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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE ECONOMIA

RESENHAS DO CAPÍTULO 1 DO LIVRO “ECONOMIA E POLÍTICA


DAS FINANÇAS PÚBLICAS NO BRASIL” E DO ARTIGO “A
DINÂMICA DOS GASTOS ESTATAIS NUMA PERSPECTIVA
MARXISTA CLÁSSICA”

DISCENTES: JOÃO RAIEL SOARES SILVA - 202105340014

PEDRO FELIPE DE OLIVEIRA TRINDADE - 202105340038

VINÍCIUS OLIVEIRA SILVA - 202105340005

DOSCENTE: PROF. DOUTOR JOSÉ RAIMUNDO BARRETO TRINDADE

Belém-PA
Março de 2023
Trabalho apresentado na Faculdade de Ciências
Econômicas (FACECON) do Instituto de
Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da
Universidade Federal do Pará (UFPA) como
exigência parcial para aprovação na disciplina de
Economia do Setor Público

Belém-PA
2023
RESENHA I

REFERÊNCIA

OLIVEIRA, Fabrício. Economia e política das finanças públicas no Brasil. Belo


Horizonte, 2007.
No capítulo 1 de seu livro, Fabrício introduz, na primeira seção, o que será
abordado a partir de uma visão histórica panorâmica: não apenas o autor perpassa
pela já indicada conturbada relação conturbada entre o Estado moderno e o sistema
econômico capitalista, como reitera a diversidade de opiniões acadêmicas e
amplitude do debate em sua evolução ao passar do tempo, não deixando de já fincar
sua posição basilar (considerada por ele um fato) – a de que o Estado moderno,
independente do que se diga a respeito, continua a crescer e atuar como
instrumento de reprodução e organizacional do modo de produção capitalista. Em
seguida, é aberto espaço para um resumo bastante breve do que será dito nas
seções posteriores. Por fim, mantendo a coerência, uma ponta é puxada no último
parágrafo para sinalizar a importância do capítulo no âmbito geral da compreensão
do livro e atendimento de seu objetivo.
Passada a seção protocolar, o autor explora a relação de proximidade e de
afastamento entre o Estado moderno e o capitalismo, primeiro atribuindo a eles, de
maneira primorosa, os papéis de pai e de filho ao decorrer de suas vidas, com suas
teimosias, conciliações e convicções. Vale notar que essa analogia não vale
somente pela simbologia temporal, como seria esperado (uma vez que o Estado, em
essência, é significativamente “mais velho” que o modo de produção em questão),
mas, sobretudo, pela senoide entre um capitalismo que busca ser independente (já
evidenciado diversas vezes pelo autor como um sonho distante da realidade pela
própria natureza), mas que não deseja perder sua força socioeconômica e
hegemonia política, e um Estado crescente que sempre obedece a certas funções
que são requeridas por seu “filho mimado”. Por meio de uma certa acidez contra a
ortodoxia econômica combinada com o didatismo de uma observação histórica
quase imparcial para que o leitor possa depreender conclusões quase retóricas da
discussão central, Fabrício ilustra e encontra o espelho dessa relação no
desenvolvimento das diversas correntes do pensamento econômico mainstream, as
quais se digladiaram durante as 4 fases de desenvolvimento do capitalismo em que
estrutura sua reflexão (Mercantilismo, Concorrencial, Monopolista e Mundializado).
A terceira questão levanta, finalmente, a corrente marxista como visão mais
alinhada com os olhares e comentários de posicionamento do autor. Para aquele
leitor que não é familiarizado com todas as correntes até o momento apresentadas,
Fabrício tem todos os méritos em condensar esses pensamentos de maneira clara e
objetiva sem deixar de estimular o senso crítico de quem o lê, mostrando que a peça
que parecia estar faltando durante todos esses séculos no pensamento econômico
dominante seria o reconhecimento de um mesmo elemento orgânico, o qual tanto o
Estado quanto o mercado estão interrelacionados e participam de forma indissolúvel
(a própria lógica do modo de produção capitalista), mas que se encontra numa
condição de contradição entre a função de acumulação e de legitimação do Estado e
a dominação econômica e política da classe burguesa. Ou seja: o capitalismo só se
expande ideologicamente “independente” do Estado enquanto foge à sua própria
legitimidade e até o ponto em que seus efeitos negativos se escancaram, então é
preciso justificar a interferência estatal de maneira ideológica para que a classe
trabalhadora possa se reproduzir sem levantar grandes questionamentos ou planejar
uma revolta, sendo esse mecanismo acionado de maneira distinta em diferentes
contextos históricos e geográficos para assegurar a lucratividade e legitimidade da
classe dominante ou por meio da violência, ou por meio da expansão do bem-estar.
Se ainda resta alguma dúvida para o leitor mais desatento, o autor resume, na
seção 4, as fases de desenvolvimento do capitalismo junto às suas respectivas
correntes ideológicas e faz uma relação direta com a visão marxista em cada um
desses períodos. Em seguida, evidencia os pontos mais importantes que podem ser
extraídos do debate, agora deixando a imparcialidade de lado, tendo plena
consciência de que estabeleceu bases e argumentos para tal e interligou os tópicos
com coesão o suficiente. Essa é, pois, uma síntese e uma formação de opinião
sólida que, além de proferir um olhar positivo sobre o marxismo, não censura o
keynesianismo e traça uma linha tênue que separa, mas que também harmoniza
essas duas visões teóricas que parecem ser bastante caras ao escritor da obra.
Na quinta e última seção do primeiro capítulo, buscando analisar o processo
de consolidação do Estado na estrutura econômica do Brasil, Fabrício, por meio de
uma análise histórico-política, constrói uma periodização sintetizando as fases de
transição da economia brasileira que se inicia a partir da independência de 1822,
passando pela promulgação da constituição em 1891 e pelos avanços econômicos
da década de 1930, até chegar ao modelo “remodelado” de atuação do Estado nos
tempos atuais. Dessa forma, observa-se que, semelhante à conturbada relação
entre o Estado moderno e o sistema econômico capitalista mundial, no Brasil, o
intervencionismo estatal ora foi visto como necessário para a reprodução do
sistema, ora foi afastado da dinâmica econômica do país em função da
disseminação do pensamento neoliberal. Nesse sentido, infere-se que a preferência
do autor em analisar o Estado mediante o processo histórico de formação política do
Brasil é fulcral para o desenvolvimento de uma perspectiva analítica bem
fundamentada e desvinculada do pensamento ortodoxo dominante com apoio nas
ideias desenvolvidas fora dos grandes centros capitalistas em seu mais avançado
estágio de evolução histórica. Ainda que pese a tradição marxiana em buscar
compreender a realidade material a partir de seu maior grau de desenvolvimento,
abstraindo suas determinações e concretizando-as em níveis de proximidade com o
real dado a partir de uma intersecção de seus conceitos mais complexos e mais
concretos, Fabrício se permite ir além ao efetuar esse primeiro processo mais geral
na anterioridade de seu texto e derivar o raciocínio para as especificidades históricas
brasileiras, as quais dialogam com as primeiras observações supracitadas num
movimento elogioso e sincrônico, mas não menos distinto no que diz respeito à
essência de suas partes.
RESENHA II

