Você está na página 1de 140

FRÉDÉRIC BASTIAT

A LEI
“O ESTADO É A GRANDE FICÇÃO ATRAVÉS
DA QUAL TODOS TENTAM VIVER ÀS
CUSTAS DE TODOS.”

Tradução, Introdução e notas de


LÚCIO JAKOBSMUSCHEL
©2021 Copyright Montecristo Editora - versão 26.05.2021

FRÉDÉRIC BASTIAT
A LEI
Título Original
La Loi

Supervisão de Editoração/Capa
Montecristo Editora

Tradução do Francês
Lúcio Jakobsmuschel

Revisão
Renata Russo Blazek

Imagem da Capa
Montagem sobre pintura "A Defesa de Champigny" por Édouard Detaille

ISBN:
978-1-61965-247-7 – Edição Digital

Montecristo Editora Ltda.


e-mail: editora@montecristoeditora.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


BASTIAT, Frédéric
A Lei
introdução, tradução e notas de Lúcio Jakobsmuschel – São
Paulo/SP : Montecristo Editora, 2021.
Título original: La Loi
1. Direito 2. Estado 3. Leis 4. Propriedade
I. Jakobsmuschel, Lúcio II. Título.
16-02138
Índices para catálogo sistemático:
1. Direito: Filosofia 340.12
1. Direito: Teoria 340.11
Louvor
“Bastiat é uma escolha perfeita para o ensino médio.
Bastiat é defensor de direitos naturais do indivíduo, vida,
liberdade e propriedade, que é a tríade do pensamento
liberal. Tem grande capacidade de comunicação ”, Dennys
Xavier , professor de filosofia da Universidade Federal de
Uberlândia.
“Frédéric Bastiat dirigiu seus argumentos contra falácias
recorrentes e como elas foram empregadas nas políticas de
seu tempo ”, Friedrich August von Hayek , Prêmio Nobel
de Economia em 1974 .
“Todo estudante de Direito deveria ler A Lei, de Frédéric
Bastiat, pelo menos duas vezes: uma ao ingressar na
faculdade e outra ao sair dela ”, André Luiz Santa Cruz
Ramos , Professor de Direito, IESB.
“A leitura de Fréderic Bastiat é muito atual e fala muito ao
brasileiro: o livro A Lei nos permite perceber qual o
verdadeiro papel do Direito e como estamos avaliando
errado os nossos legisladores ”, Paulo Emílio Vauthier
Borges de Macedo , Professor de Direito UERJ.
SUMÁRIO

FRÉDÉRIC BASTIAT
A LEI
Louvor
Introdução
Sobre o Autor

A LEI
O que é a lei?
A completa perversão da lei
A solução está em restringir a função da lei
Duas espécies de perversão
Socialismo é espoliação legal
A fraternidade forçada destrói a liberdade
Três sistemas de espoliação
A influência dos escritores socialistas
Os legisladores desejam moldar a humanidade
O que é a liberdade?
Os socialistas querem a ditadura
Napoleão queria uma humanidade passiva
O conceito socialista de liberdade
Causas da revolução na França
A legítima função da legislação
A base para um governo estável
Deixem-nos agora experimentar a liberdade

LA LOI - Original em Francês

Bônus
O Que se vê e O Que não se vê
Introdução
Ao confrontarmos qualquer produção, sobretudo as mais
antigas, conhecer o contexto em que ela se insere é
fundamental para uma compreensão mais refinada de suas
ideias; entender o momento histórico, geográfico e a
personalidade do autor permite ao leitor maior proveito do
tempo despendido em sua leitura.
A Lei foi publicado no ano de 1850 na França e
posteriormente, na obra, Bastiat discute, entre outros
temas, o que seria uma lei, sua função na relação entre dois
ou mais indivíduos, suas aplicações e, por fim, como e
porque as leis podem e eventualmente são corrompidas. Em
1798 se iniciou a Revolução Francesa e dois anos antes da
publicação da obra, em 1848, a Segunda República havia
sido instaurada. Neste mesmo ano, 1948, Marx publicara
seu famoso “ Manifesto Comunista ”. Por conta da relativa
proximidade temporal entre estes dois eventos e a
publicação do livro, entende-se, naturalmente, que ideias
socialistas já haviam se disseminado por toda Europa e, por
conta disso, Bastiat pôde emitir suas considerações sobre os
efeitos dessas ideias nas sociedades que as adotassem.
O autor que mais influenciou Bastiat foi o inglês John Locke,
sobretudo com relação às suas ideias de direitos naturais do
homem. Dentre tantas contribuições feitas por Bastiat,
talvez a mais importante seja a antevisão do quão nocivo
um governo, ou estado pode se tornar quando a
individualidade é sobreposta, e as “vontades” de um
suposto coletivo são priorizadas. As leis passam a ser
corrompidas por indivíduos, tais como governantes, que
buscam um caminho “mais fácil”, não necessariamente
moral, mascarado por um discurso de falsa filantropia e
suporte aos mais fracos e necessitados da sociedade para
que assim, possam atingir o sucesso e riqueza.
Logo nos primeiros capítulos da obra, Bastiat descreve o
que seria o homem e o que seriam as características de um
homem. Segundo o autor, a existência humana está
sustentada por três principais pilares, sendo eles:
“Individualidade, Liberdade e Propriedade ”.
Um homem, por definição, é livre para fazer suas próprias
escolhas, de acordo com o que achar ético. Tem suas
próprias características mais fortes e mais fracas (as
faculdades humanas), que diferenciam os homens. E por
fim, o homem tem suas propriedades, conquistadas fazendo
uso de suas próprias faculdades, alterando a natureza para
se adequar às suas necessidades.
Em seguida, Bastiat combate a ideia de que os “direitos
naturais”, de John Locke só podem ser outorgados aos
homens por meio da elaboração de legislação. Ele
demonstra que os direitos precedem a criação de qualquer
forma de convenção ou positivação, sendo a causa e o que
possibilita a criação de normas e não um derivado delas.
Assim é possível compreender a forma como Bastiat
interpretava o mundo: através de uma perspectiva voltada
aos indivíduos, e não à “coletividade” que os comportaria e
daria razões para existir.
Muitos filósofos fizeram contribuições importantes para o
discurso sobre a liberdade, mas a maior contribuição de
Bastiat é que ele tirou o debate da academia e deixou as
ideias sobre liberdade tão claras que mesmo os pouco
estudados puderam entendê-las. A clareza é crucial para
persuadir nosso interlocutor sobre a superioridade moral da
liberdade pessoal.
Como outros, Bastiat reconheceu que a grande ameaça à
liberdade é o governo. Observe a clareza que ele emprega
para nos ajudar a identificar e compreender atos
governamentais maléficos, que chama de “espólio
legalizado ”: Bastiat diz: “Devemos examinar se a lei
realiza, em benefício de um cidadão e em detrimento de
outro, um ato que este cidadão não poderia realizar por si
mesmo sem ter cometido um crime ”. Com uma descrição
precisa do espólio pelo governo, não podemos negar a
conclusão de que a maioria das atividades governamentais
são no fundo espoliações legitimadas ou, em linguagem
atual, roubo legalizado.
Bastiat explica o apelo por leis que restringem o
intercâmbio pacífico e voluntário e punem o desejo de ser
deixado em paz, dizendo que os socialistas querem brincar
de Deus. Os socialistas consideram as pessoas como
matéria-prima a ser formada em combinações sociais. Para
ele – que considera a elite - “a relação entre a humanidade
e o legislador parece ser a mesma que a relação entre o
barro e o oleiro ”. E para as pessoas que têm esta visão,
Bastiat exibe a única raiva que encontro em A Lei quando
ele ataca os benfeitores e os aspirantes a governantes da
humanidade: “Ah, suas criaturas miseráveis! Vocês que
pensam que são tão grandes! Vocês que julgam a
humanidade como sendo tão pequena! Vocês que querem
reformar tudo! Por que vocês não se reformam? Essa tarefa
seria o suficiente ”.
Bastiat foi um otimista que achava que argumentos
eloquentes em defesa da liberdade poderiam salvar o dia;
mas a história não está do seu lado. A história da
humanidade é uma história de abuso e controle sistemático
e arbitrário por parte da elite, agindo em particular através
da igreja, mas principalmente através do governo. E o pior,
com o apoio dos oprimidos.
Com o passar dos anos e a evolução dos estados, as teses
defendidas por Bastiat ficaram mais explícitas do que
quando foram originalmente publicadas.
Que este panfleto sirva de alerta para os perigos de um
estado grande e forte. Encerro a introdução com a última
frase de Bastiat: “vamos terminar onde deveríamos ter
começado, vamos empurrar os sistemas para trás, vamos
finalmente colocar a Liberdade à prova, – Liberdade, que é
um ato de fé em Deus e em Sua obra . ”
Lúcio Jakobsmuschel,
São Paulo, verão de 2021

Sobre o Autor

Escritor, economista e legislador francês, Claude Frédéric


Bastiat nasceu em 19 de junho de 1801, em Bayonne. O
pai, comerciante proeminente na pequena cidade, mudou-
se com a família para um lugarejo mais a Norte quando a
mãe de Frédéric faleceu, em 1808. O próprio pai morreu em
1810, pelo que o jovem Frédéric foi entregue aos cuidados
de uma tia.
Iniciando leituras de Economia Política, descobrindo autores
como John Locke, Adam Smith e Jean-Baptiste Say, começou
a pensar em retomar os seus estudos universitários, projeto
que não se revelou possível porque o seu avô o chamou
para junto de si na propriedade familiar. Falecendo no ano
seguinte, deixou a Bastiat os seus bens e fortuna.
Publicou o seu primeiro artigo em abril de 1834, uma
petição solicitando a abolição de impostos sobre os
produtos agrícolas. Dez anos mais tarde enviou um artigo
com o mesmo tema ao periódico econô mico mais
prestigiado da França, o Journal des Economistes, que o
publicou, tornando-o assim o mais persuasivo argumento do
liberalismo econômico da Europa da época.
Ganhando fama internacional, Bastiat associou-se ao inglês
Richard Cobden, um dos maiores críticos do protecionismo
do seu país e presidente da liga instituída nas Ilhas
Britânicas contra a manutenção da lei de taxação do milho.
Inspirado por Cobden, decidiu formar uma associação
semelhante, e do seu esforço surgiu a Associação Francesa
de Comércio Livre, que viria a desempenhar, dez anos após
a sua morte, um papel fundamental na abolição da maior
parte dos entraves ao comé rcio.
Passou a editar um jornal da associação, o Le Libre
Exchange, no qual foi propagando as suas ideias, que
acabou por reunir no volume Sophismes Economiques, obra
imediatamente traduzida para as principais línguas
europeias. A sua obra seguinte, Harmonies Economiques,
procurava contrariar a obra recém-publicada de Karl Marx, O
Capital, afirmando que a função principal do Estado deveria
ser o zelo pela segurança dos cidadãos.
Bastiat contribuiu grandemente para a formação da Teoria
do Valor Subjetivo e para o desenvolvimento da chamada
Teoria do Capital dos economistas austríacos, ambas
dependendo da noção de que o Estado não produz riqueza,
retirando, portanto, os meios indispensáveis ao seu
funcionamento de quem realmente a produz.
Em 1848, é eleito para a Assembleia Constituinte e, depois,
para a Assembleia Legislativa.
Bastiat foi vítima de uma tuberculose, que foi
provavelmente contraída em uma de suas viagens na
França em que promovia seus pensamentos. Bastiat morreu
em Roma em 24 de dezembro de 1850.
Obras Relacionadas publicadas pela
Montecristo :

O Manifesto Comunista , por Marx e Engels


Fascismo e Democracia , por George Orwell
A Revolução dos Bichos , por George Orwell
1984 , por George Orwell
A LEI 1
A lei pervertida! A lei – e com ela todas as forças coletivas
da nação, – a lei, digo eu, não só se desviou de seu
propósito, mas é aplicada para perseguir um objetivo
diretamente contrário! A Lei, digo eu, não apenas se
desviou de seu propósito, mas se aplicou à busca de um
propósito diretamente contrário! A Lei, que se tornou o
instrumento de toda a ganância, em vez de ser o freio dela!
A própria Lei cumprindo a iniquidade que se destinava a
punir! Este é certamente um assunto sério, se é que existe,
e para o qual devo ter a permissão de chamar a atenção de
meus concidadãos.
Temos de Deus o dom que para nós contém todos eles, a
Vida, – a vida física, intelectual e moral.
Mas a vida não se sustenta sozinha. Ele que nos deu a
tarefa de mantê-la, desenvolvê-la e aperfeiçoá-la.
Para este fim, Ele nos proporcionou um conjunto de
faculdades maravilhosas; Ele nos lançou em um meio de
diversos elementos. É através da aplicação de nossas
faculdades a estes elementos que se realiza o fenômeno de
assimilação, de apropriação, pelo qual a vida percorre o
curso que lhe foi atribuído.
Vida, Faculdades, Assimilação – em outras palavras,
Individualidade, Liberdade, Propriedade – ou seja, o homem.
E, apesar da sagacidade dos líderes políticos, estes três
dons de Deus precedem toda e qualquer legislação humana
e são superiores a ela.
A vida, a liberdade e a propriedade não existem pelo
simples fato de os homens terem feito leis. Ao contrário, foi
pelo fato de a vida, a liberdade e a propriedade existirem
que os homens foram levados a fazer as leis.
O que é a lei?

O que é então a Lei? Como já disse em outro lugar, é a


organização coletiva do direito individual de autodefesa. 2
Cada um de nós certamente tem da natureza, de Deus, o
direito de defender sua Pessoa, sua Liberdade, sua
Propriedade, já que estes são os três elementos
constitutivos ou conservadores da Vida, elementos que se
completam e não podem ser compreendidos um sem o
outro. Para que servem nossas Faculdades senão uma
extensão de nossa Individualidade, e o que é Propriedade
senão uma extensão de nossas Faculdades?
Se cada homem tem o direito de defender, mesmo pela
força, sua Pessoa, sua Liberdade, sua Propriedade, vários
homens têm o direito de dialogar entre si, de concordar, de
organizar uma força comum para prover regularmente essa
defesa.
O direito coletivo tem assim seu princípio, sua razão de ser,
sua legitimidade no direito individual; e a força comum não
pode racionalmente ter outro propósito ou missão que não
sejam as forças isoladas pelas quais é substituído.
Assim, como a Força de um indivíduo não pode
legitimamente atacar a Pessoa, a Liberdade, a Propriedade
de outro indivíduo, pela mesma razão a Força coletiva não
pode legitimamente ser aplicada para destruir a Pessoa, a
Liberdade, a Propriedade de indivíduos ou classes.
Pois esta perversão da Força estaria, tanto em um caso
como no outro, em contradição com nossas premissas. Pois
quem ousará dizer que a força nos foi dada, não para
defender nossos direitos, mas para aniquilar os direitos
iguais de nossos irmãos? E se isto não for verdade para
cada força individual, agindo independentemente, como
pode ser verdade para a força coletiva, que é apenas a
união organizada de forças isoladas?
Nada, portanto, pode ser mais evidente que isto: – A lei é a
organização do direito natural de defesa legal; é a
substituição de forças coletivas por forças individuais, com o
propósito de agir na esfera em que têm o direito de agir, de
fazer o que têm o direito de fazer, de assegurar pessoas,
liberdades e propriedades, e de manter cada uma em seu
direito, de modo a fazer prevalecer a JUSTIÇA para todos.
E se um povo estabelecido sobre esta base fosse existir,
parece-me que a ordem prevaleceria entre eles em seus
atos, assim como em suas ideias. Parece-me que um povo
assim teria o mais simples, o mais econômico, o menos
opressivo, o menos perceptível, o mais justo e,
consequentemente, o governo mais sólido que poderia ser
imaginado, qualquer que fosse sua forma política.
Pois, sob tal regime, todos entenderiam que cada um tem a
plenitude e a responsabilidade de sua própria existência.
Desde que o indivíduo fosse respeitado, que o trabalho
fosse livre e que os frutos do trabalho fossem garantidos
contra qualquer ataque injusto, ninguém teria relação
alguma com o Estado. Se felizes, não teríamos que
agradecer por nossos sucessos; se infelizes, não o
culparíamos mais por nossos contratempos do que os
agricultores o culpam por granizo ou geada. Conhecê-lo-
íamos apenas pelo benefício inestimável da SEGURANÇA.
Pode-se dizer novamente que, graças à não intervenção do
Estado nos assuntos privados, as necessidades e
satisfações se desenvolveriam na ordem natural. Não se
veriam famílias pobres buscando instrução literária antes de
ter pão. Não veríamos a cidade povoada à custa do campo,
ou o campo à custa das cidades. Não veríamos esses
grandes deslocamentos de capital, de trabalho, de
população, provocados por medidas legislativas,
deslocamentos que tornam as próprias fontes de existência
tão incertas e precárias, e assim agravam, em tal medida, a
responsabilidade dos governos.

A completa perversão da lei

Infelizmente, a lei não tem sido capaz de fazer seu trabalho.


E talvez até tenha se desviado dele apenas de forma neutra
e questionável. Fez pior: agiu contrariamente a seu próprio
fim; destruiu seu próprio objetivo; aplicou-se para destruir a
Justiça que deveria assegurar o respeito, para apagar a
fronteira entre Direitos que sua missão era fazer cumprir;
colocou força coletiva a serviço daqueles que desejam
explorar, sem risco ou escrúpulo, a Pessoa, a Liberdade ou a
Propriedade alheia; converteu a Espoliação em Direito, a fim
de protegê-la, e a autodefesa em crime, a fim de puni-la.
Como esta perversão da Lei foi alcançada? Quais foram as
consequências?
A Lei foi pervertida por duas causas muito distintas:
egoísmo estúpido e falsa filantropia.
Falemos do primeiro.
Preservar-se e desenvolver-se é a aspiração comum de
todos os homens, de modo que se cada um desfrutasse do
livre exercício de suas faculdades e da livre disposição de
seus produtos, o progresso social seria incessante,
ininterrupto, infalível.
Mas há outra disposição que também é comum a eles. É
viver e desenvolver-se, quando podem, às custas um do
outro. Esta não é uma imputação aleatória, emanando de
uma mente pessimista e desgostosa. A história é
testemunho disso pelas guerras incessantes, as migrações
dos povos, as opressões sacerdotais, a universalidade da
escravidão, as fraudes industriais e os monopólios com os
quais seus registros são preenchidos.
Esta disposição desastrosa tem origem na própria
constituição do homem, naquele sentimento primitivo,
universal, invencível, que o impele para o bem-estar e o faz
fugir da dor.
O homem não pode viver e desfrutar da vida, a não ser pela
assimilação e apropriação perpétua, isto é, por meio da
incessante aplicação de suas faculdades às coisas, por meio
do trabalho. Daí emana a propriedade.
Por outro lado, o homem pode também viver e desfrutar da
vida, assimilando e apropriando-se do produto das
faculdades de seu semelhante. Daí emana a espoliação.
Agora, como o trabalho é em si mesmo um castigo, e como
o homem está naturalmente inclinado a evitar o castigo,
segue-se, como prova a história, que onde quer que a
espoliação seja menos onerosa que o trabalho, ela
prevalece; prevalece sem que a religião ou a moralidade
possam, neste caso, impedi-la.
Quando, então, a espoliação acaba? Quando se torna mais
onerosa, mais perigosa do que o trabalho.
É bastante evidente que o objetivo da lei deveria ser o de se
opor ao poderoso obstáculo da força coletiva a esta
tendência nefasta; que ela deveria tomar o lado da
propriedade contra a Espoliação.
Mas a lei é mais frequentemente feita por um homem ou
por uma classe de homens. E como a lei não existe sem
sanção, sem o apoio de uma força preponderante, ela não
pode deixar de colocar essa força nas mãos daqueles que
legislam.
Este fenômeno inevitável, combinado com a tendência
desastrosa que temos observado no coração humano,
explica a perversão quase universal da lei. É fácil ver como,
em vez de ser um freio da injustiça, torna-se um mecanismo
e o instrumento mais invencível da injustiça. É concebível
que, segundo o poder do legislador, ela destrói em proveito
próprio e em diversos graus, no resto da humanidade, a
individualidade, através da escravidão; a liberdade, através
da opressão; a propriedade, através da espoliação.
É da natureza dos homens reagir contra a iniquidade da
qual eles são vítimas. Quando, portanto, a espoliação é
organizada pela Lei, para o benefício das classes que a
fazem, todas as classes espoliadas tendem, por meios
pacíficos ou revolucionários, a aderir por algo na elaboração
das Leis. Estas classes, de acordo com o grau de
esclarecimento a que chegaram, podem propor dois
objetivos bem diferentes quando perseguem a conquista de
seus direitos políticos desta forma: ou desejam pôr um fim à
espoliação legal, ou aspiram a participar dela.
Miseráveis, três vezes miseráveis as nações onde este
último pensamento domina as massas, no momento em que
elas, por sua vez, se apoderam do poder legislativo!
Até aquele momento, a espoliação legal era exercida por
poucos sobre muitos, como pode ser visto entre os povos
onde o direito de legislar está concentrado em poucas
mãos. Mas agora ela se tornou universal, e o equilíbrio é
procurado na espoliação universal. Em vez de extirpar o que
era injustiça na sociedade, ela é generalizada. Assim que as
classes desfavorecidas recuperaram seus direitos políticos,
o primeiro pensamento que as toma não é o de se
libertarem da espoliação (o que pressuporia nelas
esclarecimento que não podem ter), mas o de organizarem,
contra as outras classes e em seu próprio detrimento, um
sistema de represálias, como se fosse necessário, antes da
chegada do reinado da justiça, que uma cruel retribuição
atinja a todos eles, uns por causa de sua iniquidade, outros
por causa de sua ignorância.
Nenhuma alteração maior e nenhuma desgraça maior
poderia ser introduzida na sociedade do que esta: a Lei
convertida em um instrumento de espoliação.
Quais são as consequências de tal desordem? Seriam
necessários volumes para descrever todas elas. Vamos nos
contentar em indicar as mais salientes.
A primeira é eliminar da mente das pessoas a noção do que
é justo e injusto.
Nenhuma sociedade pode existir sem algum grau de
respeito às leis; mas a maneira mais segura de que as leis
sejam respeitadas é que elas sejam respeitáveis. Quando a
lei e a moralidade estão em contradição, o cidadão se vê na
alternativa cruel de perder a noção de moralidade ou perder
o respeito pela lei, duas desgraças igualmente grandes
entre as quais é difícil escolher.
Está tanto na natureza da Lei fazer reinar a Justiça, que Lei
e Justiça são uma e a mesma coisa na mente das massas.
Todos nós temos uma forte disposição de olhar o que é legal
como legítimo, tanto que há muitos que falsamente derivam
toda a justiça da Lei. Basta, portanto, que a Lei ordene e
consagre a Espoliação para que ela pareça justa e sagrada
para muitas consciências. Escravidão, restrição e monopólio
encontram defensores não apenas naqueles que se
beneficiam deles, mas também naqueles que sofrem por
causa deles. Tente levantar algumas dúvidas sobre a
moralidade destas instituições. “Você é”, dirão eles, “um
perigoso inovador, um utópico, um teórico, um
desrespeitador das leis; você está abalando os alicerces
sobre os quais repousa a sociedade”. “Você está dando lição
de moral ou de economia política?” Aparecerão enviados
oficiais para fazer chegar este desejo ao governo:
“Que a ciência seja doravante ensinada, não apenas do
ponto de vista do Livre Comércio (da Liberdade, da
Propriedade, da Justiça), como tem acontecido até
agora, mas também e especialmente do ponto de vista
dos fatos e da legislação (contrária à Liberdade, à
Propriedade, à Justiça) que rege a indústria francesa.”
“Que, nas cátedras públicas remuneradas pelo
Tesouro, o professor abstenha-se estritamente de
infringir ao mínimo o respeito devido às leis em vigor, 3
etc.”
De modo que, se houver uma lei que sancione a escravidão
ou o monopólio, a opressão ou a espoliação sob qualquer
forma, não será sequer possível falar dela; pois como se
pode falar dela sem minar o respeito que ela inspira? Além
disso, a moralidade e a economia política terão que ser
ensinadas do ponto de vista desta lei, ou seja, supondo que
é justamente por esse mesmo fato que se trata de Lei.
Outro efeito desta deplorável perversão da Lei é dar às
paixões e lutas políticas e, em geral, à política propriamente
dita, uma preponderância exagerada.
Eu poderia provar esta afirmação de mil maneiras. Limitar-
me-ei, a título de exemplo, a compará-la ao tema que
recentemente ocupou a mente de todos: o sufrágio
universal.
O que quer que pensem os seguidores da Escola de
Rousseau, que se afirma ser muito avançada e que eu
acredito ter vinte séculos, o sufrágio universal (tomando
esta palavra em seu sentido estrito) não é um daqueles
dogmas sagrados, em relação aos quais o exame e até a
dúvida são crimes.
Graves objeções podem, contudo, ser-lhe feitas. Antes de
mais nada, a palavra universal esconde um sofisma
grosseiro. Existem trinta e seis milhões de habitantes na
França. Para que o direito de sufrágio fosse universal, teria
que ser reconhecido para trinta e seis milhões de eleitores.
No sistema mais amplo, ele é reconhecido somente para
nove milhões. Três em cada quatro pessoas estão, portanto,
excluídas e, além disso, são excluídas por esta quarta
pessoa. Em que princípio se baseia esta exclusão? No
princípio da Incapacidade. Sufrágio universal significa
sufrágio universal da pessoa capaz. A idade, o gênero e as
condenações judiciais são os únicos sinais de incapacidade
que podem ser reconhecidos?
Se olharmos de perto, logo vemos a razão pela qual o
direito de sufrágio se baseia na presunção de capacidade, o
sistema mais amplo difere a este respeito do mais restrito
apenas na avaliação dos sinais aos quais esta capacidade
pode ser reconhecida, o que não é uma diferença em
princípio, mas em grau.
A razão é que o eleitor não está estipulando para si mesmo,
mas para todos.
Se, como os republicanos da Grécia e Roma reivindicam, o
direito de sufrágio tivesse recaído sobre nós com a vida,
seria iníquo para os adultos impedir as mulheres e as
crianças de votar. Por que os impedimos? Porque se
presume que eles são incapazes. E por que a incapacidade
é um motivo de exclusão? Porque o eleitor não é o único a
assumir a responsabilidade de seu voto; porque cada voto
compromete e afeta toda a comunidade; porque a
comunidade tem o direito de exigir algumas garantias,
quanto aos atos dos quais depende seu bem-estar e sua
existência.

A solução está em restringir a função


da lei

Eu sei o que pode ser afirmado. Eu também sei o que


poderia ser replicado. Este não é o lugar para esgotar tal
controvérsia. O que eu quero ressaltar é que esta mesma
controvérsia (assim como a maioria das questões políticas)
que agita, perturba e desestabiliza as pessoas, perderia
quase toda sua importância se a Lei sempre tivesse sido o
que deveria ser.
De fato, se a lei se limitasse a garantir o respeito a todas as
pessoas, todas as liberdades, todos os bens, se fosse
apenas a organização do direito individual de autodefesa, o
obstáculo, o freio, a punição contra toda a opressão, contra
toda a espoliação, será que pensaríamos em discutir muito,
entre os cidadãos, sobre o sufrágio mais ou menos
universal? Pensamos que isso poria em questão o maior dos
bens, a paz pública? Acreditaríamos que as classes
excluídas não esperariam pacificamente a sua vez?
Pensaríamos que as classes admitidas teriam muito ciúmes
de seus privilégios? E não está claro que, sendo o interesse
idêntico e comum, alguns agiriam sem muito incômodo para
os outros?
Mas se este princípio desastroso fosse introduzido, que, sob
o pretexto de organização, regulamentação, proteção e
incentivo, a lei pudesse tirar de uns para dar a outros,
aproveitando a riqueza adquirida por todas as classes para
aumentar a riqueza de uma classe, às vezes a dos
agricultores, às vezes a dos fabricantes, comerciantes,
armadores, artistas e comediantes; oh! Certamente, neste
caso, não há nenhuma classe que não reivindique, com
razão, colocar sua mão na lei; que não reivindique com fúria
seu direito de eleger e de elegibilidade; que não perturbe a
sociedade para obtê-lo. Os próprios mendigos e vagabundos
provarão a você que têm títulos inquestionáveis. Eles lhe
dirão:
“Nunca compramos vinho, tabaco ou sal sem pagar
impostos, e uma parte desses impostos é dada por lei
como bônus e subsídios a homens mais ricos do que
nós”. Outros usam a lei para aumentar artificialmente
o preço do pão, da carne, do ferro e do tecido. Como
todos exploram a Lei para seu próprio lucro, queremos
explorá-la também. Queremos tirar dela o Direito à
Assistência, que é a espoliação dos pobres. Para isso,
devemos ser eleitores e legisladores, para que
possamos organizar esmolas para nossa classe em
grande estilo, como você organizou a Proteção para a
sua em grande estilo. Não nos diga que nos dará nossa
parte, que nos jogará, de acordo com a proposta de
monsieur Mimerel, 4 uma soma de 600.000 francos
para nos manter em silêncio, como um osso para roer.
Temos outras reivindicações, e de qualquer forma
queremos estipular para nós mesmos como as outras
classes estipularam para si mesmas!”
E o que se pode dizer para responder a tal argumento?
Enquanto se admitir que a lei pode ser desviada de seu
propósito, que pode violar os direitos de propriedade em vez
de garanti-los, então qualquer pessoa quererá participar
fazendo leis, seja para proteger-se a si próprio contra a
espoliação, seja para espoliar os outros. As questões
políticas serão sempre prejudiciais, dominadoras e
absorverão tudo. Haverá luta às portas da assembleia
legislativa e também luta, não menos violenta, no seu
interior. Para convencer-se disso, basta olhar o que se passa
nas câmaras legislativas da França e da Inglaterra. Seria
suficiente saber como o assunto é tratado.
Há necessidade de se provar que esta odiosa perversão da
lei é fonte perpétua de ódio e de discórdia, podendo até
chegar à destruição da ordem social? Se alguma prova for
necessária, olhe para os Estados Unidos. É o país do mundo
onde a lei permanece mais dentro dos limites de sua
finalidade, a saber, garantir para cada um a liberdade e a
propriedade. Como consequência disto, parece não haver
no mundo país onde a ordem social repouse sobre bases
mais sólidas. Mas, mesmo nos Estados Unidos, existem duas
questões, e tão somente duas, que colocaram por várias
vezes a ordem política em perigo. E quais são essas duas
questões? A da escravatura e a das tarifas, ou seja,
precisamente as duas únicas questões em que,
contrariamente ao espírito geral desta república, a lei
assumiu o caráter de espoliação. A escravidão é uma
violação, sancionada por lei, dos direitos do indivíduo. A
tarifação é uma violação, perpetrada por lei, do direito de
propriedade; e certamente, é bastante notável que no meio
de tantos outros debates, este duplo flagelo legal, um triste
legado do velho mundo, é o único que pode e talvez venha
a provocar a ruptura da União. É porque, de fato, não se
pode imaginar, dentro de uma sociedade, um fato mais
significativo do que este: A Lei se tornou um instrumento de
injustiça. E se este fato tem consequências tão formidáveis
nos Estados Unidos, onde é apenas uma exceção, o que
dizer de nossa Europa, onde a perversão da lei constitui um
Princípio, um Sistema?

