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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 01
“O tempo do retorno”
2 Crônicas 26.22 e 23 e Esdras caps. 1 a 3

Do ponto de vista histórico, a Bíblia relata É Jeremias que anuncia a duração do exílio
o surgimento e o desenvolvimento do babilônio em 70 anos. É Isaias, na segunda
povo hebreu. Começa com Abraão, de parte do seu livro, que revela Ciro como o
quem todo judeu se considera libertador. É Daniel, que, vivendo na
descendente; passa pelo clã formado por Babilônia, acompanha com grande
Jacó e seus filhos, que dão origem às doze expectativa o cumprimento do tempo para o
tribos de Israel; atravessa os cerca de retorno.
quatrocentos anos no Egito, onde o clã se
multiplica e ganha dimensões de povo; e Esse retorno do exílio, essa restauração da
de onde sai para tomar posse da terra que nação judaica é o tema do estudo trimestral
por herança divina foi prometido a que aqui começamos. O que sabemos dessa
Abraão. época é apresentado na Bíblia nos livros de
O relato histórico continua nas terras de Esdras, Neemias e Ester, que são objeto
Canaã, apresentando as dificuldades, desta séria. Adicionalmente, os escritos de
desafios e vitórias de um povo cons- três profetas que atuaram no período nos
truindo a sua nação. Assim, sabemos dos ajudam a compreendê-lo: Ageu, Zacarias e
conturbados tempos dos juízes; da glória Malaquias. Outros três profetas, que
dos grandes reis Davi e Salomão; da vivenciaram aspectos do exílio também
tragédia da secessão do reino que se podem ser buscados como referência:
divide; do fim do Reino do Norte; e da Jeremias, Ezequiel e Daniel.
invasão babilônica contra Jerusalém e o
Reino do Sul. Ao estudar a Bíblia, o nosso enfoque
Essa perspectiva secular, de início, flo- primário não deve ser o relato histórico.
rescimento e ocaso de um povo retratam Gastamos tempo com a Bíblia para
em seus pontos essenciais a experiência conhecer melhor a Deus e para perscrutar a
comum de civilizações, grandes e Sua vontade para nós. O desenvolvimento
pequenas que foram importantes em certo da história humana, por mais emocionante
período da história, e depois desaparecem, que seja, como é o caso da civilização
algumas por razões até hoje não judaica, apenas deve nos interessar como
conhecidas. No entanto, há algo de pano de fundo da atuação divina. Cremos
diferente na saga do povo hebreu, que em Deus como condutor e Senhor da
entendemos ser a mão de Deus dirigindo história, ligado nos acontecimentos
seu destino e cuidando daqueles que Ele humanos e intervindo no curso dos fatos
mesmo escolheu para ser o seu povo sempre que deseja.
peculiar, a sua nação separada (Ex 19.6). Portanto, o primeiro destaque a fazer nesse
Assim, quando Judá se curva quebrado ao estudo deve dizer respeito à perseverança e
poderio avassalador de Nabucodonozor da esperança inerentes às promessas divinas.
Babilônia, não é o fim da sua história,
como o senso comum indicaria, mas Vamos ao texto bíblico, dos primeiros três
apenas um intervalo, intervalo provocado capítulos de Esdras. Há uma continuidade
e direcionado por Deus, devidamente de relato que começa no ultimo capitulo do
anunciado ao povo pelos profetas. livro precedente, 2 Crônicas, onde nos é
explicada a destruição de Jerusalém, o

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exílio, a promessa profética da riscos associados, na certeza de que
restauração, e a sua efetivação “no estavam agindo para tornar efetiva a
primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia” promessa divina.
(1.1). Esta é a perspectiva humana da Vamos deixar a imaginação nos ajudar e
história. Logo após, o verso 5 nos fala da nos ver na Babilônia dos dias finais de
perspectiva divina para o retorno: “todos preparativos da viagem: Você vai? Você
aqueles cujo espírito Deus despertou, não vai? Por que você decidiu assim? Os
para subirem a edificar a casa do Senhor que não podiam ir colocam suas esperanças
que está em Jerusalém.” Atentemos para nos que iam. Os que iam carregam nas suas
o panorama: 70 anos antes, um grupo de bagagens as expectativas dos que decidem
judeus, da elite de Jerusalém é tirada, sob ficar. Imagino se Zorobabel, o líder dos que
força, da sua terra e transplantada para o voltam se encontra com Daniel antes da
território babilônio. No fundo, não foi partida. Nada na Bíblia indica esse
uma coisa de todo má, pois os babilônios, encontro, mas nada o torna impossível.
ao contrário dos assírios, eram Zorobabel deveria ser da realeza judaica, tal
conquistadores civilizados e permitiram como Daniel. Se o encontro ocorreu, Daniel
aos judeus ficar juntos, organizar suas teria dito: “Não posso voltar, mas a minha
vidas e até prosperar no seu novo local de esperança vai contigo. Vá e torne real a
assentamento. Alguns devem ter se promessa. Reconstrua a cidade; reabra o
enriquecido. Alguns se tornaram templo; deixe Jerusalém voltar a ser o que
proeminentes na administração pública - é ela deve ser. Zorobabel, eu não posso, mas
só lembrar Daniel ou Mardoqueu. O você é o meu herdeiro espiritual. Você vai
passado para eles ecoava apenas pelas fazer o que gostaria de poder fazer.”
notícias de uma Jerusalém destruída,
desabitada, e utilizada como posto E nós, somos também da mesma linhagem
comercial pela gente de seu derredor. de Daniel e de Zorobabel. A linhagem
Qual a motivação para voltar? Porque daqueles que aguardam o cumprimento das
deixar o conforto e a prosperidade que a promessas divinas. Mais do que aguardam,
Babilônia lhes propiciava para tentar uma agem e trabalham para que as promessas
reconstrução do passado? Porque alguns divinas se tornem realidade histórica.
entraram nessa aventura que vai contra a É nessa perspectiva que desejo convidá-los
lógica? a continuar essa série de estudos, fazendo-
A resposta, penso que encontramos no nos companheiros de jornada daqueles que
livro de Daniel, no seu capítulo 9. Daniel se põem em marcha, despertados pelo
confere a profecia de Jeremias a respeito espírito de Deus.
dos 70 anos de exílio, e percebe que o
período está por terminar. Ele ora pela
restauração, ansiosamente aguardando por
ela. Entendemos que nessa altura da sua
vida, Daniel era idoso, e por isso, ou por
outra razão, não considera retornar à sua
Jerusalém, mas mesmo assim espera pelo
cumprimento da promessa da restauração.
Como ele, muitos outros fiéis se
alimentam da mesma expectativa. Quando
a oportunidade surge, estes estão prontos
para a empreitada, animados
espiritualmente e dispostos a tomar os

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Lição 02
"O desafio da reconstrução do templo”
Esdras cap. 4

Caros ouvintes: estamos de novo preceitos divinos. A mesma preocupação é


compartilhando nosso tempo no estudo da notada no capítulo 2 que arrola os que
palavra divina a respeito da restauração retornaram: No verso 62 alguns
do povo judeu, ao fim de 70 anos de pretendentes ao sacerdócio são rejeitados
exílio na Babilônia. O texto bíblico para como imundos, pois seus nomes não são
esta oportunidade é o capítulo 4 de encontrados nos registros das genealogias e
Esdras. assim não cumpriam as condições para se
Nos capítulos precedentes tomamos dedicarem ao serviço religioso.
conhecimento da chegada à Jerusalém da O relato do capitulo três se encerra com a
caravana dos que retornam e do seu descrição dos trabalhos para se demar-car
assentamento nas cidades de Judá de onde as fundações do templo e o lança-mento de
eram originários (2.70). Ficamos sabendo seus alicerces, que é celebrado em uma
da prontidão com que se dedicam ao grande adoração, quando os sacerdotes já se
trabalho que era a sua missão: a apresentam com suas vestimentas
reconstrução do templo. As primeiras apropriadas e os louvores são
ações rapidamente se tornam efetivas. O acompanhados por trombetas e címbalos. À
altar é levantado e o oferecimento de alegria e o júbilo da ocasião se junta o
holocaustos a Deus, pela manhã e a tarde choro emocionado daqueles mais idosos,
são restabelecidos (3.3). Segue-se a que tinham conhecido a gloria do antigo
celebração da festa dos Tabernáculos e a templo e podiam vivenciar o seu
re-introdução do ciclo de oferendas e ressurgimento. Assim, as coisas estavam
celebrações (3.4). Há uma demonstração evoluindo céleres e os grandes anseios se
de grande cuidado para com o correto tornando realidade.
cumprimento de todas as determinações
para o culto. É uma evidência do fervor A tônica do relato se altera drasticamente
religioso que os que retornaram no capitulo quatro, com a entrada em cena
trouxeram consigo. Estavam imbuídos do dos adversários. Sabemos que são
desejo de obedecer fielmente a Deus e ver adversários porque o autor assim os
o quanto antes Jerusalém restabelecida introduz. Se ele apenas relatasse os fatos,
como o centro da adoração a Jeová. A poderíamos talvez ter uma perspectiva
prioridade da adoração é colocada à frente diferente. Os ditos ‘adversários’ chegam
da reconstrução do templo e o culto a para ajudar. Querem participar do esforço
Deus é reinstalado mesmo antes de se da reconstrução do templo.
trabalhar na recuperação das fundações do Ora, se as coisas estavam evoluindo a
santuário (3.6). Sabemos pela palavra dos contento e sem delongas, que bom que mais
profetas, especialmente de Jeremias que o uma ajuda surge. As intenções dos que
exílio foi decorrência da desobediência e querem ajudar são corretas, e devemos crer
idolatria do povo. Nesse sentido, o exílio sinceras: “como vós, buscaremos o vosso
foi pedagógico, e agora a restauração Deus; como também já lhe
começa pautada pela lição recebida, sacrificamos...” (v.2). Mas os líderes da
evidenciada na forte preocupação com a reconstrução, e Zorobabel e Jesua impedem
integridade e pureza no cumprimento dos essa cooperação, em nome da pureza e da

