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Direito de Familia

ALIMENTOS
por Adriano Ialongo

Avenida Senador
Pinheiro Machado, nº
30, CJ. 186, Vila
Matias
I alongo
e Miyaoka
s o c i e d a d e d e a d v o g a d o s
Introdução
Para quem se destina esse ebook:

O Direito de Família é certamente um dos ramos do Direito que mais evoluiu nos
últimos anos.

Arriscamos dizer que desde a promulgação da Constituição Federal, que se deu em


1988, a noção de família mudou bastante e, por conseguinte, nossos tribunais
tiveram que se adaptar a tudo isso.

Por se tratar de um tema vasto, com bastantes peculiaridades, vamos fazer um ebook
para cada tema. Nesse, especificamente, falaremos sobre os alimentos na relação de
família.

Como você verá, caro leitor, o texto se desenvolve sempre com a visão do que é
melhor para o alimentado (pessoa que recebe os alimentos, normalmente a criança
menor de 18 anos, mas pode ser uma pessoa que é ou está incapaz ou até os
alimentos derivados de outras relações, como os alimentos entre conjunges).

Como nossos advogados também são professores de Direito, avisamos ao leitor, que
eventualmente pode ser um dos nossos alunos, que esse material é focado ao
público em geral, ou seja, aos pais, mães, filhos, maridos e esposas, avós e tantos
outros componentes de uma família. Por isso, usaremos uma linguagem simples e
direta, sem “jurisdiquês” (pelo menos vamos tentar não usar, porque, sabe como é,
está na alma do advogado usar termos jurídicos) e também não vamos conceituar
institutos jurídicos do direito material e processual do Direito de Família (pronto, já
saiu um “juridiquês”, mas o fizemos para poder explicar aos estudantes de Direito que
esse não pretendemos em momento algum escrever uma doutrina, mas sim um livro
que vai além da sala de aula).

1 Ialongo
e Miyaoka
Qual a finalidade
dos alimentos?
É obvio que para se viver em sociedade precisamos de recursos financeiros. Pouco
ou muito, depende de cada bolso, mas dinheiro é vital. Há sociedades em que o
escambo (troca de mercadorias) é possível, mas não no Brasil. Por isso, quando fala-
mos em alimentos, em verdade, estamos dizendo que é o direito de uma pessoa em
exigir da outra os recursos financeiros para ela alimentar-se. Por isso, a palavra
“alimentos” é vista como um todo, e não simplesmente o “arroz e feijão” do dia-a-dia.

Essa primeira explicação, por mais simplória que aparentemente transpareça, no


fundo ela é muito importante, pois quebra uma crença popular de que os “alimentos”
pagos ao filho compreendem tão-somente sua alimentação. O que não é verdade,
como acabamos de comentar. Os alimentos compreendem suas vestimentas, a
escola, material escolar, o plano de saúde, atividades de lazer e esporte, entre outras
coisas que, evidentemente, se inserem os alimentos do dia-a-dia.

Dessa forma, todas as vezes que falarmos a palavra “alimentos” nesse texto, leia que
é tudo aquilo que compreende o necessário para o alimentado viver.

Já aproveitamos para dizer que viver não quer dizer sobreviver. Já vimos pais dizerem
assim: “mas, doutor, ele é só um bebe para receber esse valor” ou “ele só tem três
aninhos” e assim vai. Essas frases são ditas quando a análise do “alimentante” (que
é a pessoa que paga os alimentos, podendo ser o pai ou a mãe, ou até outra pessoa,
como explicaremos mais adiante) foca apenas na quantia que é diretamente destina-
da a criança. Por exemplo: um pai que paga um salário mínimo ao seu filho de alimen-
tos. Nesse caso, o valor é utilizado como recursos à criança, como um todo, desde a
frauda até a conta de luz, por exemplo.

A análise dos alimentos não é posta em uma tabela ou mesmo deriva de uma conta
matemática previamente elaborada, em que se pretende contabilizar quantos grãos
de arroz e feijão são destinados a criança e quantos não são. Desculpem-nos o exem-
plo bizarro, mas serve para lhe mostrar que não se deve dividir sistematicamente
apenas o que é consumido apenas pela criança. Em outras palavras: embora uma
criança não pague luz, água e internet, é natural que recursos como esses lhes sejam
aproveitados. E não só esses recursos, mas tantos outros rotineiros. Por isso, a visão
dos alimentos não deve ser estritamente àquilo que se destina a criança. Mas tudo
que a sua volta lhe faz bem e proporciona o seu desenvolvimento.

3 Ialongo
e Miyaoka
Quem deve pagar
os alimentos?
Existe uma visão costumeira que os alimentos devem ser pagos pelo pai. Atualmente
nossa sociedade evoluiu. E muito! Já não é mais possível dizer que essa criança terá
um pai e uma mãe, como é a visão tradicional de família, podendo ser duas mães, ou
apenas uma mãe solteira, ou dois pais, enfim. A visão de família mudou nos últimos
vinte anos. E isso é bom. Por isso, acreditar que os alimentos são pagos apenas pelo
homem é crer que ainda vivemos em uma sociedade da década de 90.