Duas espécies de perversão

O Monsieur de Montalembert, 5 ao adotar o pensamento


contido na famosa proclamação do Senhor Carlièr, dizia: “É
preciso combater o socialismo .” E por socialismo acredita-
se que, segundo a definição do Senhor Charles Dupin, 6 ele
queria dizer espoliação.
Mas de que espoliação estava ele falando? Pois há dois tipos
de espoliação: a legal e a ilegal.
Não creio que a espoliação ilegal, tal como o roubo e a
fraude que o Código Penal define, prevê e pune, possa ser
chamada de socialismo. Não é ela que ameaça
sistematicamente a sociedade em suas bases. Aliás, a
guerra a este tipo de espoliação não esperou o sinal verde
do Monsieur de Montalembert ou do Monsieur Carlier. Ela já
havia começado desde o início do mundo. Muito tempo
antes da Revolução de fevereiro de 1848, antes mesmo do
aparecimento do socialismo, a França já possuía polícia,
juízes, guardas, prisões, cadeias e forcas. É a própria lei que
conduz esta guerra e seria desejável, penso eu, que a lei
sempre tivesse esta atitude com relação à espoliação.
Mas não é assim. A Lei, às vezes, toma partido da
espoliação. Às vezes a realiza com suas próprias mãos, a
fim de poupar ao beneficiário a vergonha, o perigo e os
escrúpulos. Às vezes coloca todo o aparelho judiciário, a
polícia, a guarda e a prisão a serviço do despojador, e trata
como um criminoso a pessoa despojada que se
autodefende. Em uma palavra, existe a espoliação legal, e é
disso que Monsieur de Montalembert sem dúvida está
falando.
Esta espoliação pode ser, na legislação de um povo, apenas
uma mancha excepcional e, nesse caso, o melhor a fazer,
sem tantas declamações e cerimônias, é apagá-la o mais
rápido possível, apesar dos clamores das pessoas
envolvidas. Como reconhecê-la? É bastante simples.
Devemos examinar se a Lei tira de uns o que lhes pertence
e dá a outros o que não lhes pertence. Devemos examinar
se a lei realiza, em benefício de um cidadão e em
detrimento de outro, um ato que este cidadão não poderia
realizar por si mesmo sem ter cometido um crime. Não é
apenas uma iniquidade, é também uma fonte fértil de
iniquidade, pois exige represálias, e se você não cuidar dela,
o ato excepcional se espalhará, se multiplicará e se tornará
sistemático. Sem dúvida, o beneficiário gritará; ele invocará
seus direitos adquiridos. Ele dirá que o Estado deve
proteção e incentivo à sua indústria; ele alegará que é bom
que o Estado o enriqueça, porque, sendo mais rico, ele
gasta mais, e assim espalha uma onda de salários sobre os
trabalhadores pobres. Cuidado ao ouvir este sofista, pois é
precisamente através da sistematização destes argumentos
que a espoliação legal se sistematizará.
Isto é o que aconteceu. A ilusão do dia é enriquecer todas
as classes às custas umas das outras; é generalizar a
espoliação sob o pretexto de organizá-la. Agora, a
espoliação legal pode ser exercida de uma infinidade de
maneiras; daí uma infinidade de planos de organização:
tarifas, proteção, prêmios, subsídios, incentivos, tributação
progressiva, educação gratuita, direito ao trabalho, direito
ao lucro, direito ao salário, direito à assistência, direito a
instrumentos de trabalho, crédito sem encargos etc., etc.,
etc. E é o conjunto de todos esses planos, no que eles têm
em comum, a espoliação legal, que leva o nome do
Socialismo.
Agora o Socialismo, assim definido, tratando-se de um corpo
de doutrina, que guerra você pode travar contra, senão uma
guerra doutrinária? Você acha esta doutrina falsa, absurda,
abominável. Refute-a. Será tudo mais fácil se for ainda mais
falso, mais absurdo, mais abominável. Acima de tudo, se
você quiser ser forte, comece extirpando de sua legislação
tudo o que possa ter surgido do Socialismo, – e o trabalho
não será pequeno.

Socialismo é espoliação legal

Monsieur de Montalembert tem sido criticado por querer


usar a força bruta contra o Socialismo. É uma reprovação da
qual ele deve ser exonerado, pois ele disse formalmente:
devemos travar uma guerra contra o Socialismo que seja
compatível com a lei, a honra e a justiça.
Mas como Monsieu de Montalembert não pode ver que está
se colocando em um círculo vicioso? Você quer se opor ao
Socialismo, à Lei? Mas o Socialismo invoca a Lei. Ele não
aspira à espoliação ilegal, mas à espoliação legal. É da
própria Lei, como os monopolistas de todos os tipos, que ele
afirma fazer-se um instrumento; e uma vez que tem a Lei
para si, como você pode usar a Lei contra isso? Como você
pode colocá-lo sob a jurisdição de seus tribunais, seus
policiais, suas prisões?
Então, o que fazer? Queremos impedir que o socialismo crie
leis. Queremos mantê-lo fora do Parlamento. Não serão
bem-sucedidos, atrevo-me a prever, enquanto a legislação
nacional se basear no princípio da Espoliação Legal. É muito
iníquo, é muito absurdo.
É absolutamente necessário que esta questão da Espoliação
Legal seja esclarecida, e existem apenas três soluções.
1. Deixar os poucos despojarem os muitos.
2. Deixar todos despojarem todos os outros.
3. Não deixar que ninguém despoje ninguém.
Espoliação parcial, espoliação universal, nenhuma
espoliação, é preciso escolher. A Lei só pode buscar um
destes três resultados.
Espoliação parcial – este é o sistema que tem prevalecido
desde que o eleitorado tem sido parcial, um sistema ao qual
voltamos para evitar a invasão do Socialismo.
Espoliação Universal – este é o sistema que nos ameaçou
quando o eleitorado se tornou universal, tendo a massa
concebido a ideia de legislar sobre o princípio dos
legisladores que os precederam.
Ausência de Espoliação – este é o princípio de justiça,
paz, ordem, estabilidade, conciliação, senso comum, que eu
proclamarei com toda a força até meu último suspiro, o que
infelizmente será deveras insuficiente devido à saúde de
meus pulmões. 7
E, sinceramente, podemos pedir mais alguma coisa da Lei?
Pode a Lei, que tem a Força como sanção necessária, ser
razoavelmente empregada para qualquer outro fim que não
seja manter cada um em seu Direito? Desafio qualquer um a
tentar usá-la de outro modo sem pervertê-la e,
consequentemente, colocando a força contra o poder. Esta é
a mais funesta e a mais lógica perversão que se possa
imaginar. Deve-se, pois, admitir que a verdadeira solução,
tão procurada na área das relações sociais, está contida
nestas simples palavras: A LEI É A JUSTIÇA ORGANIZADA
.
Agora, quando a Justiça é organizada pela Lei, isto exclui a
ideia de usar a lei (ou seja, a Força) para organizar qualquer
outra atividade humana: Trabalho, Caridade, Agricultura,
Comércio, Indústria, Educação, Belas Artes, Religião; pois
não é possível que uma destas organizações secundárias
não aniquile a organização essencial. Como podemos
imaginar, de fato, o exercício da força sobre a Liberdade dos
cidadãos, sem infringir a Justiça, sem agir contra seu próprio
propósito?
Aqui me deparo com o preconceito mais popular de nosso
tempo. As pessoas não querem apenas que a Lei seja justa;
elas também querem que ela seja filantrópica. Não basta
que ela garanta a cada cidadão o exercício livre e inofensivo
de suas faculdades aplicado ao seu desenvolvimento físico,
intelectual e moral; é necessário que espalhe bem-estar,
instrução e moralidade diretamente sobre a nação. Este é o
lado sedutor do Socialismo.
Mas, repito, estas duas missões da Lei se contradizem.
Devemos escolher. O cidadão não pode ser livre e não livre
ao mesmo tempo.

A fraternidade forçada destrói a


liberdade

Monsieur de Lamartine 8 me escreveu um dia: “Sua doutrina


é apenas metade do meu programa; você se manteve com
a Liberdade, eu estou com a Fraternidade ”. Eu respondi: “A
segunda metade do seu programa destruirá a primeira .” E,
de fato, é bastante impossível para mim separar a palavra
fraternidade da palavra voluntária. É completamente
impossível para mim conceber que a Fraternidade seja
legalmente forçada, sem que a Liberdade seja legalmente
destruída e a Justiça legalmente pisoteada.
A espoliação legal tem duas raízes: uma delas, como já
disse anteriormente, está no egoísmo humano; a outra, na
falsa filantropia.
Antes de ir além, creio dever explicar exatamente o que
entendo pela palavra espoliação.
Não a utilizo, como acontece com muita frequência, num
sentido vago, indeterminado, aproximado, metafórico:
utilizo-a num sentido completamente científico e como
expressão da ideia oposta à da Propriedade. Quando uma
parte da riqueza passa de quem a adquiriu, sem seu
consentimento e sem compensação, para quem não a criou,
seja pela força ou por engano, eu digo que há um ataque à
Propriedade, que há a Espoliação. Eu digo que isto é
precisamente o que a Lei deve reprimir em todos os casos e
sempre. Que se a própria Lei realiza o ato que deveria
reprimir, eu digo que não há menos espoliação, e até
mesmo, socialmente falando, com circunstâncias
agravantes. Só que neste caso, não é aquele que lucra com
a espoliação que é responsável por ela, mas a Lei, o
legislador, a sociedade, e isto é o que a torna um perigo
político.

Três sistemas de espoliação

É lamentável que esta palavra, espoliação, seja ofensiva.


Procurei em vão por outra, pois em nenhum momento, e
menos agora do que nunca, gostaria de lançar uma palavra
exasperante no meio da nossa discussão. Portanto, quer
acreditemos ou não, declaro que não pretendo acusar as
intenções ou a moral de ninguém. Estou atacando uma ideia
que acredito ser falsa, um sistema que me parece injusto, e
isto tão fora de nossas intenções que cada um de nós se
beneficia dele sem querer e sofre com isso sem saber. É
preciso escrever sob a influência do espírito partidário ou do
receio para questionar a sinceridade do Protecionismo, do
Socialismo e até mesmo do Comunismo, que são apenas
uma e a mesma planta, em três períodos diferentes de seu
crescimento. Tudo o que se pode dizer é que a espoliação é
mais visível, por sua parcialidade, no Protecionismo 9 e por
sua universalidade, no Comunismo; de onde se segue que
dos três sistemas, o Socialismo ainda é o mais vago, o mais
obscuro, e portanto o mais sincero.
Mas, sincero ou não, as intenções das pessoas não estão
aqui colocadas em questão. De fato, eu já disse que a
espoliação legal está baseada parcialmente na filantropia,
mesmo que seja na falsa filantropia.
Com esta explanação, passemos agora ao exame do valor,
da origem e da tendência dessa aspiração popular, que
pretende alcançar o bem geral pela espoliação geral.
Os socialistas nos dizem: já que a Lei organiza a justiça, por
que não deveria organizar o trabalho, a educação, a
religião?
Por que não? Porque não pode organizar o trabalho, a
educação e a religião, sem desorganizar a Justiça.
Observe, portanto, que a Lei é Força e que,
consequentemente, o domínio da Lei não pode
legitimamente exceder o domínio legítimo da Força.
Quando a lei e a Força conservam um homem na Justiça,
elas não lhe impõem nada além de pura negação. Elas
impõem apenas a abstenção de danos. Elas não atacam sua
Individualidade, sua Liberdade, ou seus bens. Salvaguardam
apenas a Individualidade, a Liberdade e a Propriedade dos
outros. Elas estão na defensiva; elas defendem a igualdade
de direitos de todos. Elas cumprem uma missão cuja
integridade é óbvia, cuja utilidade é palpável e cuja
legitimidade é inquestionável.
Isto é tão verdade que, como um de meus amigos me
indicou, dizer que o objetivo da Lei é fazer a justiça é usar
uma expressão que não é estritamente precisa. Deve-se
dizer: O objetivo da Lei é evitar que a injustiça reine. De
fato, não é a Justiça que tem uma existência própria, mas a
Injustiça. Uma resulta da ausência da outra.
Mas quando a Lei, através de seu agente necessário, a
Força, impõe um modo de trabalho, um método ou um
assunto de ensino, uma fé ou um culto, não é mais
negativa, mas positivamente, que ela age sobre os homens.
Substitui a vontade do legislador por sua própria vontade, a
iniciativa do legislador por sua própria iniciativa. Já não
precisam mais consultar, comparar, prever; a lei faz tudo
isso por eles. A inteligência torna-se um móvel inútil; eles
deixam de ser homens; perdem sua Individualidade, sua
Liberdade, sua Propriedade.
Tente imaginar uma forma de trabalho imposta pela força
que não seja um ataque à Liberdade; uma transferência de
riqueza imposta pela força que não seja um ataque à
Propriedade. Se você não tiver sucesso, então concorde que
a Lei não pode organizar o trabalho e a indústria sem antes
organizar a Injustiça.
Quando, do fundo de seu escritório, um político olha em
volta da sociedade, ele se impressiona com o espetáculo de
desigualdade que lhe é apresentado. Ele geme diante dos
sofrimentos que são o destino de tantos de nossos irmãos,
sofrimento cuja impressão se torna mais triste pelo
contraste do luxo e da opulência.
Talvez ele devesse se perguntar se tal estado social não se
deve às antigas Espoliações, exercidas por meio de
conquistas, e às novas Espoliações, exercidas por meio de
Leis. Ele deveria se perguntar: se os homens aspiram ao
bem-estar e à perfeição, o reinado da justiça não seria
suficiente para produzir os maiores esforços em busca do
progresso e a maior igualdade possível, compatíveis com a
responsabilidade individual que Deus estabeleceu como
justa recompensa pelas virtudes e vícios.
Ele nem sequer pensa sobre isso. Seus pensamentos
voltam-se para combinações, arranjos, organizações legais
ou artificiais. Ele busca o remédio na perenidade e no
exagero daquilo que produziu o mal.
Pois, além da Justiça, que, como vimos, não passa de uma
verdadeira negação, existe algum destes arranjos legais
que não contenha o princípio da espoliação?
Você diz: “Aqui estão homens que não têm riqueza ” – e
você se dirige à Lei. Mas a Lei não é um úbere que se
preenche a si mesmo, ou aquele cujos veios lactíferos saem
de qualquer lugar, exceto da sociedade. Nada entra no
erário público, em favor de um cidadão ou classe, exceto o
que os outros cidadãos e classes foram forçados a colocar.
Se cada pessoa só leva para o tesouro o equivalente ao que
pagou, sua lei é verdadeira, não é espoliante, mas não faz
nada para aqueles homens que não têm riqueza, não faz
nada para a igualdade. Só pode ser um instrumento de
equalização na medida em que é necessário tirar de uns
para dar a outros, e é então um instrumento de espoliação.
Examine deste ponto de vista a Proteção de Tarifas, os
Incentivos, o Direito ao Lucro, o Direito ao Trabalho, o Direito
à Assistência, o Direito à Educação, o Imposto Progressivo, o
Crédito Livre, o Serviço Social, e você sempre encontrará a
espoliação legal, a injustiça organizada.
Você diz: “Estes são homens que não têm educação” e você
se volta para a Lei. Mas a Lei não é uma lanterna que
espalha sua própria luz por toda parte. Ela paira sobre uma
sociedade onde há homens que sabem e homens que não
sabem; cidadãos que precisam aprender e cidadãos que
estão dispostos a ensinar. Só pode fazer uma de duas
coisas: ou deixar este tipo de transação acontecer
livremente, e deixar este tipo de necessidade ser satisfeita
livremente; ou pode forçar os desejos das pessoas a este
respeito e tirar de algumas pessoas o dinheiro para pagar
por professores que instruirão outros gratuitamente. Mas
isso não pode impedir que o segundo caso seja uma
violação da Liberdade e da Propriedade, uma espoliação
legal.
Você diz: “Aqui estão os homens que não têm moral ou
religião ” – e você se dirige à Lei. Mas a Lei é Força, e
preciso dizer que é um empreendimento violento e tolo
intervir com força nestes assuntos?
No final de seus sistemas e seus esforços, parece que o
Socialismo, por mais complacente que seja consigo mesmo,
não pode deixar de perceber o monstro da espoliação legal.
Mas o que ele faz? Disfarça-o inteligentemente aos olhos de
todos, mesmo os seus, sob os nomes sedutores de
Fraternidade, Solidariedade, Organização, Associação. E
porque não pedimos muito da Lei, porque exigimos apenas
Justiça dela, supõe que rejeitamos a fraternidade, a
solidariedade, a organização, a associação, e nos atira ao
rosto o epíteto de individualistas.
Que saiba que o que rejeitamos não é a organização
natural, mas a organização forçada.
Não se trata de associação livre, mas das formas de
associação que pretende nos impor.
Não se trata de fraternidade espontânea, mas de
fraternidade legal.
Não se trata de solidariedade providencial, mas de
solidariedade artificial, que é apenas um afastamento
injusto da Responsabilidade.
O socialismo, como a velha política da qual ele emana,
confunde Governo e Sociedade. É por isso que, sempre que
não queremos que algo seja feito pelo governo, conclui-se
que não queremos de forma alguma que seja feito.
Rejeitamos instruções do Estado; portanto, não queremos
instruções. Rejeitamos uma religião estatal; portanto, não
queremos uma religião. Rejeitamos a igualdade
estabelecida pelo Estado; portanto, não queremos
igualdade etc. É como se nos acusasse de não querer que
os homens comam, porque rejeitamos o cultivo de trigo pelo
Estado.

A influência dos escritores socialistas

Como pôde prevalecer no mundo político a ideia bizarra de


derivar do Direito o que não está no Direito – o Bem, no
modo positivo, a Riqueza, a Ciência, a Religião?
Os escritores modernos, especialmente os da escola
socialista, baseiam suas várias teorias em uma suposição
comum, e certamente a mais estranha, a mais orgulhosa
que pode recair sobre um cérebro humano.
Eles dividem a humanidade em dois grupos. A
universalidade dos homens, menos um, constitui o primeiro
grupo; o escritor, por si só, forma o segundo, e de longe o
mais importante.
Com efeito, eles começam supondo que o homem não
carrega dentro de si um princípio de ação nem um meio de
discernimento; que é desprovido de iniciativa; que é matéria
inerte, moléculas passivas, átomos sem espontaneidade, no
máximo uma vegetação indiferente ao seu próprio modo de
existência, suscetível de receber, de mão e vontade
externa, um número infindável de formas mais ou menos
simétricas, artísticas, perfeitas.
Então cada um deles assume sem questionar que ele
mesmo é, sob os nomes de Organizador, Revelador,
Legislador, Professor, Fundador, essa vontade e essa mão,
esse motor universal, esse poder criativo cuja missão
sublime é reunir na sociedade esses materiais dispersos,
que são homens.
Com base neste fato, do mesmo modo que todo jardineiro,
de acordo com seu capricho, poda suas árvores em
pirâmides, guarda-sóis, cubos, cones, vasos, espanadores,
rabos de gato e leques, assim também todo socialista, de
acordo com sua quimera, poda a pobre humanidade em
grupos, séries, centros, subcentros, alvéolos, oficinas
sociais, harmônicas, contrastantes, etc., etc., etc.
E assim como o jardineiro, para podar as árvores, precisa de
machados, serras, facas de podar e cinzéis, o agente
socialista, para organizar sua sociedade, precisa de forças
que ele só pode encontrar nas leis; lei aduaneira, lei
tributária, lei de assistência, lei de instrução.
É tão verdade que os socialistas consideram a humanidade
como um objeto para combinações sociais, que se, por
acaso, eles não estão bem certos do sucesso dessas
combinações, eles pelo menos reivindicam uma parcela da
humanidade como matéria de experimentação : é bem
conhecido o quão popular é entre eles a ideia de
experimentar todos os sistemas , e um de seus líderes é
conhecido por vir e pedir seriamente à Assembleia
Constituinte um pequeno distrito, com todos os seus
habitantes, a fim de fazer seu experimento.
É assim que todo inventor faz sua maquinaria pequena
antes de fazê-la grande. É assim que o químico sacrifica
alguns reagentes, o fazendeiro sacrifica algumas sementes
e um canto de seu campo para testar uma ideia.
Mas que distância incomensurável existe entre o jardineiro e
suas árvores, entre o inventor e sua máquina, entre o
químico e seus reagentes, entre o agricultor e suas
sementes!... O socialista acredita sinceramente que a
mesma distância o separa da humanidade.
Não é de admirar que os defensores do socialismo no século
XIX considerem a sociedade como uma criação artificial do
gênio do Legislador.
Esta ideia, produto da educação clássica, dominou todos os
pensadores e escritores deste país.
Todos eles enxergam entre a humanidade e o legislador a
mesma relação que existe entre o barro e o oleiro.
Além disso, se concordassem em reconhecer no coração do
homem um princípio de ação e em sua inteligência um
princípio de discernimento, pensariam que Deus havia dado
ao homem um dom fatal nisso, e que a humanidade, sob a
influência desses dois motores, estava inevitavelmente
tendendo para sua degradação. De fato, eles disseram que,
deixada às suas próprias inclinações, a humanidade só se
preocuparia com a religião para acabar no ateísmo, com a
educação para acabar na ignorância, com o trabalho e o
comércio para acabar na miséria.
Felizmente, de acordo com esses mesmos escritores, há
alguns homens, chamados Governantes, Legisladores, que
receberam do céu, não só para si mesmos, mas para todos
os outros, tendências opostas.
Enquanto a humanidade se inclina para o Mal, eles se
inclinam para o Bem; enquanto a humanidade caminha para
as trevas, eles aspiram à luz; enquanto a humanidade é
atraída pelo vício, eles são atraídos pela virtude. Enquanto a
humanidade é atraída pelo vício, eles são atraídos pela
virtude. E, após terem feito isso, eles apelam para a Força,
para que ela lhes permita substituir aquelas da raça
humana por suas próprias tendências.
Basta abrir, mais ou menos ao acaso, um livro sobre
filosofia, política ou história para ver quão fortemente
enraizada está em nosso país esta ideia, filha dos estudos
clássicos e mãe do Socialismo, de que a humanidade é uma
matéria inerte recebendo a vida, organização, moralidade e
riqueza do governo; ou, o que é ainda pior, de que a
humanidade tende por si mesma à sua degradação e só é
detida nesta ladeira pela mão misteriosa do Legislador. Por
toda parte o convencionalismo clássico nos mostra, por trás
da sociedade passiva, um poder oculto que, sob os nomes
de Direito, Legislador, ou sob aquela expressão mais
conveniente e vaga de alguém , move a humanidade,
anima-a, enriquece-a e moraliza-a.
Consideremos inicialmente a seguinte citação de Bossuet: 10
Uma das coisas inculcadas (por quem?) com mais força
no espírito dos egípcios era o amor à pátria... A
ninguém era permitido ser inútil para o Estado. A lei
indicava a cada um sua função, a qual se perpetuava
de pai para filho. A ninguém era permitido o exercício
de duas profissões e nem tampouco passar de uma
profissão para outra... Mas havia uma ocupação que
devia ser comum: era o estudo das leis e da filosofia.
Ignorar a religião e a política do país não era aceitável
sob nenhuma circunstância. Além disso, cada profissão
tinha seu cantão, que lhe era indicado (por quem?)...
Entre as boas leis, o que havia de melhor é que todo
mundo era treinado (por quem?) para obedecê-las...
Como resultado disto, o Egito encheu-se de invenções
maravilhosas, e nada do que pudesse tornar a vida
mais cômoda e mais tranquila foi negligenciado.
Assim, os homens, segundo Bossuet, não tiravam nada de
si: patriotismo, prosperidade, invenções, trabalho, ciência,
tudo era dado ao povo através das leis ou dos reis. O que o
povo tinha de fazer era seguir cegamente seus líderes. É
neste ponto que Diodoro, tendo acusado os egípcios de
rejeitar a luta e a música, é repreendido por Bossuet. Como
isso é possível, diz ele, já que essas artes haviam sido
inventadas por Trismegisto? 11
Da mesma forma, entre os persas:
“Um dos primeiros cuidados do príncipe era fazer
florescer a agricultura... Como havia postos
estabelecidos para a condução dos exércitos, havia
também alguns para cuidar do trabalho agrário... O
respeito que os persas inspiravam pela autoridade real
era excessivo.”
Segundo ele, os gregos, embora cheios de espírito, não
eram menos alheios ao seu próprio destino, a ponto de, por
si mesmos, não poderem ter chegado, como cães e cavalos,
à criação de jogos mais simples. Para os clássicos, é uma
coisa consensual que tudo vem aos povos do exterior.
“Os gregos, naturalmente cheios de inteligência e de
coragem, foram desde cedo educados por reis e
colonizadores vindos do Egito. De lá, aprenderam os
exercícios físicos, a corrida a pé, a cavalo, em carros...
O que os egípcios lhes ensinaram de melhor foi a
serem dóceis, a se deixarem formar por leis
objetivando o bem público.”
Fénelon: 12

Nutrido pelo estudo e admiração da antiguidade,


testemunha do poder de Luís XIV, Fénelon dificilmente
poderia escapar da ideia de que a humanidade é passiva, e
que seus infortúnios, bem como suas prosperidades, suas
virtudes e seus vícios, vêm de uma ação externa exercida
sobre ela pela Lei ou por aquele que a faz. Portanto, em sua
utópica Salento 13 , ele coloca os homens, com seus
interesses, suas faculdades, seus desejos e seus bens, à
absoluta discrição do legislador. Em qualquer questão,
nunca são eles que julgam por si mesmos, mas o Príncipe. A
nação é apenas uma questão sem forma, da qual o Príncipe
é a alma. É nele que reside o pensamento, a previsão, o
princípio de toda organização, de todo progresso e,
consequentemente, a Responsabilidade.
Para provar esta afirmação, eu teria que transcrever aqui
todo o 10º livro do Telêmaco. Remeto o leitor a ele e me
contento em citar algumas passagens tiradas ao acaso
deste famoso poema, ao qual, em todos os outros aspectos,
sou o primeiro a fazer justiça.
Com essa surpreendente credulidade que caracteriza os
clássicos, Fénelon admite, apesar da autoridade do
raciocínio e dos fatos, a felicidade geral dos egípcios, e ele a
atribui, não à sua própria sabedoria, mas à de seus reis.
“Ao olharmos as margens dos rios, percebíamos
cidades opulentas, casas de campo agradavelmente
situadas, terras que se cobriam a cada ano de
douradas colheitas em prados cheios de rebanhos,
trabalhadores cansados sob o peso dos frutos que a
terra oferece, pastores que faziam ecoar por toda parte
o doce som de suas flautas e de seus pífaros. Feliz,
dizia Mentor, o povo que é conduzido por um rei sábio.
E Mentor me fazia notar a alegria e a abundância
espalhadas por todo o campo no Egito. Aí se podiam
contar até vinte e duas mil cidades. A justiça feita a
favor do pobre, contra o rico; a boa educação das
crianças, acostumadas à obediência, ao trabalho, à
sobriedade, ao amor pelas artes e pelas letras; a
exatidão com que todas as cerimônias religiosas eram
celebradas, o desinteresse, o desejo da honra, a
fidelidade aos homens e o temor aos deuses, tudo isso
inspirado pelos pais aos filhos. Ele não se cansava de
admirar esta bela ordem. Feliz, me dizia ele, o povo
que um rei sábio conduz desta maneira.”
Fénelon faz, em Creta, um idílio ainda mais sedutor. Depois
ele acrescenta, através da boca de Mentor:
“Tudo o que vocês veem nesta ilha maravilhosa é fruto
das leis de Minos. A educação que ele estabeleceu
para as crianças torna o corpo sadio e robusto. Elas
são inicialmente acostumadas a uma vida simples,
frugal e laboriosa; supõe-se que qualquer prazer dos
sentidos amolece o corpo e o espírito; não se lhes
propõe jamais outro prazer que o de serem invencíveis,
através da virtude e da conquista da glória... Aqui se
castigam três vícios que entre outros povos são
impunes: a ingratidão, a dissimulação e a avareza.
Quanto ao fausto e à preguiça, não se tem jamais
necessidade de reprimi-los, pois são desconhecidos em
Creta... Não se permitem nem mobiliário precioso, nem
festins deliciosos, nem palácios dourados.”
Desta forma Mentor prepara seu aluno para manejar e
manipular, com os objetivos mais filantrópicos sem dúvida,
o povo de Ítaca, 14 e, para estar do lado seguro, ele lhe dá
um exemplo disso em Salento.
É assim que recebemos nossas primeiras noções políticas.
Somos ensinados a tratar os homens da mesma maneira
que Olivier de Serres 15 ensina os agricultores a tratar e
misturar a terra.
Montesquieu : 16
“Para manter o espírito de comércio, é necessário que
todas as leis o favoreçam. Essas leis, por suas
disposições, dividindo as fortunas à medida que são
feitas no comércio, deveriam prover cada cidadão
pobre de circunstâncias que lhe facilitassem trabalhar
como os demais. As mesmas leis deveriam pôr cada
cidadão rico em circunstâncias tão medíocres que o
fizesse ter necessidade de trabalhar para conservar ou
para ganhar...”
Assim, as leis se encarregaram de todas as fortunas!
“Apesar de, na democracia, a igualdade verdadeira ser
a alma do Estado, é, entretanto, tão difícil alcançá-la,
que uma exatidão extrema a esse respeito não seria
sempre conveniente. Basta que se estabeleça um
censo que reduza ou fixe essas diferenças dentro de
um certo limite. Depois disso, é tarefa para as leis
específicas igualar as desigualdades, através de
encargos impostos aos ricos e concessões de alívio aos
pobres...”
Mais uma vez, trata-se da equalização das fortunas pela lei,
pela força.
“Na Grécia, havia dois tipos de república. Uma,
Esparta, era militar; a outra, Atenas, era comercial. Na
primeira, desejava-se que os cidadãos fossem ociosos;
na segunda, que amassem o trabalho.
Note-se a extensão do gênio que foi necessário a esses
legisladores para ver que, colocando em choque todos os
costumes recebidos, confundindo todas as virtudes, eles
mostrariam ao universo sua sabedoria; Licurgo deu
estabilidade à cidade de Esparta, combinando o roubo com
o espírito da justiça, combinando a mais dura escravidão
com a extrema liberdade, combinando os sentimentos mais
atrozes com a maior moderação.
Parece que ele privou sua cidade de todos os recursos,
artes, comércio, dinheiro e defesas. Em Esparta, tinha-
se ambição sem esperança de recompensa material.
Os sentimentos naturais não tinham respaldo, pois um
homem não era nem filho, nem marido, nem pai. Até a
castidade não era mais considerada conveniente. Foi
por este caminho que Esparta foi levada à grandeza e
à glória. Este arrojo que existia nas instituições da
Grécia repetiu-se na degeneração e na corrupção dos
tempos modernos.
Um legislador honesto formou um povo no qual a
probidade parece tão natural quanto a coragem entre
os espartanos. O Senhor William Penn, por exemplo, é
um verdadeiro Licurgo. E, embora o Senhor Penn
tivesse a paz como objetivo e Licurgo a guerra, eles se
assemelhavam um ao outro, naquilo em que a
autoridade moral de ambos sobre os homens livres
permitiu-lhes vencer preconceitos, dominar paixões e
conduzir seus respectivos povos para novos caminhos.
O Paraguai pode-nos fornecer outro exemplo. Quis-se
cometer um crime contra a sociedade, que vê o prazer
de comandar como o único bem da vida; mas será
sempre belo governar os homens, tornando-os mais
felizes...
Os que quiserem estabelecer instituições similares
devem proceder da seguinte forma: implantar a
comunidade de bens como na República de Platão,
bem como venerar os deuses; precaver-se contra a
mistura dos estrangeiros com o povo, a fim de
preservar os costumes e deixar que o Estado, em vez
dos cidadãos, pratique o comércio. Os legisladores
deveriam promover as artes, em vez da luxúria, e
também satisfazer necessidades, em vez de desejos.”
A paixão popular pode muito bem exclamar: é Montesquieu,
portanto é magnífico! É sublime! Terei a coragem de minha
opinião e direi:
O quê! você tem a ousadia de achá-lo belo?!
Mas é terrível! abominável! E estes trechos, que eu poderia
multiplicar, mostram que, nas ideias de Montesquieu, as
pessoas, as liberdades, os bens e toda a humanidade são
apenas materiais adequados para o exercício da sagacidade
do legislador.
Rousseau : 17
Embora este escritor, a suprema autoridade dos
democratas, repouse o edifício social sobre a vontade do
povo , ninguém admitiu, tão completamente como ele, a
hipótese da completa passividade da raça humana na
presença do Legislador.
“Se é verdade que um grande príncipe é um homem
raro, o que dizer de um grande legislador? O primeiro
só tem que seguir o modelo que o outro tem que
propor. O legislador é o mecânico que inventa a
máquina, enquanto o príncipe é apenas o operário que
a monta e a faz funcionar.”
E o que são os homens em tudo isso? A máquina que é
montada e feita para funcionar, ou melhor, a matéria prima
da qual a máquina é feita!

