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Acervos biográficos digitais em rede- memórias de si, ontem e agora e

amanhã
Tema: 3:
Fernanda Cavalcanti de Mello;Angeli Rose Nascimento

CEDERJ/UNIRIO/UAB;CEDERJ/UNIRIO/UAB

diart.fernanda@gmail.com; proftutoraangelirose@gmail.com

Museus virtuais se multiplicam, inclusive, em redes sociais. Assim,


percepção, memória, mimeses, histórias, políticas, identidades, experiências,
aprendizagens são mediadas pelas tecnologias contemporâneas. Essas
práticas midiáticas, ao se tornarem também educativas, criam novas
possibilidades de usos e de performances do Ser. Na atualidade, as redes
sociais são canais/suportes e veículos para dar visibilidade e voz para pessoas
comuns, anônimas, que vêm praticando, mesmo que utilizando apenas o senso
comum, as narrativas pessoais nessas redes. Um lugar de fala e de escuta,
conforme problematiza Sibilia (2010). Em função dessas questões,
empreendemos uma pesquisa-ação intitulada Biografar-se, e chegou-se à
conclusão que mais que falar (postar, curtir, compartilhar). A leitura e escrita
sobre si mesmo possibilita tomar consciência/conhecimento de si, saber
valorizar suas origens, saber-se quem é. Esse é um dos legados de Freire
(1983), sobre a importância da leitura de mundo, reconhecer-se nesse mundo,
para modificá-lo. Esse é um direito que todos têm de entrar em contato com
essas experiências de narrativa de si. Assim, o objetivo da pesquisa foi
proporcionar um grupo de mulheres participantes de um projeto comunidade
escola, a construírem narrativas de si, circulando-as em rede e no Museu da
Pessoa. A metodologia da pesquisa-ação contou com 3 oficinas- com
atividades presenciais e virtuais. A oficina 1 se dirigiu a um grupo de mulheres
adultas e foi realizado artesanato para confecção de porta-retratos, sessões de
foto e construção coletiva de uma instalação com esses artefatos, inserindo a
divulgação dessas ações no facebook. A Oficina 2, com o mesmo grupo, com
Rodas de Conversas e os relatos de vida foram captados em vídeos para
serem veiculados no Museu da Pessoa. O respeito mútuo muitas vezes aflora
nesse centrar-se, desse conhecimento sobre si para entender e respeitar as
diferenças. Neste sentido, é importante compreender a relação entre o conceito
de museu e a configuração das redes sociais para a proposta que estamos
implementando. Os museus, conforme Bauer (2006) passou a trabalhar
referências patrimoniais na internet. A proposta visa à participação dos sujeitos
através de interações performáticas: no dizer de si, no fazer-se, ouvir-se e dar-
se a ver. Pensando nas imagens em ambientes digitais e sua relação com o
presente, Braga ( 2005), inspira esse trabalho também, pois traz reflexões
para se compreender como as imagens compartilhadas, outrora importantes
para retratar momentos solenes passaram a assumir uma função de registrar
um presente fugaz, como adverte Braga (idem) sobre lembrar um passado
que não volta mais. Ou volta? O projeto Biografar-se experimentou também se
as redes sociais são espaços promissores à curadorias sobre experiências e
permanências de vidas e de humanidades, cada vez mais digitais. A Oficina 3
se concentrou suas pesquisas em eventos do Facebook que se dedicam à
biografia de “si” e também dos vestígios de lugares, espaços da cidade sobre o
que teria sido cada pessoa, a partir de seus arquivos pessoais. Essa atividade
foi realizada a distância com alunos do curso de Pedagogia em EaD do
Consórcio CEDERJ/UNIRIO/UAB, nas disciplinas Práticas Educativas em
Contextos Não Escolares e na disciplina Imagem e Educação. Os alunos
selecionaram acervos reunidos em um Portal de Memórias Brasileiras-
plataforma que abriga diferentes páginas do Facebook relacionados à imagens,
foto e vídeo, de diferentes épocas do cotidiano. Essas páginas feitas por
diferentes administradores objetivam o compartilhamento. As principais
discussões traçadas nas mesmas dizem respeito às memórias que vão se
tornando legados, o que se deixa de herança às futuras gerações, partir de
páginas dedicadas à memórias coletivas. A atividade realizada com os alunos
integrou os Eventos da Segunda Semana Nacional de Arquivos, realizada pelo
Arquivo Nacional- Instituição de Memória oficial do Brasil. Assim as memórias
dos alunos de diferentes Polos do Estado do Rio de Janeiro, dialogaram com
outras páginas. A oficina 3 intitulada “Minhas Memórias Tuas”, possibilitou
reunir na página do facebook Fascinante publicações de diversos grupos que
atuam nessas redes sociais justamente com temáticas sobre imagens de
paisagens urbanas e rurais; disseminando ações culturais e educativas sobre
herança documental e imagéticos de cidades; ruas; profissões, meios de
comunicação (história do rádio e da imprensa, TV, da publicidade, etc); de
transporte; cartões postais; álbum de famílias brasileiras; brinquedos da
infância e muito mais. As três experiências demonstram, tanto no facebook,
quanto no Museu da Pessoa, o papel das redes para a governança dos
arquivos digitais em rede. Essa governança, curadoria e exibição de narrativas
de si, que se dá por conexões e participação coletiva, está alinhada à proposta
expressa na 38º Conferência Geral da UNESCO, de 2015, que em seu § 4.4
indivíduos têm o direito de “fomentar o desenvolvimento de novas formas e
ferramentas de educação e pesquisa sobre herança documental e sua
presença no domínio público”. Fizemos também contraposições dessas
páginas abertas às páginas que convidam a opinar e“refletir-se”- “este sou eu”,
estou aqui, é isso que penso. Ou seja, páginas que não circulam diferentes
biografias, a não ser a sua própria. Assim, como análise das performances dos
participantes da pesquisa termos como resultado, dois grandes movimentos em
rede em relação às biografias. Visualizam-se narrativas feitas como um diário,
sem intenção de trocar, dialogar, mas apenas expor-se, uma vez que
bloqueiam publicações em suas linhas de tempo, selecionam o que veicular e
quem terá acesso as suas narrativas como em memoriais pessoais dispostos
no facebook, como por exemplo, a página “Memorial Dialogicx”. Outras
histórias “únicas” se tornam universais, como as vidas exemplificadas no
Museu da Pessoa. Em todos os casos analisados, as Histórias universais se
individualizam no momento em que cada pessoa faz uma curadoria, coleta,
coleciona e compartilha sua coleção de memórias, para não esquecê-las, e
testemunhá-las, pois mesmos as páginas com pouca opção de diálogo querem
também expor o seu testemunho.Para os alunos da Pedagogia a Distância, foi
bastante produtivo observar maneiras de trabalhar com Imagens e Textos, e
Biografias imaginadas.

Referências

Arfuch, L,. (2013). O espaço autobiográfico. Dilemas da subjetividade


contemporana.

Barbosa, A,.(2005). Arte/Educação Contemporânea Consonâncias


internacionais.Editora Cortez.
Bauer, L,. (2003) Acervos orais, acervos virtuais: museus, pessoas e História
de vida, 2003.

FREIRE, P. (2011). Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

Teirxeira. (2012) Gêneros Orais na Escola/Baktiniana, são Paulo.

Perguntas:

1)o que estamos fazendo com as memórias que circulam na rede e como
podemos trabalhar educativamente com elas?

2) Como esses arquivos poderão ser utilizados futuramente?

3) O que desejam os anônimos ao se tornarem personalidades/personagens


principais da/na rede que constroem?

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