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Materiais de Construção

Introdução à Estrutura e Comportamento dos Materiais

Augusto Gomes, A. P. Ferreira Pinto

2019
Augusto Gomes, A. P. Ferreira Pinto, 2019 – “Introdução à Ciência e à Estrutura
dos Materiais”
_________________________________________________________________________________________

CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS


QUANTO À NATUREZA:
- MAT. METÁLICOS (inorgânicos)
- MAT. CERÂMICOS – (inorgânicos não metálicos)
- MAT. POLIMÉRICOS – (orgânicos)
- MAT. Compósitos

QUANTO À ORIGEM:
- Naturais - Vegetal – Madeira, borracha, ...
- Mineral – Pedras, ...
- Artificiais - Resultam de transformações químicas de materiais naturais (ex.: gesso,
cimento, plásticos, ...)

QUANTO À APLICAÇÃO (pouco rigorosa):

- Mat. estruturais (aço, betão, madeira);


- Mat. de Acabamento (pavimentos, paredes,...);
- Mat. de revestimento de pavimentos;
- Mat. de isolamento;
- Mat. para canalizações;
- etc.

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SELECÇÃO DE UM MATERIAL

• DPC – DIRECTIVA DOS PRODUTOS DA CONSTRUÇÃO (CEE) - D.L. 113/93

Decreto-Lei nº 113/93 de 10/4 – Procedimentos a adoptar com vista a garantir que os Materiais de
Construção se revelam adequados ao fim a que se destinam

EXIGÊNCIAS ESSENCIAIS DAS OBRAS DEFINIDAS NA DPC

- Resistência mecânica e estabilidade;


- Segurança em caso de incêndio;
- Higiene, saúde e protecção do ambiente;
- Segurança na utilização;
- Protecção contra o ruído;
- Isolamento térmico e economia de energia.
Estas exigências essenciais devem ser satisfeitas por um prazo economicamente razoável o que
introduz uma exigência adicional de durabilidade.

• Se estes requisitos forem cumpridos são assegurados os seguintes objectivos:

- Segurança de pessoas, animais e bens;


- Segurança e durabilidade das construções;
- Poupança de energia;
- Protecção do ambiente.

• REGULAMENTO GERAL DAS EDIFICAÇÕES URBANAS (REGEU)


– Decreto-Lei nº 204/82 de 22/5

Título II – Condições gerais das Edificações


Em todas as edificações deverá ser assegurado de modo duradouro:
a) Condições de Segurança (inclui solidez das edificações);
b) Salubridade (inclui protecção contra a humidade e a propagação de ruídos e vibrações;
c) Estética;
A qualidade, natureza e modo de aplicação dos materiais utilizados nas construção de edificações
deverão ser de molde a satisfazer as condições anteriores.

Título V – Condições especiais relativas à segurança das edificações


a) solidez das edificações;
b) Segurança pública e dos operários no decurso da obra;
c) Segurança contra incêndio.

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SELECÇÃO DE UM MATERIAL

Baseada na sua prestação, funcionalidade e economia.

PRESTAÇÃO DE UM MATERIAL:

A) MECÂNICA

- RESISTÊNCIA – Compressão, Tracção, Flexão, Corte, Torção – Capacidade de suportar tensões ou


forças sem romper

- RIGIDEZ – (deformabilidade, flexibilidade) – Capacidade de apresentar pequenas deformações sob


tensões ou forças

- DUREZA – Resistência superficial à acção de forças concentradas


- TENACIDADE – Capacidade de sofrer acções rápidas sem romper (resistência a acções de
choque)
Capacidade de absorção de energia até à rotura
- FLUÊNCIA – Aumento de deformação (sob tensão) ao longo do tempo – pode conduzir à rotura
- FADIGA – Rotura devida a acções repetidas (ciclos de carga)

B) COMPORTAMENTO AO FOGO
Combustão ocorre nos materiais orgânicos (em geral) com carbono que reagem com o oxigénio.
Causas de risco:
- Calor produzido pela combustão;
- O calor pode danificar a estrutura do edifício;
- Alguns materiais libertam gases tóxicos quando aquecidos (mesmo sem gerarem chama);
- Fumo libertado pela combustão dos materiais – causa dificuldades respiratórias e pode
provocar pânico.
Características dos elementos de compartimentação:
- Pára chamas;
- Corta fogo;
- Estável ao fogo.
Reacção ao fogo de material:
- Combustível;
- Arde facilmente sob a acção de uma chama;
- Arde dificilmente sob a acção de uma chama;
- Auto extingue-se após retirada da chama;
- Inflamável.