Os legisladores desejam moldar a


humanidade

Assim, entre o legislador e o Príncipe, entre o Príncipe e os


súditos, existe a mesma relação que existe entre o
agrônomo e o agricultor, o agricultor e o solo. Então, em
que altura acima da humanidade estaria o escritor, que
governa os próprios legisladores e lhes ensina seu ofício
nestes termos imperativos:
“Quer-se dar estabilidade ao estado? Então aproximem
se os extremos tanto quanto possível. Não se tolerem
nem os ricos nem os mendigos.
Se o solo é ingrato ou estéril, ou o campo muito
pequeno para seus habitantes, que se volte para a
indústria e as artes e se troquem estes produtos pelos
alimentos de que se necessita... Em um solo fértil, se
existem poucos habitantes, que se dedique toda a
atenção à agricultura, pois assim se poderá multiplicar
a população; que se abandonem as artes, porque só
servem para despovoar a nação... Se as costas são
extensas e acessíveis, então cubram-se os mares com
navios mercantes; ter-se-á uma existência brilhante,
mas curta. Se, porém, o mar banha somente costas
cheias de rochedos inacessíveis, deixe-se o povo ser
bárbaro e comer peixe; assim ele viverá mais calmo,
talvez melhor e, com toda certeza, viverá mais feliz.
Em suma, e como acréscimo às máximas que são
comuns a todos, cada povo possui suas circunstâncias
particulares. E tal fato por si só gera uma legislação
apropriada às circunstâncias. Esta é a razão pela qual
os hebreus, há mais tempo, e, mais recentemente, os
árabes, fizeram da religião seu principal objetivo. O
objetivo dos atenienses era a literatura; o dos
cartagineses e do povo de Tiro, o comércio; o do povo
de Rodes, a marinha; o dos espartanos, a guerra; e o
dos romanos, a virtude. O autor do Espírito das leis
mostrou com que arte o legislador orienta a instituição
para cada um desses objetivos... Mas suponha que o
legislador se engane e tome outro objetivo diferente
daquele que é indicado pela natureza das coisas;
suponha que o objetivo selecionado venha a criar ou a
escravidão ou a liberdade; ou então que crie riqueza ou
aumento de população; ou que crie, ainda, ou paz ou
conquista! Esta confusão de objetivos vai lentamente
enfraquecendo a lei e prejudica a constituição. O
Estado estará sujeito a frequentes agitações, até que
seja destruído ou modificado e que a invencível
natureza retome o seu império.”
Mas se a natureza é invencível o suficiente para retomar
seu império, por que Rousseau não admite que não precisou
do Legislador para tomar esse império desde o início? Por
que ele não admite que, obedecendo a sua própria
natureza, os homens se voltariam de livre vontade para o
comércio em praias extensas e convenientes, sem que um
Licurgo, um Sólon ou um Rousseau interfira, correndo o
risco de estar errado?
Seja como for, entendemos a terrível responsabilidade que
Rousseau coloca sobre os inventores, professores,
dirigentes, legisladores e manipuladores das Sociedades.
Ele também é muito exigente com eles.
“Aquele que ousa empreender a tarefa de dar
instituições a um povo, deve-se sentir em condições de
mudar, por assim dizer, a natureza humana; de
transformar cada indivíduo que, por si só, é um todo
perfeito e solitário, em parte de um grande todo, do
qual este indivíduo recebe, integralmente ou em parte,
sua vida e seu direito de ser. Assim, a pessoa que se
compromete a empreender a criação política de um
povo deveria acreditar em sua habilidade de alterar a
constituição do homem, para reforçá-la, para substituir
uma existência parcial e moral por uma existência
física e independente, que todos nós recebemos da
natureza. E preciso, em uma palavra, que esse criador
de política retire do homem suas forças próprias e o
dote de outras que lhe são naturalmente estranhas...”
Pobre espécie humana, o que fariam os seguidores de
Rousseau com sua dignidade?
Raynal: 18

O clima, ou seja, o céu e o solo, é a primeira regra do


legislador. Seus recursos ditam seus deveres. É antes
de tudo sua posição local que ele deve consultar. Se a
colônia é levada para o interior, um legislador deve
prever tanto sua espécie quanto seu grau de
fertilidade...
É principalmente no que se refere à distribuição da
propriedade que o gênio do legislador deve manifestar-
se. Como regra geral, quando uma nova colônia é
fundada, em qualquer parte do mundo, devem ser
distribuídas terras de extensão suficiente a cada
homem, de modo a poder sustentar sua família...
Numa ilha selvagem, que se povoaria de crianças,
bastaria deixar germinarem as sementes da verdade
junto com o desenvolvimento da razão... Mas quando
um povo, já antigo, se estabelece em um país novo, a
habilidade do legislador está no fato de permitir a esse
povo conservar a opinião e os costumes nocivos que
não podem mais ser curados e corrigidos. Se se deseja
evitar que tais opiniões e costumes se tornem
permanentes, deve-se assegurar que a segunda
geração de crianças tenha um sistema geral de
educação pública. Um príncipe ou um legislador não
deveriam jamais fundar colônias sem antes enviar
homens sábios para instruírem a juventude...
Em uma nova colônia, uma ampla oportunidade é dada
ao legislador que deseje depurar os costumes e os
modos de vida do povo. Se ele tiver virtude e gênio, a
terra e o povo à sua disposição inspirarão à sua alma
um plano para a sociedade. Um escritor pode somente
traçar o plano antecipadamente, de um modo vago,
pois é necessário sujeitar-se à instabilidade de todas as
hipóteses; o problema tem muitas formas
complicações e circunstâncias que são difíceis de
prever e fixar em detalhes...”
Um professor de agricultura não parece dizer a seus alunos:
“O clima é a primeira regra do agricultor? Seus
recursos ditam seus deveres. É antes de tudo sua
posição local que ele deve consultar. Se ele estiver em
solo argiloso, deve se comportar de tal maneira. Se ele
está lidando com areia, é assim que ele deve fazer.
Todas as instalações estão abertas ao agricultor que
deseja limpar e melhorar seu solo. Se ele tem
habilidade, a terra, os fertilizantes que terá em suas
mãos o inspirarão com um plano de exploração, que
um professor nunca poderá traçar, exceto de forma
vaga e sujeita à instabilidade das hipóteses, que
variam e se complicam com uma infinidade de
circunstâncias muito difíceis de prever e combinar.”
Mas, ó sublimes escritores, por favor, lembrem-se às vezes
que este barro, esta areia, este esterco, do qual vocês
dispõem tão arbitrariamente, são Homens, seus iguais,
seres livres e inteligentes como vocês, que receberam de
Deus, como vocês mesmos, a faculdade de ver, prever,
pensar e julgar por si mesmos!
Mably: 19 (Ele supõe as leis desgastadas pela ferrugem do
tempo, o descaso com a segurança, e continua assim):
“Nestas circunstâncias, é óbvio que as rédeas do
governo estão frouxas. Dê-lhes novo aperto, e o mal
estará curado... Pense menos em punir os erros e em
encorajar mais as virtudes de que se tem necessidade.
Deste modo, será dada à república o vigor da
juventude. É porque os povos livres desconheceram tal
procedimento que perderam sua liberdade! Mas se o
progresso do mal for tal que os magistrados comuns
não possam combatê-lo eficazmente, recorra-se a um
tribunal extraordinário, com poderes consideráveis por
um curto espaço de tempo. A imaginação dos cidadãos
precisa ser sacudida...”
E, desse modo, Mably continua por vinte volumes.
Houve um tempo em que, sob a influência de tais
ensinamentos, que são a base da educação clássica, cada
um queria colocar-se fora e acima da humanidade, para
arrumá-la, organizá-la e instituí-la como quisesse.
Condillac : 20
“Instale-se, meu senhor, como Licurgo ou Sólon. Antes
de continuar a ler este documento, divirta-se dando
leis a alguns povos selvagens da América ou da África.
Estabelecer em moradas fixas esses homens errantes;
ensiná-los a alimentar os rebanhos...; trabalhar para
desenvolver as qualidades sociais que a natureza
colocou neles... Ordená-los a começar a praticar os
deveres da humanidade... Envenenar através de
punições os prazeres que as paixões prometem, e você
verá esses bárbaros, a cada artigo de sua legislação,
perderem um vício e ganharem uma virtude.
Todos os povos tiveram leis. Mas poucos dentre eles
foram felizes. Qual a causa disso? É que os legisladores
quase sempre ignoraram que o objetivo da sociedade é
unir as famílias por um interesse comum. A
imparcialidade da lei consiste em duas coisas:
estabelecer a igualdade na riqueza e a dignidade dos
cidadãos...
À medida que as leis estabelecerem uma maior
igualdade, tornar-se-ão cada vez mais preciosas para
cada cidadão... Como a avareza, a ambição, a volúpia,
a preguiça, a ociosidade, a inveja, o ódio, o ciúme
poderiam agitar homens iguais em fortuna e dignidade,
e a quem as leis não deixariam a esperança de quebrar
a igualdade? (O idílio segue.)
O que lhe foi dito a respeito da República de Esparta
deve-lhe dar grandes luzes sobre esta questão.
Nenhum outro estado já alcançou leis mais conformes
à ordem da natureza e da igualdade. 21 ”
Não é surpreendente que os séculos XVII e XVIII
considerassem a raça humana como uma matéria inerte
esperando para receber tudo, forma, figura, impulso,
movimento e vida de um grande Príncipe, um grande
Legislador, um grande Gênio. Estes séculos foram
alimentados pelo estudo da Antiguidade, e a Antiguidade
realmente nos oferece em toda parte, no Egito, na Pérsia,
na Grécia, em Roma, o espetáculo de uns poucos homens
manipulando à sua vontade a humanidade escravizada pela
força ou pela impostura. O que isso prova? Isso, porque o
homem e a sociedade são permeáveis, erro, ignorância,
despotismo, escravidão, superstição devem se acumular
mais no início dos tempos. A falha dos escritores que citei
não é que eles tenham observado o fato, mas que o tenham
proposto, como regra, pela admiração e imitação de futuras
raças. Sua culpa é ter admitido, com uma inconcebível
ausência de crítica e na fé de um pueril convencionalismo, o
que é inadmissível, a saber, a grandeza, dignidade,
moralidade e bem-estar dessas sociedades fantasiosas do
velho mundo; não ter compreendido que o tempo produz e
propaga a luz; que à medida que a luz é feita, a força passa
para o lado do Direito e a sociedade recupera a posse de si
mesma.

O que é a liberdade?

E, de fato, qual é o trabalho político que estamos


testemunhando? Não é outra coisa senão o esforço
instintivo de todos os povos em direção à liberdade. 22 E o
que é Liberdade, esta palavra que tem o poder de fazer
bater todos os corações e agitar o mundo, se não o conjunto
de todas as liberdades, liberdade de consciência, de ensino,
de associação, de imprensa, de locomoção, de trabalho, de
intercâmbio. Em outras palavras, o livre exercício, para
todos, de todas as faculdades que não causam danos; em
outras palavras, a destruição de todos os despotismos,
mesmo os despotismos legais, e a redução da Lei à sua
única atribuição racional, que é regular o direito individual
de autodefesa ou de reprimir a injustiça.
Esta tendência da raça humana, deve-se admitir, é
grandemente contrariada, especialmente em nosso país,
pela disposição desastrosa, fruto do ensino clássico, comum
a todos os escritores, de se colocar fora da humanidade
para arranjá-la, organizá-la e instituí-la como bem
entenderem.
Pois enquanto a sociedade luta para alcançar a Liberdade,
os grandes homens que se colocam à sua frente, imbuídos
dos princípios dos séculos XVII e XVIII, pensam apenas em
dobrá-la sob o despotismo filantrópico de suas invenções
sociais e em fazê-la suportar mansamente, nas palavras de
Rousseau, o jugo da felicidade pública, tal como eles a
imaginaram.
Isto foi claramente visto em 1789. Logo que o Antigo
Regime Jurídico foi destruído, eles começaram a submeter a
nova sociedade a outros arranjos artificiais, sempre partindo
deste ponto acordado: a onipotência da Lei.
Ideias de alguns escritores e políticos desse período:
Saint-Just: 23

“O legislador comanda o futuro. Cabe a ele querer o


bem. Cabe a ele fazer dos homens o que ele quer que
eles sejam.”
Robespierre : 24
“A função do governo é dirigir as forças físicas e morais
da nação para o propósito de sua instituição.”
Billaud-Varennes : 25
“É necessário recriar as pessoas que desejamos
restituir à liberdade. Como é necessário destruir velhos
preconceitos, mudar hábitos antigos, aperfeiçoar
afeições depravadas, restringir necessidades
supérfluas, extirpar vícios inveterados, ações fortes e
um impulso veemente são necessários... Cidadãos, a
austeridade inflexível de Licurgo tornou-se a base
inabalável da República em Esparta; o caráter fraco e
confiante de Sólon mergulhou Atenas de novo na
escravidão. Este paralelo contém toda a ciência do
governo.”
Lepelletier : 26
“Considerando o quanto a raça humana está
degradada, convenci-me da necessidade de efetuar
uma regeneração completa e, se assim me posso
expressar, de criar um novo povo.”
Os socialistas querem a ditadura

Vemos que os homens não são nada além de material vil.


Não cabe a eles querer o bem; eles são incapazes de fazê-
lo, cabe ao legislador, de acordo com Saint-Just. Os homens
são apenas o que ele quer que eles sejam.
Segundo Robespierre, que copiou literalmente Rousseau, o
legislador começa por atribuir o propósito da instituição da
nação. Então os governos só têm que direcionar para este
objetivo todas as forças físicas e morais. A própria nação
permanece sempre passiva em tudo isso, e Billaud-Varennes
nos ensina que ela deve ter apenas os preconceitos,
hábitos, afetos e necessidades que o Legislador autoriza.
Ele chega ao ponto de dizer que a rigidez inflexível de um
homem é a base da república.
Vimos que, nos casos em que o mal é tão grande que os
magistrados não podem remediá-lo, Mably aconselhou a
ditadura a fazer florescer a virtude. “Recorra-se ”, disse ele,
“a um tribunal extraordinário, com poderes consideráveis
por um curto espaço de tempo. A imaginação dos cidadãos
precisa ser sacudida .” Esta doutrina não foi abandonada.
Vamos ouvir Robespierre:
“O princípio do governo republicano está na virtude e o
meio necessário para estabelecer a virtude é o terror.
Em nosso país, desejamos substituir a moral pelo
egoísmo, a probidade pela honra, os princípios pelos
costumes, os deveres pela conduta, o império da razão
pela tirania da moda, o desprezo do vício pelo
desprezo da infelicidade, a altivez pela insolência, a
grandeza d’alma pela vaidade, o amor à glória pelo
amor ao dinheiro, as boas pessoas pelas pessoas
agradáveis, o mérito pela intriga, o gênio pelo espírito,
a verdade pelo brilho, o encanto da felicidade pelo
tédio da volúpia, a grandeza do homem pela pequenez
dos grandes, um povo magnânimo, poderoso e feliz por
um povo amável, frívolo e miserável; em suma,
desejamos substituir todas as virtudes e milagres da
república por todos os vícios e absurdos da
monarquia.”
Quão alto acima do resto da humanidade Robespierre aqui
se coloca! E note a circunstância em que ele fala. Ele não se
limita a expressar o desejo de uma grande renovação do
coração humano; ele não espera sequer que ela resulte de
um governo regular. Não, ele quer fazer com que isso se
realize por si mesmo e pelo terror. O discurso, do qual se
extrai este pueril e laborioso amontoado de antíteses, teve
como objetivo estabelecer os princípios de moralidade que
deveriam orientar um governo revolucionário. Deve-se notar
que, quando Robespierre vem pedir a ditadura, não é
apenas para repelir o estrangeiro e combater suas facções;
é de fato para fazer prevalecer pelo terror, e antes da regra
da Constituição, seus próprios princípios de moralidade. Sua
pretensão é nada menos que extirpar do país, pelo terror,
egoísmo, honra, costumes, decoro, moda, vaidade, amor ao
dinheiro, boa companhia, intriga, belo espírito,
voluptuosidade e miséria. Só depois que ele, Robespierre,
tiver realizado estes milagres – como ele os chama com
razão – é que permitirá que as leis retomem seu império. –
Ah, suas criaturas miseráveis! Vocês que pensam que são
tão grandes! Vocês que julgam a humanidade como sendo
tão pequena! Vocês que querem reformar tudo! Por que
vocês não se reformam? Essa tarefa seria o suficiente.
Entretanto, em geral, os Reformadores, Legisladores e
Escritores não pedem para exercer um despotismo imediato
sobre a humanidade. Não, eles são muito moderados e
muito filantrópicos para isso. Eles só pedem despotismo,
absolutismo, a onipotência da Lei. Eles só aspiram a
elaborar a Lei.
Para mostrar como esta estranha disposição das mentes
tem sido universal na França, eu teria que copiar toda obra
de Mably, de Raynal, de Rousseau, toda a de Fénelon, e
longos trechos de Bossuet e Montesquieu, eu também teria
que reproduzir as atas inteiras das sessões da Convenção.
Abster-me-ei de fazer isso e remeterei o leitor às mesmas.

Napoleão queria uma humanidade


passiva

Pode-se imaginar que esta ideia deve ter sorrido para


Napoleão Bonaparte. Ele a abraçou ardentemente e a pôs
em prática com energia. Considerando-se um químico, ele
não via na Europa nada além de material para experiências.
Mas logo este assunto se manifestou como um poderoso
reagente. Grandemente desiludido, Bonaparte, em St.
Helena, parecia reconhecer que há alguma iniciativa no
povo, e ele se mostrou menos hostil à liberdade. Isto não o
impediu, entretanto, de dar em seu testamento esta lição a
seu filho: “Governar é espalhar moralidade, instrução e
bem-estar”.
É necessário agora mostrar por citações enfadonhas de
onde Morelly, Babeuf, Owen, Saint-Simon, Fourier
prosseguem? Limitar-me-ei a submeter ao leitor alguns
extratos do livro de Louis Blanc 27 sobre a organização do
trabalho.
“Em nosso projeto, a sociedade recebe o impulso do
poder.” (p. 126).
Em que consiste o impulso que dá à sociedade o poder de
governar? Na imposição do projeto do Senhor Louis Blanc.
Por outro lado, a sociedade é o gênero humano.
Portanto, em definitivo, o gênero humano recebe impulso de
Louis Blanc. Pode-se dizer que o povo é livre para aceitar ou
recusar este plano. Evidentemente, as pessoas são livres
para aceitar ou recusar conselhos de quem quer que seja.
Mas esta não é a maneira pela qual o Senhor Louis Blanc
entende o assunto. Ele espera que seu projeto seja
convertido em lei e, por conseguinte, imposto pela Força do
estado.
“Em nosso projeto, o estado não faz mais do que dar
ao trabalho uma lei (nada mais?), em virtude da qual o
movimento industrial pode e deve desenvolver-se em
completa liberdade. O estado simplesmente coloca a
liberdade sobre uma rampa (somente isso). Então, a
sociedade desce por essa rampa, levada pela simples
força das coisas e como consequência natural do
mecanismo estabelecido.”
Mas que rampa é essa? – A indicada pelo Sr. L. Blanc. – Isso
não leva ao abismo? – Não, isso leva à felicidade. – Como,
então, a sociedade não se coloca lá? – Porque não sabe o
que quer, e porque precisa de estímulo. – Quem lhe dará
esse impulso? – Poder. – E quem dará o impulso para o
poder? – O inventor do mecanismo, Sr. L. Blanc.
Nunca saímos deste círculo: a humanidade passiva e um
grande homem que a move com a intervenção da Lei.
Uma vez nesta ladeira, será que a sociedade ao menos
gozaria de alguma liberdade? – Sem dúvida. – E o que é
liberdade?
“Digamo-lo de uma vez por todas: a liberdade consiste
não apenas no Direito concedido, mas no Poder dado
ao homem para exercer, para desenvolver suas
faculdades, sob o império da justiça e sob a
salvaguarda da lei.
E esta não é uma distinção vazia: seu significado é
profundo e suas consequências são imensas. Pois
assim que admitimos que, para ser verdadeiramente
livre, o homem deve ter o poder de exercer e
desenvolver suas faculdades, segue-se que a
sociedade deve a cada um de seus membros instrução
adequada, sem a qual a mente humana não pode se
desenvolver, e os instrumentos de trabalho, sem os
quais a atividade humana não pode se enraizar. Agora,
por qual intervenção a sociedade dará a cada um de
seus membros a instrução adequada e os instrumentos
de trabalho necessários, se não pela intervenção do
Estado?”
Assim, liberdade é poder – Em que consiste este poder? –
Possuir a instrução e os instrumentos de trabalho – Quem
dará a instrução e os instrumentos do trabalho? –
Sociedade, que lhes deve – Com qual intervenção a
sociedade dará instrumentos de trabalho àqueles que não
têm nenhum? – Pela intervenção do Estado. – De quem o
Estado os tirará?
Cabe ao leitor dar a resposta e ver onde tudo isso leva.
Um dos fenômenos mais extravagantes de nosso tempo, e
que provavelmente surpreenderá nossos sobrinhos, é que a
doutrina que se baseia nesta tríplice hipótese – a inércia
radical da humanidade – a onipotência da Lei – a
infalibilidade do Legislador – é o símbolo sagrado do partido
que se proclama exclusivamente democrático.
É verdade que ela também se autodenomina social.
Como democrática, ela tem uma fé sem limites na
humanidade.
Como é uma questão de direitos políticos, se é uma questão
de tirar o legislador de seu seio, oh, então, segundo ele, o
povo tem o conhecimento infundido; eles são dotados de
notável capacidade de tato; sua vontade é sempre reta, a
vontade geral não pode errar. O sufrágio jamais pode ser
universal demais. Ninguém deve nenhuma caução à
sociedade. A vontade e a capacidade de escolher bem são
sempre assumidas. O povo pode errar? Não estamos na era
do esclarecimento? O que é isto! O povo estará
eternamente sob tutela? Ele não conquistou seus direitos
com esforço e sacrifício suficientes? Ele não deu provas
suficientes de sua inteligência e sabedoria? Será que o povo
não atingiu sua maturidade? Ele não está em condições de
julgar por si mesmo? Será que não conhece seus próprios
interesses? Há algum homem ou classe que ouse reivindicar
o direito de tomar o lugar do povo, de decidir e agir por ele?
Não, não, o povo quer ser livre, e será livre. Ele quer dirigir
seus próprios negócios e os dirigirá.

O conceito socialista de liberdade

Mas o Legislador, uma vez liberado dos conselhos por


eleição, oh, então a linguagem muda. A nação retorna à
passividade, à inércia, ao nada, e o Legislador toma posse
da onipotência. A ele pertence a invenção, a ele a direção, a
ele o impulso, a ele a organização. A humanidade só tem
que se deixar fazer; a hora do despotismo já chegou. E note
que isto é fatal; pois este povo, tão iluminado, tão moral,
tão perfeito, não tem mais nenhuma tendência ou, se tem
alguma, todas conduzem à degradação. E nós o
deixaríamos um pouco de liberdade! Mas você não sabe
que, de acordo com monsieur Considerant, 28 a liberdade
leva fatalmente ao monopólio? Você não sabe que liberdade
é competição? E essa competição, de acordo com Blanc, é
para o povo um sistema de extermínio, para a burguesia
uma causa de ruína? Que é por esta razão que os povos são
ainda mais exasperados e arruinados quanto mais livres
eles são, testemunha a Suíça, a Holanda, a Inglaterra e os
Estados Unidos? Você não sabe, segundo Sr. Blanc, que a
concorrência leva ao monopólio e que, pela mesma razão, o
mercado justo leva a preços exagerados? Que a
concorrência tende a secar as fontes de consumo e empurra
a produção para uma atividade de devastação? Que a
concorrência força a produção a aumentar e o consumo a
diminuir; – da qual resulta que as pessoas livres produzem
para não consumir; – que é simultaneamente opressão e
insanidade, e que é absolutamente necessário o
envolvimento do Sr. Blanc?
Que liberdade, além do mais, poderia ser deixada aos
homens? Poderia ser liberdade de consciência? Mas vamos
vê-los todos aproveitando a permissão para se tornarem
ateus. Liberdade de educação? Mas os pais apressar-se-ão a
pagar professores para ensinar a seus filhos a imoralidade e
o erro; além disso, se monsieur Thiers 29 acreditasse que a
educação fosse deixada à liberdade nacional, deixaria de
ser nacional, e educaríamos nossos filhos nas ideias dos
turcos ou dos índios, em vez disso, graças ao despotismo
legal da universidade, eles têm a felicidade de ser educados
nas ideias nobres dos romanos. Liberdade do trabalho? Mas
é a concorrência, que tem o efeito de deixar todos os
produtos sem consumidor, de exterminar o povo e arruinar
a burguesia. Liberdade de comércio? Mas é bem conhecido,
como os protecionistas demonstraram à sociedade, que um
homem se arruína quando troca livremente, e que, para se
tornar rico, é necessário trocar sem liberdade. Liberdade de
associação? Mas, de acordo com a doutrina socialista,
liberdade e associação são mutuamente exclusivas, pois é
justamente para roubar aos homens sua liberdade que
aspiramos a forçá-los a se associarem.
Vejam, então, que os sociais-democratas não podem, em
boa consciência, permitir aos homens qualquer liberdade
pois, por sua própria natureza, e se estes senhores não
puserem um fim a isso, tenderão, de todos os lados, a todos
os tipos de degradação e desmoralização.
Resta saber, neste caso, em que base o sufrágio universal é
tão urgentemente exigido por eles.
As pretensões dos organizadores levantam outra questão,
que muitas vezes coloquei a eles, e à qual sei que nunca
deram uma resposta. Uma vez que as tendências naturais
da humanidade são suficientemente más para lhes serem
tiradas, como é que as tendências dos organizadores são
boas? Os legisladores e seus agentes não fazem parte da
raça humana? Será que eles acreditam ser feitos de um tipo
de argila diferente do resto da humanidade? Dizem que a
sociedade, deixada a si mesma, corre fatalmente para o
abismo porque seus instintos são perversos. Eles afirmam
detê-la nesta encosta e dar-lhe uma direção melhor. Por
isso, receberam do céu uma inteligência e virtudes que os
colocam fora e acima da humanidade; deixe-os mostrar
seus títulos. Eles querem ser pastores, eles querem que
sejamos rebanhos. Este arranjo pressupõe neles uma
superioridade de natureza, da qual temos todo o direito de
exigir prova prévia.
Note que o que estou disputando com eles não é o direito
de inventar combinações sociais, de propagá-las, de
aconselhá-los, de experimentá-las em si mesmos, às suas
próprias custas e riscos; mas o direito de impô-las a nós por
meio da Lei, ou seja, pela força e cotização públicas.
Peço que os Cabetistas, os Fourieristas, os Proudhonianos,
os Acadêmicos, os Protecionistas, renunciem não às suas
ideias especiais, mas à esta ideia que lhes é comum, de nos
submeter à força aos seus grupos e coletivos, às suas
oficinas sociais, aos seus serviços gratuitos, à sua
moralidade greco-romana, aos seus grilhões comerciais. O
que lhes peço é que nos seja permitido julgar seus planos e
não nos associarmos a eles, direta ou indiretamente, se os
considerarmos ofensivos aos nossos interesses ou
repugnantes à nossa consciência.
A pretensão de envolver o poder e a tributação, além de ser
opressiva e despojadora, ainda implica nesta hipótese
prejudicial: a infalibilidade do organizador e a
incompetência da humanidade.
E se a humanidade é incompetente para julgar por si
mesma, qual o porquê de estarmos falando do sufrágio
universal?

