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Homeschooling católico

Sobre a capa

A
capa deste livro é uma fotografia de Nossa Senhora do Bom Conse-
lho, doada pelo Sr. João S. Cla Dias, fotógrafo e autor de um livro
belissimamente ilustrado, Nossa Senhora do Bom Conselho de Ge-
nazzano. Sou-lhe grata pela generosidade.
Muitos anos atrás, descobri este afresco miraculoso e desde então passei
a ter uma devoção especial pela Virgem Santíssima sob este título. É espe-
cialmente apropriado às mães homeschoolers ou que pretendem iniciar o
homeschooling pedir o aconselhamento da Virgem ao tomar decisões que
afetarão as vidas de suas famílias.
O afresco miraculoso encontra-se na pequena cidade de Genazzano, na
Itália. Muitos milagres lhe são atribuídos. Ele é feito de material não iden-
tificável e, há cinco séculos, sustenta-se sem apoio. Ele tem sido objeto de
veneração por papas e santos.
Surpreendentemente, milagres vêm sendo associados não apenas ao ori-
ginal, mas também às suas cópias. Rogo para que Nossa Senhora do Bom
Conselho opere milagres nos corações dos pais católicos que tiverem o pre-
sente livro em mãos, orientando-os a tomar o melhor caminhos para que
suas famílias possam viver a autêntica vida católica.

3
Sumário

Agradecimentos 11

Agradecimento especial aos colaboradores da edição brasileira 13

Prólogo 15

Prefácio 21

Apresentação à edição brasileira 27

Introdução 33

Capítulo 1
Por que homeschooling católico? 39

Capítulo 2
O que é homeschooling católico? 63

Capítulo 3
Ensinamentos da Igreja sobre matrimônio e educação 79

Capítulo 4
Como iniciar o homeschooling católico 121

Capítulo 5
Homeschooling em uma família numerosa 149
Capítulo 6
A vida sacramental 185

Capítulo 7
O papel do pai no homeschooling 215

Capítulo 8
Disciplina na família católica homeschooler 237

Capítulo 9
Administração doméstica na família católica homeschooler 269

Capítulo 10
Homeschooling em famílias com pai ou mãe ausente 283

Capítulo 11
Ensinando crianças com demandas pedagógicas diferentes 291

Capítulo 12
Homeschooling para crianças com necessidades especiais 301

Capítulo 13
O problema da socialização 313

Capítulo 14
Grupos de apoio católicos 341

Capítulo 15
Respondendo às autoridades 351

Capítulo 16
Homeschooling e catequese 373

Capítulo 17
O homeschooling católico em nossa democracia americana 387

Capítulo 18
O futuro do homeschooling católico 395

Apêndice
A Carta às Famílias de João Paulo II 405

Bibliografia 411
HOMESCHOOLING
CATÓLICO
Um guia para pais

Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais.


— Marcos 10:14

Este livro é dedicado ao Sagrado Coração de


Jesus e a Sua Mãe Santíssima sob o título de
“Nossa Senhora do Bom Conselho”.

Dra. Mary Kay Clark, PhD.


Diretora da Seton Home Study School
Tradução
Lorena Miranda Cutlak

Revisão
Camila Hochmüller Abadie

Diagramação
Priscila Esteves Peres
Renan Martins dos Santos
Gustavo Abadie

ISBN

Realização
Agradecimentos

A
gradeço aos meus pais, John e Jacqueline Lynch, de Cleveland, Ohio,
por minha educação católica, que me levou a educar meus filhos em
casa e posteriormente a escrever este livro.
Agradeço, igualmente, àqueles que me ajudaram a escrever este livro, em
especial meus filhos Kevin e John.
Sou também imensamente grata àqueles que contribuíram com capítulos:
Dr. Mark Lowery, pai homeschooler e professor de Teologia Moral; Ginny
Seuffert, mãe homeschooler de doze filhos, com muitos anos de experiência
como educadora domiciliar; Kenneth Clark, meu filho mais velho e advo-
gado especializado em homeschooling da Seton Home Study School; Cathy
Gould, especialista em Deficiência de Apredizagem e consultora da Seton;
e Cathy Rich, mãe homeschooler com um filho portador de Deficiência de
Aprendizagem.
Agradeço, ademais, a meu marido Bruce e aos meus sete filhos, Kenneth,
Kevin, Daniel, Paul, John, Jim e Timothy, por sua cooperação ao longo dos
anos, que, além de me ajudar a crescer espiritualmente, possibilitou minha
intensa dedicação ao trabalho junto às famílias homeschoolers.
Agradeço ainda aos padres: John Hardon e Charles Fiore, já falecidos;
Paul Marx, Robert Fox e Matthew Habiger; e ao consultor da Seton Home
Study School, Pe. Constantine Belisarius. O apoio destes sacerdotes é de cru-
cial importância ao homeschooling católico e ao meu trabalho.
Agradeço à equipe da Seton, que com espírito cooperativo trabalha para
tornar o homeschooling possível a tantas famílias católicas.
Por fim, agradeço a todas as famílias da Seton, que me deram o privilégio
de participar de sua experiência homeschooler.
Agradecimentos especial aos
colaboradores da edição brasileira

Aline Taddei Brodbeck Felipe Garcez


André Betzler de Oliveira Machado Fernando Menezes
Andressa Francisca Ribeiro Géssica Cachoeira dos Santos
Araceli Maria Groth Alcântara Giseli Coelho de Mello Castro
Arthur Ramos de Moraes e Silva Gustavo Oliveira
Bruno Granado Vallini Isabelle S. Bezerra
Camila Monteiro Ramos Ishidale Santos
Carlos E. Comin Janine Meirelles
Carlos Felipe dos Santos e Silva Jefferson Lima Barbosa Alves
Cláudio Camozzato Júlio M. Belmonte
Cristina M. Silva Kátia Barboza da Silva
Daniela Maria Menezes Braz Laís Dinis
Davi Augusto Rodrigues Larissa Ferreira
Edson Vieira Demétrio Leonardo F. Boaski
Etyenne Sales Ramos Leandro V. Casare
Evandro Ferreira Liana Netto
Fábio de Santana Lauton Luciana Décimo Fonseca
Luciana G. B. Rebello
Luiz Eduardo Ulrich
Marcelo Aguiar Cerri
Marcos José Sampaio de Freitas Jr.
Maria Amélia Alcântara Cardoso
Maria Auxiliadora de Alcântara
Mariana Anrain
Mariana Biscainho Cavalcanti
Mariella Silva de Oliveira Costa
Mário Jorge de Sousa Freire
Mateus de Carvalho
Milton Adolfo Santucci Júnior
Neiriane M. Silva Costa
Nilton Moura
Noelco Dias Júnior
Paulo Santiago de Morais Brito
Pedro Borges Griese
Priscila Esteves Peres
Rachel Prolla Lacroix
Renan Martins dos Santos
Roberto Carreira
Ronald Rafael Lorenzi
Ronaldo Fernandes da Silva
Rosane Lima Moretti
Rosangela Vegini
Thayse Rezende Sperandio
Vanderlei dos Santos
Vanessa Maria Nery da Costa
Wilson A. Chagas Júnior
Yuri Bandin Sátiro
Prólogo

P
ais, talvez alguns de vocês sintam-se inclinados a pensar que o conte-
údo deste livro, Homeschooling Católico, é exagerado ou distorcido;
permitam-me, pois, enquanto sacerdote, compartilhar com vocês algu-
mas experiências.
Eu sei o que é servir a mesma paróquia como padre assistente e depois
como pároco, em ambos os casos dando aulas regularmente a alunos da
primeira à décima segunda série. Eu sei o que é ensinar em uma escola
católica onde as crianças costumavam aprender os princípios básicos da
Fé Católica, para, anos mais tarde, após o Concílio Vaticano II, retornar e
descobrir que as crianças desta mesma escola agora sabiam praticamente
nada sobre o Catolicismo. Eu sei o que é ser nomeado pároco de uma
comunidade e descobrir, logo à minha chegada, que os adolescentes da
Confraternidade da Doutrina Cristã (CDC) não viam diferença entre o
Catolicismo e as “grandes religiões mundiais”, a saber, Islã, Budismo e
Hinduísmo. Eu sei o que é ser responsável por ainda outra paróquia onde
os professores do CDC entendiam como “ecumenismo” não ensinar que a
Igreja Católica é a Verdadeira Igreja. Eu sei o que é ministrar um workshop
de dois dias a um público de padres, tendo como tema a educação religio-
sa dos jovens, em uma das universidades católicas de maior prestígio dos
Estados Unidos, e ter de ouvir alguém de dentro da universidade dizer que
eu não tinha o direito de insistir que se ensinasse à juventude que a Igreja
Católica é a Verdadeira Igreja.
Fui professor, em minha comunidade paroquial, desde minha ordenação,
ensinando turmas da primeira à décima segunda série ao longo de todo o
MARY KAY CLARK

ano letivo. Assim como o bispo é o principal professor da Fé na diocese, a


condição de padre faz de mim o principal professor da comunidade, e eu
gostaria de saber o que está acontecendo em nossas salas de aula. Fui orde-
nado quando tudo estava em seu devido lugar: escolas católicas eram escolas
CATÓLICAS. Crianças e adolescentes conheciam os princípios básicos da fé.
Doze anos após ser transferido da paróquia na qual primeiro servi, fui en-
viado novamente a ela na condição de pároco, e descobri que as crianças da
escola primária católica agora desconheciam os princípios da Fé. Os alunos
católicos da escola secundária local, a maioria dos quais haviam estudado
na escola primária da paróquia, não faziam ideia de que na Santa Eucaristia
nós recebemos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Eles não
sabiam que a Missa reproduz através dos tempos o Sacrifício da Cruz. Eles
desconheciam os conceitos de pecado mortal ou venial e a obrigatoriedade
da Missa Dominical. E, o que é pior, seus pais ignoravam o fato de que seus
filhos sabiam pouco ou quase nada da Fé. Eles haviam delegado integral-
mente a terceiros o seu dever primordial de educar e formar seus filhos, e
nem sequer se davam ao trabalho de verificar se estes estavam aprendendo
os princípios da Fé, pois acreditavam que alguém faria isto em seu lugar.
Quando eu ainda era recém-ordenado, minha grande paixão, depois de
oferecer o Santo Sacrifício da Missa e administrar os Sacramentos enquanto
atos de Jesus Cristo prolongados no tempo e no espaço, era educar crianças
e adolescentes. Mesmo após todos esses anos no Santo Sacerdócio de Cristo,
minhas prioridades continuam as mesmas. Considero meu trabalho de ensi-
nar e formar crianças como um auxílio à tarefa primordial dos pais e uma
extensão do meu dever de pregar o Evangelho de Jesus Cristo.
Tendo escrito para a imprensa católica, eu sei o que é receber milhares
de cartas de pais católicos de todas as partes dos Estados Unidos. Aconteceu
diversas vezes, ao longo dos últimos 25 anos, de estes pais descobrirem tarde
demais que nas escolas católicas seus filhos não estavam aprendendo princí-
pios católicos, mas heresias. Eis alguns exemplos:
“Temos oito filhos. A escola católica, primária e secundária, roubou da
Verdadeira Fé nossos cinco mais velhos, mas o mesmo não acontecerá com
os outros três. Estes estão estudando em casa conosco.” Ou: “Padre, na es-
cola de nossa região, as crianças estão aprendendo em nome da Igreja Ca-
tólica coisas que nós sabemos serem contrárias ao Catolicismo. Estaremos
pecando se as tirarmos dessa escola?” Minha resposta: “Você está fazendo a
pergunta errada. O correto seria perguntar: ‘Qual minha responsabilidade,
se não as tirar de lá?’”

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

Ouço, com frequência, a seguinte resposta: “Mas a alternativa restante,


na escola pública, é ainda pior. Lá não existem disciplina, moral, etc... O que
devo fazer?”
Agora, posso responder a essa questão com: leia o livro Homeschooling
Católico, da Dra. Mary Kay Clark, e ficará claro qual caminho, obrigatoria-
mente, você deve tomar.”
O Concílio Vaticano II não foi responsável pelos abusos tão extremos
que vemos nos dias atuais. Um Concílio Ecumênico é inspirado pelo Espírito
Santo. Há, também, algumas exceções notáveis ao que escrevi acima quanto
ao fracasso do ensino da Fé nas escolas católicas. Ainda restam algumas
boas escolas católicas, embora não em grande número. Há também padres
bem informados, e há os que não tomam notícia do que se passa em seus
programas de Confraternidade da Doutrina Cristã ou nas escolas católicas
de suas comunidades. Estes, assim como os pais, habituaram-se a delegar
suas responsabilidades a terceiros.
Alguns padres simplesmente não compreendem que é obrigação dos pais
educar seus filhos. “Não queremos essa revista na biblioteca de nossa paró-
quia. Ela defende o homeschooling.” Isto foi o que ouvi de um padre sobre a
revista da qual sou editor. “Essas pessoas são esquisitas. Seus filhos estudam
em casa. Elas prejudicam o desenvolvimento de seus filhos, submetendo-os
ao homeschooling.”
Afirmações desse tipo – feitas por leigos, religiosos e padres – são con-
trárias à autêntica Fé Católica. Mesmo alguns padres expõem sua ignorân-
cia dos ensinamentos da Igreja e dos documentos do Concílio Vaticano II,
quando deixam de reconhecer a validade e a importância do homeschooling.
A Declaração sobre a Educação Cristã do Vaticano II deixa bem claro:
Os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação
de educar a prole e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e
principais educadores (11). Esta função educativa é de tanto peso que, onde
não existir, dificilmente poderá ser suprida.1

Quando o presente livro, Homeschooling Católico, chegou até mim, e


após ler sua “Introdução”, a qual considerei uma análise exata dos proble-
mas que enfrentamos hoje, o primeiro capítulo que li foi “O papel do pai
no homeschooling”. Em minha fala no Simpósio Internacional sobre o 75º
Aniversário de Fátima – localidade onde Nossa Senhora apareceu como ca-

1 In: htttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19
651028_gravissimum-educationis_po.html

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MARY KAY CLARK

tequista e Mãe da Evangelização – eu atribuí boa parte da responsabilidade


pela crise atual da fé aos pais de nossas famílias. A crise da fé é algo que vem
maturando há muitos séculos, desde a Revolta Protestante e as causas que
nela redundaram. Os pais católicos têm negligenciado largamente seu papel,
ao mesmo tempo em que as mães têm com igual frequência sucumbido ao
Movimento Feminista.
O capítulo que em seguida chamou minha atenção foi “O problema da
socialização”. Esta é a primeira objeção que costumo ouvir a respeito do
homeschooling. Curioso: por muitos anos, acompanhei até Fátima, durante
quatro semanas, centenas de jovens de todas as partes dos Estados Unidos e
do Canadá, e jamais notei qualquer problema de socialização com aqueles
que estudavam em casa. Percebi neles, ao contrário, uma maturidade que
não via nos demais.
Depois, interessei-me pelo capítulo “Disciplina da família católica homes-
chooler”. Durante as peregrinações à Europa com os jovens, pude notar que
aqueles com melhor autodisciplina, capazes de compreender imediatamente o
motivo de estarmos na terra de Maria e o que eu buscava levando-os até lá,
eram, frequentemente, os que estudavam em casa. São sempre eles (digo: sem-
pre) os jovens que conhecem sua Fé em profundidade e podem discuti-la com
inteligência. São filhos motivados de pais motivados. É com motivação que
eles vêm experimentar a Igreja enquanto Una, Santa, Católica e Apostólica.
Observando os modernistas, os dissidentes dentro da Igreja e o secula-
rismo crescente que tem invadido nossas paróquias – e obtido considerável
sucesso em nossas escolas – Fulton J. Sheen disse: “São os leigos que salvarão
a Igreja.” Posso afirmar, com base em meu próprio trabalho como padre e
jornalista ao longo dos últimos 25 anos, que o que preservou meu otimismo
quanto à prevalência da verdade e ao triunfo do Sagrado Coração de Jesus
e do Imaculado Coração de Maria foram os milhares de bons pais de todo
o país com quem mantive contato; pais seriamente preocupados com dar a
seus filhos uma formação segundo o verdadeiro Catolicismo.
Ao final das peregrinações com a “Juventude por Fátima”, era comum os
jovens dizerem: “Agora não estou só. Agora sei que existem muitos outros
jovens de todo o país que estão aprendendo com seus pais os mesmos valores
católicos que eu mesmo tenho aprendido em casa.”
Pais, vocês não estão sozinhos ao praticar o homeschooling! Eu venho es-
crevendo há 30 anos sobre educação e formação católicas, sobre o dever dos
pais enquanto principais educadores de seus filhos e sobre a necessidade de se
manter a fidelidade ao Magistério. Cerca de um quarto de século atrás, uma

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

mãe católica sugeriu-me que abandonasse meus apostolados para dedicar-


-me a elaborar programas de homeschooling, o que significaria abandonar
também minha função de pároco. Esta mãe e alguns outros pais católicos,
desesperados pela ausência de boas escolas, públicas ou católicas, vinham
utilizando programas de homeschooling tais como os produzidos pelos Ba-
tistas. Eles esforçavam-se para adaptar à doutrina católica estes programas
essencialmente protestantes. Em minha visão, era uma prática arriscada, na
melhor das hipóteses. Agora, porém, temos nosso próprio homeschooling
católico. E não surpreende que tenha sido produzido por leigos.
Ainda estamos na infância do homeschooling na era moderna. Mas o
homeschooling ele mesmo é tão antigo quanto a Igreja. Houve um tempo em
que a Divina Liturgia e o lar eram os principais professores da Fé. Se nossas
escolas católicas, que fizeram tão nobre contribuição no passado, falharam
em alguma área em especial, foi em comunicar aos pais que eles são os prin-
cipais formadores de seus filhos no que diz respeito à Verdadeira Fé, e que é
praticamente impossível substituí-los nessa função.

Pe. Robert J. Fox


Apostolado Família de Fátima

19
Prefácio

O
“O homeschooling é academicamente eficiente? Se sim, eu estou à al-
tura de praticá-lo?” Sem dúvida, essas são questões preocupantes para
muitos pais que estão considerando iniciar o homeschooling. A Dra.
Mary Kay Clark escreveu Homeschooling Católico em grande medida para res-
ponder a essas que são questões de primeira ordem – e também, é claro, para
esclarecer quais as razões espirituais para se praticar o homeschooling.
O objetivo deste prefácio é acrescentar um ponto de exclamação a tudo o
que a Dra. Clark diz em seu livro e responder com um sonoro “sim” às duas
questões colocadas acima.
Em primeiro lugar, por que o homeschooling pode ser muito eficiente do
ponto de vista acadêmico, isto é, educativo? Como mestre em educação e
ex-professor que, por duas vezes, foi responsável por turmas de sexta série
exclusivas para crianças com deficiência, primeiro em uma escola católica,
depois em uma pública; tendo sido também, por dois anos, professor de
inglês em uma escola pública de ensino médio e professor universitário de
filosofia, igualmente por dois anos; já tendo conhecido professores bons,
maus e medíocres, e presenciado coisas boas e más serem feitas em nome da
educação; já tendo obtido bons resultados após um trabalho árduo e plane-
jamento inteligente; já tendo visto todos os erros possíveis serem cometidos
impunemente por professores “certificados” pelo Estado e tendo precisado
reanimar intelectualmente alunos que por anos foram vítimas de má instru-
ção – em posse de tais credenciais eu acredito poder dizer, com um certo grau
de autoridade, que o homeschooling pode ser academicamente eficiente, e
isto por oito motivos básicos:
MARY KAY CLARK

1. No homeschooling você não desperdiça o tempo dos alunos. Em qual-


quer escola secundária, cerca de 1 hora e 40 minutos por dia são gastos em
1) registros de frequência e preparação para as aulas; 2) trânsito entre salas
de aula e c) preparativos para a saída de uma sala e acomodação na próxi-
ma. Além disso, os alunos gastam entre meia e uma hora, em média, no per-
curso de ir e vir da escola. Isto resulta em mais de duas horas desperdiçadas
ao longo do dia, sem mencionar o tempo mal gasto durante as aulas, por
conta de professores despreparados e/ou alunos indisciplinados.
2. No homeschooling você não precisa ensinar de novo o que o aluno já
sabe. Como o pai-professor conhece intimamente o que já foi ensinado nos
dias, semanas, meses e anos anteriores, não precisa retroceder e ensinar repe-
tidas vezes o que já foi visto, bastando fazer uma revisão geral. É um axioma
pedagógico que, quanto maior o contexto, menos se ensina. Durante a década
de 1960, uma das últimas escolas de uma turma só dos Estados Unidos ence-
rou suas atividades. Quase todos os alunos que lá cursaram os oito anos de
sua formação básica foram vencedores da Bolsa de Mérito Nacional após o
ensino médio. O motivo é simples: a escola possuía uma excelente professora
que conhecia todos os seus alunos e não ensinava de novo o que eles já sabiam,
mas seguia adiante com o conteúdo. Quase na mesma época, um estudo foi
feito nas escolas da Finlândia, mostrando que os alunos que vinham de regiões
remotas do norte do país, onde a maioria das escolas contavam com apenas
dois professores – um para os primeiros quatro anos de ensino primário, outro
para os quatro anos restantes – tinham um desempenho acadêmico muito me-
lhor do que os alunos de cidades maiores, que estudavam com um professor
novo a cada ano. A razão apontada pelos especialistas que conduziram o estu-
do foi que os professores dessas escolas pequenas conheciam bem seus alunos
e não repetiam desnecessariamente conteúdos já vistos.
3. No homeschooling você pode dar aos seus filhos atenção individual.
Mesmo se sua família for numerosa, você ainda poderá dar uma atenção
muito maior e muito mais ágil a cada um de seus filhos do que conseguiria
um professor em uma sala de aula com 25 a 30 alunos. Você não precisará
controlar frequência, lidar com tantas crianças mal-educadas ou tratar de
detalhes burocráticos. Você poderá dedicar-se exclusivamente ao trabalho e
estar sempre presente para auxiliar seus filhos.
4. Você pode ajustar o homeschooling a um ritmo que seus filhos consi-
gam acompanhar e que os mantenha interessados. Um dos principais mo-
tivos para o baixo desempenho dos alunos de escolas tradicionais é o rimo
lento (às vezes a passos de tartaruga) das aulas.

