência. Era como se elas precisassem
de permissão para isso. Para isso elas
precisariam se tornar observadoras para
que pudessem entender as situações e
interagir com elas.
Só conseguimos falar em todas as
línguas quando nos despimos do
julgamento e vivemos nossa vida,
absor- vendo aquilo que podemos
levar adiante – e simples- mente
observando o que não nos agrega.
Não temos obrigação de deixar nada – só
viver nossa própria vida. Mas antes de
querermos impactar os ou- tros, subir ao
palco ou emocionar, teríamos que buscar
nossa fonte e, desta forma, buscar o que
houvesse de melhor em nós mesmos.
Um bom comunicador transmite tudo com
simplicida- de, mas nunca se acomoda
diante da vida nem se deixa emburrecer.
Certa vez assisti um filme que contava a
história de um cara que tinha sido
selecionado para participar de um
experimento secreto militar que o
colocava em hiber- nação.
Quando acordava em 2505, encontrava
uma sociedade tão emburrecida pelo
comercialismo de massa e pela alienante
programação de TV que acabava sendo o
cara mais inteligente do planeta.
Se a comédia trazia um quê de realidade
perturbadora, a vida real perturba mais
ainda quando tomamos cons- ciência que
cada vez mais estamos nos tornando
como
torcedores uniformizados de torcidas
rivais, criando e repetindo
comportamentos padronizados e
permeados por crenças e valores
unilaterais, sem dar espaço para escutar o
outro e ampliar horizontes.
Quando me dou conta disso, resgato a
velha e boa me- mória da minha mãe,
dizendo baixinho, enquanto me via
fantasiado de palhaço, com pompons rosa,
confian- te para encarar os olhares de
espanto dos colegas:
“Seja você, meu filho. Não ligue para o
que as pessoas possam dizer ao seu
respeito. O que importa, é o que você
é”
A relação
COM O PÚBLICO

s vezes quando olho para a minha


infância fico pensando que em alguns
momentos usei o riso
para evitar a violência. Como nem sempre
conseguia ser o bom de briga, tentava
impressionar sendo alguém capacitado a
falar com todo mundo.
E ser capacitado era um diferencial, saber
coisas que os outros não sabiam me
colocava em posição de desta- que. Por
isso, um dos meus hobbies mais
frequentes era jogar videogame. E como
eu não tinha um, tinha que saber jogar
mais que os outros para que os amigos
que o tinham me chamassem para jogar
em suas casas. As- sim, ainda cedo eu
dava aulas.
Aquele palhacinho do pré-primário tentava
se infil- trar em todos os pequenos,
médios e grandes grupos, na tentativa de
absorver tudo que via diante de si. E, aos
poucos eu via que aquilo não era só uma
estratégia inconsciente de fazer parte dos
grupos. Eu sabia que o dinheiro podia me
levar a alguns lugares, mas que as
amizades que eu fazia poderiam me levar
muito mais longe – talvez mesmo sem
dinheiro.
Era assim que eu viajava com os amigos
nas férias por ser sempre o cara que todo
mundo queria ter por perto. Desse jeito, eu
dava o meu melhor, mas sempre tinha o
melhor das pessoas. Antes de me tornar
popular entre os amigos, me tornei o
queridinho das mães, que muitas vezes me
chamavam até mesmo para cuidar dos
filhos pequenos.
De alguma maneira, eu transmitia
confiança para quem estivesse por perto.
Hoje, olhando friamente, percebo que é
fácil confiar num menino que vai com a
mãe nos grupos bíblicos e se esmera em
agradar todo mundo.
Naquela época, eu não via meu valor, mas
entendia que era bom quando as pessoas
valorizavam minha presen- ça. Talvez por
isso eu tenha crescido com um chip que
fazia com que eu valorizasse sempre a
presença do outro.
Benjamin Franklin dizia que quando
você está numa mesa, é bom ser o
cara que escuta. Eu não conhecia essa
frase, mas já era o escutador oficial, por
onde fosse.
Ao mesmo tempo, devorava biografias dos
caras ricos, tentando encontrar o mapa do
tesouro, sem saber que a vida me
mostraria muito mais elementos que a
escola ou qualquer fórmula mágica.
Foi assim que me tornei um observador.
Muito antes de ser um provocador. Minha
habilidade de relacionar com o mundo e
com quem estava à minha volta era evi-
dente – só que ninguém sabia ao certo
porque eu estava em todos os lugares.
Nem eu.
Como meu pai estava literalmente
quebrado e não tí- nhamos dinheiro para
nada, comecei a me adaptar aos mais
diversos tipos de situações – o que me
favorecia
sem que eu percebesse, pois raramente
precisava de di- nheiro para estar onde
queria, com quem queria.
Digamos que eu era um bom ouvinte. E a
grande qua- lidade dos ouvintes é
justamente saber o que as outras pessoas
pensam – e como raciocinam.
Mesmo que hoje eu pareça um falastrão,
desde peque- no era aquele típico cara
quieto que só abria a boca se confiava em
alguém. Estava sempre na minha e quando
chegava em qualquer lugar, tentava fazer
um raio X do local. E quando falava, falava
o que sabia que interessa- ria quem estava
ali para ouvir. Não desperdiçava pala- vras
em vão.
Cresci sendo o sujeito que escutava e
sabia aconselhar todo mundo. Talvez essa
seja a habilidade de quem para enxergar o
outro. Era simples para mim desenhar um
cenário, como era simples negociar um par
de sapatos.
Só que, justo nessa época, eu exercitava
mais do que o simples poder de barganha
para convencer as pessoas a comprarem o
que eu tinha para vender. Como já era um
comerciante e trabalhava com vendas – no
sentido lite- ral da palavra, também
desenvolvia habilidades extras de
comunicação – que diziam respeito ao pós-
venda.
Nessa época era comum termos cheques
devolvidos por não terem fundos. E eu era
o cara que ia cobrar os que não queriam
pagar. Numa dessas, bati na porta da casa
de uma jovem que fugia há meses de uma
pequena dívida – e dei de cara com um
valentão que me espera- va, pronto para
me bater.
Naquele dia entendi que não era minha
facilidade em lu- tar jiu jitsu que me
protegeria. Era a minha comunicação.
As palavras me tirariam daquela
enrascada – e eu pre- cisava convencer o
cara que não era um bom negócio ficar
contra mim.
Sem conhecer qualquer estratégia de PNL,
usei a boa e velha argumentação. O fiz
perceber que a garota tinha adquirido as
dívidas por causa do ex namorado – e, por
incrível que pareça, naquele dia, saímos
dali abraçados.
Era incrível saber como uma boa
argumentação podia persuadir alguém a
ficar ao meu lado. No caso, eu nem
imaginava que depois de tanto apanhar
dos amigos na rua, tinha um poder muito
maior que o deles de me defender.
Uma boa defesa não precisa de ataque.