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C) DURABILIDADE

Um material durável mantém as suas características durante o período de vida da construção.


- Aptidão para desempenhar as funções para que foi concebido durante o período de vida
previsto, sem que para tal seja necessário despender custos de manutenção ou reparação
imprevistos;
- Um material durável mantém as suas características durante o período de vida útil da
construção.

PERÍODO DE VIDA ÚTIL DE UMA CONSTRUÇÃO:


- Em geral - 50 anos
- Construções de carácter especial – 100 anos (Ex. Ponte Vasco da Gama, ...)
- Construções de menor importância - 20 anos (instalações agrícolas, piscinas privadas,...)

D) FIABILIDADE
Nível de variabilidade das suas características.

E) SALUBRIDADE E SEGURANÇA NA APLICAÇÃO


Um material deve garantir a segurança e a saúde dos:
a) operários no seu manuseamento e aplicação;
b) utilizadores da construção.

Exemplos de materiais de risco: Chumbo, Produtos preservadores da madeira, asbestos (amianto),


solventes de tintas e vernizes, mat. betuminosos.

F) CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS
a) Energia de extracção, processamento, transporte e utilização do material:

Material Extracção Processamento Transporte Utilização


Madeira + + ++ + (protecção)
Betão ++ +++ (cimento) ++++ ++
Tijolos ++ +++++ (1100ºC) ++++ +
Plásticos +++ +++++ ++ +++ (T.Vida)
Aço +++++ ++++++ +++++ ++ (protecção)
Alumínio +++++ ++++++ +++ +

b) Potencial de reciclagem;

- Deve ser sempre equacionada a relação entre o “custo” da reciclagem e do processamento;


- Custo económico da reciclagem;
- Impactes ambientais da reciclagem.

c) Sustentabilidade;

- Não esgotar os recursos;


- Não afectar o ambiente devido a poluição;
- Não afectar o ambiente devido ao consumo de energia.

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G) FUNCIONALIDADE

- Adequação do material à função pretendida


- Capacidade do material apresentar e manter as características exigidas;
- Conforto;
- Aspecto estético;
- Resistência à sujidade.
Ex.: Material de revestimento de um pavimento; Materiais de isolamento térmico ou acústico; Materiais
Estruturais; Materiais de impermeabilização, etc. .

H) ECONOMIA

Custo total = Custo inicial + Custo de manutenção (durante o período de exploração ou de vida útil da construção)

Custo inicial = custo do material + custo de aplicação

O Custo depende da quantidade disponível no mercado e na natureza e da facilidade de aplicação na


construção

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ESTRUTURA DOS MATERIAIS - LIGAÇÕES ENTRE ÁTOMOS


LIGAÇÕES

LIGAÇÃO IÓNICA
- Temperatura de fusão elevada
- Condutividade eléctrica baixa
- Elevada dureza
- Frágil ao choque

LIGAÇÃO COVALENTE
- Temperatura de fusão elevada
- Condutividade eléctrica nula
PRIMÁRIAS - Muito elevada dureza
- Sem capacidade de deformação plástica

LIGAÇÃO METÁLICA
- Condutividade eléctrica elevada
- Capacidade de deformação plástica

VAN DER WAALS


- Resistência » 1% da resistência da ligação
iónica ou covalente

SECUNDÁRIAS

PONTES DE HIDROGÉNIO
- Caso particular da ligação de van der Waals

- Ocorre nas moléculas que contêm O-H, em


particular na água

- As ligações secundárias são facilmente


vencidas pela temperatura

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ARRANJOS ATÓMICOS

- Estruturas moleculares - Arranjo dos átomos em moléculas

Estrutura Cristalina
- Arranjo ordenado no espaço dos
átomos
- Ex: CCC; CFC; Hexagonal; ....
- As estruturas cristalinas
apresentam planos de cristais que
influenciam as propriedades do
material

Estrutura Amorfa (ou vítrea) (sem


forma)
- Ocorre nos gases, líquidos e vidros
- Sem regularidade interna na
distribuição dos átomos
- Os vidros apresentam ordem em
pequenas distâncias e ausência de
ordem em grandes distâncias