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

5. No homeschooling você pode (e deve) eliminar a possibilidade de fra-


casso! A ausência deste simples princípio acadêmico em grande medida jus-
tifica o fato de as escolas não conseguirem educar eficientemente todos os
alunos. Afinal, o oposto do fracasso é o sucesso. Se os professores das escolas
públicas, em parceria com os administradores, assumissem o compromisso
de não permitir que nenhuma criança ficasse para trás, empenhando-se ao
máximo para oferecer um ensino eficiente para todos, então, do ponto de
vista acadêmico, todos os alunos seriam bem sucedidos, mesmo nas escolas
públicas. A despeito do descaso das autoridades, eu sempre consegui alcan-
çar este objetivo, tanto em escolas públicas quanto em católicas. Não é uma
ideia complicada; já colocá-la em prática é, sim, pois demanda muito traba-
lho. O ônibus escolar parte, as crianças estão dentro dele (ou assim se presu-
me), os professores dão de ombros e subornam suas consciências pensando
“se os pais não se importam, que posso fazer?”, recebem seus imerecidos
salários e permitem que a geração de amanhã escorra por entre seus dedos,
irreparavelmente despreparada para a vida. E então resta ao país mais uma
leva de ignorantes que necessitarão de ajuda quando terminarem a escola e
tentarem encontrar uma colocação produtiva no mercado de trabalho – ou
que irão à universidade para finalmente aprender o que lhes devia ter sido
ensinado na escola.
6. No homeschooling, sempre que a criança fizer um trabalho mal feito,
você pode estabelecer consequências que transformem erros em oportunida-
des de aprimoramento. Este item é, na verdade, uma extensão do número 5
acima, porém sua importância obriga a tratá-lo à parte. Trata-se de estipular,
dentro do seu regime de homeschooling, consequências para trabalhos mal
feitos, que gerem oportunidades para a criança aprender a entregar tarefas
a) pontualmente, b) integralmente executadas, c) bem executadas (por exem-
plo, limpas, bem escritas e com boa pontuação) – e assim você garante um
bom desempenho. Por sermos todos sujeitos ao Pecado Original, tendemos a
não querer fazer o que devemos, especialmente quando a tarefa é difícil. Para
inculcar um espírito de virtude em seus filhos, é fundamental que trabalhos
mal feitos sempre gerem consequências reparadoras, incentivando-os a apri-
morar, por exemplo, sua pontualidade e a buscar um desempenho eficiente
e sólido. Se seus filhos souberem que, automaticamente, terão de fazer lições
extras sobre os assuntos que menos dominarem, ALÉM DE um pequeno
trabalho escrito (bem executado, dessa vez!) com o tema de “por que é im-
portante entregar tarefas bem feitas”, então cada trabalho mal feito será,
sem dúvida, ocasião de aprimoramento! Talvez leve uma semana, ou duas,

23
MARY KAY CLARK

ou três dentro dessa rotina, para que os maus hábitos sejam eliminados,
porém a quantidade extra de trabalho, mais a diminuição do tempo livre,
cedo ou tarde farão com que a criança perceba que o fracasso não é mais
uma possibilidade. Em pouco tempo utilizando esse método você colocará
o aluno teimoso no caminho do sucesso. A melhora no desempenho é uma
experiência prazerosa, que o motivará – e a batalha está ganha.
7. Um dos segredos de sucesso do homeschooling é o incentivo à leitura.
Noventa e nove por cento da vida acadêmica resume-se à leitura. Quando
ensinava inglês1, eu costumava pedir um livro por semana, além de todo o
conteúdo restante da disciplina – ou, nas turmas de sexta série para alunos
especiais, além de todas as demais tarefas. Havia choro e reclamações por
cerca de duas semanas, mas, como eu permitia que os alunos lessem o que
quisessem, desde que fosse um livro decente, eles rapidamente acatavam a
ideia. A avaliação era simples, sempre feita em cartões 3x5 entregues ao
fim de cada mês. Ocasionalmente, os alunos tinham de comentar o livro em
voz alta para o resto da turma, e cerca de uma vez por mês o comentário
sobre o livro coincidia com o trabalho escrito da semana. Eu dava créditos
pela leitura de livros extras. O aluno médio consegue facilmente ler mais
de um livro por semana e ainda fazer as outras tarefas. Os resultados dessa
prática são inacreditáveis: aumenta o vocabulário, aumenta a compreen-
são de texto, aumenta o interesse pela escola, aumenta a capacidade de
escrever boas frases, aumenta a habilidade psicossomática de ler cada vez
mais rápido com cada vez mais compreensão, aumenta o acúmulo de co-
nhecimento, aumenta a habilidade de soletração, aumenta o interesse nos
mais variados assuntos e aumenta a confiança dos alunos em seu potencial
para aprender. Você pode alcançar resultados incríveis com seus filhos, e
implementando o programa de leitura “um livro por semana” – mesmo que
você seja o pior professor do mundo – eles superarão com folga o melhor
desempenho que pudessem ter na melhor das escolas formais. Faça deste
simples programa de leitura a “rede de proteção” do seu homeschooling e
não há como não dar certo.
8. O homeschooling elimina a frivolidade e as bobagens que as crianças
aprendem com os colegas. Ao invés de seus filhos espelharem-se em algum
engraçadinho bobalhão, terão você como modelo, e sua educação comporta-
mental será guiada por um adulto. O resultado final serão crianças de com-

1 Note-se que, sempre que se fizer referência à disciplina de inglês ao longo do livro, não se trata
de simples aulas do idioma, mas de uma disciplina equivalente à nossa de português, engloban-
do gramática e literatura. (N. da T.)

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

portamento maduro, especialmente se você tiver o hábito de conversar em


alto nível com elas, sobre tópicos inteligentes e esperando delas nada menos
do que respostas inteligentes.
Outros motivos poderiam ser elencados, e Mary Kay Clark ocupa-se de-
les, porém estes oito devem ser suficientes para que você se convença de que
o homeschooling é academicamente eficiente. Agora, trataremos da segunda
questão: “Eu estou à altura de praticá-lo?”
Por que não? Você é, presumivelmente, uma pessoa de inteligência razo-
ável – e é sem dúvida alguém foge do senso comum, se se deu ao trabalho
de começar a ler esse livro e talvez tenha inclusive assumido o custo de
comprá-lo. Só isso já evidencia sua percepção de que algo vai muito mal com
a educação atualmente e que você está disposto a fazer algo a respeito, pelo
bem dos seus filhos.
Acredite em mim quando afirmo, enquanto professor que já exerceu essa
função em seis situações diferentes – na escola primária, no ensino médio e
na universidade – que os professores são seres humanos, como eu e você. Há
os bons e os maus, os bem e os mal educados, os eficientes e os ineficientes,
os ativos e os preguiçosos. Somente o fato de você poupar seus filhos dos
maus professores já é um tremendo ganho.
Provavelmente, o que preocupa você é a pergunta que não quer calar: “Será
que eu sei dar aulas? Eu conseguiria, na prática?” Minha resposta é, de novo:
“Por que não?” Milhares de incompetentes estão dando aula em nossas esco-
las; será que você vai ser pior do que eles? As freiras do passado, que fizeram
do sistema educacional católico a maravilha de nosso país, eram basicamente
mulheres com formação secundária. Sem dúvida, suas ordens religiosas as ins-
truíam quanto aos modos de ensinar, mas você também pode ter acesso a esse
tipo de informação em livros de “Como fazer...” e com outros pais homescho-
olers. Além disso, os cursos oferecidos pelos centros especializados em homes-
chooling – e mesmo os livros didáticos – podem conduzir você ao longo do
caminho. Ensinar é em grande medida uma questão de mergulhar e ir fundo.
Educar seus filhos em casa não precisa ser algo terrivelmente difícil. Eu
aprendi a fazê-lo em parte na prática, mas também tive a ajuda de um colega
professor da sexta série. Você pode recorrer à ajuda de outros pais homes-
choolers, como eu recorri a esse colega professor.
O escritor romano Tácito disse: “Omne ignotum, pro magnifico”, que
quer dizer, em uma tradução aproximada: “Tudo o que desconhecemos nos
parece descomunal”. Nesse momento, se você está apreensivo com a ideia do
homeschooling, trata-se de um sintoma da síndrome tipicamente humana de

25
MARY KAY CLARK

se tomar por descomunal o que é desconhecido. Pense que, assim que você
começar o trabalho, ele não será mais desconhecido e seu medo de ensinar
seus filhos em casa desaparecerá. Tudo o que você precisa fazer é arregaçar
as mangas e entregar-se ao trabalho. Se você tiver alguma dificuldade, peça
a ajuda de outros pais homeschoolers. E, é claro, o excelente livro da Dra.
Clark também ajudará a esclarecer muitos problemas.
Se, de algum modo, eu puder acrescentar minha voz de incentivo à da
Dra. Clark, afirmo que você não precisa de um diploma universitário para
ser um excelente professor, embora precise dedicar-se muito para chegar a
sê-lo. Você não precisa ser excepcionalmente inteligente para ensinar seus
filhos; basta desejar que eles atinjam seu pleno potencial. Você não precisa de
cursos sofisticados sobre pedagogia para saber como dar aulas, embora seja
muito útil pedir o aconselhamento de outros professores (homeschoolers
ou não) sobre pontos particulares da prática. Em suma, o que eu gostaria
de dizer a vocês, pais e mães, é o seguinte: “Vocês conseguem!” Mesmo que
sua formação se restrinja ao nível secundário (ou menos que isso): “Vocês
conseguem!”
Há um princípio básico em toda educação: o professor sempre aprende
mais do que o aluno. Você vai aprender os conteúdos das disciplinas que en-
sinar aos seus filhos e isso fará de você uma versão melhor de si mesmo. Mais
ainda, você passará a ter muito em comum com seus filhos, o que ajudará
a transformar sua casa em uma pequena universidade do conhecimento hu-
mano. Ao invés de esquivar-se dessa função, você deve abraçá-la e encará-la
como uma estupenda experiência de aprendizagem. O homeschooling não
apenas pode funcionar para os seus filhos; na verdade, ele tem uma proba-
bilidade muito maior de funcionar do que quaisquer das outras alternativas
educacionais disponíveis. Então, o que você está esperando?
Reze pedindo orientação – especialmente a Nossa Senhora do Bom Con-
selho, através do Santo Rosário –, leia este livro, converse com outros pais
homeschoolers e mergulhe nesta empreitada com confiança.

Thomas A. Nelson

26
Apresentação à edição brasileira

Os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação
de educar a prole e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros
e principais educadores. Esta função educativa é de tanto peso que, onde
não existir, dificilmente poderá ser suprida. Com efeito, é dever dos pais
criar um ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade para
com Deus e para com os homens que favoreça a completa educação pessoal
e social dos filhos. A família é, portanto, a primeira escola das virtudes
sociais de que as sociedades têm necessidade.

— Concílio Vaticano II.


Declaração Gravissimum Educationis
Sobre a Educação Cristã, 3.

D
esde cedo escuto que o problema central no Brasil reside na edu-
cação. Trata-se de uma questão ampla que, não raras vezes, quer
significar não somente a educação dada ou recebida nas escolas. In-
cluso no conceito amplo de educação está certamente o modo como alguém
se porta diante das situações em sociedade. Creio que este segundo ponto se
trate de um falso problema.
Não é necessário muito tino para entender que o modo como alguém se
porta em suas relações com outrem é derivado necessariamente do modo
como foi educado. A meu ver, educação não é um conceito restrito a escolas
ou à escolarização, como defendem alguns políticos.
MARY KAY CLARK

Do ponto de vista cristão, a educação que não leva o educando a formar-


-se e a desabrochar todas as suas potencialidades intelectuais e religiosas não
é digna desse nome.
Como pode se constatar na história bimilenar da Igreja, bem cedo a te-
mática da educação integral foi uma constante. Os velhos métodos das anti-
gas academias, com seus modos rudes de ensinamento naturalista, contrasta-
vam com a autêntica vivência cristã. Ato seguido vimos milhares de homens
e mulheres povoarem os desertos em busca de mestres na vida espiritual e
intelectual, em uma espécie de fuga ao debate com pagãos, naturalistas e
demais gentios. Um aprofundamento da leitura do Novo Testamento levou
alguns cristãos formados nas escolas antigas e sob o Evangelho a buscar a
confrontação, pois perceberam que eram as cidades o centro das disputas, e
ali, portanto, Cristo também devia imperar com sua nova lei.
Com o passar dos séculos e a diminuição das perseguições alcançadas
pelo Édito de Milão (313) a Igreja respirou mais aliviada. Contava em suas
fileiras com homens preparados intelectual e espiritualmente para o novo
desafio que o próprio Estado lhe lançaria: ser a educadora dos povos. Um
homem, entre os vários, sobressai-se como reformador do caduco sistema
educacional antigo: Alcuíno de York (+804). Assim, durante milênios a Igre-
ja fundou escolas, educou os povos, conseguiu com sua influência fazer a
humanidade passar da Lei de Talião para a Lei do Evangelho. Floresceram
por toda parte, quer fossem junto aos mosteiros as escolas para crianças,
quer fossem junto às paróquias as escolas para crianças e jovens, chamadas
escolas paroquiais, quer fossem junto às catedrais as escolas catedralícias e
mais tarde as Universidades.
No Ocidente, a primeira grande brecha nos muros de uma sociedade
cristã pode ser encontrada quando da revolta protestante. Inúmeros são os
testemunhos históricos do atraso cultural e educacional a que foram sub-
metidos os povos germânicos e demais povos cujos príncipes, rompendo a
unidade cristã, desapropriaram escolas, conventos e baniram os religiosos
de suas terras.
A segunda brecha na sólida muralha pode ser encontrada nas funestas
consequências da chamada Revolução Francesa. As invocadas Liberdade,
Igualdade e Fraternidade trouxeram, com o culto à deusa Razão, a irracio-
nalidade e o desprezo a todo o bem feito pela Igreja. Confisco, banimento,
morte aos religiosos; destruição de igrejas e conventos nos quais a literatura
e arte sacra de altíssimo grau se perderam; aos miseráveis e pobres já não
importava educar, as jovens foram submetidas às paredes das casas pois não

28
HOMESCHOOLING CATÓLICO

convinha ao novo regime mulheres cultas ou nem sequer letradas. As três


palavras da divisa revolucionária pesaram e trouxeram Prisão, Desigualdade
e as guerras fratricidas.
O clima de terror, perseguição e morte aos cristãos, ao seu modo de vida e
suas escolas só foi quantitativamente superado em um ambiente onde o ate-
ísmo, a bestialização, a dominação, a desfiguração do ser humano e a morte
foram projetos e programas governamentais, isto é, em ambiente comunista.
No início do século passado ainda sobreviviam, meio cambaleantes, algu-
mas escolas paroquiais na região sul do Brasil. Os imigrantes alemães (1824)
e italianos (1875) que aqui chegaram não tardaram a edificar escolas junto
às suas igrejas. Aos poucos, congregações religiosas masculinas e femininas
foram chamadas pelos párocos e bispos a cuidar daquelas escolas.
Sob o mais variado campo de vista, o ano de 1968, com o auge das
revoluções juvenis em Paris, demarca uma terceira brecha na muralha. Os
movimentos iniciados em maio de 1968 deram origem a uma série de mu-
danças comportamentais, sexuais, políticas e educacionais. Os movimentos
ecologistas, abortistas, a criação dos chamados “coletivos”, as lutas por co-
locar entre as reivindicações dos direitos humanos direitos nada humanos,
antes animalescos; o mote de que é “proibido proibir”... Tudo isso são frutos
daqueles movimentos.
As escolas católicas não passaram incólumes a tais funestas transforma-
ções sociais. Seja pelo despreparo de seus membros docentes e diretivos, seja
pela posição irenista adotada não poucas vezes pelo episcopado, importa sa-
ber que desde aquela fatídica data encontrar uma escola católica digna desse
nome é algo muito difícil, se não impossível. Muitas congregações religiosas
já viviam em um período no qual agradar ao mundo era mais importante
que agradar a Deus e, mesmo relaxando suas normas de admissão de novos
membros, não perceberam - como algumas ainda não percebem - a sangria
desatada. A grande maioria das chamadas “escolas católicas” não possui
sequer um membro religioso dedicado diretamente à educação dos alunos.
Se o católico que leva a sério sua fé e a educação de seus filhos for olhar
minuciosamente em cada escola ou universidade católica de nosso país e
perguntar quantos membros da congregação dirigente são professores ou se
todos o são ficará estupefato. Além disso, se tiver a preocupação de, antes
de matricular seu filho, examinar os livros didáticos e a atuação do corpo
docente, em pouquíssimos casos talvez não saia correndo.
Não poucas vezes chegou-me a denúncia de que tal “escola católica” usa-
va livros didáticos, governamentais ou não, que exaltavam diversos pontos

29
MARY KAY CLARK

conflitantes com a fé cristã, tal como o marxismo, a invasão de propriedade


privada, o sexo permissivo e o “matrimônio” de pessoas do mesmo sexo
apresentado como normal. Do ponto de vista da educação estritamente re-
ligiosa também nos chegam informações diariamente de “escolas católicas”
onde se ensina que todas as religiões são iguais, todas levam ao céu, tudo é
válido, onde os conceitos mais básicos do Catecismo da Igreja Católica são
pisoteados e enxovalhados.
A pergunta é: após terem passado por toda essa enxurrada de laicismo,
ateísmo, militância político-partidária, pacifismo e irenismo... ainda restam
Escolas Católicas? Quero crer que sim.
Em minha experiência particular posso dar fé que, tendo recebido uma
bolsa de estudos no melhor e mais conceituado “Colégio Católico” de minha
cidade e estudado com alunos filhos de pais ricos, durante todos os anos
só ouvi pregações marxistas em nome do Evangelho. Quando cursei meu
mestrado e doutorado no Brasil e outras especializações em uma famosa
“Universidade Católica” levei bem oito anos frequentando-a e nunca ouvi
nada de formação católica ou meramente cristã. Antes pelo contrário, vi e
ouvi professores decididamente contra a Igreja e contra Cristo. Nunca, nas
diversas turmas ou cursos frequentados, vi sequer a sombra dos diretores
religiosos daquela instituição, que nem ao menos foram algum dia a alguma
aula para expor as linhas cristãs de tal universidade.
Se, de modo geral, no ambiente dito católico, está assim, como estará o
ambiente escolar do chamado estado laico? Basta o leitor abrir qualquer jor-
nal e ver que nas escolas ocorre de tudo: instrumentalização de alunos, rou-
bo, sevícias, falta de merenda, greves intermináveis ou falta de professores,
morte, violência verbal, física e até sexual entre alunos, ou entre professores
e alunos. O “ensino” ou, antes, a pregação de ideologias frontalmente con-
trárias ao Evangelho. O ataque e a ridicularização da fé dos alunos cristãos.
Diante de todo este quadro caótico, muitos pais, conscientes de seus graves
deveres morais quanto à educação de seus filhos, têm recorrido à educação
domiciliar, o Homeschooling. Será uma tarefa para todos? Quem se habilita?
Não basta cobrar das autoridades mudanças no sistema educacional? Ou será
que o desmonte da educação faz parte de um plano muito bem orquestrado
para atacar e demolir os fundamentos da fé cristã e destruir as famílias?
O livro Homeschooling Católico, de Mary Kay Clark, vem, pois, res-
ponder a estas questões e de forma completa. Graças à iniciativa de Camila
Hochmüller Abadie, do blog Encontrando Alegria, e de Lorena Cutlak, Ed-
son Vieira Demétrio e Priscila Esteves Peres, este livro, que é um marco para

30
HOMESCHOOLING CATÓLICO

a divulgação e conscientização dos pais católicos - e também para todos os


pais cristãos – foi disponibilizado no Brasil.
O caminho que iniciado não é novo, é antes uma trilha antiga. Mas é
por esta mesma trilha, talvez já esquecida, talvez já com arbustos e cardos,
que se embrenham os pais que se preocupam com a formação integral - que
jamais exclui a fé em Cristo - de seus filhos. Talvez pela leitura deste livro
nem todos se sentirão chamados a adotar o modo de educação domiciliar,
mas certamente abrir-se-ão muitos olhos que estavam vendados e verão que
o problema educacional não se resolve apenas com bons salários e boa for-
mação aos professores, escolas bem equipadas e alunos campeões em olim-
píadas. Assim espero.
De minha parte, não desejo atrasar mais o encontro do leitor com tão
importante obra; só me resta invocar sobre todos aqueles que traduziram e
produziram esta edição brasileira, bem como sobre o leitor e sua família, as
mais copiosas bênçãos de Deus.

