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FORD, Martin. Os Robôs e o Futuro do Emprego. 1ª Ed.

Rio de Janeiro: Best Business, 2019

Resenha pelo Mestrando Amélio Alves, UNIALFA, ameliojur@hotmail.com

Os Robôs e o Futuro do Emprego foi escrito por Martin Ford. Nasceu em 1967. É economista e professor
no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Possui formação em engenharia de computação pela Universidade
de Michigan e em Administração de Empresas pela UCLA Anderson School of Management. Além da vida
acadêmica, Ford trabalha com desenvolvimento de software há mais de 25 anos em empresa estabelecida no Vale
do Silício e daí vem seu interesse pela robótica, inteligência artificial e suas implicações econômicas em relação
ao emprego.
A obra em análise foi publicada em 2015, nos Estados Unidos e lançada em 2016 pela Editora Best
Business. No Brasil foi traduzida em 2019. O livro é dividido em introdução, 10 capítulos, conclusão,
agradecimento, notas e índice remissivo.
Assim sendo, feita esta breve apresentação, no primeiro capítulo o escritor alerta de que um robô não se
cansa, pode trabalhar por 24h, substitui várias pessoas, mas são incapazes de fazer trabalhos finos. De enxergar
em 3 dimensões, mas o que destaca o autor é que “ainda não” não significa “nunca serão”. O trabalho humano,
que envolve toque, seleção, noções de espaço, cor, textura, será um desafio para os técnicos. Em futuro próximo,
no entanto, os robôs poderão substituir maior ou menor tempo a mão de obra humana até mesmo nestes setores
sensíveis.
A automação é uma realidade, portanto, vários são os exemplos citados em que indústrias adotaram a
automação em maior ou menor grau. A Fábrica da Apple, com mais de 1 milhão de robôs (isso quando a obra foi
escrita). O Mcdonald's em que o auto atendimento (ausência de caixas) produção de sanduiches automatizada em
algumas unidades e registro de uma loja da franquia sem nenhum funcionário. Ou seja, a empresa que antes
fornecia empregos com baixos salários, exigindo pouco treinamento, em poucos anos nem isso fornecerá.
O literato detalha como a automação, a inteligência artificial e a robótica podem realizar e orienta aos
empregadores, aos estudantes e governo que enfrentem essa realidade. Se preocupa com as máquinas trabalharem
de forma independente, sem a intervenção humana, tornando obsoletos, empregos em que o empregado não se
adaptou para se requalificar. O objetivo é, pela obra, alertar a necessidade de busca de garantia para melhores
perspectivas econômicas e adaptativas do emprego.
Detalha ainda em sua obra como a utilização da robótica em nuvem, em espaços virtuais de memória,
ou ainda os robôs presente na agricultura, produzindo mais, em menos tempo e com maior qualidade, empregos
com salário mais baixo exigem nova colocação, mas se perde essa colocação, devem buscar novo treinamento, e
as máquinas estão “indo atrás” dos empregos não só destes em que o autor destaca de menor qualificação, a
tecnologia disruptiva substitui a força bruta e buscam também o trabalho qualificado, aquele do colarinho branco.
No segundo capítulo da obra fala que “Desta vez será diferente” fazendo alusão às Revoluções Industriais
e as recuperações após as crises do mercado. A redução do valor econômico do operário de fábrica a ponto de não
valer a pena contratá-lo por nenhum preço é um problema a ser enfrentado. A criação de novas tecnologias, de
fato promoveu aumento da produtividade, mas não houve aumento de trabalho.
Martin Ford informa que muitos comparam a tecnologia da informação com a eletricidade devido a
disruptividade e acesso facilitado que a indústria tem à tecnologia. Computadores tomam decisões e resolvem
problemas. Esse progresso na economia quanto à divisão do trabalho torna o trabalho mais suscetíveis de serem
automatizados. A ideia de inovações tecnológicas não seria tirar o futuro dos filhos e netos, mas tornar o trabalho
mais fácil. O que vem ocorrendo é que as inovações estão ameaçando cada vez mais os cargos não apenas os
menos qualificados, mas também aqueles com curso superior.
Continua a exemplificar com os carros automatizados da Google e a lógica do GPS com informações de
mapeamento com radares, telêmetros a laser fornecem fluxo contínuo de informações e são realidade de
substituição do humano pela máquina. Inúmeros empregos de motorista e diminuição de veículos nas ruas, com
possível substituição inclusive em alguns momentos total do homem pelo carro sem motorista. O que pode ser
visto é uma corrida para tomada do mercado.
Um exemplo de profissional de colarinho branco, com qualificação é o médico. Nenhum deles