Causas da revolução na França

Esta contradição de ideias foi infelizmente reproduzida na


prática e, embora o povo francês tenha estado à frente de
todos os outros na conquista de seus direitos, ou melhor, de
suas garantias políticas, ele continua sendo o mais
governado, dirigido, administrado, imposto, impedido e
explorado de todos os povos.
É provavelmente também o lugar onde as revoluções são
mais iminentes, e isso deve ser assim.
Quando partimos desta ideia, admitida por todos os nossos
escritores e tão energicamente expressa por Sr. Blanc
nestas palavras: “A sociedade recebe o impulso do poder”;
assim que os homens se consideram sensatos, mas
passivos, incapazes de ascender por seu próprio
discernimento e por sua própria energia a qualquer moral, a
qualquer bem-estar, e reduzidos a esperar tudo da Lei; em
uma palavra, quando admitem que suas relações com o
Estado são as do rebanho com o pastor, fica claro que a
responsabilidade do poder é imensa. Bens e males, virtudes
e vícios, igualdade e desigualdade, opulência e miséria,
tudo flui dele. Cabe ao Estado tudo, ele se encarrega de
tudo, ele faz tudo; portanto, ele é responsável por tudo. Se
estamos felizes, ele afirma, com razão, nossa gratidão; mas
se estamos infelizes, só podemos culpá-lo. Ele não dispõe,
em princípio, de nossas pessoas e bens? A Lei não é
onipotente? Ao criar o monopólio universitário, tem feito
questão de responder às esperanças dos pais desprovidos
de liberdade; e se essas esperanças são desapontadas, de
quem é a culpa? Ao regular a indústria, tornou seu negócio
fazê-la prosperar, caso contrário teria sido absurdo privá-la
de sua liberdade; e se ela sofrer, de quem é a culpa? Ao
interferir na equalização da balança comercial, através da
aplicação de tarifas, contribuiu para que o seu negócio
florescesse; e se, longe de florescer, está morrendo, de
quem é a culpa? Ao conceder proteção à navegação
marítima em troca de sua liberdade, se encarregou de
torná-la lucrativa; e se ela é deficitária, de quem é a culpa?
Assim, não há dor na nação pela qual o governo não tenha
se responsabilizado voluntariamente. É de se admirar que
todo sofrimento seja uma causa de revolução?
E qual é o remédio proposto? Trata-se de estender
indefinidamente o domínio da Lei, ou seja, a
responsabilidade do Governo.
Mas se o governo assume a tarefa de aumentar e regular os
salários, e não pode fazê-lo; se assume a tarefa de ajudar a
todos os infortúnios, e não pode fazê-lo; se assume a tarefa
de prover pensões para todos os trabalhadores, e não pode
fazê-lo; se se compromete a fornecer a todos os
trabalhadores instrumentos de trabalho e não pode fazê-lo;
se se compromete a abrir crédito gratuito a todos aqueles
que estão à procura de empréstimos e não podem fazê-lo;
se, nas palavras que vimos com pesar escapar à pena de
Monsieur de Lamartine, 30 “o Estado se entrega à missão de
iluminar, desenvolver, ampliar, fortificar, espiritualizar e
santificar as almas do povo ”, e que fracassa; não vemos
que ao final de cada decepção, lamentavelmente, é mais do
que provável uma revolução não menos inevitável?
Retomo minha tese e digo: imediatamente a partir da
ciência econômica e da entrada na ciência política, 31 surge
uma questão dominante. É esta aqui:
O que é a Lei? O que deveria ser? Qual é seu domínio?
Não hesito em responder: A Lei é a força comum organizada
para prevenir a injustiça e, em poucas palavras, A Lei é a
justiça.

A legítima função da legislação

Não é verdade que o Legislador tenha poder absoluto sobre


nossas pessoas e nossos bens, já que eles já existem e seu
trabalho é cercá-los com garantias.
Não é verdade que a missão da lei é governar nossas
consciências, nossas ideias, nossas vontades, nossa
educação, nossos sentimentos, nosso trabalho, nossos
intercâmbios, nossos dons e nossos prazeres.
Sua missão é impedir que o direito de uma pessoa usurpe o
direito de outra em qualquer uma dessas questões.
A Lei, porque sua sanção necessária é a força, só pode ter
como seu domínio legítimo o domínio legítimo da força, a
saber: Justiça.
E como cada indivíduo tem o direito de usar a força apenas
em autodefesa, a força coletiva, que é apenas a união de
forças individuais, não pode ser racionalmente aplicada a
qualquer outro fim.
A Lei é, portanto, apenas a organização do direito individual
de autodefesa pré-existente.
A Lei é Justiça.
É um erro grande poder oprimir pessoas ou despojar
propriedades, mesmo para fins filantrópicos, pois sua
missão é protegê-las.
E que não se diga que pode ao menos ser filantrópico,
desde que se abstenha de toda opressão, de toda
espoliação; isso é contraditório. A Lei não pode deixar de
agir sobre nossas pessoas ou nossos bens; se não os
garante, ela os viola pelo próprio fato de agir, pelo próprio
fato de o ser.
A Lei é Justiça.
Isto é claro, simples, perfeitamente definido e delimitado,
acessível a toda inteligência, visível a todo olho, porque a
Justiça é uma dada qualidade, imutável, inalterável, que
admite nem mais nem menos.
Vá além disso, faça da Lei religiosa, fraterna, igualitária,
filantrópica, industrial, literária, artística, e imediatamente
você está no infinito, no incerto, no desconhecido, na utopia
imposta, ou, o que é pior, na multidão de utopias lutando
para se apropriar da Lei e se impor; pois a fraternidade, a
filantropia, não tem limites fixos como a justiça. Onde você
vai parar? Onde a Lei vai parar? Um, como monsieur de
Saint-Cricq, 32 estenderá sua filantropia apenas a algumas
classes de industriais, e pedirá à lei que disponha os
consumidores em favor dos produtores. Outro, como
monsieur Considérant, assumirá a causa dos trabalhadores
e os exigirá da Lei um mínimo garantido, roupas, moradia,
alimentação e todas as coisas necessárias para a
manutenção da vida. Um terceiro, monsieur L. Blanc, dirá,
com razão, que esta é apenas uma república grosseira e
que a Lei deve dar todas as ferramentas de trabalho e
instrução. Um quarto indicará que tal arranjo ainda deixa
espaço para a desigualdade, e que a Lei deve trazer luxo,
literatura e artes para os lugares mais remotos. Assim,
vocês serão levados ao comunismo, ou melhor, a legislação
será... o que já é: – o campo de batalha de todos os
devaneios e de toda a ganância.
A Lei é a Justiça.

A base para um governo estável


Neste círculo, um governo simples e inabalável é concebido.
E desafio qualquer um a me dizer de onde poderia vir o
pensamento de uma revolução, de uma insurreição, de um
simples motim contra uma força pública limitada a reprimir
a injustiça. Sob tal regime, haveria mais bem-estar, o bem-
estar seria distribuído mais uniformemente, e quanto aos
sofrimentos inseparáveis da humanidade, ninguém pensaria
em culpar o governo, que seria tão alheio a eles quanto às
variações de temperatura. Já vimos o povo se levantar
contra o supremo tribunal ou irromper no tribunal do juiz de
paz para exigir salário mínimo, crédito gratuito,
instrumentos de trabalho, favores da tarifa, ou a oficina
social? O povo sabe bem que estas combinações estão além
do poder do tribunal superior ou do juiz de paz, e também
aprenderia que estão além do poder da Lei.
Mas faça a Lei sobre o princípio da fraternidade, proclame
que é dela que fluem bens e males, que é responsável por
toda dor individual, por toda desigualdade social, e abra a
porta para uma série interminável de reclamações, ódios,
problemas e revoluções.
A Lei é a Justiça.
E seria muito estranho se pudesse ser qualquer outra coisa!
A justiça não é correta? Os direitos não são iguais? Como,
então, a lei pode intervir para me submeter aos planos
sociais dos senhores Mimerel, de Melun, Thiers, Louis Blanc,
em vez de sujeitar estes senhores aos meus planos? Você
acha que eu não recebi imaginação suficiente da natureza
para inventar uma utopia? É papel da Lei fazer uma escolha
entre tantas quimeras e colocar a força pública a serviço de
uma delas?
A Lei é a Justiça.
E que não se diga, como se faz constantemente, que a Lei,
ateísta, individualista e covarde, faria a humanidade à sua
própria imagem. Esta é uma dedução absurda, digna da
paixão governamental que vê a humanidade na Lei.
O que é isto! Será que, em seguida, deixaremos de agir
porque somos livres? Se não recebermos o impulso da Lei,
será que ficaremos desprovidos de impulso? Será que
nossas faculdades serão atingidas pela inércia se a Lei se
limitar a nos garantir o livre exercício de nossas faculdades?
Se a lei não nos impõe formas de religião, modos de
associação, métodos de ensino, métodos de trabalho,
direções de comércio, planos de caridade, será que nos
precipitaremos a mergulhar no ateísmo, no isolamento, na
ignorância, na miséria e no egoísmo? Será que não
saberemos mais reconhecer o poder e a bondade de Deus,
associar-nos uns aos outros, ajudar-nos uns aos outros,
amar e ajudar nossos infelizes irmãos, estudar os segredos
da natureza, aspirar à perfeição de nosso ser?
A Lei é a Justiça.
E é sob a lei da justiça, sob o regime da lei, sob a influência
da liberdade, da segurança, da estabilidade e da
responsabilidade, que cada homem alcançará seu pleno
valor, a plena dignidade de seu ser, e que a humanidade
realizará com ordem, com calma, lentamente, sem dúvida,
mas com certeza, o progresso que é seu destino.
Parece-me que tenho a teoria por mim mesmo; seja qual for
a questão que me submeta ao raciocínio, seja religiosa,
filosófica, política ou econômica; seja uma questão de bem-
estar, moral, igualdade, direito, justiça, progresso,
responsabilidade, solidariedade, propriedade, trabalho,
câmbio, capital, salários, impostos, população, crédito ou
governo; seja qual for o ponto do horizonte científico que eu
coloque o ponto de partida de minhas pesquisas, eu sempre
chego a isso invariavelmente: a solução do problema social
está na Liberdade.
E eu também não tenho experiência? Lance seus olhos
sobre o globo terrestre. Quais são os povos mais felizes, os
mais morais, os mais pacíficos? Aqueles em que a lei
interfere menos na atividade privada; onde o governo se faz
sentir menos; onde a individualidade tem o maior alcance e
a opinião pública a maior influência; onde a máquina
administrativa é a menos numerosa e a menos complicada;
onde os impostos são os menos onerosos e menos
desiguais; onde o descontentamento popular é o menos
excitante e o menos justificável; onde a responsabilidade
dos indivíduos e das classes é a mais ativa, e onde,
consequentemente, se a moral não é perfeita, eles tendem
inventivamente a se retificar; onde as transações,
convenções e associações são as menos prejudicadas; onde
o trabalho, o capital e a população sofrem os menores
deslocamentos artificiais; onde a humanidade obedece mais
a sua própria inclinação; onde o pensamento de Deus
prevalece mais sobre as invenções dos homens; aqueles,
em uma palavra, que mais se aproximam desta solução:
dentro dos limites da lei, tudo pela espontaneidade livre e
perfeita do homem; nada pela Lei ou pela força, mas pela
Justiça universal.
Deve-se dizer que há muitos grandes homens no mundo; há
muitos legisladores, organizadores, formadores de
sociedades, líderes de povos, pais de nações etc., etc., etc.,
etc. Há pessoas demais que se colocam acima da
humanidade para governá-la, demasiadas pessoas que
fazem disso seu negócio.
As pessoas me dirão: “Você que está falando, está fazendo
um trabalho igual a eles ”. Isso é verdade. Mas será
acordado que é em um sentido muito diferente e de um
ponto de vista muito diferente, e se eu me misturar com os
reformadores é apenas para fazê-los desistir.
Eu lido com isso não como Vaucanson 33 com seu autômato,
mas como um fisiologista com o organismo humano: para
estudá-lo e admirá-lo.
Faço-o com o mesmo espírito de um famoso viajante.
Ele chegou no meio de uma tribo selvagem. Uma criança
havia acabado de nascer e uma multidão de adivinhos,
feiticeiros e curandeiros a cercaram, armados com anéis,
ganchos e ataduras. Um disse: “esta criança nunca sentirá o
cheiro de um cachimbo a menos que eu lhe alongue as
narinas ”. Outro disse: “Ele será privado de seu senso de
audição a menos que eu faça suas orelhas chegarem até
seus ombros ”. Um terceiro: “ele não verá a luz do sol, se eu
não der a seus olhos uma direção oblíqua” . Um quarto: “ele
nunca ficará em pé, a menos que eu dobre suas pernas ”.
Um quinto: “ele não vai pensar, a menos que eu comprima
seu cérebro ”. “Para trás ”, disse o viajante. “Deus faz bem
o que faz; não finja saber mais do que Ele, e como Ele deu
órgãos a esta frágil criatura, deixe que seus órgãos se
desenvolvam e se fortaleçam através do exercício, da
tentativa e do erro, da experiência e da liberdade .”

Deixem-nos agora experimentar a


liberdade

Deus também colocou na humanidade tudo o que é


necessário para que ela cumpra seu destino. Existe uma
fisiologia social providencial, assim como existe uma
fisiologia humana providencial. Os órgãos sociais também
são constituídos de tal forma que se desenvolvem
harmoniosamente pelo ar puro da Liberdade. Para trás,
então, os curandeiros e os organizadores! Encostem seus
anéis, suas correntes, seus ganchos, suas pinças!
Abandonem seus meios artificiais! Encostem suas oficinas
sociais, suas falácias, seu governo, sua centralização, suas
tarifas, suas universidades, suas religiões estatais, seus
empréstimos sem juros ou seus bancos monopolizados,
seus descontos, suas restrições, sua moralização ou sua
uniformização por impostos!
E já que tantos sistemas foram infligidos em vão ao corpo
social, vamos terminar onde deveríamos ter começado,
vamos empurrar os sistemas para trás, vamos finalmente
colocar a Liberdade à prova, – Liberdade, que é um ato
de fé em Deus e em Sua obra.

Notas:
1 Nota da Edição francesa: Foi em junho de 1850 que o autor, durante alguns
dias passados com sua família em Mugron, escreveu este panfleto.
2 Nota da Edição francesa: Referência ao panfleto Spoliation et Loi onde
Bastiat cria o termo Espoliação Legal , que em seu pensamento é a conclusão
de que o Estado constituiu uma grande máquina que foi projetada
especificamente para roubar propriedade de algumas pessoas, sem seu
consentimento, é claro, e transferi-la para outras.
3 Nota da Edição francesa: Norma proposta no Conselho Geral das
manufaturas, da agricultura e do comércio. (Sessão do dia 6 de maio de 1850.)
4 Auguste Mimerel (1 de junho de 1786 – 16 de abril de 1871) foi um
industrial e político francês. Era proprietário de uma grande fábrica de fibras de
algodão e era ativo em associações industriais. Ele apoiava o uso de mão-de-
obra infantil e era a favor de tarifas elevadas para proteger a indústria interna.
Ele se tornou deputado na legislatura da efêmera Segunda República Francesa,
depois senador durante o Segundo Império Francês. Em 1867, ele foi nomeado
Conde do Império.
5 Charles Forbes René de Tryon , conde de Montalembert , (Londres, 15
de abril de 1810 – Paris, 13 de março de 1870) foi um escritor, político e
polemista francês pertencente à corrente neocatólica. Serviu na Câmara dos
Pares, sendo um proeminente defensor da liberalização e modernização da
Igreja Católica.
6 O Barão Pierre Charles François Dupin (6 de outubro de 1784, Varzy,
Nièvre – 18 de janeiro de 1873, Paris, França) foi um matemático, engenheiro,
economista e político católico francês, particularmente conhecido por seu
trabalho no campo da matemática, onde o cíclide Dupin e a Dupin indicatrix
receberam seu nome por seu trabalho no campo do mapeamento estatístico e
temático.
7 Quando este texto foi escrito, Bastiat sabia que estava com tuberculose.
Morreu pouco tempo depois.
8 Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine (Mâcon, 21 de outubro de
1790 – Paris, 28 de fevereiro de 1869) foi um escritor, poeta e político francês.
Seus primeiros livros de poemas (Primeiras Meditações Poéticas, 1820 e Novas
Meditações Poéticas, 1823) celebrizaram o autor e influenciaram o Romantismo
na França e em todo o mundo. Foi membro do governo provisório e ministro do
Exterior em 1848. Depois de sua malsucedida candidatura às eleições
presidenciais, escreveu apenas narrativas autobiográficas, terminando a vida
em difícil situação financeira.
9 Nota da Edição francesa: Se a proteção fosse concedida, na França, a
apenas uma classe, por exemplo, aos ferreiros, ela seria tão absurdamente
espoliante que não poderia ser mantida. Portanto, vemos todas as indústrias
protegidas se unindo, fazendo causa comum e até mesmo se recrutando de
forma a parecer abraçar toda a mão-de-obra nacional. Eles instintivamente
sentem que a espoliação é ocultada pela generalização.
10 Jacques-Bénigne Bossuet (Dijon, 27 de setembro de 1627 – Paris, 12 de
abril de 1704) foi um bispo e teólogo francês, um dos principais teóricos do
absolutismo por direito divino, defendendo o argumento que o governo era
divino e que os reis recebiam seu poder de Deus. Foi autor de La Politique tirée
de l’Écriture sainte, publicada postumamente em 1709, na qual defende a teoria
do Direito divino dos reis justificando que Deus delegava o poder político aos
monarcas, conferindo-lhes autoridade ilimitada e incontestável. O caso mais
exemplar de governante que adotou as ideias de Bossuet foi Luís XIV de França,
chamado “Rei Sol”.
11 Hermes Trismegisto (“Hermes, o Três-grande”; Latim clássico: Mercurius ter
Maximus ) é uma figura helenística lendária que se originou como uma
combinação sincrética do deus grego Hermes e do deus egípcio Toth. Ele é o
suposto autor da Hermética, uma série muito diversa de textos antigos e
medievais que lançam as bases de vários sistemas filosóficos conhecidos como
Hermetismo.
12 François Fénelon , pseudônimo de François de Salignac de La Mothe-
Fénelon (6 de agosto de 1651 – 7 de janeiro de 1715), também conhecido como
‘’o Cisne de Cambraia’’, foi um teólogo católico, poeta e escritor francês, cujas
ideias liberais sobre política e educação, esbarravam contra o “statu quo ” da
Igreja e do Estado dessa época. Pertenceu à Academia Francesa de Letras.
13 A última aventura da narrativa feneloniana é a reforma de um reino falido. O
personagem principal do romance, Telêmaco, está inequivocamente associado
ao Duque de Borgonha, bem como a figura de Mentor remete diretamente a
Fénelon. A partir do livro VIII, acompanhamos a chegada de Mentor e Telêmaco a
Salento, cidade em processo de construção. A hospitalidade com que são
recebidos traz consigo informações que depõem contra a aparente grandeza da
cidade, pois Idomeneu, seu rei (reconhecido como Luís XIV), envolveu-se numa
guerra injusta, conflito que será resolvido com sabedoria por Mentor no livro IX.
Fato consumado, o tutor do filho de Ulisses resolve “civilizar” Salento, tomando
medidas administrativas que promovem uma mudança global, ou seja, atingem
todas as instâncias da vida social, pública e privada, como comércio, saúde,
educação, moradia, agricultura, vestuário, lazer etc. Tais medidas destinam-se a
transformar Salento em uma cidade perfeita (livro X).
14 Segundo a Odisseia de Homero , Ítaca foi a ilha natal de seu rei Odisseu. Ilha
para a qual ele voltou depois de ter navegado pelo Egeu e pelo Mediterrâneo na
volta da Guerra de Troia. Foi em Ítaca que sua esposa Penélope o esperou,
apesar dos inúmeros pretendentes, como Antínoos, que saqueavam seu palácio
e a desrespeitavam forçando-a a escolher um deles como marido..
15 Olivier de Serres (1539 – 1619) foi um autodidata francês reconhecido por
ser um dos primeiros a estudar de maneira científica as técnicas agrícolas e o
melhoramento de plantas de maneira experimental. Foi um protestante ativo e é
considerado o pai da agronomia francesa devido ao tratado que escreveu:
Théâtre d’Agriculture et mesnage des champs , que conteve 19 reedições de
1600 a 1675.
16 Charles-Louis de Secondat , barão de La Brède e de Montesquieu,
conhecido como Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de
janeiro de 1689 – Paris, 10 de fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e
escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes,
atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais.
Aristocrata, filho de família nobre, cedo teve formação iluminista com padres
oratorianos. Revelou-se um crítico severo e irônico da monarquia absolutista,
bem como do clero católico.
17 Jean-Jacques Rousseau , (Genebra, 28 de junho de 1712 – Ermenonville, 2
de julho de 1778), foi um importante filósofo, teórico político, escritor e
compositor autodidata. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo
e um precursor do romantismo. Sua filosofia política de fato influenciou o
Iluminismo por toda a Europa, assim como também aspectos da Revolução
Francesa e o desenvolvimento moderno da economia, da política e do
pensamento educacional. Para ele, as instituições educativas tradicionais
corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade. Para a criação de um novo homem
e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a
Natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com vistas
à liberdade e à capacidade de julgar.
18 Guilherme Thomas François Raynal (Aveyron, 12 de abril de 1713 – 6 de
março de 1796) foi um religioso e filósofo francês. Utilizou o nome L’Abbé
Raynal quando pertenceu à Companhia de Jesus.
19 Gabriel Bonnot de Mably , eventualmente conhecido como Abbé de Mably
(Grenoble, 14 de Março de 1709 – Paris, 2 de Abril de 1785) foi um filósofo
francês. Diferentemente de outros filósofos da época das luzes, Mably não foi
um otimista. Por suas obras, é considerado um dos mais importantes
inspiradores da legislação revolucionária de 1789. Era hostil à propriedade
privada dos meios de produção e, por isso, pode-se considerá-lo como um
precursor do socialismo. Contestando o poder real, desejava, entre outras
coisas, que o controle das finanças e do Exército fosse retirado do poder real e
entregue a uma assembleia única, mas não eleita por meio do sufrágio
universal.
20 Étienne Bonnot, abade de Condillac (Grenoble, 30 de setembro de 1714 –
Beaugency, 3 de agosto de 1780) foi um filósofo francês e o maior expoente de
uma teoria radicalmente empirista do funcionamento da mente a que se
costuma referir desde então como sensualismo. Enquanto o empirismo de John
Locke seguia a rejeição dos princípios inatos e das ideias inatas, Condillac foi
além e rejeitou também as habilidades inatas. Em sua versão do empirismo, a
experiência não apenas nos dá “ideias” ou os dados brutos para o
conhecimento, ela também nos ensina a prestar atenção, lembrar, imaginar,
abstrair, julgar e raciocinar.
21 Nota da Edição francesa: No panfleto Baccalauréat et Socialisme.
22 Nota da Edição francesa: Pensamento retirado dos manuscritos do autor:
Para que um povo seja feliz, é indispensável que os indivíduos que o compõem
tenham previdência, prudência e confiança uns nos outros que provêm da
segurança.
Agora, estas coisas dificilmente podem ser adquiridas a não ser pela
experiência. Torna-se clarividente quando se sofre por não ter previsto;
prudente, quando sua temeridade tem sido punida com frequência, etc.
Daí resulta que a liberdade começa sempre por ser acompanhada pelos males
que seguem o uso descuidado que dela se faz.
Neste espetáculo, alguns homens se levantam e exigem que a liberdade seja
banida.
“Que o Estado”, dizem eles, “seja previdente e prudente para todos”.
Em seguida, eu faço estas perguntas:
1° Isso é possível? Pode um Estado experiente emergir de uma nação
inexperiente?
2° Em qualquer caso, não se trata de asfixiar a experiência em seu início?
Se o poder impõe atos individuais, como o indivíduo aprenderá com as
consequências de seus atos? Estará ele então sob tutela perpétua?
E o Estado, tendo encomendado tudo, será responsável por tudo.
Há aí um foco de revoluções, e revoluções sem saída, pois serão feitas por um
povo ao qual, ao proibir a experiência, o progresso foi proibido.
23 Saint-Just (25 de agosto de 1767, Decize, (Nièvre) – 28 de julho de 1794,
Paris) foi um aspirante a literato, pensador e político revolucionário francês. Foi
eleito para a Convenção em 05 de setembro de 1792 e votou pela execução do
Rei. Seu discurso em favor da execução do monarca é considerado um dos mais
importantes e eloquentes do processo, e foi determinante para a condenação de
Luis XVI. Em 30 de maio de 1793 foi eleito membro do Comitê de Salvação
Pública, onde se destaca como um dos líderes. Nesta fase, desenvolve teorias
sobre o governo revolucionário e se torna um dos defensores da política do
Terror.
24 Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (Arras, 6 de maio de
1758 – Paris, 28 de julho de 1794) foi um advogado e político francês, e uma das
personalidades mais importantes da Revolução Francesa. Os seus apoiadores
chamavam-lhe de “O Incorruptível”. Principal membro dos Montanha durante a
Convenção, ele encarnou a tendência mais radical da Revolução,
transformando-se numa das figuras mais controversas deste período. Os seus
críticos chamavam-lhe o “Candeia de Arras”, “Tirano” e “Ditador sanguinário”
durante o Período do Terror.
25 Jacques-Nicolas Billaud-Varenne (23 de abril de 1756 – 3 de junho de
1819), também conhecido como Jean Nicolas, foi uma personalidade francesa do
período revolucionário. Embora não fosse uma das figuras mais conhecidas da
Revolução Francesa, Jacques Nicolas Billaud-Varenne foi uma figura instrumental
do período conhecido como o Reinado do Terror. Billaud-Varenne subiu a
hierarquia do poder durante esse período, tornando-se um dos membros mais
militantes do Comitê de Segurança Pública.
26 Louis-Michel le Peletier, Marquês de Saint-Fargeau (às vezes soletrado
Lepeletier; 29 de maio de 1760 – 20 de janeiro de 1793) foi um político francês e
mártir da Revolução Francesa.
27 Louis Jean Joseph Charles Blanc (Madrid, 29 de outubro de 1811 –
Cannes, 6 de dezembro de 1882) foi um socialista francês. Teve importante
participação na Revolução de 1848, quando suas ideias foram colocadas em
prática devido à associação entre liberais e socialistas, na tentativa de derrubar
a monarquia. Eis elas: seriam criadas associações profissionais de trabalhadores
de um mesmo ramo de produção, as Oficinas Nacionais, financiadas pelo
Estado. O lucro seria dividido entre o Estado, os associados e para fins
assistenciais.
28 Victor Prosper Considerant foi um filósofo e economista politécnico
francês, adepto do fourierismo. Foi sem dúvida o mais influente dos discípulos
de Fourier e o principal expoente da escola fourierista.
29 Marie Joseph Louis Adolphe Thiers (Bouc-Bel-Air, 15 de abril de 1797 –
Saint-Germain-en-Laye, 3 de setembro de 1877) foi um político francês e
historiador que serviu como Presidente da França de 1870 até 1873, o primeiro
da Terceira República Francesa. Antes disso ele tinha sido duas vezes Primeiro-
Ministro em 1836 e 1840 durante o reinado do rei Luís Filipe I.
30 Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine (Mâcon, 21 de outubro de
1790 – Paris, 28 de fevereiro de 1869) foi um escritor, poeta e político francês.
Foi fundamental na fundação da Segunda República e na manutenção da tricolor
como bandeira da França.
31 Nota da Edição francesa: A economia política precede a política; a política
diz se os interesses humanos são naturalmente harmoniosos ou antagônicos;
este último deve sabê-lo antes de fixar os poderes de governo.
32 Pierre Laurent Barthélemy François Charles de Saint-Cricq (24 de
agosto de 1772 – 25 de fevereiro de 1854) era um administrador e político
alfandegário francês. Ele foi deputado de 1815-20 e 1824-33, Ministro do
Comércio e Indústria (1828-29) e um dos pariatos da França.
33 Jacques de Vaucanson (Grenoble, 24 de fevereiro de 1709 – 21 de
novembro de 1782) foi um inventor e artista francês que criou vários autômatos
inovadores. Sua obra mais conhecida foi um pato mecânico que parecia comer
grãos, digeri-los e defeca-los.
Original em Francês

LA LOI [1]

