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Karl Marx e a diferença entre

comunismo e socialismo
A teoria comunista é ainda mais bizarra que a socialista
Nota do Editor

Fevereiro de 2017 marca o centésimo aniversário do início da Revolução Russa. Nada mais
propício do que mostrar as incontornáveis incoerências da teoria que impulsionou aquele
acontecimento que mudou o mundo. E que gerou a maior carnificina da história.

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No dia 10 de setembro de 1990, o multimilionário escritor, economista e socialista Robert


Heilbroner publicou um artigo na revista The New Yorker intitulado "Após o Comunismo".
A URSS já estava em avançado processo de colapso.

Neste artigo, Heilbroner recontou a história de como Ludwig von Mises, ainda em 1920,
havia provado que o socialismo não poderia funcionar como sistema econômico. Neste
artigo, Heilbroner disse essas três palavras: "Mises estava certo".

Mas aí vem a dúvida: qual a diferença entre comunismo e socialismo? Mises havia
concluído que o socialismo não poderia funcionar, mas o que realmente entrou em colapso
foi um sistema rotulado comunismo. Há alguma diferença?

História

Quando Karl Marx e Friedrich Engels começaram a escrever conjuntamente, no ano de


1843, Marx era a figura dominante. Engels era um melhor escritor, e era ele quem
sustentava Marx financeiramente.

Marx passou toda a sua carreira se opondo àquilo que ele chamou de "socialismo utópico".
Ele nunca interagiu com nenhum grande economista ou teórico social. Você pode procurar,
mas jamais encontrará qualquer refutação sistemática feita por Marx a Adam Smith, por
exemplo. Marx gastou suas energias criticando verbalmente vários autores de esquerda,
cujos escritos praticamente não tiveram nenhuma influência sobre a Europa em geral.

Dado que ele estava constantemente atacando autores socialistas, Marx criou uma teoria
própria sobre o comunismo. Ele chamou essa sua teoria sobre o comunismo de "socialismo
científico". Marx argumentou que, inerente ao desenvolvimento da história, há uma
inevitável série de etapas. Isso significa que ele era um determinista econômico. Ele
acreditava que o modo de produção é fundamental em uma sociedade e que o socialismo
seria historicamente inevitável porque haveria uma inevitável transformação do modo de
produção da sociedade.

Todos os aspectos culturais da sociedade, sua filosofia e sua literatura formariam, segundo
Marx, a superestrutura da sociedade. Já a subestrutura — ou seja, seus fundamentos —
seria o modo de produção.

Segundo Marx, sua análise econômica revelava uma inevitável linearidade dos vários
modos de produção. O comunismo primitivo levou ao feudalismo. O feudalismo levou ao
capitalismo. O capitalismo levará a uma bem-sucedida revolução do proletariado. O
proletariado irá impor o socialismo. E, do socialismo, surgirá o comunismo.
Esse processo linear fecha o círculo. Tudo começou com o comunismo primitivo, e tudo
levará ao comunismo supremo. Com o comunismo supremo, toda a evolução histórica
estará completa.

Só que Marx nunca explicou por que a evolução das etapas seria dessa maneira. Ele nunca
explicou por que não haveria outra revolução após a chegada do comunismo supremo, a
qual levaria a um modo de produção maior que o comunismo. Era mais conveniente apenas
finalizar esse processo linear no comunismo.

A União Soviética jamais alegou ter chegado ao estágio comunista do modo de produção.
Ela sempre se disse socialista. O nome do país era União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas. Os líderes supremos da União Soviética jamais alegaram que a URSS havia
alcançado a etapa final do modo de produção. Stalin promoveu o conceito de socialismo
em apenas um país. Ele diferia de Trotsky nesse quesito. Trotsky queria uma revolução do
proletariado em nível global. Stalin era mais esperto. Ele queria o poder e, sendo assim, ele
sabia que, antes de tudo, teria de consolidar o poder em um país.

Logo, Trotsky teve de fugir do país, e Stalin enviou o agente Ramón Mercader, do
Comissariado do Povo para Assuntos Internos, para matá-lo na Cidade do México. O
agente matou Trotsky com um golpe de picareta em seu crânio. Foi um ato cheio de
simbolismo. A picareta havia sido um dos ícones da história da Rússia.