Alguns insights foram caindo a partir de


então. Como eu conseguia me comunicar
bem com todo mundo, per- cebia que
podia ir além – e fazer com que as pessoas
se tornassem melhores.
Se eu já conseguia me comunicar com
aquele sujeito que vivia dentro de mim, eu
podia estabelecer uma boa con- versa com
quem estava do lado de fora. E, pouco a
pouco eu me tornava perito em fazer com
que todos que esti- vessem ao meu redor
se tornassem pessoas melhores.
Para isso, ouvia muito. Me interessava,
sobretudo, pelas histórias de cada um. E
me adaptava a elas. Flexibilida- de
também era meu ponto forte.
Essa característica tinha nascido com o
Ricardo crian- ça. Na infância eu conseguia
tanto estar à vontade num lugar onde
fosse necessário se portar elegantemente,
como andar com meus amigos da rua, que
vez ou outra estavam cheios de piolhos.
Quando pequeno, minha mãe passava
dias caçando piolhos na minha cabeça
quando eu me metia com os meninos da
favela. Mesmo assim, eu continuava
jogan- do bola com eles e sentado na
calçada contando piadas.
Era assim que eu conseguia lidar com meu
dia a dia quando cresci e via tanta gente
diferente entrando na loja. Para mim, o
diferente sempre merecia uma aten- ção
igual a qualquer um.
Ás vezes entravam travestis para comprar
as sandálias que eu encomendava em
número maior só para atendê- los. Ou
grandes empresários, com suas amantes,
que contavam com a minha descrição,
mesmo sabendo que suas esposas eram
conhecidas na área.
Me relacionar com todo mundo,
independente da cul- tura do indivíduo,
me fazia ser bem quisto por todos. A
grande verdade é que eu não julgava
ninguém. E esse respeito pela verdade do
outro fazia parte do meu cará- ter desde
bem cedo.
Conforme fui ingressando na área de
desenvolvimen- to humano, entendi que os
profissionais de sucesso não tinham as
melhores notas – mas sabiam se
comunicar. Logo, vi que ter sucesso era
questão de escolha.
Até os livros que falavam sobre influenciar
pessoas, di- ziam claramente que para ser
entendido não era neces- sário apenas
falar de forma clara – era necessário saber
o que se queria comunicar.
Era assim que as situações apareciam para
mim num es- talar de dedos. Quanto mais
eu estudava Programação Neurolinguística,
mais conseguia entender o outro – e a
magia era justamente perceber que eu já
enxergava a
linguagem não verbal das pessoas muito
antes de estu- dar aquilo.
O exercício tinha sido ainda na loja de
calçados, quando os clientes vinham
tentar efetuar a troca com todos os tipos
de artimanhas para que eu pudesse trocar
o par de sapatos – já usado.
Como um bom gatuno de rua, eu já sentia
no ar a ma- landragem de quem tentava
me enganar, e, através de perguntas
sugestivas, conseguia arrancar a verdade
de cada um.
Por isso, quando criei o quadro ‘não minha
para mim’, muitos anos depois, eu já
sabia, além de decifrar pes- soas, a
técnica que precisava para isso.
E foi na televisão que o negócio começou
a acontecer. Como numa conjunção
estelar, eu estava no lugar certo e na hora
certa quando um amigo me chamou para
par- ticipar de um dos quadros do
programa na TV.
A emissora era a Gazeta e a
apresentadora, Cátia Fon- seca,
metralhava eu e mais dois rapazes de
perguntas. Quando falava sobre detectar
mentiras, a audiência subia – e logo fui
chamado para ter um quadro indivi- dual,
onde eu analisava a postura não verbal de
cada um quando tentava contar aquela
mentira cabeluda.
Era assim que analisava grandes acusados
que estavam na mídia dizendo que não
tinham cometido crimes. E não era só a
polícia, como o grande público, me assis-
tiam e percebiam claramente os sinais e as
palavras não ditas de quem queria
esconder alguma coisa.
Os temas muitas vezes também giravam
em torno do relacionamento humano. E,
ali, aprendi a mágica do ao
vivo. Era bom improvisar e eu tinha
facilidade de me adaptar aos temas que
surgiam dos telespectadores que
enviavam perguntas.
Sempre disse que quem ensaia a
vida, morre uma única vez.
Numa tarde qualquer, saindo dali me deu
um estalo. Eu nunca havia me preparado
para aquele momento. Muito menos para
estar em um programa na televisão
aberta, ao vivo. Foi então que entendi que
nunca tinha levado a vida como um
ensaio, me preparando para algo maior.
Era claro que as pessoas estavam sempre
tentando se preparar para algo. E pareciam
nunca estarem prontas. Muita gente levava
a vida como se não fosse ao vivo. E era
preocupante perceber que ensaiavam
durante anos como se pudessem
reescrever a vida na semana seguinte.
Foi justo naquele ano que eu percebia que
a vida não era ensaio. Grandes perdas me
faziam entender clara- mente que a morte
não anunciava data e hora. E eu fi- quei
cada vez mais presente para a vida que
acontecia a cada manhã.
Estrear na televisão num programa ao
vivo me fez en- tender a dinâmica da vida
sem ensaios que eu estava vi- vendo.
Lidando com a iminência da morte de meu
pai, eu saia do estúdio e me perguntava
‘será que ele mor- reu outras vezes?’
quando me via a caminho do hospital onde
ele estava em seu leito – ainda vivo.
No entanto, apesar de viver entre as
polaridades de vida e morte, quando
estava com meu pai, tentava le- var um
pouco da vida que estava me fazendo
brilhar os
olhos. Assim, mesmo quando me via triste
com a pos- sibilidade de sua morte,
conseguia reverter a situação, observando
as coisas sob uma outra ótica.
Talvez a televisão tenha feito com que eu
me apaixo- nasse pela possibilidade de
estar com pessoas mesmo sem estar ao
lado delas.
Com essa energia, levei ainda mais
presença para os meus treinamentos.
Entendia que não importava o que eu
estava falando, mas a energia e a
presença que eu colocava na minha
apresentação.
Era isso que o público – tanto da TV,
quanto das pales- tras, esperava. Era
curioso que quando as pessoas para- vam
para te ouvir, não importava muito a
qualidade do que você dissesse, mas como
dizia aquilo.
Na internet eu também via a consagração
do meu tra- balho, já que o meu canal no
Youtube fazia com que mi- nhas palavras
chegassem no mundo todo.
Conforme eu fazia network as
oportunidades apare- ciam para mim. Eu
conseguia vender minhas convic- ções,
resolver problemas e acima de tudo,
conquistar pessoas.
Em todos os lugares por onde andava eu
era um con- tador de histórias. Tinha
argumentos sólidos para em- basar o que
tinha a dizer e além de motivar as
pessoas, emocionava e as fazia chorar.
Se eu já falava com elas, entendia que o
segredo não es- tava no que eu vendia,
mas na maneira como vendia. E uma das
minhas frases de maior impacto era ‘não
adianta conhecer as dores do seu cliente
se você não for irresistível.
Via pessoas me perguntando como vender
e que tipo de palestra fazer para ganhar
mais dinheiro, e as acon- selhava a olhar
para dentro. O que ia contra qualquer
outro vendedor dizia.
Não ensinava apenas técnicas de
persuasão. Mostrava para o cara que se
ele soubesse o que fazia seu coração
vibrar, faria uma palestra com seu cheiro,
sua expertise e seu roteiro de vida.
Percebi que o que realmente importava era
o que a gen- te tinha passado e construído
na vida. Não o que apren- dia na
universidade – que podia ser facilmente
copiado pelo concorrente.
Minha missão era fazer com que as
pessoas detectas- sem o que tinham
feito de diferente para sair de situa-
ções comuns.
Se eu tinha estudado persuasão, sabia
gerir pessoas, abrir negócios, com
dinheiro, sem dinheiro e sair de di-
ficuldades reais durante a vida – eu tinha
um ativo mui- to maior do que poderia
supor. E as pessoas pagavam para me
ouvir.
Aos poucos aquilo começou a se tornar
uma grande brincadeira e eu entendi que
estava vivendo minha missão.
Quando o trabalho não parece um
trabalho, é porque chegamos no ponto de
mudar de estação e contagiar quem está
ao nosso redor – inspirando e
compartilhan- do aquilo que temos de
melhor.
A intersecção do que eu fazia de melhor
com o que eu faria de graça, com o que
era minha paixão fez com que eu
encontrasse meu nicho.
De tanta paixão acabei atraindo a atenção
da grande mídia. E foi num dia, que
acordei com um telefonema da Globo, que
percebi que meu trabalho estava impac-
tando as pessoas, de fato.
O programa Profissão repórter falaria
sobre vendas. E eu abriria o programa com
ninguém mais ninguém me- nos que o
cara que tinha inspirado o filme ‘O Lobo
de Wall Street’.
Quando ouvi o Caco Barcellos falando meu
nome, es- tremeci. Não era apenas mais
um sonho sendo realiza- do. Era como se
eu finalmente fosse reconhecido pelo que
eu sabia fazer melhor.
Se eu entendia de inteligência relacional,
era hora de usá-la ao meu favor.
Naquela reportagem, além de convidar o
telespectador para entrar na minha vida,
contei meus segredos, mos- trei meu
entusiasmo, mostrei que era mais que um
ven- dedor. Eu vendia ideias.
Quando vi o programa no ar, não tive
dúvidas – eu tinha herdado aquele dom do
meu avô. E a evolução daquela herança
me permitia ser quem eu tinha me
transfor- mado. Ele vendia sapatos. E eu
ensinava as pessoas a deixarem suas
pegadas.
Meu avô vendia sapatos que deixavam
pegadas. Eu vendia ideias que
deixavam pegadas.
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim,
esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa e depois
desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser


capaz de ficar alegre e amar, no meio da tristeza. Cair
não prejudica demais. A gente levanta, a gente sabe, a
gente volta.”