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integridade do desejo dos judeus, bíblico: Opositores da reconstrução, que
alegando uma falta de identidade entre as lançam mão de todos os recursos possíveis,
partes: “Nada tendes conosco na edifi- desde ameaças psicológicas e reais até
cação da casa a nosso Deus; nós influências políticas junto ao centro do
mesmos, sozinhos a edificaremos...” poder do império persa (v.4-5).
(v.3). E a crise está criada. Os reis se sucedem na Pérsia: Ciro é
Negar a esses adversários o direito de substituído por Cambises, de quem a Bíblia
participar vai custar 10 anos de não fala, que é substituído por Dário, que é
paralisação da reconstrução do templo. sucedido por Xerxes ou Assuero, que é
Pode parecer um preço alto demais para sucedido por Artaxerxes. A política persa
se pagar por uma posição de muda, na medida em que o Egito ganha
intransigência, mas ela reflete o ânimo força momentânea, e nesse contexto uma
dos que voltaram e seu desejo de a todo Jerusalém reconstruída pode se apresentar
custo manterem-se fiéis a Deus que não como uma ameaça. Os adversários de Judá
aceita idolatria e exige exclusividade de e Benjamim sabem utilizar esses fatos
adoração. como argumentos na sua vingança contra
Quem eram esses que queriam adorar a aqueles que os impediram de participar na
Deus junto com os judeus no templo de reconstrução do templo. E assim, passam-se
Jerusalém? Duas informações da Bíblia dez anos. Tempo suficiente para minguar
respondem a questão: (1) No verso 3 qualquer ardor e para sepultar muitas
ficamos sabendo que esses adversários expectativas. Podemos considerar que cada
eram estrangeiros, trazidos para a região um dos que retornaram foram cuidar das
pelo rei assírio Esar-Hadom, para suas vidas. Reconstruíram suas
repovoá-la, depois que os judeus que nela propriedades nas cidades de Judá,
habitavam foram deportados para a começaram seus negócios e foram em
Assiria. (2) no capítulo 17 de 2 Reis, a frente.
partir do verso 24 se relata a destruição do O foco no objetivo do retorno foi
Reino do Norte pela Assíria, informando progressivamente se turvando, até não ser
que os estrangeiros deportados para mais reconhecível.
repovoar a região tiveram muitas É tempo de Deus mandar de novo seus
dificuldades de sobrevivência, a ponto de profetas para realimentar a esperança, e
ter sido necessário que sacerdotes do reconfirmar a promessa. É esse desen-
Reino do Norte fossem trazidos de volta volvimento da história que estaremos
para orientar espiritualmente os novos considerando em nosso próximo estudo.
habitantes. Assim, uma religiosidade
sincrética foi se formando (2Re 17.27-
34). Sem dúvida, os líderes do povo
conheciam a história. Não podiam aceitar
a mistura de religiões, totalmente contra
os preceitos de exclusividade exigidos por
Jeová. A questão não é quão alto é o
preço a pagar. A questão é que o preço é
inaceitável, ainda que de graça.

As conseqüências de se manter
rigidamente fiel a princípios surgem de
imediato, e os adversários mostram-se de
fato como são apresentados pelo narrador

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Lição 03
"A presença profética”
Esdras cap. 5

Com alegria começamos um novo estudo futuro onde a reconstrução do templo fosse
bíblico nesta série sobre a restauração da possível (1.2). Por causa dessa miopia,
nação judaica, agora nos voltando para o Deus os estava deixando de abençoar
capítulo 5 do livro de Esdras. materialmente (1.6 e 10-11). O apelo é
claro: “Aplicai os vossos corações aos
A reconstrução do templo está esquecida. vossos caminhos. ... Subi ao monte, e
Os adversários dos judeus conseguem trazei madeira, e edificai a casa e dela me
manter a paralisação da obra na pauta do agradarei: e eu serei glorificado, diz o
dia. O cap. 4 relata essas ações continu- Senhor.” (1.7-8).
adas, constituindo-se em um documento Essa exortação produz resultados imediatos,
de valor histórico, pois reproduz a e Ageu apresenta as mensagens seguintes,
correspondência trocada entre os adver- espaçadas entre si por poucos dias. A
sários dos judeus e a casa real persa. Com segunda, registrada em 2.1-9 enfoca a glória
base nessas cartas, a obra é impedida “à de Deus a ser revelada no templo
força de braço e com violência.” (4.23). reconstruído, maior ainda que no templo
E lá se vão dez anos. original, razão para todos se esforçarem
O tempo passa e a vida não para. Sem pela obra.
possibilidade de progredir em uma prio- A terceira mensagem (2.10-19) enfatiza a
ridade, outras surgem. Novas preocupa- necessidade da purificação e santificação do
ções ocupam o lugar das velhas. Enfim, povo e a quarta (2.20-23) enfoca a liderança
Deus precisa intervir mais uma vez para de Zorobabel na missão.
alterar a marcha dos fatos, mudando o
coração das pessoas. Para tal, dois Zacarias, por outro lado é um profeta de
profetas são convocados. Ageu e tipo bem diferente. Faz uso abundante de
Zacarias. Felizmente, as palavras desses visões e enigmas, demonstrando uma
mensageiros estão preservadas na Bíblia e imaginação farta e senso idealista, que leva
a elas recorremos para melhor seu livro a ser chamado de o Apocalipse do
compreender o que está em questão. Velho Testamento. Os primeiros seis
capítulos de Zacarias são da mesma época
Ageu – a peculiaridade desse profeta é a das mensagens de Ageu, isto é quando o
concisão da sua mensagem. Seu estilo é povo está sendo despertado e se reorganiza
telegráfico. Se vivesse hoje, seria um para retomar a obra do templo. Mais do que
apaixonado usuário do Twitter, a preocupação com o santuário, a mensa-
distribuindo textos condensados. Seu gem desse profeta enfoca a displicência do
ministério, como registrado, foi também povo com a sua vida espiritual: “...Tornai
curto, compreendendo um período de 4 para mim, diz o Senhor dos Exércitos, e eu
meses e 4 oráculos apenas. Essas tornarei para vós, diz o Senhor dos
mensagens nos revelam o que ocorria em Exércitos.” (1.3).
Jerusalém: Em vista das oposições, o
povo foi cuidar de si, dando atenção ao Antes de voltar ao relato do capítulo 5 de
acabamento e luxo de suas casas (1.4 e 9), Esdras, convém considerar um pouco os
julgando que deviam esperar por um líderes dos judeus nessa fase inicial da

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restauração. Três nomes se destacam: segundo ano de Dario (Ag.1.1 e Zc.1.1), é
Zorobabel, Jesua e Sesbazar. porque esse é o tempo certo.
Começamos com Sesbazar, o menos Notamos ainda, que inspirado pelos
citado. Esdras 1.8 o apresenta como profetas, as obras recomeçam sem que
príncipe de Judá, que recebeu de Ciro os alguém se preocupe com os adversários:
tesouros retirados do templo, para levá-los Eles deixam de ser relevantes. O questio-
de volta. Era assim, o líder formal dos que namento agora vem da autoridade persa que
voltam e foi nomeado governador (5.14). supervisiona a região, quando o governador
Mas, dele não se fala mais. Os estudiosos Tatenai passa por Jerusalém, e seu tom é
se dividem ao tentar explicar esse mais inquiridor do que propriamente
personagem. Para alguns, Sesbazar era o ameaçador. A solução é recorrer ao rei
líder oficial, mas sai de cena logo após o Dario, e uma carta lhe é escrita. Quão
lançamento dos alicerces (5.16), ou por interessante é notar a diferença no tom da
ter voltado à Babilônia ou por ter morrido. correspondência registrada no capítulo 4 a
Para outros, Sesbazar seria o nome partir do verso 11, comparada com esta do
babilônio de Zorobabel. capítulo 5, a partir do verso 7. A primeira,
Jesua, ou Josué como é chamado por escrita pelos adversários, é ameaçadora e de
Ageu (1.1) e Zacarias (cap.3), é levita, e antemão condena os judeus como inimigos
se torna sumo-sacerdote, talvez o primeiro de Artaxerxes. Nessa segunda, o argumento
do pós-exílio (Ag.2.4/Zc.3.1). É o líder é desenvolvido a partir do ponto de vista
religioso do povo. dos judeus, fazendo-se menção do decreto
Zorobabel é o líder civil dos judeus. de Ciro que autorizou a reconstrução, e
Ageu o chama de governador de Judá pedindo-se sua confirmação. Notemos, no
(Ag.1.1). É de fato o líder dos que retor- verso 5 que o governador não impede a
nam e das as ações que se realizam em obra, pois como diz o narrador “os olhos
Jerusalém na primeira fase da restauração. de Deus estavam sobre os anciãos de
Vemos ao longo do relato da primeira Israel.”.
parte de Esdras e dos profetas desse Quão inspirador é perceber o tempo de
período, que Zorobabel e Jesua estão Deus. É o tempo quando todos estão no
sempre juntos, como que dividindo a mesmo compasso. Os profetas, os líderes e
liderança do povo, expressando uma mesmo os reis estão todos na mão do
unidade de propósito nos comandos Senhor. Assim a sua vontade vai se cum-
político e religioso da restauração. prindo e suas promessas se tornam reais.

Voltando-nos para o texto de hoje, vemos Agradeço a atenção dispensada e vamos


então que o impacto da mensagem continuar juntos no próximo estudo.
profética foi profundo e imediato.
Zorobabel e Jesua se levantam e lideram o
povo na retomada da reconstrução do
templo.
O pano de fundo deve ter mudado. As
indicações históricas são que Dario
consolida seu poderio após dois anos
iniciais de muita disputa e guerra. As
ameaças contra a Pérsia deixam de existir
e, portanto, quando Ageu e Zacarias são
comissionados para alertar o povo, no

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Lição 04
"O término da obra”
Esdras cap. 6