La loi pervertie ! La loi — et à sa suite toutes les forces


collectives de la nation, — la Loi, dis-je, non seulement
détournée de son but, mais appliquée à poursuivre un but
directement contraire ! La Loi devenue l’instrument de
toutes les cupidités, au lieu d’en être le frein ! La Loi
accomplissant elle-même l’iniquité qu’elle avait pour
mission de punir ! Certes, c’est là un fait grave, s’il existe, et
sur lequel il doit m’être permis d’appeler l’attention de mes
concitoyens.
Nous tenons de Dieu le don qui pour nous les renferme tous,
la Vie, — la vie physique, intellectuelle et morale.
Mais la vie ne se soutient pas d’elle-même. Celui qui nous
l’a donnée nous a laissé le soin de l’entretenir, de la
développer, de la perfectionner.
Pour cela, il nous a pourvus d’un ensemble de Facultés
merveilleuses ; il nous a plongés dans un milieu d’éléments
divers. C’est par l’application de nos facultés à ces éléments
que se réalise le phénomène de l’Assimilation , de
l’Appropriation , par lequel la vie parcourt le cercle qui lui a
été assigné.
Existence, Facultés, Assimilation — en d’autres termes,
Personnalité, Liberté, Propriété, — voilà l’homme.
C’est de ces trois choses qu’on peut dire, en dehors de
toute subtilité démagogique, qu’elles sont antérieures et
supérieures à toute législation humaine.
Ce n’est pas parce que les hommes ont édicté des Lois que
la Personnalité, la Liberté et la Propriété existent. Au
contraire, c’est parce que la Personnalité, la Liberté et la
Propriété préexistent que les hommes font des Lois.
Qu’est-ce donc que la Loi ? Ainsi que je l’ai dit ailleurs, c’est
l’organisation collective du Droit individuel de légitime
défense [2] .
Chacun de nous tient certainement de la nature, de Dieu, le
droit de défendre sa Personne, sa Liberté, sa Propriété,
puisque ce sont les trois éléments constitutifs ou
conservateurs de la Vie, éléments qui se complètent l’un
par l’autre et ne se peuvent comprendre l’un sans l’autre.
Car que sont nos Facultés, sinon un prolongement de notre
Personnalité, et qu’est-ce que la Propriété si ce n’est un
prolongement de nos Facultés ?
Si chaque homme a le droit de défendre, même par la force,
sa Personne, sa Liberté, sa Propriété, plusieurs hommes ont
le Droit de se concerter, de s’entendre, d’organiser une
Force commune pour pourvoir régulièrement à cette
défense.
Le Droit collectif a donc son principe, sa raison d’être, sa
légitimité dans le Droit individuel ; et la Force commune ne
peut avoir rationnellement d’autre but, d’autre mission que
les forces isolées auxquelles elle se substitue.
Ainsi, comme la Force d’un individu ne peut légitimement
attenter à la Personne, à la Liberté, à la Propriété d’un autre
individu, par la même raison la Force commune ne peut être
légitimement appliquée à détruire la Personne, la Liberté, la
Propriété des individus ou des classes.
Car cette perversion de la Force serait, en un cas comme
dans l’autre, en contradiction avec nos prémisses. Qui osera
dire que la Force nous a été donnée non pour défendre nos
Droits, mais pour anéantir les Droits égaux de nos frères ?
Et si cela n’est pas vrai de chaque force individuelle,
agissant isolément, comment cela serait-il vrai de la force
collective, qui n’est que l’union organisée des forces isolées
?
Donc, s’il est une chose évidente, c’est celle-ci : La Loi, c’est
l’organisation du Droit naturel de légitime défense ; c’est la
substitution de la force collective aux forces individuelles,
pour agir dans le cercle où celles-ci ont le droit d’agir, pour
faire ce que celles-ci ont le droit de faire, pour garantir les
Personnes, les Libertés, les Propriétés, pour maintenir
chacun dans son Droit, pour faire régner entre tous la
Justice .
Et s’il existait un peuple constitué sur cette base, il me
semble que l’ordre y prévaudrait dans les faits comme dans
les idées. Il me semble que ce peuple aurait le
gouvernement le plus simple, le plus économique, le moins
lourd, le moins senti, le moins responsable, le plus juste, et
par conséquent le plus solide qu’on puisse imaginer, quelle
que fût d’ailleurs sa forme politique.
Car, sous un tel régime, chacun comprendrait bien qu’il a
toute la plénitude comme toute la responsabilité de son
Existence. Pourvu que la personne fût respectée, le travail
libre et les fruits du travail garantis contre toute injuste
atteinte, nul n’aurait rien à démêler avec l’État. Heureux,
nous n’aurions pas, il est vrai, à le remercier de nos succès ;
mais malheureux, nous ne nous en prendrions pas plus à lui
de nos revers que nos paysans ne lui attribuent la grêle ou
la gelée. Nous ne le connaîtrions que par l’inestimable
bienfait de la Sûreté .
On peut affirmer encore que, grâce à la non-intervention de
l’État dans des affaires privées, les Besoins et les
Satisfactions se développeraient dans l’ordre naturel. On ne
verrait point les familles pauvres chercher l’instruction
littéraire avant d’avoir du pain. On ne verrait point la ville se
peupler aux dépens des campagnes, ou les campagnes aux
dépens des villes. On ne verrait pas ces grands
déplacements de capitaux, de travail, de population,
provoqués par des mesures législatives, déplacements qui
rendent si incertaines et si précaires les sources mêmes de
l’existence, et aggravent par là, dans une si grande mesure,
la responsabilité des gouvernements.
Par malheur, il s’en faut que la Loi se soit renfermée dans
son rôle. Même il s’en faut qu’elle ne s’en soit écartée que
dans des vues neutres et discutables. Elle a fait pis : elle a
agi contrairement à sa propre fin ; elle a détruit son propre
but ; elle s’est appliquée à anéantir cette Justice qu’elle
devait faire régner, à effacer, entre les Droits, cette limite
que sa mission était de faire respecter ; elle a mis la force
collective au service de ceux qui veulent exploiter, sans
risque et sans scrupule, la Personne, la Liberté ou la
Propriété d’autrui ; elle a converti la Spoliation en Droit,
pour la protéger, et la légitime défense en crime, pour la
punir.
Comment cette perversion de la Loi s’est-elle accomplie ?
Quelles en ont été les conséquences ?
La Loi s’est pervertie sous l’influence de deux causes bien
différentes : l’égoïsme inintelligent et la fausse
philanthropie.
Parlons de la première.
Se conserver, se développer, c’est l’aspiration commune à
tous les hommes, de telle sorte que si chacun jouissait du
libre exercice de ses facultés et de la libre disposition de
leurs produits, le progrès social serait incessant,
ininterrompu, infaillible.
Mais il est une autre disposition qui leur est aussi commune.
C’est de vivre et de se développer, quand ils le peuvent, aux
dépens les uns des autres. Ce n’est pas là une imputation
hasardée, émanée d’un esprit chagrin et pessimiste.
L’histoire en rend témoignage par les guerres incessantes,
les migrations de peuples, les oppressions sacerdotales,
l’universalité de l’esclavage, les fraudes industrielles et les
monopoles dont ses annales sont remplies.
Cette disposition funeste prend naissance dans la
constitution même de l’homme, dans ce sentiment primitif,
universel, invincible, qui le pousse vers le bien-être et lui
fait fuir la douleur.
L’homme ne peut vivre et jouir que par une assimilation,
une appropriation perpétuelle, c’est-à-dire par une
perpétuelle application de ses facultés sur les choses, ou
par le travail. De là la Propriété.
Mais, en fait, il peut vivre et jouir en s’assimilant, en
s’appropriant le produit des facultés de son semblable. De là
la Spoliation.
Or, le travail étant en lui-même une peine, et l’homme étant
naturellement porté à fuir la peine, il s’ensuit, l’histoire est
là pour le prouver, que partout où la spoliation est moins
onéreuse que le travail, elle prévaut ; elle prévaut sans que
ni religion ni morale puissent, dans ce cas, l’empêcher.
Quand donc s’arrête la spoliation ? Quand elle devient plus
onéreuse, plus dangereuse que le travail.
Il est bien évident que la Loi devrait avoir pour but
d’opposer le puissant obstacle de la force collective à cette
funeste tendance ; qu’elle devrait prendre parti pour la
propriété contre la Spoliation.
Mais la Loi est faite, le plus souvent, par un homme ou par
une classe d’hommes. Et la Loi n’existant point sans
sanction, sans l’appui d’une force prépondérante, il ne se
peut pas qu’elle ne mette en définitive cette force aux
mains de ceux qui légifèrent.
Ce phénomène inévitable, combiné avec le funeste
penchant que nous avons constaté dans le cœur de
l’homme, explique la perversion à peu près universelle de la
Loi. On conçoit comment, au lieu d’être un frein à l’injustice,
elle devient un instrument et le plus invincible instrument
d’injustice. On conçoit que, selon la puissance du
législateur, elle détruit, à son profit, et à divers degrés, chez
le reste des hommes, la Personnalité par l’esclavage, la
Liberté par l’oppression, la Propriété par la spoliation.
Il est dans la nature des hommes de réagir contre l’iniquité
dont ils sont victimes. Lors donc que la Spoliation est
organisée par la Loi, au profit des classes qui la font, toutes
les classes spoliées tendent, par des voies pacifiques ou par
des voies révolutionnaires, à entrer pour quelque chose
dans la confection des Lois. Ces classes, selon le degré de
lumière où elles sont parvenues, peuvent se proposer deux
buts bien différents quand elles poursuivent ainsi la
conquête de leurs droits politiques : ou elles veulent faire
cesser la spoliation légale, ou elles aspirent à y prendre
part.
Malheur, trois fois malheur aux nations où cette dernière
pensée domine dans les masses, au moment où elles
s’emparent à leur tour de la puissance législative !
Jusqu’à cette époque la spoliation légale s’exerçait par le
petit nombre sur le grand nombre, ainsi que cela se voit
chez les peuples où le droit de légiférer est concentré en
quelques mains. Mais le voilà devenu universel, et l’on
cherche l’équilibre dans la spoliation universelle. Au lieu
d’extirper ce que la société contenait d’injustice, on la
généralise. Aussitôt que les classes déshéritées ont
recouvré leurs droits politiques, la première pensée qui les
saisit n’est pas de se délivrer de la spoliation (cela
supposerait en elles des lumières qu’elles ne peuvent avoir),
mais d’organiser, contre les autres classes et à leur propre
détriment, un système de représailles, — comme s’il fallait,
avant que le règne de la justice arrive, qu’une cruelle
rétribution vînt les frapper toutes, les unes à cause de leur
iniquité, les autres à cause de leur ignorance.
Il ne pouvait donc s’introduire dans la Société un plus grand
changement et un plus grand malheur que celui-là : la Loi
convertie en instrument de spoliation.
Quelles sont les conséquences d’une telle perturbation ? Il
faudrait des volumes pour les décrire toutes. Contentons-
nous d’indiquer les plus saillantes.
La première, c’est d’effacer dans les consciences la notion
du juste et de l’injuste.
Aucune société ne peut exister si le respect des Lois n’y
règne à quelque degré ; mais le plus sûr, pour que les lois
soient respectées, c’est qu’elles soient respectables. Quand
la Loi et la Morale sont en contradiction, le citoyen se trouve
dans la cruelle alternative ou de perdre la notion de Morale
ou de perdre le respect de la Loi, deux malheurs aussi
grands l’un que l’autre et entre lesquels il est difficile de
choisir.
Il est tellement de la nature de la Loi de faire régner la
Justice, que Loi et Justice, c’est tout un, dans l’esprit des
masses. Nous avons tous une forte disposition à regarder ce
qui est légal comme légitime, à ce point qu’il y en a
beaucoup qui font découler faussement toute justice de la
Loi. Il suffit donc que la Loi ordonne et consacre la Spoliation
pour que la spoliation semble juste et sacrée à beaucoup de
consciences. L’esclavage, la restriction, le monopole
trouvent des défenseurs non seulement dans ceux qui en
profitent, mais encore dans ceux qui en souffrent. Essayez
de proposer quelques doutes sur la moralité de ces
institutions. « Vous êtes, dira-t-on, un novateur dangereux,
un utopiste, un théoricien, un contempteur des lois ; vous
ébranlez la base sur laquelle repose la société. » Faites-vous
un cours de morale, ou d’économie politique ? Il se trouvera
des corps officiels pour faire parvenir au gouvernement ce
vœu :
« QUE LA SCIENCE SOIT DÉSORMAIS ENSEIGNÉE, NON PLUS
AU SEUL POINT DE VUE DU LIBRE-ÉCHANGE (DE LA LIBERTÉ,
DE LA PROPRIÉTÉ, DE LA JUSTICE), AINSI QUE CELA A EU
LIEU JUSQU’ICI, MAIS AUSSI ET SURTOUT AU POINT DE VUE
DES FAITS ET DE LA LÉGISLATION (CONTRAIRE À LA LIBERTÉ,
À LA PROPRIÉTÉ, À LA JUSTICE) QUI RÉGIT L’INDUSTRIE
FRANÇAISE. »
« QUE, DANS LES CHAIRES PUBLIQUES SALARIÉES PAR LE
TRÉSOR, LE PROFESSEUR S’ABSTIENNE RIGOUREUSEMENT
DE PORTER LA MOINDRE ATTEINTE AU RESPECT DÛ AUX
LOIS EN VIGUEUR [3] , ETC. »
En sorte que s’il existe une loi qui sanctionne l’esclavage ou
le monopole, l’oppression ou la spoliation sous une forme
quelconque, il ne faudra pas même en parler ; car comment
en parler sans ébranler le respect qu’elle inspire ? Bien plus,
il faudra enseigner la morale et l’économie politique au
point de vue de cette loi, c’est-à-dire sur la supposition
qu’elle est juste par cela seul qu’elle est Loi.
Un autre effet de cette déplorable perversion de la Loi, c’est
de donner aux passions et aux luttes politiques, et, en
général, à la politique proprement dite, une prépondérance
exagérée.
Je pourrais prouver cette proposition de mille manières. Je
me bornerai, par voie d’exemple, à la rapprocher du sujet
qui a récemment occupé tous les esprits : le suffrage
universel.
Quoi qu’en pensent les adeptes de l’École de Rousseau,
laquelle se dit très avancée et que je crois reculée de vingt
siècles, le suffrage universel (en prenant ce mot dans son
acception rigoureuse) n’est pas un de ces dogmes sacrés, à
l’égard desquels l’examen et le doute même sont des
crimes.
On peut lui opposer de graves objections.
D’abord le mot universel cache un grossier sophisme. Il y a
en France trente-six millions d’habitants. Pour que le droit
de suffrage fût universel, il faudrait qu’il fût reconnu à
trente-six millions d’électeurs. Dans le système le plus
large, on ne le reconnaît qu’à neuf millions. Trois personnes
sur quatre sont donc exclues et, qui plus est, elles le sont
par cette quatrième. Sur quel principe se fonde cette
exclusion ? sur le principe de l’Incapacité. Suffrage universel
veut dire : suffrage universel des capables. Restent ces
questions de fait : quels sont les capables ? l’âge, le sexe,
les condamnations judiciaires sont-ils les seuls signes
auxquels on puisse reconnaître l’incapacité ?
Si l’on y regarde de près, on aperçoit bien vite le motif pour
lequel le droit de suffrage repose sur la présomption de
capacité, le système le plus large ne différant à cet égard du
plus restreint que par l’appréciation des signes auxquels
cette capacité peut se reconnaître, ce qui ne constitue pas
une différence de principe, mais de degré.
Ce motif, c’est que l’électeur ne stipule pas pour lui, mais
pour tout le monde.
Si, comme le prétendent les républicains de la teinte
grecque et romaine, le droit de suffrage nous était échu
avec la vie, il serait inique aux adultes d’empêcher les
femmes et les enfants de voter. Pourquoi les empêche-t-on ?
Parce qu’on les présume incapables. Et pourquoi l’Incapacité
est-elle un motif d’exclusion ? Parce que l’électeur ne
recueille pas seul la responsabilité de son vote ; parce que
chaque vote engage et affecte la communauté tout entière ;
parce que la communauté a bien le droit d’exiger quelques
garanties, quant aux actes d’où dépendent son bien-être et
son existence.
Je sais ce qu’on peut répondre. Je sais aussi ce qu’on
pourrait répliquer. Ce n’est pas ici le lieu d’épuiser une telle
controverse. Ce que je veux faire observer, c’est que cette
controverse même (aussi bien que la plupart des questions
politiques) qui agite, passionne et bouleverse les peuples,
perdrait presque toute son importance, si la Loi avait
toujours été ce qu’elle devrait être.
En effet, si la Loi se bornait à faire respecter toutes les
Personnes, toutes les Libertés, toutes les Propriétés, si elle
n’était que l’organisation du Droit individuel de légitime
défense, l’obstacle, le frein, le châtiment opposé à toutes
les oppressions, à toutes les spoliations, croit-on que nous
nous disputerions beaucoup, entre citoyens, à propos du
suffrage plus ou moins universel ? Croit-on qu’il mettrait en
question le plus grand des biens, la paix publique ? Croit-on
que les classes exclues n’attendraient pas paisiblement leur
tour ? Croit-on que les classes admises seraient très
jalouses de leur privilége ? Et n’est-il pas clair que l’intérêt
étant identique et commun, les uns agiraient, sans grand
inconvénient, pour les autres ?
Mais que ce principe funeste vienne à s’introduire, que, sous
prétexte d’organisation, de réglementation, de protection,
d’encouragement, la Loi peut prendre aux uns pour donner
aux autres , puiser dans la richesse acquise par toutes les
classes pour augmenter celle d’une classe, tantôt celle des
agriculteurs, tantôt celle des manufacturiers, des
négociants, des armateurs, des artistes, des comédiens ; oh
! certes, en ce cas, il n’y a pas de classe qui ne prétende,
avec raison, mettre, elle aussi, la main sur la Loi ; qui ne
revendique avec fureur son droit d’élection et d’éligibilité ;
qui ne bouleverse la société plutôt que de ne pas l’obtenir.
Les mendiants et les vagabonds eux-mêmes vous
prouveront qu’ils ont des titres incontestables. Ils vous
diront : « Nous n’achetons jamais de vin, de tabac, de sel,
sans payer l’impôt, et une part de cet impôt est donnée
législativement en primes, en subventions à des hommes
plus riches que nous. D’autres font servir la Loi à élever
artificiellement le prix du pain, de la viande, du fer, du drap.
Puisque chacun exploite la Loi à son profit, nous voulons
l’exploiter aussi. Nous voulons en faire sortir le Droit à
l’assistance , qui est la part de spoliation du pauvre. Pour
cela, il faut que nous soyons électeurs et législateurs, afin
que nous organisions en grand l’Aumône pour notre classe,
comme vous avez organisé en grand la Protection pour la
vôtre. Ne nous dites pas que vous nous ferez notre part, que
vous nous jetterez, selon la proposition de M. Mimerel, une
somme de 600 000 francs pour nous faire taire et comme
un os à ronger. Nous avons d’autres prétentions et, en tout
cas, nous voulons stipuler pour nous-mêmes comme les
autres classes ont stipulé pour elles-mêmes ! »
Que peut-on répondre à cet argument ? Oui, tant qu’il sera
admis en principe que la Loi peut être détournée de sa vraie
mission, qu’elle peut violer les propriétés au lieu de les
garantir, chaque classe voudra faire la Loi, soit pour se
défendre contre la spoliation, soit pour l’organiser aussi à
son profit. La question politique sera toujours préjudicielle,
dominante, absorbante ; en un mot, on se battra à la porte
du Palais législatif. La lutte ne sera pas moins acharnée au-
dedans. Pour en être convaincu, il est à peine nécessaire de
regarder ce qui se passe dans les Chambres en France et en
Angleterre ; il suffit de savoir comment la question y est
posée.
Est-il besoin de prouver que cette odieuse perversion de la
Loi est une cause perpétuelle de haine, de discorde,
pouvant aller jusqu’à la désorganisation sociale ? Jetez les
yeux sur les États-Unis. C’est le pays du monde où la Loi
reste le plus dans son rôle, qui est de garantir à chacun sa
liberté et sa propriété. Aussi c’est le pays du monde où
l’ordre social paraît reposer sur les bases les plus stables.
Cependant, aux États-Unis même, il est deux questions, et il
n’en est que deux, qui, depuis l’origine, ont mis plusieurs
fois l’ordre politique en péril. Et quelles sont ces deux
questions ? Celle de l’Esclavage et celle des Tarifs, c’est-à-
dire précisément les deux seules questions où,
contrairement à l’esprit général de cette république, la Loi a
pris le caractère spoliateur. L’Esclavage est une violation,
sanctionnée par la loi, des droits de la Personne. La
Protection est une violation, perpétrée par la loi, du droit de
Propriété ; et certes, il est bien remarquable qu’au milieu de
tant d’autres débats, ce double fléau légal , triste héritage
de l’ancien monde, soit le seul qui puisse amener et
amènera peut-être la rupture de l’Union. C’est qu’en effet
on ne saurait imaginer, au sein d’une société, un fait plus
considérable que celui-ci : La Loi devenue un instrument
d’injustice . Et si ce fait engendre des conséquences si
formidables aux États-Unis, où il n’est qu’une exception, que
doit-ce être dans notre Europe, où il est un Principe, un
Système ?
M. de Montalembert, s’appropriant la pensée d’une
proclamation fameuse de M. Carlier, disait : Il faut faire la
guerre au Socialisme. — Et par Socialisme, il faut croire que,
selon la définition de M. Charles Dupin, il désignait la
Spoliation.
Mais de quelle Spoliation voulait-il parler ? Car il y en a de
deux sortes. Il y a la spoliation extra -légale et la spoliation
légale .
Quant à la spoliation extra-légale, celle qu’on appelle vol,
escroquerie, celle qui est définie, prévue et punie par le
Code pénal, en vérité, je ne pense pas qu’on la puisse
décorer du nom de Socialisme. Ce n’est pas celle qui
menace systématiquement la société dans ses bases.
D’ailleurs, la guerre contre ce genre de spoliation n’a pas
attendu le signal de M. de Montalembert ou de M. Carlier.
Elle se poursuit depuis le commencement du monde ; la
France y avait pourvu, dès longtemps avant la révolution de
février, dès longtemps avant l’apparition du Socialisme, par
tout un appareil de magistrature, de police, de gendarmerie,
de prisons, de bagnes et d’échafauds. C’est la Loi elle-
même qui conduit cette guerre, et ce qui serait, selon moi, à
désirer, c’est que la Loi gardât toujours cette attitude à
l’égard de la Spoliation.
Mais il n’en est pas ainsi. La Loi prend quelquefois parti pour
elle. Quelquefois elle l’accomplit de ses propres mains, afin
d’en épargner au bénéficiaire la honte, le danger et le
scrupule. Quelquefois elle met tout cet appareil de
magistrature, police, gendarmerie et prison au service du
spoliateur, et traite en criminel le spolié qui se défend. En
un mot, il y a la spoliation légale , et c’est de celle-là sans
doute que parle M. de Montalembert.
Cette spoliation peut n’être, dans la législation d’un peuple,
qu’une tache exceptionnelle et, dans ce cas, ce qu’il y a de
mieux à faire, sans tant de déclamations et de jérémiades,
c’est de l’y effacer le plus tôt possible, malgré les clameurs
des intéressés. Comment la reconnaître ? C’est bien simple.
Il faut examiner si la Loi prend aux uns ce qui leur
appartient pour donner aux autres ce qui ne leur appartient
pas. Il faut examiner si la Loi accomplit, au profit d’un
citoyen et au détriment des autres, un acte que ce citoyen
ne pourrait accomplir lui-même sans crime. Hâtez-vous
d’abroger cette Loi ; elle n’est pas seulement une iniquité,
elle est une source féconde d’iniquités ; car elle appelle les
représailles, et si vous n’y prenez garde, le fait exceptionnel
s’étendra, se multipliera et deviendra systématique. Sans
doute, le bénéficiaire jettera les hauts cris ; il invoquera les
droits acquis . Il dira que l’État doit Protection et
Encouragement à son industrie ; il alléguera qu’il est bon
que l’État l’enrichisse, parce qu’étant plus riche il dépense
davantage, et répand ainsi une pluie de salaires sur les
pauvres ouvriers. Gardez-vous d’écouter ce sophiste, car
c’est justement par la systématisation de ces arguments
que se systématisera la spoliation légale .
C’est ce qui est arrivé. La chimère du jour est d’enrichir
toutes les classes aux dépens les unes des autres ; c’est de
généraliser la Spoliation sous prétexte de l’organiser. Or, la
spoliation légale peut s’exercer d’une multitude infinie de
manières ; de là une multitude infinie de plans
d’organisation : tarifs, protection, primes, subventions,
encouragements, impôt progressif, instruction gratuite,
Droit au travail, Droit au profit, Droit au salaire, Droit à
l’assistance, Droit aux instruments de travail, gratuité du
crédit, etc., etc. Et c’est l’ensemble de tous ces plans, en ce
qu’ils ont de commun, la spoliation légale, qui prend le nom
de Socialisme.
Or le Socialisme, ainsi défini, formant un corps de doctrine,
quelle guerre voulez-vous lui faire, si ce n’est une guerre de
doctrine ? Vous trouvez cette doctrine fausse, absurde,
abominable. Réfutez-la. Cela vous sera d’autant plus aisé
qu’elle est plus fausse, plus absurde, plus abominable.
Surtout, si vous voulez être fort, commencez par extirper de
votre législation tout ce qui a pu s’y glisser de Socialisme, —
et l’œuvre n’est pas petite.
On a reproché à M. de Montalembert de vouloir tourner
contre le Socialisme la force brutale. C’est un reproche dont
il doit être exonéré, car il a dit formellement : Il faut faire au
Socialisme la guerre qui est compatible avec la loi,
l’honneur et la justice.
Mais comment M. de Montalembert ne s’aperçoit-il pas qu’il
se place dans un cercle vicieux ? Vous voulez opposer au
Socialisme la Loi ? Mais précisément le Socialisme invoque
la Loi. Il n’aspire pas à la spoliation extra-légale, mais à la
spoliation légale. C’est de la Loi même, à l’instar des
monopoleurs de toute sorte, qu’il prétend se faire un
instrument ; et une fois qu’il aura la Loi pour lui, comment
voulez-vous tourner la Loi contre lui ? Comment voulez-vous
le placer sous le coup de vos tribunaux, de vos gendarmes,
de vos prisons ?
Aussi que faites-vous ? Vous voulez l’empêcher de mettre la
main à la confection des Lois. Vous voulez le tenir en dehors
du Palais législatif. Vous n’y réussirez pas, j’ose vous le
prédire, tandis qu’au-dedans on légiférera sur le principe de
la Spoliation légale. C’est trop inique, c’est trop absurde.
Il faut absolument que cette question de Spoliation légale se
vide, et il n’y a que trois solutions.
Que le petit nombre spolie le grand nombre.
Que tout le monde spolie tout le monde.
Que personne ne spolie personne.
Spoliation partielle, Spoliation universelle, absence de
Spoliation, il faut choisir. La Loi ne peut poursuivre qu’un de
ces trois résultats.
Spoliation partielle , — c’est le système qui a prévalu tant
que l’électorat a été partiel, système auquel on revient pour
éviter l’invasion du Socialisme.
Spoliation universelle , — c’est le système dont nous avons
été menacés quand l’électorat est devenu universel, la
masse ayant conçu l’idée de légiférer sur le principe des
législateurs qui l’ont précédée.
Absence de Spoliation, — c’est le principe de justice, de
paix, d’ordre, de stabilité, de conciliation, de bon sens que
je proclamerai de toute la force, hélas ! bien insuffisante, de
mes poumons, jusqu’à mon dernier souffle.
Et, sincèrement, peut-on demander autre chose à la Loi ? La
Loi, ayant pour sanction nécessaire la Force, peut-elle être
raisonnablement employée à autre chose qu’à maintenir
chacun dans son Droit ? Je défie qu’on la fasse sortir de ce
cercle, sans la tourner, et, par conséquent, sans tourner la
Force contre le Droit. Et comme c’est là la plus funeste, la
plus illogique perturbation sociale qui se puisse imaginer, il
faut bien reconnaître que la véritable solution, tant
cherchée, du problème social est renfermée dans ces
simples mots : la Loi, c’est la Justice Organisée.
Or, remarquons-le bien : organiser la Justice par la Loi, c’est-
à-dire par la Force, exclut l’idée d’organiser par la Loi ou par
la Force une manifestation quelconque de l’activité humaine
: Travail, Charité, Agriculture, Commerce, Industrie,
Instruction, Beaux-Arts, Religion ; car il n’est pas possible
qu’une de ces organisations secondaires n’anéantisse
l’organisation essentielle. Comment imaginer, en effet, la
Force entreprenant sur la Liberté des citoyens, sans porter
atteinte à la Justice, sans agir contre son propre but ?
Ici je me heurte au plus populaire des préjugés de notre
époque. On ne veut pas seulement que la Loi soit juste ; on
veut encore qu’elle soit philanthropique. On ne se contente
pas qu’elle garantisse à chaque citoyen le libre et inoffensif
exercice de ses facultés, appliquées à son développement
physique, intellectuel et moral ; on exige d’elle qu’elle
répande directement sur la nation le bien-être, l’instruction
et la moralité. C’est le côté séduisant du Socialisme.
Mais, je le répète, ces deux missions de la Loi se
contredisent. Il faut opter. Le citoyen ne peut en même
temps être libre et ne l’être pas. M. de Lamartine m’écrivait
un jour : « Votre doctrine n’est que la moitié de mon
programme ; vous en êtes resté à la Liberté, j’en suis à la
Fraternité. » Je lui répondis : « La seconde moitié de votre
programme détruira la première. » Et, en effet, il m’est tout
à fait impossible de séparer le mot fraternité du mot
volontaire . Il m’est tout à fait impossible de concevoir la
Fraternité légalement forcée, sans que la Liberté soit
légalement détruite, et la Justice légalement foulée aux
pieds.
La Spoliation légale a deux racines : l’une, nous venons de
le voir, est dans l’Égoïsme humain ; l’autre est dans la
fausse Philanthropie.
Avant d’aller plus loin, je crois devoir m’expliquer sur le mot
Spoliation.
Je ne le prends pas, ainsi qu’on le fait trop souvent, dans
une acception vague, indéterminée, approximative,
métaphorique : je m’en sers au sens tout à fait scientifique,
et comme exprimant l’idée opposée à celle de la Propriété.
Quand une portion de richesses passe de celui qui l’a
acquise, sans son consentement et sans compensation, à
celui qui ne l’a pas créée, que ce soit par force ou par ruse,
je dis qu’il y a atteinte à la Propriété, qu’il y a Spoliation. Je
dis que c’est là justement ce que la Loi devrait réprimer
partout et toujours. Que si la Loi accomplit elle-même l’acte
qu’elle devrait réprimer, je dis qu’il n’y a pas moins
Spoliation, et même, socialement parlant, avec circonstance
aggravante. Seulement, en ce cas, ce n’est pas celui qui
profite de la Spoliation qui en est responsable, c’est la Loi,
c’est le législateur, c’est la société, et c’est ce qui en fait le
danger politique.
Il est fâcheux que ce mot ait quelque chose de blessant. J’en
ai vainement cherché un autre, car en aucun temps, et
moins aujourd’hui que jamais, je ne voudrais jeter au milieu
de nos discordes une parole irritante. Aussi, qu’on le croie
ou non, je déclare que je n’entends accuser les intentions ni
la moralité de qui que ce soit. J’attaque une idée que je crois
fausse, un système qui me semble injuste, et cela tellement
en dehors des intentions, que chacun de nous en profite
sans le vouloir et en souffre sans le savoir. Il faut écrire sous
l’influence de l’esprit de parti ou de la peur pour révoquer
en doute la sincérité du Protectionnisme, du Socialisme et
même du Communisme, qui ne sont qu’une seule et même
plante, à trois périodes diverses de sa croissance. Tout ce
qu’on pourrait dire, c’est que la Spoliation est plus visible,
par sa partialité, dans le Protectionnisme [4] , par son
universalité, dans le Communisme ; d’où il suit que des trois
systèmes le Socialisme est encore le plus vague, le plus
indécis, et par conséquent le plus sincère.
Quoi qu’il en soit, convenir que la spoliation légale a une de
ses racines dans la fausse philanthropie, c’est mettre
évidemment les intentions hors de cause.
Ceci entendu, examinons ce que vaut, d’où vient et où
aboutit cette aspiration populaire qui prétend réaliser le
Bien général par la Spoliation générale.
Les socialistes nous disent : puisque la Loi organise la
justice, pourquoi n’organiserait-elle pas le travail,
l’enseignement, la religion ?
Pourquoi ? Parce qu’elle ne saurait organiser le travail,
l’enseignement, la religion, sans désorganiser la Justice.
Remarquez donc que la Loi, c’est la Force, et que, par
conséquent, le domaine de la Loi ne saurait dépasser
légitimement le légitime domaine de la Force.
Quand la loi et la Force retiennent un homme dans la
Justice, elles ne lui imposent rien qu’une pure négation.
Elles ne lui imposent que l’abstention de nuire. Elles
n’attentent ni à sa Personnalité, ni à sa Liberté, ni à sa
Propriété. Seulement elles sauvegardent la Personnalité, la
Liberté et la Propriété d’autrui. Elles se tiennent sur la
défensive ; elles défendent le Droit égal de tous. Elles
remplissent une mission dont l’innocuité est évidente,
l’utilité palpable, et la légitimité incontestée.
Cela est si vrai qu’ainsi qu’un de mes amis me le faisait
remarquer, dire que le but de la Loi est de faire régner la
Justice, c’est se servir d’une expression qui n’est pas
rigoureusement exacte. Il faudrait dire : Le but de la Loi est
d’empêcher l’Injustice de régner. En effet, ce n’est pas la
Justice qui a une existence propre, c’est l’Injustice. L’une
résulte de l’absence de l’autre.
Mais quand la Loi, — par l’intermédiaire de son agent
nécessaire, la Force, — impose un mode de travail, une
méthode ou une matière d’enseignement, une foi ou un
culte, ce n’est plus négativement, c’est positivement qu’elle
agit sur les hommes. Elle substitue la volonté du législateur
à leur propre volonté, l’initiative du législateur à leur propre
initiative. Ils n’ont plus à se consulter, à comparer, à prévoir
; la Loi fait tout cela pour eux. L’intelligence leur devient un
meuble inutile ; ils cessent d’être hommes ; ils perdent leur
Personnalité, leur Liberté, leur Propriété.
Essayez d’imaginer une forme de travail imposée par la
Force, qui ne soit une atteinte à la Liberté ; une
transmission de richesse imposée par la Force, qui ne soit
une atteinte à la Propriété. Si vous n’y parvenez pas,
convenez donc que la Loi ne peut organiser le travail et
l’industrie sans organiser l’Injustice.
Lorsque, du fond de son cabinet, un publiciste promène ses
regards sur la société, il est frappé du spectacle d’inégalité
qui s’offre à lui. Il gémit sur les souffrances qui sont le lot
d’un si grand nombre de nos frères, souffrances dont
l’aspect est rendu plus attristant encore par le contraste du
luxe et de l’opulence.
Il devrait peut-être se demander si un tel état social n’a pas
pour cause d’anciennes Spoliations, exercées par voie de
conquête, et des Spoliations nouvelles, exercées par
l’intermédiaire des Lois. Il devrait se demander si,
l’aspiration de tous les hommes vers le bien-être et le
perfectionnement étant donnée, le règne de la justice ne
suffit pas pour réaliser la plus grande activité de Progrès et
la plus grande somme d’Égalité, compatibles avec cette
responsabilité individuelle que Dieu a ménagée comme
juste rétribution des vertus et des vices.
Il n’y songe seulement pas. Sa pensée se porte vers des
combinaisons, des arrangements, des organisations légales
ou factices. Il cherche le remède dans la perpétuité et
l’exagération de ce qui a produit le mal.
Car, en dehors de la Justice, qui, comme nous l’avons vu,
n’est qu’une véritable négation, est-il aucun de ces
arrangements légaux qui ne renferme le principe de la
Spoliation ?
Vous dites : « Voilà des hommes qui manquent de richesses,
» — et vous vous adressez à la Loi. Mais la Loi n’est pas une
mamelle qui se remplisse d’elle-même, ou dont les veines
lactifères aillent puiser ailleurs que dans la société. Il n’entre
rien au trésor public, en faveur d’un citoyen ou d’une classe,
que ce que les autres citoyens et les autres classes ont été
forcés d’y mettre. Si chacun n’y puise que l’équivalent de ce
qu’il y a versé, votre Loi, il est vrai, n’est pas spoliatrice,
mais elle ne fait rien pour ces hommes qui manquent de
richesses, elle ne fait rien pour l’égalité. Elle ne peut être un
instrument d’égalisation qu’autant qu’elle prend aux uns
pour donner aux autres, et alors elle est un instrument de
Spoliation. Examinez à ce point de vue la Protection des
tarifs, les primes d’encouragement, le Droit au profit, le
Droit au travail, le Droit à l’assistance, le Droit à
l’instruction, l’impôt progressif, la gratuité du crédit, l’atelier
social, toujours vous trouverez au fond la Spoliation légale,
l’injustice organisée.
Vous dites : « Voilà des hommes qui manquent de lumières,
» — et vous vous adressez à la Loi. Mais la Loi n’est pas un
flambeau répandant au loin une clarté qui lui soit propre.
Elle plane sur une société où il y a des hommes qui savent
et d’autres qui ne savent pas ; des citoyens qui ont besoin
d’apprendre et d’autres qui sont disposés à enseigner. Elle
ne peut faire que de deux choses l’une : ou laisser s’opérer
librement ce genre de transactions, laisser se satisfaire
librement cette nature de besoins ; ou bien forcer à cet
égard les volontés et prendre aux uns de quoi payer des
professeurs chargés d’instruire gratuitement les autres.
Mais elle ne peut pas faire qu’il n’y ait, au second cas,
atteinte à la Liberté et à la Propriété, Spoliation légale.
Vous dites : « Voilà des hommes qui manquent de moralité
ou de religion, » — et vous vous adressez à la Loi. Mais la
Loi c’est la Force, et ai-je besoin de dire combien c’est une
entreprise violente et folle que de faire intervenir la force en
ces matières ?
Au bout de ses systèmes et de ses efforts, il semble que le
Socialisme, quelque complaisance qu’il ait pour lui-même,
ne puisse s’empêcher d’apercevoir le monstre de la
Spoliation légale. Mais que fait-il ? Il le déguise habilement à
tous les yeux, même aux siens, sous les noms séducteurs
de Fraternité, Solidarité, Organisation, Association. Et parce
que nous ne demandons pas tant à la Loi, parce que nous
n’exigeons d’elle que Justice, il suppose que nous
repoussons la fraternité, la solidarité, l’organisation,
l’association, et nous jette à la face l’épithète
d’individualistes.
Qu’il sache donc que ce que nous repoussons, ce n’est pas
l’organisation naturelle, mais l’organisation forcée.
Ce n’est pas l’association libre, mais les formes
d’association qu’il prétend nous imposer.
Ce n’est pas la fraternité spontanée, mais la fraternité
légale.
Ce n’est pas la solidarité providentielle, mais la solidarité
artificielle, qui n’est qu’un déplacement injuste de
Responsabilité.
Le Socialisme, comme la vieille politique d’où il émane,
confond le Gouvernement et la Société. C’est pourquoi,
chaque fois que nous ne voulons pas qu’une chose soit faite
par le Gouvernement, il en conclut que nous ne voulons pas
que cette chose soit faite du tout. Nous repoussons
l’instruction par l’État ; donc nous ne voulons pas
d’instruction. Nous repoussons une religion d’État ; donc
nous ne voulons pas de religion. Nous repoussons
l’égalisation par l’État ; donc nous ne voulons pas d’égalité,
etc. C’est comme s’il nous accusait de ne vouloir pas que
les hommes mangent, parce que nous repoussons la culture
du blé par l’État.
Comment a pu prévaloir, dans le monde politique, l’idée
bizarre de faire découler de la Loi ce qui n’y est pas : le
Bien, en mode positif, la Richesse, la Science, la Religion ?
Les publicistes modernes, particulièrement ceux de l’école
socialiste, fondent leurs théories diverses sur une hypothèse
commune, et assurément la plus étrange, la plus
orgueilleuse qui puisse tomber dans un cerveau humain.
Ils divisent l’humanité en deux parts. L’universalité des
hommes, moins un, forme la première ; le publiciste, à lui
tout seul, forme la seconde et, de beaucoup, la plus
importante.
En effet, ils commencent par supposer que les hommes ne
portent en eux-mêmes ni un principe d’action, ni un moyen
de discernement ; qu’ils sont dépourvus d’initiative ; qu’ils
sont de la matière inerte, des molécules passives, des
atomes sans spontanéité, tout au plus une végétation
indifférente à son propre mode d’existence, susceptible de
recevoir, d’une volonté et d’une main extérieures, un
nombre infini de formes plus ou moins symétriques,
artistiques, perfectionnées.
Ensuite chacun d’eux suppose sans façon qu’il est lui-
même, sous les noms d’Organisateur, de Révélateur, de
Législateur, d’Instituteur, de Fondateur, cette volonté et
cette main, ce mobile universel, cette puissance créatrice
dont la sublime mission est de réunir en société ces
matériaux épars, qui sont des hommes.
Partant de cette donnée, comme chaque jardinier, selon son
caprice, taille ses arbres en pyramides, en parasols, en
cubes, en cônes, en vases, en espaliers, en quenouilles, en
éventails, chaque socialiste, suivant sa chimère, taille la
pauvre humanité en groupes, en séries, en centres, en sous-
centres, en alvéoles, en ateliers sociaux, harmoniques,
contrastés, etc., etc.
Et de même que le jardinier, pour opérer la taille des arbres,
a besoin de haches, de scies, de serpettes et de ciseaux, le
publiciste, pour arranger sa société, a besoin de forces qu’il
ne peut trouver que dans les Lois ; loi de douane, loi
d’impôt, loi d’assistance, loi d’instruction.
Il est si vrai que les socialistes considèrent l’humanité
comme matière à combinaisons sociales, que si, par hasard,
ils ne sont pas bien sûrs du succès de ces combinaisons, ils
réclament du moins une parcelle d’humanité comme
matière à expériences : on sait combien est populaire parmi
eux l’idée d’expérimenter tous les systèmes, et on a vu un
de leurs chefs venir sérieusement demander à l’assemblée
constituante une commune avec tous ses habitants, pour
faire son essai.
C’est ainsi que tout inventeur fait sa machine en petit avant
de la faire en grand. C’est ainsi que le chimiste sacrifie
quelques réactifs, que l’agriculteur sacrifie quelques
semences et un coin de son champ pour faire l’épreuve
d’une idée.
Mais quelle distance incommensurable entre le jardinier et
ses arbres, entre l’inventeur et sa machine, entre le
chimiste et ses réactifs, entre l’agriculteur et ses semences
!… Le socialiste croit de bonne foi que la même distance le
sépare de l’humanité.
Il ne faut pas s’étonner que les publicistes du dix-neuvième
siècle considèrent la société comme une création artificielle
sortie du génie du Législateur.
Cette idée, fruit de l’éducation classique, a dominé tous les
penseurs, tous les grands écrivains de notre pays.
Tous ont vu entre l’humanité et le législateur les mêmes
rapports qui existent entre l’argile et le potier.
Bien plus, s’ils ont consenti à reconnaître, dans le cœur de
l’homme, un principe d’action et, dans son intelligence, un
principe de discernement, ils ont pensé que Dieu lui avait
fait, en cela, un don funeste, et que l’humanité, sous
l’influence de ces deux moteurs, tendait fatalement vers sa
dégradation. Ils ont posé en fait qu’abandonnée à ses
penchants l’humanité ne s’occuperait de religion que pour
aboutir à l’athéisme, d’enseignement que pour arriver à
l’ignorance, de travail et d’échanges que pour s’éteindre
dans la misère.
Heureusement, selon ces mêmes écrivains, il y a quelques
hommes, nommés Gouvernants, Législateurs, qui ont reçu
du ciel, non seulement pour eux-mêmes, mais pour tous les
autres, des tendances opposées.
Pendant que l’humanité penche vers le Mal, eux inclinent au
Bien ; pendant que l’humanité marche vers les ténèbres,
eux aspirent à la lumière ; pendant que l’humanité est
entraînée vers le vice, eux sont attirés par la vertu. Et, cela
posé, ils réclament la Force, afin qu’elle les mette à même
de substituer leurs propres tendances aux tendances du
genre humain.
Il suffit d’ouvrir, à peu près au hasard, un livre de
philosophie, de politique ou d’histoire pour voir combien est
fortement enracinée dans notre pays cette idée, fille des
études classiques et mère du Socialisme, que l’humanité est
une matière inerte recevant du pouvoir la vie, l’organisation,
la moralité et la richesse ; ou bien, ce qui est encore pis,
que d’elle-même l’humanité tend vers sa dégradation et
n’est arrêtée sur cette pente que par la main mystérieuse
du Législateur. Partout le Conventionalisme classique nous
montre, derrière la société passive, une puissance occulte
qui, sous les noms de Loi, Législateur, ou sous cette
expression plus commode et plus vague de on, meut
l’humanité, l’anime, l’enrichit et la moralise.
BOSSUET. « UNE DES CHOSES QU’ON (QUI ?) IMPRIMAIT LE
PLUS FORTEMENT DANS L’ESPRIT DES ÉGYPTIENS, C’ÉTAIT
L’AMOUR DE LA PATRIE… IL N’ÉTAIT PAS PERMIS D’ÊTRE
INUTILE À L’ÉTAT ; LA LOI ASSIGNAIT À CHACUN SON
EMPLOI, QUI SE PERPÉTUAIT DE PÈRE EN FILS. ON NE
POUVAIT NI EN AVOIR DEUX NI CHANGER DE PROFESSION…
MAIS IL Y AVAIT UNE OCCUPATION QUI DEVAIT ÊTRE
COMMUNE, C’ÉTAIT L’ÉTUDE DES LOIS ET DE LA SAGESSE.
L’IGNORANCE DE LA RELIGION ET DE LA POLICE DU PAYS
N’ÉTAIT EXCUSÉE EN AUCUN ÉTAT. AU RESTE, CHAQUE
PROFESSION AVAIT SON CANTON QUI LUI ÉTAIT ASSIGNÉ
(PAR QUI ?)… PARMI DE BONNES LOIS, CE QU’IL Y AVAIT DE
MEILLEUR, C’EST QUE TOUT LE MONDE ÉTAIT NOURRI (PAR
QUI ?) DANS L’ESPRIT DE LES OBSERVER… LEURS
MERCURES ONT REMPLI L’ÉGYPTE D’INVENTIONS
MERVEILLEUSES, ET NE LUI AVAIENT PRESQUE RIEN LAISSÉ
IGNORER DE CE QUI POUVAIT RENDRE LA VIE COMMODE ET
TRANQUILLE. »
Ainsi, les hommes, selon Bossuet, ne tirent rien d’eux-
mêmes : patriotisme, richesses, activité, sagesse,
inventions, labourage, sciences, tout leur venait par
l’opération des Lois ou des Rois. Il ne s’agissait pour eux
que de se laisser faire . C’est à ce point que Diodore ayant
accusé les Égyptiens de rejeter la lutte et la musique,
Bossuet l’en reprend. Comment cela est-il possible, dit-il,
puisque ces arts avaient été inventés par Trismégiste ?
De même chez les Perses :
« UN DES PREMIERS SOINS DU PRINCE ÉTAIT DE FAIRE
FLEURIR L’AGRICULTURE… COMME IL Y AVAIT DES CHARGES
ÉTABLIES POUR LA CONDUITE DES ARMÉES, IL Y EN AVAIT
AUSSI POUR VEILLER AUX TRAVAUX RUSTIQUES… LE
RESPECT QU’ON INSPIRAIT AUX PERSES POUR L’AUTORITÉ
ROYALE ALLAIT JUSQU’À L’EXCÈS. »
Les Grecs, quoique pleins d’esprit, n’en étaient pas moins
étrangers à leurs propres destinées, jusque-là que, d’eux-
mêmes, ils ne se seraient pas élevés, comme les chiens et
les chevaux, à la hauteur des jeux les plus simples.
Classiquement, c’est une chose convenue que tout vient du
dehors aux peuples.
« LES GRECS, NATURELLEMENT PLEINS D’ESPRIT ET DE
COURAGE, AVAIENT ÉTÉ CULTIVÉS DE BONNE HEURE PAR
DES ROIS ET DES COLONIES VENUES D’ÉGYPTE. C’EST DE LÀ
QU’ILS AVAIENT APPRIS LES EXERCICES DU CORPS, LA
COURSE À PIED, À CHEVAL ET SUR DES CHARIOTS… CE QUE
LES ÉGYPTIENS LEUR AVAIENT APPRIS DE MEILLEUR ÉTAIT À
SE RENDRE DOCILES, À SE LAISSER FORMER PAR DES LOIS
POUR LE BIEN PUBLIC. »
Fénelon. Nourri dans l’étude et l’admiration de l’antiquité,
témoin de la puissance de Louis XIV, Fénelon ne pouvait
guère échapper à cette idée que l’humanité est passive, et
que ses malheurs comme ses prospérités, ses vertus
comme ses vices lui viennent d’une action extérieure,
exercée sur elle par la Loi ou celui qui la fait. Aussi, dans son
utopique Salente, met-il les hommes, avec leurs intérêts,
leurs facultés, leurs désirs et leurs biens, à la discrétion
absolue du Législateur. En quelque matière que ce soit, ce
ne sont jamais eux qui jugent pour eux-mêmes, c’est le
Prince. La nation n’est qu’une matière informe, dont le
Prince est l’âme. C’est en lui que résident la pensée, la
prévoyance, le principe de toute organisation, de tout
progrès et, par conséquent, la Responsabilité.
Pour prouver cette assertion, il me faudrait transcrire ici tout
le Xme livre de Télémaque. J’y renvoie le lecteur, et me
contente de citer quelques passages pris au hasard dans ce
célèbre poème, auquel, sous tout autre rapport, je suis le
premier à rendre justice.
Avec cette crédulité surprenante qui caractérise les
classiques, Fénelon admet, malgré l’autorité du
raisonnement et des faits, la félicité générale des Égyptiens,
et il l’attribue, non à leur propre sagesse, mais à celle de
leurs Rois.
« NOUS NE POUVIONS JETER LES YEUX SUR LES DEUX
RIVAGES SANS APERCEVOIR DES VILLES OPULENTES, DES
MAISONS DE CAMPAGNE AGRÉABLEMENT SITUÉES, DES
TERRES QUI SE COUVRENT TOUS LES ANS D’UNE MOISSON
DORÉE, SANS SE REPOSER JAMAIS ; DES PRAIRIES PLEINES
DE TROUPEAUX ; DES LABOUREURS ACCABLÉS SOUS LE
POIDS DES FRUITS QUE LA TERRE ÉPANCHAIT DE SON SEIN ;
DES BERGERS QUI FAISAIENT RÉPÉTER LES DOUX SONS DE
LEURS FLÛTES ET DE LEURS CHALUMEAUX À TOUS LES
ÉCHOS D’ALENTOUR. HEUREUX, DISAIT MENTOR, LE PEUPLE
QUI EST CONDUIT PAR UN SAGE ROI.
« ENSUITE MENTOR ME FAISAIT REMARQUER LA JOIE ET
L’ABONDANCE RÉPANDUES DANS TOUTE LA CAMPAGNE