Guimarães Rosa
A relação
COM AS REAÇÕES

ra uma segunda feira. Lá estava eu,


no meu escri- tório, fazendo planos
para criar mais programas
no Youtube, um cronograma das datas dos
cursos se- guintes, desenhando
estratégias e fazendo aquilo que eu mais
gostava e tinha nascido pra fazer – me
comuni- cando com pessoas.
De repente, entre um café e outro, o
número de mensa- gens no inbox triplica e
vejo que é hora de respondê-las. Desde o
dia que me tornei uma pessoa pública, as
coi- sas mudaram – a exposição vem com
uma bagagem que cola no corpo – e eu,
além de lembrar do meu avô que quando
não tinha cliente na loja, enfiava uns
cintos na bicicleta e saia vendendo pelo
bairro, me vejo atenden- do cada uma das
solicitações, como se estivesse frente a
frente com cada uma das pessoas que me
procuram.
Numa dessas, meus olhos começam a
marejar. As pala- vras sempre vieram com
um significado muito forte para mim.
Quando bem colocadas e certeiras, são um
tiro cer- to no meu coração. Ainda lembro
dos poemas que lia na
escola porque a professora gostava de ouvi-
los na minha voz – e talvez o reflexo disso
hoje é que eu sinta cada uma das estrofes
reverberando dentro de mim.
Só que naquele dia não era a fluidez das
palavras que me tocavam – era o conteúdo
dirigido a mim. Uma mãe empreendedora
me escrevia, cheia de gratidão na pon- ta
dos dedos, que eu tinha salvado sua vida.
Fiquei perplexo. Como eu podia salvar a
vida de uma mulher com um filho recém-
nascido? E, desse jeito, contando as
miudezas do seu dia a dia, ela me encan-
tava dizendo que na solidão materna do
pós-parto, em casa, enquanto ninguém a
ouvia e ela se sentia silencia- da durante a
sua licença maternidade, tinha encontra-
do meus vídeos – e eles tinham mudado
sua vida.
Através deles, ela tinha encontrado forças
para montar seu próprio negócio e
levantar da cama, continuando a vida,
mesmo enquanto o menino crescia.
Atingido na jugular, senti uma emoção
intensa. Quase palpável. Não conseguia
mensurar quanto dinheiro ti- nha ganhado
gerando esse tipo de conteúdo, mas cada
vez mais eu percebia que o maior ganho
não era o fi- nanceiro – estava ligado ao
meu propósito de vida.
A mensagem viera de uma moça cujo
mestrado tinha sido de comunicação não
verbal – e através dos vídeos no qual eu
fazia um scanner das pessoas que
aparente- mente estavam dizendo
verdades, mas a comunicação corporal
dizia o contrário. Minha mente viajava,
como se fizesse um mergulho no tempo. E
eu me recordava do dia que decidira fazer
o primeiro vídeo a respeito do que
enxergava através das palavras.
Todo mundo sabe que o corpo diz
muito, mas poucos conseguem
decifrar seus sinais. Talvez porque
esteja- mos dispersos demais – talvez
porque não tenhamos o desejo
genuíno de nos conectarmos uns com
os outros.
A verdade é que, desde o dia em que
comecei a vender sapatos, comecei a ter
faro para mentiras – que surgiam em
ocasiões inimagináveis. Era nos
momentos de tro- cas em que as pessoas
tentavam me convencer que o sapato não
tinha sido usado. Ou nos momentos que
pro- curavam uma desculpa qualquer para
não pagar.
Intuitivamente eu já usava a estratégia
que aprenderia mais tarde, com as
técnicas de programação neurolin-
guística. No dia que efetivamente coloquei
em prática tudo aquilo que tinha
aprendido – percebi como aquela
habilidade atraia a curiosidade das
pessoas.
De atrair a curiosidade eu entendia –
desde menino era ávido por atenção.
Mesmo quando criança, subindo nas
mesas de bar para contar piadas, sabia
que despertar uma reação era algo que
me fazia bem. Eu entendia de me
conectar com pessoas.
Costumo dizer que a gente se conecta
com as pessoas quando elas se permitem
ver o que estamos dizendo. E mesmo que
você não seja igual a elas, elas te
enxergam como igual quando esse olhar
acontece.
É claro que quando não conseguimos essa
permissiva, não tocamos as pessoas. E isso
eu percebi da pior maneira possível – no
palco. Foi no palco que um dia, depois de
trinta minutos de palestra, entendi que
precisava fazer a coisa acontecer, mas
não conseguia fazer com que a
mensagem chegasse até as pessoas
simplesmente porque havia uma barreira
muito grande em nós.
A questão é que nenhuma barreira é
intransponível. Por isso sempre tento
começar de uma maneira diverti- da e
bem-humorada. Principalmente porque sei
que as pessoas cada vez mais têm menos
tempo, e se questio- nam se deveriam
estar ali, dedicando seu tempo para ouvir
um outro alguém.
Só que, dada essa permissão, você tem
passe livre para emocionar. E quando
permitimos que as pessoas nos to- quem,
elas também ganham, com isso, a
permissão de nos causar qualquer tipo de
incômodo.
Logo, todo mundo que ganha nossa
indiferença, não nos causa absolutamente
nada. Porque quando nos im- portamos
com alguém, em qualquer nível, somos
toma- dos por essa pessoa.
Então, sabendo que eu precisava sempre
da permissão alheia, que tinha sido dada
desde a infância pela minha mãe, tentava
sempre construir vínculos criando essa
atmosfera. Aos poucos me tornei um
viciado em rea- ções – como se fosse uma
droga.
Como gosto de passar conteúdo, fazer
com que as pes- soas pensem de maneira
macro e expandam suas cons- ciências
enxergando algo nelas e no mundo é o
que me move desde que parei de vender
sapatos e comecei a carreira de
comunicador.
No início, as reações eram tão espontâneas
que eu ficava animado com isso. Só que, à
medida que eu encontrava resistência,
buscava cada vez mais tocar as pessoas
para que elas mudassem seu estado
emocional comigo.
Quase sempre me lembrava de minhas
raízes – a Dona Neide, professora de
literatura que dizia que eu emocio-
nava com as palavras e o professor
Juvêncio, que me ensinava que palavras
tinham vida própria.
Era assim que eu percebia que
metaforicamente podia tocar as pessoas.
E tocar as pessoas é algo que faz mui- to
mais que ganhar dinheiro. Mesmo que eu
tenha sido um cara de vendas, que
gostava de receber por oferecer algo a
alguém, quando eu recebia um feedback
positi- vo, minha alegria era tanta que não
tinha cheque que pagasse o preço da
felicidade sentida.
Por isso, talvez, segui nesse vício –
conquistar pessoas era quase uma
obrigação por onde eu passava. Era eu
quem animava as festas, mesmo que
chegasse sem falar oi ou me despedir.
Quando conseguia me enturmar e ficar à
vontade, entendia como poderia me
enquadrar naquele cenário.