Caros ouvintes: agradeçamos a Deus pela assume as despesas dos que estão
oportunidade de mais uma vez nos trabalhando no templo, para que a obra não
encontrar para a continuação destes se paralise (v.8). [3] Os elementos
estudos sobre o período pós-exílio de necessários para os sacrifícios no templo
Israel. Nossa tarefa hoje é considerar o também devem ser fornecidos (v.9-10).
capítulo 6 de Esdras. Finalmente, [4] ficam estabelecidas penas
severas para quem ousar se opor ou mudar
O texto nos relata a conclusão da o decreto (v.11-12). Sabemos que os
restauração do templo. Depois de todas as decretos reais eram coisa séria na
dificuldades que tiveram pela frente, os antiguidade. Depois de editados não havia
judeus, sob a liderança de Zorobabel e como revogá-los. O mesmo rei Dario quis
Jesua conseguem finalmente se dedicar de livrar seu fiel auxiliar Daniel da morte, mas
coração ao projeto que os motivou a foi impedido de fazê-lo pela “lei dos medos
trocar a Babilônia por Jerusalém. Vamos e dos persas que nenhum edito ou
atentar aos aspectos relevantes dessa ordenança, que o rei determine, se pode
conclusão. mudar.” (Dn.6.15).
Nada no relato bíblico indica que os
A reconfirmação da ordem de adversários dos judeus do capítulo 4
edificação. Dario recebe a carta de estivessem de conluio com o governador
Tatenai, o governador provincial a Tatenai em mais uma tentativa de impedir a
respeito do edito de Ciro e ordena que o reconstrução. Parece, que tal como os
documento seja procurado na casa dos judeus, os opositores tiveram seu ardor
tesouros em Babilônia. O documento é arrefecido ao longo dos 10 anos de
resgatado e está reproduzido nos versos 3 paralisação. Se algo de conluio tivesse
a 5. Podemos perceber que este havido, temos que concluir que o resultado
documento difere em alguns aspectos do final da intervenção de Tatenai foi muito
decreto de Ciro transcrito no início de melhor que a encomenda. Agora, tudo
Esdras (1.2-4). Normalmente se consi- ficava apenas na dependência dos esforços
dera que a primeira reprodução se refere à dos judeus.
versão hebraica da ordem, tal como
proclamada ao povo, enquanto aqui no O tempo da reconstrução. O verso 15 nos
capítulo 5 está a versão oficial, em informa da conclusão do templo no sexto
aramaico e em um estilo mais sóbrio. ano de Dario. São, portanto quatro anos
Confirmada a veracidade do decreto que gastos na re-edificação. Traduzindo a data
os judeus declararam existir, Dario edita para o nosso calendário, a reconstrução foi
um complemento que reforça substan- terminada em 12 de março do ano 515 antes
cialmente o edito original, pois: [1] é de Cristo. Passaram-se um pouco mais de
concedido aos judeus o direito de 20 anos desde que os exilados retornaram, e
exclusividade na construção. Mesmo o pouco mais de 70 anos desde a destruição
governador e seus oficiais são solicitados do templo em 586 AC.
a não interferirem no projeto e se
afastarem dali (v.6-7). [2] O Tesouro real

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A consagração do templo. Concluída a especial com o seu Deus está de novo
obra é tempo de se alegrar e adorar a restabelecida.
Deus, consagrando-Lhe a casa que é Sua.
Voltando ao capítulo dois, devemos Junto com o capítulo seis de Esdras se
considerar que desde a chegada os judeus encerra uma época. É a primeira fase da
restabeleceram e mantiveram os restauração de Israel que se conclui. Não
procedimentos de adoração, mesmo mais ouviremos falar de Zorobabel e Jesua.
enquanto o templo não existia. Agora, no Surgem Esdras e Neemias para assumirem
entanto, à vista da reconstrução pronta, a o papel de liderança do povo na
celebração reveste-se de um significado continuidade da restauração. Embora haja
maior, visto que de fato o exílio estava muita coisa ainda a se realizar, a tarefa
encerrado e de novo a vida religiosa podia empreendida por esse primeiro grupo que
ser organizada em torno do templo de retornou é de valor incalculável. Eles
Jerusalém. O ponto alto dos festejos de tiraram partido da oportunidade dos tempos
consagração são as ofertas dos animais: novos e do edito de Ciro. Enfrentaram toda
Uma centena de novilhos, duas centenas sorte de oposição. Responderam aos apelos
de carneiros e quatro centenas de divinos, tanto para voltar para Jerusalém
cordeiros (v.17). Parecem muito, mas são como para sair do comodismo, quando
quantidades insignificantes se as Ageu e Zacarias os conclamam à retomada
comparamos com outras ocasiões de da obra. Ao fim, conseguem ver
consagração ou re-dedicação do templo concretizada a prioridade da sua volta: O
que encontramos no relato bíblico, onde templo restaurado como centro da vida
os animais ofertados são contados em religiosa do povo. É sobre essas vitórias
milhares e mesmo em dezenas de que as novas gerações se apoiarão para
milhares e não em centenas como aqui. seguirem adiante.
Vejam a dedicação de Salomão em 2 Re
8.5 e 62; a re-consagração de Ezequias, E quanto a nós, hoje ficamos por aqui. Que
em 2 Cr 30.24 e a de Josias, em 2 Cr 35.7. Deus nos abençoe nas reflexões que o texto
Os tempos, definitivamente eram outros e bíblico nos induz a fazer. Que Ele mesmo
aqui foi feito o melhor que as nos motive e nos direcione para a resposta
circunstancias permitiam. que o estudo da Sua palavra requer de nós.
Esperamos poder estar juntos mais uma vez
A celebração da páscoa. – O templo foi para a continuação desse estudo.
consagrado imediatamente antes da
Páscoa, de maneira a permitir a sua
celebração. O significado desta Páscoa é
especial e devemos atentar para o cuidado
com que ela é descrita a partir do verso 19
até o final desse capítulo. Há uma
preocupação com a purificação ritual. A
unidade do povo é enfatizada. A
participação de todos na refeição pascal
reforça a noção do povo junto celebrando
o fim do exílio. É uma nova libertação. É
uma nova saída do Egito. Mais uma vez
Deus age em favor do povo e abre suas
algemas. A identidade de um povo

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Lição 05
"A chegada de Esdras”
Esdras caps. 7 e 8

Caros ouvintes: é uma satisfação estarmos A boa compreensão do texto bíblico requer
juntos em mais uma oportunidade, dentro que atentemos não apenas para o que o
destes estudos sobre A Restauração de narrador sacro diz, mas também para como
Israel. Hoje, nos centramos nos capítulos o diz. Detalhes e sutilezas são relevantes se
7 e 8 de Esdras. desejamos ter uma visão correta e completa
do relato apresentado. Deste modo, é
Entramos na segunda fase do retorno. preciso atentar que a partir de 7.28 o relato
Lembrando, Ciro foi o rei Persa que se torna um testemunho pessoal,
conquistou a Babilônia e tornou o seu país apresentado na primeira pessoa. É Esdras,
a potência dominante do seu tempo. Foi pessoalmente descrevendo os fatos que
um decreto de Ciro que possibilitou a vivenciou. Isto significa que todo o livro até
volta à Jerusalém do primeiro grupo de este ponto, apresentado como relato na
exilados, liderados por Zorobabel. Ciro terceira pessoa, é uma recontagem de fatos
foi sucedido por Cambises, que teve um precedentes, passando-se então, a partir
reinado curto e conturbado, sucedido por daqui, a ser a história pessoal de quem ao
Dario, que, relembrando, confirmou o fim dá nome ao livro.
decreto para reconstrução do templo,
permitindo sua conclusão. Após Ciro, o Esdras é apresentado como “escriba
próximo rei persa foi Xerxes, chamado versado na lei de Moisés” (7.6), que
pelos judeus de Assuero, que foi sucedido “...tinha disposto o coração para buscar a
pelo seu filho Artaxerxes. É no sétimo Lei do Senhor, e para a cumprir, e para
ano desse reinado que ocorrem os fatos ensinar em Israel os seus estatutos e os
relatados nos capítulos 7 e 8 de Esdras. seus juízos.” (7.10) Toda sua genealogia é
Recontado pelo nosso calendário, esse apresentada, para o validar como autoridade
seria o ano 458 AC. Ao considerar que o religiosa, em conformidade com os
templo foi restaurado em 515 AC, são preceitos da lei de Moisés.
quase 60 anos decorridos desde o fim do A função de escriba ganha na Bíblia um
capítulo seis. É evidente que a época é sentido reforçado a partir de Esdras. Os
outra. Os personagens do primeiro retorno escribas, ou ‘mestres da lei’ do tempo de
não mais vivem, ou estão muito idosos, Jesus se originam em Esdras. São os que
não mais na ativa. Portanto, é importante têm a missão de preservar, reproduzir e
entender que estamos aqui tratando de difundir os textos sagrados, assegurando a
uma nova situação, em um novo fidelidade deles. A realidade do castigo do
momento. A única conexão entre a exílio levou o povo a reconsiderar sua
história de Zorobabel e Jesua com a de adesão à Lei de Moisés, passando a tratar o
Esdras e Neemias é que elas se passam na cumprimento da lei com a seriedade de
mesma cidade, motivadas por um mesmo condição de sobrevivência, necessária para
propósito de restaurar a identidade social, evitar um novo castigo, caso fosse outra vez
cultural, religiosa, e por que não dizer desobedecida.
geográfica, do povo judeu.

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Esdras vivia na Babilônia e lidera outro nessa ação. Medo natural da viagem e de
grupo de regressos, nesse caso composto todos os perigos associados, considerando
fortemente por pessoas com funções que eram, em essência, um pacífico grupo
religiosas, como sacerdotes, levitas, de religiosos, carregando uma bagagem de
cantores, porteiros e servidores do templo grande valor. Timidez, pois Esdras não
(7.7). No agrupamento final para a saída, queria parecer diante de Artaxerxes como
Esdras ainda convoca especificamente um desmedido ‘pidão’ pleiteando
mais levitas a se juntarem a eles (8.15- adicionalmente por uma escolta militar,
20). depois de tudo que o rei já lhe concedera.
Os versos 11 a 26 do capítulo 7 Na questão material, houve a divisão dos
apresentam a carta real de Artaxerxes que bens, distribuindo sua guarda entre doze
Esdras recebeu como autorização para a grupos, que foram responsabilizados por
sua missão. Essa autorização repete as seu transporte até Jerusalém. O grupo deixa
condições generosas da ordem de Dario o Rio Aava no 12º dia e iniciam a viagem
para a conclusão do templo, garantindo que em total se delonga por 4 meses (7.9).
liberdade de ação e apoio e recursos
oficiais para a missão de Esdras. O texto termina nos informando do fim da
Há uma omissão nesse relato de Esdras viagem; do necessário descanso pós-
que faz falta: O que de fato motivou o chegada; da entregue ao templo do ouro e
retorno de Esdras? Mais adiante nesta prata e bens trazidos como oferta; e dos
série estaremos considerando o terceiro sacrifícios que esses que retornaram
retorno registrado, o de Neemias e puderam ofertar, marcando a sua volta do
naquele relato se descreve em minúcias as exílio.
condições e motivos que o desen- É mais uma etapa concluída nessa história
cadearam. Isso falta no testemunho de da restauração. Esdras traz para Judá a
Esdras. Apenas ficamos sabendo que ele atenção com o cumprimento integral da lei.
fez um pedido ao rei, “...e o rei lhe Esse seu zelo para ensinar e cumprir os
concedera tudo quanto lhe pedira.” (7.6). estatutos e juízos do Senhor moldará a
Na oração que inicia seu relato pessoal, nação judaica que está se recompondo. O
Esdras agradece a Deus pela Sua ação cuidado com que desempenha tal missão é
junto ao rei, assegurando a obtenção dos o que veremos no nosso próximo encontro.
favores pleiteados (7.27-28). No entanto,
quem era Esdras na Babilônia e como ele Que Deus nos abençoe e nos motive para o
teve acesso ao poderoso rei Artaxerxes continuado estudo da sua palavra.
são questões irrespondíveis.

