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GINSBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais. Morfologia e História.

São Paulo:
Editora Schwarcz LTda. Cia (Sinais, Raízes de um Paradigma Indiciário).

Sinais
Raízes de um paradigma indiciário

● No final do século XIX, surgiu um novo modelo epistemológico (um


paradigma) nas C. S. A análise desse paradigma talvez ajude a sair do
incômodo da contraposição entre “racionalismo” e “irracionalismo”.

● “Método morelliano”, referente aos quadros nos museus, ao campo


artístico. Dar atenção às características que são menos gerais em uma
determinada escola artística, e na catalogação de uma obra. Por
exemplo, ao invés de olhar para os olhos, ou para o sorriso em uma
pintura, dar atenção aos dedos dos pés, as unhas da mão, ao lóbulo
das orelhas. “É necessário examinar os pormenores mais
negligenciaveis”.
● Posteriormente, o método de Morelli foi julgado mecânico,
grosseiramente positivista, e caiu em descrédito.
● “Método indiciário de Morelli”, aproximado, por Castelnuovo, ao
método de Sherlock Homes. “O conhecedor de arte é comparável ao
detetive que descobre o autor do crime (do quadro), baseado em
indícios imperceptíveis para a maioria”.
● Influência da leitura dos ensaios de Morelli no jovem Freud: “a
proposta de um método interpretativo centrado sobre os resíduos,
sobre os dados marginais, considerados reveladores”.
● Modelo da semiótica médica.
● Década de 1870/80, começou a se afirmar nas ciências humanas um
paradigma indiciário baseado justamente na semiótica.

“‘Decifrar’ ou ‘ler’ as pistas dos animais são metáforas. Sentimo-nos tentados a


tomá-las ao pé da letra, como a condensação verbal de um processo histórico que
levou, num espaço de tempo talvez longuíssimo, à invenção da escrita” (pg. 152)

“Também uma pegada indica um animal que passou, em comparação com a


concretude da pegada, da pista materialmente entendida, o pictograma já
representa um incalculável passo à frente no caminho da abstração intelectual”. (pg.
153)

“Mas o mesmo paradigma indiciário usado para elaborar formas de controle social
sempre mais sutis e minuciosas pode se converter num instrumento para dissolver
as névoas da ideologia que, cada vez mais, obscurecem uma estrutura social como
a do capitalismo maduro. [...] Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas —
sinais, indícios — que permitem decifrá-la”. (pg. 177)

“Mas pode um paradigma indiciário ser rigoroso? A orientação quantitativa e


antiantropocêntrica das ciências da natureza a partir de Galileu colocou as ciências
humanas num desagradável dilema: ou assumir um estatuto científico frágil para
chegar a resultados relevantes, Ou assumir um estatuto científico forte para chegar
a resultados de pouca relevância, só a linguística conseguiu, no decorrer deste
século, subtrair-se à esse dilema, por isso pondo-se como modelo, mais ou menos
atingido, também para outras disciplinas”. (pg. 178)

CASTRO, Eduardo Viveiros de. Metafísicas Canibais: elementos para uma


antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify/ n-1 edições, 2015. E-book
Kindle (288p.) P&B. ISBN: 978-85-66943-17-7.

"À força de ver sempre o mesmo no outro - de dizer que sobre a máscara do outro
somos ‘nós’ que estamos olhando para nós mesmos -, acabamos por tomar o atalho
que nos leva ao que realmente, no fim e no fundo, nos interessa, a saber: nós
mesmos".

“Mas, pensando bem, talvez não estejamos todos tão de acordo assim. Pois não
falta quem ainda acredite que a antropologia é o espelho da sociedade. (...) a
“nossa” civilização. Sabemos da popularidade que desfruta, em certos círculos, a
tese segundo a qual a antropologia, congenitamente exotista e primitivista, não
passa de um teatro perverso, no qual o “outro” é sempre “representado” ou
“inventado” segundo os interesses sórdidos do Ocidente. Nenhuma história,
nenhuma sociologia consegue disfarçar o paternalismo complacente dessa tese,
que reduz os assim chamados “outros” a ficções da imaginação ocidental sem
qualquer voz no capítulo”.

“‘supor que todo discurso “europeu” sobre os povos de tradição não europeia só
serve para iluminar nossas “representações do outro” é fazer de um certo
pós-colonialismo teórico a manifestação mais perversa do etnocentrismo.”

"É preciso tirar todas as consequências da ideia de que as sociedades e as culturas


que são objetos da pesquisa antropológica influenciam, ou, para dizer de outro
modo mais claro, coproduzem as teorias sobre a sociedade e a cultura formuladas a
partir dessas pesquisas".

"A posição aqui sustentada afirma que a antropologia deve permanecer ao ar livre;
que ela deve aperfeiçoar-se na arte das distâncias que ela sempre praticou,
permanecendo alheia às crispações autoirônicas da alma ocidental; que ela deve se
manter fiel ao projeto de exteriorização e estranhamento da razão que sempre a
empurrou insistentemente para fora da alcova sufocante do Mesmo".

‘“O que é o Homem?” tornou-se, por razões históricas por demais evidentes, uma
questão impossível de ser respondida sem solércia, em outras palavras, sem que se
siga repetindo que o próprio do Homem é não ter nada de próprio (...) O fardo do
homem: ser o animal universal, o animal para quem existe um universo. Os
não-humanos, como sabemos – mas como diabo o sabemos? – 4 são “pobres em
mundo”; sequer a cotovia...5 Quanto aos humanos não-ocidentais, é- se
discretamente levado a suspeitar que, em matéria de mundo, eles são, na melhor
das hipóteses, apenas modestamente aquinhoados. Nós, só nós, os europeus,6
somos os humanos completos e acabados, ou melhor, grandiosamente inacabados,
(...) a metafísica ocidental é a fons et origo de toda espécie de colonialismo – interno
(intraespecífico), externo (interespecífico), e se pudesse, eterno (intemporal)’

"Em suma, se no mundo naturalista da modernidade um sujeito é um objeto


insuficientemente analisado e, a convenção interpretativa ameríndia Segue o
princípio inverso: um objeto é um sujeito incompletamente interpretado[...] Aqui, é
preciso saber personificar, porque é preciso personificar para saber. O objeto da
interpretação é a contra interpretação do objeto".

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