REFERÊNCIA
TRINDADE, J. A dinâmica dos gastos estatais numa perspectiva marxista clássica.
Revista de Economia, v. 34, n. especial, p. 131-149, 2008. Editora UFPR.
Em princípio, destaca-se que a estrutura de Estado corresponde a um
desenvolvimento do processo de acumulação e reprodução social do capital como
ferramenta de validação e controle social, dado que a base necessária das
estruturas sociais é conformada pelas relações de poder e interesses adjacentes ao
modo de reprodução econômica dominante que, longe de se estabelecer meramente
como articulador de interesses gerais e coletivos, necessita de um agente protetor
do domínio da classe dominante dos meios de produção não apenas como aparato
coercitivo e repressor, porém complementarmente como fonte de legitimação
ideológica por meio da propaganda midiática e educacional para fins de extração do
excedente social em que a condição fundamental é uma pretensa igualdade jurídica
entre os agentes econômicos cujas mercadorias são trocadas no mercado em
termos de equivalência dentro das fronteiras delimitadas de Estados nacionais
enquanto estágio de desenvolvimento histórico e estrutural dos esquemas de
reprodução do sistema capitalista.

Uma vez que estejam consolidados os limites nacionais para a acumulação


de capital, bem como de sua receita fiscal, o papel do Estado em relação à
economia se situa na consecução de certas aspirações coletivas, a exemplo da
manutenção da infraestrutura social e econômica, assim como os instrumentos de
política fiscal e monetária que, longe da capacidade de solucionar as contradições
próprias do capital (sujeito a uma dinâmica cíclica entre episódios de expansão e
crise), assegura à classe dominante a perpetuação de seus meios de ação, ao
passo que também comporta consigo elementos antagônicos à sua própria natureza
por meio do fundo patrimonial público como se verifica à respeito das agitações
populares e politicamente organizadas de trabalhadores que conduziram as políticas
de seguridade e bem-estar social nos anos posteriores a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de, nas últimas décadas, ter ocorrido a ascensão de um novo poder
econômico determinado pelo crescente fluxo financeiro de alcance global de caráter
supranacional, é notório que na maior parte dos países capitalistas, cuja riqueza
social não depende diretamente de uma contínua e crescente carga tributária, a
ação do Estado nacional está condicional pela complexa rede de relações sociais
que necessita acomodar para finalidade de coerção e coesão pelo cruzamento da
força material e intelectual dominantes, tornando-se então demandante de meios de
ação tanto mais complexos que vão muito além da legitimação ideológica, isto é, um
robusto complexo industrial militar financiado majoritariamente pela expansão da
dívida pública e a pressão orçamentária dela derivada por intermédio de fluxos e
refluxos de capital-dinheiro. Esse tipo de operação se dá num quadro de
interdependência da estrutura do poder hegemônico, onde as crescentes despesas
militares e a crescente demanda estatal conduzem a progressiva exaustão da
capacidade fiscal, ainda que nem todos os estados nacionais no capitalismo possam
ser denominados necessariamente militaristas cujos custos não incidem sobre
elementos de acumulação haja visto que se caracterizam como parcela do consumo
improdutivo de uma sociedade na qual os gastos estatais são limitados pela
variação cíclica ou setorial da taxa de lucros do mesmo capital que lhe confere
propósito, forma e substância.

CONCLUSÃO
No tocante à importância do estudo empreendido no livro-texto e no artigo
supracitados, ainda que resta a Sá prudência necessária ao instrumento analítico,
dado que a estrutura da realidade é síntese de múltiplas determinações que mesmo
as inteligências mais altivas não conseguem de todo abarcar e cujo objeto muito se
beneficiaria de questionamentos adicionais de natureza filosófica e antropológica
que o futuro se encarregará de desvelar, suas maiores virtudes residem em suas
impecáveis coerências internas que servem de chave introdutória ao estudo das
finanças públicas e sua dimensão política, bem como a ilustração heterodoxa da
outra sorte de visões que mercantilizam os distintos aspectos da vida social.

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