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comunismo e socialismo
A teoria comunista é ainda mais bizarra que a socialista
Nota do Editor
Fevereiro de 2017 marca o centésimo aniversário do início da Revolução Russa. Nada mais
propício do que mostrar as incontornáveis incoerências da teoria que impulsionou aquele
acontecimento que mudou o mundo. E que gerou a maior carnificina da história.
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Neste artigo, Heilbroner recontou a história de como Ludwig von Mises, ainda em 1920,
havia provado que o socialismo não poderia funcionar como sistema econômico. Neste
artigo, Heilbroner disse essas três palavras: "Mises estava certo".
Mas aí vem a dúvida: qual a diferença entre comunismo e socialismo? Mises havia
concluído que o socialismo não poderia funcionar, mas o que realmente entrou em colapso
foi um sistema rotulado comunismo. Há alguma diferença?
História
Marx passou toda a sua carreira se opondo àquilo que ele chamou de "socialismo utópico".
Ele nunca interagiu com nenhum grande economista ou teórico social. Você pode procurar,
mas jamais encontrará qualquer refutação sistemática feita por Marx a Adam Smith, por
exemplo. Marx gastou suas energias criticando verbalmente vários autores de esquerda,
cujos escritos praticamente não tiveram nenhuma influência sobre a Europa em geral.
Dado que ele estava constantemente atacando autores socialistas, Marx criou uma teoria
própria sobre o comunismo. Ele chamou essa sua teoria sobre o comunismo de "socialismo
científico". Marx argumentou que, inerente ao desenvolvimento da história, há uma
inevitável série de etapas. Isso significa que ele era um determinista econômico. Ele
acreditava que o modo de produção é fundamental em uma sociedade e que o socialismo
seria historicamente inevitável porque haveria uma inevitável transformação do modo de
produção da sociedade.
Todos os aspectos culturais da sociedade, sua filosofia e sua literatura formariam, segundo
Marx, a superestrutura da sociedade. Já a subestrutura — ou seja, seus fundamentos —
seria o modo de produção.
Segundo Marx, sua análise econômica revelava uma inevitável linearidade dos vários
modos de produção. O comunismo primitivo levou ao feudalismo. O feudalismo levou ao
capitalismo. O capitalismo levará a uma bem-sucedida revolução do proletariado. O
proletariado irá impor o socialismo. E, do socialismo, surgirá o comunismo.
Esse processo linear fecha o círculo. Tudo começou com o comunismo primitivo, e tudo
levará ao comunismo supremo. Com o comunismo supremo, toda a evolução histórica
estará completa.
Só que Marx nunca explicou por que a evolução das etapas seria dessa maneira. Ele nunca
explicou por que não haveria outra revolução após a chegada do comunismo supremo, a
qual levaria a um modo de produção maior que o comunismo. Era mais conveniente apenas
finalizar esse processo linear no comunismo.
A União Soviética jamais alegou ter chegado ao estágio comunista do modo de produção.
Ela sempre se disse socialista. O nome do país era União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas. Os líderes supremos da União Soviética jamais alegaram que a URSS havia
alcançado a etapa final do modo de produção. Stalin promoveu o conceito de socialismo
em apenas um país. Ele diferia de Trotsky nesse quesito. Trotsky queria uma revolução do
proletariado em nível global. Stalin era mais esperto. Ele queria o poder e, sendo assim, ele
sabia que, antes de tudo, teria de consolidar o poder em um país.
Logo, Trotsky teve de fugir do país, e Stalin enviou o agente Ramón Mercader, do
Comissariado do Povo para Assuntos Internos, para matá-lo na Cidade do México. O
agente matou Trotsky com um golpe de picareta em seu crânio. Foi um ato cheio de
simbolismo. A picareta havia sido um dos ícones da história da Rússia.
O socialismo é a propriedade estatal dos meios de produção. Mas Marx profetizou que o
estado desapareceria sob o comunismo. Pior: ele nunca explicou como ou por que isso iria
acontecer. Sua teoria era bizarra. Ele dizia que, para abolir o estado, era necessário antes
maximizá-lo. A ideia era que, quando tudo fosse do estado, não haveria mais um estado
como entidade distinta da sociedade; se tudo se tornasse propriedade do estado, então não
haveria mais um estado propriamente dito, pois sociedade e estado teriam virado a mesma
coisa, uma só entidade — e, assim, todos estariam livres do estado.
O raciocínio é totalmente sem sentido. Por essa lógica, se o estado dominar completamente
tudo o que pertence aos indivíduos, dominando inclusive seu corpo e seus pensamentos,
então os indivíduos estarão completamente livres, pois não mais terão qualquer noção de
liberdade — afinal, é exatamente a ausência de qualquer noção de liberdade que o fará se
sentir livre.