O capítulo 8 nos fala do retorno. Começa


listando o grupo dos que retornaram. São
cerca de 1.750 homens, obviamente
acompanhados de mulheres e crianças,
não inclusos nessa contagem.
O Rio Aava marca a fronteira, e é o ponto
de encontro para a jornada. Lá Esdras
ultima os preparativos da viagem, tanto
espiritual como materialmente. Em
termos espirituais, conclama um jejum
para suplicar a proteção divina para a
jornada. Há um misto de medo e timidez

ESDRAS, NEEMIAS e ESTER - 1T2010 Pg. 10


ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 06
"A difícil reconstrução”
Esdras caps. 9 e 10

Temos mais uma oportunidade para O problema era sério, porque [1] a
continuar avançando em nosso estudo ordenança divina era rigorosa quanto à
bíblico a respeito da restauração de Israel pureza racial. Foram estabelecidos em vista
como nação, após o exílio babilônio. da entrada do povo em Canaã, como uma
Estamos agora chegando ao final do livro prevenção contra a assimilação pelos judeus
de Esdras, com os seus capítulos 9 e 10. dos cultos a deuses autóctones. Esdras na
sua oração de penitência lembra-se dessa
Como temos visto, cada etapa desse longo proibição e seu contexto (9.11-12). [2] o
processo de restauração da nação tem suas descumprimento dessa determinação não
peculiaridades e desafios próprios. A era um problema restrito às margens da
situação que nos é apresentada nos dois sociedade: eram os sacerdotes e levitas que
capítulos finais de Esdras talvez seja a estavam se casando e dando suas filhas em
mais difícil de todas. Sem duvida, sob a casamento com os não-judeus (9.1). E, [3]
perspectiva do nosso tempo e do nosso essa desobediência incomodava a liderança
entendimento, a ação restauradora aqui judaica em Jerusalém (9.1), que vai a
apresentada beira o inaceitável. Como é Esdras, como que pedindo suas
possível, em nome de Deus, desfazer providências.
famílias, enxotar de casa mulheres e A reação de Esdras ao que lhe é
filhos sem se preocupar com o que venha comunicado nos apresenta o mais bem
a ocorrer a eles? Creio que não convém acabado retrato que podemos ter desse
julgar pesadamente nem personagem bíblico. Eis o que ele mesmo
precipitadamente, fazendo uso apenas dos diz: “Ouvindo eu tal coisa, rasguei as
referenciais da nossa época, distanciados minhas vestes e o meu manto, e arranquei
que estamos daquela situação por 2.500 os cabelos da minha cabeça e da barba, e
anos. Convém, sim, como sempre, me assentei atônito.” (9.3). Quanta coisa a
entender o contexto dos acontecimentos e respeito de Esdras essa atitude nos mostra:
compreender do que realmente se tratava. Além de demonstrar ser do tipo mais
introspectivo, ele toma para si a carga do
Esdras, o escriba versado na lei de erro do povo. Penso que foi surpreendido
Moisés, imbuído da responsabilidade de pela gravidade e extensão do problema que
cumprir e ensinar tal lei a Israel, chega a encontrou e o internaliza. Se ele se imbuiu
Jerusalém e o que descobre? Descobre da missão de cumprir e ensinar a lei do
que um aspecto da lei estava sendo Senhor, e ela estava sendo tão
absolutamente negligenciado: a proibição displicentemente descumprida, ele estava
do casamento com pessoas de outras falhando na sua responsabilidade. Então,
raças. Diríamos em uma linguagem nossa não era um problema apenas dos que
que era o problema do casamento misto, estavam desobedecendo. Era um problema
quando alguém sendo seguidor de uma também de Esdras. Encontramos nos
religião, como crente evangélico no nosso profetas do Velho Testamento essa atitude
contexto, resolve se casar com alguém de assumir o pecado coletivo. Isaías (Is.
que não segue os mesmos preceitos de fé. 59.12), Jeremias (Jr.14.7), Ezequiel

ESDRAS, NEEMIAS e ESTER - 1T2010 Pg. 11


ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
(Ez.33.10), Miquéias (M1. 7.19) e o Um pregão é anunciado por toda Judá para
salmista (Sl. 65.3/ 106.6) assumem e um novo ajuntamento onde se firma o
choram o pecado do povo. Não significa compromisso com o fim dos casamentos
que algum deles, e especificamente mistos, dando-se o tempo necessário para
Esdras tenham cometido o pecado que que os procedimentos de separação sejam
reconhecem. Significa que sentem cumpridos (10.14). O processo todo é
responsabilidade pelo pecado e estão concluído no dia primeiro do primeiro mês
almejando saná-lo. (10.17). Lembrem-se que esse é o mesmo
dia que Esdras, na Babilônia, iniciava a
A reação instintiva e incomum de Esdras viagem de retorno, entendendo-se assim
ao receber a noticia deixa o povo sem que um ano decorreu desde o início da volta
saber o que fazer. Lá está o líder religioso até se completar a correção do pecado dos
recém-chegado, aquele que vem como o casamentos mistos.
mais capacitado para ensinar o que é certo
e restaurar a tradição espiritual da nação. Ficamos ainda com a nossa inquietação a
Lá está esse homem, sentado no chão, respeito dessas medidas corretivas e do seu
com suas vestes rasgadas e sua barba e impacto na vida dos que foram por elas
seus cabelos arrancados. Diferentemente atingidos, as mulheres e os filhos dos
dos amigos de Jó, que ficaram mudos casamentos desfeitos. Não é esse o objetivo
diante dele por 7 dias e noites, essa do texto, por isso nada se menciona a
situação de perplexidade em Jerusalém respeito deles. No entanto, o tempo e a
dura algumas horas, no máximo, pois forma determinados para que tais
Esdras, como bom cumpridor da lei casamentos fossem terminados nos indicam
observa o tempo apropriado para o cumprimento de procedimentos formais
adoração, e ao chegar o momento do de divórcio, o que poderia nos levar a
sacrifício da tarde, se levanta e ora a pensar em condições justas de separação.
Deus. (9.6-15) No entanto, o texto é escrito do ponto de
vista da história de Israel e da sua
Esse episódio de Esdras em Jerusalém é o restauração, nessa quadra em que há o
que se pode chamar de liderança pelo esforço por reorganizar-se como sociedade
exemplo. Esdras não discursa contra o com identidade própria. Em todo o relato
erro. Não conclama a um arrepen- nos surpreende a pequenez das estatísticas
dimento. Não pede qualquer ação. Apenas envolvidas. São por exemplo listados não
se humilha e apresenta a Deus o mais que 110 casamentos mistos desfeitos
problema. A sua atitude produz resultado (10.18-43). O povo era diminuto e a
imediato. Enquanto ainda ora o povo vai preservação de sua integridade e pureza
se apercebendo da gravidade da situação e eram assim condições indispensáveis da
o exemplo de lamentação e clamor por restauração.
perdão de Esdras vai se espalhando por
todo o ajuntamento, quantificado como Cumprida mais esta etapa do nosso estudo,
“mui grande congregação” (10.1) na próxima oportunidade passa-remos para
Atitudes efetivas surgem, a partir da o livro de Neemias, continuando essa
iniciativa de certo Secanías, que toma a jornada da restauração de Israel. Que Deus
palavra e igualmente assume responsa- nos abençoe.
bilidade pelo erro. Tudo indica que
Secanías não era um dos que estavam no
erro, mas, como Esdras, assume o pecado
como parte da coletividade.

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 07
"A chegada de Neemias”
Neemias caps. 1 a 3

Com alegria começamos um novo estudo líder civil. Efetivamente, ele vem designado
bíblico, nesta séria sobre a restauração de governador de Judá (5.14) e com muita
Israel. Chegamos ao livro de Neemias, sapiência usa seu poder para organizar
nos seus capítulos um, dois e três. politicamente o povo judeu e estruturar a
vida de sua capital.
Na Bíblia hebraica Esdras e Neemias Mas, vamos começar pelo começo.
formam um livro único, embora cada um Neemias tinha uma função de alta
deles contenha o depoimento pessoal de relevância na corte de Artaxerxes. Convém
quem lhe dá o nome. O relato de Neemias considerar a influencia dos judeus na corte
é mais detalhado, e por isso ficamos dos reis persas. Parece que não era pequena,
sabendo mais a respeito dele; de sua vida pelas poucas evidências que temos: Daniel
na Babilônia; de suas motivações para com Dario, Mardoqueu e Ester com Xerxes
voltar a Jerusalém; e das suas ações lá. ou Assuero, Neemias com Artaxerxes, além
Tudo indica que Neemias é o último texto da divagação já feita sobre qual teria sido o
do Velho Testamento. Após Neemias papel de Esdras na mesma corte. Penso que
segue-se o silêncio do período inter- há muito dessas influencias por trás dos
biblico, que abrange cerca de 430 anos até decretos reais que formam o amparo legal
se chegar à narrativa da vida de Jesus da restauração de Israel. Mas isso é apenas
Cristo nos evangelhos. a percepção humana dos fatos. Sem dúvida,
O depoimento de Neemias e a riqueza e nos bastidores Deus está atuando e
beleza do seu relato tornam-no um livro conduzindo a historia como Ele deseja,
muito apreciado e utilizado, mesmo fora colocando as pessoas certas nos lugares
do seu contexto histórico. Ele tem servido corretos nos momentos oportunos, e
como manual de liderança; cartilha de incutindo-lhes a motivação apropriada. E
como fazer as coisas acontecerem; além Neemias é uma dessas pessoas certas na
de texto para discussão sobre mão de Deus.
administração, estratégia e política. Aqui, A função de copeiro na corte persa é algo
ficamos com Neemias dentro do seu muito mais que nossa percepção moderna
contexto histórico, como parte do aquilata. Além de ser responsável pela
processo de restauração da nação judaica qualidade da comida e participar dela em
pós-exílio. É mais uma etapa, a última, conjunto com o rei para prevenir
dessa empreitada de um pouco mais de envenenamento, o copeiro funcionava como
100 anos, que começou com Zorobabel. conselheiro que compartilha da intimidade
Já vimos que Zorobabel e Jesua e dos segredos reais. É nesse contexto que
formavam uma dupla de liderança, cada deve ser inserido o relacionamento de
um cuidando de um aspecto do povo, no Neemias com Artaxerxes.
âmbito religioso e político-civil. Essa Embora detentor de uma posição de
dupla, em certo sentido se repete com importância e prestígio, Neemias tem seu
Esdras e Neemias. Veremos em algumas coração nas coisas de seu povo. Quando
situações a ação conjunta dos dois. No sabe do estado de Jerusalém, jejua e ora.
entanto, Neemias se destaca mais, como o Como Esdras, se contrista pelo estado do