Mas foi na internet que a repercussão do


meu trabalho ganhou uma visibilidade que
eu jamais pensei em al- cançar. Enquanto
fazia o quadro ‘Não Minta para mim’, na
TV Gazeta, tive a ideia de criar o mesmo
quadro na internet e analisar entrevistas
para verificar a comuni- cação não verbal
das pessoas e entender quem estava
mentindo e quem não estava.
Eu assistia inúmeras entrevistas – sempre
com o intui- to de desmascarar eventuais
mentiras. E, a partir dis- so, tudo
começou a caminhar numa outra
velocidade
– a dos views, incontroláveis, que se
multiplicavam a cada dia.
Aparentemente, as pessoas me deixavam
entrar em suas casas – e eu não tinha a
menor ideia da dimensão que
aquele trabalho estava tomando. A
princípio, investi- gadores, policiais,
pessoas engajadas com a justiça, co-
meçaram a me procurar. Depois, mulheres
que queriam que eu investigasse as
palavras em vídeos de maridos e
namorados.
Aos poucos, minha sede de conquista era
satisfeita de uma outra maneira. Eu tinha
a permissão das pessoas. E ter a
permissão delas me possibilitava criar
novos for- matos.
Quanto mais à vontade eu ficava para
criar, maior era a repercussão dos vídeos.
Eu notava que quanto mais me permitia,
mais feliz eu era e mais leve. Através da
internet eu não conseguia medir
imediatamente a rea- ção do outro.
Isso trazia maturidade. Porque, no palco, a
reação espe- rada era atendida ou não –
de forma que eu sempre me sentia
impactado por ela. Só que comecei a não
esperar reações de nenhum tipo. E fazer
aquilo que eu tinha que fazer.
Todas as vezes que ligava a câmera,
lembrava de um amigo que fazia uma
apresentação fantástica de hipno- se e
certa vez viu-se diante de uma plateia que
não se permitiu contaminar.
Sem medo da represália, ele fez o que
tinha que fazer e se retirou, sem se
lamentar por não ter conseguido a reação
esperada. Quando conversamos, ele não
parecia estar incomodado com a situação.
Pelo contrário. Dizia que tinha feito seu
possível. E seu melhor. Acima de tudo,
tinha tido tesão em dividir o que tinha ido
com- partilhar. Aquilo era o bastante.
Minha saga na internet estava só
começando. Engati- nhando no Youtube,
publiquei um vídeo que teve uma
repercussão de mais de dois milhões de
visualizações.
Eu mal podia acreditar. Por causa da
análise não verbal de uma entrevista que
uma atriz muito famosa tinha dado, acabei
sendo assistindo por pessoas que eu jamais
pude imaginar ser visto.
Então, chegou o dia em que eu me
surpreenderia. Fiz um vídeo contando
sobre o assassinato da filha da Gló- ria
Perez – com a entrevista do assassino. E,
minutos de- pois, recebi uma mensagem
Simplesmente a maior autora de novelas
da televisão brasileira estava entrando em
contato comigo para elo- giar meu
trabalho.
Estupefato, perguntei o que ela tinha
achado e ela dis- se que havia pesquisado
sobre análise não verbal para compor a
personalidade de um personagem de suas
no- velas. Curiosamente, tinha chegado ao
meu canal.
Por uma dessas coincidências malucas
e divinas, eu es- tava conectado com a
pessoa que mais conseguia emo-
cionar a massa através de histórias,
em todo o Brasil, com suas
telenovelas.
Então, percebi que minha habilidade em
emocionar o outro estava cada vez mais
apurada.
A relação
COM A AUSÊNCIA

enho observado as pessoas e


pergunto sempre a quem encontro:
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

As respostas são as mais intrigantes, mas


a pergunta, em si, quer trazer reflexão
para como nos relacionamos com o futuro.
Como nos relacionamos com o tempo?
A grande questão da vida é saber se
relacionar. Saber se relacionar com o
Passado, Presente e Futuro.
Como você se relaciona com o mundo?
Que compro- misso tem tido com a sua
vida?
O mundo existe dentro de você e não fora.
Viva no pre- sente.
Porque haverá o dia em que você vai
morrer para re- nascer. Comecei a refletir
sobre ausência quando entrei na casa de
minha mãe e não a encontrei.
Ausência é não estar presente ou não estar
presente no presente?
Na busca da vida, nos ausentamos dela.

Será que estamos nos permitindo estar


presentes quan- do devemos estar
presentes? Ou confundimos querer estar
presente com a responsabilidade de viver
a vida do outro?
Não vivendo só no passado e sim no futuro.

A falta que a ausência da morte traz


choca. Entrega de bandeja as emoções
que nos fazem sentir a vida.
Esteja presente no presente. Permita-se.
A relação
COM A MINHA
HISTÓRIA

le morreu.

Aquela frase ecoava na minha mente


repetidas ve- zes e eu tentava repeti-la
para mim mesmo para me cer- tificar de
que ela era, de fato, real.
Como se estivesse num pesadelo
existencial, senti meu peito apertar em dor.
Estávamos em 2012. O Miguel tinha vivido
durante oito meses dentro da barriga da
Adriana, minha esposa, e aguardávamos
sua vinda, com vida, mais do que
ansiávamos pela nossa própria existência.
Tínhamos passado anos tentando
engravidar, e o pre- paro dos meses que
antecediam sua chegada eram de-
licadamente cobertos com um fio invisível,
como se ele estivesse protegido de nossos
anseios e expectativas.
Mas ele não
veio.