Muito embora a pensão não seja paga apenas pelo homem, como acabamos de falar,
porém não há dúvida de que a maioria dos casos de alimentos envolve essa estrutura
familiar, em que o pai é o alimentante (devedor de alimentos).

Então, sem qualquer intenção de taxar a sociedade nessa bipolaridade, mães que
cuidam dos seus filhos e pais provedores, pois a mentalidade da sociedade já evoluiu
bastante, como também evoluiu a postura dos homens, visto que hoje são muito
mais proativos e participativos na criação do filho do que a geração anterior, ainda
assim, ao longo desse ebook usaremos mais vezes a figura do pai como alimentante,
para facilitar a didática dos exemplos.

Mas só ele deve pagar alimentos? É claro que não! A mãe deve pagar, quando o pai é
o guardião do filho. Os avós, quando o pai ou mãe alimentante está impossibilitado de
o fazer.

5 Ialongo
e Miyaoka
Mas por que eu pago
os alimentos?
Um pai ou uma mãe devem pagar alimentos ao filho menor porque existe uma relação
direta entre eles, que chamamos de pátrio poder.

Nessa relação do filho incapaz (quando é menor de 18 anos ou detém alguma


deficiência que lhe impossibilita de exercer os atos da vida civil do dia-a-dia) a
necessidade dos alimentos é presumida. O que isso quer dizer? Que os alimentos são
sempre devidos. Não é preciso provar necessidades como a de pagar uma escola, ou
um plano de saúde, ou a escola de inglês. Essas e outras obrigações são presumidas,
porque entende-se que é o mínimo que uma criança deve ter.
Talvez nesse momento você indague: mas nem todas as pessoas podem ter uma
escola, um plano de saúde ou pagar uma escola de inglês?

Isso é verdade. Infelizmente nem todas as crianças do nosso pais têm, mas não quer
dizer que elas não tenham direito a ter. E se é possível dar, por que vamos negar isso
a ela?!

Bom, aí, cara leitora, você conclui: se meu filho tem menos de dezoito anos e precisa
de alimentos, e como foi dito, não preciso provar a necessidade básica, o que eu
preciso provar então?

Situações diferenciadas precisam ser provadas, como a de uma criança que precisa
de um tratamento de saúde especial (talvez psicólogo, ou um especialista, etc.), ou
uma criança que precisa de uma escola especial, em razão da sua saúde e/ou
desenvolvimento etc. Nesses casos é necessário provar essa necessidade, que
acaba sendo simples, como um laudo médico!

7 Ialongo
e Miyaoka
Meu filho precisa de alimentos, mas eu não recebo do (a) meu (minha)
ex-companheiro(a)?

Com a internet e a televisão, a informação é difundida com bastante facilidade. Não


há quem não conheça o direito de receber alimentos. Imaginamos que todos saibam
disso. Talvez não saiba detalhes ou como proceder. De toda forma, é importante
esclarecer que os alimentos são devidos e podem ser pagos voluntariamente. Aliás,
essa é a melhor solução para todos, principalmente para a criança envolvida.

Contudo, muitas vezes o rompimento de uma relação conjugal deixa muitas arestas.
Magoas que infelizmente são transportadas para a relação com o(s) filho(s). Não foi
um e nem dois laudos que vimos apontamentos do psicólogo judicial afirmando que
a relação dos pais afetou diretamente o desenvolvimento da criança. Triste, mas é a
mais pura verdade! Por isso, alertamos que os alimentos podem e devem ser
voluntariamente estipulados entre as partes, pensando no melhor para a família.
Pois, repita-se, o que acabou foi o casamento, e não a família.

Agora, quando é impossível uma conversa amigável, não tem jeito! Ao fazer o
divórcio, quando há criança menor ou incapaz, será necessário fazê-lo judicial. Nesse
momento será regulamentado os alimentos da criança.

Agora, se não há filhos menores ou incapazes, o divórcio pode ser feito em cartório,
acompanhado de um advogado.

Aí talvez venha outra dúvida: “eu não fui casada, só que tenho um filho pequeno e o
pai não quer pagar a pensão, o que eu faço?”

Nesse caso é necessário mover uma ação de alimentos, que é promovida em nome
da criança, sendo representada por você!

8 Ialongo
e Miyaoka
Por que os avós
pagam pensão?
Isso é injusto!
Justo, talvez não seja. Isso se olharmos apenas o lado dos avós, que
diretamente não conspiraram para o nascimento da criança. Contudo, a família
é vista como um todo. Não se pode jogar ao relento a criança que, por um motivo
ou outro, não tem um pai ou uma mãe presente.

Daí a responsabilidade dos parentes na relação familiar. Por isso,


subsidiariamente, ou seja, apenas se o pai ou a mãe não puder prover os
alimentos, aí sim os avós poderão responder pelos alimentos.