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
povo, buscando a clemência divina. Em necessário ponderar que possivelmente
seguida, pede ao rei e obtém uma licença aquela revisão também inclui os fatos da
temporária de suas funções e vai para época de Neemias, agora aqui relatados no
Jerusalém. Ainda em caminho, já tem seu testemunho pessoal.
uma antevisão dos problemas que teria O verso 20 do capítulo 2 é a evidência da
pela frente, ao encontrar-se com unidade de propósito que está presente em
Sambalate e Tobias (2.10), que serão todas as lideranças ao longo do processo de
opositores contumazes de suas ações. restauração. O que Neemias responde a
A motivação que leva Neemias voltar Sambalate e Tobias é o mesmo que
para sua terra é o estado dos muros de Zorobabel respondeu aos opositores do seu
Jerusalém. O seu irmão lhe tinha tempo: “Nós...nos levantaremos e
informado que eles estavam partidos e edificaremos; mas vós não tendes parte,
suas portas queimadas, (1.2-3), isso é, nem justiça, nem memória em Jerusalém.”
continuavam no estado que foram
deixados na destruição, 140 anos antes. O capítulo três é de importância para dois
Ainda que o templo já estivesse propósitos que estão além do nosso objetivo
reconstruído; o culto a Jeová restabe- aqui, e por isso são apenas mencionados: É
lecido; a lei de Moisés sendo aplicada; e a mais completa descrição existente sobre a
os erros corrigidos com a atuação de Jerusalém antiga e seu sistema de muros. É
Esdras, Neemias é capaz de olhar um também uma lição de Gerência, detalhando
pouco mais longe, poderia se dizer, mais o tino e a habilidade de Neemias em
estrategicamente, e se condoer pela cidade organizar uma empreitada de fôlego como
sem proteção e a vulnerabilidade que isso essa.
significava.
A chegada de Neemias é discreta, embora As bases do trabalho de Neemias estão
chegue acompanhado de escolta (2.9). lançadas. Tal como vimos no início de
Depois do descanso da viagem, sem Esdras, o começo imediato e o progresso
anunciar o projeto de sua vinda (2.16), sai inicial fácil não significam conclusão rápida
de noite para verificar o estado dos muros e suave. O embrião dos problemas já é
e se certificar do tamanho do desafio que conhecido. Eles aflorarão, e não somente os
tinha pela frente. Só depois é que problemas conhecidos, mas novos e
Neemias comunica aos líderes de desafiantes surgirão. A capacidade de
Jerusalém seu propósito e como Deus lhe Neemias será exigida em muito.
tinha dirigido até aquele momento. Vamos continuar acompanhando essa
Sambalate, Tobias e mais Gesem Jornada, na certeza de que em cada passo
começam sua oposição com zombaria e dela, verdades e desafios são colocados
desprezo, levantando desgastados para a nossa vida espiritual.
argumentos de rebelião contra o rei.
Não fica de todo claro qual a efetiva Tenhamos todos uma boa semana na
conexão entre Esdras capitulo 4 e os presença do Senhor.
acontecimentos aqui descritos. Lá em
Esdras se menciona a oposição durante o
reinado de Artaxerxes (Ed. 4.7) e se
afirma que os muros estavam começando
a ser reerguidos (Ed.4.12). Como vimos,
até o capítulo 6, o livro de Esdras é uma
revisão do período, como preâmbulo ao
depoimento pessoal de Esdras. É

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 08
"Os obstáculos à restauração”
Neemias caps. 4 e 5

Caros ouvintes que acompanham estas interesses mer-cantis daqueles que faziam
reflexões a respeito da restauração de do caos de Jerusalém o seu ponto de
Israel: agradecemos a Deus pelo seu negócios.
interesse na série, ao mesmo tempo em A oposição começa fazendo uso de
que Lhe suplicamos que nos abençoe e descrédito e escárnio: “Que fazem esses
nos fale por intermédio da Sua palavra. fracos judeus? ....Vivificarão dos montões
Nesta oportunidade voltamos nossa de pó as pedras que foram queimadas?
atenção para os capítulos 4 e 5 de ...vindo uma raposa derrubará facilmente
Neemias. o seu muro de pedra.” (4.2-3)
A reação de Neemias a essa oposição, ainda
Imediatamente após seu retorno a branda é a oração e o encorajamento para a
Jerusalém, Neemias organiza o povo e continuidade da obra (4.4-6). Os inimigos,
inicia o trabalho de reconstrução dos vendo a inutilidade de seu sarcasmo, iram-
muros da cidade. Sambalate e Tobias se se e começam a se organizar visando
apresentam como os mais destacados empreender ações de guerra contra os
inimigos dessa reconstrução, mas não judeus (4.7-8). A reação de Neemias
estavam sós, pois falavam em nome de continua a mesma: orar mais e agir mais.
arábios, amonitas e asdoditas (4.7). De novo ele lidera o povo na oração;
Enfim, falavam em nome de todos incentiva a continuação da obra; e toma
aqueles que compunham a Samária (4.2), providências para proteção e guarda
região do antigo Reino do Norte, que foi diuturna tanto dos trabalhadores como do
repovoado pelos assírios com imigrantes próprio muro. Nesse espírito, a expressão
trazidos de diferentes localidades. Sem de Neemias em 4.17 se tornou um lema
dúvida, como motivação da oposição para todos os que na busca de um objetivo
havia a questão racial-religiosa, com a têm que enfrentar oposição acirrada: “Os
firme postura dos judeus de não aceitarem que edificavam o muro, e os que traziam
nenhum compromisso fora do binômio as cargas, e os que carregavam, cada um
descendente de Abrão – adorador com uma mão fazia a obra e na outra
exclusivo de Jeová. Mas, podemos tinha as armas.”
também perceber que havia interesses
econômicos ou comerciais em A dificuldade externa era aparente e
consideração. No final do livro somos facilmente identificável. No entanto,
informados que um sacerdote, Eliasibe dificuldades internas na sociedade judaica
tinha parentesco com Tobias e erigiu para começam a brotar, e essas são de natureza
ele um depósito na área do templo (13.7). mais complexa, pois fragilizam o grupo a
Mais adiante, nos apercebemos que, partir do seu interior e muitas vezes acabam
embora ainda razoavelmente desabitada, não merecendo o cuidado necessário. O
Jerusalém servia de ponto de comércio capítulo 5 trata dessa questão. É uma
para muitos de seu derredor (13.15-16). situação de injustiça social, em realidade
Assim, uma cidade reconstruída e com evidenciada por reclamações distintas,
administração própria não convinha aos apresentadas nos versos 2 a 4. [1] muitos

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
não tinham como obter alimento para si e beneficiando da situação. Tinham recursos
suas famílias. [2] outros tiveram que e os emprestavam em transações lucrativas.
dispor de suas propriedades – seus meios Nada de errado, pois faziam com prudência
de vida – para adquirem trigo e se a administração dos seus bens. No entanto,
alimentarem. E [3] outros mais tiveram quando Neemias se apercebe do problema e
que tomar dinheiro emprestado para pagar nele medita, ele tem coragem de
os tributos devidos. É quase como uma encaminhar uma solução que vai contra seu
escala em crescente: é necessário tomar interesse pessoal. Ele assume a sua cota de
dinheiro para honrar compromissos. Não perdas como contribuição para o
se conseguindo pagar os empréstimos, saneamento do problema. Não hesita nem
empenham-se as propriedades, que logo por um minuto em contribuir com a sua
são perdidas, e então não há nem como parte na solução. Com o seu exemplo,
comprar o alimento. A conseqüência é outros o seguem e o problema desaparece.
drástica, como vemos no verso 5: “... eis É essa sensibilidade aos problemas latentes;
que sujeitamos nossos filhos e nossas é essa percepção privilegiada das soluções
filhas para serem servos, e até alguns de possíveis; é essa disposição de pagar o
nossas filhas são tão sujeitas que já não preço necessário; é esse afã de fazer de tudo
estão no poder de nossas mãos; e outros para superar os obstáculos que fazem
têm as nossas terras e as nossas vinhas.” Neemias ser um personagem bíblico tão
É muito razoável considerar que essa especial e tão apreciado.
situação tenha surgido como decorrência
da própria reconstrução do muro. A partir do verso 14 desse capítulo 5,
Convocados para a obra, os homens das Neemias desenvolve uma argumentação,
famílias deixam de cuidar de suas como que de defesa da sua administração
plantações e animais, e recursos para em Jerusalém e da sua probidade. Coloca
sobrevivência precisam ser levantados. em palavras aquilo que é perceptível nos
Notem que a reclamação surge a partir seus atos, como um testemunho da
das mulheres, que estão mais próximas da integridade de suas ações e de seus
dificuldade e por isso mais sensíveis. propósitos.
Neemias atenta para o clamor feminino e
pensa no que fazer. Chega à conclusão Superado mais um entrave, é hora de
que o problema se origina na ganância – prosseguir a caminhada, pois a jornada
ou usura – dos mais favorecidos contra os continua.
menos (v.7). Sua solução é ajuntar o povo
e expor a situação, o que faz com bastante Que o Senhor acrescente a Sua benção, e
discernimento, argumentando que agora por ela possamos ser fortalecidos.
um judeu está sendo escravizado por seu
irmão, imediatamente após terem sido
libertados da escravidão a outros povos.
Diagnosticado o problema e partilhado
com o povo, o encaminhamento da
solução vem naturalmente. No entanto,
não devemos deixar de atentar para
detalhes que são relevantes para a
compreensão do porque o problema foi
tão suavemente encaminhado e sanado.
Vejamos o verso 10: Neemias e seus
auxiliares diretos também estavam se

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
Lição 09
"A restauração material se efetiva”
Neemias caps. 6 e 7