Padre Cléber E. S. Dias

31
Pai nosso que estais no céu
Introdução

A
história de como tornei-me diretora da Seton Home Study School
é, em muitos sentidos, a história de uma típica família católica bus-
cando, em tempos confusos, viver de forma autenticamente católica.
Tive a oportunidade de conhecer várias cidades nos últimos anos, e sempre
me surpreendeu como são similares as histórias das famílias católicas que
lutam para manter a Fé.
Sou a mais velha de uma família de nove filhos e cresci durante as dé-
cadas de 1940 e 50 em Bethesda, Maryland, um subúrbio de Washington,
D.C. Meus pais eram politicamente ativos no Partido Republicano e cons-
tantemente militavam por melhores leis para a educação e questões relativas
à família. Eles preocupavam-se com as escolas públicas de nossa região e
queriam uma educação de melhor qualidade; certa vez meu pai chegou a
concorrer para a diretoria da escola local. Eles eram ativos na Igreja e na
escola paroquial. E, nos anos 50, lutavam contra a pornografia, dando pa-
lestras a grupos de pais.
Em Cleveland, Ohio, durante o ensino médio, conheci Bruce, que viria a
ser meu marido; antes, porém, estudei por quatro anos em uma faculdade
católica. Bruce e eu nos casamos no mês em que me formei, e eu continuei
minha educação na Western Reserve University e na Catholic University,
onde obtive meu título de mestre. Meu marido era do exército enquanto eu
cursava a universidade, e mais tarde, depois de nos casarmos, ele foi convo-
cado por ocasião da Crise de Berlim. Meu primeiro filho, Kenneth, nasceu
quase um ano após nosso casamento.
Nos primeiros anos da década de 60, embora eu fosse casada, estivesse
grávida, trabalhasse como bibliotecária e fosse graduanda em bibliotecono-
mia na Western Reserve University, também era ativa na Igreja e em ativida-
MARY KAY CLARK

des políticas, junto com minha mãe. Após a publicação da encíclica Pacem
in Terris, nós duas íamos a conferências ouvir “católicos” dizerem que pre-
cisávamos “viver em harmonia” com socialistas e comunistas, e a palestras
em que mulheres “católicas” davam sua própria versão do que significava ser
uma mulher católica moderna.
Durante os anos 60, a fé das famílias sofreu um primeiro golpe com os
“novos” textos religiosos adotados pelas escolas e cursos paroquiais. Os no-
mes das editoras entraram no vocabulário rotineiro das casas, pois tornou-se
comum, por todo o país, os pais compararem trechos de textos com parentes
e amigos. Minha mãe fundou o grupo Pais Preocupados de Cleveland, um
grupo dedicado à resistência à nova religião que vinha sendo promovida
nas escolas católicas. Essa batalha estava em curso quando me mudei para
Columbus, Ohio, com Bruce e nossos três filhos pequenos. Lá, fui convidada
por um grupo de pais a analisar um material didático destinado ao catecis-
mo. Após muitas horas de pesquisa na livraria de um seminário, debruçada
sobre os ensinamentos da Igreja, convenci-me de que os “novos” textos reli-
giosos não continham verdades católicas.
O problema fundamental daqueles novos materiais didáticos sobre re-
ligião era que não ensinavam sobre Pecado Original, pecado atual, Confis-
são, os Dez Mandamentos, o Santo Sacrifício da Missa como reprodução
do sacrifício de Cristo no Calvário, nem nada disso. A ênfase era em cada
indivíduo poder tomar suas decisões pessoais segundo seu melhor interesse;
a verdade era subjetiva. As crianças não aprendiam que a Igreja Católica é a
Verdadeira Igreja, nem que o Papa é o vigário de Cristo na Terra. Verdades
eclesiásticas, quando mencionadas, eram apresentadas como simplesmente
mais um ponto de vista entre muitos possíveis.
A organização Católicos Unidos pela Fé foi criada durante esse período
turbulento, com o objetivo de avaliar os materiais didáticos religiosos utili-
zados no país. O jornal The Wanderer tornou-se muito popular, acolhendo
todos os que, como nós, sentiam-se sozinhos.
Os pais católicos de Columbus, como os de outras cidades por todo o
país, não estavam dispostos perder a batalha sem lutar. Nossa primeira me-
dida foi imprimir os trechos questionáveis dos novos materiais religiosos e
distribuí-los em todas as Igrejas Católicas, durante os horários de Missa, ao
longo de todo um fim de semana.
Essa iniciativa causou um verdadeiro fusuê, que resultou na formação de
uma organização municipal, a Pais Católicos de Columbus, que dentro de
pouco tempo já contava com pais de todo o estado. Nós publicávamos um

34
HOMESCHOOLING CATÓLICO

boletim de notícias mensal e organizávamos encontros com padres e comitês


paroquiais, com o Conselho de Educação Diocesano e até mesmo com o
bispo. Também tínhamos um programa de rádio semanal onde ensinávamos
os dogmas da Fé.
No entanto, após cerca de um ano, nenhuma mudança fora levada a
cabo pelos pedagogos e autoridades diocesanas, e não apenas isso: haviam
surgido versões atualizadas dos novos materiais didáticos religiosos, que se
distanciavam ainda mais dos ensinamentos tradicionais da Igreja. Então, co-
locamos em prática um segundo projeto de “apostolado de estacionamen-
to”, que percorria toda a área de Columbus, até à região metropolitana. E,
depois de dois anos, o mesmo projeto foi posto em prática pela terceira vez.
Mais anos se passaram, e embora os pais continuassem a reclamar e exigis-
sem o retorno aos ensinamentos tradicionais da Igreja, a situação ia de mal a
pior. No fim da década de 60, o primeiro programa de educação sexual chegou
às escolas católicas: a série Tornando-se uma pessoa, da editora Benziger.
Nossa associação mais uma vez protestou. Publicamos um folheto com
citações literais da série Tornando-se uma pessoa e o distribuímos em todos
os estacionamentos de paróquias, em todas as Missas, em todas as igrejas
da grande Columbus, ao longo de um fim de semana. O resultado? Os pais
reclamaram da pornografia que estávamos afixando em seus para-brisas,
mesmo que as citações explicitamente sexuais houvessem sido retiradas dos
livros didáticos que seus filhos estavam utilizando na escola! Frequentadores
de igrejas protestantes da região ficaram muito irritados quando seus carros
foram alvo, por acidente, da “pornografia católica”.
As autoridades diocesanas não gostaram do movimento dos pais contra
suas modificações tão “relevantes”, que visavam apenas ao benefício das
crianças! Tivemos uma reunião com o conselho escolar diocesano para re-
gistrar nossa queixa oficialmente, porém sem retorno. Reunimo-nos com
o Bispo, que nos questionou sobre quais teólogos nós andávamos lendo.
Encontramo-nos com pais e padres de várias paróquias.
Como um rolo compressor, as escolas católicas continuaram a propagan-
dear uma religião nova e confusa que os pais não reconheciam, a implemen-
tar o humanismo secular nas demais disciplinas, especialmente nos estudos
sociais, e a utilizar um material de conteúdo sexual explícito, fraudulenta-
mente intitulado Educação para a vida em família. Éramos obrigamos a nos
rebaixar e discutir perversões sexuais explícitas.
Em 1971, nós, da associação Pais Católicos de Columbus, sentimos que
nossas energias estavam sendo desperdiçadas na tentativa de modificar as

35
MARY KAY CLARK

escolas e/ou os educadores. Então, a associação mudou completamente sua


abordagem. Decidimos fundar nossa própria escola católica, a Mater Dei
Academy, em Columbus, Ohio.
Ao longo dos anos 70, a Mater Dei foi um tremendo sucesso. Ela existe
até hoje. Pais de outras cidades por todo o país fundaram escolas semelhantes.
O professor de filosofia, Dr. William Marram, fundou a rede de escolas Holy
Innocents [“Sagrados Inocentes”]. O colunista do Wanderer, Frank Morris,
fundou uma escola em Denver. Anne Carrol, esposa do Dr. Warren Carrol,
fundador do Christendom College [Faculdade Cristandade], fundou a Seton
School na região metropolitana de Washington, D.C. Escolas semelhantes apa-
receram em Cincinnati, Cleveland, Detroit, Denver, Nova York, Dallas, Los
Angeles e outras regiões do país. Algumas ainda estão em atividade.
Num dado momento, deve ter havido, no país, cerca de 200 pequenas es-
colas católicas administradas por pais de alunos. Alguns membros de nossa
associação, após auxiliar vários grupos de pais em estados próximos, orga-
nizaram uma convenção em Cleveland para ajudar a fundar escolas adminis-
tradas por pais e apoiar o homeschooling. Essas escolas tinham nomes como
Agnus Dei, Mater Dei, Nossa Senhora de Fátima e Academia Rosário. Os
nomes refletiam o amor dos pais pela Mãe Santíssima, pelo Rosário e pelo
uso do latim na cultura católica.
Embora algumas dessas escolas existam até hoje, à altura dos anos 80 a
maioria dos pais já estavam exaustos diante da dificuldade enorme que é sus-
tentar uma família e administrar uma escola ao mesmo tempo. Em 1985, cada
vez mais famílias católicas tomavam a decisão de ensinar seus filhos em casa.
Em 1982, a Seton Home Study School foi fundada por Anne Carrol como
uma subdivisão da Seton School, situada em Manassas, Virgínia. Nossa fa-
mília mudou-se para Front Royal, Virgínia, para ficar próxima do Christen-
dom College, onde meus dois filhos mais velhos cursavam a universidade.
Em 1983, passei a integrar a Seton Home Study como diretora assistente.
Naquela época, tínhamos cerca de 50 alunos na divisão de estudo domi-
ciliar e 100 na escola diária. Hoje a escola diária tem cerca de 350 alunos,
enquanto a escola de homeschooling tem 11.000. Em 1991, a divisão de
estudo domiciliar havia crescido tanto que a Seton Home Study separou-
-se oficialmente, enquanto entidade legal, da escola diária. Em 1981, a ad-
ministração da divisão de estudo domiciliar situava-se uma sala do prédio
da Seton School. Hoje, nosso prédio tem, no total, cerca de 40.000 metros
quadrados. Temos 75 funcionários de meio período e muitos empregados
externos e temporários.

36
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Tenho conhecido famílias de todo o país e vejo sempre um padrão repe-


tir-se. Os pais primeiro fazem queixas às autoridades eclesiásticas, na espe-
rança de que seus motivos sejam compreendidos e de que o ensino religioso
reaproxime-se dos ensinamentos da Igreja. Contudo, logo descobrem que
seus protestos são inúteis. Então, após alguns anos, alguns deles fundam
escolas ou simplesmente começam a ensinar seus filhos em conjunto com
uma ou duas outras famílias – ou começam o homeschooling com apenas
um ou dois filhos, ou inscrevem-se em uma escola de apoio ao homeschoo-
ling, como a Seton Home Study. Os modos podem divergir, mas a ênfase é
a mesma: os pais tornam-se professores; os alunos aprendem com os pais.
O que a nova leva de educadores e catequistas católicos não havia previs-
to é que os pais de hoje são melhor informados; as mães têm mais confian-
ça em si mesmas e em sua capacidade de educar seus próprios filhos. Nua
primeiro momento, os educadores católicos conseguiram intimidar os pais
quanto ao conteúdo dos materiais didáticos religiosos, fazendo-os duvidar
de sua compreensão da fé que aprenderam na infância. Mas esses educado-
res, em especial padres e freiras, enganaram-se ao pensar que conseguiriam
ludibriar os pais quanto aos programas de educação sexual.
Alguns líderes eclesiásticos minimizam os abusos cometidos pela nova edu-
cação católica e recomendam a paciência, porém os pais não podem esperar
por dias melhores às custas das almas de seus filhos. As crianças são formadas
dia após dia, o que justifica a pressa dos pais em tomar medidas práticas. A
Igreja pode esperar décadas para lidar com certos problemas, mas as crianças
dispõem de apenas alguns poucos anos durante os quais, ou aprendem a ser
bons católicos, ou afastam-se da Igreja, da Fé, da salvação eterna.
Sempre que converso com avós ou pais de mais idade, lágrimas lhes vêm
aos olhos ao admitirem ter perdido seus filhos mais velhos. “Meus filhos não
querem ter filhos” é um comentário frequente. Pais jovens, contudo, têm
descoberto, com a graça de Deus, o grande privilégio e a grave obrigação
que têm de educar seus filhos. Mesmo alguns pais que desconhecem em pro-
fundidade os ensinamentos católicos estão determinados a manter suas fa-
mílias firmes no caminho dos valores tradicionais. Eles amam Jesus e Maria
e recusam-se a manter seus filhos em escolas que rejeitam os ensinamentos
da Igreja, ou mesmo as verdades morais mais simples.
Os pais estão tirando seus filhos das escolas católicas porque não con-
seguem encontrar um único livro didático católico entre os materiais utili-
zados. Eles trazem seus filhos de volta para casa porque os professores nas
escolas dizem que pais que recitam o Rosário são antiquados. As mães não

37
MARY KAY CLARK

querem que seus filhos sejam alvos de risadas e abusos verbais da parte de
professores e colegas, para os quais o uso do escapulário é ridículo. Por fim,
os pais não querem que seus filhos sejam submetidos à degradação dos pro-
gramas de educação sexual.
As mães que praticam o homeschooling oferecem amor e estabilidade
aos seus filhos, bem como uma vida espiritual, ensinando-lhes o hábito de
recorrer a Jesus e Maria quando necessitarem de respostas e de tornar a vida
sacramental real e ativa no seio do lar.
Sempre que possível, as famílias que praticam o homeschooling reúnem-
-se umas com as outras para ir à Missa, recitar o Rosário, visitar santuários
marianos, confeccionar coroas do Advento, decorar altares de Maio e para,
de modo geral, transformar as crenças, a fé e os costumes tradicionais da
herança católica em uma parte integral de suas vidas. Por meio de seus prin-
cípios e atividades, as famílias homeschoolers têm preservado a Fé Católica
e se tornado uma resistência piedosa em tempos difíceis, inclusive porque
incentivam as vocações para a vida religiosa. Sobretudo, no entanto, elas es-
tão plantando as sementes -- através da formação de seus filhos -- para uma
nova primavera da Fé Católica.
Os pais de hoje percebem que vivemos em uma sociedade pagã na qual
os valores cristãos, particularmente aqueles relativos à vida em família, estão
sendo destruídos pela mídia e por políticas governamentais. Eles também
percebem que nossas crianças católicas têm perdido a Fé por culpa das esco-
las católicas em que antes podíamos confiar e que foram construídas com o
suor e o dinheiro de nossos pais e avós.
Os pais sabem que não podem mais delegar a terceiros a responsabilida-
de de transmitir a Fé a seus filhos. Chegou a hora de parar de pedir a padres
e bispos que apresentem soluções aos seus problemas. Os pais não duvidam
de que a Igreja sobreviverá, como prometeu Cristo. Contudo, eles têm des-
coberto que parte da promessa de Nosso Senhor consiste em providenciar a
graça para a revitalização da Igreja através de famílias católicas fortes. Os
pais homeschoolers estão respondendo a esta graça.

38
Capítulo 1
Por que homeschooling católico?

O
s motivos pelos quais as famílias católicas optam pelo homescho-
oling são tão variados quanto as próprias famílias. No entanto, ao
mesmo tempo em que cada família pode explicar seus motivos de
diversos modos, podemos identificar também algumas tendências. Há pais
com uma excelente formação, que acreditam ser mais capacitados para edu-
car seus filhos do que as escolas. Outros pais, por viverem em função do
bem-estar dos filhos, estão dispostos a dar o passo gigantesco de responsabi-
lizar-se por sua educação. Há ainda os pais que veem o homeschooling como
um modo de fortalecer seus laços familiares e de manter sua família unida,
num momento histórico em que metade dos matrimônios do país terminam
em divórcio.
Outros pais estão insatisfeitos com as escolas, sejam públicas, privadas
ou católicas. Muitas delas têm adotado uma agenda social anti-família, que
é despejada sobre as crianças através de professores e livros didáticos. O ho-
mossexualismo e os “casamentos entre o mesmo sexo” têm sido apresenta-
dos em muitas escolas como uma alternativa aceitável. Alguns pais também
recorrem ao homeschooling por receio das armas e facas, das brigas e da
violência física que fazem parte do cenário diário de muitas escolas hoje em
dia. Às vezes é necessário ocorrer algum ato de violência mais sério para que
os pais decidam que foi a gota d’água e recorram homeschooling.
MARY KAY CLARK

Alguns pais estão insatisfeitos porque percebem que as escolas são to-
talmente submissas à burocracia e aos regulamentos estatais. Ao invés de
investir em um ensino que alcance todas as crianças, algumas escolas pa-
recem mais interessadas em obter boas notas nas avaliações oficiais, o que
representa uma pressão enorme sobre professores e alunos.
E o pior é que mesmo as escolas católicas têm desapontado as famílias. O
sistema de ensino paroquial dos Estados Unidos teve uma excelente reputa-
ção por muitos anos. É um consenso entre católicos e não católicos que, nas
escolas paroquiais, é menor o número de alunos problemáticos e, devido à
base religiosa do ensino, os problemas comportamentais não são tão grandes
e o progresso educacional dos alunos é maior. Não há dúvida de que tudo
isso foi e ainda é verdade. O trabalho de muitas escolas paroquiais, especial-
mente nas cidades do interior, é nada menos do que heroico. Elas oferecem a
muitas crianças uma alternativa ao horripilante sistema de escolas públicas.
Contudo, mesmo sendo melhores do que as escolas públicas, a escolas
católicas nem sempre demonstram toda a integridade que se espera delas.
A partir da década de 1970, modificações fundamentais começaram a ser
implementadas nas escolas católicas paroquiais, na mesma época em que
os catecismos começaram a ser modificados: a doutrina foi diluída, alguns
dogmas sequer eram ensinados. Por volta dos anos 80, quando a educação
sexual foi introduzida nas escolas católicas, os pais se rebelaram em massa.
Havia uma enorme preocupação com a superficialidade dos novos catecis-
mos, mas o pior pesadelo dos pais eram mesmo os programas de educação
sexual. Quando as famílias começaram a protestar e, à medida que fun-
davam próprias escolas de pequeno porte, o ensino paroquial começou a
decair; cada vez menos pais confiavam à igreja a educação de seus filhos e as
escolas paroquiais começaram a fechar.
Por outro lado, o próprio sucesso das escolas católicas gerou um novo
problema. Muitos não católicos, hoje em dia, frequentam escolas católicas
e muitas delas têm professores ou mesmo diretores não católicos, de modo
que é impossível, para pais católicos, discutir o conteúdo das aulas com tais
educadores. Isto levou à perda da identidade católica em algumas escolas.
Em uma delas, localizada na Costa Leste, uma professora protestante incen-
tivava os alunos a frequentar um culto protestante. Os pais protestaram, o
pároco a dispensou, mas o bispo da região insistiu (provavelmente por moti-
vos ligados a leis trabalhistas) e manteve no cargo a professora protestante.
Isto reforça o ponto de que as escolas têm muitos eleitorados a que agradar.
Os direitos dos pais e alunos católicos acabam ficando para o fim da lista.