Aquela notícia, inenarrável, me tirava o


chão. A prin- cípio me dei conta do quanto
eu tinha esperado pelo
momento de ser presenteado pela vida de
um filho. De- pois, experimentei todas as
sensações possíveis e ima- gináveis. A dor
da perda, da qual eu já tinha lido, mas
jamais poderia relatar sem ter vivido. E a
dor de um pai que não tem controle sobre
a vida e a morte.
Experimentar a finitude de uma maneira
tão impac- tante me fez delirar de dor
enquanto pensava no amor represado,
pronto para ser doado ao Miguel.
Hoje, quando penso na morte,
inevitavelmente, lembro do Miguel. E
percebo cada vez mais que as pessoas
estão perdendo a capacidade de entender
a própria finitude. Cegas diante da vida
que não vivem, experimentam cada vez
menos a aventura de viver e buscam
aneste- siar sentimentos para fugir do que
as torna humanas.
Curiosamente, um ano depois da despedida
de meu filho, meu pai adoeceu e precisou
de meus cuidados. Foi então que eu pude
direcionar aquele amor, que tinha sido rece-
bido a vida toda, mas estava guardando
para meu filho, para cuidar de meu próprio
pai, invertendo a ordem na- tural das
coisas. Eu o vestia e cuidava de suas
necessida- des como se estivesse cuidando
de uma criança.
Eu o perdoava. Não que ele precisasse do
meu perdão. Mas aquele perdão fazia bem
a mim, e curava feridas que tinham se
instalado fazia tempo na nossa relação.
Nesse período, devastado pela dor da
perda, pude expe- rimentar, no colo de
meu pai, o amor de um pai. E en- tender o
ciclo da vida, que foi implacável com ele,
me fez despertar para o agora.
A morte do meu pai e a do meu filho me
deram a di- mensão exata de que eu
precisava lutar com todas as
minhas forças pelo amor e pela vida. Eu
precisava acor- dar todas as manhãs com
brilho no olhar, com tesão de trabalhar, de
viver, de encarar as pessoas que me cer-
cavam. E eu precisava deixar uma marca
no mundo. Através do meu trabalho acabei
interferindo na vida de pessoas. E
naturalmente isso começou a me
alimentar.
Ao mesmo tempo, eu fiquei presente para
cuidar da minha mãe, que se foi alguns
anos depois. Durante um bom tempo,
dormia no quarto dela para dar o remédio
na hora certa e acordar para ajudá-la a ir
ao banheiro. Mas como seus alarmes eram
sempre falsos, eu nunca sabia quando ela
ia nos deixar. Vivia com a perspectiva da
morte, desde sempre. Talvez por isso,
quando ela se foi, eu não tenha sentido
um impacto tão grande.
Quando me vi sem meus pais, mesmo
casado, me vi sozinho. E aí me dei conta
de que somos sempre sozi- nhos porque
ninguém conhece todos os nossos dese-
jos e pecados.
Precisamos constantemente conviver
com a nossa so- lidão que não é ruim,
mas nos faz entender que somos
humanos. E tentar equilibrar essa
solitude com o con- tato com as outras
pessoas é o que me faz entender que
sempre fui movido pelo contato humano
porque gosto de trocar energia, sentir
emoções e me deixar contami- nar pelos
ambientes pelos quais me movo.
Destes ambientes, na minha memória
mora a minha tia, que desde criança nos
carregou pela vida com meus pais e
sempre estava com eles. Era ela que me
benzia quando eu tinha mau olhado e, no
dia que ela se foi, senti que uma parte de
mim tinha ido junto.
Costumo brincar que tem coisas que não
lembramos e as pessoas que fizeram
parte da minha vida carregam com elas,
como se fossem HD externos. E a morte
apa- ga muito em vida parte da nossa
história. Isso sempre me incomodou.
Alguns dizem que isso é página virada. E
eu não gosto dessa comparação, que nos
tira o poder de reescrever nossa própria
história. Eu acredito que ela está ali, aber-
ta e escancarada pra ser reescrita a
qualquer momento.
Mas será que estamos vivos para
reescrevê-las? Esta- mos prontos?
Atentos?
O índice de pessoas que se
anestesiam para não sentir a vida é
cada vez maior. As pessoas não
querem dor. Não experimentam a dor
da perda, da falta e masca- ram as
emoções, sem saber o que é ser triste,
e também sem experimentar a
felicidade.
Neutras, elas não experimentam qualquer
tipo de emo- ção e não se permitem viver.
Quando vemos pessoas cujos relacionamentos são
bem-
-sucedidos, entendemos que os seres
humanos chega- ram onde chegaram
porque criaram seus vínculos, seus
próprios acordos, seja através da moeda
corrente, seja através de bitcons, as
criptomoedas que surgiram a par- tir de
acordos.
Tudo que existe no mundo é um acordo.
Desde o di- nheiro, até as empresas. O ser
humano é o único que cria coisas na
natureza que não são espontâneas. Ou-
tro dia assisti um filme que mostrava uma
civilização do futuro cujo acordo era não
sentir qualquer emoção. Logo, viviam uma
vida vazia de sentimentos, sensa- ções,
emoções e eram impedidas de sentir.
Quando nos jogamos pra vida, temos que
saber que ela trará emoções e todas elas
são válidas e necessárias. Quem não
conhece a traição não valoriza a
fidelidade. Quem não conhece a
desilusão, não valoriza o amor. Quem não
conhece a paixão, não sabe a dor de
perder um amor.
Faz parte do ser humano sentir as
coisas. Temos que parar com essa
loucura de sermos sempre felizes.
Acreditarmos que a vida é dar risada,
como um Bozo que cheira cocaína e
gargalha repetidamente.
É natural ficarmos tristes, decepcionados e
até mesmo, nos sentirmos bem.
Costumo dizer que o suprassumo do
negócio é quando começamos a perceber
que as dores vão vir, mas vamos conseguir
curá-las e ultrapassá-las. Sem qualquer
arti- fício para fingir que elas não existem.
Porque elas nun- ca deixam de existir – é
só a gente que aprende como lidar com
elas.
No caso das mortes que enfrentei em
vida, sempre perdi um pouco de mim
conforme alguém ia embora. Cheguei à
conclusão que a gente não quer morrer
por- que não faz tudo que a gente quer e
precisaria de muito tempo para realizar
aquilo que a gente gostaria de fazer em
vida.
Nessas horas eu me pergunto: será que se
a gente fosse libertário teria medo da
morte? Se soubéssemos viver, sem medo,
ficaríamos tão apavorados com o fim da
nos- sa própria existência?
Raro enxergar quem vive a vida em sua
totalidade. Aqueles que brincam com a
aventura do dia e da noite,
bailando numa total sintonia com aquilo
que parece su- focar muita gente, mas que
na verdade nos humaniza: as tais
emoções.
Quando assumimos as emoções, somos
vistos como doentes. Sendo assim, não
podemos nos assumir por- que isso seria
como se estivéssemos doentes. E nessa
sociedade doentia, muita gente replica
comportamen- tos pra não ficar de fora de
nada. É como se todo mundo quisesse
surfar na mesma onda – e desse jeito,
nada sai além do que se espera.
O foco parece sempre estar no outro e a
felicidade fica comprometida, porque
enquanto realizamos sonhos que não são
nossos, alguma coisa pulsa ali dentro, de-
nunciando que existe algo errado.
Uma vez ouvi que todos os nossos desejos
nascem por causa da comparação e aí
começamos a desejar algo que não temos.
Invejamos o outro, a realização alheia e
não entendemos nosso próprio roteiro de
vida.
A gente quer se relacionar. A gente
precisa, a gente se move. Mas chega
um momento da vida que você tem
que conversar muito é com você.
Qual o ritmo que te move? Aquele ritmo
que foi impos- to por quem está de fora?
Ou o seu ritmo?
Sempre que ouço aquela música do Almir
Sater que conta ‘ando devagar, porque já
tive pressa’, penso exa- tamente na minha
atual posição. Só pode andar deva- gar
quem já teve pressa. E temos que
experimentar essa loucura da matrix antes
de chegar à conclusão de que todos temos
nosso próprio ritmo.
Quando entendemos essa loucura,
valorizamos a nos- sa libertação e
passamos a diferenciar luz e escuridão.
Tanto dentro quanto fora.
É como a alquimia da qual Jung falava – e,
para chegar na plenitude, há de se passar
por essas fases. Não há como fugir dos
processos. É sublime saber que podemos
nos tornar outra pessoa. E é bonita essa
metamorfose.
Enquanto treinador, meu papel é
proporcionar essa sensação e tentar
desencadear mudanças de dentro pra
fora. Através das dinâmicas, ensino que
como não podemos reproduzir a vida
durante um workshop, ao menos
tentamos fazer com que uma experiência
nos faça mudar.
Porque eu posso te dizer como se anda de
bicicleta, mas você nunca vai saber o que
é se não andar, por mais que eu te conte
com requinte de detalhes.
Só pode experimentar quem vive.

Com a experiência, vem o aprendizado.


Rico e capaz de provocar transformações
para toda a vida. Porque aprender é uma
saga emocionante e intransferível. É nosso
registro em vida. Nossa experiência,
pulsante, que vem de dentro e dignifica
nossa vida.
É preciso se relacionar com a vida.

As pessoas precisam aprender a se


relacionar com si mesmas, com seus
medos, dúvidas, acertos, expecta- tivas
porque ninguém tem um manual de
instruções da vida.
O maior guru da sua vida é você.
A grande provocação que tive comigo
mesmo foi essa. Somos nossas interações.
A soma de todas elas.
O que é de fato a consciência a personifica
a alma? Isso transcende ou não? Formo
meu eu a partir do meu co- nhecimentos e
verdades? Através do que recebo do
mundo?
Mesmo que se não tiver nada do outro
lado, a vida já é um presente absurdo que
nós, como matéria do univer- so, não
percebemos.
Entregamos a vida em prol de algo que não
sabíamos.
Morra todos os dias, até que chegue a última
morte.
MORRENDO
UM POUCO
POR DIA
Pílulas para MATAR O QUE
TE LIMITA E VIVER
INTENSAMENTE A SUA
vida
“Todos sabemos que a morte não existe
sem a vida, mas poucos se dão conta de
que a vida não existe sem a morte.”

“Não existe nada mais impactante que a


iminência da morte para provocar na
gente a experiência da transformação.”

“Que a morte nos acompanhe, para


sempre nos lembrar que é preciso saber
viver.”

“Mas a vida tem dessas. Ela te faz


perceber que você não é invencível
justamente quando você está ali. No
pódio.”

“Quando a Certeza me deixou, eu fiquei


com o Medo. Mas só através dele conheci
a Força”

“Por que, em vida, temos que deixar os


arrependimentos para a hora da morte?”

“Compartilhar o que eu tinha aprendido


fazia com que eu tivesse uma nova
experiência de vida.”
“Somos a coisa mais rara do Universo.
Cada um de nós – por termos vida, DNA
específico, impressão digital e ideias que
por mais que sejam compartilhadas,
jamais podem ser iguais, porque temos
particularidades específicas que nos
fazem incorporar todas as informações
que processamos através do
conhecimento e da nossa própria história,
antes mesmo de aplicar qualquer técnica.
A nossa história de vida nos faz únicos.”

“Se uma boa comunicação é capaz de


potencializar a criatividade, a inovação e
gerar resultados acima da média, uma
comunicação pífia pode colocar tudo a
perder.”

“Pela primeira vez na história, bilhões de


pessoas de todos os países estavam
conectadas graças à internet. Mas quem
conseguia construir relacionamentos
consistentes?”

“Eu sabia que a minha história de vida,


que não tinha como ser a mesma história
de qualquer outra pessoa no Universo,
poderia transmitir muito mais do que se
eu simplesmente contasse as técnicas e
métodos que tinha aprendido, treinado e
incorporado.”

“No momento de consciência, vemos a


nudez do outro. Deve ser por isso que,
quando nos desnudamos para o outro,
trazemos consciência. Consciência de
quem somos de verdade. Não das
mentiras que contamos a nós mesmos.”

“O coração é capaz de dizer muito,


mesmo quando está machucado. Ou
quando está em seu pleno
funcionamento.”

“Quando você libera sua criatividade e


tem um propósito, você alcança qualquer
objetivo.”

“Para ser rico você só precisa de três


coisas. Abra as torneiras ao máximo,
feche todos os ralos e atrase seu padrão
de vida em seis anos”.

“Quando acordei hoje de manhã, eu sabia


quem eu era, mas acho que já mudei
muitas vezes desde então”.

“Nenhuma daquelas pessoas tinha


qualquer traço diferente, DNA mágico ou
sangue azul correndo nas veias. Eram
simplesmente humanos que tinham
algum talento e sabiam extrair o melhor
de si mesmos quando estavam em cena.”