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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS GRANDES GRUPOS DE MATERIAIS

MATERIAIS (GRANDES GRUPOS)


- Metálicos - estrutura cristalina com ligações metálicas (inorgânicos)
- Cerâmicos - estrutura cristalina (à excepção dos vidros) com ligações iónicas e covalentes
(inorgânicos não metálicos)
- Poliméricos - estrutura predominantemente amorfa com ligações covalentes nas macromoléculas
(no interior das macromoléculas) e van der Walls entre macromoléculas (orgânicos)

MATERIAIS METÁLICOS
- Estrutura cristalina (CFC, CCC e hexagonal)
- Ligações metálicas
- Elevada condutibilidade térmica e eléctrica
- Elevada resistência à tracção e à compressão
- Capacidade de deformação plástica
- Elevada massa atómica – elevada densidade
- Usualmente dividem-se em metais ferrosos e metais não ferrosos (metais e ligas metálicas)

MATERIAIS CERÂMICOS
- Todo o material inorgânico não metálico
- Composto por átomos metálicos e átomos não metálicos
- Estrutura interna c/ átomos de oxigénio (grandes) + átomos de metal ou semi-metal (silício)
- Composição baseada em silicatos
- Estrutura: - cristalina – cerâmicos
- amorfa – vidros
- Ligações iónicas e/ou covalentes (s/ ligações metálicas)
- Baixa condutibilidade térmica e eléctrica – isolante eléctrico
- Baixo coeficiente de dilatação térmica
- Elevada dureza e resistência química

- Significativa resistência à compressão e baixa resistência à tracção/flexão - »1/10 compressão


- Frágeis – pequena capacidade de deformação plástica
- Usualmente dividem-se em:
- Cerâmicos “clássicos” – silicatos - porcelana, faianças, refractários, …
- Cerâmicos “técnicos” (ou cerâmicos novos) – óxidos cerâmicos, carbonetos, boretos, ….
- não são utilizados na construção civil. Ex: discos travão cerâmicos, semicondutores,
...

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MATERIAIS POLIMÉRICOS
- Orgânicos com estrutura complexa (cristalina e amorfa)
- Predominância de ligações covalentes
- Moléculas longas formadas por cadeias de átomos designadas por
macromoléculas
- Todos os polímeros são compostos por longas cadeias de átomos
unidos por ligações covalentes entre átomos de carbono
- As macromoléculas (cadeias) estão também ligadas por ligações
secundárias
- Nalguns casos as cadeias também estão ligadas entre si através de
ligações covalentes (ligações cruzadas)
- Os polímeros são tendencialmente amorfos podendo também ter zonas
cristalinas (cristalites)
- Quando a estrutura cristalina tem predominância: rígido e resistente ao
calor
- Quando a estrutura amorfa tem predominância: macio e elástico
- Em geral resistem melhor à tracção do que à compressão
- Polímeros: Naturais – madeira, borracha, fibras vegetais, asfalto
- Sintéticos – plásticas, borracha sintética, fibras
- Polimerização – junção de meros (monómeros) à Polímeros
- Ex.: Polietileno
- monómero - etileno C2H4 – a ligação entre os dois átomos de carbono é covalente dupla (=)
– a ligação entre os átomos de carbono e hidrogénio é coval. simples
(—)
- polímero – polietileno – todas as ligações entre os átomos são covalentes simples (—)

Monómero - etileno C2H4 Polímero – polietileno

- Máxima energia que se pode mobilizar – energia das ligações de hidrogénio


- A resistência dos polímeros depende da ordenação das cadeias
- Cadeias de moléculas à Resistem melhor à tracção do que à compressão (em geral)
- Polímeros: - Naturais – madeira, borracha, fibras vegetais
- Sintéticos – plásticos, borracha sintética, fibras

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- POLÍMEROS SINTÉTICOS:
- Termoplásticos