D’ÉGYPTE, OÙ L’ON COMPTAIT JUSQU’À VINGT-DEUX MILLE
VILLES ; LA JUSTICE EXERCÉE EN FAVEUR DU PAUVRE
CONTRE LE RICHE ; LA BONNE ÉDUCATION DES ENFANTS
QU’ON ACCOUTUMAIT À L’OBÉISSANCE, AU TRAVAIL, À LA
SOBRIÉTÉ, À L’AMOUR DES ARTS ET DES LETTRES ;
L’EXACTITUDE POUR TOUTES LES CÉRÉMONIES DE LA
RELIGION, LE DÉSINTÉRESSEMENT, LE DÉSIR DE
L’HONNEUR, LA FIDÉLITÉ POUR LES HOMMES ET LA CRAINTE
POUR LES DIEUX, QUE CHAQUE PÈRE INSPIRAIT À SES
ENFANTS. IL NE SE LASSAIT POINT D’ADMIRER CE BEL
ORDRE. HEUREUX, ME DISAIT-IL, LE PEUPLE QU’UN SAGE
ROI CONDUIT AINSI. »
Fénelon fait, sur la Crète, une idylle encore plus séduisante.
Puis il ajoute, par la bouche de Mentor :
« TOUT CE QUE VOUS VERREZ DANS CETTE ÎLE
MERVEILLEUSE EST LE FRUIT DES LOIS DE MINOS.
L’ÉDUCATION QU’IL FAISAIT DONNER AUX ENFANTS REND LE
CORPS SAIN ET ROBUSTE. ON LES ACCOUTUME D’ABORD À
UNE VIE SIMPLE, FRUGALE ET LABORIEUSE ; ON SUPPOSE
QUE TOUTE VOLUPTÉ AMOLLIT LE CORPS ET L’ESPRIT ; ON
NE LEUR PROPOSE JAMAIS D’AUTRE PLAISIR QUE CELUI
D’ÊTRE INVINCIBLES PAR LA VERTU ET D’ACQUÉRIR
BEAUCOUP DE GLOIRE… ICI ON PUNIT TROIS VICES QUI
SONT IMPUNIS CHEZ LES AUTRES PEUPLES, L’INGRATITUDE,
LA DISSIMULATION ET L’AVARICE. POUR LE FASTE ET LA
MOLLESSE, ON N’A JAMAIS BESOIN DE LES RÉPRIMER, CAR
ILS SONT INCONNUS EN CRÈTE… ON N’Y SOUFFRE NI
MEUBLES PRÉCIEUX, NI HABITS MAGNIFIQUES, NI FESTINS
DÉLICIEUX, NI PALAIS DORÉS. »
C’est ainsi que Mentor prépare son élève à triturer et
manipuler, dans les vues les plus philanthropiques sans
doute, le peuple d’Ithaque, et, pour plus de sûreté, il lui en
donne l’exemple à Salente.
Voilà comment nous recevons nos premières notions
politiques. On nous enseigne à traiter les hommes à peu
près comme Olivier de Serres enseigne aux agriculteurs à
traiter et mélanger les terres.
MONTESQUIEU. « POUR MAINTENIR L’ESPRIT DE
COMMERCE, IL FAUT QUE TOUTES LES LOIS LE FAVORISENT ;
QUE CES MÊMES LOIS, PAR LEURS DISPOSITIONS, DIVISANT
LES FORTUNES À MESURE QUE LE COMMERCE LES GROSSIT,
METTENT CHAQUE CITOYEN PAUVRE DANS UNE ASSEZ
GRANDE AISANCE POUR POUVOIR TRAVAILLER COMME LES
AUTRES, ET CHAQUE CITOYEN RICHE DANS UNE TELLE
MÉDIOCRITÉ QU’IL AIT BESOIN DE TRAVAILLER POUR
CONSERVER OU POUR ACQUÉRIR… »
Ainsi les Lois disposent de toutes les fortunes.
« QUOIQUE DANS LA DÉMOCRATIE L’ÉGALITÉ RÉELLE SOIT
L’ÂME DE L’ÉTAT, CEPENDANT ELLE EST SI DIFFICILE À
ÉTABLIR QU’UNE EXACTITUDE EXTRÊME À CET ÉGARD NE
CONVIENDRAIT PAS TOUJOURS. IL SUFFIT QUE L’ON
ÉTABLISSE UN CENS QUI RÉDUISE OU FIXE LES
DIFFÉRENCES À UN CERTAIN POINT. APRÈS QUOI C’EST À
DES LOIS PARTICULIÈRES À ÉGALISER POUR AINSI DIRE LES
INÉGALITÉS, PAR LES CHARGES QU’ELLES IMPOSENT AUX
RICHES ET LE SOULAGEMENT QU’ELLES ACCORDENT AUX
PAUVRES… »
C’est bien là encore l’égalisation des fortunes par la loi, par
la force.
« IL Y AVAIT DANS LA GRÈCE DEUX SORTES DE
RÉPUBLIQUES. LES UNES ÉTAIENT MILITAIRES, COMME
LACÉDÉMONE ; D’AUTRES ÉTAIENT COMMERÇANTES,
COMME ATHÈNES. DANS LES UNES ON VOULAIT QUE LES
CITOYENS FUSSENT OISIFS ; DANS LES AUTRES ON
CHERCHAIT À DONNER DE L’AMOUR POUR LE TRAVAIL. »
« JE PRIE QU’ON FASSE UN PEU D’ATTENTION À L’ÉTENDUE
DU GÉNIE QU’IL FALLUT À CES LÉGISLATEURS POUR VOIR
QU’EN CHOQUANT TOUS LES USAGES REÇUS, EN
CONFONDANT TOUTES LES VERTUS, ILS MONTRERAIENT À
L’UNIVERS LEUR SAGESSE. LYCURGUE, MÊLANT LE LARCIN
AVEC L’ESPRIT DE JUSTICE, LE PLUS DUR ESCLAVAGE AVEC
L’EXTRÊME LIBERTÉ, LES SENTIMENTS LES PLUS ATROCES
AVEC LA PLUS GRANDE MODÉRATION, DONNA DE LA
STABILITÉ À SA VILLE. IL SEMBLA LUI ÔTER TOUTES LES
RESSOURCES, LES ARTS, LE COMMERCE, L’ARGENT, LES
MURAILLES : ON Y A DE L’AMBITION SANS ESPÉRANCE
D’ÊTRE MIEUX ; ON Y A LES SENTIMENTS NATURELS, ET ON
N’Y EST NI ENFANT, NI MARI, NI PÈRE ; LA PUDEUR MÊME
EST ÔTÉE À LA CHASTETÉ. C’EST PAR CE CHEMIN QUE
SPARTE EST MENÉE À LA GRANDEUR ET À LA GLOIRE… »
« CET EXTRAORDINAIRE QUE L’ON VOYAIT DANS LES
INSTITUTIONS DE LA GRÈCE, NOUS L’AVONS VU DANS LA LIE
ET LA CORRUPTION DES TEMPS MODERNES. UN
LÉGISLATEUR HONNÊTE HOMME A FORMÉ UN PEUPLE OÙ LA
PROBITÉ PARAÎT AUSSI NATURELLE QUE LA BRAVOURE CHEZ
LES SPARTIATES. M. PENN EST UN VÉRITABLE LYCURGUE, ET
QUOIQUE LE PREMIER AIT EU LA PAIX POUR OBJET COMME
L’AUTRE A EU LA GUERRE, ILS SE RESSEMBLENT DANS LA
VOIE SINGULIÈRE OÙ ILS ONT MIS LEUR PEUPLE, DANS
L’ASCENDANT QU’ILS ONT EU SUR DES HOMMES LIBRES,
DANS LES PRÉJUGÉS QU’ILS ONT VAINCUS, DANS LES
PASSIONS QU’ILS ONT SOUMISES. »
« LE PARAGUAY PEUT NOUS FOURNIR UN AUTRE EXEMPLE.
ON A VOULU EN FAIRE UN CRIME À LA SOCIÉTÉ, QUI
REGARDE LE PLAISIR DE COMMANDER COMME LE SEUL BIEN
DE LA VIE ; MAIS IL SERA TOUJOURS BEAU DE GOUVERNER
LES HOMMES EN LES RENDANT PLUS HEUREUX… »
« CEUX QUI VOUDRONT FAIRE DES INSTITUTIONS PAREILLES
ÉTABLIRONT LA COMMUNAUTÉ DES BIENS DE LA
RÉPUBLIQUE DE PLATON, CE RESPECT QU’IL DEMANDAIT
POUR LES DIEUX, CETTE SÉPARATION D’AVEC LES
ÉTRANGERS POUR LA CONSERVATION DES MŒURS, ET LA
CITÉ FAISANT LE COMMERCE ET NON PAS LES CITOYENS ;
ILS DONNERONT NOS ARTS SANS NOTRE LUXE, ET NOS
BESOINS SANS NOS DÉSIRS. »
L’engouement vulgaire aura beau s’écrier : c’est du
Montesquieu, donc c’est magnifique ! c’est sublime ! j’aurai
le courage de mon opinion et de dire :
QUOI ! VOUS AVEZ LE FRONT DE TROUVER CELA BEAU !
Mais c’est affreux ! abominable ! et ces extraits, que je
pourrais multiplier, montrent que, dans les idées de
Montesquieu, les personnes, les libertés, les propriétés,
l’humanité entière ne sont que des matériaux propres à
exercer la sagacité du Législateur.
Rousseau. Bien que ce publiciste, suprême autorité des
démocrates, fasse reposer l’édifice social sur la volonté
générale, personne n’a admis, aussi complétement que lui,
l’hypothèse de l’entière passivité du genre humain en
présence du Législateur.
« S’IL EST VRAI QU’UN GRAND PRINCE EST UN HOMME
RARE, QUE SERA-CE D’UN GRAND LÉGISLATEUR ? LE
PREMIER N’A QU’À SUIVRE LE MODÈLE QUE L’AUTRE DOIT
PROPOSER. CELUI-CI EST LE MÉCANICIEN QUI INVENTE LA
MACHINE, CELUI-LÀ N’EST QUE L’OUVRIER QUI LA MONTE ET
LA FAIT MARCHER. »
Et que sont les hommes en tout ceci ? La machine qu’on
monte et qui marche, ou plutôt la matière brute dont la
machine est faite !
Ainsi entre le Législateur et le Prince, entre le Prince et les
sujets, il y a les mêmes rapports qu’entre l’agronome et
l’agriculteur, l’agriculteur et la glèbe. À quelle hauteur au-
dessus de l’humanité est donc placé le publiciste, qui
régente les Législateurs eux-mêmes et leur enseigne leur
métier en ces termes impératifs :
« VOULEZ-VOUS DONNER DE LA CONSISTANCE À L’ÉTAT ?
RAPPROCHEZ LES DEGRÉS EXTRÊMES AUTANT QU’IL EST
POSSIBLE. NE SOUFFREZ NI DES GENS OPULENTS NI DES
GUEUX.
« LE SOL EST-IL INGRAT OU STÉRILE, OU LE PAYS TROP
SERRÉ POUR LES HABITANTS, TOURNEZ-VOUS DU CÔTÉ DE
L’INDUSTRIE ET DES ARTS, DONT VOUS ÉCHANGEREZ LES
PRODUCTIONS CONTRE LES DENRÉES QUI VOUS
MANQUENT… DANS UN BON TERRAIN, MANQUEZ-VOUS
D’HABITANTS, DONNEZ TOUS VOS SOINS À L’AGRICULTURE,
QUI MULTIPLIE LES HOMMES, ET CHASSEZ LES ARTS, QUI NE
FERAIENT QU’ACHEVER DE DÉPEUPLER LE PAYS… OCCUPEZ-
VOUS DES RIVAGES ÉTENDUS ET COMMODES, COUVREZ LA
MER DE VAISSEAUX, VOUS AUREZ UNE EXISTENCE
BRILLANTE ET COURTE. LA MER NE BAIGNE-T-ELLE SUR VOS
CÔTES QUE DES ROCHERS INACCESSIBLES, RESTEZ
BARBARES ET ICHTHYOPHAGES, VOUS EN VIVREZ PLUS
TRANQUILLES, MEILLEURS PEUT-ÊTRE, ET, À COUP SÛR,
PLUS HEUREUX. EN UN MOT, OUTRE LES MAXIMES
COMMUNES À TOUS, CHAQUE PEUPLE RENFERME EN LUI
QUELQUE CAUSE QUI LES ORDONNE D’UNE MANIÈRE
PARTICULIÈRE, ET REND SA LÉGISLATION PROPRE À LUI
SEUL. C’EST AINSI QU’AUTREFOIS LES HÉBREUX, ET
RÉCEMMENT LES ARABES, ONT EU POUR PRINCIPAL OBJET
LA RELIGION ; LES ATHÉNIENS, LES LETTRES ; CARTHAGE ET
TYR, LE COMMERCE ; RHODES, LA MARINE ; SPARTE, LA
GUERRE, ET ROME, LA VERTU. L’AUTEUR DE L’ESPRIT DES
LOIS A MONTRÉ PAR QUEL ART LE LÉGISLATEUR DIRIGE
L’INSTITUTION VERS CHACUN DE CES OBJETS… MAIS SI LE
LÉGISLATEUR, SE TROMPANT DANS SON OBJET, PREND UN
PRINCIPE DIFFÉRENT DE CELUI QUI NAÎT DE LA NATURE DES
CHOSES, QUE L’UN TENDE À LA SERVITUDE ET L’AUTRE À LA
LIBERTÉ ; L’UN AUX RICHESSES, L’AUTRE À LA POPULATION ;
L’UN À LA PAIX, L’AUTRE AUX CONQUÊTES, ON VERRA LES
LOIS S’AFFAIBLIR INSENSIBLEMENT, LA CONSTITUTION
S’ALTÉRER, ET L’ÉTAT NE CESSERA D’ÊTRE AGITÉ JUSQU’À
CE QU’IL SOIT DÉTRUIT OU CHANGÉ, ET QUE L’INVINCIBLE
NATURE AIT REPRIS SON EMPIRE. »
Mais si la nature est assez invincible pour reprendre son
empire, pourquoi Rousseau n’admet-il pas qu’elle n’avait
pas besoin du Législateur pour prendre cet empire dès
l’origine ? Pourquoi n’admet-il pas qu’obéissant à leur
propre initiative les hommes se tourneront d’eux-mêmes
vers le commerce sur des rivages étendus et commodes,
sans qu’un Lycurgue, un Solon, un Rousseau s’en mêlent, au
risque de se tromper ?
Quoi qu’il en soit, on comprend la terrible responsabilité que
Rousseau fait peser sur les inventeurs, instituteurs,
conducteurs, législateurs et manipulateurs de Sociétés.
Aussi est-il, à leur égard, très exigeant.
« CELUI QUI OSE ENTREPRENDRE D’INSTITUER UN PEUPLE
DOIT SE SENTIR EN ÉTAT DE CHANGER, POUR AINSI DIRE, LA
NATURE HUMAINE, DE TRANSFORMER CHAQUE INDIVIDU
QUI, PAR LUI-MÊME, EST UN TOUT PARFAIT ET SOLITAIRE, EN
PARTIE D’UN PLUS GRAND TOUT, DONT CET INDIVIDU
REÇOIVE, EN TOUT OU EN PARTIE, SA VIE ET SON ÊTRE ;
D’ALTÉRER LA CONSTITUTION DE L’HOMME POUR LA
RENFORCER, DE SUBSTITUER UNE EXISTENCE PARTIELLE ET
MORALE À L’EXISTENCE PHYSIQUE ET INDÉPENDANTE QUE
NOUS AVONS TOUS REÇUE DE LA NATURE. IL FAUT, EN UN
MOT, QU’IL ÔTE À L’HOMME SES PROPRES FORCES POUR LUI
EN DONNER QUI LUI SOIENT ÉTRANGÈRES… »
Pauvre espèce humaine, que feraient de ta dignité les
adeptes de Rousseau ?
RAYNAL. « LE CLIMAT, C’EST-À-DIRE LE CIEL ET LE SOL, EST
LA PREMIÈRE RÈGLE DU LÉGISLATEUR. SES RESSOURCES LUI
DICTENT SES DEVOIRS. C’EST D’ABORD SA POSITION
LOCALE QU’IL DOIT CONSULTER. UNE PEUPLADE JETÉE SUR
LES CÔTES MARITIMES AURA DES LOIS RELATIVES À LA
NAVIGATION… SI LA COLONIE EST PORTÉE DANS LES
TERRES, UN LÉGISLATEUR DOIT PRÉVOIR ET LEUR GENRE ET
LEUR DEGRÉ DE FÉCONDITÉ… »
« C’EST SURTOUT DANS LA DISTRIBUTION DE LA PROPRIÉTÉ
QU’ÉCLATERA LA SAGESSE DE LA LÉGISLATION. EN
GÉNÉRAL, ET DANS TOUS LES PAYS DU MONDE, QUAND ON
FONDE UNE COLONIE, IL FAUT DONNER DES TERRES À TOUS
LES HOMMES, C’EST-À-DIRE À CHACUN UNE ÉTENDUE
SUFFISANTE POUR L’ENTRETIEN D’UNE FAMILLE… »
« DANS UNE ÎLE SAUVAGE QU’ON PEUPLERAIT D’ENFANTS,
ON N’AURAIT QU’À LAISSER ÉCLORE LES GERMES DE LA
VÉRITÉ DANS LES DÉVELOPPEMENTS DE LA RAISON… MAIS
QUAND ON ÉTABLIT UN PEUPLE DÉJÀ VIEUX DANS UN PAYS
NOUVEAU, L’HABILETÉ CONSISTE À NE LUI LAISSER QUE LES
OPINIONS ET LES HABITUDES NUISIBLES DONT ON NE PEUT
LE GUÉRIR ET LE CORRIGER. VEUT-ON EMPÊCHER QU’ELLES
NE SE TRANSMETTENT, ON VEILLERA SUR LA SECONDE
GÉNÉRATION PAR UNE ÉDUCATION COMMUNE ET PUBLIQUE
DES ENFANTS. UN PRINCE, UN LÉGISLATEUR, NE DEVRAIT
JAMAIS FONDER UNE COLONIE SANS Y ENVOYER D’AVANCE
DES HOMMES SAGES POUR L’INSTRUCTION DE LA
JEUNESSE… DANS UNE COLONIE NAISSANTE, TOUTES LES
FACILITÉS SONT OUVERTES AUX PRÉCAUTIONS DU
LÉGISLATEUR QUI VEUT ÉPURER LE SANG ET LES MŒURS
D’UN PEUPLE. QU’IL AIT DU GÉNIE ET DE LA VERTU, LES
TERRES ET LES HOMMES QU’IL AURA DANS SES MAINS
INSPIRERONT À SON ÂME UN PLAN DE SOCIÉTÉ, QU’UN
ÉCRIVAIN NE PEUT JAMAIS TRACER QUE D’UNE MANIÈRE
VAGUE ET SUJETTE À L’INSTABILITÉ DES HYPOTHÈSES, QUI
VARIENT ET SE COMPLIQUENT AVEC UNE INFINITÉ DE
CIRCONSTANCES TROP DIFFICILES À PRÉVOIR ET À
COMBINER… »
Ne semble-t-il pas entendre un professeur d’agriculture dire
à ses élèves : « Le climat est la première règle de
l’agriculteur ? Ses ressources lui dictent ses devoirs. C’est
d’abord sa position locale qu’il doit consulter. Est-il sur un
sol argileux, il doit se conduire de telle façon. A-t-il affaire à
du sable, voici comment il doit s’y prendre. Toutes les
facilités sont ouvertes à l’agriculteur qui veut nettoyer et
améliorer son sol. Qu’il ait de l’habileté, les terres, les
engrais qu’il aura dans ses mains lui inspireront un plan
d’exploitation, qu’un professeur ne peut jamais tracer que
d’une manière vague et sujette à l’instabilité des
hypothèses, qui varient et se compliquent avec une infinité
de circonstances trop difficiles à prévoir et à combiner. »
Mais, ô sublimes écrivains, veuillez donc vous souvenir
quelquefois que cette argile, ce sable, ce fumier, dont vous
disposez si arbitrairement, ce sont des Hommes, vos égaux,
des êtres intelligents et libres comme vous, qui ont reçu de
Dieu, comme vous, la faculté de voir, de prévoir, de penser
et de juger pour eux-mêmes !
Mably. (Il suppose les lois usées par la rouille du temps, la
négligence de la sécurité, et poursuit ainsi) :
« DANS CES CIRCONSTANCES, IL FAUT ÊTRE CONVAINCU
QUE LES RESSORTS DU GOUVERNEMENT SE SONT
RELÂCHÉS. DONNEZ-LEUR UNE NOUVELLE TENSION (C’EST
AU LECTEUR QUE MABLY S’ADRESSE), ET LE MAL SERA
GUÉRI… SONGEZ MOINS À PUNIR DES FAUTES QU’À
ENCOURAGER LES VERTUS DONT VOUS AVEZ BESOIN. PAR
CETTE MÉTHODE VOUS RENDREZ À VOTRE RÉPUBLIQUE LA
VIGUEUR DE LA JEUNESSE. C’EST POUR N’AVOIR PAS ÉTÉ
CONNUE DES PEUPLES LIBRES QU’ILS ONT PERDU LA
LIBERTÉ ! MAIS SI LES PROGRÈS DU MAL SONT TELS QUE
LES MAGISTRATS ORDINAIRES NE PUISSENT Y REMÉDIER
EFFICACEMENT, AYEZ RECOURS À UNE MAGISTRATURE
EXTRAORDINAIRE, DONT LE TEMPS SOIT COURT ET LA
PUISSANCE CONSIDÉRABLE. L’IMAGINATION DES CITOYENS
A BESOIN ALORS D’ÊTRE FRAPPÉE… »
Et tout dans ce goût durant vingt volumes.
Il a été une époque où, sous l’influence de tels
enseignements, qui sont le fond de l’éducation classique,
chacun a voulu se placer en dehors et au-dessus de
l’humanité, pour l’arranger, l’organiser et l’instituer à sa
guise.
CONDILLAC. — « ÉRIGEZ-VOUS, MONSEIGNEUR, EN
LYCURGUE OU EN SOLON. AVANT QUE DE POURSUIVRE LA
LECTURE DE CET ÉCRIT, AMUSEZ-VOUS À DONNER DES LOIS
À QUELQUE PEUPLE SAUVAGE D’AMÉRIQUE OU D’AFRIQUE.
ÉTABLISSEZ DANS DES DEMEURES FIXES CES HOMMES
ERRANTS ; APPRENEZ-LEUR À NOURRIR DES TROUPEAUX… ;
TRAVAILLEZ À DÉVELOPPER LES QUALITÉS SOCIALES QUE LA
NATURE A MISES EN EUX… ORDONNEZ-LEUR DE
COMMENCER À PRATIQUER LES DEVOIRS DE L’HUMANITÉ…
EMPOISONNEZ PAR DES CHÂTIMENTS LES PLAISIRS QUE
PROMETTENT LES PASSIONS, ET VOUS VERREZ CES
BARBARES, À CHAQUE ARTICLE DE VOTRE LÉGISLATION,
PERDRE UN VICE ET PRENDRE UNE VERTU. »
« TOUS LES PEUPLES ONT EU DES LOIS. MAIS PEU D’ENTRE
EUX ONT ÉTÉ HEUREUX. QUELLE EN EST LA CAUSE ? C’EST
QUE LES LÉGISLATEURS ONT PRESQUE TOUJOURS IGNORÉ
QUE L’OBJET DE LA SOCIÉTÉ EST D’UNIR LES FAMILLES PAR
UN INTÉRÊT COMMUN. »
« L’IMPARTIALITÉ DES LOIS CONSISTE EN DEUX CHOSES : À
ÉTABLIR L’ÉGALITÉ DANS LA FORTUNE ET DANS LA DIGNITÉ
DES CITOYENS… À MESURE QUE VOS LOIS ÉTABLIRONT UNE
PLUS GRANDE ÉGALITÉ, ELLES DEVIENDRONT PLUS CHÈRES
À CHAQUE CITOYEN… COMMENT L’AVARICE, L’AMBITION, LA
VOLUPTÉ, LA PARESSE, L’OISIVETÉ, L’ENVIE, LA HAINE, LA
JALOUSIE AGITERAIENT-ELLES DES HOMMES ÉGAUX EN
FORTUNE ET EN DIGNITÉ, ET À QUI LES LOIS NE
LAISSERAIENT PAS L’ESPÉRANCE DE ROMPRE L’ÉGALITÉ ? »
(SUIT L’IDYLLE.)
« CE QU’ON VOUS A DIT DE LA RÉPUBLIQUE DE SPARTE
DOIT VOUS DONNER DE GRANDES LUMIÈRES SUR CETTE
QUESTION. AUCUN AUTRE ÉTAT N’A JAMAIS EU DES LOIS
PLUS CONFORMES À L’ORDRE DE LA NATURE ET DE
L’ÉGALITÉ [5] . »
Il n’est pas surprenant que les dix-septième et dix-huitième
siècles aient considéré le genre humain comme une matière
inerte attendant, recevant tout, forme, figure, impulsion,
mouvement et vie d’un grand Prince, d’un grand
Législateur, d’un grand Génie. Ces siècles étaient nourris de
l’étude de l’Antiquité, et l’Antiquité nous offre en effet
partout, en Égypte, en Perse, en Grèce, à Rome, le spectacle
de quelques hommes manipulant à leur gré l’humanité
asservie par la force ou par l’imposture. Qu’est-ce que cela
prouve ? Que, parce que l’homme et la société sont
perfectibles, l’erreur, l’ignorance, le despotisme,
l’esclavage, la superstition doivent s’accumuler davantage
au commencement des temps. Le tort des écrivains que j’ai
cités n’est pas d’avoir constaté le fait, mais de l’avoir
proposé, comme règle, à l’admiration et à l’imitation des
races futures. Leur tort est d’avoir, avec une inconcevable
absence de critique, et sur la foi d’un conventionalisme
puéril, admis ce qui est inadmissible, à savoir la grandeur, la
dignité, la moralité et le bien-être de ces sociétés factices
de l’ancien monde ; de n’avoir pas compris que le temps
produit et propage la lumière ; qu’à mesure que la lumière
se fait, la force passe du côté du Droit, et la société reprend
possession d’elle-même.
Et en effet, quel est le travail politique auquel nous
assistons ? Il n’est autre que l’effort instinctif de tous les
peuples vers la liberté [6] . Et qu’est-ce que la Liberté, ce
mot qui a la puissance de faire battre tous les cœurs et
d’agiter le monde, si ce n’est l’ensemble de toutes les
libertés, liberté de conscience, d’enseignement,
d’association, de presse, de locomotion, de travail,
d’échange ; d’autres termes, le franc exercice, pour tous, de
toutes les facultés inoffensives ; en d’autres termes encore,
la destruction de tous les despotismes, même le despotisme
légal, et la réduction de la Loi à sa seule attribution
rationnelle, qui est de régulariser le Droit individuel de
légitime défense ou de réprimer l’injustice.
Cette tendance du genre humain, il faut en convenir, est
grandement contrariée, particulièrement dans notre patrie,
par la funeste disposition, — fruit de l’enseignement
classique, — commune à tous les publicistes, de se placer
en dehors de l’humanité pour l’arranger, l’organiser et
l’instituer à leur guise.
Car, pendant que la société s’agite pour réaliser la Liberté,
les grands hommes qui se placent à sa tête, imbus des
principes des dix-septième et dix-huitième siècles, ne
songent qu’à la courber sous le philanthropique despotisme
de leurs inventions sociales et à lui faire porter docilement,
selon l’expression de Rousseau, le joug de la félicité
publique, telle qu’ils l’ont imaginée.
On le vit bien en 1789. À peine l’Ancien Régime légal fut-il
détruit, qu’on s’occupa de soumettre la société nouvelle à
d’autres arrangements artificiels, toujours en partant de ce
point convenu : l’omnipotence de la Loi.
Saint-Just . « Le Législateur commande à l’avenir. C’est à lui
de vouloir le bien. C’est à lui de rendre les hommes ce qu’il
veut qu’ils soient. »
Robespierre . « La fonction du gouvernement est de diriger
les forces physiques et morales de la nation vers le but de
son institution. »
Billaud-Varennes . « Il faut recréer le peuple qu’on veut
rendre à la liberté. Puisqu’il faut détruire d’anciens préjugés,
changer d’antiques habitudes, perfectionner les affections
dépravées, restreindre des besoins superflus, extirper des
vices invétérés ; il faut donc une action forte, une impulsion
véhémente… Citoyens, l’inflexible austérité de Lycurgue
devint à Sparte la base inébranlable de la République ; le
caractère faible et confiant de Solon replongea Athènes
dans l’esclavage. Ce parallèle renferme toute la science du
gouvernement. »
Lepelletier . « Considérant à quel point l’espèce humaine est
dégradée, je me suis convaincu de la nécessité d’opérer une
entière régénération et, si je puis m’exprimer ainsi, de créer
un nouveau peuple. »
On le voit, les hommes ne sont rien que de vils matériaux.
Ce n’est pas à eux de vouloir le bien ; — ils en sont
incapables, — c’est au Législateur, selon Saint-Just. Les
hommes ne sont que ce qu’il veut qu’ils soient.
Suivant Robespierre, qui copie littéralement Rousseau, le
Législateur commence par assigner le but de l’institution de
la nation. Ensuite les gouvernements n’ont plus qu’à diriger
vers ce but toutes les forces physiques et morales. La nation
elle-même reste toujours passive en tout ceci, et Billaud-
Varennes nous enseigne qu’elle ne doit avoir que les
préjugés, les habitudes, les affections et les besoins que le
Législateur autorise. Il va jusqu’à dire que l’inflexible
austérité d’un homme est la base de la république.
On a vu que, dans le cas où le mal est si grand que les
magistrats ordinaires n’y peuvent remédier, Mably
conseillait la dictature pour faire fleurir la vertu. « Ayez
recours, dit-il, à une magistrature extraordinaire, dont le
temps soit court et la puissance considérable. L’imagination
des citoyens a besoin d’être frappée. » Cette doctrine n’a
pas été perdue. Écoutons Robespierre :
« Le principe du gouvernement républicain, c’est la vertu, et
son moyen, pendant qu’il s’établit, la terreur. Nous voulons
substituer, dans notre pays, la morale à l’égoïsme, la
probité à l’honneur, les principes aux usages, les devoirs
aux bienséances, l’empire de la raison à la tyrannie de la
mode, le mépris du vice au mépris du malheur, la fierté à
l’insolence, la grandeur d’âme à la vanité, l’amour de la
gloire à l’amour de l’argent, les bonnes gens à la bonne
compagnie, le mérite à l’intrigue, le génie au bel esprit, la
vérité à l’éclat, le charme du bonheur aux ennuis de la
volupté, la grandeur de l’homme à la petitesse des grands,
un peuple magnanime, puissant, heureux, à un peuple
aimable, frivole, misérable ; c’est-à-dire toutes les vertus et
tous les miracles de la République à tous les vices et à tous
les ridicules de la monarchie. »
À quelle hauteur au-dessus du reste de l’humanité se place
ici Robespierre ! Et remarquez la circonstance dans laquelle
il parle. Il ne se borne pas à exprimer le vœu d’une grande
rénovation du cœur humain ; il ne s’attend même pas à ce
qu’elle résultera d’un gouvernement régulier. Non, il veut
l’opérer lui-même et par la terreur. Le discours, d’où est
extrait ce puéril et laborieux amas d’antithèses, avait pour
objet d’exposer les principes de morale qui doivent diriger
un gouvernement révolutionnaire. Remarquez que, lorsque
Robespierre vient demander la dictature, ce n’est pas
seulement pour repousser l’étranger et combattre les
factions ; c’est bien pour faire prévaloir par la terreur, et
préalablement au jeu de la Constitution, ses propres
principes de morale. Sa prétention ne va à rien moins que
d’extirper du pays, par la terreur, l’égoïsme, l’honneur, les
usages, les bienséances, la mode, la vanité, l’amour de
l’argent, la bonne compagnie, l’intrigue, le bel esprit, la
volupté et la misère. Ce n’est qu’après que lui, Robespierre,
aura accompli ces miracles — comme il les appelle avec
raison, — qu’il permettra aux lois de reprendre leur empire.
— Eh ! misérables, qui vous croyez si grands, qui jugez
l’humanité si petite, qui voulez tout réformer, réformez-vous
vous-mêmes, cette tâche vous suffit.
Cependant, en général, messieurs les Réformateurs,
Législateurs et Publicistes ne demandent pas à exercer sur
l’humanité un despotisme immédiat. Non, ils sont trop
modérés et trop philanthropes pour cela. Ils ne réclament
que le despotisme, l’absolutisme, l’omnipotence de la Loi.
Seulement ils aspirent à faire la Loi.
Pour montrer combien cette disposition étrange des esprits
a été universelle, en France, de même qu’il m’aurait fallu
copier tout Mably, tout Raynal, tout Rousseau, tout Fénelon,
et de longs extraits de Bossuet et Montesquieu, il me
faudrait aussi reproduire le procès-verbal tout entier des
séances de la Convention. Je m’en garderai bien et j’y
renvoie le lecteur.
On pense bien que cette idée dut sourire à Bonaparte. Il
l’embrassa avec ardeur et la mit énergiquement en
pratique. Se considérant comme un chimiste, il ne vit dans
l’Europe qu’une matière à expériences. Mais bientôt cette
matière se manifesta comme un réactif puissant. Aux trois
quarts désabusé, Bonaparte, à Sainte-Hélène, parut
reconnaître qu’il y a quelque initiative dans les peuples, et il
se montra moins hostile à la liberté. Cela ne l’empêcha pas
cependant de donner par son testament cette leçon à son
fils : « Gouverner, c’est répandre la moralité, l’instruction et
le bien-être. »
Est-il nécessaire maintenant de faire voir par de fastidieuses
citations d’où procèdent Morelly, Babeuf, Owen, Saint-
Simon, Fourier ? Je me bornerai à soumettre au lecteur
quelques extraits du livre de Louis Blanc sur l’organisation
du travail.
« DANS NOTRE PROJET, LA SOCIÉTÉ REÇOIT L’IMPULSION
DU POUVOIR » (PAGE 126).
En quoi consiste l’impulsion que le Pouvoir donne à la
société ? À imposer le projet de M. L. Blanc.
D’un autre coté, la société, c’est le genre humain.
Donc, en définitive, le genre humain reçoit l’impulsion de M.
L. Blanc.
Libre à lui, dira-t-on. Sans doute le genre humain est libre de
suivre les conseils de qui que ce soit. Mais ce n’est pas ainsi
que M. L. Blanc comprend la chose. Il entend que son projet
soit converti en Loi , et par conséquent imposé de force par
le pouvoir.
« DANS NOTRE PROJET, L’ÉTAT NE FAIT QUE DONNER AU
TRAVAIL UNE LÉGISLATION (EXCUSEZ DU PEU ), EN VERTU
DE LAQUELLE LE MOUVEMENT INDUSTRIEL PEUT ET DOIT
S’ACCOMPLIR EN TOUTE LIBERTÉ. IL (L’ÉTAT) NE FAIT QUE
PLACER LA LIBERTÉ SUR UNE PENTE (RIEN QUE CELA )
QU’ELLE DESCEND, UNE FOIS QU’ELLE Y EST PLACÉE, PAR
LA SEULE FORCE DES CHOSES ET PAR UNE SUITE
NATURELLE DU MÉCANISME ÉTABLI. »
Mais quelle est cette pente ? — Celle indiquée par M. L.
Blanc. — Ne conduit-elle pas aux abîmes ? — Non, elle
conduit au bonheur. — Comment donc la société ne s’y
place-t-elle pas d’elle-même ? — Parce qu’elle ne sait ce
qu’elle veut et qu’elle a besoin d’impulsion. — Qui lui
donnera cette impulsion ? — Le pouvoir. — Et qui donnera
l’impulsion au pouvoir ? — L’inventeur du mécanisme, M. L.
Blanc.
Nous ne sortons jamais de ce cercle : l’humanité passive et
un grand homme qui la meut par l’intervention de la Loi.
Une fois sur cette pente, la société jouirait-elle au moins de
quelque liberté ? — Sans doute. — Et qu’est-ce que la
liberté ?
« DISONS-LE UNE FOIS POUR TOUTES : LA LIBERTÉ
CONSISTE NON PAS SEULEMENT DANS LE DROIT ACCORDÉ,
MAIS DANS LE POUVOIR DONNÉ À L’HOMME D’EXERCER, DE
DÉVELOPPER SES FACULTÉS, SOUS L’EMPIRE DE LA JUSTICE
ET SOUS LA SAUVEGARDE DE LA LOI. »
« ET CE N’EST POINT LÀ UNE DISTINCTION VAINE : LE SENS
EN EST PROFOND, LES CONSÉQUENCES EN SONT
IMMENSES. CAR DÈS QU’ON ADMET QU’IL FAUT À L’HOMME,
POUR ÊTRE VRAIMENT LIBRE, LE POUVOIR D’EXERCER ET DE
DÉVELOPPER SES FACULTÉS, IL EN RÉSULTE QUE LA SOCIÉTÉ
DOIT À CHACUN DE SES MEMBRES L’INSTRUCTION
CONVENABLE, SANS LAQUELLE L’ESPRIT HUMAIN NE PEUT
SE DÉPLOYER, ET LES INSTRUMENTS DE TRAVAIL, SANS
LESQUELS L’ACTIVITÉ HUMAINE NE PEUT SE DONNER
CARRIÈRE. OR, PAR L’INTERVENTION DE QUI LA SOCIÉTÉ
DONNERA-T-ELLE À CHACUN DE SES MEMBRES
L’INSTRUCTION CONVENABLE ET LES INSTRUMENTS DE
TRAVAIL NÉCESSAIRES, SI CE N’EST PAR L’INTERVENTION DE
L’ÉTAT ? »
Ainsi la liberté, c’est le pouvoir. — En quoi consiste ce
Pouvoir ? — À posséder l’instruction et les instruments de
travail. — Qui donnera l’instruction et les instruments de
travail ? — La société, qui les doit. — Par l’intervention de
qui la société donnera-t-elle des instruments de travail à
ceux qui n’en ont pas ? — Par l’intervention de l’État. — À
qui l’État les prendra-t-il ?
C’est au lecteur de faire la réponse et de voir où tout ceci
aboutit.
Un des phénomènes les plus étranges de notre temps, et
qui étonnera probablement beaucoup nos neveux, c’est que
la doctrine qui se fonde sur cette triple hypothèse — l’inertie
radicale de l’humanité — l’omnipotence de la Loi —
l’infaillibilité du Législateur, — soit le symbole sacré du parti
qui se proclame exclusivement démocratique.
Il est vrai qu’il se dit aussi social.
En tant que démocratique, il a une foi sans limite en
l’humanité.
Comme social, il la met au-dessous de la boue.
S’agit-il de droits politiques, s’agit-il de faire sortir de son
sein le Législateur, oh ! alors, selon lui, le peuple a la
science infuse ; il est doué d’un tact admirable ; sa volonté
est toujours droite, la volonté générale ne peut errer. Le
suffrage ne saurait être trop universel. Nul ne doit à la
société aucune garantie. La volonté et la capacité de bien
choisir sont toujours supposées. Est-ce que le peuple peut
se tromper ? Est-ce que nous ne sommes pas dans le siècle
des lumières ? Quoi donc ! Le peuple sera-t-il éternellement
en tutelle ? N’a-t-il pas conquis ses droits par assez d’efforts
et de sacrifices ? N’a-t-il pas donné assez de preuves de son
intelligence et de sa sagesse ? N’est-il pas arrivé à sa
maturité ? N’est-il pas en état de juger pour lui-même ? Ne
connaît-il pas ses intérêts ? Y a-t-il un homme ou une classe
qui ose revendiquer le droit de se substituer au peuple, de
décider et d’agir pour lui ? Non, non, le peuple veut être
libre, et il le sera. Il veut diriger ses propres affaires, et il les
dirigera.
Mais le Législateur est-il une fois dégagé des comices par
l’élection, oh ! alors le langage change. La nation rentre
dans la passivité, dans l’inertie, dans le néant, et le
Législateur prend possession de l’omnipotence. À lui
l’invention, à lui la direction, à lui l’impulsion, à lui
l’organisation. L’humanité n’a plus qu’à se laisser faire ;
l’heure du despotisme a sonné. Et remarquez que cela est
fatal ; car ce peuple, tout à l’heure si éclairé, si moral, si
parfait, n’a plus aucunes tendances, ou, s’il en a, elles
l’entraînent toutes vers la dégradation. Et on lui laisserait un
peu de Liberté ! Mais ne savez-vous pas que, selon M.
Considérant, la liberté conduit fatalement au monopole ? Ne
savez-vous pas que la liberté c’est la concurrence ? et que
la concurrence, suivant M. L. Blanc, c’est pour le peuple un
système d’extermination, pour la bourgeoisie une cause de
ruine ? Que c’est pour cela que les peuples sont d’autant
plus exterminés et ruinés qu’ils sont plus libres, témoin la
Suisse, la Hollande, l’Angleterre et les États-Unis ? Ne savez-
vous pas, toujours selon M. L. Blanc, que la concurrence
conduit au monopole, et que, par la même raison, le bon
marché conduit à l’exagération des prix ? Que la
concurrence tend à tarir les sources de la consommation et
pousse la production à une activité dévorante ? Que la
concurrence force la production à s’accroître et la
consommation à décroître ; — d’où il suit que les peuples
libres produisent pour ne pas consommer ; — qu’elle est
tout à la fois oppression et démence, et qu’il faut
absolument que M. L. Blanc s’en mêle ?
Quelle liberté, d’ailleurs, pourrait-on laisser aux hommes ?
Serait-ce la liberté de conscience ? Mais on les verra tous
profiter de la permission pour se faire athées. La liberté
d’enseignement ? Mais les pères se hâteront de payer des
professeurs pour enseigner à leurs fils l’immoralité et
l’erreur ; d’ailleurs, à en croire M. Thiers, si l’enseignement
était laissé à la liberté nationale, il cesserait d’être national,
et nous élèverions nos enfants dans les idées des Turcs ou
des Indous, au lieu que, grâce au despotisme légal de
l’université, ils ont le bonheur d’être élevés dans les nobles
idées des Romains. La liberté du travail ? Mais c’est la
concurrence, qui a pour effet de laisser tous les produits non
consommés, d’exterminer le peuple et de ruiner la
bourgeoisie. La liberté d’échanger ? Mais on sait bien, les
protectionnistes l’ont démontré à satiété, qu’un homme se
ruine quand il échange librement et que, pour s’enrichir, il
faut échanger sans liberté. La liberté d’association ? Mais,
d’après la doctrine socialiste, liberté et association
s’excluent, puisque précisément on n’aspire à ravir aux
hommes leur liberté que pour les forcer de s’associer.
Vous voyez donc bien que les démocrates-socialistes ne
peuvent, en bonne conscience, laisser aux hommes aucune
liberté, puisque, par leur nature propre, et si ces messieurs
n’y mettent ordre, ils tendent, de toute part, à tous les
genres de dégradation et de démoralisation.
Reste à deviner, en ce cas, sur quel fondement on réclame
pour eux, avec tant d’instance, le suffrage universel.
Les prétentions des organisateurs soulèvent une autre
question, que je leur ai souvent adressée, et à laquelle, que
je sache, ils n’ont jamais répondu. Puisque les tendances
naturelles de l’humanité sont assez mauvaises pour qu’on
doive lui ôter sa liberté, comment se fait-il que les
tendances des organisateurs soient bonnes ? Les
Législateurs et leurs agents ne font-ils pas partie du genre
humain ? Se croient-ils pétris d’un autre limon que le reste
des hommes ? Ils disent que la société, abandonnée à elle-
même, court fatalement aux abîmes parce que ses instincts
sont pervers. Ils prétendent l’arrêter sur cette pente et lui
imprimer une meilleure direction. Ils ont donc reçu du ciel
une intelligence et des vertus qui les placent en dehors et
au-dessus de l’humanité ; qu’ils montrent leurs titres. Ils
veulent être bergers, ils veulent que nous soyons troupeau.
Cet arrangement présuppose en eux une supériorité de
nature, dont nous avons bien le droit de demander la preuve
préalable.
Remarquez que ce que je leur conteste, ce n’est pas le droit
d’inventer des combinaisons sociales, de les propager, de
les conseiller, de les expérimenter sur eux-mêmes, à leurs
frais et risques ; mais bien le droit de nous les imposer par
l’intermédiaire de la Loi, c’est-à-dire des forces et des
contributions publiques.
Je demande que les Cabétistes, les Fouriéristes, les
Proudhoniens, les Universitaires, les Protectionnistes
renoncent non à leurs idées spéciales, mais à cette idée qui
leur est commune, de nous assujettir de force à leurs
groupes et séries, à leurs ateliers sociaux, à leur banque
gratuite, à leur moralité gréco-romaine, à leurs entraves
commerciales. Ce que je leur demande, c’est de nous laisser
la faculté de juger leurs plans et de ne pas nous y associer,
directement ou indirectement, si nous trouvons qu’ils
froissent nos intérêts, ou s’ils répugnent à notre conscience.
Car la prétention de faire intervenir le pouvoir et l’impôt,
outre qu’elle est oppressive et spoliatrice, implique encore
cette hypothèse préjudicielle : l’infaillibilité de l’organisateur
et l’incompétence de l’humanité.
Et si l’humanité est incompétente à juger pour elle-même,
que vient-on nous parler de suffrage universel ?
Cette contradiction dans les idées s’est malheureusement
reproduite dans les faits, et pendant que le peuple français
a devancé tous les autres dans la conquête de ses droits, ou
plutôt de ses garanties politiques, il n’en est pas moins
resté le plus gouverné, dirigé, administré, imposé, entravé
et exploité de tous les peuples.
Il est aussi celui de tous où les révolutions sont le plus
imminentes, et cela doit être.
Dès qu’on part de cette idée, admise par tous nos
publicistes et si énergiquement exprimée par M. L. Blanc en
ces mots : « La société reçoit l’impulsion du pouvoir » ; dès
que les hommes se considèrent eux-mêmes comme
sensibles mais passifs, incapables de s’élever par leur
propre discernement et par leur propre énergie à aucune
moralité, à aucun bien-être, et réduits à tout attendre de la
Loi ; en un mot, quand ils admettent que leurs rapports avec
l’État sont ceux du troupeau avec le berger, il est clair que
la responsabilité du pouvoir est immense. Les biens et les
maux, les vertus et les vices, l’égalité et l’inégalité,
l’opulence et la misère, tout découle de lui. Il est chargé de
tout, il entreprend tout, il fait tout ; donc il répond de tout. Si
nous sommes heureux, il réclame à bon droit notre
reconnaissance ; mais si nous sommes misérables, nous ne
pouvons nous en prendre qu’à lui. Ne dispose-t-il pas, en
principe, de nos personnes et de nos biens ? La Loi n’est-elle
pas omnipotente ? En créant le monopole universitaire, il
s’est fait fort de répondre aux espérances des pères de
famille privés de liberté ; et si ces espérances sont déçues,
à qui la faute ? En réglementant l’industrie, il s’est fait fort
de la faire prospérer, sinon il eût été absurde de lui ôter sa
liberté ; et si elle souffre, à qui la faute ? En se mêlant de
pondérer la balance du commerce, par le jeu des tarifs, il
s’est fait fort de le faire fleurir ; et si, loin de fleurir, il se
meurt, à qui la faute ? En accordant aux armements
maritimes sa protection en échange de leur liberté, il s’est
fait fort de les rendre lucratifs ; et s’ils sont onéreux, à qui la
faute ?
Ainsi, il n’y a pas une douleur dans la nation dont le
gouvernement ne se soit volontairement rendu responsable.
Faut-il s’étonner que chaque souffrance soit une cause de
révolution ?
Et quel est le remède qu’on propose ? C’est d’élargir
indéfiniment le domaine de la Loi, c’est-à-dire la
Responsabilité du gouvernement.
Mais si le gouvernement se charge d’élever et de régler les
salaires et qu’il ne le puisse ; s’il se charge d’assister toutes
les infortunes et qu’il ne le puisse ; s’il se charge d’assurer
des retraites à tous les travailleurs et qu’il ne le puisse ; s’il
se charge de fournir à tous les ouvriers des instruments de
travail et qu’il ne le puisse ; s’il se charge d’ouvrir à tous les
affamés d’emprunts un crédit gratuit et qu’il ne le puisse ;
si, selon les paroles que nous avons vues avec regret
échapper à la plume de M. de Lamartine, « l’État se donne
la mission d’éclairer, de développer, d’agrandir, de fortifier,
de spiritualiser, et de sanctifier l’âme des peuples », et qu’il
échoue ; ne voit-on pas qu’au bout de chaque déception,
hélas ! plus que probable, il y a une non moins inévitable
révolution ?
Je reprends ma thèse et je dis : immédiatement après la
science économique et à l’entrée de la science politique [7] ,
se présente une question dominante. C’est celle-ci :
Qu’est-ce que la Loi ? que doit-elle être ? quel est son
domaine ? quelles sont ses limites ? où s’arrêtent, par suite,
les attributions du Législateur ?
Je n’hésite pas à répondre : La Loi, c’est la force commune
organisée pour faire obstacle à l’Injustice, — et pour
abréger, la Loi, c’est la Justice.
Il n’est pas vrai que le Législateur ait sur nos personnes et
nos propriétés une puissance absolue, puisqu’elles
préexistent et que son œuvre est de les entourer de
garanties.
Il n’est pas vrai que la Loi ait pour mission de régir nos
consciences, nos idées, nos volontés, notre instruction, nos
sentiments, nos travaux, nos échanges, nos dons, nos
jouissances.
Sa mission est d’empêcher qu’en aucune de ces matières le
droit de l’un n’usurpe le droit de l’autre.
La Loi, parce qu’elle a pour sanction nécessaire la Force, ne
peut avoir pour domaine légitime que le légitime domaine
de la force, à savoir : la Justice.
Et comme chaque individu n’a le droit de recourir à la force
que dans le cas de légitime défense, la force collective, qui
n’est que la réunion des forces individuelles, ne saurait être
rationnellement appliquée à une autre fin.
La Loi, c’est donc uniquement l’organisation du droit
individuel préexistant de légitime défense.
La Loi, c’est la Justice.
Il est si faux qu’elle puisse opprimer les personnes ou
spolier les propriétés, même dans un but philanthropique,
que sa mission est de les protéger.
Et qu’on ne dise pas qu’elle peut au moins être
philanthropique, pourvu qu’elle s’abstienne de toute
oppression, de toute spoliation ; cela est contradictoire. La
Loi ne peut pas ne pas agir sur nos personnes ou nos biens ;
si elle ne les garantit, elle les viole par cela seul qu’elle agit,
par cela seul qu’elle est.
La Loi, c’est la Justice.
Voilà qui est clair, simple, parfaitement défini et délimité,
accessible à toute intelligence, visible à tout œil, car la
Justice est une quantité donnée, immuable, inaltérable, qui
n’admet ni plus ni moins.
Sortez de là, faites la Loi religieuse, fraternitaire, égalitaire,
philanthropique, industrielle, littéraire, artistique, aussitôt
vous êtes dans l’infini, dans l’incertain, dans l’inconnu, dans
l’utopie imposée, ou, qui pis est, dans la multitude des
utopies combattant pour s’emparer de la Loi et s’imposer ;
car la fraternité, la philanthropie n’ont pas comme la justice
des limites fixes. Où vous arrêterez-vous ? Où s’arrêtera la
Loi ? L’un, comme M. de Saint-Cricq, n’étendra sa
philanthropie que sur quelques classes d’industriels, et il
demandera à la Loi qu’elle dispose des consommateurs en
faveur des producteurs. L’autre, comme M. Considérant,
prendra en main la cause des travailleurs et réclamera pour
eux de la Loi un minimum assuré, le vêtement, le logement,
la nourriture et toutes choses nécessaires à l’entretien de la
vie. Un troisième, M. L. Blanc, dira, avec raison, que ce n’est
là qu’une fraternité ébauchée et que la Loi doit donner à
tous les instruments de travail et l’instruction. Un quatrième
fera observer qu’un tel arrangement laisse encore place à
l’inégalité et que la Loi doit faire pénétrer, dans les
hameaux les plus reculés, le luxe, la littérature et les arts.
Vous serez conduits ainsi jusqu’au communisme, ou plutôt
la législation sera… ce qu’elle est déjà : — le champ de
bataille de toutes les rêveries et de toutes les cupidités.
La Loi, c’est la Justice.
Dans ce cercle, on conçoit un gouvernement simple,
inébranlable. Et je défie qu’on me dise d’où pourrait venir la
pensée d’une révolution, d’une insurrection, d’une simple
émeute contre une force publique bornée à réprimer
l’injustice. Sous un tel régime, il y aurait plus de bien-être, le
bien-être serait plus également réparti, et quant aux
souffrances inséparables de l’humanité, nul ne songerait à
en accuser le gouvernement, qui y serait aussi étranger
qu’il l’est aux variations de la température. A-t-on jamais vu
le peuple s’insurger contre la cour de cassation ou faire
irruption dans le prétoire du juge de paix pour réclamer le
minimum de salaires, le crédit gratuit, les instruments de
travail, les faveurs du tarif, ou l’atelier social ? Il sait bien
que ces combinaisons sont hors de la puissance du juge, et
il apprendrait de même qu’elles sont hors de la puissance
de la Loi.
Mais faites la Loi sur le principe fraternitaire, proclamez que
c’est d’elle que découlent les biens et les maux, qu’elle est
responsable de toute douleur individuelle, de toute inégalité
sociale, et vous ouvrez la porte à une série sans fin de
plaintes, de haines, de troubles et de révolutions.
La Loi, c’est la Justice.
Et il serait bien étrange qu’elle pût être équitablement autre
chose ! Est-ce que la justice n’est pas le droit ? Est-ce que
les droits ne sont pas égaux ? Comment donc la Loi
interviendrait-elle pour me soumettre aux plans sociaux de
MM. Mimerel, de Melun, Thiers, Louis Blanc, plutôt que pour
soumettre ces messieurs à mes plans ? Croit-on que je n’aie
pas reçu de la nature assez d’imagination pour inventer
aussi une utopie ? Est-ce que c’est le rôle de la Loi de faire
un choix entre tant de chimères et de mettre la force
publique au service de l’une d’elles ?
La Loi, c’est la Justice.
Et qu’on ne dise pas, comme on le fait sans cesse, qu’ainsi
conçue la Loi, athée, individualiste et sans entrailles, ferait
l’humanité à son image. C’est là une déduction absurde,
bien digne de cet engouement gouvernemental qui voit
l’humanité dans la Loi.
Quoi donc ! De ce que nous serons libres, s’ensuit-il que
nous cesserons d’agir ? De ce que nous ne recevrons pas
l’impulsion de la Loi, s’ensuit-il que nous serons dénués
d’impulsion ? De ce que la Loi se bornera à nous garantir le
libre exercice de nos facultés, s’ensuit-il que nos facultés
seront frappées d’inertie ? De ce que la Loi ne nous
imposera pas des formes de religion, des modes
d’association, des méthodes d’enseignement, des procédés
de travail, des directions d’échange, des plans de charité,
s’ensuit-il que nous nous empresserons de nous plonger
dans l’athéisme, l’isolement, l’ignorance, la misère et
l’égoïsme ? S’ensuit-il que nous ne saurons plus reconnaître
la puissance et la bonté de Dieu, nous associer, nous
entraider, aimer et secourir nos frères malheureux, étudier
les secrets de la nature, aspirer aux perfectionnements de
notre être ?
La Loi, c’est la Justice.
Et c’est sous la Loi de justice, sous le régime du droit, sous
l’influence de la liberté, de la sécurité, de la stabilité, de la
responsabilité, que chaque homme arrivera à toute sa
valeur, à toute la dignité de son être, et que l’humanité
accomplira avec ordre, avec calme, lentement sans doute,
mais avec certitude, le progrès, qui est sa destinée.
Il me semble que j’ai pour moi la théorie ; car quelque
question que je soumette au raisonnement, qu’elle soit
religieuse, philosophique, politique, économique ; qu’il
s’agisse de bien-être, de moralité, d’égalité, de droit, de
justice, de progrès, de responsabilité, de solidarité, de
propriété, de travail, d’échange, de capital, de salaires,
d’impôts, de population, de crédit, de gouvernement ; à
quelque point de l’horizon scientifique que je place le point
de départ de mes recherches, toujours invariablement
j’aboutis à ceci : la solution du problème social est dans la
Liberté.
Et n’ai-je pas aussi pour moi l’expérience ? Jetez les yeux
sur le globe. Quels sont les peuples les plus heureux, les
plus moraux, les plus paisibles ? Ceux où la Loi intervient le
moins dans l’activité privée ; où le gouvernement se fait le
moins sentir ; où l’individualité a le plus de ressort et
l’opinion publique le plus d’influence ; où les rouages
administratifs sont les moins nombreux et les moins
compliqués ; les impôts les moins lourds et les moins
inégaux ; les mécontentements populaires les moins excités
et les moins justifiables ; où la responsabilité des individus
et des classes est la plus agissante, et où, par suite, si les
mœurs ne sont pas parfaites, elles tendent invinciblement à
se rectifier ; où les transactions, les conventions, les
associations sont le moins entravées ; où le travail, les
capitaux, la population, subissent les moindres
déplacements artificiels ; où l’humanité obéit le plus à sa
propre pente ; où la pensée de Dieu prévaut le plus sur les
inventions des hommes ; ceux, en un mot, qui approchent le
plus de cette solution : dans les limites du droit, tout par la
libre et perfectible spontanéité de l’homme ; rien par la Loi
ou la force que la Justice universelle.
Il faut le dire : il y a trop de grands hommes dans le monde ;
il y a trop de législateurs, organisateurs, instituteurs de
sociétés, conducteurs de peuples, pères des nations, etc.
Trop de gens se placent au-dessus de l’humanité pour la
régenter, trop de gens font métier de s’occuper d’elle.
On me dira : Vous vous en occupez bien, vous qui parlez.
C’est vrai. Mais on conviendra que c’est dans un sens et à
un point de vue bien différents, et si je me mêle aux
réformateurs c’est uniquement pour leur faire lâcher prise.
Je m’en occupe non comme Vaucanson, de son automate,
mais comme un physiologiste, de l’organisme humain : pour
l’étudier et l’admirer.
Je m’en occupe, dans l’esprit qui animait un voyageur
célèbre.
Il arriva au milieu d’une tribu sauvage. Un enfant venait de
naître et une foule de devins, de sorciers, d’empiriques
l’entouraient, armés d’anneaux, de crochets et de liens.
L’un disait : cet enfant ne flairera jamais le parfum d’un
calumet, si je ne lui allonge les narines. Un autre : il sera
privé du sens de l’ouïe, si je ne lui fais descendre les oreilles
jusqu’aux épaules. Un troisième : il ne verra pas la lumière
du soleil, si je ne donne à ses yeux une direction oblique. Un
quatrième : il ne se tiendra jamais debout, si je ne lui
courbe les jambes. Un cinquième : il ne pensera pas, si je ne
comprime son cerveau. Arrière, dit le voyageur. Dieu fait
bien ce qu’il fait ; ne prétendez pas en savoir plus que lui, et
puisqu’il a donné des organes à cette frêle créature, laissez
ses organes se développer, se fortifier par l’exercice, le
tâtonnement, l’expérience et la Liberté.
Dieu a mis aussi dans l’humanité tout ce qu’il faut pour
qu’elle accomplisse ses destinées. Il y a une physiologie
sociale providentielle comme il y a une physiologie humaine
providentielle. Les organes sociaux sont aussi constitués de
manière à se développer harmoniquement au grand air de
la Liberté. Arrière donc les empiriques et les organisateurs !
Arrière leurs anneaux, leurs chaînes, leurs crochets, leurs
tenailles ! arrière leurs moyens artificiels ! arrière leur
atelier social, leur phalanstère, leur gouvernementalisme,
leur centralisation, leurs tarifs, leurs universités, leurs
religions d’État, leurs banques gratuites ou leurs banques
monopolisées, leurs compressions, leurs restrictions, leur
moralisation ou leur égalisation par l’impôt ! Et puisqu’on a
vainement infligé au corps social tant de systèmes, qu’on
finisse par où l’on aurait dû commencer, qu’on repousse les
systèmes, qu’on mette enfin à l’épreuve la Liberté, — la
Liberté, qui est un acte de foi en Dieu et en son œuvre.