conseguiria se aproximar da capacidade de cruzar informações na busca de diagnóstico com a precisão e
velocidade dessas máquinas pensantes e programadas com algoritmos melhorados. Mas treinar estudantes de
medicina custa caro. O que sugere o autor é a interação médico máquina, afim de diminuir erro médico em busca
de cura mais rápida e certeira.
Até trabalho do artista e criatividade já é possível com inteligência artificial, trouxe modelos de música e
obra de arte feita por “máquina inteligente”.
Essa concorrência atinge advogados, radiologistas, e que o autor chama de Offshoring é um fenômeno
retratado em que empregos com conhecimento técnico, burocrático ou repetitivos são transferidos
eletronicamente para países de salário mais baixos, ou até mesmo extintos. É um precursor da automação. Fácil
de terceirizar no exterior esses empregos ou substituídos por máquinas.
Parece até uma ironia e o autor aqui é bem crítico. Os EUA se preocupam mais com a fronteira, e
problemas dos imigrantes do México e se tornar inflexíveis com essa política, mas quanto a fronteira virtual
permanecem abertos para trabalhadores qualificados que ocupam empregos que os americanos desejam.
Imaginar que ter um diploma é uma garantia de emprego, com a computação em nuvem (inteligência
artificial), offshoring, e o mundo globalizado, hoje é um mito. Mestrado, destacou o autor será a graduação do
passado. E se graduar, se não for com diploma de faculdade de elite, pouco refletirá na garantia de emprego.
Tanto a educação superior, simplista, inexata, discriminatória, um impacto mais disruptivo são cursos on-
line de instituições de elite. Os programas da MOOCs foram a revolução embrionária na educação superior global
on line. Isso em 2013, como descreve o autor. Com a Pandemia da Covid 19, algo que cresceu muito em nosso
meio foram os cursos à distância. Já existiam os meios, mas o salto e a popularização do EAD foi, no ponto de
vista crítico o “salvador da pátria” da educação neste período.
Outro exemplo são Robôs cuidando de idosos. A preocupação com a população que está envelhecendo.
Robô com exoesqueleto, com toque delicado para dar banho em idosos são exemplos da tecnologia substituindo
o trabalho humano. O autor sugere que o emprego pode migrar para o setor da saúde e dos cuidados com idosos,
e esta é uma preocupação com as gerações futuras e sua empregabilidade.
Ele destaca que a tecnologia ainda é cara e nem todos poderia pagar pelos acompanhantes. Devemos
observar o Japão, a Itália, exemplos de países com população idosa e servirá de laboratório na utilização de robôs
no tratamento destes idosos.
Rendas estagnadas e crescente desigualdade já estão enfraquecendo a demanda de consumo geral. A
tecnologia está propensa a transformar setores de emprego existente, o autor vai desenvolvendo os capítulos
exemplificando e demonstrando essa preocupação.
Cada vez mais a força de trabalho é menor e a produção vem aumentando. A impressora 3D, os carros
autônomos são exemplos de potencialidades aditivas, mas a impressora, em grande escala poderia acabar com a
construção civil. E já existem grandes impressoras deste tipo empregadas que podem construir casas em poucas
semanas, desempregando muitos empregados da construção civil, barateando os custos das obras.
Mas robôs não consomem. Essa é a grande crítica que se tem de fazer. De nada adianta produzir se os
trabalhadores não podem consumir os produtos das empresas. O exemplo marcante do autor é o da elite que
concentra a renda no topo da pirâmide. O milionário não vai comprar vários Iphones, carros, casas. O que adianta
produzir se não tem quem venha a consumir.
A estagnação da renda aumenta a ameaça isolada da sua empresa. Se diminuir gastos do governo, poderia
reduzir os impostos e a regulamentação. Maiores investimentos causariam crescimento econômico e mais
contratações, mas o déficit na demanda que refreia o crescimento é a desigualdade de renda.
A produtividade é afetada pela demanda. Acumular estoque não é bom negócio. Uma questão que Martin
Ford traz que as temperaturas da terra estão aumentando e o impacto do carbono com o aquecimento global está
acelerado.
Com o desemprego tecnológico e a desigualdade cada vez maior para encontrar emprego, pessoas em
idade regular para trabalhar estão desempregadas. O que se questiona é quanto tempo a prometida escassez de
mão de obra começará a gerar redução de emprego entre os trabalhadores mais jovens? A demanda por produtos
e serviços também declina. A sociedade envelhece rápido e em países como China o idoso será um problema a