- Caracterizados por longas cadeias de átomos de carbono sem ligações


cruzadas (entre cadeias)
- Com o calor e a temperaturas relativamente baixas as ligações de
hidrogénio enfraquecem e o termoplástico torna-se viscoso
- Podem sofrer aquecimentos moderados repetidos sem alteração
- Principais termoplásticos utilizados na construção:
- Polietileno (PE), Poliuretano (PU), Policarbonato (PC), Polipropileno (PP), Cloreto de
Polivinil (PVC), Politetrafluoretileno (PTFE) – teflon, Poliestireno Expandido (EPS -
Expanded PolyStyrene), Poliestireno extrudido (XPS – eXtruded PolyStyrene), ...
- Algumas aplicações
- Polietileno e polipropileno – tubagens, garrafas e isolamento eléctrico
- Teflon (PTFE) – aparelhos de apoio – coeficiente de atrito muito baixo (1 a 2%)
- Poliestireno expandido (EPS) - isolamento térmico e embalagem
- Poliestireno extrudido (XPS) - isolamento térmico
- Poliestireno – peças moldadas (sancas, cofragem para cimalhas, ...)
- PVC – canalizações
- Termoendurecíveis

- Materiais tipicamente obtidos através de uma resina (líquida) e um


endurecedor que ao reagirem entre si formam um sólido
- As cadeias do polímero têm ligações covalentes cruzadas que formam
compostos estáveis que não amolecem com o calor
- Polímeros de estrutura tridimensional – macromoléculas tridimensionais
- Designados por termoendurecíveis ou reticulados
- Quando as ligações covalentes são vencidas o polímero transforma-se quimicamente. Quando
arrefecido o processo não se inverte
- Depois de moldados não podem ser aquecidos para tomarem outra forma
- Principais termoendurecíveis utilizados na construção:
- Resinas epoxídicas (EP), de poliester e de fenol-formaldeído
- Algumas aplicações
- resinas epoxídicas – colas e matriz de compósitos
- resinas de poliéster – material de reforço em compósitos reforçados com fibras de vidro
- fenol-formaldeído – colas, fórmica e baquelite

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- Elastómeros
- Semelhantes à borracha natural – muito deformáveis e flexíveis
- Amolecem com o aquecimento
- Caracterizados por terem cadeias lineares com um número limitado de ligações cruzadas
(covalentes)
- À temperatura ambiente as ligações secundárias estão vencidas à as ligações covalentes
garantem o retorno do material à posição indeformada quando este é descarregado
- Três tipos distintos: - borracha natural (poli-isoprene)
- borracha sintética (polibutadieno)
- neoprene (policloroprene)
-
- POLÍMEROS NATURAIS:
- Madeira, borracha, fibras vegetais, asfalto

- Outros materiais considerados no grupo dos polímeros: alcatrão, betumes, ceras, tintas, vernizes,
lacas, colas e silicones
- Os polímeros sintéticos resultam da destilação fraccionada do petróleo
- Os polímeros ocuparam o lugar dos cerâmicos como isoladores eléctricos

PROPRIEDADES DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE MATERIAIS

PROPRIEDADE METAIS CERÂMICOS POLÍMEROS


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Massa Volúmica (Kg/m ) 2000 - 20000 1000 -14000 20 - 2500
Condutibilidade eléctrica Elevada Baixa Baixa
Condutibilidade térmica Elevada Baixa Baixa
Capacidade de deformação (%) 5 - 50 <1 2 - >100
Resistência à tracção (MPa) 50 - 2000 1 - 50 0,2 - 1000
Resistência à compressão (MPa) 50 - 2000 1000 - 5000 0,1 - 500
Temperatura máxima de serviço (ºC) 100 -1000 1800 60 - 250
Resistência à corrosão Baixa a média Alta Média
Ligação atómica Metálica Iónica ou covalente Covalente
Estrutura Cristalina Cristalina Amorfa ou semicristalina
CCC, CFC,
Hexagonal

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MATERIAIS COMPÓSITOS
- Tiram simultaneamente partido das vantagens individuais de materiais diferentes
- Em geral apresentam melhores propriedades que os materiais de base
- Num compósito pode ser melhorado: resistência, rigidez, densidade, resistência à corrosão, fadiga,
sensibilidade à temperatura, isolamento térmico e acústico, ...
- Um compósito tem dois ou mais diferentes materiais constituintes ou fases
- TIPOS DE MATERIAIS COMPÓSITOS
- Microscópicos : - Reforçados com fibras
- Reforçados com partículas
- Macroscópicos: - madeira, betão armado, ....
- Os Compósitos microscópicos são constituídos por duas fases:
- fase contínua - matriz
- fase dispersa (envolvida pela matriz) – fibras ou partículas
- Materiais compósitos mais correntes – compósitos reforçados por fibras