40
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Neste momento da vida da Igreja, existe ainda toda a situação envolvendo


o abuso sexual de crianças e os programas criados para “combater” esse mal
nas escolas, por meio da conscientização. São os chamados programas de “am-
biente seguro”, cujo conteúdo não corresponde ao que os pais desejam ensinar
aos seus filhos em tão tenra idade. Eles argumentam que a solução de “cons-
cientizar” milhares de crianças quanto ao abuso sexual, advertindo-as quanto
aos perigos de “toques bons e toques maus” que possam receber de parentes e
amigos, tem causado mais malefícios do que benefícios e não está solucionando
o problema. O problema não é o que se ensina ou deixa de ensinar às crianças,
mas o fato de parte dos membros da Igreja terem rejeitado a doutrina tradicio-
nal. De acordo com números da Associação Nacional de Educação Católica, de
2000 a 2004, as matrículas em escolas católicas nos EUA caíram de 2,6 milhões
para 2,4 milhões. Se isto se deu por conta dos escândalos de abuso sexual ou
pelos programas criados para combatê-los, não se sabe.
Anos atrás, muitos pais tinham medo de tentar o homeschooling, pois
preocupavam-se com a seriedade da tarefa e questionavam sua capacidade de
educar seus filhos. Eles temiam não ter a educação e os recursos necessários.
Porém, com o aumento do número de amigos e parentes que estão trilhando
esse caminho, e com os diversos grupos de apoio disponíveis, os novos pais
homeschoolers hoje sabem que não estão desamparados. Além disso, existem
programas de homeschooling como os da Seton Home Study School, que ofe-
recem ajuda especializada para cada disciplina e série escolar.
Todos já ouvimos falar das histórias e situações terríveis com que as fa-
mílias têm de lidar nas escolas. Vemos crianças apanharem, serem sexual-
mente abusadas e drogadas, às vezes por colegas, às vezes por professores. A
Education Week relatou que 8% das crianças das escolas públicas já foram
sexualmente abusadas ou assediadas por professores ou funcionários. Todos
já ouvimos falar nos episódios em banheiros escolares, onde crianças são
espancadas ou mortas, e nos incidentes em salas de aula vazias ou espaços
sem vigilância, sem contar o perigo nas ruas, durante o trajeto até a escola, e
os espancamentos e incidentes sexuais nos ônibus escolares.
E o problema não se resume ao perigo que essa selva escolar representa
para a sanidade espiritual, física e emocional das crianças; como se tudo isso
não bastasse, pouquíssimos alunos saem deste ambiente educados. As notas
baixas nos testes e a evidente falta de progresso acadêmico já se tornaram
tão comuns, que as pessoas se esquecem de que poderia ser diferente.
Recentemente, foi publicado um livro chamado A Plantação do Tio Sam,
no qual uma mulher negra dá seu testemunho sobre a agenda governamen-

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MARY KAY CLARK

tal vigente nas escolas públicas e em programas de renovação urbana. Ela


acredita que os pobres, especialmente entre a comunidade negra, são escra-
vos da agenda e dos programas de assistencialismo do governo. O pior de
tudo é que as crianças de famílias do interior aprendem a não se preocupar
com seu próprio futuro, pois o governo saciará todas as suas necessidades,
livrando-as do incômodo de considerar as consequências das atividades com
que desejem se envolver. Abortos, roubos, drogas – não faz diferença. Vá em
frente, se for sua vontade naquele momento.
As escolas católicas são influenciadas pela agenda política das públicas.
Praticamente não há editoras de livros didáticos católicos, isto é, livros de
história, ortografia ou inglês. Consequentemente, a agenda das escolas públi-
cas, por meio dos livros didáticos, infiltra-se nas católicas.
Em vez de perguntar por que os pais optam pelo homeschooling, talvez
devamos nos perguntar se algum pai continuaria submetendo seus filhos à
escola pública, dispondo de uma alternativa real e viável. Será que os pais re-
almente desejam matricular seus filhos no sistema público de ensino, ou são
pressionados pela lei e pelo alto custo da educação privada ou paroquial?
A maioria dos pais que buscaram outra solução e acabaram optando
pelo homeschooling fizeram-no após conhecer famílias homeschoolers e seus
filhos. São crianças e jovens que não usam drogas, são puros, tendem a ser
inocentes e vestem-se de forma simples e modesta. Eles não utilizam lin-
guagem inapropriada, nem aceitam as ideias da moda a respeito de sexo e
“casamentos” gays. Os jovens homeschoolers tendem a ser obedientes e con-
seguem conversar com consistência sobre vários assuntos. Às vezes, sabem
até mesmo discorrer com clareza sobre os ensinamentos da Igreja, a respeito
dos quais, em nossa história recente, não temos ouvido falar nem mesmo nos
púlpitos durante as Missas.

Educação Sexual

Cada vez mais pais têm optado pelo homeschooling por conta da adoção,
pelas escolas, de programas de “educação sexual” explícita, que na verdade
não é apenas educação sexual, mas o incentivo politizado da agenda ho-
mossexual, que promove uniões civis ao invés do casamento e demanda o
reconhecimento legal de seus modos de vida imorais. É lógico que, a partir
do momento em que casamentos homossexuais forem declarados legais em
um estado, como já ocorreu em alguns, o currículo de educação sexual terá
de ser modificado para incluir as práticas homossexuais. Diante disso, é de

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

se perguntar se as pessoas que hoje defendem “direitos matrimoniais iguais”


terão o mesmo entusiasmo quando a lei de igualdade exigir que práticas
sexuais gays e lésbicas sejam ensinadas em sala de aula.
A promoção do homossexualismo nas escolas é parte de um ataque siste-
mático às crenças judaico-cristãs tradicionais sobre sexualidade. Outro mo-
delo de ataque são as brigadas da camisinha, que invadiram praticamente
todas as escolas do país para espalhar sua mercadoria. Tristemente, mesmo
em escolas católicas, os professores vêm ensinando os alunos a utilizar a ca-
misinha, pois não têm dúvidas de eles serão sexualmente ativos. Já conversei
com mães que tiraram seus filhos de escolas católicas secundárias depois que
a Planned Parenthood foi convidada a palestrar para os alunos.
Já ocorreu de mães católicas descobrirem os programas escolares de edu-
cação sexual ao trabalhar como voluntárias em clínicas de apoio a grávidas
carentes e atuar no movimento pró-vida. Elas descobriram que as escolas públi-
cas não apenas mantêm “clínicas de saúde” que oferecem camisinhas e medica-
mentos abortivos aos alunos, mas também permitem que as moças utilizem um
dia na semana para visitar a clínica de saúde e passar pelo “serviço” de aborto,
“caso necessário” – e tudo isso sem conhecimento ou permissão dos pais.
A crise da AIDS ocasionou a adoção, pelas escolas, de novas agendas
demoníacas, inclusive a homossexual. Sob o disfarce de incentivar a não-
-violência, os direitos civis e a não discriminação contra grupos étnicos, os
novos currículos ensinam a crianças pequenas que o homossexualismo é
uma prática moralmente aceitável, que não deve ser discriminada nem trata-
da com “discurso de ódio”.
Uma mãe escreveu o seguinte relato muitos anos atrás. Hoje em dia não
é nenhuma novidade:
Recentemente, o sistema público de ensino de Nova Jersey, Nova York e Con-
necticut anunciou que começará a introduzir três novos livros na primeira
série: O Colega de Quarto do Papai, Heather tem Duas Mães e Gloria vai à
Parada Gay. Todos esses livros têm como tema o homossexualismo e estilos
de vida “diferentes”. Em nossa opinião, isto é imoral e blasfemo. Quase não
acreditamos quando lemos isso. Eles aboliram a oração das escolas, apenas
para submeter nossas crianças impressionáveis a esse tipo de subliteratura.

Na PRIMEIRA SÉRIE! O homeschooling ganha novos adeptos à medida


que mães e pais tomam ciência dos programas de educação sexual e da pro-
moção da agenda homossexual nas escolas.
Muitas ditas aulas sobre saúde também ensinam aos jovens que filhos são
um fardo. Durante essas “aulas”, as alunas têm de carregar pesados sacos de

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MARY KAY CLARK

farinha ou ovos e os levar aonde quer que vão. Elas são forçadas a tratar esses
objetos como bebês recém-nascidos; de modo que, por exemplo, só podem ir
ao banheiro caso alguma amiga aceite “vigiar o bebê”. Algumas escolas têm
inclusive bonecos especialmente confeccionados para essas aulas, que choram
sem parar, entre outros comportamentos estressantes. Outras escolas fazem
as crianças carregarem pesos em seus abdomens, para simular o desconforto
da gravidez. As alunas são bombardeadas com todos os pontos negativos da
gestação e da criação de filhos, sob o pretexto de prevenir a gravidez na ado-
lescência; ao mesmo tempo, contudo, é reforçada a mensagem de que filhos
são um problema a ser evitado, não um dom a ser apreciado.

Formação de caráter

Muitos pais optam pelo homeschooling devido à ampla gama de ideias


falsas e imorais propagadas por livros, professores e discussões em sala de
aula. É comum eles perceberem esses problemas a partir da literatura que
seus filhos têm de ler para a escola. As histórias desses livros costumam
tratar de pessoas jovens que se envolvem em atividades sexuais precoces,
sem qualquer indicação de isto ser uma conduta imoral. Os livros ensinam
às crianças que a fornicação é um comportamento normal e que “tomar a
pílula” é tão comum quanto usar calças jeans apertadas.
Uma escola pediu a uma menina da oitava série que escrevesse um tra-
balho sobre um livro que contava a história de uma mulher que consultou
uma bruxa e cujo marido havia cometido adultério com essa bruxa. Quando
a mãe protestou contra o livro, a professora afirmou simplesmente que as
crianças gostam desse tipo de leitura. Ela foi então falar com o diretor, que
lhe informou que sua preocupação era “apenas sua opinião” e que ele não
poderia fazer nada mesmo que ela submetesse uma queixa formal. Alguns
pais já solicitaram que seus filhos escrevessem relatórios sobre outros livros,
mas a maioria dos professores insistem na necessidade de os alunos consu-
mirem esse tipo de literatura pornográfica.
Uma mãe retirou sua filha adolescente de uma escola católica no primeiro
ano do ensino médio. Ela relatou que sua filha era obrigada a discutir diaria-
mente em sala de aula com os alunos e a professora, defendendo os valores
pró-vida e várias outras doutrinas católicas tradicionais. A menina estava o
tempo todo tão agastada que mal conseguia concentrar-se em seus estudos.
Um pai começou o homeschooling com sua filha depois de visitar a sala
de aula da escola católica secundária em que ela estudava, em um dia em que

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

os alunos estavam debatendo sobre os presidentes Clinton e Bush. Quando


o aborto foi mencionado, o professor disse que não era um tema pertinente
no debate, porém, mais tarde, permitiu que os alunos pró-Clinton gritassem
o refrão “direito de escolha” enquanto os alunos pró-Bush falavam.

Desempenho escolar

A opção de alguns pais pelo homeschooling se justifica pelo fato de as


escolas dedicarem cada vez menos tempo às disciplinas curriculares básicas.
Eles não aceitam que seus filhos tirem notas A e às vezes sejam até classificados
como superdotados, mas na prática aprendam tão pouco. Uma mãe escreveu:
O tempo que deveria ser gasto com o ensino de disciplinas básicas é utilizado
para a discussão de estratégias para se atingirem os objetivos da Nova Era, ou
com exercícios de “tomada de decisão” que terminam com uma votação de
toda a turma. A “criatividade” é o deus da educação atual, criado para enco-
brir as gritantes deficiências após trinta anos de má gestão do ensino. A única
área onde, em geral, a autodisciplina e o empenho pessoal são fundamentais
para se atingir o mais alto patamar de excelência é a dos esportes.

O maior problema relatado pelos pais com relação ao ensino nas escolas
é que as crianças não estão aprendendo a ler. Em vez do método fônico, de
comprovada eficácia na alfabetização, a maioria das escolas utiliza o método
olhar-e-dizer, ou a novidade do momento, o método da linguagem global.
Independentemente de qual seja o método mais recente, ou de como ele é
chamado, se não for fônico, as crianças não aprenderão a decodificar sons
para ler palavras. Outros métodos podem funcionar por alguns anos, mas
lá pela quinta ou sexta série sua ineficiência virá à tona. E é óbvio que, se
uma criança não souber ler, suas notas em todas as disciplinas despencarão
rapidamente.
Os Estados Unidos são hoje a 49a. nação do mundo em desempenho edu-
cacional e 39a. em alfabetização. Um entre cada quatro alunos americanos
jamais chegará ao ensino médio; e um entre cada quatro que cursam o ensino
médio jamais concluirá o nível superior. O Departamento de Educação dos
EUA realizou uma Pesquisa de Alfabetização Nacional, que estimou, em 1993,
que entre 40 e 44 milhões de adultos no país são analfabetos funcionais.
Além das falhas educacionais dos sistemas escolares, os inúmeros casos
de alunos homeschoolers bem sucedidos também têm feito uma ótima pro-
paganda para o homeschooling. Com o sucesso das crianças homeschoolers
em concursos nacionais de soletração, geografia e redação, os pais passam a

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MARY KAY CLARK

ver com menos desconfiança o ensino doméstico. Apesar de os alunos homes-


choolers corresponderem a apenas 2% da população escolar, eles são sempre
em torno de 10% ou mais dos finalistas do Concurso Nacional de Soletração
Scripps-Howard. Em 2004, os homeschoolers eram 13,2% dos soletradores.
Nas palavras de Paige Kimble, diretora do Concurso: “Eu creio que isso cause
um certo espanto. E, francamente, causa também respeito e inveja.”
Quando os pais veem alunos homeschoolers vencerem concursos de so-
letração ou de geografia, não têm mais dúvidas de que o homeschooling é
academicamente eficiente. Michael Smith, da Associação de Defesa Legal do
Homeschooling, diz que esses casos de sucesso tornam o ensino domiciliar
“mais confiável para muitas pessoas que antes julgavam tratar-se de uma
modinha seguida por esquisitões que querem esconder-se no meio do mato
e isolar seus filhos.”
Há autoridades em todos os campos, mesmo no Congresso, ensinan-
do seus filhos em casa. Consequentemente, o homeschooling já não é visto
como algo tão esquisito ou fora do comum. À medida em que se torna uma
opção mais aceitável, e que cada vez mais famílias seguem por esse caminho
e são bem-sucedidas, aqueles pais que antes relutavam diante da ideia do
homeschooling passam a considerá-lo uma possibilidade real.
O fracasso do sistema escolar americano, mesmo para o ensino das dis-
ciplinas básicas, já era reconhecido por líderes nacionais pelo menos desde o
Governo Reagan. Programas federais visando à garantia de direitos, como o
“Nenhuma Criança Ficará Para Trás”, são um modo que governo encontrou
de tentar lidar com esse fracasso. Enquanto os cidadãos esperarem que a mu-
dança venha através da restauração das escolas, qualquer modificação po-
sitiva, se ocorrer, virá lentamente. As famílias homeschoolers não desejam o
fracasso das escolas institucionais, mas não perdem de vista o fato de que os
pais têm apenas uma única oportunidade de educar cada um de seus filhos.
Mesmo os pais de filhos que vão muito bem nas escolas institucionais
e que estão razoavelmente satisfeitos com as escolas que escolheram têm
reclamado. Há uma minoria crescente de alunos mal comportados e fora de
controle, e os professores, quase sempre estressados, gastam tempo demais
tentando lidar com eles. A política atual de colocar crianças com deficiências
graves em classes regulares, se é louvável em teoria, na prática estressa ainda
mais os professores e os demais alunos. A necessidade de manter a classe sob
controle tem feito com que cada vez mais crianças recebam medicações para
ajudá-las a ficar quietas. E, em meio ao caos da sala de aula, alunos inteli-
gentes e prestativos costumam ser ignorados. É comum que os bons alunos

46
HOMESCHOOLING CATÓLICO

sejam designados para auxiliar seus colegas mais atrasados. Assim, pais que
ensinaram aos seus filhos um comportamento moralmente reto e que os mo-
tivam a buscar um bom desempenho acadêmico sentem que a educação que
lhes seria de direito está sendo roubada.

Chorem por seus filhos…

Quando Jesus disse essas palavras às mães, Ele não se referia às crianças
que perdem suas vidas físicas, mas às que perdem suas vidas espirituais,
suas almas.
Jesus disse certa vez a Seus Apóstolos: “Em verdade vos digo, meus ami-
gos, não temam aqueles que matam o corpo (...) porém não podem matar a
alma. Temam, sim, aquele que tem o poder de destruir tanto a alma quanto
o corpo no Inferno.”
Como diretora da Seton Home Study School, recebo todos os dias muitos
telefonemas de pais e mães. Os relatos que escuto sobre alunos que sofrem
violência física nas escolas me entristecem. Mas os telefonemas mais per-
turbadores são os de pais que dizem: “Cinco de meus filhos estudaram em
escolas públicas e todos perderam a Fé. Tenho apenas minha caçula em casa
agora, e quero fazer o homeschooling para tentar salvá-la.”
As almas dos bebês não podem ser destruídas pelos abortistas, porém as
almas das crianças podem ser destruídas pela escola.
Ouvindo todos os dias as histórias tenebrosas relatadas pelos pais sobre
as escolas públicas, é difícil não chegar à conclusão de que o ensino público
desta nação é seu principal inimigo, e inimigo de todas as suas crianças. As
escolas e sua promoção das drogas através de programas de “conscienti-
zação”, sua disseminação do analfabetismo através de métodos de alfabe-
tização equivocados, seu endossamento da contracepção e do aborto, seu
endossamento do homossexualismo e apresentação do casamento gay como
um “estilo de vida alternativo”, sua propagação de conceitos inapropriados
e deprimentes que podem levar a desequilíbrios psicológicos e mesmo ao
suicídio – esses são os verdadeiros campos de treinamento dos inimigos de
Jesus Cristo e Sua Igreja.
A Carta dos Direitos da Família, publicada pelo Papa João Paulo II em
1982, declara que os pais não devem enviar seus filhos a nenhuma escola que
se posicione contra suas convicções religiosas e morais.
Bem, e o que fazer quando todas as escolas disponíveis vão contra a mo-
ral católica e as convicções religiosas da sua família?

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MARY KAY CLARK

Vivemos uma guerra espiritual. Façam todos os discursos que quiserem,


as crianças não os escutarão após terem sido treinadas no campo do inimigo.
Escrevam todos os livros que quiserem, os católicos não os lerão após terem
sido treinados no campo do inimigo. Levem à justiça todos os casos cons-
titucionais que quiserem, os juízes e jurados terão sido treinados no campo
do inimigo e sequer compreenderão o que está em questão. Nossos inimigos
espirituais estão sendo treinados nas escolas! O futuro pertence às crianças,
como nossos inimigos bem sabem. E as crianças estão sendo treinadas no
campo do inimigo!
Enquanto seus filhos e netos, seus sobrinhos e sobrinhas e os filhos do seu
vizinho estiverem sendo treinados no campo do inimigo, eles, os nossos ini-
migos espirituais, não precisam preocupar-se com os livros que escrevemos
e os discursos que proferimos. Eles têm as crianças. Eles têm o Futuro a seu
serviço. Se não trouxermos as crianças de volta para casa, para a família, e
lhes ensinarmos as verdades da Fé Católica, os líderes de amanhã não nos
ouvirão, pois não compreenderão a Verdade. Eles estarão cegos pelo huma-
nismo secular. Eles estarão impassíveis diante da Verdade.
Talvez a cultura secular em nossos tempos já tenha avançado tanto, que
é difícil esperar por mudanças. Os humanistas seculares ocupam posições
de juízes, juristas, educadores, superintendentes escolares, advogados, le-
gisladores, autores de livros didáticos e professores. Eles não perdem uma
única oportunidade de nos impor seus valores, ao mesmo tempo em que
julgam nossos padrões morais “inconstitucionais”. Adotar seus valores é
ter “mente aberta”, mas defender os nossos é “intolerância”. A mesma se-
mana em que vimos Martha Stewart ir para a cadeia por mentir sobre sua
negociação de ações nos trouxe também a legalização do “casamento gay”
em Massachusetts.
No entanto, há esperança na próxima geração de adultos educados em
casa. Podemos ter grandes expectativas quanto a uma geração que está cres-
cendo em meio à autêntica vida católica, uma geração que está recebendo
uma educação melhor do que a oferecida às anteriores pelas escolas, livre
da influência de colegas e comportamentos perversos e vivendo com temor
às verdades de Deus. Os homeschoolers são pensadores independentes. Eles
não sofrem pressão grupal (não há uma sala de aula coletiva) e não respon-
dem a qualquer autoridade além de Deus e Seus representantes, os pais, que
lhes ensinam a Fé Católica que inspira suas vidas.
Crianças católicas educadas em casa segundo um programa integral de
catequese familiar podem ser e efetivamente serão líderes no processo de

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

restauração da nação e da Igreja Católica. Não é tarde demais. Nunca é


tarde demais.

