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Fortalecimento
Uma nova visão da natureza surgiu em meados do século XIX, através da obra de Charles
Darwin, cuja revolucionária teoria da seleção natural obrigou, depois de intensa polêmica e
de sofrer inúmeras chacotas, tanto a comunidade científica quanto o grande público a
iniciar uma revisão em seus conceitos, elaborando, nas palavras de Bocchi & Cerutti, "uma
nova imagem do tempo, do decurso evolutivo, da história", e provocando um
redirecionamento nas formas com que o homem se relacionava com o ambiente.[15]
[16]
Foi Ernst Haeckel, um darwinista, quem cunhou o termo ecologia, a partir de duas
palavras gregas: oikos (casa ou lugar) e logos (estudo ou conhecimento), significando
originalmente a relação de um animal com seus ambientes orgânico e inorgânico.[17]
Ao mesmo tempo, com o florescimento do Transcendentalismo, principalmente pelo
trabalho de Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, a ideia de uma vida equilibrada
e harmoniosa, associando o conhecimento do homem e da natureza, passou a ganhar
muitos adeptos e influenciar muitos jovens, em especial nos Estados Unidos.[18] Também
deve ser lembrado George Perkins Marsh, autor de Man and Nature (Homem e Natureza),
um dos primeiros estudos abrangentes sobre o impacto ambiental da atividade humana.
Embora se alinhasse à opinião predominante de que a natureza deveria ser dominada pelo
homem, criticou a maneira destrutiva como isso estava sendo feito. Por essa postura
conciliadora suas ideias não encontraram grande oposição e o livro, divulgado
amplamente, desencadeou ações oficiais e populares de preservação em muitos países.[19]
[20]
Na Europa, merece destaque John Ruskin, autor do polêmico Unto This Last (A este
Último. Vide nota:[21]), que contém uma crítica social, econômica e ecológica da civilização
industrial, e que teria uma influência determinante na filosofia de Mahatma Gandhi.[22] Outro
desenvolvimento cultural digno de nota, derivação romântica do Transcendentalismo e do
Sublime, foi uma rica renovação do paisagismo na pintura e na literatura, que exerceu forte
influência social e política em muitos novos Estados que se fundavam ou se redefiniam
nesta época de nacionalismos apaixonados, como a Escola do Rio Hudson, nos Estados
Unidos, caracterizada por um paisagismo épico e monumental das terras virgens norte-
americanas.[23][24][25][26][27][28]
Mas a esta altura, na Europa, com a agricultura em declínio como a principal atividade
produtiva[20] e então vivendo o auge da Revolução Industrial, fazendo uso intensivo
de combustíveis fósseis como o carvão e despejando indiscriminadamente lixo urbano e
efluentes químicos nas águas, no ar ou no solo, o meio ambiente já sofria com a poluição
e havia sido intensa e desreguladamente explorado, com o esgotamento de muitos de
seus recursos, levando alguns de seus países a uma agressiva
prática imperialista e colonialista, a fim de se apropriarem das riquezas naturais de outras
nações, por eles subjugadas. Um processo desenvolvimentista semelhante começava a
ocorrer nas Américas, que experimentavam um acelerado processo de ocupação de
vastas áreas ainda virgens e recebiam grandes levas de imigrantes europeus e asiáticos.[29]
[30]
Anos recentes
A partir da década de 1980 o ambientalismo se multidisciplinarizou definitivamente,
consagrou a importância da educação ambiental para uma mudança geral de hábitos[62] e
se tornou um movimento quase onipresente, muito diversificado e em grande parte
solidamente embasado na ciência, embora muitas vezes ainda se encontrem agudas
dissidências internas, incoerências, utopias, mistificações, expressões emocionais e
teorias não comprovadas ou extravagantemente fantasiosas entre seus defensores, o que
acaba por prejudicar a credibilidade do movimento como um todo.[63][64][40] Também contribuiu
para sua rejeição previsões consideradas alarmistas sobre um colapso global dentro de
pouco tempo se não ocorresse uma verdadeira e profunda revolução em práticas e
conceitos.[65][46]
Constatando que, apesar do aumento na conscientização geral, relativamente pouco havia
sido feito pelo ambiente em grande escala, a ONU criou em 1983 a Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujos trabalhos resultaram no Relatório
Brundtland, que enfatizou a íntima associação entre pobreza e subdesenvolvimento e
dano ambiental, e sedimentou o conceito de desenvolvimento sustentável. O relatório
também recomendou a convocação de uma conferência internacional a fim de discutir os
avanços e necessidades não atendidas desde a Conferência de Estocolmo, o que se
concretizou em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, também conhecida como Rio-92 ou ECO-92. A Conferência produziu