COMPÓSITOS DE FIBRAS
- Materiais compósitos mais correntes – compósitos reforçados por fibras
- As fibras podem ser distribuídas:
- Aleatoriamente
- Segundo direcções preferenciais

Matriz ou fase contínua + Material de reforço


Resina, metal, cerâmicos + fibras
Exemplos:
- Compósitos microscópicos
Fibras de Carbono - resina + fibras de carbono
Fibras de Vidro - resina + fibras de vidro
Fibra de alumínio - resina + fibras de alumínio

- Compósitos macroscópicos
Betão armado - betão + armaduras de aço
Madeira - lenho + fibras de celulose
Taipa - Terra + palha

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- Quanto menor a secção transversal de um elemento menor a probabilidade de existirem defeitos Þ


maior resistência

- No limite, uma fibra que corresponda apenas a uma cadeia de moléculas


não tem defeitos (se existir defeito têm-se 2 fibras).

- Nesse caso (cadeia de moléculas) a resistência da fibra é igual à resistência das ligações atómicas
- As fibras têm sempre uma relação comprimento / diâmetro (l / Ø) elevada
- Quando maior for (l / Ø) maior a sua resistência e o custo do compósito
Exemplo: Vidro
- Resistência à tracção: - Vidro em chapa - 50 a 100 MPa
- Fibras de vidro - 1000 a 3000 MPa
- Resistência teórica conferida pelas ligações covalentes
intermoléculares – 20 000 MPa
- Exemplos de fibras: vidro, carbono, liga de carbono com silício, polímeros, metais

COMPÓSITOS DE PARTÍCULAS
- Partículas de muito pequenas dimensões – 0,01 a 0,1 mícron
- As partículas impedem a ocorrência de deslocações da matriz aumentando a sua resistência
- Partículas de maiores dimensões – Efeito de filer (de enchimento) – “carga”
- Em geral o filer tem um custo menor

- Este tipo de solução utiliza-se para aumentar:


- resistência à compressão e à tracção;
- resistência ao desgaste;
- tenacidade;
- coeficientes de dilatação térmica;
- condutibilidade térmica.

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ESTUDO DA ESTRUTURA INTERNA DOS MATERIAIS

Pode ser estudada em 3 níveis:


- Molecular
- Material
- Engenharia

MODELO MOLECULAR (CIÊNCIA DOS MATERIAIS)


- Ligações entre átomos e moléculas
- Dimensões da ordem de 10-10 a 10-6 m
- Recurso a microscópio electrónico e difração de raios X
- Estudo e compreensão química do material permite compreender os fenómenos de alteração
do comportamento do material. Ex: corrosão, fluência, endurecimento do betão...
- Compreensão da estrutura microscópica permite interpretar o comportamento do material. Ex
resistência, rigidez, permeabilidade
- O conhecimento a nível molecular permite o desenvolvimento de novos materiais

MODELO AO NÍVEL DO MATERIAL (GRÃO DE METAL, PASTA DE CIMENTO),


- Os modelos têm em conta:
§ interfaces (nos compósitos)
§ dispersão das partículas

MODELO AO NÍVEL DA ENGENHARIA


- Em geral o material é considerado como homogéneo e contínuo com propriedades médias
- Definição de relações constitutivas ao nível tensão-deformação
- A dimensão considerada depende do material:
milímetros (metais), centímetros (betão), metro (paredes de alvenaria) ...

EXEMPLO DE PAREDE DE ALVENARIA DE TIJOLO


Nível do material : Estudo individualizado do comportamento dos tijolos e da argamassa de
assentamento
Nível de Engenharia: Estudo do comportamento da parede (como um todo)

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ESTRUTURA INTERNA DOS MATERIAIS

RIGIDEZ E RESISTÊNCIA DAS LIGAÇÕES ENTRE ÁTOMOS

- A rigidez da “mola” é função do tipo de ligação, do número de ligações por unidade volume e da
sua orientação no espaço

- Perda de energia dos electrões elevada à Rigidez e resistência alta


(Ligações fortes: Covalente Iónica, Metálica)

- Perda de energia dos electrões baixa à Baixa rigidez e resistência


(Ligações fracas: van der Waals, pontes de hidrogénio)

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DEFEITOS NAS ESTRUTURAS ATÓMICAS

- Defeitos pontuais – Vazios

- Defeitos de linha – Deslocações

- Fronteiras – Superfícies
– Contornos de grão

- Os defeitos na microestrutura dos materiais são responsáveis pelo elevada diferença entre a
resistência real dos materiais e a resistência potencial, que se relaciona com as ligações interatómicas

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INTRODUÇÃO à REOLOGIA

- Analisa o comportamento mecânico dos materiais tendo em consideração o tempo de actuação


e a velocidade da acção.