Igualmente, Marx nunca mostrou como o sistema de produção poderia ser organizado nessa
etapa suprema do comunismo, na qual não haveria nem um livre mercado e nem um
planejamento centralizado pelo estado. Ele nunca forneceu qualquer detalhe sobre como
seria uma sociedade comunista, exceto em uma breve passagem que foi publicada em um
livro escrito conjuntamente com Engels e com o homem que os havia apresentado em
1843, Moses Hess. O livro foi intitulado A Ideologia Alemã (1845). Só foi publicado em
1932. Hess jamais ganhou créditos por sua co-autoria, mas parte do manuscrito aparece em
sua coletânea de escritos.
Assim que a distribuição do trabalho passa a existir, cada homem tem um círculo de
atividade determinado e exclusivo que lhe é imposto e do qual não pode sair; será caçador,
pescador, pastor ou um crítico, e terá de continuar a sê-lo se não quiser perder os meios de
subsistência
Na sociedade comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que
lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividade exclusiva, é a sociedade que
regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar da
manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu
bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.
Esta fixação da atividade social, esta petrificação do nosso próprio trabalho num poder
objetivo que nos domina e escapa ao nosso controlo contrariando a nossa expectativa e
destruindo os nossos cálculos, é um dos fatores principais no desenvolvimento histórico até
aos nossos dias.
Não obstante o fato de que há aproximadamente 70 volumes das obras de Marx e Engels,
essa é a passagem mais longa que descreve o funcionamento de uma sociedade comunista e
de como seria a vida sob esse arranjo.
Conclusão
Socialismo foi o sistema que realmente foi colocado em prática. Comunismo pleno nunca
existiu e não passa de uma utopia cujo funcionamento jamais foi explicitado em trechos
maiores do que um parágrafo.
Sem uma economia monetária — ou seja, sem uma economia em que os cálculos de lucros
e prejuízos são possibilitados pelo dinheiro — é impossível haver uma ampla divisão do
trabalho.
E sem um livre mercado para todos os bens, mais especificamente para bens de capital, é
impossível haver um planejamento econômico racional.
A propriedade comunal dos meios de produção (por exemplo, das fábricas) impede a
existência de mercados para bens de capital (por exemplo, máquinas). Se não há
propriedade privada sobre os meios de produção, não há um genuíno mercado entre eles.
Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços legítimos. Se
não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de preços. E sem esse cálculo de preços,
é impossível haver qualquer racionalidade econômica — o que significa que uma economia
planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada.
O arranjo socialista simplesmente impede que esse mecanismo ocorra. Foi por isso que
Mises argumentou, ainda em 1920, que qualquer passo rumo ao socialismo é um passo
rumo à irracionalidade econômica.
E foi a isso que Heilbroner se referiu quando ele disse que "Mises estava certo".
Hans F. Sennholz, 1922-2007, foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.
Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim
que chegou. Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic
Education, 1992-1997. Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004,
ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.
David Gordon, membro sênior do Mises Institute, analisa livros recém-lançados sobre
economia, política, filosofia e direito. É também o autor de The Essential Rothbard.
Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre
economia, ética e história.
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2063
Segundo Marx, o que possibilita a um capitalista obter uma renda superior ao salário que
ele paga ao seu empregado é exatamente o mesmo fenômeno que torna possível a um dono
de escravo auferir ganhos em decorrência do trabalho do seu escravo. Mais
especificamente, um trabalhador é capaz de produzir, em menos de um dia inteiro de
trabalho, os bens de que ele necessita para ter a força e a energia necessárias para labutar
um dia inteiro de trabalho.
Para utilizar um dos exemplos fornecidos pelo próprio Marx, um trabalhador é capaz de
produzir em 6 horas todos os alimentos e todas as necessidades de que ele precisa para ser
capaz de trabalhar 12 horas. Estas 6 horas — ou qualquer que seja o número de horas
necessárias para o trabalhador produzir essas suas necessidades — são rotuladas por Marx
de "tempo de trabalho necessário". Já as horas que o trabalhador trabalha além do tempo de
trabalho necessário são rotuladas por Marx de "tempo de trabalho excedente."