O socialismo é a propriedade estatal dos meios de produção. Mas Marx profetizou que o
estado desapareceria sob o comunismo. Pior: ele nunca explicou como ou por que isso iria
acontecer. Sua teoria era bizarra. Ele dizia que, para abolir o estado, era necessário antes
maximizá-lo. A ideia era que, quando tudo fosse do estado, não haveria mais um estado
como entidade distinta da sociedade; se tudo se tornasse propriedade do estado, então não
haveria mais um estado propriamente dito, pois sociedade e estado teriam virado a mesma
coisa, uma só entidade — e, assim, todos estariam livres do estado.

O raciocínio é totalmente sem sentido. Por essa lógica, se o estado dominar completamente
tudo o que pertence aos indivíduos, dominando inclusive seu corpo e seus pensamentos,
então os indivíduos estarão completamente livres, pois não mais terão qualquer noção de
liberdade — afinal, é exatamente a ausência de qualquer noção de liberdade que o fará se
sentir livre.

Igualmente, Marx nunca mostrou como o sistema de produção poderia ser organizado nessa
etapa suprema do comunismo, na qual não haveria nem um livre mercado e nem um
planejamento centralizado pelo estado. Ele nunca forneceu qualquer detalhe sobre como
seria uma sociedade comunista, exceto em uma breve passagem que foi publicada em um
livro escrito conjuntamente com Engels e com o homem que os havia apresentado em
1843, Moses Hess. O livro foi intitulado A Ideologia Alemã (1845). Só foi publicado em
1932. Hess jamais ganhou créditos por sua co-autoria, mas parte do manuscrito aparece em
sua coletânea de escritos.

Eis a descrição do comunismo:

Assim que a distribuição do trabalho passa a existir, cada homem tem um círculo de
atividade determinado e exclusivo que lhe é imposto e do qual não pode sair; será caçador,
pescador, pastor ou um crítico, e terá de continuar a sê-lo se não quiser perder os meios de
subsistência

Na sociedade comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que
lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividade exclusiva, é a sociedade que
regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar da
manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu
bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.

Esta fixação da atividade social, esta petrificação do nosso próprio trabalho num poder
objetivo que nos domina e escapa ao nosso controlo contrariando a nossa expectativa e
destruindo os nossos cálculos, é um dos fatores principais no desenvolvimento histórico até
aos nossos dias.
Não obstante o fato de que há aproximadamente 70 volumes das obras de Marx e Engels,
essa é a passagem mais longa que descreve o funcionamento de uma sociedade comunista e
de como seria a vida sob esse arranjo.

Conclusão

Socialismo foi o sistema que realmente foi colocado em prática. Comunismo pleno nunca
existiu e não passa de uma utopia cujo funcionamento jamais foi explicitado em trechos
maiores do que um parágrafo.

Sem uma economia monetária — ou seja, sem uma economia em que os cálculos de lucros
e prejuízos são possibilitados pelo dinheiro — é impossível haver uma ampla divisão do
trabalho.

E sem um livre mercado para todos os bens, mais especificamente para bens de capital, é
impossível haver um planejamento econômico racional.

A propriedade comunal dos meios de produção (por exemplo, das fábricas) impede a
existência de mercados para bens de capital (por exemplo, máquinas). Se não há
propriedade privada sobre os meios de produção, não há um genuíno mercado entre eles.
Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços legítimos. Se
não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de preços. E sem esse cálculo de preços,
é impossível haver qualquer racionalidade econômica — o que significa que uma economia
planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada.

Sem preços, não há cálculo de lucros e prejuízos, e consequentemente não há como


direcionar o uso de bens da capital para atender às mais urgentes demandas dos
consumidores da maneira menos dispendiosa possível.

Em contraste, a propriedade privada sobre o capital em conjunto com a liberdade de trocas


resulta na formação de preços (bem como salários e juros), os quais permitem que o capital
seja direcionado para as aplicações mais urgentes. Ao mesmo tempo, o julgamento
empreendedorial tem de lidar constantemente com as contínuas mudanças nos desejos dos
consumidores.

O arranjo socialista simplesmente impede que esse mecanismo ocorra. Foi por isso que
Mises argumentou, ainda em 1920, que qualquer passo rumo ao socialismo é um passo
rumo à irracionalidade econômica.

E foi a isso que Heilbroner se referiu quando ele disse que "Mises estava certo".

Hans F. Sennholz, 1922-2007, foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.
Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim
que chegou. Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic
Education, 1992-1997. Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004,
ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.
David Gordon, membro sênior do Mises Institute, analisa livros recém-lançados sobre
economia, política, filosofia e direito. É também o autor de The Essential Rothbard.

Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre
economia, ética e história.

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2063

A teoria marxista da exploração e a realidade


Dentre todas as vituperações e calúnias proferidas contra o capitalismo, a 'teoria da
exploração' permanece sendo a mais popular — tanto nos círculos acadêmicos quanto entre
os desinformados em geral. O mais famoso defensor da teoria da exploração foi Karl Marx.
De acordo com a teoria da exploração, os lucros — na verdade, quaisquer outras receitas
que não sejam convertidas em salário — representam uma dedução injusta daquilo que
deveria ser, naturalmente e por direito, o salário do trabalhador.

Segundo Marx, o que possibilita a um capitalista obter uma renda superior ao salário que
ele paga ao seu empregado é exatamente o mesmo fenômeno que torna possível a um dono
de escravo auferir ganhos em decorrência do trabalho do seu escravo. Mais
especificamente, um trabalhador é capaz de produzir, em menos de um dia inteiro de
trabalho, os bens de que ele necessita para ter a força e a energia necessárias para labutar
um dia inteiro de trabalho.

Para utilizar um dos exemplos fornecidos pelo próprio Marx, um trabalhador é capaz de
produzir em 6 horas todos os alimentos e todas as necessidades de que ele precisa para ser
capaz de trabalhar 12 horas. Estas 6 horas — ou qualquer que seja o número de horas
necessárias para o trabalhador produzir essas suas necessidades — são rotuladas por Marx
de "tempo de trabalho necessário". Já as horas que o trabalhador trabalha além do tempo de
trabalho necessário são rotuladas por Marx de "tempo de trabalho excedente."

Assim como o 'tempo de trabalho excedente' representa a fonte de ganho do dono de um


escravo, ele também representa, de acordo com Marx, a fonte de lucro do capitalista.

Quando o trabalhador trabalha 12 horas para um capitalista, seu trabalho, de acordo com
Marx, acrescenta aos materiais e aos outros meios de produção consumidos na manufatura
do produto final um valor intrínseco correspondente a 12 horas de trabalho. E, por sua vez,
se estes materiais e outros meios de produção demandaram 48 horas de trabalho para serem
produzidos, então o produto final conterá estas 48 horas de trabalho mais as 12 horas
adicionais de trabalho desempenhado pelo trabalhador. O produto final, portanto, terá um
valor total correspondente a 60 horas de trabalho.

Sendo assim, o processo de produção, de acordo com Marx, resultou em um acréscimo de


valor igual às 12 horas de trabalho do trabalhador. Este valor adicionado pelo trabalho do
trabalhador será dividido entre o trabalhador e o capitalista na forma de um salário para o
primeiro e de um lucro para o último. O valor que o capitalista deve pagar como salário,
diz Marx, é determinado pela aplicação de um princípio supostamente universal de
valoração da mercadoria — a saber, a teoria do valor-trabalho.

O capitalista irá pagar ao trabalhador um salário correspondente às horas de trabalho


necessárias para produzir suas necessidades — em nosso exemplo, 6 horas — e irá
embolsar o valor acrescentado pelas 12 horas de trabalho do trabalhador. Seu lucro será
aquilo que sobrar após deduzir o salário do trabalhador, e irá corresponder exatamente ao
'tempo de trabalho excedente' do trabalhador.

Este exemplo pode ser facilmente expressado em termos monetários ao simplesmente


assumirmos que cada hora de trabalho efetuado na produção de um produto corresponde a
$1 acrescentado ao valor do produto. Assim, os materiais e os outros meios de produção
utilizados valiam $48, e o produto resultante da aplicação de 12 horas de trabalho do
trabalhador vale $60. As 12 horas de trabalho do trabalhador acrescentaram $12 ao valor
do produto.

O lucro do capitalista supostamente advém do fato de que, para as 12 horas de trabalho


efetuadas pelo trabalhador, com seu correspondente acréscimo de $12 ao valor do produto,
o capitalista paga um salário de apenas $6. Este valor corresponde ao tempo de trabalho
necessário para produzir as necessidades de que o trabalhador precisa para desempenhar
suas 12 horas de trabalho. O lucro do capitalista, portanto, representa a "mais-valia", que
corresponde ao "tempo de trabalho excedente".