uma série de documentos importantes, entre eles a Carta da Terra, a Declaração do Rio
sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Convenção sobre a Biodiversidade, a Convenção
sobre as Mudanças Climáticas e a Agenda 21, estabelecendo compromissos e metas a
serem alcançadas pelos países signatários. Vários outros encontros e acordos seriam
realizados nos anos sucessivos, mas, nas palavras de Leonardo Borges, repetidamente se
alega que os avanços até hoje são insuficientes.[37]
Também nos anos 90 surgiu uma tendência contemporizadora, que buscava um consenso
na resolução dos problemas, sem extremismos que alegadamente só desencadeiam
reações negativas e resistência, tendência promovida, segundo Layrargues,
especialmente pelo empresariado:[66]
"Por ter adquirido recentemente enorme expressividade, (o ambientalismo) sofreu
o golpe da dominação ideológica do sistema hegemônico, representado pela
ideologia da racionalidade econômica. Teve seu ideário absorvido, reelaborado,
contaminado e devolvido à sociedade, no sentido literal do termo, como um
produto mercadológico.... Retirando da pauta de discussão justamente a crítica ao
modelo de desenvolvimento convencional predatório-perdulário da sociedade
industrial, e substituindo-a pela valorização do mito tecnológico, o ambientalismo
empresarial não veio somar esforços ao ecologismo, e sim desestruturar seu
núcleo estrutural".[67]
Uma abordagem de consenso, porém, não é necessariamente perversa, tendo sido
adotada por muitos grupos e instâncias internacionais respeitadas, por sua ênfase no
compartilhamento de responsabilidades e no estabelecimento de metas realistas,
considerando a dimensão supranacional dos problemas, as diferenças entre as culturas e
as diferentes capacidades de resposta dos diversos países.[41][68] Mas isso não anula a
previsão de efetivo colapso do meio ambiente, com perigo até para a sobrevivência da
civilização, se o ritmo de destruição continuar como está, apenas talvez a crise geral se
desencadeie mais tarde do que estimavam os mais pessimistas, como informou uma
atualização de 2008 do estudo The Limits to Growth de 1972.[46] Segundo o relatório da
ONU Harmony with Nature (Harmonia com a Natureza), de 2012, um crescente número de
cientistas está propondo que se dê ao período geológico em que vivemos a denominação
de Antropoceno, tamanho o impacto que as atividades humanas estão tendo sobre o
ambiente e os processos naturais.[20] De qualquer modo, o ambientalismo ainda é foco de
disputas acaloradas por todo o mundo.[69][44][70][3]
Mas ressalta na história do movimento, mesmo que ele seja ainda extremamente
controverso e ainda enfrente muitas resistências, o fato de ter conseguido influir em muitas
instâncias e políticas oficiais e pelo menos ter conseguido incutir em uma população muito
grande, incluindo muitos jovens, um maior conhecimento da questão, despertando seu
interesse, se ainda não foi capaz de mudar completamente seus hábitos e valores.[71][69][44][70]
[72][39][40]
Nas palavras de José Lutzenberger, conhecido ambientalista brasileiro, "a verdadeira
contestação é ampliar o horizonte".[72] Outra conquista notável foi ter dado espaço e
legitimidade para reivindicações ecológicas de filósofos, povos indígenas, comunidades
tradicionais e de antigas religiões orientais como o Budismo e o Hinduísmo, que entendem
a natureza - incluindo o homem - como um todo integrado e interdependente que merece e
precisa de respeito e cuidado, adicionando tradições imemoriais e uma dimensão ética,
filosófica, espiritual e mesmo poética à discussão científica mais atual, que se revela a
cada dia mais multidisciplinar e mais complexa.[69][39][44][3][73][74][75][76]
Aspectos centrais
O ambientalismo de modo geral se fundamenta nas noções de que a vida na Terra é
integrada e interdependente, que as outras espécies, tanto como o homem, têm o direito à
vida, que a ação humana tem um importante efeito sobre o meio ambiente, efeito pelo qual
o homem é responsável, e que os recursos naturais são limitados e devem ser manejados
com objetividade e prudência, tendo em vista também a justiça social e a viabilidade
econômica.[77][78][71][41] São propostas inúmeras possibilidades de ação para conseguirmos um
equilíbrio entre a vida humana e a natureza e para a criação e implementação de um
modelo de desenvolvimento sustentável,[79][41][80] um conceito consolidado em 1987 com o
trabalho da Comissão Brundtland realizado sob a chancela da ONU, e assim definido:
"Desenvolvimento sustentável é garantir o atendimento às necessidades do presente, sem
comprometer a capacidade das futuras gerações de atender a suas próprias
necessidades".[79]
O homem tem o dever solene de proteger o meio ambiente para as futuras gerações.