Quando o trabalhador trabalha 12 horas para um capitalista, seu trabalho, de acordo com
Marx, acrescenta aos materiais e aos outros meios de produção consumidos na manufatura
do produto final um valor intrínseco correspondente a 12 horas de trabalho. E, por sua vez,
se estes materiais e outros meios de produção demandaram 48 horas de trabalho para serem
produzidos, então o produto final conterá estas 48 horas de trabalho mais as 12 horas
adicionais de trabalho desempenhado pelo trabalhador. O produto final, portanto, terá um
valor total correspondente a 60 horas de trabalho.
Ainda segundo Marx, uma combinação entre a ganância dos capitalistas e as forças que
tendem a reduzir o lucro em relação ao capital investido faz com que os capitalistas
aumentem a taxa de exploração. Se os trabalhadores são capazes de trabalhar 18 horas por
dia utilizando as necessidades produzidas em apenas 6 horas por dia, então a jornada de
trabalho será elevada para 18 horas por dia. Se os salários que os capitalistas pagam para
seus empregados homens for o suficiente para permitir que estes sustentem uma esposa e
duas crianças, então os capitalistas irão reduzir os salários para forçar mulheres e crianças a
irem trabalhar nas fábricas, dando assim aos capitalistas o benefício de auferir mais 'tempo
de trabalho excedente' e mais mais-valia.
Ao contrário do que diz a teoria da exploração, e ao contrário do que a maioria das pessoas
imagina, os assalariados que os supostos exploradores capitalistas empregam não são os
produtores principais dos produtos manufaturados por uma empresa. Assim como
Cristóvão Colombo foi o descobridor da América, e não os marujos que tripulavam os
navios e que foram seus auxiliares na realização de seus (de Colombo) planos e projetos, os
capitalistas é que são os produtores principais dos produtos produzidos por suas empresas.
Os empregados do capitalista podem ser mais corretamente descritos como "os auxiliares"
na produção dos produtos do capitalista. Os lucros do capitalista não representam uma
dedução daquele valor que, segundo Marx, pertence por direito aos trabalhadores na forma
de salários. Os lucros representam aquilo que o capitalista ganhou em decorrência
principalmente de seu trabalho intelectual, de seu planejamento e de suas decisões. O
capitalista produz um produto próprio, embora utilize a ajuda de terceiros cuja mão-de-obra
ele emprega com o propósito de implementar seus planos e consequentemente produzir seus
produtos.
Sendo assim, por exemplo, Henry Ford era o produtor principal na Ford Motor Company;
John D. Rockefeller, na Standard Oil; Bill Gates, na Microsoft; Jeff Bezos, na Amazon; e
Warren Buffet, na Berkshire Hathaway.
Marx teve sim uma grande ideia, a qual era em si totalmente correta, e que pode jogar mais
luz sobre esta discussão. Esta sua ideia foi fazer uma distinção entre aquilo que ele chamou
de "circulação capitalista" e aquilo que ele chamou de "circulação simples". Mas Marx,
infelizmente, ignorou por completo e contradisse totalmente as reais implicações desta sua
ideia.
Os capitalistas não são os responsáveis pelo fenômeno do lucro, mas sim pelo
surgimento dos salários e dos custos
Tanto Marx quanto Adam Smith, que veio antes de Marx, presumiram erroneamente que,
em um mundo de circulação simples — o qual Smith chamou de "o estado rude e primitivo
da sociedade" —, todas as rendas obtidas eram salários. Para eles, não havia lucro neste
modelo. O lucro, segundo eles, só passou a existir quando surgiu a circulação capitalista.
Mais ainda: o lucro seria uma dedução daquilo que originalmente era salário.
Mas a verdade é que, em um mundo de circulação simples, o que está ausente não é o lucro,
mas sim os gastos monetários — o D inicial — com o pagamento de salários e com a
aquisição de bens de capital, e que são computados como custos de produção.
O surgimento da circulação capitalista, portanto, não é responsável nem pela dedução dos
salários e nem pelo surgimento do lucro. Ao contrário: ela é responsável pela criação dos
salários, pelo surgimento dos gastos com bens de capital e pelo surgimento dos custos de
produção mensurados em termos monetários. Estes custos serão deduzidos das receitas,
produzindo então o lucro. As receitas de venda, no cenário anterior, representavam o lucro
total. Não havia custos a serem deduzidos das receitas. Agora, com o surgimento da
circulação capitalista, surgiu o salário dos trabalhadores, os quais são deduzidos dos lucros
dos capitalistas. Portanto, primeiro surgiu o lucro; só depois é que surgiu o salário. É o
salário que é deduzido do lucro dos capitalistas, e não o lucro que é deduzido do salário dos
trabalhadores.
Isto não é nenhuma exploração dos trabalhadores assalariados. É, isto sim, a maciça e
progressiva melhoria de seu bem-estar econômico.
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1368