Com alegria começamos um novo estudo posteriormente poderiam ser utilizadas


bíblico, agora nos voltando para os contra ele, para desqualificá-lo como líder.
capítulos 6 e 7 de Neemias, na Semaías atemoriza Neemias com as notícias
continuidade da nossa série a respeito da de que estava sendo armando um complô
restauração de Israel. para matá-lo dentro de Jerusalém, e que
como prevenção, a única atitude seria se
Os inimigos Sambalate e Tobias não esconder no templo. Neemias percebe o
desistem. Mesmo diante da constatação de propósito que se buscava: Ele não era
que os muros já estão recompostos, sem sacerdote, portanto não podia entrar no
brechas, apenas com os portões faltantes templo e se o fizesse, o fato seria usado
(6.1), continuam articulando-se para contra ele, provavelmente para reforçar
impedirem a reorganização de Jerusalém boatos das intenções dominadoras que
como cidade. Eles se apercebem que o Neemias estaria nutrindo. (v.10-13).
ponto forte dos judeus é o seu líder e Arregimentação de falsos profetas – Uma
passam a concentrar suas ações contra profetiza, Noadias e mais profetas foram
Neemias. Julgam que se neutralizarem a comissionados para atemorizar Neemias e
cabeça estarão inutilizando todo o corpo. desviá-lo do atingimento dos seus
Esse capítulo seis é uma seqüencia de propósitos. (v.14)
ações de dissimulações, subornos e boatos Difusão de notícias favoráveis - Tobias
mentirosos visando denegrir a moral e tinha laços de parentesco com os judeus.
trazer o medo à Neemias, bem como Esses parentes se faziam portadores a
desacreditá-lo junto à população. Neemias de notas boas – bondades – a
Repassemos as ações empreendidas: respeito de Tobias. Nos nossos dias,
Tentativa de seqüestro – por quatro vezes chamaríamos isto de “ação de lobby”,
convidam Neemias a se juntar a eles em quando se trabalha espalhando notícias do
um vale fora de Jerusalém. A intenção é interesse de certo lado no encaminhamento
evidente. Isolado do seu povo Neemias de questões que dependem de decisões
poderia ser facilmente retido ou até políticas (v.17-19)
eliminado, trazendo, imaginavam, a Cartas de ameaça – Nas suas
desorientação para os judeus privados de correspondências com seus familiares,
sua forte liderança. (v.3-4). Tobias era informado a respeito de atos e
Boatos mal intencionados – Notícias movimentos de Neemias, e usava isso para
falsas são espalhadas, ou anunciadas formular ameaças por escrito. (v.19)
como espalhadas, a respeito de desejos
escusos de Neemias em se proclamar rei e Nenhuma dessas ações logra êxito, e a obra
liderar a rebelião de Jerusalém tão logo a do muro prossegue até a sua conclusão.
tenha murado. Neemias dá-se ao trabalho Surpreende-nos que apesar da
de refutar os boatos (v.5-8). complexidade e grandeza da obra, apesar de
Suborno – Semaías, alguém próximo a todos os entraves que precisaram ser
Neemias, visto que freqüentava sua casa, superados, o empreendimento é concluído
é comprado para que incuta medo e em 52 dias (v.15). Talvez o segredo seja
mesmo induza Neemias a ações que exatamente esse: o segredo do esforço

ESDRAS, NEEMIAS e ESTER - 1T2010 Pg. 17


ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
concentrado, o segredo da prioridade respeito da relevância dela nos relatos da
absoluta. Não tentar abordar todas as restauração é pertinente, e vale relembrar as
questões ao mesmo tempo, mas escolher a razões apontadas:
prioridade, focar nela e concluí-la tão [1] Deus conhece pessoalmente o seu povo.
imediatamente quanto possível. A aliança entre o Senhor e o seu povo é um
Jerusalém de novo fortificada e protegida laço de amizade íntima.
pelos seus muros é um fato notável. [2] As pessoas comuns são vitais para a
Parece que aqui no capítulo seis o fato é realização do plano divino de redenção.
minimizado ao ser reduzido a uma nota de Não somente os líderes religiosos e
umas poucas palavras. A festa de políticos são importantes na reconstrução
dedicação dos muros é deixada para da casa de Deus, mas o povo comum o é.
depois, sendo nos apresentada no capítulo [3] E por fim, a numeração se assemelha
12. Por ora, ficamos sabendo que a àquelas dos livros de Números e Josué, nos
finalização da obra não significa ainda a lembrando que como o Senhor formou a
tranqüilidade para a cidade. A vigilância comunidade da aliança após o Êxodo, assim
precisa ser cuidadosamente exercida, pois também Ele a recria após o retorno da
os inimigos da cidade continuam à volta. Babilônia.
Assim, lemos no início do capítulo 7 Ao refletir nesse ponto, devemos nos
sobre o estabelecimento dos porteiros; a conscientizar que além de Senhor e
nomea-ção de Hanani, irmão de Neemias condutor da história, Deus tem um interesse
como o responsável pela segurança, pois específico e pessoal em cada ser humano.
essa é uma função de importância vital; e Não somos fantoches de um enredo divino.
a ordem para se fechar as portas ao Tampouco somos somente atores
anoitecer e não abri-las antes do sol coadjuvantes postados no fundo do cenário
aquecido. De fato, Jerusalém agora passa para abrilhantar a atuação dos que estão no
a ter condições de acabar com o caos de centro da ação. O cumprimento das
uma cidade semi povoada e promessas divinas e o desenvolvimento da
desguarnecida. história objetivam o resgate, a salvação de
cada um de nós. É esta a esperança que nos
A partir do verso 5 do capítulo 7 vemos nutre e deve servir para insistirmos na nossa
mais uma vez a questão da genealogia busca de Deus e da sua vontade para nós.
sendo abordada. Os registros de Esdras e
Neemias estão pontilhados de infindáveis É por isso que devemos continuar gastando
relações de nomes de pessoas e famílias, nosso tempo com Esdras e Neemias.
que para nós não fazem sentido. Na nossa
leitura bíblica costumarmos passar
mecanicamente por elas. As encontramos
nos capítulos 2, 7, 8 e 10 de Esdras e aqui
em Neemias nos capítulos 7, 10, 11 e 12.
Algumas das listas são descritivas de
participantes de certos eventos, mas todas,
de fato são de pouca relevância para o
entendimento bíblico que nós almejamos,
sendo de bom uso àqueles que se
aprofundam no estudo. No entanto para
nós, a simples existência dessas listas no
texto bíblico deve significar algo. Creio
que o comentário da Bíblia de Genebra a

ESDRAS, NEEMIAS e ESTER - 1T2010 Pg. 18


ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
Lição 10
"A reação espiritual tem início”
Neemias caps. 8 e 9

Caros ouvintes, em continuação ao estudo texto sagrado, como nós temos hoje. O
do livro de Neemias, nesta série a respeito processo de cópia de textos era algo de
da restauração de Israel, chegamos hoje grande dificuldade, limitando sua
aos capítulos 8 e 9. Suplicamos a graça de distribuição. Não deveríamos estranhar se o
Deus para que a Sua palavra produza bons verso 1, a respeito do livro da lei de Moisés
frutos em nós. que foi trazido a público por Esdras se
referisse ao único exemplar preservado.
A leitura séria e comprometida da Bíblia [3] Mesmo que houvessem cópias
gera efeitos marcantes. São tantos disponíveis, outra limitação era que o
testemunhos que ouvimos de pessoas que domínio da leitura não era generalizado. A
chegaram à salvação exclusivamente pela habilidade universal de leitura é fenômeno
leitura dos evangelhos, e por vezes até de recente na história. Mesmo que
outros textos bíblicos. Para outros, e encontremos na Bíblia exemplos de pessoas
mesmo para nós na nossa vida espiritual, comuns escrevendo e lendo, o
não poucas vezes a leitura de um texto entendimento é que em toda a antiguidade a
trouxe orientação com relação a decisões escrita e sua interpretação era ofício de
criticas; chamou a atenção para erros a poucos, e para o restante, havia apenas o
que estavam sendo induzidos; ou alegrou recurso da tradição oral.
o coração com um consolo especial. É por E então, dentro dessas condições, com a
isso que fazemos nossa a expressão de vida em Jerusalém voltando a ter a rotina e
Hebreus 4.12, e afirmamos que a Palavra organização de uma cidade estruturada,
de Deus é viva e eficaz. Ela continua chega o tempo de buscar a palavra de Deus
impactante, mesmo quando cultivado o e deixar que os escribas a leiam, e a
hábito da regularidade na sua leitura e ensinem para que todos possam aprender a
meditação. Lei ouvindo-a direto da fonte. A
Agora, imaginemos o impacto dessa oportunidade é o primeiro dia do sétimo
leitura, na situação em que ela esteja mês, data designada para festa das
sendo feita pela primeira vez em uma trombetas (Lv 23.24; Nm 29.1-6). Nesse
geração! É sobre isso que versa o capítulo dia, não se deve trabalhar e todo o povo se
oito de Neemias. De novo precisamos nos ajunta “como um só homem” em
desvestir da nossa modernidade e assembléia solene. De fato, foi uma grande
mergulhar no contexto do relato bíblico classe de EBD - mesmo que o dia
para o entendermos em todo o seu santificado não tenha sido domingo. Na
significado. Alguns aspectos nesse verdade, o que lá ocorreu é o que não deve
sentido não devem ser esquecidos: [1] O faltar em nenhuma reunião de estudo
texto lido foi o da lei de Moisés, isto é, o bíblico. Vejam o verso 8: “E leram no
que deve corresponder ao Pentateuco da livro, na lei de Deus; e declarando e
nossa Bíblia. Era o que havia disponível. explicando o sentido, faziam que, lendo, se
Na verdade, o restante do Canon do Velho entendesse.” Qualquer estudo da Palavra
Testamento foi sendo cristalizado que não esteja em acordo com este verso
exatamente nessa época da restauração. deixa de cumprir seu objetivo.
[2] Não havia a disponibilidade farta do