O homem tem a responsabilidade de salvaguardar e manejar sabiamente a herança
da vida selvagem e seus habitats, que estão em grave perigo por uma combinação de
vários fatores, e por isso devem ser elaboradas políticas públicas que levem isso em
conta na elaboração do planejamento econômico.
Os recursos naturais são um patrimônio coletivo, e aqueles que não são renováveis
devem ser manejados de maneira a preservá-los para as futuras gerações.
Os países desenvolvidos devem auxiliar os em desenvolvimento em seus esforços de
crescimento, de estabelecimento de uma vida digna para as populações, e de
preservação do ambiente natural. Isso deve ser feito em um esforço coordenado
mundialmente, seguindo um planejamento racional.
A educação ambiental deve ser uma prioridade para todos os países, de modo que se
formem novas gerações com comportamentos modificados, conscientes e
responsáveis.
Os meios de comunicação devem promover a preservação ambiental.
A pesquisa científica deve ser incentivada e compartilhada livremente como meio de
aumentar o conhecimento sobre a natureza e encontrar soluções para os problemas
ecológicos.
Os Estados devem criar legislação ambiental e prever o manejo de situações
de desastre ecológico.
As culturas regionais devem ser respeitadas até onde possível no momento de se
planejarem e efetivarem ações ambientais.
O planejamento ecológico deve ser um projeto multidisciplinar e integrado ao conjunto
da sociedade.
Esses princípios continuam essencialmente válidos e atuais, como atesta a Carta da Terra,
aprovada pela Unesco em 2000 como um código de ética global, cujo preâmbulo reza:
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que
a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada
vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes
perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no
meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma
família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos
somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito
pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa
cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da
Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande
comunidade da vida, e com as futuras gerações".[85]
É importante assinalar que essas propostas não são fixadas nem com um rigor
absoluto nem em definitivo, mas devem ser interpretadas com uma certa flexibilidade,
adaptando-as a cada momento e a cada contexto específico, num processo de prática
continuada e reavaliação constante dos resultados. De qualquer forma, a proteção à
natureza e a educação ambiental deveriam fazer parte permanente do cotidiano da
sociedade, pois o trabalho, enquanto houver vida, jamais estará concluído.[41][86][87][88]
Além dos desafios ambientais já bem conhecidos, como a poluição, o uso intensivo
de agrotóxicos, o desmatamento, a perda da biodiversidade, a caça e pesca
excessivas e o comércio ilícito de espécies selvagens,[89][90][91][91][92][93][94][95] outros vêm
ganhando mais atenção em tempos recentes, como a urbanização descontrolada,
[96]
a manipulação genética para fins mercadológicos,[97][98] o esgotamento dos recursos
hídricos,[99] o aquecimento global,[100][101][89] o impacto ambiental de guerras e outras
atividades militares,[90][37][102][103] e aspectos de justiça e segurança ambiental, diante da
expectativa de aumento no número de conflitos internacionais e guerras civis ligados à
exploração ou à disputa por recursos naturais em declínio;[103][90] da crescente
ocorrência de desastres ecológicos acidentais, como os vazamentos de radiação em
usinas nucleares e derramamentos de petróleo em oceanos e águas interiores, e
mesmo de ameaças de terrorismo ambiental.[104][105][106][37]
Poluindo o ar, água e solo com emissões industriais, fumaça automobilística, esgotos
e lixo, com efeitos deletérios diretos sobre a biodiversidade. A poluição química do ar
provoca doenças humanas e, levada pelos ventos, prejudica pessoas e ecossistemas
