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HOBSBAWM, Eric J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2000, 5ª edição, cap. 2 A Origem da Revolução Industrial. Pg. 33.
algodão.”2 Para além disso, nesse momento, a Revolução não será de grande inovações
tecnológicas, mas de consolidação de práticas tecnológicas já antigas, que abriam espaço para
o desenvolvimento da industrialização. Nas palavras de Hobsbawm uma vez mais:
Dado o panorama descrito, surgem então, novos elementos e aspectos respectivos às novas
estruturas capitalistas de trabalho e emprego, como os “empregadores capitalistas e
trabalhadores que nada possuíam senão sua força de trabalho, que vendiam em troca de
salários”, somado à isso, há a “dominação de toda a economia – na verdade, de toda a vida –
pela procura e acumulação de lucro por parte dos capitalistas.4
Tais transformações nas bases e estruturas econômicas e de emprego, portanto,
deixarão impacto também nas outras esferas da sociedade, pois como devemos lembrar, a
Revolução Inglesa ocorre enquanto interlocução entre as transformações sociais, políticas e
econômicas. Dessa maneira, nos aproximamos da temática e discussão originalmente
propostas: Os processos de transformação e crescimento econômicos, as novas formas de
relação entre força de trabalho, empregador e as novas tecnologias, juntamente ao surgimento
de novas necessidades de capital e incessante busca por lucro desses, trará, dentro das
complexidades dessa dialética, inevitavelmente, novas percepções relativas ao tempo, a
produtividade, a necessidade do trabalho e uma forma inteiramente nova de cotidiano, essas
indissociáveis às reformadas e incessantes demandas do capitalismo crescente.Com tais
transformações em mente devemos, portanto, trazer à tona a pergunta que faz Thompson:
2
Ibid. Pg. 53.
3
Ibid. Pg. 57.
4
Ibid. Pg. 63.
5
THOMPSON, Edward P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In: Idem. Costumes em
comum. São Paulo: Cia das Letras, 1998. p. 269
Partindo disso, o autor nos mostrará como, em sociedades por fora desse processo de
Revolução Industrial, (seja por estarem culturalmente distantes ou apenas datando de antes do
processo), as relações com o tempo se dão de maneira muito diferente, seja através da relação
natural com o tempo (nascer do sol, sol à pino, etc.) seja através da relação natural com o
trabalho ( o tempo de colheita, o tempo de uma oração, etc.) Já na Inglaterra da Revolução
Industrial, nos mostrará Thompson, a marcação precisa do tempo se mostra cada vez mais
valorizada, como se exemplifica através da crescente importância simbólica, social e de
prestígio atribuída ao relógio, que passa a ser item essencial nas casas da elite e classe média
inglesas. Com isso, surgirá, em necessidade a se opor a esse” tempo das tarefas”, que para os
empregadores capitalistas e o tempo das máquinas industriais é muito esparso e pouco
rigoroso, o tempo de mercado, esse já altamente ‘disciplinado’ e controlado: é a “paisagem
familiar do capitalismo industrial disciplinado, com a folha de controle do tempo, o
controlador do tempo, os delatores e as multas.”6 No entanto, como nos alertará o próprio
autor,
É demasiado fácil ver esse problema apenas como uma questão de disciplina na
fábrica ou na oficina, e podemos examinar rapidamente a tentativa de se impor o
‘uso-econômico-do-tempo’ nos distritos manufatureiros domésticos, bem como o
choque dessas medidas com a vida social e doméstica.7
Devemos nos atentar, portanto, ao fato de que não se tratará de uma simples
disciplinarização ou da “pregação da diligência”, mas de uma nova estrutura empregatícia, de
produção e também de exploração, que utilizará as novas tecnologias, sua aumentada
produtividade e as novas relações entre tempo e trabalho, para levar ao limite os abusos entre
empregadores e empregados, em um sistema de trabalho radicalmente distinto de qualquer
anterior.
Reinhart Koselleck nos trará uma reflexão semelhante em Existe uma Aceleração da
História?, ao tratar da desnaturalização do tempo a partir da Revolução Industrial, fazendo à
primeira vista, um caminho argumentativo muito semelhante ao de Thompson, passando pelo
advento do relógio e pelas análises etnográficas, mostrando as divergências entre o tempo do
trabalho e o tempo mecanizado, as transformações do tempo natural, com suas flutuações
referentes às estações e a natureza e o tempo das máquinas, perfeitamente igual estrito. O
6
Ibid. Pg. 291
7
Ibid. Pg. 291
autor ressaltará, no entanto, a ideia de que esse tempo da Revolução Industrial, mais do que o
tempo do relógio, das horas iguais e da divisão ordenada, seria o tempo da aceleração:
Dessa maneira poderíamos entender que, para Koselleck, a ideia da aceleração e essas
diferentes relações com o tempo, já progressivamente aconteciam e se transformavam, se
deparando, no entanto, com as limitações técnicas que as permitiriam. Dessa maneira a
Revolução Industrial se tornaria o polo ideal para tais transformações, unindo a inovação
técnica e tecnológica às transformações culturais. Como nos apresentará o autor:
Concluímos, então, a partir do que tentamos extrair dos três autores, Hobsbawm, Thompson e
Koselleck, de que maneira as transformações ocorridas no âmbito da sociedade economia,
política e cultura com o crescimento industrial e as novas relações de trabalho advindas da
Revolução Industrial impulsionaram, a partir das necessidades que surgem com o
estabelecimento do capitalismo, uma nova concepção de tempo metronômicamente ajustada
ao ritmo da máquina e do trabalho, alimentando assim, a uma superexploração da nova classe
de trabalhadores que necessitava, dentro das relações do novo sistema econômico, vender sua
força de trabalho para a sobrevivência.
8
KOSELLECK, Reinhart. Existe uma aceleração da história? In: Idem. Estratos do tempo: estudos sobre
história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014. Pg. 145-146.
9
Ibid. Pg. 148.
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Bibliografia.
ARRUDA, José Jobson de Andrade. A Grande Revolução Inglesa, 1640-1780. Revolução
Inglesa e Revolução Industrial na Construção da Sociedade Moderna. São Paulo:
HUCITEC, 1996, cap. 3, A Revolução Inglesa e as pré-condições da industrialização.
KOSELLECK, Reinhart. Existe uma aceleração da história?. In: Idem. Estratos do tempo:
estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.