A razão entre a mais-valia e o salário, ou entre o 'tempo de trabalho excedente' e o 'tempo


de trabalho necessário', é rotulada por Marx de "taxa de exploração". Nesta nossa ilustração
ela é de 100% — ou seja, $6/$6 ou 6 hrs./6 hrs.

Ainda segundo Marx, uma combinação entre a ganância dos capitalistas e as forças que
tendem a reduzir o lucro em relação ao capital investido faz com que os capitalistas
aumentem a taxa de exploração. Se os trabalhadores são capazes de trabalhar 18 horas por
dia utilizando as necessidades produzidas em apenas 6 horas por dia, então a jornada de
trabalho será elevada para 18 horas por dia. Se os salários que os capitalistas pagam para
seus empregados homens for o suficiente para permitir que estes sustentem uma esposa e
duas crianças, então os capitalistas irão reduzir os salários para forçar mulheres e crianças a
irem trabalhar nas fábricas, dando assim aos capitalistas o benefício de auferir mais 'tempo
de trabalho excedente' e mais mais-valia.

Os capitalistas também supostamente irão se esforçar para baratear a dieta do trabalhador,


substituindo trigo por, digamos, arroz ou batatas, desta forma reduzindo o 'tempo de
trabalho necessário' e aumentando a fatia do dia de trabalho que passa a ser 'tempo de
trabalho excedente'. As condições de trabalho, desnecessário dizer, serão sempre horríveis,
uma vez que seu aprimoramento geralmente viria à custa de uma redução na mais-valia.

Esta suposta situação de salários de subsistência — aliás, de salários abaixo da subsistência


—, jornada de trabalho desumana e condições precárias, além de crianças trabalhando em
carvoarias, seria o resultado do funcionamento do capitalismo e da busca pelo lucro, diz
Marx, tendo por base sua teoria da exploração.

À luz da teoria da exploração, os capitalistas devem ser considerados inimigos mortais da


esmagadora maioria de humanidade, merecendo ser colocados contra paredões e fuzilados
— exatamente o que aconteceu sempre que os marxistas tomaram o poder em algum país.

Os capitalistas, e não os trabalhadores, são os produtores principais

Ao contrário do que diz a teoria da exploração, e ao contrário do que a maioria das pessoas
imagina, os assalariados que os supostos exploradores capitalistas empregam não são os
produtores principais dos produtos manufaturados por uma empresa. Assim como
Cristóvão Colombo foi o descobridor da América, e não os marujos que tripulavam os
navios e que foram seus auxiliares na realização de seus (de Colombo) planos e projetos, os
capitalistas é que são os produtores principais dos produtos produzidos por suas empresas.
Os empregados do capitalista podem ser mais corretamente descritos como "os auxiliares"
na produção dos produtos do capitalista. Os lucros do capitalista não representam uma
dedução daquele valor que, segundo Marx, pertence por direito aos trabalhadores na forma
de salários. Os lucros representam aquilo que o capitalista ganhou em decorrência
principalmente de seu trabalho intelectual, de seu planejamento e de suas decisões. O
capitalista produz um produto próprio, embora utilize a ajuda de terceiros cuja mão-de-obra
ele emprega com o propósito de implementar seus planos e consequentemente produzir seus
produtos.

Sendo assim, por exemplo, Henry Ford era o produtor principal na Ford Motor Company;
John D. Rockefeller, na Standard Oil; Bill Gates, na Microsoft; Jeff Bezos, na Amazon; e
Warren Buffet, na Berkshire Hathaway.

Marx teve sim uma grande ideia, a qual era em si totalmente correta, e que pode jogar mais
luz sobre esta discussão. Esta sua ideia foi fazer uma distinção entre aquilo que ele chamou
de "circulação capitalista" e aquilo que ele chamou de "circulação simples". Mas Marx,
infelizmente, ignorou por completo e contradisse totalmente as reais implicações desta sua
ideia.

Aquilo que todos os "capitalistas exploradores" praticam é a circulação capitalista. A


circulação capitalista, como Marx a descreveu, é o gasto de dinheiro, D, para a compra de
materiais, M, que serão utilizados na produção de produtos que serão vendidos por uma
quantia maior de dinheiro, D'. A circulação capitalista, em suma, é D-M-D'. Se os
capitalistas exploradores deixassem de existir, e a circulação capitalista desaparecesse do
mundo, os sobreviventes entre aqueles que hoje trabalham como assalariados estariam
vivendo em um mundo de circulação simples, isto é, M-D-M. Ou seja, sem ter com o que
gastar inicialmente seu dinheiro, eles tentariam imediatamente produzir materiais, M, os
quais eles venderiam em troca de dinheiro, D, o qual, por sua vez, eles usariam para
comprar outros materiais, M.