que podem se localizar muito longe da fonte poluidora, além de formar a chuva ácida,
igualmente danosa. Nas próprias cidades a concentração aérea de material
particulado, junto com nevoeiro, pode gerar episódios de smog, também ameaçando a
saúde.[107][110][120] Seus componentes clorofluorocarbonetados, usados no fabrico de
geladeiras, espumas sintéticas e sprays, produzem uma redução na camada de
ozônio, permitindo a penetração mais intensa de radiação ultravioleta, que pode
causar mutações genéticas. No homem, as mutações podem desencadear câncer de
pele e doenças do sistema imunológico, e na natureza suas consequências são
imprevisíveis.[127] A poluição da água compromete a saúde e o abastecimento humano
e danifica a vida aquática, também com efeitos de larga distribuição,[128][122] e a poluição
do solo é da mesma forma origem de doenças e também desequilibra os
ecossistemas terrestres.[123][124][107]
Exigindo meios custosos, complexos e muitas vezes pouco eficientes de distribuição,
processamento, estocagem e comercialização de alimentos, o mesmo se dando com o
abastecimento de água potável, sendo verificada uma enorme quantidade de
desperdícios.[107][129][126] A título de exemplo, calcula-se que sejam perdidas 30 milhões de
toneladas de peixe de um total de 100 a 130 milhões de toneladas pescadas
anualmente, e quase 3/5 das calorias armazenadas nas colheitas agrícolas são
perdidas até que o alimento chegue à mesa do consumidor.[107] Um estudo de caso
num restaurante universitário revelou que, depois de preparada, cerca de 22 a 30% da
comida é desperdiçada.[130]
Reduzindo áreas verdes e favorecendo a ocupação inadequada do solo, como na
formação de favelas nas encostas instáveis de morros, onde habitam populações da
mais baixa renda que não têm outra opção de moradia, fenômeno observado em
muitas das grandes cidades. Trechos desses aglomerados habitacionais
desordenados não raro acabam desmoronando, principalmente durante chuvas fortes,
com mortes e ferimentos de pessoas e perdas materiais. Além disso, as favelas não
possuem sistemas adequados de coleta de lixo e esgotos, o que acaba por baixar uma
qualidade de vida já precária e contamina o ambiente.[131][121][123][126]
Impondo aos seres humanos vários tipos de estresses, carências e desequilíbrios
sociais, pouco importantes ou desconhecidos nas zonas rurais, e que significam um
rebaixamento da qualidade de vida.[122][123][124][126][120]
Favorecendo introduções voluntárias ou involuntárias de espécies invasoras, tais
como animais de estimação e plantas ornamentais exóticas, em ecossistemas nativos.
Como muitas vezes não encontram predadores naturais, podem se multiplicar rápida e
intensamente, competindo com a biodiversidade local e propiciando o surgimento de
pragas e doenças.[107][120][132] Segundo a SBPC, os prejuízos econômicos causados pela
introdução de espécies invasoras chegam a 1,4 trilhão de dólares.[133]
Depreciando o valor estético das paisagens.[134][135]
Esses efeitos agem interativamente e se potencializam em cascata, têm um grande
impacto em uma vasta população humana, e prejudicam diretamente a biodiversidade ao
interferirem no equilíbrio dos ecossistemas, provocando um aumento no ritmo já acelerado
de novas extinções de espécies inteiras. Com o progressivo declínio da biodiversidade,
as cadeias alimentares se rompem, o ciclo dos componentes inorgânicos se perturba, o
processo entrópico se auto-reforça e, além de certo ponto, os ecossistemas tendem a
entrar em colapso irreversível. Com isso, perdem-se os inestimáveis serviços
ambientais oferecidos pela natureza, e que são essenciais à vida humana, incluindo a
produção de alimentos, substâncias medicinais, fibras e madeira, regulação do clima e
proteção contra desastres naturais, além de ser origem de prejuízos econômicos e sociais
altíssimos.[108][107][20] O Sub-secretário-geral da ONU e Diretor-executivo do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner, revelou que só as perdas e
degradação de florestas podem representar um prejuízo de 4,5 trilhões de dólares anuais.
[136]