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
O resultado desse ouvir as palavras da lei desobediência do povo com a constante
foi muita emoção, traduzido em choros e bondade e provisão de Deus.
lamentações. Neemias e os escribas Essa oração nos lembra quão importante é
intervém lembrando que aquele deve ser rever a jornada caminhada. Rememorar de
um dia de júbilo, “...porque a alegria do onde viemos; relembrar a estrada percorrida
Senhor é a vossa força.” (8.10). e entender como chegamos até aqui onde
E o que aprendem, procuram imediata- estamos. Entender nosso processo
mente por em prática. Já no dia seguinte, formativo é nos conhecermos melhor e
diz-nos o verso 13, toda a liderança se assim poder tomar com mais consciência
junta à Esdras “para atentarem nas uma posição com relação ao futuro e com
palavras da lei.” A primeira providência relação para onde queremos nos dirigir.
diz respeito à correta observância da festa É esse espírito que percebemos presente
dos Tabernáculos, comemorada logo em nessa oração-discurso. Ela termina com um
seqüência à das trombetas. Todos os clamor pela misericórdia divina, em um
procedimentos que a lei determina para tal desejo irrestrito de obedecer aos preceitos
evento são observados, de modos a se ter da lei e evitar o castigo divino, cujo peso é
uma celebração impar: “...porque nunca ainda sentido pelo povo. Essa vontade é
fizeram assim os filhos de Israel, desde expressa e confirmada em um pacto selado
os dias de Josué, filho de Num, até pelos príncipes, levitas e sacerdotes.
aquele dia. E houve mui grande Já no capítulo dez, temos outra lista,
alegria.” (8.17). É claro que a celebração daqueles que firmaram o pacto, inclusive
ocorreu regularmente ao longo da história todo o povo, além dos nobres nominados.
de Israel, e lembramos que ela também foi Seguem-se então os pontos principais do
celebrada com Zorobabel e o primeiro pacto, que cobre aspectos relevantes da lei
grupo dos que retornaram (Ed. 3.4). O que com relação à não se misturar com os povos
Neemias testemunha com suas palavras é da terra; guardar o sábado como dia
que o significado dessa festa dos santificado; observar o sustento dos levitas
Tabernáculos em particular não se e do templo; e consagrar as primícias.
compara com qualquer outra anterior, a
não ser com o tempo de Josué. Então, Caros ouvintes, chegamos ao fim de mais
como nessa ocasião, havia o impacto de esta oportunidade de pensar e refletir no
estar em casa e poder relembrar tudo o texto bíblico. Que prevaleçam não as nossas
que o Senhor fez pelo seu povo. considerações humanas, mas aquelas em
A leitura da Lei continua no capítulo 9. nós colocadas pela ação do Espírito de
É efetuada em meio a jejuns, confissões Deus.
de pecado e adorações. É liderada por um Que Deus nos abençoe a todos.
grupo de levitas que, com certeza,
formavam um grupo de seguidores de
Esdras, todos imbuídos do mesmo espírito
de buscar, cumprir e ensinar a Lei. A
partir do verso 5 e até o final do capitulo
temos uma linda oração pronunciada por
esses levitas, relembrando todo o
relacionamento de Deus com o seu povo
escolhido, desde Abrão. Nesse recital da
história de Israel, nitidamente está sendo
contrastada a recorrente rebeldia e

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 11
"Um compromisso assumido”
Neemias caps. 10 e 11

Ouvintes irmãos e amigos, mais uma vez nacionais, das celebrações religiosas, mas
podemos estar juntos para meditar na não era ainda a residência fixa de muitos,
Bíblia, buscando o que através do seu além dos príncipes do povo (Ne 11.1). Essa
estudo devemos ouvir para a nossa vida. situação é então corrigida, através de uma
Continuamos revisitando o relato da convocação compulsória para se mudar
restauração de Israel após o exílio, com o para a cidade. Nós nos acostumamos com
livro de Neemias capítulos 10 e 11. tudo gravitando em torno das grandes
cidades, que atraem as pessoas, mesmo para
O capítulo dez encerra o episódio viverem em condições sub-humanas de
considerado no nosso encontro anterior, habitação. Arregimentar habitantes para
quando após uma cuidadosa e emotiva morar na cidade nos parece estranho. Mas
leitura da Lei de Moisés, o povo, em Judá da restauração era uma economia
unanimidade total, assina um pacto de predominantemente agrária. As famílias
fidelidade à Deus se comprometendo com viviam da atividade rural, e a cidade não
a obediência irrestrita à Lei. tinha o que oferecer como meio de
sobrevivência. Ainda mais, lembrando que
O capítulo onze nos apresenta mais uma muitos dos exilados permaneceram na
lista de nomes, um censo dos habitantes Babilônia, tendemos a pensar que os mais
tanto de Jerusalém (v.4-19), como dos bem sucedidos lá ficaram, exatamente
vilarejos do interior de Israel, (v.20-35). aqueles que agora fazem falta para
Houve a preocupação de que os levitas - reconstituir a vida econômica e social da
responsáveis pelo cuidado espiritual do capital. Assim, de cada dez habitantes, um é
povo - estivessem espalhados tanto pelos sorteado para se mudar para Jerusalém. Este
territórios da tribo de Judá, como da de é o tipo de sorteio inverso, onde não se
Benjamim, não deixando que nenhuma deseja ser escolhido e então todos aqueles
área ficasse desassistida (v.36). que se voluntariam a morar na cidade são
No entanto, os primeiros 2 versos desse aplaudidos pela decisão (11.2).
capítulo merecem uma atenção maior. O relato bíblico vai assim fechando o
Eles nos indicam com clareza a real processo de restauração, permitindo-nos
situação de Jerusalém durante o processo refletir sobre as conseqüências e o signi-
de restauração. Ela era uma cidade de ficado dessa quadra da história de Israel.
poucos habitantes fixos. Destruída, Antes, porém, vamos nos voltar por um
desestruturada, insegura, lugar de instante para o livro de Malaquias, o
encontro, e até talvez de esconderijo de terceiro dos profetas que ministram no
pessoas no mínimo descomprometidas período da restauração.
com ela. As famílias não se sentiam O que podemos deduzir do contexto desse
atraídas a fazer da cidade a sua moradia “Mensageiro do Senhor” – e esse é o
permanente. Como vimos em outros significado do nome Malaquias – indica
textos, os que retornavam voltaram para que seu ministério se desenvolveu em uma
as vilas e regiões onde suas famílias época onde o templo já está reconstruído e
residiam antes do exílio (Ed 2.70). as atividades religiosas e sociais estão em
Jerusalém era o local dos ajuntamentos uma rotina de normalidade. Isso se

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
enquadra bem na Jerusalém repovoada, Neemias vão moldar a nação judaica
que reconquista seu status de capital dos restaurada e vão prevalecer, quase sem
judeus. alteração, para os próximos 500 anos. A
Viver o cotidiano, sem a emoção dos centralidade da vida religiosa no templo de
grandes acontecimentos que marcam a Jerusalém; a cidade como a expressão
história, vai produzindo uma apatia maior da civilização judaica; a ênfase
espiritual. O ardor se apaga, a motivação absoluta no “buscar, cumprir e ensinar a
vai sendo esquecida, e em suma o lei do Senhor”; a função vital do sacerdote
primeiro amor é abandonado (Ap.2.4). É e do escriba conduzindo a vida religiosa; e
contra essa situação que Malaquias se até a rejeição dos estrangeiros e dos
levanta para apontar as atitudes incorretas samaritanos em particular, são as mesmas
que se disseminam em Israel: no tempo de Jesus como na restauração. Os
[1] O povo questionava o amor de Deus restauradores, enquanto vivendo, com
(1.2); Sua honra e grandeza (1.14, 2.2); Sua certeza não se aperceberam dessa
justiça (2.17); e Seu caráter (3.13-15). importância e dessa longevidade de suas
[2] O dízimo não era seguido (3.8) e ações, mas eles estavam fazendo o que
animais oferecidos em sacrifício eram entenderam como vontade de Deus para o
defeituosos (1.8). seu tempo, e cumprindo o propósito divino,
[3] A feitiçaria, o adultério, o perjúrio, a preparam o palco para a grande
fraude e a opressão ao pobre eram intervenção de Deus, ainda que ela venha a
encontrados entre o povo (3.5). ocorrer tão mais adiante na história. Entre a
[4] O divórcio, com o abandono da esposa restauração e Jesus os judeus terão de se
e novo casamento se tornou norma (2.14). sujeitar ao domínio de macedônios, gregos
Em um quadro como esse, o profeta e romanos. Terão que resistir a alguém que
anuncia “o dia grande e terrível do se chamou Antíoco Epifânio e que colocou
Senhor” (4.5), mas junto com essa no seu coração destruir a civilização
condenação apresenta também a judaica, por achá-la arcaica e incompatível
esperança, uma nova esperança de Deus com a superioridade de sua cultura grega.
que não se esquece e não se cansa dos Mas, as bases dessa restauração resistem. O
seus: “Eis que eu vos envio o profeta pequeno rebanho não se dobra e a espera
Elias, antes que venha o dia grande e pela promessa continua alimentando
terrível do Senhor; e converterá o expectativas. Assim, sem nos percebermos
coração dos pais aos filhos, e o coração já pulamos da restauração para os
dos filhos a seus pais; para que eu não evangelhos. E isso é tema para outra
venha, e fira a terra com maldição.” (4.5- oportunidade.
6). A restauração do pós exílio não é ainda
a restauração final. É um jornada dentro Ficamos por aqui, agradecidos a Deus de
de outra maior, que virá a se completar poder contar com sua continua atenção.
com o Messias. E ao trazer a promessa
messiânica. nos apercebemos da
importância e da beleza desse período de
restauração de Israel que estamos
revendo: Todo o contexto religioso,
cultural, social e de espaço físico onde
Jesus desenvolve o seu ministério foi
estruturado nesse período que estamos
estudando. Os aspectos enfatizados nas
missões de Zorobabel e Jesua, Esdras e

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 12
"A reconstrução concluída”
Neemias caps. 12 e 13

Com alegria e gratidão à Deus, temos a renovar com o rei a sua licença e retorna
oportunidade de novamente juntos nos para Jerusalém. Quanto tempo fica ausente,
voltar para o estudo bíblico a respeito da não sabemos, mas não parece ser um tempo
restauração de Israel como povo. Estamos muito curto, pois o relato evidencia uma
nos aproximando do final da série, hoje deterioração das condições espirituais e
concluindo o livro de Neemias, com os morais de Jerusalém, que passam a ser, em
seus capítulos 12 e 13. suma, similares às condições que Malaquias
denuncia na sua mensagem.
Esses capítulos finais do relato de Neemias precisa então empreender o que
Neemias apresentam como que um poderíamos chamar de uma “operação
sumário da sua ação em Jerusalém, pente fino”. Não é mais questão de grandes
incluindo fatos recontados reformas; projetos de fôlego; ou
retrospectivamente, que se constituem em conclamações que extravasam pesadas
novas informações para nós. Notamos que emoções. Agora é tempo de ações focadas
a partir do 12.27 o texto é apresentado no que está especificamente errado.
como um testemunho pessoal do próprio Vejamos as incorreções e as ações que
Neemias. Esse é o discurso final, de Neemias tomou:
encerramento do relato. Favorecimentos ilícitos e uso indevido do
Em 12.27-43 é apresentada a dedicação templo (13.4-9) Eliasibe, o sacerdote
dos muros. Uma leitura cuidadosa desse designado como administrador dos
trecho nos mostra a pompa e a grandeza depósitos do templo favorece Tobias, nosso
dessa celebração, e de como o povo se velho conhecido, companheiro de
alegrou. De fato, o feito é memorável e Sambalate na peleja contra as intenções de
Deus é honrado pela vitória que a obra reconstrução. Neemias joga na rua os
representa. pertences de Tobias que estavam na área do
Segue-se, nos versos finais do capítulo templo e manda purificar as dependências.
disposições sobre serviços do templo, sua Descuido no sustento dos levitas (13.10-13)
administração e sua organização, também Os levitas deviam ser sustentados pelo povo
nos ofícios musicais. Não podemos deixar para poderem se dedicar com exclusividade
de notar que, mesmo não sendo sacerdote, às lides religiosas. Sem o devido sustento,
Neemias demonstra uma preocupação estavam abandonando suas funções e indo
com as coisas do templo e do culto, para cuidar de sua sobrevivência. Neemias briga
garantir seu funcionamento em condições com os magistrados, restaura a
ideais. administração dos recursos e conclama todo
o Judá à observação dos dízimos, para
Passando ao capítulo 13, nos apercebemos assim encher os celeiros do templo e os
que Neemias se ausentou de Jerusalém levitas poderem viver para sua vocação.
por um tempo (13.6). Deduzimos que o Desrespeito à guarda do sábado (13.15-22)
período de licença que ele tinha Os comerciantes estrangeiros não tinham
requisitado ao rei se encerrou (2.6), e qualquer interesse na guarda do sábado, e
precisou voltar para reassumir suas não apenas estes, mas gente dos judeus
funções. No entanto, Neemias consegue continuam exercendo suas atividades no dia