“Quando a gente começa a enveredar por


um novo caminho – seja ele qual for –
somos bombardeados de informações e
muitas vezes não fazemos uma triagem
do que pode agregar em nossa vida e do
que podemos descartar sem pensar duas
vezes.”

“E não há nada mais poderoso para um


ser humano do que encontrar dentro de
si, a essência daquilo que quer explodir
para o mundo e transformar aquilo em
potência, articulando a voz, postura, jeito
de se posicionar – entregando, de fato
aquilo que quer entregar, mas numa
embalagem que valoriza o produto.”

“Todos nós fomos feitos para brilhar,


como crianças brilham. Nós nascemos
para manifestar a glória de Deus dentro
de nós.”

“Hoje tenho em mente que sempre tenho


que imprimir meu futuro com as ações
que os outros não veem. Mas nem sempre
isso é fácil e confortável de ser feito.”
“Os aplicativos estão apagando nossos
genes. E isso é preocupante.”

“Emocionar com poucas palavras é


comunicar com sentido. Dar voz para
coisas complexas de um jeito simples é
uma verdadeira arte. Se comunicar com o
corpo, além de simplesmente impactar
através da voz que chega aos ouvidos e
pode ser interpretada de diversas
maneiras, dependendo do ouvinte.”

“Desde pequeno me deixei contaminar


pelo mundo do outro. Sempre acreditei
que a melhor maneira de evoluir,
aprender e criar meu mundo, era através
dessa contaminação – que poderia abrir
meus horizontes e me fazer enxergar de
uma outra forma.”

“Se eu passasse a vida fazendo as


mesmas coisas, passaria a vida passando
pelas mesmas experiências.”

“Estamos catalogando tempo e tendo a


falsa ideia de que sempre poderemos
fazer aquilo que temos vontade. Que
podemos experimentar o que quisermos
quando quisermos. Mas não nos
permitimos experimentar, escravizados
pelos nossos próprios rastros que nos
mantém reféns das mesmas experiências
vividas no passado.”

“Passei anos questionando Deus, pedindo


um milagre universal para que todos
vissem e cressem nele. Acordei no meio
de uma noite com Deus sussurrando em
meu ouvido – Você é meu maior milagre!
– chorei.”

“Por mais que você tenha interesse por


coisas novas, sempre vai ter o fantasma
do seu rastro, deixado para trás, mas
trazendo referências de outras coisas,
revestidas de novidades, com base no
que você já viveu.”

“Nosso cotidiano está nos empobrecendo.


E nos deixando menos questionadores.”

“Vamos alimentando a ideia de que temos


que ser bons filhos, bons funcionários,
bons amantes, e quanto mais colocamos
carga, mais distantes ficamos do que
somos. Replicamos conceitos que os
outros esperam que repliquemos – e
perdemos a originalidade – que é o que é
nosso de origem.”
“Ser um cientista da vida é ser um
experimentador de conceitos, ideias, e
novas versões de si mesmo. É se
reinventar, se reescrever, se permitir
entrar e sair de cena, sem medo dos
julgamentos e aplausos.”

“A sobrevivência humana depende da


comunicação.”
“As pessoas podem criar novas
realidades. Podem ser curadoras de suas
histórias, trazendo alegria, saindo da
depressão, criando novos caminhos.”

“Você não precisa mentir para ser um


vendedor de sonhos. Você não precisa
mentir para criar um novo mundo.”

“É só sabendo o que pode oferecer para


si, preenchendo um vazio existencial com
aquilo que faz sentido, é que pode ofertar
aquilo que muda a vida do outro.”

“Talvez o segredo da comunicação – e


também do não envelhecimento – seja se
banhar na experiência do outro – e
conseguir ser o que o outro é naquele
momento.”
“Mas também podemos manipular uma
pessoa simplesmente mostrando a ela
aquilo que ela verdadeiramente quer –
mas não tem coragem de verbalizar.”

“Quantas oportunidades perdemos


diariamente porque não nos dedicamos
com energia e entusiasmo naquilo que
queremos? Quantas vezes durante o dia
deixamos de contribuir com as pessoas
ou gerar qualquer resultado impactante
na vida do outro?”

“Olhar as pessoas requer tempo,


humildade, discernimento e
espiritualidade. E enxergar mais do que
as pessoas conseguem ver naquele
momento nos traz uma nova dimensão
dos relacionamentos.”

“A única habilidade humana que sempre


será necessária é a capacidade de se
comunicar e emocionar.”

“Sem extrair o melhor de si mesmo, você


é incapaz de extrair o melhor do outro. E
dentro de cada um de nós existe uma
melhor versão de si mesmo.”
“Cada vez que se tenta copiar o outro,
perde-se o brilho da originalidade, da
espontaneidade e essa poeira cósmica,
que forma os seres humanos, relatada de
maneira tão bela por Einstein, começa a
se desfazer.”

“Quando não criamos nosso estilo de vida


agimos como se estivéssemos adotando
um modelo pronto que nos foi vendido e
obedecendo cegamente a este estilo, sem
cogitar a hipótese de criar algo novo e
percorrer um caminho que pode ser
único.”

“O grande milagre de Deus é você.”

“Mesmo que o limite entre a


inconsequência e a loucura fosse tênue,
eles sabiam dosar a coragem de maneira
que, quando tinham resultado, aquilo se
tornava mais que uma certeza absoluta –
era como se não enxergassem qualquer
possibilidade de derrota.”

“Durante nossa vida passamos por


transformações e estados de consciência
sempre em busca da paz interior – só que
esquecemos que essa paz só é alcançada
se damos voz a todos os outros
sentimentos e emoções.”
“Quando digo que a vida é uma grande
viagem, é porque esse é o único barco
que podemos guiar, mas não podemos
controlar. Podemos dar a direção em
busca do caminho que queremos seguir,
mas não podemos dar meia volta e
revisitar lugares que já visitamos.”

“Só conseguimos falar em todas as


línguas quando nos despimos do
julgamento e vivemos nossa vida,
absorvendo aquilo que podemos levar
adiante – e simplesmente observando o
que não nos agrega.”

“Não ligue para o que as pessoas possam


dizer ao seu respeito. O que importa, é o
que você é.”

“Percebi que o que realmente importava


era o que a gente tinha passado e
construído na vida. Não o que aprendia na
universidade – que podia ser facilmente
copiado pelo concorrente.”

“Todo mundo sabe que o corpo diz muito,


mas poucos conseguem decifrar seus
sinais. Talvez porque estejamos dispersos
demais – talvez porque não tenhamos o
desejo genuíno de nos conectarmos uns
com os outros.”

“O mundo existe dentro de você e não


fora. Viva no presente.”

“Precisamos constantemente conviver


com a nossa solidão que não é ruim, mas
nos faz entender que somos humanos.”

“O índice de pessoas que se anestesiam


para não sentir a vida é cada vez maior.
As pessoas não querem dor. Não
experimentam a dor da perda, da falta, e
mascaram as emoções, sem saber o que
é ser triste, e também sem experimentar
a felicidade.”

“Faz parte do ser humano sentir as coisas.


Temos que parar com essa loucura de
sermos sempre felizes. Acreditarmos que
a vida é dar risada, como um Bozo que
cheira cocaína e gargalha
repetidamente.”

“Raro enxergar quem vive a vida em sua


totalidade. Aqueles que brincam com a
aventura do dia e da noite, bailando numa
total sintonia com aquilo que parece
sufocar muita gente, mas que na verdade
nos humaniza: as tais emoções.”