Notas:
1. ↑ Ce fut en juin 1850 que l’auteur, pendant quelques jours passés dans sa
famille à Mugron, écrivit ce pamphlet. (Note de l’éditeur )
2. ↑ Voy. au tome V, les deux dernières pages du pamphlet, Spoliation et Loi .
3. ↑ Conseil général des manufactures, de l’agriculture et (Note de l’éditeur )
du commerce. (Séance du 6 mai 1850.)
4. ↑ Si la protection n’était accordée, en France, qu’à une seule classe, par
exemple, aux maîtres de forges, elle serait si absurdement spoliatrice
qu’elle ne pourrait se maintenir. Aussi voyons nous toutes les industries
protégées se liguer, faire cause commune et même se recruter de manière
à paraître embrasser l’ensemble du travail national. Elles sentent
instinctivement que la Spoliation se dissimule en se généralisant.
5. ↑ Dans le pamphlet Baccalauréat et Socialisme (le 5me d’après notre
classement), l’auteur, par une série de citations analogues, montre encore
la filiation de la même erreur. (Note de l’éditeur. )
6. ↑ Pour qu’un peuple soit heureux, il est indispensable que les individus qui
le composent aient de la prévoyance, de la prudence, et de cette confiance
les uns dans les autres qui naît de la sûreté.
Or, il ne peut guère acquérir ces choses que par l’expérience. Il devient
prévoyant quand il a souffert pour n’avoir pas prévu ; prudent, quand sa
témérité a été souvent punie, etc.
Il résulte de là que la liberté commence toujours par être accompagnée
des maux qui suivent l’usage inconsidéré qu’on en fait.
À ce spectacle, des hommes se lèvent qui demandent que la liberté soit
proscrite.
« Que l’État, disent-ils, soit prévoyant et prudent pour tout le monde. »
Sur quoi, je pose ces questions :
1o Cela est-il possible ? Peut-il sortir un État expérimenté d’une nation
inexpérimentée ?
2o En tout cas, n’est-ce pas étouffer l’expérience dans son germe ?
Si le pouvoir impose les actes individuels, comment l’individu s’instruira-t-il
par les conséquences de ses actes ? Il sera donc en tutelle à perpétuité ?
Et l’État ayant tout ordonné sera responsable de tout.
Il y a là un foyer de révolutions, et de révolutions sans issue, puisqu’elles
seront faites par un peuple auquel, en interdisant l’expérience, on a
interdit le progrès. (Pensée tirée des manuscrits de l’auteur )
7. ↑ L’économie politique précède la politique ; celle-là dit si les intérêts
humains sont naturellement harmoniques ou antagoniques ; ce que celle-ci
devrait savoir avant de fixer les attributions du gouvernement.
Bônus
Espero que tenha gostado deste livro. Conheça também
outra importante obra de Bastiat. Nas páginas seguintes
estão a primeira sessão do livro O Que se vê e O Que não
se vê , aproveite.
Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.