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
designado à adoração e ao descanso. O chamados. Devemos, com Esdras e
que faz Neemias? Vai para briga. Protesta Neemias aprender a convivência com a
contra os judeus descumpridores da lei. diversidade de modos de trabalhar para o
Contende com as autoridades que reino de Deus. O que importa é a seriedade
permitem os estrangeiros negociarem no da intenção.
sábado. Mais do que isto, vai às portas da
cidade e impõem rigoroso toque de Por três vezes nesse capitulo 13 (v.14, 22 e
recolher de respeito ao dia santo. Aos 31) e mais uma vez em 5.19, Neemias
mercadores que acampam nas portas inclui no seu relato, como um parêntesis, o
esperando por sua abertura, Neemais vocativo “Lembra-te de mim, Deus meu.”
dirige ameaças de represálias, que os Com essa frase, ele está como que
fazem não mais ficar lá no sábado. prestando contas à Deus de sua missão e de
Casamentos mistos e união com os suas ações. Neemias está dizendo que ao
estrangeiros (13.23-30). Os casamentos relembrar e narrar as realizações que
mistos continuam ocorrendo, e seu fruto empreendeu, não está preocupado com um
era evidente: Os filhos sequer sabiam registro histórico; tampouco com sua
falar a língua judaica. A solução vem memória; nem com o que viesse a ficar de
dentro do melhor estilo de Neemias: “e lembrança de sua vida. Neemias diz com
contendi com eles, e os amaldiçoei, e esse chamamento que procurou cumprir a
espanquei alguns deles, e lhes arranquei missão para a qual sentiu-se impelido,
os cabelos, e os fiz jurar por Deus, buscando executá-la no melhor que podia, e
dizendo: Não dareis mais vossas filhas a apenas a Deus ele devia prestar contas. Se
seus filhos, e não tomareis mais suas as coisas não chegaram à perfeição
filhas, nem para vossos filhos nem para desejada, se os problemas continuam a
vós mesmos.” (13.25) persistir, “Nisto também, Deus meu,
lembra-te de mim, e perdoa-me segundo a
Que personalidade era esse Neemias! abundância da tua benignidade.” (13.22)
Homem de ação. Fazia o que precisava
ser feito. Não mandava outros Que a lembrança de Neemias nos inspire a
executarem, se podia ele mesmo fazer. buscar a vontade de Deus, e procurar
Não fazia vista grossa. Não era executá-la no melhor das nossas forças, da
complacente com o erro. Tinha clareza do nossa personalidade e das nossas
que era certo. Se guiava por princípios possibilidades.
rígidos. É esse personagem que se E que a benção do Senhor esteja conosco.
percebe no texto. A ele se contrapõem
Esdras, como visto, reflexivo e capaz de
arrancar os seus próprios cabelos e barba,
se lamentando pelos erros do povo.
Neemias, ao contrário, é prático, do tipo
mãos a obra. É muito interessante essa
contraposição de personalidades que
podemos ver aqui. Ambos comprometidos
em cumprir a vontade de Deus, mas cada
qual materializando esse compromisso de
uma maneira tão diferente. Tão diferentes,
mas ambas tão válidas, pois produzem
resultado e evidenciam o desejo de
cumprir a missão para a qual foram

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER

Lição 13
"Uma história para ser lembrada”
Livro de Ester

Durante treze oportunidades temos estado Velho Testamento com nomes femininos,
juntos nesta série de reflexões baseada no destaca-se a observação que Deus não é
texto bíblico que apresenta a restauração sequer uma vez mencionado nele.
de Israel ao fim do exílio babilônio, Adicionalmente, também não se menciona
revisando acontecimentos ocorridos nos nem Jerusalém, nem adoração. Para nós que
séculos 5 e 6 Antes de Cristo. Neste gastamos as ultimas semanas em relatos
trimestre que hoje se encerra, que refletem um extremo cuidado com
relembramos eventos que ocorreram na Deus, Jerusalém e adoração/ obediência, o
cidade de Jerusalém ao longo de cerca de contraste não poderia ser mais chocante.
100 anos de sua história, nos guiando pelo O valor de Ester no contexto do Velho
relato dos livros de Esdras e Neemias, e Testamento e do judaísmo é que em
também auxiliados pela mensagem dos decorrência dos acontecimentos aqui
profetas que atuaram na época. Estamos relatados, mais uma festa religiosa foi
neste encontro encerrando a série. Quero incorporada ao calendário de celebrações
agradecer com sinceridade a todos os que do povo: A festa do Purim. A narrativa de
acompanharam estas revisões, esperando Ester lembra as razões para tal celebração
que tenham servido para esclarecer e memorial.
inspirar, mas sobretudo, que tenham
servido como veículo para uma maior Temos na história de Ester um pequeno
aproximação a Deus, aperfeiçoando a vislumbre da vida dos judeus que decidiram
nossa comunhão com Ele. Se de alguma permanecer na Babilônia. Por um lado, o
maneira nossos olhos foram abertos para progresso material e a ascensão social eram
uma nova realidade ou nosso coração evidentes, por outro ocorria a absorção dos
motivado para novas perspectivas, isso valores culturais da sociedade onde tinham
não é mérito de palavras humanas e se inserido.
devemos permitir que o próprio Espírito Ester é uma história bastante popular pois
Santo atue e confirme em nós aquilo que fala de uma jovem bonita de origem
temos considerado e percebido. simples, órfã de pai e mãe que se torna
rainha. O enredo que se desenrola em seus
O tema desse ultimo encontro é o livro de dez capítulos contém todos os elementos
Ester. Historicamente, o relato de Ester se que provocam interesse e envolvimento
situa no intervalo de tempo entre imediato em quem o lê.
Zorobabel e Esdras e Neemias. É a época Mas Ester é um livro problemático. Tanto
do rei persa Xerxes, que foi pai de judeus como cristãos ao longo dos séculos
Artaxerxes, o rei que autorizou a volta a têm questionado a inclusão desse livro na
Jerusalém desses dois principais Bíblia, devido ao padrão moral prevalecente
personagens do período. Na maioria das no relato. Revejamos os pontos que revelam
Bíblias que usamos, Xerxes é apresentado esse padrão moral de baixa consistência, a
com o nome de Assuero, que é a sua partir da perspectiva dos dois personagens
denominação no hebraico. principais da história, Ester e Mardoqueu:
Dentre as peculiaridades do livro de Ester, Ester - Deixa sua vida ser conduzida por
que junto com Rute são os únicos do seu tio Mardoqueu e tira partido da sua

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ESDRAS, NEEMIAS e ESTER
grande beleza física (2.7). Se deixa Com o selo de Assuero, Hamã, o inimigo
participar de um concurso de beleza, onde de Mardoqueu tinha emitido um decreto
os atributos físicos contavam muito (2.2; determinando a exterminação de todos os
2.3), cujo objetivo era se tornar a mulher judeus, em todas as províncias do reino. Já
de um rei com reputação de sensual e sabemos, que a palavra dos reis persas não
devasso (1.10 e 11) e vingativo (1.12). pode voltar atrás, e assim, quando Assuero
Também a história apresenta Assuero vem a saber que sua mulher Ester também
como um rei déspota e cruel. se incluía na exterminação decretada, só lhe
Mardoqueu era um homem orgulhoso que resta emitir outro decreto em favor dos
desrespeita a autoridade constituída (3.2); judeus, garantindo-lhes o direito de defesa e
manipula as pessoas ao seu redor, como permitindo-lhes matar qualquer um que
Ester (4.13-14); vive à sombra do poder intentasse contra suas vidas.
real, perambulando pelo palácio (2.21) – O dia determinado por Hamã para o
A pergunta é qual era de fato a atividade extermínio dos judeus, se transforma em dia
de Mardoqueu ? Ele ordena a Ester não de livramento. A vitória sobre a extinção é
revelar a sua identidade racial (2.20). Em comemorada com banquetes e alegria em
suma, Mardoqueu está mais interessado todo lugar onde haviam judeus, e assim, por
em ficar bem no reino deste mundo, a ordenamento de Mardoqueu esse dia se
Pérsia do que no reino de Deus. torna o dia da celebração do Purim.
Qual a grande lição espiritual que podemos
No entanto, dentro dessa problemática cavar do relato de Ester? Creio que a maior
toda, ações nobres surgem e objetivos é a que se ressalta mais facilmente do texto:
elevados são revelados. Quando a trama O plano de Deus se torna real, apesar das
da história se complica e a rixa de circunstâncias e das oposições. A sabedoria
Mardoqueu com seu inimigo Hamã põem popular diz: Deus escreve certo por linhas
em perigo todo a raça judaica, Mardoqueu tortas. As linhas tortas estão por todo o
se desperta e junto com Ester se propõem livro de Ester, mas no final o que resta é o
a agir contra as possibilidades, para salvar certo de Deus.
não apenas suas vidas, mas as de toda sua Não é isto suficiente para renovar e reforçar
raça. É nesse momento crucial que nas nossa fé nesse Deus, e viver na esperança
palavras de Mardoqueu a Ester podemos das suas promessas?
ter um vislumbre de que Deus não foi de Que isto seja suficiente, para mim e
todo esquecido, e Jeová ainda era também para você.
considerado como o Senhor dos judeus e
de toda a história, mesmo por esses que
não retornaram para Jerusalém. Como
último argumento para fazer Ester se preparado por Gerson Berzins
apresentar ao rei, sem ser chamada, o que
poderia significar sua vida se Assuero não
a aceitasse, Mardoqueu argumenta:
“Porque se de todo modo te calares
agora, de outra parte se levantará para
os judeus socorro e livramento, mas tu e
a casa de teu pai perecereis, e quem sabe
se para conjuntura como esta é que não
foste elevada a rainha?” (4.14)
Ester se decide a agir e sua intervenção é
coroada de êxito.

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