- Modelo Reológico – Descreve o comportamento (relação tensão-deformação) em função das


acções, do tempo e das características dos materiais

ESFORÇOS, TENSÕES E DEFORMAÇÕES

- ESFORÇOS – (Devidos às acções) Resultante das tensões numa secção

- Esforço axial (N) [F] (kN)

- Esforço Transverso (V) [F] (kN)

- Momento Flector (M) [FL] (kNm)

- Momento torsor (T) [FL] (kNm)

- TENSÕES – Forças por unidade de área

- Tensão normal (s) [FL-2] (kN/M2, MPa)

N My
s= +
A I

- Tensão tangencial (t) [FL-2] (kN/M2,


MPa)

V
t=
A

- DEFORMAÇÕES – Variação de comprimento por unidade de comprimento inicial

D L L f - Lo
e= =
Lo Lo

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Estudo do COMPORTAMENTO MECÂNICO dos Materiais

- Nível MICROSCÓPICO

- Nível do MATERIAL

- Nível do ELEMENTO (Barra; pilar, viga, ...)

- Nível da ESTRUTURA (Edifício, asna de cobertura, ponte, ...)

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MODELO ELÁSTICO

COMPORTAMENTO ELÁSTICO - As deformações recuperam completamente ao se retirar a


acção

Elástico Linear Elástico Não Linear


(Liberta energia sob a forma de calor)

- MÓDULO DE ELASTICIDADE (ou de Young)


Avalia a rigidez do material.

- Para um material de comportamento não linear define-se:


- Módulo de Elasticidade tangente
- Módulo de Elasticidade tangente na origem
- Módulo de Elasticidade secante

- MODELOS DE RELAÇÕES CONSTITUTIVAS


f (s,e) = 0 s = f (e) e = f (s)

- MODELO ELÁSTICO LINEAR


s=eE E – Módulo de Elasticidade [FL-2] (MPa)
- Aço 210 GPa
- Alumínio 70 GPa
- Vidro 60 GPa
- Betão 30 GPa
- Madeira 10 GPa

EFEITO DA VELOCIDADE DA ACÇÃO

- Acção rápida à Maior rigidez e resistência


Não há tempo de arrefecimento

- Acção lenta à Menor rigidez e resistência


Parte da energia é transformada em calor

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ELASTICIDADE DIFERIDA

- Variação ao longo do tempo do estado de deformação microscópico”


- “Acomodação” do material à solicitação
- Rearranjo a nível microscópico do material devido ao estado de
tensão

FLUÊNCIA – Aumento de deformação sob tensão


constante
Ex: betão, madeira, borracha

RELAXAÇÃO – Perda de tensão sob deformação constante


Ex: aço de alta resistência pré-esforçado, borracha

PLASTICIDADE – Deformação inelástica (não reversível)

PLASTICIDADE

- DUCTILIDADE – avalia a capacidade de deformação inelástica

𝜺𝒖
𝝁= 𝝐𝒚

- RESILIÊNCIA - Capacidade de absorção de energia


quando elasticamente deformado
(= energia de deformação elástica)

- TENACIDADE - Capacidade do material sofrer acções rápidas sem romper


- Capacidade de absorção de energia até à
rotura

- MATERIAL FRÁGIL - Em geral, considera-se que um material tem


um comportamento frágil quando a
deformação de rotura eu < 0,5% = 5x10-3

- EXEMPLO DO COMPORTAMENTO DE ALGUNS MATERIAIS


srot (MPa) E (GPa)
- Fibra de Carbono 3000-5000 150-250
- Aço 240-1800 200
- Alumínio 100-500 70
- Vidro 50-120 60
- Betão 15-100 25-35
- Madeira 8-20 10