Obras Filosóficas

A Lei por Frédéric Bastiat


O Que se vê e O Que não se vê por Frédéric Bastiat
Meditações de Marco Aurélio
Discurso da Servidão Voluntária por Étienne de La
Boétie
Fascismo e Democracia por George Orwell
A Vida Intelectual por Antonin-Dalmace Sertillanges
A Arte de ter Razão por Arthur Schopenhauer
Estoicismo, Guia Definitivo por St. George Stock
Ciropédia por Xenofonte
Utopia por Thomas More
Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres por Diógenes
Laércio
Andar a Pé por Henry David Thoreau
Carta a Meneceu sobre a felicidade por Epicuro
Epicuro, Cartas e Princípios por Epicuro
O Dever do Advogado por Ruy Barbosa
Os Sermões por Padre António Vieira

Obras filosóficas de Sêneca :


Cartas de um Estoico, Vol I (Epistulae morales ad
Lucilium )
Cartas de um Estoico, Vol II
Cartas de um Estoico, Vol III
Sobre a Ira ( De Ira )
Consolação a Márcia ( Ad Marciam, De consolatione
)
Consolação a Minha Mãe Hélvia (Ad Helviam
matrem, De consolatione )
Consolação a Políbio (De Consolatione ad Polybium )
Sobre a Brevidade da vida (De Brevitate Vitae )
Da Clemência ( De Clementia )
Sobre Constância do sábio (De Constantia Sapientis
)
A Vida Feliz ( De Vita Beata )
Sobre os Benefícios ( De Beneficiis )
Sobre a Tranquilidade da alma ( De Tranquillitate
Animi )
Sobre o Ócio ( De Otio )
Sobre a Providência Divina ( De Providentia )
Sêneca, Vida e Filosofia por Francis Holland.
Introdução por Bastiat 1

Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição ou


uma lei não gera apenas um efeito, mas uma série de
efeitos. Destes efeitos, apenas o primeiro é imediato; ele se
manifesta simultaneamente com a sua causa, nós o vemos.
Os outros acontecem apenas sucessivamente; não os
vemos; fique feliz se conseguirmos prevemos.
A diferença entre um mau e um bom economista é a
seguinte: um se apega ao efeito visível; o outro leva em
conta tanto o efeito que vemos quanto aqueles que
devemos prever.
Mas esta diferença é enorme, pois quase sempre acontece
que quando a repercussão imediata é favorável, as
consequências subsequentes são desastrosas, e vice-versa.
Daí decorre que o Economista mau persegue um pequeno
bem presente que será seguido por um grande mal futuro,
enquanto o verdadeiro Economista persegue um grande
bem futuro, com o risco de um pequeno mal presente.
Além disso, é assim que é na higiene e na moral. Muitas
vezes, quanto mais doce é o primeiro fruto de um hábito,
mais amargos são os outros. Pegue, por exemplo o deboche,
negligência Quando um homem, atingido pelos efeitos que
são vistos, ainda não aprendeu a discernir aqueles que não
são vistos, ele se abandona a hábitos prejudiciais, não
apenas por disposição, mas por cálculo.
Isto explica a evolução fatalmente dolorosa da humanidade.
A ignorância envolve seu berço; portanto, ela determina
seus atos por suas primeiras consequências, as únicas, em
sua origem, que ela pode ver. É somente a longo prazo que
aprende a levar as outras em consideração. Dois mestres
muito diferentes lhe ensinam esta lição: Experiência e
Previsão. A experiência governa com eficácia, mas de forma
brutal. Ela nos ensina todos os efeitos de um ato, fazendo-
nos senti-los, e não podemos deixar de saber que o fogo
queima por causa das queimaduras em nós mesmos. Seria
bom se nos fosse possível substituir esse rude mestre por
um mais delicado: a Previdência. É por isso que vou analisar
as repercussões de alguns fenômenos econômicos, opondo
às que são visíveis àquelas que não se veem.

I. A Janela Quebrada

Você testemunhou a fúria do bom burguês Jacques


Bonhomme 2 , quando seu terrível filho acabou quebrando
uma vidraça? Quem esteve presente neste espetáculo,
certamente terá notado que todos os presentes, mesmo que
fossem trinta, pareciam ter concordado em oferecer ao
infeliz proprietário este consolo uniforme: “Há males que
vem para o bem. Tais acidentes fazem a indústria prosperar.
Todos devem viver. O que seria dos vidraceiros, se as
janelas nunca fossem quebradas? ”
Agora, esta forma de condolências contém toda uma teoria,
que será bom mostrar-se neste caso simples, visto que é
exatamente a mesma que, infelizmente, regula a maior
parte de nossas instituições econômicas.
Suponha que custou seis francos para reparar o dano, e
você diz que o acidente traz seis francos para o comércio do
vidraceiro — que encoraja esse comércio ao valor de seis
francos — eu o admito; não tenho uma palavra a dizer
contra isso; você raciocina com justiça. O vidraceiro vem,
desempenha sua tarefa, recebe seus seis francos, esfrega
suas mãos e, em seu coração, abençoa a criança
descuidada. Tudo isso é o que se vê.
Mas se, por outro lado, você chegar à conclusão, como
acontece com muita frequência, que é bom quebrar janelas,
que faz circular dinheiro e que o incentivo à indústria em
geral será o resultado disso, você me obrigará a exclamar:
“Pare aí! sua teoria está confinada ao que se vê; não leva
em conta o que não se vê ”.
Não se vê que como nosso comerciante gastou seis francos
em uma coisa, ele não pode gastá-los em outra. Não se vê
que, se ele não tivesse uma janela para substituir, talvez
tivesse substituído seus sapatos velhos, ou acrescentado
outro livro à sua biblioteca. Em resumo, ele teria empregado
seus seis francos de alguma forma, o que este acidente
evitou.
Vejamos a indústria em geral, como afetada por esta
circunstância. Com a janela quebrada, o comércio do
vidraceiro é estimulado ao valor de seis francos: é o que se
vê.
Se a janela não tivesse sido quebrada, o comércio do
sapateiro (ou algum outro) teria sido incentivado à quantia
de seis francos: isto é o que não se vê.
E se o que não é visto for levado em consideração, porque é
um fato negativo, assim como o que é visto, porque é um
fato positivo, será entendido que nem a indústria em geral,
nem a soma total da mão-de-obra nacional, se as janelas
são quebradas ou não.
Consideremos agora o próprio Jacques B. Na primeira
suposição, a da janela quebrada, ele gasta seis francos, e
não tem nem mais nem menos do que tinha antes, o
desfrute de uma janela.
No segundo, onde supomos que a janela não tenha sido
quebrada, ele teria gasto seis francos em sapatos e teria
tido ao mesmo tempo o gozo de um par de sapatos e de
uma janela.
Agora, como Jaques B. faz parte da sociedade, temos que
chegar à conclusão de que, tomando-a ao todo, e fazendo
uma estimativa de seus prazeres e seu trabalho, ela perdeu
o valor da janela quebrada.
De onde chegamos a esta conclusão inesperada: “A
sociedade perde o valor das coisas que são inutilmente
destruídas ”; e devemos concordar com uma máxima que
vai arrepiar os cabelos dos protecionistas: “Quebrar,
estragar, desperdiçar, não é encorajar o trabalho nacional;
ou, mais resumidamente, “destruição não é lucro ”.
O que você vai dizer, Moniteur Industriel 3 — o que você vai
dizer, discípulos do bom monsieur Saint-Chamans, 4 que
calculou com tanta precisão quanto o comércio ganharia
com a queima de Paris, a partir do número de casas que
seria necessário reconstruir?
Lamento perturbar estes cálculos engenhosos, já que seu
espírito foi introduzido em nossa legislação; mas peço-lhe
que os refaçam, levando em conta o que não se vê, e
colocando-o ao lado do que se vê.
O leitor deve ter o cuidado de lembrar que não há apenas
duas pessoas, mas três preocupadas na pequena cena que
submeti à sua atenção. Uma delas, Jaques B., representa o
consumidor, reduzido, por um ato de destruição, a um gozo
em vez de dois. Outra sob o título de vidraceiro, mostra-nos
o produtor, cujo comércio é encorajado pelo acidente. O
terceiro é o sapateiro (ou algum outro comerciante), cujo
trabalho sofre proporcionalmente pela mesma causa. É esta
terceira pessoa que é sempre mantida na sombra, e que,
personalizando o que não é visto, é um elemento necessário
do problema. É ele que nos mostra como é absurdo pensar
que vemos um lucro num ato de destruição. É ele que logo
nos ensinará que não é menos absurdo ver lucro em uma
limitação, que não é, afinal, nada mais que uma destruição
parcial. Portanto, se você for à raiz de todos os argumentos
que são aduzidos a seu favor, tudo o que você encontrará
será a paráfrase deste vulgar ditado – “O que seria do
vidraceiro, se ninguém jamais quebrasse janelas? ”

Notas:
1 Nota da edição francesa Guillaumin et Cie Libraires : Este panfleto,
publicado em julho de 1850, foi o último que Bastiat escreveu. Por mais de um
ano, ele havia sido prometido ao público. Eis como seu lançamento foi atrasado.
O autor perdeu o manuscrito quando mudou sua residência da rue de Choiseul
para a rue d’Alger. Após uma longa e inútil busca, ele decidiu recomeçar seu
trabalho por completo e escolheu como base principal para seus discursos de
mobilização recentemente proferidos na Assembleia Nacional. Esta tarefa foi
concluída, mas ele se censurou por ter sido muito sério, jogou o segundo
manuscrito no fogo e escreveu o que estamos reeditando. ()
2 Nota do tradutor: Em francês se usa o nome Jacques Bonhomme como em
português usaríamos “João Bomhomem” ou então “José da Silva”,
representando o homem comum do povo.
3 Le Moniteur Universel (em português, O Monitor Universal) foi um jornal
francês fundado em 24 de novembro de 1789 em Paris, França, por Charles
Joseph Panckoucke e descontinuado em 1901. Foi o principal jornal durante a
Revolução Francesa e durante muito tempo o diário oficial do governo francês.
Nos tempos de Napoleão foi um órgão de propaganda do regime napoleônico. O
diário teve uma ampla difusão tanto na França como na Europa e nos Estados
Unidos durante a Revolução Francesa. Na época representava a organização
protecionista.
4 Auguste Louis Philippe de Saint-Chamans foi um político francês nascido
em 1º de maio de 1777 em Paris e morto em 7 de dezembro de 1860. Era
protecionista e partidário da balança comercial. O fato citado por Bastiat tem
origem no conto publicado por Saint-Chamans intitulado “Novo tratado sobre a
riqueza das nações ”, de 1824

Você também pode gostar