Formando “católicos de berço”

Os pais que praticam o homeschooling não tardam a perceber que este é


um estilo de vida muito especial. Nós nos apegamos tanto a ele que, mesmo
que a melhor escola católica ficasse ao lado de casa, continuaríamos educan-
do nossos filhos por conta própria.
Em décadas recentes, algumas famílias fundaram excelentes escolas ca-
tólicas privadas. Algumas não deram certo, mas, mesmo onde deram, seus
administradores logo perceberam que gerir uma escola não é bom para a
vida em família. Como não contam com o apoio da comunidade paroquial,
o custo da mensalidade costuma ser muito alto, levando algumas famílias, li-
teralmente, à pobreza. Além disso, essas escolas muitas vezes ficam distantes
de onde moram os alunos, de modo que os meses de setembro a junho tor-
nam-se um pesadelo interminável de crianças entrando e saindo de carros.
Pais e mães de famílias numerosas têm deixado seus filhos com babás para
trabalhar como “voluntários” nas escolas, não raro tendo de vender doces e
papel de presente para complementar sua renda. Enquanto isso, as famílias
homeschoolers podem desfrutar de uma serenidade desconhecida para essas
famílias cujas vidas são sugadas pelo trabalho nas escolas.
Para um observador neutro, o homeschooling consiste em você educar
seus filhos em casa, ensinando-lhes todas as disciplinas escolares. Para os
pais católicos homeschoolers, significa ensinar-lhes sobre Deus e Sua Palavra
e sobre a vida católica, tanto por meio de livros quanto através de exemplos
práticos, e ensinar as disciplinas escolares pela perspectiva das verdades de
Jesus Cristo.
A principal finalidade do homeschooling católico é formar santos. O mo-
tivo pelo qual os pais têm de assumir a responsabilidade de educar seus
filhos é a formação de católicos de berço. Um católico de berço é uma pessoa
nascida em uma família católica e criada em intimidade com a cultura, as
tradições e a fé da Igreja Católica, através de palavras, ações, canções, Sa-
cramentos e sacramentais. Tal instrução é responsabilidade primeiramente
dos pais, mas também dos outros membros da família. Em nossos tempos, é
comum os pais católicos serem convertidos ou reconversos à Fé. No entanto,
mesmo que não tenham sido criados em um ambiente solidamente católico,
eles ainda podem criar tal ambiente para seus filhos.

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MARY KAY CLARK

Na sociedade atual, confusa e pagã, precisamos formar uma geração de


católicos de berço. Nossos filhos serão uma pequena minoria entre a multidão
dos que assimilaram os ensinamentos anticristãos da sociedade. Eles precisa-
rão da força e das graças adquiridas ao longo de uma vida inteira de vivência
da Fé. Crescer católico – em uma atmosfera de amor e, ao mesmo tempo, de
sacrifício e reparação – é necessário para uma geração que terá de defender
fielmente a Fé e proclamá-la com coragem em um mundo pós-cristão.
Criar filhos católicos, em um lar católico forte e estável, repleto da cul-
tura e das tradições católicas produzirá fiéis que entendem sua Fé e vivem
de acordo com ela. Historicamente, é possível que os católicos de berço,
nascidos e criados dessa forma, não tenham sido as pessoas mais aptas a
responder um questionário de teologia, porém eles sabiam em seus corações,
em suas almas e em seus próprios ossos o que significa ser católico. Eles ti-
nham um sensus fidei, um senso de fé. Sua devoção à Missa diária, seu amor
pela Mãe Santíssima e pelo Rosário, suas preces e velas acesas – tudo isso
caracteriza a autêntica vida católica, com compreensão e um amor profundo
por Jesus e Sua Igreja.
Hoje, a melhor defesa, e muitas vezes o melhor ataque, contra as heresias
e outras distorções das verdades católicas são as pessoas comuns – os leigos
– que vivenciam a autêntica vida católica ao longo do ano litúrgico.
Não é para menos que os sacramentais e a vida sacramental vêm sendo tão
sistematicamente atacados. As devoções simples do povo católico – o Rosário,
o escapulário, as Estações da Cruz, a Coroa do Advento – dão estrutura e
substância à Fé. O simbolismo dessas devoções ajuda o fiel a compreender os
profundos mistérios da existência, ali representados. Nossa atual sociedade
pagã tem privado milhões de fiéis católicos dos tesouros de sua Fé. Desde a
década de 60, as escolas católicas vêm adotando livros didáticos seculares, ao
mesmo tempo em que os pais católicos lhes confiam a instrução de seus filhos
quanto à Fé e à cultura tradicional da Igreja. A vida sacramental doméstica
ajudou os irlandeses a sobreviver a centenas de anos de perseguições, bem
como ajudou os japoneses católicos a sobreviver a centenas de anos sem se-
quer um padre. E, mesmo assim, a vida sacramental e os sacramentais são hoje
completamente desconhecidos para toda uma geração de católicos.
Não é exagerado dizer, nas palavras de nosso querido professor ca-
tólico, o já falecido Dr. William Marra, que, hoje, toda uma geração de
crianças foi privada de sua herança católica – não apenas o conhecimento
das graças e auxílios sobrenaturais oferecidos pela Igreja, mas também a
herança cultural católica.

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

Sem dúvida, os leigos começaram a reagir: a Sociedade da Missa Tradi-


cional (Traditional Mass Society), a organização Una Voce e sua demanda
por ordinariatos tradicionais, a Rede de Televisão Palavra Eterna (Eternal
Word Television Network) e os Católicos Unidos pela Fé (Catholics United
for the Faith). As escolas administradas por pais, fundadas nos anos 60,
hoje formaram uma Associação. A Faculdade Cristandade (Christendom
College), A Faculdade Magdalen (Magdalen College), a Faculdade Tomás
de Aquilo (Thomas Aquinas College), a Universidade Ave Maria (Ave Maria
University), A Faculdade Católica do Sul (Southern Catholic College), entre
outros – todas estas estão entre as inúmeras organizações fundadas por lei-
gos católicos para restaurar a Igreja, defender a Fé e proteger a família e os
não nascidos.
O homeschooling católico é um passo lógico e natural rumo à restaura-
ção da Igreja, que atualmente está em curso.
O homeschooling católico é um apostolado familiar na vanguarda da ba-
talha espiritual pela preservação da Fé, da cultura e das tradições católicas.
Se as mudanças não ocorrerem dentro da unidade básica da sociedade – a
família –, elas jamais ocorrerão dentro da Igreja e em nível nacional.
Os golpes sistemáticos que a cultura secular tem desferido sobre a família
têm sido devastadores para nossa Igreja e nossa sociedade. Como sempre,
são as crianças que mais têm sofrido com a perda dos laços familiares. A
destruição das famílias destruiu os corações e vidas de muitas crianças.
Os ataques e a quase destruição da família foram precisamente a causa
para que muitos membros da Igreja Católica e da sociedade americana em
geral perdessem seus valores cristãos. A partir do momento em que o homos-
sexualismo e os “casamentos” gays – um ataque direto à família e às crianças
– são aceitos e legalizados nos Estados Unidos, sendo considerados apenas
mais um modo de vida entre outros, não podemos mais fingir que vivemos
em uma nação cristã.

A necessidade do homeschooling

O único caminho restante às famílias católicas é trazer seus filhos de volta


para casa, mantê-los por perto e educá-los protegidos pelo sacrário da igreja
doméstica, nossos lares católicos. Muitos de nós, pais católicos homeschoo-
lers, escolhemos manter nossos filhos longe da influência da sociedade pagã
já desde o berço. Mas, ao mesmo tempo, queremos que eles estejam cientes
dos problemas da sociedade e preparados para a batalha que os espera.

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MARY KAY CLARK

Alguns pais católicos bem-intencionados acreditam que seus filhos devem


semear boas ideias católicas nas escolas públicas. Alguns militantes pró-vida
acreditam que as outras crianças precisam ouvir a mensagem de respeito à
vida que seus filhos levam à escola. Ao mesmo tempo em que compreendemos
a ideia e aplaudimos os esforços dessas crianças, nós, pais homeschoolers, dis-
cordamos veementemente da premissa de que as crianças devem tentar evan-
gelizar seus colegas. Não há nada de bíblico ou de remotamente católico na
ideia de que crianças devem passar seis horas por dia, cinco dias por semana,
em um ambiente que ataca sistematicamente suas crenças. Todos os livros
didáticos seculares são permeados por valores anticristãos, ideias da Nova Era
e opiniões feministas. Mas o pior é que eles estão repletos da mentalidade de
que tudo é relativo, de que a verdade não é absoluta, de que Deus é irrelevante
e de que uma ideia tem sempre ao seu lado outras de igual valor.
Os pais homeschoolers têm aversão aos horrores a que as crianças têm
sido submetidas em nome de uma falsa educação. Elas têm aprendido lin-
guagem e conceitos obscenos em seus livros didáticos! As escolas as expõem
a textos e imagens explicitamente sexuais, o que tem por consequência a
aceitação de atividades perversas como comportamentos normais. As meni-
nas são incentivadas a ter namorados, o que, junto a educação sexual, tem
levado algumas crianças à ruína emocional.
Num ambiente como esse, mesmo os filhos de católicos sérios assimilarão
alguns valores e atitudes da modernidade secular. Como esperar o contrário?
Eles estarão em contato com terminologias e informações inapropriadas,
não apenas para sua idade, mas para qualquer cristão decente. Crianças
católicas – mesmo criadas pelas melhores famílias – são seres humanos sus-
cetíveis à influência da enxurrada de ideias anticatólicas e imorais, bom-
bardeadas durante horas e horas todos os dias, nos livros didáticos, pelos
professores e por outros alunos. Para completar, tudo isso é reforçado de
forma ainda mais explícita por filmes e pela televisão, pelos vídeo games, por
jogos de computador e pela internet, pela “música” juvenil e pelos “heróis”
do esporte que personificam modos de vida imorais. Diante disso, qual chan-
ce tem um pai católico, que dispõe talvez de alguns poucos minutos por dia
para conversar sobre a perspectiva católica a respeito do controle de natali-
dade, sobre a verdadeira compaixão ou sobre o dom da vida? Geralmente,
as crianças passam mais tempo na escola do que com os pais. Como estes
poderiam, durante algumas horas à noite, desfazer todos os danos causados
pela escola durante cinco ou sete horas diárias?

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

Por que não optar por uma escola católica privada

O tempo, o dinheiro e a energia necessários para se gerir uma escola são


descomunais. Eu ajudei a fundar uma em Columbus, Ohio, da qual fui dire-
tora na década de 70.
Uma escola privada precisa ser administrada por alguém com filhos já cres-
cidos, ou que faça desta ocupação sua carreira. Mães que ainda estão gestando
e criando seus filhos são quem necessita desse tipo de escola, mas não podem
desdobrar-se na dupla função de mães de família e administradoras.
O problema interminável de angariar fundos para pagar o aluguel e os
salários pode ser física e emocionalmente exaustivo. Além disso, há o proble-
ma de encontrar bons livros didáticos católicos.
Muitas escolas católicas privadas, e mesmo algumas mantidas por ordens
religiosas, não utilizam materiais didáticos confessionais. A Seton Home Stu-
dy School hoje produz livros didáticos católicos que têm sido adquiridos por
muitas escolas privadas.
Algumas dessas escolas conseguem manter-se, mas muitas não conseguem.
A maioria delas dura pouco tempo. Muitas nem chegam a resistir por um ano
devido a pressões financeiras, problemas de liderança, diferenças de personali-
dade entre os membros do conselho administrativo, crianças com problemas de
aprendizagem e pais cujas ideias divergem de vários aspectos da gestão da escola.
Imaginemos que você consiga encontrar uma escola católica adminis-
trada por pais católicos totalmente comprometidos, onde se cumpra a boa
disciplina cristã e sejam utilizados livros didáticos católicos. Talvez os pro-
fessores até levem as crianças à Missa todas as semanas e estimulem a con-
fissão frequente. E, de quebra, imaginemos que a mensalidade seja razoável.
O fato, contudo, é que TODAS as escolas afastam as crianças dos pais e
de seus lares. Não importa quão boa seja a escola, ela acabará contribuindo
com o afastamento da criança da estabilidade e da força da família. Todo o
tempo passado na escola é tempo não utilizado para a formação de vínculos
duradouros dentro da família. O melhor professor não estará com a criança
no futuro, como pais e irmãos estarão.

Outros benefícios do homeschooling para a família católica

O homeschooling traz inúmeros benefícios para a família católica. Há


benefícios para cada membro individual, assim como para a família, a Igreja
e a nação.

53
MARY KAY CLARK

Para o aluno
Os benefícios para o aluno são óbvios. O desenvolvimento espiritual e
moral, que pode ser direcionado pelos pais de acordo com valores católicos,
é o mais importante e duradouro de todos os benefícios. No ambiente do-
méstico, nada compete com a influência dos pais, sejam colegas, livros didá-
ticos, freiras modernas ou professores de mentalidade secular. Crianças ho-
meschoolers tendem a ser inocentes e maduras seguindo seu ritmo natural,
sem precisar frequentar aulas de sexualização e discussões que transcendam
seus interesses naturais e nível de maturidade.
O desenvolvimento pessoal é pleno, pois as crianças crescem em uma
situação familiar estável. A personalidade do homeschooler é moldada pela
família, a unidade básica e natural da sociedade, e não por horas de intera-
ção com outros jovens de mesmo nível de imaturidade. Em consequência da
destruição de tantas famílias, crianças que ainda vivem com pais casados
costumam ser minoria nas salas de aula. Filhos de famílias que seguem um
modo de vida cristão pautado pelo sacrifício, e não pela gana materialista,
sentem-se como alienígenas nas salas de aula.
Outro ponto benéfico é proteger a criança do materialismo crescente que
tem sido despejado sobre a juventude desde a mais tenra idade, especialmen-
te através de anúncios publicitários agressivos. A pressão para se ter o que
é mais novo e mais caro, desde roupas até telefones celulares, começa antes
dos dez anos de idade. Tal pressão faz com que a criança associe seu valor
próprio aos objetos que possui e não ao seu caráter, o que será catastrófico
mais tarde, quando a vida lhe exigir sacrifícios.
O desempenho acadêmico do aluno homeschooler é sem dúvida superior.
Nos Estados Unidos, a ideia de que a escola não é um lugar onde se aprende já
é uma espécie de consenso. Após o Departamento de Educação dos EUA inves-
tigar a situação acadêmica das escolas do país, em 1983, publicou o panfleto
“Uma Nação em Risco”, onde afirmava que um desastre tão terrível sucedera às
escolas americanas, que nossa nação corria sério risco de perder sua liberdade.
Os autores, pedagogos burocratas que sempre defenderam o sistema, chegaram
ao ponto de dizer que, se uma potência estrangeira houvesse ofendido este país
como fizera o establishment educacional, seria considerado um ato de guerra!

Socialização
Outro benefício para o aluno homeschooler é o desenvolvimento social.
Há documentos papais enfatizando repetidamente o valor e a importância

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

de as crianças serem educadas em casa, pelos pais e outros membros da fa-


mília. Um papa afirmou que cada membro da família representa um micro-
cosmo de diferentes grupos da sociedade. Deste modo, as crianças aprendem
sobre as necessidades e interesses dos mais velhos ao conviverem com os
avós. Em uma família católica, é provável terem a oportunidade de aprender
sobre a fragilidade dos bebês e sua necessidade de proteção. Elas também
aprendem a perdoar ofensas recebidas, cultivando a paciência no convívio
com irmãos e irmãs pequenos. Crianças que estudam em casa aprendem a
servir aos outros, ajudando seus irmãos mais novos com seus estudos e ta-
refas. A obediência e o respeito pela autoridade são assimilados a partir do
exemplo diligente dos pais para com os avós e dos filhos para com os pais.
A interação das crianças com membros da família de diferentes faixas
etárias é muito mais benéfica ao desenvolvimento social do que a interação
com crianças de mesma idade escolar. Na maioria das escolas, há uma linha
quase visível separando os alunos por séries. Muitas crianças nas escolas,
quase sempre advindas de lares desfeitos, veem tão pouco seus pais que têm
escassas oportunidades de espelhar-se em modelos adultos. Crianças que vão
à escola tendem a seguir seus colegas. E os professores dedicam-se tanto a
promover a “liberdade” individual, que já não oferecem o exemplo de lide-
rança moral, social e pessoal de tempos passados.

Para a mãe
O homeschooling traz benefícios para a mãe católica, permitindo-lhe
cumprir a responsabilidade, inerente à sua vocação matrimonial, de edu-
car seus filhos. Ele promove um processo de amadurecimento para a jovem
mãe, que deve servir às pequenas criaturas que buscam sua orientação com
olhos cheios de amor. Isto faz com que a mãe deseje conhecer a Verdade,
para transmiti-la a essas almas que têm plena confiança em sua capacidade
e conhecimento.
Muitas vezes, quando uma jovem se casa, ela ainda não viveu a experi-
ência de se sacrificar pelos outros. Mas, com a chegada dos filhos, quando
ela assume a responsabilidade de acordar no meio da noite para acalmar
bebês que choram ou cuidar de crianças doentes, à medida que ela abre mão
de si mesma para servir aos mais fracos, ela inicia um evidente processo de
amadurecimento. O homeschooling é uma continuação desse processo, que
abrange desenvolvimento intelectual, social, pessoal e espiritual.
Se as mulheres católicas pudessem expressar suas emoções com pala-

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MARY KAY CLARK

vras desse mundo, as feministas se surpreenderiam com o enorme prazer e


a alegria que as mães sentem ao ensinar seus filhos. As mães homeschoolers
conhecem no fundo de seus corações o quão pessoalmente gratificante é tra-
balhar, ensinar, aprender e orar com seus próprios filhos.
Muitas mães choram de alegria quando seus bebês dão seu primeiro sor-
riso, ou sua primeira risada, ou dizem sua primeira palavra. Esses momen-
tos inexprimíveis acontecem enquanto uma mãe amamenta seu filho, ou o
ensina a dar seus primeiros passos ou a fazer o Sinal da Cruz. E continuam
quando ela lhe ensina o catecismo, adição e subtração, geografia, história
católica, ortografia e redação.
Quando a criança se torna adolescente, a mãe se alegra com sua habili-
dade ao discutir ideias, ao expandir sua mente para compreender a Fé, ao
deleitar-se com um jogo de palavras num poema. Ela vê seu jovem filho ler
um romance pela primeira vez e delicia-se ao conversar com ele sobre os
personagens da história.
Muitas mães homeschoolers me confessaram que sua própria educação
não fora das melhores quando eram jovens, mas que agora elas tinham um
grande prazer em reaprender tudo, desde como estruturar uma frase, até
tópicos de ciências e a Revolução Francesa.

Para o pai
O homeschooling católico também beneficia o pai, que pode prover as
necessidades de sua família e protegê-la em seu próprio lar. As crianças não
ficam dispersas por diferentes escolas ao longo do dia, nem se dispersam à
noite, em eventos promovidos pelas escolas, nem tampouco, após o jantar,
dispersam-se na companhia de colegas ou em atividades sociais longe de
casa.
Os pais trabalham duro para sustentar suas famílias e, ainda assim, em
nossos dias, é comum serem privados da alegria de conviver com seus filhos.
Quando a família pratica o homeschooling, o pai pode compartilhar das
alegrias que seu trabalho possibilita. Chega a ser cruel que os pais sejam
privados dessa alegria por conta de atividades escolares. Pais com filhos na
escola até podem passar algum tempo com eles, mas os pais homeschoolers
têm muito mais oportunidades de convívio familiar, pois os horários das
crianças são bem mais flexíveis.
Quando os filhos estão em casa à noite com seu pai, ou quando fazem
qualquer atividade em sua companhia, está sendo colocado em prática o

56
HOMESCHOOLING CATÓLICO

ensinamento da Igreja de que o relacionamento com a família e os filhos é


importante.
Por algum motivo, as crianças parecem ter um respeito inato pela auto-
ridade do pai. Se o pai pensa que estar em casa com os filhos é importante,
estará afirmando este valor no mesmo momento em que o colocar em prá-
tica. E não há dúvida de que crianças com esse tipo de vivência serão pais
presentes em casa para seus próprios filhos.
Os pais de famílias homeschoolers tendem a ter uma percepção mais
profunda de suas responsabilidades enquanto chefes de família, pois vivem
cercados de suas “responsabilidades” quase continuamente. Eles também se
tornam mais cientes das consequências de suas decisões e de como afetam,
tanto os membros individuais da família, como a família como um todo. O
pai será líder, mas também respeitará, e até mesmo necessitará da ajuda de
seus filhos, especialmente quando estes se tornarem adultos.
O pai católico homeschooler verá crescer sua compreensão do significado
da paternidade, sempre que perceber com que confiança seus filhos buscam
seu conselho e orientação, sua sabedoria e sua fé. Este pai muito provavel-
mente aprofundará sua vida espiritual ao guiar seus filhos na fé. Muitas
mães já me telefonaram para dizer que, quando seus maridos começaram
a participar dos afazeres do homeschooling e seus filhos começaram a lhes
fazer perguntas sobre a Fé Católica, eles próprios começaram a estudar e
aprender mais sobre a Fé. Diversas mães já me contaram que seus maridos
não católicos converteram-se após o envolvimento com o homeschooling,
que, segundo elas, foi um fator decisivo para essas conversões. Cerca de
vinte anos atrás, um padre, que acabara de visitar Roma, me disse que o
Papa João Paulo II defendia o homeschooling por acreditar que é um modo
de a família inteira aprender mais sobre a Fé. No entendimento do Papa, o
homeschooling beneficia especialmente os pais, que buscam conhecer a fé
mais a fundo para ensiná-la a seus filhos. Quando li pela primeira vez este
comentário, confesso que me soou um pouco estranho, mas com o passar
dos anos cada vez mais pais vêm até mim para dizer que aprenderam mais
sobre sua fé e aprofundaram sua vida espiritual estimulados pelo fato de
ensinar seus filhos.