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TIPOS DE COMPORTAMENTO

MODELOS REOLÓGICOS

SÓLIDOS
- RÍGIDO – Corpo de Euclides
e=0

- ELÁSTICO LINEAR – Lei de Hooke


s=eE

- PLÁSTICO – Saint-Venant
e = 0 s < so
e = " s = so

LÍQUIDOS
- LÍQUIDO PERFEITO – Incompressível, sem atrito interno

- VISCOSO – (Newton) – Descreve comportamento de fluência

s de s • s
de = dt Û = Û e=
k dt k k

• 1t
s = k e e = ò s( t ) dt
ko

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MODELOS REOLÓGICOS MISTOS

- MODELO ELÁSTO-PLÁSTICO – Hooke + Saint-Venant (Ex: aço)

- MODELO DE MAXWELL – Hooke + Newton em série (relaxação)

e 1t
e= + ò s( t ) dt
E ko
Mantendo a tensão - - Mantendo a deformação (Relaxação)

- MODELO DE KELVIN – Hooke + Newton em paralelo (fluência)



s=eE+k e

- MODELO DE BURGERS – Maxwell + Kelvin em série (fluência geral)

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PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MATERIAIS

- MASSA VOLÚMICA (density) =


Massa sec o [kg/m3] [M L-3]
Volume
- Em engenharia utiliza-se kg/m3 (ou ton/m3) para o peso volúmico

- PESO VOLÚMICO (specific weight) = Pesosec o [kN/m3] [F L-3]


Volume
3
- Em engenharia deve-se utilizar kN/m (Quilonewton por metro cúbico) para o peso volúmico

- Refira-se que 1 kN = 102 kgf, embora seja comum considera-se simplificadamente 1 kN=100 kgf -
(por exemplo, o peso de uma pessoa de 70 kgf é de 0,70 kN)

- DENSIDADE (relative density or specific density) = Massa Volúmica


Massa Volúmica da água a 4º C

- Em português a densidade é uma grandeza adimensional – Não confundir com density em Ingês

- MASSA VOLÚMICA LAMINAR - (vidros, paredes, placas) - [kg/m2] [M L-2]

Massa sec a
- MASSA VOLÚMICA REAL =
Vreal

Massasec a
- MASSA VOLÚMICA APARENTE =
Vaparente
Volume de vazios
interiores -Vi
Vreal – Volume real (massa compacta)
Vv – Volume de vazios = Vi+Ve
Volume de vazios
Vap – Volume aparente (ou total) = Vreal + Vv exteriores –Ve
Volume real -Vreal

Vi + Ve Vi + Ve
- POROSIDADE - p = =
Vap Va + Vi + Ve

Massa saturado
- Massa Volúmica do Material Saturado com superfície seca =
Vap
(depende da porosidade e permeabilidade do material)

- TEOR EM ÁGUA = Massa de água absorvida


Massa sec a

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Augusto Gomes, A. P. Ferreira Pinto, 2019 – “Introdução à Ciência e à Estrutura
dos Materiais”
_________________________________________________________________________________________

- PERMEABILIDADE - Facilidade de um corpo ser atravessado por um fluido (água, ar,..)

Depende de:
- porosidade
- tamanho e distribuição dos poros (porometria)
- grau de comunicação entre poros (conectividade)

Avaliação – quantificação da massa de fluído permeado, por unidade de


superfície e de espessura, quando se estabelece um
gradiente de pressão entre duas faces do material.
kg 1 1 kg 1 M L
= [ ]
s m Pa s m Pa T F

- CONDUTIBILIDADE TÉRMICA - Propriedade dos materiais que descreve a sua capacidade em


transmitir o calor
Quantificação – Quantidade de calor que atravessa uma dada
espessura de material por unidade de tempo e de área, quando se
estabelece uma diferença de temperatura unitária entre as
superfícies expostas.
J 1 1 W
=
s m º C m.º C

BIBLIOGRAFIA

G. D. Taylor, 2000 – “Materials in Construction – An Introduction”. Longman, 3rd Editon, ISBN 0-582-
36889-8

J. F. Young, S. Mindess, R. J. Gray, A. Bentur, 1998 – “The Science and Technology of Civil
Engineering Materials”. Prentice Hall, ISBN 0-13-659749-1
M. A. Meyers, K. K. Chawla, 1999 – “Mechanical Behaviour of Materials”. Prentice Hall, ISBN 0-13-
262817-1

Manuel Rocha, 1981 – “Mecânica das Rocha. LNEC

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