ser enfrentado em breve. Teremos um adulto para sustentar 2 pais e 4 avós para serem sustentados por este adulto
(fenômeno “1-2-4”). A China, conforme Ford corre risco de envelhecer antes de ficar Rica.
Algumas fábricas estão voltando para seus países de origem ou indo para locais com mão de Obra ainda
mais barata (Como Vietnã, por exemplo). À medida que a tecnologia avança continua promover desigualdade de
renda e de consumo, debilitando a ampla demanda de mercado. Em uma visão muito realista e conservadora, da
maneira como a tecnologia progredirá, a execução de tarefas rotineiras e previsíveis estarão suscetíveis de sofrer
automação nas próximas décadas.
Um sistema verdadeiramente inteligente, capaz de conceber novas ideias, demonstrar conhecimento da
sua existência e conduzir uma conversa coerente será o Santo Graal da Inteligência Artificial. Em resumo, toda a
tecnologia que o autor descreve, robôs que preparam hambúrgueres, algoritmos que pintam ou criam música, que
empregam inteligência artificial, nada se compara à inteligência humana.
A população está ficando velha, e não adianta produzir mais se não tiver mercado de consumo. As
máquinas vão continuar a existir, em maior ou menor escala muita gente vai ingressar no mercado de trabalho e
muita máquina vai expulsar gente, mais instrução e treinamento poderia representar a solução, mas a promessa de
uma educação como solução universal para o desemprego e a pobreza não evoluiu. Mais diplomas universitários
não aumenta a forma de trabalho empregada. O diploma de mestrado neste paradigma é o novo diploma de
bacharel. Mas um movimento “ludista” contra as máquinas não é a solução. Não tem como os sindicatos se
oporem a instalação da robótica.
Ford propõe de alguma forma que seja garantida uma renda básica, e que de alguma forma esta renda
básica garanta certo nível de riqueza e consumo permitindo a subsistência de todos. Estipula regras para esta renda
mínima, não como uma forma de desestimular pessoas de procurarem emprego, mas de garantir que o capitalismo
sobreviva, pois sem consumidores, não haverá quem utilize aquilo que as máquinas venham a produzir. Pessoas
improdutivas que deixam de trabalhar por causa de uma renda mínima darão mais oportunidade para quem quer
trabalhar arduamente.
O autor no meio da conclusão de sua obra aponta que a economia de mercado começou a se adaptar à
realidade da mudança do clima. Sobre o impacto ambiental, busca de energia limpa, energia solar, e o lado sombrio
da tecnologia da informação resultando em desemprego. Será ainda mais difícil lidar com os riscos apresentados
pela mudança do clima com as futuras implicações da mudança da economia mundial com a inteligência artificial
e a robótica.
Martin Ford questiona se é pessimista ou otimista sobre o futuro do trabalho e defende a renda básica
como solução. Ele cita o exemplo da pandemia de Covid 19, que mostrou a necessidade de garantir uma renda
mínima para as famílias sem trabalho. Ele argumenta que a educação e a tributação não são suficientes para
enfrentar a crise gerada pela tecnologia.
Analisa o impacto das mudanças tecnológicas no futuro do trabalho e da sociedade. Ele nos convida a
refletir sobre os riscos da automação e da dependência das máquinas. Ele também nos apresenta soluções para
enfrentar os desafios que estão por vir.
Portanto, como conclusão, o futuro do trabalho é que ele estará cada vez mais escasso para a maioria das
pessoas. A tecnologia vai substituir muitos empregos, em meio a um cenário de problemas climáticos como
destaca o autor. Além do problema ambiental, a questão do pleno emprego atinge tanto os de baixa quanto os de
alta qualificação. Uma crise econômica e social pode surgir. A educação não será suficiente para garantir um lugar
ao sol. Os robôs serão capazes de aprender e realizar tarefas complexas e criativas. É preciso repensar o modelo
econômico e social baseado no trabalho e na renda e buscar alternativas para distribuir a riqueza gerada pela
tecnologia. Porque de nada adiantará se produzir cada vez mais, sem utilização da mão de obra humana se o
trabalhador não tiver dinheiro para comprar o que foi produzido. O cenário que o autor apresenta é plausível e
preocupante sobre o futuro do trabalho e da sociedade diante da automação e da inteligência artificial e as soluções
possíveis, como a renda básica universal e a educação continuada e retreinamento e adaptação como forma de
recolocação da mão de obra são possíveis como solução mediata.

BIBLIOGRAFIA:

FORD, Martin. Os Robôs e o Futuro do Emprego. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Best Business, 2019

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