Decidimos nos divorciar e definimos que a guarda será


compartilhada, logo não preciso pagar alimentos?
Essa é uma crença que talvez tenha sido difundida pela esperança de alguns
pais em não ter que pagar mais pensão. Porém, uma coisa não leva
necessariamente a outra. O fato de a regulamentação da guarda ser
compartilhada (que será melhor explicada noutro ebook), não quer dizer que os
alimentos não são mais devidos. Pode sim existir uma diminuição, pois, ao invés
de o pai dar o dinheiro para a mãe gerir as despesas, ele poderá pagar
diretamente muitas dessas despesas, como roupas, escola, material escolas,
etc. Mas não existe isenção de alimentos.

9 Ialongo
e Miyaoka
Meu filho vai fazer 18 anos Graças a Deus.Vou ficar livre dos
alimentos!
Ledo engano, meu amigo leitor. Os alimentos são devidos até que haja necessidade
do alimentado.

Uma ponderação devemos fazer. Enquanto a Lei presume que a criança menor de 18
anos tem necessidades, após essa idade ela deve provar. Ou, como na prática
acontece, prova-se que iniciou um curso técnico ou uma faculdade, e para realizar
essa etapa da vida, precisa do auxílio dos alimentos pagos pelo pai.

De qualquer forma, é importante esclarecer aos pais e mães que pagam alimentos
que só pode haver exoneração (extinção dos alimentos) quando há o ajuizamento de
uma nova ação, que leva o nome de ação de exoneração de alimentos. Nessa nova
ação que serão feitas as provas de que o alimentado não necessita mais daquela
quantia ou até que o alimentante não pode mais prover.

Muitas pessoas acreditam que o simples fato de completar 18 anos e não estar
fazendo faculdade, por si só, extingue a obrigação de pagar os alimentos. Não é
assim. Como há uma decisão judicial que manda pagar alimentos, para poder
suspender essa exigência, que muitas vezes é descontada diretamente da folha de
pagamento do alimentante, só é possível por meio de uma nova decisão, que
determina a exoneração.

Apenas para explicar melhor, a relação entre os pais e o filho menor vem do pátrio
poder, como dissemos lá em cima. Após o filho completar 18 anos, ou falando mais
adequadamente: após eles adquirir a capacidade para os atos da vida civil, a relação
entre pais e filhos se dá pela parentalidade. Em uma linha reta: pais, avós, bisavós e
assim vai, podem exigir alimentos entre si.

O que? Meu pai pode exigir alimentos de mim? Sim, ele pode! Mas isso explicaremos
noutro ebook, que já deve estar lá no nosso site (www.iem.adv.br), mas se ainda não
estiver, consulte o site daqui há alguns dias, pois logo estará lá.

12 Ialongo
e Miyaoka
Estou desempregado e não consigo mais pagar o que eu pagava! O que eu
faço?

Não podemos enumerar cada uma das situações que acontecem na vida de cada
pessoa. Porém, é bem comum duas narrativas: a primeira do pai que perdeu seu
emprego. E a segunda, do pai que mudou de trabalho e agora ganha menos. Nas duas
hipóteses é necessário, primeiramente, ver o que ficou determinado ou acordado
(determinado pelo juízo ou acordado entre as partes). Se no acordo ou na decisão
judicial tenha uma cláusula contemplando essa hipótese, seja de perda de trabalho
ou mudança de ganho, então tudo bem. Dessa forma, você terá que seguir essa nova
determinação. Agora, se não há nada, sugestão: procure um advogado! O valor devido
será o mesmo de antes e se você não puder pagar, pode acontecer de ser preso, caso
a outra parte peça ao juízo.

13 Ialongo
e Miyaoka
Prisão? Nossa,
que cruel!
A uma primeira vista parece cruel. “Pede-se a prisão de um pai de família e tem tantos
bandidos soltos aí”, disse uma vez uma pessoa em nosso escritório.

Acontece que a prisão civil é uma medida jurídica que ainda é muito eficaz em nossa
legislação. Já tivemos dezenas de casos que só se resolveram depois do pedido de
prisão do alimentante-devedor. E parece mágica: surge dinheiro de onde antes não
era possível!

Peço licença ao leitor para lembrá-lo que do outro lado da relação há uma criança
necessitada. Por isso, a medida se justifica. Não como pena (porque não se pretende
punir diretamente, ainda que o faça indiretamente), mas diante de tamanha pressão e
temor de ser preso há uma determinação a mais do devedor dos alimentos para pagar
o que deve.

São poucos os países no mundo que ainda mantém a prisão civil do devedor de
alimentos. No Brasil já se discutiu algumas vezes a retirada desse instituto. Sabemos
que não é o seu caso, caro leitor (pelo menos esperamos que não seja), mas,
lamentavelmente, há ainda muitos pais e mães que largam seus filhos à margem,
sem amparo nenhum.

14 Ialongo
e Miyaoka
Nossa! Adorei esse ebook. Mas vi que vocês só falaram de
alimentos entre pai e filho. E eu, que ex-conjuge (marido ou
esposa ou companheiros), posso pedir alimentos do meu
ex-conjunge?

Pode sim! Mas isso falaremos num outro ebook. Dá uma


olhadinha no nosso site (www.iem.adv.br) que ele já deve
estar lá, mas se não estiver, não desanime, logo estará!
I alongo e Miyaoka
s o c i e d a d e d e a d v o g a d o s

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