Os capitalistas não são os responsáveis pelo fenômeno do lucro, mas sim pelo
surgimento dos salários e dos custos

Tanto Marx quanto Adam Smith, que veio antes de Marx, presumiram erroneamente que,
em um mundo de circulação simples — o qual Smith chamou de "o estado rude e primitivo
da sociedade" —, todas as rendas obtidas eram salários. Para eles, não havia lucro neste
modelo. O lucro, segundo eles, só passou a existir quando surgiu a circulação capitalista.
Mais ainda: o lucro seria uma dedução daquilo que originalmente era salário.

Mas a verdade é que, em um mundo de circulação simples, o que está ausente não é o lucro,
mas sim os gastos monetários — o D inicial — com o pagamento de salários e com a
aquisição de bens de capital, e que são computados como custos de produção.

Um mundo de circulação simples seria um mundo em que não há custos de produção


mensurados em termos monetários. Seria um mundo em que os gastos com materiais —
utilizando-se dinheiro obtido com a venda de outros materiais — constituiriam receitas para
os vendedores destes materiais. E estes vendedores, dado que eles não tiveram nenhum
gasto anterior para obter os materiais que estão vendendo, não teriam de computar nenhum
custo de produção em termos monetários. Eles teriam apenas receitas de venda. Seria,
portanto, um mundo em que o trabalho é a única fonte de renda. Mas um mundo no
qual toda a receita auferida pelos indivíduos é um lucro, e não um salário. Seria um
mundo de trabalhadores produzindo produtos primitivos e escassos, pelos quais eles
receberiam receitas de venda das quais eles não teriam custos para deduzir. Sendo assim,
estas receitas representariam o lucro total.

O surgimento da circulação capitalista, portanto, não é responsável nem pela dedução dos
salários e nem pelo surgimento do lucro. Ao contrário: ela é responsável pela criação dos
salários, pelo surgimento dos gastos com bens de capital e pelo surgimento dos custos de
produção mensurados em termos monetários. Estes custos serão deduzidos das receitas,
produzindo então o lucro. As receitas de venda, no cenário anterior, representavam o lucro
total. Não havia custos a serem deduzidos das receitas. Agora, com o surgimento da
circulação capitalista, surgiu o salário dos trabalhadores, os quais são deduzidos dos lucros
dos capitalistas. Portanto, primeiro surgiu o lucro; só depois é que surgiu o salário. É o
salário que é deduzido do lucro dos capitalistas, e não o lucro que é deduzido do salário dos
trabalhadores.

Quanto mais economicamente capitalista for o sistema econômico, no sentido de um maior


grau de circulação capitalista — isto é, uma maior proporção de D em relação a D' —,
maiores serão os salários e os outros custos em relação às receitas, e menores serão os
lucros em relação às receitas. Ao mesmo tempo, se o sistema econômico permitir que os
capitalistas se concentrem mais na compra e, consequentemente, na produção e na oferta de
bens de capital, este aumento na oferta de bens de capital levará a um aumento na
produtividade da mão-de-obra e a um aumento generalizado na capacidade de produção. A
oferta de produtos crescerá em relação à oferta de mão-de-obra e, com isso, os preços cairão
em relação aos salários. O resultado é que os salários reais aumentarão e continuarão
aumentando enquanto a produtividade da mão-de-obra continuar crescendo.

Portanto, no que concerne à relação entre capitalistas e assalariados, a verdade é exatamente


o inverso daquilo que é alegado pela teoria da exploração. Os capitalistas não deduzem
seus lucros dos salários dos trabalhadores; os capitalistas são os responsáveis
pelo surgimento dos salários. Sendo um custo de produção, os salários são deduzidos das
receitas, as quais, na ausência de capitalistas, representariam o lucro total. Logo, pode-se
dizer que os capitalistas são os responsáveis pelo aumento dos salários em relação aos
lucros e pela redução dos lucros em relação aos salários. Ao mesmo tempo, por meio do
aumento na produção e na oferta de produtos, o que leva à redução de seus preços, os
capitalistas aumentam o poder de compra dos salários que eles pagam.

Isto não é nenhuma exploração dos trabalhadores assalariados. É, isto sim, a maciça e
progressiva melhoria de seu bem-estar econômico.

https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1368

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