Para a família
Além dos benefícios do homeschooling para membros individuais da fa-
mília, há benefícios para a família como um todo. O homeschooling tem

57
MARY KAY CLARK

o poder de fortalecer os vínculos familiares, à medida que todos se auxi-


liam no processo de aprendizagem. Ao trabalhar e aprender juntos, pais
e irmãos passam a compreender as virtudes e fraquezas uns dos outros e
desenvolvem virtudes cristãs que os ajudam a conviver pacificamente. Eles
aprendem a solucionar problemas em conjunto e a unir-se contra influên-
cias e pressões externas.
Algumas pessoas já me acusaram de idealizar demasiadamente o homes-
chooling. Em resposta, digo o seguinte: nem todas as famílias homeschoolers
são perfeitamente felizes. Como todas as famílias, temos nossas batalhas.
Acredito, também, que uma família com filhos na escola pode ser feliz, sau-
dável e unida. Contudo, com base em todos os telefonemas que recebi ao
longo dos últimos vinte anos, minha conclusão é que as famílias que ensinam
seus filhos em casa são mais felizes, a despeito das dificuldades, do que as
famílias com filhos na escola, mesmo que sejam “boas” escolas.

Para a comunidade
Crianças educadas em casa beneficiam a comunidade porque seus va-
lores não são moldados por colegas, mas por pais que lhes transmitem
os ensinamentos da Igreja a respeito dos problemas atuais de nossa so-
ciedade. Quando crescem, é comum esses jovens tornarem-se ativistas so-
ciais, militando especialmente contra o aborto. Entre os jovens cristãos,
são os homeschoolers os que mais denunciam clínicas de aborto e vão a
comícios pró-vida. Esse ativismo entre os jovens resultará, no futuro, em
uma geração de líderes católicos, educados, dedicados e ansiosos para
promover a mudança em nossa sociedade. Mesmo hoje, alunos egressos
do homeschooling já são líderes em nossa comunidade. Enquanto isso, os
católicos que frequentam escolas não apenas se omitem, mas alguns pais
inclusive me confidenciaram que seus filhos não concordam com eles e
rejeitam seus valores pró-vida e pró-família. Alguns pais também me con-
fidenciaram, com tristeza que seus filhos casados recusam-se a ter filhos,
ou vivem em pecado.

Para a Igreja
A Igreja Católica já vem colhendo os benefícios do homeschooling.
Quando os pais passam a ensinar seus filhos em casa, é comum aprofunda-
rem sua compreensão sobre o dom de ter filhos.

58
HOMESCHOOLING CATÓLICO

As famílias católicas homeschoolers obedecem à vontade de Deus e vi-


vem matrimônios abertos à vida. E a tendência é que seus filhos e netos
sigam pelo mesmo caminho, caso continuem o homeschooling.
O Papa prega constantemente a evangelização. Porém, a evangelização
mais efetiva é que se dá dos pais para os filhos. Em minha juventude, tínha-
mos por objetivo converter ao menos uma pessoa à Fé Católica. Ora, todo
pai católico tem a oportunidade de converter seus filhos à Fé. E, assim como
na conversão de amigos e vizinhos, o bom exemplo é o melhor meio para a
conversão de nossos filhos. Enquanto pais e mães homeschoolers, temos mais
oportunidades de dar bons exemplos, vivendo a autêntica vida católica e ten-
do nossos filhos ao nosso lado todos os dias. A família católica homeschooler
beneficia sua comunidade paroquial, em especial as outras famílias homescho-
olers e famílias que lutam para manter os valores católicos tradicionais.
A família católica homeschooler dá testemunho das verdades católicas,
das quais a maior é sem dúvida o fato de que, com a graça de Deus, a autên-
tica vida católica pode ser vivida.
Ao perceber o alto número de vocações religiosas que surgiam de famílias
homeschoolers, um bispo do Centro-Oeste fez um convite especial para que
algumas delas visitassem sua diocese e seu seminário. Ele compreendeu que
a família católica homeschooler estimula as vocações. Ouvimos isto ser dito
por diretores vocacionais de diversos seminários em flagrante expansão. Eles
afirmam que os jovens seminaristas que estudaram em casa conhecem bem o
catecismo e respeitam a vocação do sacerdócio.
Na Seton Home Study School, sempre ouvimos falar de alunos que in-
gressam na vida religiosa. Inclusive, Justin Ferguson, um ex-aluno da Seton e
hoje seminarista em Roma, teve a grande honra de fazer uma das leituras na
Missa de instalação do pontificado do Papa Bento XVI.

Para a nação
As deficiências da educação pública já foram repetidamente denunciadas.
Embora muitos já tenham defendido a ampliação do poder de escolha dos
pais como um modo de contornar o problema, a burocracia educacional
neste país não o permite. A única escolha reconhecida pelos burocratas da
educação é a que permite aos pais escolherem entre várias escolas públicas,
que são 99% idênticas. Mesmo as escolas cooperativas, que também são pú-
blicas, apenas com menos camadas de burocracia, têm sido implacavelmente
atacadas pelos sindicatos de professores.

59
MARY KAY CLARK

É irônico que escutemos o tempo todo se falar nos benefícios da diver-


sidade, ao mesmo tempo em que a burocracia educacional favorece sem es-
crúpulos a conformidade total. Diane Ravitch, historiadora da educação e
professora pesquisadora de educação da Universidade de Nova York, publi-
cou recentemente um livro chamado A Polícia da Língua (The Language Po-
lice), no qual cita inúmeros exemplos de palavras que são deletadas de livros
didáticos porque os burocratas da educação decidiram que certas palavras
e ideias são politicamente incorretas. Segundo um artigo do editor, o livro
“documenta a existência de um elaborado e bem estabelecido protocolo de
censura supostamente benéfica. (...) Mulheres não podem ser representadas
como cuidadoras ou fazendo serviços de casa. Homens não podem ser advo-
gados, médicos ou encanadores.”
Phyllis Schlafly, líder católica que discursa com frequência em conferên-
cias sobre catolicismo e educação, e que fundou, alguns anos atrás, o Fórum
Eagle, para encorajar mulheres a informar-se e tornar-se politicamente ati-
vas, tem escrito e publicado, há muitos anos, o boletim informativo Educa-
tion Reporter. O objetivo é inteirar os pais dos eventos terríveis e ridículos
que têm ocorrido nas escolas. Ela os instiga a reagir. Na edição de janeiro de
2004 do boletim, Phyllis relatou que uma turma de oitava série, em Nova
York, estava sem professor de matemática o ano inteiro, de modo que as
crianças assistiam a filmes durante as aulas dessa matéria. Um professor
de Washington, D.C., obrigava os alunos a repetir sem parar várias pala-
vras profanas, para dessensibilizá-los diante dos livros que, em seguida, os
mandava ler. Uma escola de Los Angeles dava créditos extras a alunos que
estudassem o Islã enquanto “jejuavam” por três dias durante o Ramadan.
Outros itens são impublicáveis.
Para todos aqueles que amam nosso país e querem devolvê-lo a Cristo,
a família homeschooler é sem dúvida um modo de ajudar a nação a crescer
no amor de Deus, e consequentemente a retornar à civilização e aos valores
cristãos. Nossas famílias católicas homeschoolers têm formado líderes com-
prometidos com os valores morais cristãos, famílias que ajudarão a restaurar
o bom senso do país. Essas famílias, hoje e no futuro, auxiliarão a nação
a encontrar-se, a compreender seu propósito, a buscar heróis cristãos e a
orientar-se a partir de preceitos cristãos. As virtudes específicas que as famí-
lias católicas homeschoolers têm desenvolvido, e que agirão em benefício de
nosso país, são a lealdade, o patriotismo, a honestidade, o pensamento claro,
a obediência à autoridade, o respeito pela lei, o respeito pela vida, o respeito
pelos mais velhos, a responsabilidade, a dedicação ao trabalho e seu valor,

60
HOMESCHOOLING CATÓLICO

a autodisciplina, a justiça, os trabalhos humanitários e a misericórdia. Essas


são virtudes sem as quais nenhuma nação pode sobreviver muito tempo. E,
o que é mais importante, as famílias católicas homeschoolers estão trans-
mitindo às novas gerações a verdadeira Fé Católica, o que será crucial para
qualquer restauração cristã de nosso amado país.
Com tantos benefícios do homeschooling para pais e filhos, para as fa-
mílias, para a Igreja e para a nação, espero que os pais percebam o quanto
antes que o grande motivo pelo qual devem ensinar seus filhos em casa não
são os problemas de nossa sociedade e de nossas escolas, mas o simples fato
de que esse é melhor modo de se viver em família a autêntica vida católica.

61
Capítulo 2
O que é homeschooling católico?

J
á viajei por todo o país para participar de encontros sobre homeschoo-
ling. Conheci pais e alunos, além de padres e outros religiosos, e acabei
percebendo que a maioria das pessoas não sabe o que se quer dizer com
“homeschooling católico”. Ora, simplificadamente, o homeschooling católi-
co põe em prática, na rotina escolar da família, as orientações que a Igreja e
a Bíblia nos dão sobre educação. E, ao mesmo tempo, é a oportunidade para
que a família viva de forma autenticamente católica, transformando o lar em
uma verdadeira “igreja doméstica”.
Há uma incompreensão fundamental acerca da educação católica. A
maioria das pessoas pensam que educação é algo que deve ocorrer dentro
de uma escola, com professores diplomados e durante um número fixo de
horas todos os dias. Porém, de acordo com a Bíblia e documentos eclesiásti-
cos, “educação” é uma palavra que designa primeiramente a formação dada
pelos pais aos seus filhos em casa, num processo constante, sem interrupções.
Tal formação inclui também a educação religiosa e todas as demais discipli-
nas que devem ser ensinadas segundo o ponto de vista católico.
Por que a Igreja fundou as escolas católicas? No princípio, estas deve-
riam ser apenas um auxílio e não um substituto para os pais. Nos Estados
Unidos, no início do século XIX, houve um movimento em prol da educação
compulsória das crianças. Isto significava que todas as crianças com idades
MARY KAY CLARK

entre 7 e 16 anos eram obrigadas por lei a frequentar a escola todos os dias.
Como a maioria da população do país era protestante, as escolas eram muito
influenciadas pelo protestantismo. O sistema de escolas católicas paroquiais
foi criado porque as crianças católicas estavam recebendo uma educação
protestante nas escolas públicas. No entanto, a existência das escolas católi-
cas não anula o direito e a responsabilidade dos pais de transmitir a Fé aos
seus filhos.
A cultura e os ensinamentos católicos são um tesouro maravilhoso que foi
preservado para nós por milhares de anos. A Fé e o modo de vida católicos
são bastante distintos tanto do modo de vida secular quanto do protestan-
te. Assim sendo, o homeschooling católico deve ser igualmente distinto do
homeschooling simples, abarcando as riquezas particulares do catolicismo.

O que é um currículo católico?

A palavra curriculum vem da expressão latina que significa “curso fluen-


te”. Em inglês, um curriculum é um curso ou plano de estudo. A base latina
para a palavra capta muito bem as duas partes de um currículo: trata-se de
um plano que requer ação. Um currículo católico é aquele no qual todas as
disciplinas ensinadas são permeadas pelas verdades da Fé Católica. Não se
trata de um programa básico que simplesmente inclua aulas de religião. To-
das as aulas devem incorporar os ensinamentos de Cristo; o ato de aprender,
em sua plenitude, deve ser visto como uma progressão em direção a Cristo.
De que outro modo poderíamos seguir o conselho de São Paulo para “res-
taurar todas as coisas em Cristo”?
Alguns de nós talvez se lembrem da antiga editora católica, a Bruce Pu-
blishing Company. Era uma editora em que podíamos confiar. Em 1956,
ela publicou um livro intitulado Uma Filosofia Católica da Educação (A
Catholic Philosophy of Education). Este livro foi escrito por dois professores
da Universidade Fordham, doutores em educação. Nele, eles reiteram o que
todos os livros didáticos católicos afirmavam naquela época, e que estava de
acordo com os ensinamentos da Igreja.
No capítulo intitulado “Educação Religiosa”, os autores fazem a seguin-
te afirmação: “A educação religiosa é a função primeira, é a raison d’etre da
escola católica. Ela não apenas transmite ao aluno as verdades divinas de
que a Igreja é guardiã, mas também ensina como manter a conformidade ao
modo de vida personificado por Jesus Cristo, que em Suas próprias palavras
diz ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’ (João 14, 6)” – em suma, o modo

64
HOMESCHOOLING CATÓLICO

de vida inscrito nos dogmas eternos da lei moral. Somente vivendo em con-
formidade com essas verdades pode o homem cumprir o propósito de sua
criação. A religião deve necessariamente permear toda a vida e a educação
humanas. Seus ensinamentos constituem a própria medula e o fundamento
sobre o qual deve sustentar-se toda a educação que vise ao verdadeiro, ao
bom e ao belo.
Algumas pessoas pensam o homeschooling católico é algum tipo de no-
vidade. Na verdade, os homeschoolers católicos simplesmente estão, ou de-
veriam estar, seguindo a orientação da Igreja para que preenchamos nossas
vidas e nossa educação com a Fé e os valores católicos.
Em gerações passadas, considerava-se que a educação mantinha uma co-
nexão íntima com a religião. Havia uma compreensão geral de que as duas
coisas dificilmente poderiam ser separadas. No entanto, nossa sociedade mo-
derna tem alardeado a ideia de que a educação pode e deve ser separada da
religião. Aproximá-las de novo é, hoje, um conceito radical, e com frequên-
cia os pais me perguntam como isso pode ser feito. Neste capítulo, explicarei
como a Seton Home Study School ajuda os pais a alcançarem este objetivo,
por meio de seu programa de homeschooling católico. (Utilizo a Seton ape-
nas como exemplo. Outros programas ou famílias que não utilizam progra-
mas podem proceder de outros modos.)

Aritmética
As pessoas riem quando mencionamos nossa intenção de tornar católi-
cos nossos cursos de matemática – mas o fazemos ainda assim. Nenhuma
disciplina pode ser apartada de Deus, porque Deus é a Verdade e, mais do
que isso, é o Criador da Verdade. Portanto, Ele é o Criador da matemática.
Precisamos deixar isso muito claro para nossas crianças, o tempo todo.
Quando criamos a Seton Home Study School, em 1980, começamos com
um material didático protestante para o ensino de matemática, pois não
havia materiais católicos disponíveis. Nos últimos anos, temos utilizado dois
programas de matemática: um que é aceitável para católicos e que foi utili-
zado por muito tempo em escolas católicas; e o programa Saxon, que tem
sido nacionalmente aclamado, pois é associado a uma melhora drástica no
desempenho dos alunos em matemática.
No entanto, nosso objetivo é dispor de um material de matemática ca-
tólico. Se utilizamos a matemática em nossa vida diária, e se é verdade que
nossa vida diária deve ser vivida com Jesus Cristo, então nossos cálculos

65
MARY KAY CLARK

matemáticos devem ser influenciados por nossos valores cristãos – podem e


devem ser. Por exemplo, devemos ser honestos e precisos em nossas transa-
ções financeiras com os outros.
Nas escolas, os alunos estudam matemática resolvendo problemas com enun-
ciados narrativos, para que aprendam a aplicar conceitos abstratos a situações
reais. Nos materiais didáticos seculares, as situações da vida real apresentadas
são exemplos de sala de aula ou da escola, protagonizados pelos alunos, normal-
mente sem o envolvimento de membros da família e com poucas menções aos
pais, irmãos e irmãs. Nos enunciados de problemas voltados ao homeschooling
católico, temos situações como: uma visita da família a um santuário, ir à Missa
com a família, brincar com outros homeschoolers, ir a excursões com o grupo
de apoio ao homeschooling e fazer piquetes em clínicas de aborto com os ami-
gos. Assim, nosso objetivo é produzir um material de matemática que reflita as
situações da vida real de uma família católica homeschooler.
A Seton produziu um suplemento de matemática, Resolvendo Problemas
de Enunciados Narrativos, no qual os problemas narram situações reais vi-
vidas por famílias católicas. Questiona-se, por exemplo, qual o número de
milhas percorridas no percurso até uma reunião para recitação do Rosário,
ou a medida da largura do chão de uma igreja ou de uma livraria católica, e
assim por diante. Nosso objetivo é que os problemas de matemática ajudem
nossas crianças a perceber a importância, para a vida cristã, de saber fazer
cálculos matemáticos de forma honesta e precisa.
Alguns dirão que é “exagerado” tentar catolicizar até mesmo os proble-
mas de matemática. O Wall Street Journal publicou recentemente um artigo
explicando como as escolas públicas têm utilizado todos os meios à sua
disposição para transformar as crianças em militantes ambientalistas, so-
bretudo apavorando-as com a ameaça do aquecimento global. As escolas
incorporam a ideia em sua grade curricular, em peças teatrais encenadas em
sala de aula, em livros de atividades que as crianças levam para casa para
mostrar aos seus pais. O objetivo é fazer com que as crianças pressionem
seus pais a modificar o estilo de vida da família. À parte o conteúdo dessa
iniciativa, é fato que os pedagogos dessas escolas compreendem que os te-
mas que consideram importantes podem ser reforçados por meio da grade
curricular. Eles não os limitam a algumas aulas de ciências. Os humanistas
seculares responsáveis pelas escolas públicas não hesitam em promover sua
agenda em todas as disciplinas curriculares. Nós, católicos, seguindo a orien-
tação de nossa Igreja, também devemos promover Jesus Cristo e a vida cristã
de todos os modos possíveis.

66
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Arte
Não há motivo para que a maioria, se não a totalidade, dos projetos de
arte produzidos durante o homeschooling católico não tenham por tema
nossa Fé e o ano litúrgico. Mesmo simples desenhos de árvores e flores nos
remetem à bondade e à generosidade de Deus. O ano litúrgico é imensamen-
te rico, celebrando os santos e os eventos religiosos e oferecendo possibilida-
des quase ilimitadas na área de projetos de arte criativos.
Na Seton School, oferecemos ideias e algumas orientações para projetos
de arte e artesanato. Em nosso livro para a sexta série, as crianças apren-
dem a desenhar utilizando um retângulo gradeado. Elas desenham uma
imagem de São Miguel matando o dragão e outra de um anjo da guarda.
Elas aprendem sobre a paleta de cores e depois desenham vitrais para jane-
las. Elas também aprendem sobre os escudos dos cavaleiros, especialmente
o de Joana D’Arc, e aprendem a desenhar a insígnia dos escudos de cruza-
dos famosos.
As crianças devem trabalhar em projetos de arte e artesanato o tempo
todo. Para a festa do Sagrado Coração, elas aprendem a confeccionar um
coração estufado de veludo vermelho, partindo de um modelo de cartolina.
Depois, pedimos que coloquem seus corações no altar da família.
H. Reed Armstrong e sua esposa Roxolana, dois artistas de fama interna-
cional, tiveram a gentileza de escrever um livro sobre arte e artesanato para
a Seton. A Sra. Armstrong também trabalhou ao lado de uma professora de
religião católica para produzir um segundo livro de arte e artesanato para
nós. Ao mesmo tempo em que os livros ensinam as técnicas, as crianças
aprendem sobre a Fé, a arte e a cultura católicas.
Além disso, pela dificuldade de acesso às artes católicas, alguns anos atrás
a Seton iniciou um projeto de reprodução das grandes obras católicas em
livros de apreciação artística para nossos alunos. O livro da quinta série
trata dos mistérios do Rosário. Na sétima, o foco é a arte religiosa de James
Tissot, conhecido sobretudo por seus detalhes e pela precisão na reprodução
da Terra Santa e por seu retrato da Paixão. Para a oitava série, a grande arte
religiosa é ensinada em ordem cronológica, apresentando os trabalhos de
luminares como Fra Angelico, Leonardo da Vinci, Raphael e Michelangelo.
Além dos livros de arte, a capa e a contracapa de todos os livros didáti-
cos da Seton sempre mostram grandes obras católicas de arte e arquitetura,
assim como as ilustrações no interior dos livros.