“A gente quer se relacionar. A gente


precisa, a gente se move. Mas chega um
momento da vida que você tem que
conversar muito é com você.”
Como MANIPULAR e
PERSUADIR
milhares de
pessoas

Comunicação é
tudo! Vivemos por
ela, para ela e
pensando nela o
tempo todo.
Basta olhar as
pessoas nos
ônibus, metrôs,
ruas, estádios,
shoppin- gs...
Encontros e
desen- contros.
Ninguém sai do
celular, todos só
querem mandar
mensagens, ler
mensagens...
escrever, falar. Se
comunicar! Ri-
cardo Ventura é
um
mestre na COMUNICAÇÃO, chega a ver
através dela em: gestos, entonações,
expressões, olhares... TUDO se comunica!
É um animado comunicador nos seus
cursos e palestras. É generoso, não se
furta a dividir seus conhecimentos, a se
dedicar em formar mais e mais
comunicadores. É um motivador, porque
sempre procura no outro o melhor que ali
há e ajuda este outro a se comunicar, se
expres- sar, se mostrar e ser um
COMUNICADOR EXTREMO!
Ricardo Ventura no livro Como Manipular e
Persua- dir Milhares de Pessoas, ensina as
linguagens verbais e não verbais e como
podemos usá-las a nosso favor. Ele ensina
também A PERDER O MEDO DE FALAR EM
PÚBLICO, dá muitas lições de persuasão
das mais di- versas formas e situações
para que você se torne não só um
COMUNICADOR, mas o melhor
COMUNICADOR EXTREMO de seus sonhos,
suas histórias no palco e na vida.

Resumo da ópera:

Ricardo Ventura ensina a você, o passo a


passo pra se tornar um EXTREME SPEAKER
de sucesso como é RI- CAAAARDO
VENTURA, um COMUNICADOR apaixo-
nado que também apaixona a plateia. — Leda

Nagle

Garanta já o seu!
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COMUNICAR,
VENDER E
NEGOCIAR COM
PNL

Será que sabendo


todas as técnicas
de vendas ou de
comunicação é o
bastante para ter
resul- tados? NÃO!
Se fosse assim
qualquer otário
teria sucesso!
Neste livro,
Ricardo Ventura,
um dos mais
reconhecidos
estudio- sos do
comportamento
humano, mistura
sua prática no
mundo dos
negócios. Ele
nasceu
dentro de uma loja de calçados e teve sua
própria rede de lojas por 20 anos.
Ricardo Ventura reuniu todos seus estudos
sobre psi- cologia, programação
neurolinguística, persuasão e se-
dução, para formar um manual completo
em VENDAS, desde as entranhas
psicológicas, passando pelo primei- ro
contato indo até a negociação e
fechamento!
Não pense em encontrar fórmulas prontas
e fofinhas… pois aqui não é a Disney!
Venha para o mundo do
#RevolucionaVendas seu anfi- trião será
o próprio Ricardo Ventura.

Garanta já o seu!
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CRENÇAS: O
inconsciente
influenciando
resultados
proftssionais

Neste livro,
Ricardo Ventura,
primeiro bra-
sileiro a escrever
um li- vro de
estudos de casos
sobre a PNL
aplicada a terapia,
relata sessões
concretas em
forma de diálogos
entre paciente e
terapeuta.
Uma leitura leve
onde ao fim de
cada sessão o
autor explica,
detalha- damente,
o que aconte- ceu,
quais técnicas
usou
e as ensina de modo simples e de fácil replicação.!

Livro usado e indicado em vários cursos de practitioner


e master em PNL.

Esse livro é muito útil e não existe nada parecido com


outro autor nacional. Pelo jeito da
aplicação e da forma clara e simples que
Ricardo Ventura expõe é um prato cheio
para quem quer ter um primeiro contato
com a PNL e também para quem já tem
grau de practitioner ou master para
acompanhar o processo e experimentar a
experiência de outro colega!

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MESTRES
da PERSUASÃO:
Hoje em dia, mais do que nunca,
precisamos persuadir e seduzir além de
termos bons produtos. Precisamos ter
segurança EXTREMA para falarmos com
nossos clien- tes nas mais diversas
oportunidades.
• Mesmo que você não se enxergue como vendedor.

• Mesmo que você tenha fobia de falar em


público e de gravar vídeos.
• Mesmo que você nunca tenha usado a
internet para vender.
No Mestres da Persuasão, você vai
convencer qual- quer tipo de pessoa a
aceitar os seus argumentos de forma
instantânea. Você vai se sentir muito
mais se- guro em comandar uma
reunião, falar com estranhos e fazer
com que eles ftquem atentos e
magnetizados a sua
proposta/mensagem.
Você vai, sem usar qualquer ferramenta
ou fórmulas complicadas, expor seus
produtos, ideias ou verdades pela internet
falando exatamente o que os seus interlo-
cutores desejam ouvir.

São três dias consecutivos em São Paulo.


(Sexta, Sábado e Domingo). Mais de 30
horas de imersão, com muito conteúdo
prático, mão na massa, intenso e
dinâmico, sem ôba-ôba nem autoajuda.
Você vai sair da Imersão Mestres da
Persuasão sabendo exatamente o que fazer
para ser: mais PERSUASIVO, se tornar uma
AUTORIDADE e usar as REDES SOCIAIS ao
SEU FAVOR!
Temos um encontro marcado! Nos veremos
no Mestres da Persuasão – A Influência a
favor dos seus Negócios!

Torne-se um Mestre da Persuasão!


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DO ZERO AO PALCO:
Programa
PalestranteXpress
O Programa PalestranteXpress nasceu de
muitos pedi- dos de pessoas que
gostariam de ter contato com a For- mação
de Comunicadores Extremos, mas “n”
motivos não podiam se deslocar até São
Paulo ou não tinham agenda.
Por isso criei este programa que contempla
todas as fa- ses da capacitação de um
Treinador ou Palestrante.
Dividido em 7 passos ou como costumo
dizer “cortinas”, as quais irão revelar
desde o zero absoluto até a perfor- mance
profissional em cima do palco!
CORTINAS:

Cortina 1 – MindSet/Conteúdo – Nessa


cortina eu vou revelar o meu “MindSet”;
Vou mostrar como funciona a minha
mente e quais as minhas ações para
produzir e gerenciar palestras,
treinamentos, workshops, etc... Além de
gerenciar pessoas, recursos e
comportamento, incluindo, como criar
conteúdo.
Cortina 2 – Palco – Nessa cortina você vai aprender
como se posicionar de modo profissional
em cima do palco ou diante a sua plateia,
seja qual for o número de pessoas; E,
também, como interagir com o seu público
de modo a criar engajamento.
Cortina 3 – Voz – A voz é o seu principal
recurso... E você vai aprender a como
cuidá-la, criar emoção a par- tir da sua
entonação, do volume, do ritmo e
variações vocais, criando assim sua
identidade vocal.
Cortina 4 – Recursos – Para uma boa
palestra aconte- cer, não é necessário
mais do que sua presença e voz,
entretanto, podemos impactar ainda mais
a plateia uti- lizando-se de recursos, tais
como: PowerPoint, microfo- ne, flip-chart,
apostilas, dinâmicas, dentre outros.
Cortina 5 – PNL – Aqui você vai aprender as
técnicas da Programação Neurolinguística
aplicadas na sedução e conquista da sua
plateia ou treinandos.
Cortina 6 – Dicas/Macetes – Aqui você vai
encontrar a minha coletânea particular de
técnicas que eu criei quando encontrei:
plateias arredias, o “engraçadinho”,
perguntas demoradas, o “especialista”, o
“terrorista”, o “do contra”, dentre outros…
Cortina 7 – Sacadas de Ouro – Aqui você
terá sacadas e insights que eu anotei
durante os últimos 10 anos e que
continuarão sendo atualizadas a todo
tempo. (já são mais de 100 Sacadas de
Ouro).

A hora é AGORA! Veja mais em:


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EXTREME SELLER:
Crie produtos,
clientes e ofertas
irresistíveis em 24
horas
Num mundo onde tudo muda em uma
velocidade incrí- vel, sua carreira ou o seu
negócio está em risco!
NÃO IMPORTA SE VOCÊ É: EMPRESÁRIO,
PROFIS- SIONAL LIBERAL, TRABALHA POR
CONTA, PASTOR OU POLÍTICO...
Preste atenção nestas perguntas:

• Seu faturamento ou participação no


mercado vem di- minuindo ano após ano?
• Os clientes estão cada vez mais
exigentes ou deixando seu negócio?
• Tudo que sempre funcionou no marketing
e promo- ção, não está mais dando certo?
• Parece que você está lutando contra gigantes?