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MARY KAY CLARK

Inglês
Os católicos que frequentaram as escolas católicas até antes de 1960 cer-
tamente conhecem o material da Universidade Loyola voltado ao ensino de
inglês para católicos. Ele sintetiza o que de melhor pode ser feito para que a
grade curricular seja permeada por valores católicos. Sem dúvida, ali havia
excelentes ferramentas para o ensino de gramática e redação. Os católicos
sempre valorizaram essas áreas, pois reconhecemos sua importância para
nossos objetivos espirituais. Consequentemente, Deus abençoou os acadêmi-
cos católicos com uma habilidade fora do comum, não apenas para escrever
de forma concisa e correta, mas também para pensar logicamente.
A Seton está agora produzindo um material de ensino de inglês para ca-
tólicos segundo as orientações da Igreja. Em uma lição sobre abreviações, o
aluno lerá: “Ele não leu sobre Sta. Isabel?” Em uma lição sobre terminações
verbais: “Santa Joana D’Arc estava vencendo a batalha”. Em uma lição so-
bre advérbios: “O nobre sinceramente arrependeu-se de seus pecados.” Tare-
fas de redação têm por tema histórias da Bíblia e também as vidas dos santos
e da Sagrada Família.
A disciplina de inglês deve ensinar nossas crianças a valorizar a Fé Católi-
ca e sua prática, ao mesmo tempo em que ensine a importância de se manter
um padrão de excelência em gramática e redação.

Caligrafia
Nos materiais didáticos seculares sobre caligrafia, os alunos praticam o
desenho das letras escrevendo frases ou parágrafos que quase sempre pro-
movem valores do humanismo secular.
Na Seton, os livros de atividades voltados à caligrafia não apenas contam
com diversas figuras e pinturas religiosas, mas também os trechos que os
alunos copiam falam sobre os santos, a cultura católica e sobre a Bíblia. Na
terceira série, os alunos praticam a letra V escrevendo a frase: “O Véu de Ve-
rônica é uma relíquia preciosa do Vaticano.” Para a letra D, escrevem: “Davi,
o menino pastor, matou o gigante Golias.” Na quarta série, os alunos prati-
cam escrevendo trechos da Bíblia, um trecho belíssimo sobre o Escapulário
do Carmo e um parágrafo sobre Santa Margarida Maria. Estes são apenas
alguns exemplos retirados de um livro repleto deles.
No quinto livro sobre caligrafia, trabalhado na série em que os alunos
aprendem sobre a história americana, eles transcrevem parágrafos sobre san-

68
HOMESCHOOLING CATÓLICO

tuários, um para cada estado, como o de Nossa Senhora das Pradarias, em


Dakota do Norte, e o da Mãe Dolorosa, em Portland, Oregon. Um dos
parágrafos diz: “A história católica é abundante em Emmitsburg. Santa
Elizabeth Ann Seton, a primeira santa nativa da América, fundou aqui a
primeira escola católica do país. O Seminário Monte de Santa Maria abri-
gou as irmãs de Madre Seton depois de sua chegada. O santuário de Santa
Elizabeth Ann Seton, transformado em basílica menor pelo Papa João Pau-
lo II, contém suas relíquias.”

História
Nossos livros de história consideram que o evento central da história é a
Encarnação de Jesus Cristo e que aqueles que seguiram Seus foram fundamen-
tais ao desenvolvimento da história do mundo e da cultura de seu tempo.
Na primeira série, no livro História Americana para Jovens Católicos, as
crianças aprendem sobre Cristóvão Colombo, o primeiro Dia de Ação de
Graças, a Beata Kateri Tekakwitha, Junipero Serra, a Beata Rose Philippine
Duchesne, a Madre Cabrini e outros santos que influenciaram a história
americana. Na segunda série, em Grandes Santos da História Mundial, as
crianças aprendem sobre os santos patronos dos países do mundo e como
eles influenciaram a cultura desses países. Elas aprendem sobre São Tomás
Apóstolo, São Denis da França, São Nicolau, São Patrício, São Bonifácio,
Santo Estêvão e muitos outros. Na terceira série, as crianças leem A Fé Cató-
lica Chega às Américas. Elas aprendem sobre São Martin de Porres e Santa
Rose de Lima, sobre os mártires norte-americanos, sobre Padre Francisco
Kino e Padre Antônio Margil, sobre a atuação dos católicos na guerra pela
independência, o trabalho dos missionários com os índios, as freiras que
trabalhavam como enfermeiras e assim por diante.
Na quarta e na quinta séries, as crianças utilizam textos históricos pro-
duzidos para escolas católicas. A história americana é ensinada com ênfase
em figuras católicas que tiveram um papel importante para o desenrolar dos
fatos. Contudo, a Seton está atualmente escrevendo novos livros didáticos
para essas duas séries, continuando a enfatizar as contribuições católicas à
história americana.
Na sexta série, utilizando livros de história católicos, os alunos apren-
dem a compreender a história mundial, as Cruzadas e a Idade Média. Eles
aprendem que a Civilização Ocidental foi moldada pela Igreja Católica. Na
sétima série, o livro produzido pela Seton, Cultura Mundial Católica, escri-

69
MARY KAY CLARK

to pela Dra. Anne Carroll, apresenta a cultura católica através das vidas e
contribuições de músicos, artistas, arquitetos, reis e rainhas católicos. Os ca-
pítulos tratam de Santa Isabel, santa patrona e rainha de Portugal; de Santa
Clotilde e seu marido Clóvis, rei dos Francos; do Arcebispo Oliver Plunkett
da Irlanda, um fora-da-lei e um herói em seu país, entre muitos outros santos
e líderes católicos.
Na oitava série, são introduzidos conceitos mais avançados sobre a Améri-
ca e a importância dos católicos e dos conceitos católicos na vida e no governo
americano. Um capítulo é dedicado à liderança espiritual da Igreja Católica. O
conteúdo de História Americana para Jovens Católicos voltado à oitava série
inclui História Colonial, a batalha pelo continente, disputas com a Inglaterra,
a Constituição, a Igreja nos primeiros anos da América, a colonização ociden-
tal, a democracia jacksoniana, as duas Guerras Mundiais, a Guerra Fria, o
Presidente Kennedy e questões católicas, Vietnam e Presidente Reagan.
Nossos dois livros de História voltados ao ensino médio – Cristo Rei,
Senhor da História e Cristo e as Américas – enfatizam não apenas o papel
dos católicos, mas também das ideias católicas que atuaram sobre o governo
e os eventos políticos.
Consideramos a história uma das disciplinas mais importantes para as
famílias homeschoolers. Vivendo em uma sociedade pós-cristã, nossos filhos
precisam aprender com o passado a abrir caminho para as mudanças neces-
sárias ao futuro, com a finalidade de trazer Cristo de volta para o centro da
vida de nosso país e do mundo.

Música
A música é importante para as crianças como um meio de assimilar a
mensagem cristã e também como um modo de elas expressarem suas crenças
católicas através de canções.
Nossos livros seguem o ano litúrgico, sugerindo canções não apenas para
o Natal e a Páscoa, mas também para o Dia de São Patrício, a Festa de São
José e outros dias especiais. Livros para séries mais avançadas ensinam Can-
to Gregoriano.
A cultura católica é riquíssima em arte e música. Precisamos comparti-
lhar com nossas crianças esses tesouros espirituais. A grande maioria da arte
e da música de nossa sociedade moderna é destituída de beleza. Nossos filhos
precisam ter a oportunidade de aprender, ver e ouvir a grande música e as
artes católicas.

70
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Fônica
A Seton possui vários livros publicados sobre fônica para o homeschoo-
ling católico, que ensinam fônica e cultura católica ao mesmo tempo. Nosso
livro para o jardim da infância segue um sistema fonético completo, que é
o melhor método de alfabetização disponível. Contratamos uma artista que
trabalhou incansavelmente na produção de imagens para as letras e sons,
como a de um padre rezando a Missa para o M, o desenho de uma freira
para a letra F, a figura de um papa para o som do P e Jesus próximo a um
lago com os apóstolos em um barco para o som do J. Além disso, consta do
livro uma maravilhosa rima católica sobre o alfabeto. Ao fim de cada capítu-
lo, há um poema que deve ser lido pelos pais para que as crianças escutem os
sons rimados. As ilustrações mostram crianças indo à Missa e à Comunhão,
esperando na fila para a confissão e acendendo velas ao lado da estátua de
um anjo ajoelhado em adoração.
Neste momento, os livros para a primeira, a segunda e a terceira séries
ainda estão em processo de revisão de seus conteúdos católicos. O livro Fô-
nica 4 para Jovens Católicos contém lições católicas aplicadas ao estudo de
palavras e sons. Por exemplo, o aluno deve encontrar um sufixo entre as
palavras da seguinte frase: “As freiras continuaram ativas por muitos anos,
ensinando e trabalhando como enfermeiras.” Ou então: “Carregamos uma
bela estátua da Mãe Santíssima na procissão.”
O livro de Fônica 5 inclui as seguintes frases, que contribuem com o
ensino da Fé e da cultura católicas: “É pecado mentir [som do I]. Ao mesmo
tempo em que devemos evitar o pecado, devemos sempre amar o pecador
[som do O]. Nossa fé é um dom insubstituível dado por Deus [prefixos]. O
tio-avô ensinou as crianças a rezar [palavras compostas].
É um trabalho que demanda tempo e esforço, porém que alegria é poder
transmitir aos nossos filhos a Fé Católica e os valores familiares, “oportuna
e inoportunamente”, como diz a Bíblia.

Educação física
Essa é outra área de que as pessoas riem, quando afirmamos que os es-
portes podem ser “católicos”. Na verdade, os papas, especialmente o Papa
João Paulo II, que foi tão atlético em sua juventude, já escreveram abundan-
temente sobre os esportes e sobre como tais atividades podem nos ensinar
lições espirituais. Os papas comparam a autodisciplina do esportista com a

71
MARY KAY CLARK

que é necessária à vida espiritual. São Paulo também comparou a vida espi-
ritual à disputa de uma corrida.
Assim sendo, quando orientamos a prática de certos exercícios físicos, os re-
metemos à vida espiritual, seguindo a orientação de São Paulo e dos papas. Na se-
gunda série, após um exercício, dizemos às crianças: “Isto ajudará você a ter uma
postura ereta, como é a vontade de Deus.” Ou então: “Isto ajudará a fortalecer
os músculos do estômago que Deus lhe deu.” Ou ainda: “Mesmo quando nos di-
vertimos, devemos agradecer a Jesus por nos dar boa saúde para as brincadeiras.”
São comentários que nos ajudam a ter gratidão por nossa saúde e a per-
ceber que Deus deseja que cuidemos bem de nossos corpos, os templos do
Espírito Santo.

Literatura
Obviamente, na área de literatura, não há limites para a quantidade de
materiais católicos que podemos oferecer aos nossos filhos, se conseguir-
mos encontrar obras impressas que sejam adequadas ao seu nível de leitura.
O currículo regular da Seton utiliza a série de leitura Fé e Liberdade, que
nas primeiras séries tem como foco a vida familiar católica. Nas séries mais
avançadas, as histórias ensinam às crianças os valores das famílias católicas
que imigraram para várias partes da nação americana recém-fundada. Na
sexta série, as histórias tratam dos católicos da Europa no passado, relacio-
nando-os ao estudo da História do Velho Mundo.
Ao menos dois relatórios de leitura por ano devem ser sobre biografias
de santos. Para os demais relatórios, recomendamos livros que reforcem os
valores católicos.
Além de livros de literatura, a Seton produziu os livros de atividades Lei-
tura para Compreensão e Habilidades de Leitura e Pensamento, que exaltam
os valores católicos, normalmente através de histórias de santos. Os livros
para a quarta série contêm uma variedade de histórias de santos e de artigos
sobre a cultura católica.
O livro Habilidades de Leitura e Pensamento para a quinta série contém
diversas atividades cognitivas, como classificação de palavras, listas e ciclos
cronológicos, análise do significado de palavras e assim por diante. E, ao
longo de todo o livro, conta-se a história de Santa Thérèse, a Pequena Flor,
durante os anos de sua infância.
O livro Leitura para Compreensão para a quinta série consiste em uma
longa história sobre um menino judeu e um menino egípcio durante o tempo

72
HOMESCHOOLING CATÓLICO

de Moisés. O aluno aprende sobre como era a vida naquele período e sobre
como viviam os judeus na época do Antigo Testamento. Veja, a seguir, um
trecho do livro que se passa quando o povo judeu seguia Moisés pelo deserto:
Eles conduziam seus animais pelo leito seco do mar. Contemplavam nervosa-
mente as paredes ondulantes de água, ao mesmo tempo maravilhados com as
façanhas do Senhor Deus. As ondas do mar acima de suas cabeças quebravam
como címbalos, enquanto eles se aglomeravam uns sobre os outros, inconfor-
mados diante daquele estranho fenômeno.
Jacó e Set mantinham suas famílias próximas às paredes d’água, temendo
aglomerar-se em meio à multidão em polvorosa. Os dois pais posicionaram-se
entre suas famílias e o povo que seguia adiante às pressas, as mães e crianças
pequenas protegidas entre os pais e os rapazes maiores. Joe e Pepi caminha-
vam a passos rápidos, próximos ao lado direito da parede d’água.
Joe e Pepi não resistiam a tocar com as mãos a água das paredes, e não eram
os únicos! Joe mergulhou seu braço até o cotovelo, molhando-se todo en-
quanto caminhava – e Pepi o imitou! A parede continuava na posição vertical.
Os rapazes mostraram suas mãos molhadas a seus pais.
Jacó disse: “O Senhor Deus é poderoso – Sua força transcende nossa compre-
ensão – mantendo o mar longe de nós!” “Amém!”, disse Set.

O Leitura para Compreensão 6 contém questões objetivas e algumas de


interpretação sobre trechos curtos que tratam da vida de diversos santos,
como São Vicente Ferrer, São Jorge, Santa Helena, São Blaise e Santa Lúcia.
Todo o Habilidades de Leitura e Pensamento 6 conta a história das aventu-
ras missionárias de São Francisco Xavier.
As questões objetivas e interpretativas do Leitura para Compreensão 7
baseiam-se em trinta e seis pequenos trechos sobre variados temas católicos,
como Santa Brígida da Suécia e as orações que lhe ditou Nosso Senhor em
uma série de visões; a história do casamento em Caná; anjos e anjos da
guarda; Santa Catarina Labouré e a Medalha Miraculosa; as Sete Últimas
Palavras de Jesus.
As questões objetivas e interpretativas do Leitura para Compreensão 8
baseiam-se em trinta e seis pequenos trechos, quase todos sobre as vidas dos
santos, mas incluindo também um artigo sobre a Imagem Sagrada da Divina
Misericórdia, um artigo sobre os Estigmas de São Francisco, um artigo de
Santo Agostinho sobre a mentira e as palavras de Jesus sobre o Amor.
O Leitura para Compreensão 7 é baseado na vida de Santa Joana D’Arc.
O Leitura para Compreensão 8 é baseado na vida de Santa Margarida Maria.
Segue um trecho do Leitura para Compreensão 8, Lição 44: Os Estigmas
de São Francisco:

73
MARY KAY CLARK

“Tu sabes”, disse Cristo, “o que fiz contigo? Eu te dei os Estigmas, que são as
marcas da Minha Paixão, para que tu sejas meu Estandarte. E, assim como
Eu desci ao Limbo no dia de Minha morte, libertando de lá todas as almas
pelos méritos de Meus Estigmas, concedo-te a cada ano, no aniversário de tua
morte, visitares o Purgatório e, por virtude de teus Estigmas, libertares todas
as almas que lá encontrares, pertencentes às tuas três Ordens – Frades Me-
nores, Irmãs e Penitentes –, bem como outras que tenham tido por ti grande
devoção, as quais levarás contigo para a glória do Paraíso.”

Após os excertos do Leitura para Compreensão, são feitos três tipos de


perguntas: algumas são questões objetivas, algumas interpretativas e algu-
mas práticas. Estas últimas devem ajudar as crianças a pensar sobre a apli-
cação prática das ideias, por exemplo, como podem aplicar uma virtude
particular de um santo às suas próprias vidas.

Religião
A religião é o coração da educação católica. Nosso texto-base é o Cate-
cismo de Baltimore, que, como bem disse o Pe. Bourque na Rede de Televisão
Palavra Eterna, está contido nas páginas do Catecismo da Igreja Católica. O
Catecismo de Baltimore, edição St. Joseph, compreende todas as doutrinas
básicas: o Credo, os Dez Mandamentos, os Sacramentos e as Orações. Ele
inclui perguntas e respostas para estudo, exercícios a serem respondidos e
referências bíblicas.
Outros materiais vão sendo acrescentados à medida que a criança evolui
para novas séries, como livros de histórias bíblicas, exceto na oitava série,
em que utilizamos um livro sobre a História da Igreja. A Seton produziu um
material suplementar para o estudo da religião, com livros de atividades,
todos certificados com um imprimatur (a comprovação pelo bispo de que
o livro não contém erros doutrinais). Trata-se de explicações adicionais às
lições do Catecismo de Baltimore, com a facilidade de permitir que o aluno
responda as questões no próprio livro. São, ademais, livros repletos de pin-
turas religiosas.

Ciências
No passado, os livros católicos sobre ciências eram muito pouco católi-
cos. Muitas vezes, de católico havia apenas o nome do autor. Temos traba-
lhado para produzir livros didáticos de ciências que reflitam verdadeiramen-
te o pensamento católico.

74
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Na primeira série, por exemplo, as crianças aprendem sobre o coração e


o sangue. O capítulo é concluído com informações sobre o milagre eucarís-
tico de Lanciano.
O sangue é sangue real. A carne é carne real. A carne é tecido muscular
cardíaco. O sangue é do tipo AB. Não há qualquer explicação de como a
carne pôde preservar-se por 1200 anos. O que sabemos pela fé, a ciência
também constatou!
Na segunda série, ao aprender sobre as multicoloridas asas das borbo-
letas, as crianças leem: “É maravilhoso como Deus desenha tantos padrões
coloridos nas asas das borboletas!” Ao explicar o funcionamento da bússola,
nosso livro de ciências afirma que “Este é mais um exemplo da bondade de
Deus. Sem a bússola, os velejadores do passado não teriam como se localizar
em alto mar.”
No livro de ciências da quarta série, escrito por um pai católico homes-
chooler, doutor em Física e professor da Christendom College, lê-se:
O vento nos remete ao Espírito Santo, a terceira Pessoa da Santa Trindade.
Recordam-se do vento soprando no Domingo de Pentescostes? Recordam-se
que foi este o modo como Deus escolheu revelar-Se ao Profeta Elias no Antigo
Testamento? Você consegue encontrar essa história em sua Bíblia?

O tema dos livros é a ciência: constelações, a Terra, a lua, o espaço; os


oceanos e o clima; líquidos, sólidos e gases; máquinas, magnetismo e eletrici-
dade; plantas e insetos células e ossos e grupos de alimentos; saúde e comba-
te a doenças. Mas eles também estão repletos do Autor da ciência.
O livro de ciências da sétima série foi escrito por uma mãe católica ho-
meschooler que também é cientista, abordando temas como geologia, fo-
guetes, energia e força e química. Também há muitas referências bíblicas
oportunas. Por exemplo, durante o estudo da luz, várias passagens da Bíblia
são apontadas. O trecho a seguir trata da importância da precisão ao se fazer
observações científicas:
Nossa fé em Jesus Cristo e Sua Igreja apoia-se em muitos fatos que nos foram
cuidadosamente descritos e transmitidos pelos Apóstolos e seus sucessores.
A importância de dar a esses fatos um registro fiel fez dos cristãos cuidado-
sos observadores e comentadores do mundo físico, pavimentando o caminho
para as grandes descobertas científicas dos últimos dois mil anos.