Se você respondeu sim para alguma destas


perguntas, devo te alertar... VOCÊ ESTÁ
INDO PARA O BURACO!
E como eu sei disso? Já estive à beira de
entrar em um colapso nervoso por não
entender, e o pior, ACEITAR certas
mudanças... Eu já tinha nome, carreira,
chance- las e prêmios, mesmo assim, vi
meu negócio estagnar de uma hora pra
outra e pessoas com muito menos tempo
de estrada ou nenhum tempo, passarem
voando sobre mim! Foi difícil tomar certas
atitudes e decisões, eu, tal- vez, de forma
inconsciente, quisesse me agarrar a zona
de conforto e acreditar que o cenário ruim
era apenas uma fase...
Sorte que sou um bicho doido e não tenho
medo do novo...
Misturei minha experiência de vendedor –
que sempre fui a vida toda – as mais
modernas técnicas de marke- ting e
persuasão, que fui buscar até fora do
Brasil! Colo- quei em prática e ufa! Me
salvei do buraco que engoliu e está
engolindo diversos colegas e amigos!
E como tudo na minha vida foi assim,
ajudando um aqui outro ali... Acabei
cedendo aos pedidos e montei um
programa para ensinar o meu passo a
passo!
Sim! Em dois dias eu vou passar o que
demorei 5 anos para aprender! Você até
pode fazer sozinho tudo o que fiz... Perder
noites de sono, discutir com a esposa,
com os filhos e amigos, sem saber a real
causa do seu mal hu- mor. Poderá, por
tentativa e erro, descobrir o caminho das
pedras – Não tem mágica, tem processo...
Tem o que deve ser feito!
Dividi todo o processo em 2 dias intensos,
onde eu vou trabalhar seu negócio, seu
NOVO negócio, mesmo sem você precisar
sair dele!
E isso serve para qualquer tipo de
produto, serviço ou ideia! Já ajudei:
• Empresários;

• Empreendedores;

• Infoprodutores;

• Profissionais liberais;

• Pastores (sim, o pastor deve saber se


posicionar e sal- var mais almas);
• Políticos (não adianta prometer, você
precisa se desta- car da multidão);
• Enfim, todas pessoas que precisam ser
VENDEDO- RAS DE SI.
Então criei o EXTREME SELLER, um
programa de dois dias presenciais em
sampa, comigo, com até 15 pessoas em
sala – nem uma pessoa a mais –, pois eu
vou traba- lhar o seu negócio junto com
você!
O que veremos nestes dois dias? Além
da mentoria ali na hora (onde são criadas
soluções e produtos sur- preendentes),
vamos nos concentrar em modo de ofici-
na sobre os temas que vão fazer seu
negócio entrar em um novo nível de jogo!
• O novo jogo do século XXI;
• Descobrindo seu produto premium;

• Como criar sua “cadeira de expert”;

• Como encontrar o que mais aflige e o


que mais atrai seu cliente;
• Como se tornar irresistível;

• Como empacotar sua expertise e experiência;

• Conhecer e montar, pelo menos, 5


formas diferentes de ganhar dinheiro com
seu conteúdo;
• Como ter fãs e seguidores do seu
trabalho de forma constante e crescente;
• Utilizando as redes sociais para gerar
negócio e posi- cionamento;
• Como lançar seu micro produto ainda dentro de
sala;

• E o melhor... tudo isso se divertindo e criando


network!

Resumo:

• Mude sua forma de se vender, se não será


destruído;

• Aprenda as principais estratégias para


virar um EX- PERT;
• São apenas 15 vagas por turma (ou menos);

• Você vai criar seu novo produto dentro de sala;

• Investimento à vista com desconto ou


facilitado em até 12 vezes;
• Não se demore, a cada dia o mercado se
torna mais e mais complexo e tudo o que
foi feito até hoje não fun- ciona mais tão
bem...
Você tem 3 opções:

• Ir e adiantar 5 anos na sua estratégia;

• Percorrer sozinho os próximos 5 anos;

• Deixar como está...

Tem interesse? Acesse:


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EXTREME SPEAKER:
Destrua o medo de
falar em público e
torne-se um Mestre
da Comunicação
Este treinamento é exclusivo no Brasil,
onde você verá tudo para tornar-se um
palestrante/treinador ou ain- da realizar
apresentações em público de maneira pro-
fissional! Trabalhando desde a ideia inicial,
criação de conteúdo, execução,
comunicação com a plateia (inclu- sive
plateias arredias), recursos audiovisuais,
dinâmi- cas/exercícios de aplicação,
oratória padrão e moderna e muito mais!
SÃO APENAS 10 PESSOAS POR TURMA!

Muitas vezes nos deparamos com


situações onde tere- mos que passar
nosso conteúdo prático e intelectual.
Sabemos muito bem todo o conteúdo, mas
como fazer com que nossos ouvintes
tenham a “vontade” de apren- der estes
conhecimentos? Como deixar um
treinamen- to leve, prático e com
resultados mensuráveis? E a em- patia? É
possível conquistar empatia mesmo com
uma plateia arredia? Carisma é uma
capacidade nata ou se
aprende? Seria bom construir um
treinamento onde o conteúdo fosse
didático e ao mesmo tempo aprazí- vel e
interessante? É isto que Ricardo Ventura,
um dos melhores palestrantes do Brasil,
promete! Treinador atuante, ministrando
palestras e treinamentos no Bra- sil inteiro
– Aprenda com quem FAZ!
No treinamento, Ricardo vai passar o seu
método exclu- sivo, o passo a passo que
fará você construir e gerenciar suas
palestras e treinamentos de forma simples
e eficaz.
Conteúdo Programático:

A maior parte do treinamento será em


formato de “ofi- cina”, ou seja, o Ricardo
Ventura vai eliciando e desco- brindo quais
as competências natas de cada participan-
te e quais precisam aprimorar.
Parte conceitual e prática do treinamento:

• O mindset secreto do Ricardo Ventura – O


passo a pas- so pessoal de como ele
constrói uma palestra infalível.
• Técnicas clássicas, modernas e
ultramodernas de ora- tória.
• Exterminando a fobia, o medo e a
insegurança em fa- lar em público –
Ricardo fará isso em apenas 40 segun-
dos!
• Despertando o palestrante que há em
você – Ricardo vai te acompanhar de
forma singular para descobrir qual o seu
melhor estilo.
• Formas de apresentação – Um caminhão
de macetes e dicas que o Ricardo
colecionou durante os últimos 20 anos.
• A hora das dinâmicas – A cereja do bolo
das palestras. Análise – aplicação –
devolutiva

Comunicação Assertiva com a PNL:

• Mapas e Filtros – percepções diferentes


de cada trei- nando.
• Jiu-jitsu linguístico – desobstruindo
pessoas resisten- tes.
• Rapport – como criar empatia de uma
forma muito efi- caz e verdadeira com os
treinando.
• Sistemas representacionais – Criando um
show a cada apresentação.
• Andragogia – Desmistificando o ensino para adulto.

• Storytelling – Criando e incluindo


histórias em suas apresentações.
• Jornada do herói – O clássico da persuasão.

Materiais e Recursos: Como utilizar


recursos audiovi- suais (mas sem ser
escravos deles).
• Apostilas – Criação, formatação e quando utilizá-las!
• PPS – Como montar e utilizar o PowerPoint/Slides.

• Flip-chart

• Microfones – Mão; lapela; e head set.

• Dramaturgia
• Posicionamento de Palco

• Entonação e potencia de voz

• Gravação de vídeos (infoprodutos)

Se você deseja: Tornar-se um treinador


interno em grandes empresas; Realizar
grandes apresentações em reuniões,
convenções, faculdades e encontros;
Tornar suas aulas dinâmicas, atrativas com
uma comunicação moldada a cada aluno;
e Ser um Profissional Palestran- te – Está
oficina é pra você!
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NÃO
MINTA PRA
MIM
Curso online de Linguagem Não Verbal,
com foco na Programação Neurolinguística
e Psicologia Comporta- mental com o
especialista Ricardo Ventura. Compon- do-
se de videoaulas, aplicativos, testes, grupo
de estudo e muito mais!
Entre LITERALMENTE na cabeça de quem
está à sua volta!
Vendedores, Coaches, Terapeutas,
Analistas, Advoga- dos, Psicólogos,
Policiais, Curiosos sobre a mente huma-
na.... já se beneficiam desta técnica...
Se fosse possível você saber se estão
sendo sinceros com você?
Se fosse possível descobrir que aquela é a
última oferta que o vendedor pode te dar
naquela negociação?
Se fosse possível descobrir que a pessoa a
sua frente es- conde algo de você?
Se fosse possível saber o que realmente
seus amigos, pa- rentes, filhos estão
sentindo...
Ficção? Série de TV? Magia?

Não! Isso é: LINGUAGEM NÃO VERBAL – A


metalinguagem da comunicação.

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