O livro de ciências utilizado na oitava série, cujo tema é a vida, foi escrito
pelo pai de uma família numerosa, o qual também era pró-vida e professor de
ciências do ensino médio. Ao dar uma explicação sobre as células, diz o autor:

75
MARY KAY CLARK

O corpo inteiro é muito mais do que apenas uma célula ou grupos de células.
Fazendo um paralelo, considere que nós, enquanto membros da Igreja Cató-
lica Romana, somos membros do Corpo de Cristo. Alguns têm a vocação da
ordenação sacerdotal, outros são chamados a ser religiosos, outros são ma-
ridos ou esposas e alguns permanecem solteiros. Para que o Corpo de Cristo
cresça na terra, cada um de nós deve levar adiante sua vocação da melhor
forma possível.

É essencial, quando ensinamos sobre o universo físico, que reconheçamos


e exaltemos o Criador desse universo, assim como aprendemos mais sobre
Ele através de Sua criação.

Ortografia
O conteúdo dos livros seculares de ortografia consiste nas palavras a se-
rem estudadas, nas regras gramaticais e em uma seleção de excertos para lei-
tura, nos quais constam as palavras estudadas. Os excertos são sempre frases
ou parágrafos promovendo a agenda politicamente correta ou refletindo de
algum modo o pensamento da cultura secular.
A série Ortografia para Jovens Católicos, produzida pela Seton, muitas vezes
ensina as mesmas palavras, além de outras presentes em nossa cultura católica,
porém seus excertos para leitura refletem valores católicos. No livro para a se-
gunda série, por exemplo, enquanto as crianças aprendem a soletrar palavras
com o som do O curto, leem um parágrafo sobre Santa Bernadete. No livro para
a terceira série, enquanto aprendem a soletrar palavras com a letra E, leem frases
como “Jesus está verdadeiramente presente na Santa Eucaristia.”
O livro para a quarta série contém histórias bíblicas sobre Abraão, a Arca
e o Tabernáculo, Rei Saul, Davi e Salomão. O livro para a quinta série con-
tém histórias sobre São Nicolau de Tolentino, Santo Eduardo, o Confessor,
Santo Isidoro, o Lavrador, Santo Hugo de Lincoln, Santa Maria Madalena
de Pazzi, Beata Margarida de Castello, Santa Clara de Montefalco, Santa
Zita, Santa Rita e muitos outros.
O livro de ortografia para a oitava série fala sobre Santa Joana D’Arc, o
Cardeal John Henry Newman, Nossa Senhora de Czestochowa, a Universi-
dade de Paris e São Lourenço.

Vocabulário
O material utilizado pela Seton para aquisição de vocabulário é secular,
pois não há nenhuma série católica disponível. Há, contudo, um novo mate-

76
HOMESCHOOLING CATÓLICO

rial católico em fase de produção. Estamos trabalhando em testes semanais


de vocabulário voltados a católicos, contendo frases baseadas no catecismo,
em histórias bíblicas, nos sacramentais, nas vidas dos santos e na cultura
católica em geral.
Na quarta série, por exemplo, algumas frases para aquisição de vocabu-
lário são: “Os apóstolos dispersaram-se quando Nosso Senhor foi preso no
Jardim de Getsêmani”; “Uma das funções dos anjos é ser mensageiros de
Deus”; “Santo Estêvão, embora fosse Rei da Hungria, não era avarento em
relação ao dinheiro que doava aos mendigos”; “Quando os apóstolos come-
çaram a operar milagres e curar os doentes, os truques dos falsos bruxos,
como Simão, já não convenciam ninguém.”
Na sétima série, nossos alunos leem: “Exceto em questões de Fé e moral,
a Igreja pode adaptar-se aos costumes do povo”; “Sempre que pensarmos
sobre a bondade e a misericórdia de Deus, isto deve suscitar em nós orações
de louvor e agradecimento.”

Conclusão
Em suma, é possível produzir um currículo verdadeiramente católico. Não
somente é possível, mas é mesmo imprescindível caso desejemos ser auten-
ticamente católicos e, em última instância, se quisermos que a Cristandade
sobreviva. Alguns dizem que a utilização de materiais católicos não é de suma
importância ao homeschooling, pois os pais podem acrescentar conteúdos ca-
tólicos ou advertir seus filhos sobre pontos problemáticos; desde que sejam
conteúdos verdadeiros e de qualidade – dizem –, não precisam ser católicos.
Devo discordar desse ponto de vista. É verdade que há bons materiais se-
culares disponíveis, que não precisam ser completamente banidos. Contudo,
o objetivo do homeschooling católico é transmitir a Fé. Não é contraditório
considerar a Fé tão importante, ao ponto de os pais se darem ao trabalho
de educar seus filhos em casa, e depois dizer que a utilização de materiais
católicos não é obrigatória? A marca distintiva do homeschooling católico
deve ser sua identidade religiosa. É difícil manter uma identidade católica se
os livros utilizados forem integralmente seculares.
O homeschooling católico destina-se às famílias que querem viver a fé
todos os dias, segundo os ensinamentos de Jesus, e que desejam ter a certeza
de que seus filhos crescerão como católicos praticantes. Os homeschooling
católico destina-se, enfim, a todos aqueles que percebem que, na ausência de
famílias cristãs fortes, o futuro de nosso mundo é verdadeiramente sombrio.

77
Capítulo 3
Ensinamentos da Igreja sobre
matrimônio e educação

S
endo a educação dos filhos uma responsabilidade inerente à vocação
matrimonial, é fundamental compreendermos os ensinamentos da Igre-
ja Católica acerca do matrimônio e da educação.
A Igreja Católica ensina de forma clara e absoluta que o matrimônio foi
promovido a Sacramento por Jesus. Isto se baseia no Evangelho de São Ma-
teus, capítulo 19, versículos 4 a 9:
Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por
isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois
formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto,
não separe o homem o que Deus uniu.

Exatamente as mesmas palavras de Jesus aparecem no Evangelho de Marcos,


capítulo 10, versículos 2 a 12. É interessante notar que, nos dois Evangelhos, a
tais palavras de Jesus se segue a cena em que as crianças O cercam. “As crianci-
nhas foram levadas até Ele... e os discípulos censuraram aqueles que as haviam
levado.” Não é mera coincidência que as crianças, que são a finalidade primeiro
do casamento, tenham sido apresentadas a Jesus imediatamente após Sua fala
sobre matrimônio. Os pais levam seus filhos até Jesus para que Ele os abençoe.
MARY KAY CLARK

É óbvio que Jesus deseja que os casais tenham filhos e os levem até Ele
não apenas física, mas também espiritualmente – o que é o próprio funda-
mento de nossa responsabilidade como educadores, inerente a nossa voca-
ção matrimonial.
Não foi por acaso que o primeiro milagre de Jesus ocorreu durante uma
festa de casamento, nem que a realização do milagre em questão tenha sido
um pedido de Sua própria Mãe. Jesus deseja que compreendamos que o
matrimônio é uma vocação sagrada e um Sacramento, e que se cumprirmos
Sua vontade no que diz respeito às responsabilidades da união matrimonial,
receberemos uma abundância de graças e bênçãos, muitas delas pela interse-
ção de Sua Mãe Santíssima.
De acordo com a Igreja Católica, a finalidade primeira do casamento
consiste em duas responsabilidades equivalentes: a procriação e a educação
da prole.
São responsabilidades equivalentes.
São igualmente importantes.
A educação dos filhos é um dever dos pais, uma grave responsabilidade
que emana da vocação para o Sacramento do Matrimônio. Por meio de
diversos escritos papais, sabemos que esta educação abrange a formação
diária das crianças, cuja finalidade é que sejam bons católicos, porém os pais
também devem garantir que, na educação acadêmica de seus filhos, seja em
casa ou na escola, a Fé Católica “permeie todos os ramos do conhecimento”.
É disso que se trata o homeschooling.
O homeschooling é uma reafirmação do casamento entre marido e mu-
lher. É um estilo de vida que pode trazer muitas mudanças positivas a casa-
mentos nos quais, por exemplo, a esposa andava distante.
Esta afirmação pode parecer absurda, mas é absolutamente verdadeira. É
verdadeira porque, quando os esposos se valem de suas graças sacramentais
para cumprir a vocação matrimonial de ensinar seus filhos, eles recebem novas
graças, tanto santificantes quanto atuais. Essas graças lhes permitem vivenciar
um casamento e uma vida familiar autenticamente católicos. Eles passam a en-
tender melhor suas crenças e valores religiosos ao transmiti-los aos seus filhos.
O comprometimento e o sacrifício diário ajudam os pais homeschoolers
a crescer espiritualmente. O ato de educar os próprios filhos mantém ínti-
mo vínculo com os objetivos do matrimônio, com a vocação matrimonial.
Quanto mais nos dedicamos a ensinar nossos filhos, melhor compreendemos
nossa vocação e maiores são as chances de sermos bem-sucedidos como edu-
cadores.

80
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Um testemunho público

Todo casamento católico é um testemunho público de que obedecemos


aos ensinamentos de Cristo em nossa vivência do matrimônio. Cada bebê
nascido em uma família católica é um testemunho público, em nossa socie-
dade pagã, de que obedecemos ao mandamento de Deus para crescermos e
multiplicarmo-nos, gerando almas para o Seu reino. Toda família católica
homeschooler é um testemunho de que assumimos a responsabilidade que
nos foi dada por Deus, e a levamos muito a sério.
Assim como Jesus é fiel à Sua Igreja, que é Sua noiva, e será fiel a cada um
de nós enquanto membros de Seu Corpo Místico, também nós seremos fieis
a Ele, obedecendo aos seus comandos. Seguir a Cristo significa sermos fieis
às nossas esposas no casamento e aos nossos filhos em sua educação católica.
Infelizmente, em nossos dias, influenciados pela sociedade ultra materialista
que nos cerca, é comum que jovens adultos católicos tenham uma visão huma-
nista sobre o amor e o casamento. Mesmo alguns cursos pré-nupciais, obrigató-
rios antes da celebração de matrimônios na Igreja, têm abordado principalmente
questões relativas à convivência dos futuros esposos e à prevenção de gestações,
omitindo-se a respeito das responsabilidades inerentes à vocação matrimonial.
Na sociedade americana de hoje, a maioria dos casais, católicos e não ca-
tólicos, desconhecem integralmente o sentido da vocação ao Sacramento do
Matrimônio e as responsabilidades que dele advêm. As exceções são as fa-
mílias que tomam contato com o homeschooling e atividades pró-vida, que
por este meio acabam conhecendo católicos que lhes dão bons exemplos,
instigando-as a ler e aprender sobre sua vocação matrimonial.
Para aqueles que desejam conhecer os ensinamentos da Igreja Católica
acerca do matrimônio, há abundantes materiais. A Igreja, ciente da impor-
tância da família, tem constantemente orientado seus filhos a esse respeito.
A encíclica mais importante destinada aos católicos casados chama-se Casti
Connubii (Acerca do Matrimônio Cristão, em português). É o documento
básico que todos os católicos casados ou considerando contrair matrimônio
devem ler e estudar.

Casti Connubii
Nesta encíclica, o Papa Pio XI, inspirado pelo Espírito Santo, instrui os
casais cristãos a respeito das graças que recebemos pelo Sacramento do Ma-
trimônio, que nos auxiliam a obedecer aos deveres da vocação matrimonial.

81
MARY KAY CLARK

Tais graças vêm nos ajudar a cumprir as funções do estado conjugal, a


primeira das quais é cooperar com Deus gerando filhos, e a segunda, educar
nossos filhos para uma vida cristã virtuosa.
O Papa Pio XI afirma que
quando os fiéis prestam esse consentimento sinceramente, abrem para si mes-
mos o tesouro da graça sacramental, onde podem haurir as forças sobrenatu-
rais para cumprir a sua missão e os seus deveres fielmente, santamente, com
perseverança, até a morte. É que este sacramento (...) não só aumenta a graça
santificante, mas lhe acrescenta, ainda, outros dons especiais, disposições e
germes de graça; aumenta e aperfeiçoa as forças da natureza.1

Assim, a Igreja Católica ensina que podemos obter o tesouro da graça


sacramental a partir do Sacramento do Matrimônio. E, deste tesouro, po-
demos haurir forças sobrenaturais. Estas forças nos ajudarão a cumprir
fielmente os direitos e deveres do estado conjugal. Podemos cumpri-los de
forma santa; e conseguiremos perseverar, desde que não descuidemos de
nossas responsabilidades. Com as graças do Matrimônio, somos capazes
de lutar até à morte!
A Igreja Católica ensina que recebemos mais graças santificantes à medi-
da que cumprimos nossos deveres, e podemos receber inclusive dons extras,
como certas disposições ou graças, para elevar e aperfeiçoar características
naturais que já possuímos. As habilidades naturais dos pais, em todas as áre-
as, são aprimoradas conforme eles cumprem com sua obrigação e dedicam-
-se aos seus filhos. Pio XI continua:
[É obra de tais dons que] os cônjuges possam não só compreender bem mas
sentir intimamente, apreciar com firme convicção e resoluta vontade, e prati-
car tudo o que se refere ao estado conjugal e aos seus fins e deveres; para tal
efeito confere-lhes, enfim, direito ao auxílio da graça todas as vezes que dele
precisam para cumprir as obrigações deste estado2. (Ênfase da autora)

A Igreja Católica afirma que podemos obter a graça de Deus sempre


que dela precisarmos, bastando estarmos em dia com as responsabilidades
do estado conjugal. Se acreditamos em Jesus, se acreditamos em Sua Igreja,
se acreditamos na infalibilidade do Papa enquanto Vigário de Jesus Cristo,
como podemos duvidar, por um minuto que seja, de que teremos as graças e
a capacidade necessárias para educar nossos próprios filhos?

1 Versão em português disponível em: http://www.capela.org.br/Magisterio/conubii1.htm


2 Idem.

82
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Alguns pais têm pouca confiança em sua capacidade como educadores.


Porém, não é em nossa própria capacidade que devemos ter confiança, mas
em Jesus Cristo! Devemos confiar em Sua Palavra, preservada na Bíblia, e
nos documentos infalíveis da Igreja, proclamados pelo Vigário de Cristo.
Devemos confiar nas graças que Ele nos deu e continua a nos dar sempre,
conforme educamos nossos filhos e cumprimos as obrigações inerentes à
vocação do Sacramento do Matrimônio.

Por que alguns pais homeschoolers não são bem sucedidos

Pio XI prossegue explicando por que alguns pais não conseguem cumprir
com seus deveres:
Assim como é lei da providência divina, na ordem sobrenatural, que o ho-
mem não colha o fruto completo dos Sacramentos, recebidos depois do uso
da razão, se não cooperar com a graça, assim também a graça própria do
matrimônio permaneceria em grande parte talento inútil sepultado na terra
se os cônjuges não aproveitassem as forças sobrenaturais, cuidando de culti-
var e fazer frutificar as preciosas sementes da graça. Mas, se, ao contrário, se
esforçam quanto podem por ser dóceis à graça, poderão suportar os encargos
do seu próprio estado, cumprir os deveres e sentir-se-ão, por virtude de tão
grande Sacramento, fortificados, santificados e como que consagrados.3 (Ên-
fase da autora)

O poder de educar

Continuando a encíclica sobre o matrimônio cristão, o Papa Pio XI repe-


te um antigo ensinamento da Igreja:
O bem dos filhos não termina certamente no benefício da procriação; é preci-
so que se lhe junte outro, que consiste na devida educação da prole. Apesar de
toda a sua sabedoria, Deus teria provido deficientemente a sorte dos filhos e
de todo o gênero humano se àqueles a quem deu o poder e o direito de gerar
não tivesse dado também o dever e o direito de educar. Ninguém efetivamente
pode ignorar que o filho não pode bastar-se e prover-se a si mesmo, nem se-
quer no que respeita à vida natural nem, muito menos, no que se refere à vida
sobrenatural, mas precisa por muitos anos do auxílio de outrem, de formação
a educação. É, aliás, evidente que, conforme as exigências da natureza e a
ordem divina, este dever e direito de educação da prole pertence em primeiro
lugar àqueles que começaram pela geração a obra da natureza e aos quais é

3 Idem.

83
MARY KAY CLARK

proibido expor a que se perca a obra começada, deixando-a imperfeita. Ora,


a esta tão necessária educação dos filhos provê do melhor modo possível o
matrimônio em que, estando os pais ligados entre si por vínculo indissolúvel,
sempre se coadjuvem e auxiliem mutuamente.4

E então Pio XI cita novamente o Código de Direito Canônico de 1917:


“O fim primário do matrimônio é a procriação e a educação da prole.”

Educação: o dever de longo prazo

Em nossa sociedade abortista e violadora de crianças, é importante que


os bons católicos enfatizem sua convicção de que os filhos são um dom de
Deus, permanecendo abertos à vida na união conjugal. O fato é que a obri-
gação de longo prazo dos pais, a obrigação do dia-a-dia, do minuto-a-minu-
to, e que dura muitos, muitos anos, não é simplesmente procriar, mas educar.
É curioso como os cursos pré-nupciais desperdiçam um precioso tempo
de suas palestras tratando dos aspectos físicos do casamento, discutindo se
este ou aquele método contraceptivo é permitido e coisas do tipo. É uma
omissão séria ignorar as graças do Sacramento e calar-se sobre o processo de
crescimento espiritual que a educação dos filhos proporciona aos membros
da família.

Palavras do Pe. Hardon sobre casamento

No verão de 1991, o Pe. John Hardon, que foi um grande teólogo cató-
lico, deu um curso de verão no Christendom College sobre o Sacramento
do Matrimônio, onde tratou dos princípios cristãos básicos acerca do tema.
Sua exposição foi tão bela, que todos que a ouviram sentiram uma profunda
gratidão a Deus por tamanho dom.
Pe. Hardon começou falando sobre a Lei Divina segundo a qual todo
casamento deve ser monogâmico, ou seja, o homem deve ter apenas uma es-
posa e a mulher, apenas um marido, até que um dos dois morra. E todo casa-
mento entre pessoas batizadas é intrinsecamente indissolúvel. Não importa
o quanto vociferem os não cristãos, os ortodoxos orientais, os protestantes
ou mesmo os católicos – não pode haver e jamais haverá qualquer mudança
nesta Lei Divina. A unidade e indissolubilidade do matrimônio foi sempre
um ensinamento universal da Igreja de Jesus Cristo.

4 Idem.

84
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Isto significa que os casais precisam resolver seus problemas familiares e


buscar soluções juntos, ao invés de fugir de seus cônjuges. Só assim o am-
biente familiar será estável e propício à educação dos filhos em casa.
Uma mãe infeliz em seu casamento certamente encontrará consolo na
interação pedagógica diária com seus filhos. Ela se alegrará ao dedicar-se à
tarefa de professora do lar, educando seus filhos por meio da oração e do
bom exemplo, além dos demais métodos formais.

Graças

A fala do Pe. Hardon sobre as Graças do Matrimônio Cristão foi de


especial interesse aos homeschoolers. Sabemos, pelo nosso catecismo, que
recebemos tanto a graça santificante quanto a graça sacramental quando
recebemos cada Sacramento.
O que a maioria de nós não percebe é que essa palavra de duas sílabas,
graça, tem um significado gigantesco para nossa vocação matrimonial. A
graça sacramental, segundo ensina o catecismo, ajuda nossos intelectos a co-
nhecer a vontade de Deus e compreender melhor como cumpri-la diante de
certos eventos de nossas vidas. Ela nos ajuda a obedecer à vontade de Deus.
A graça sacramental do matrimônio nos auxilia a aplicar nosso intelecto e
nossa vontade às situações relativas à nossa vocação matrimonial.
Segundo o Pe. Hardon, ao mesmo tempo em que precisamos dessas
graças como um auxílio ao nosso intelecto e à nossa vontade, sua fina-
lidade primeira é ajudar cada esposo a ser um instrumento da graça ao
outro! O dever primordial do marido enquanto marido é ser um instru-
mento da graça à sua esposa, ajudando a santificá-la; e o dever primeiro
da esposa é ser um instrumento da graça ao seu marido, ajudando a
santificá-lo.
Além disso, os casais recebem graças sacramentais especialmente vincula-
das ao Sacramento do Matrimônio, pelas quais devem servir de instrumen-
tos da graça aos seus filhos. E, sem dúvida, todos os pais e mães sabem que
nossos filhos também são instrumentos da graça a nós, seus pais.
As instruções que Deus deu a Moisés, segundo as quais os pais devem
educar seus filhos e servir de exemplo a eles, seja quando estiverem sentados
ou caminhando, ao levantar-se e ao deitar-se, claramente mostram que deve-
mos ser “instrumentos” para o ensino dos Dez Mandamentos. Com a insti-
tuição do Sacramento do Matrimônio por Jesus, essa responsabilidade pode
ser cumprida com maior facilidade, devido às graças sacramentais recebidas.

85
MARY KAY CLARK

E já não se resume aos deveres listados nos Dez Mandamentos, incluindo


também a vivência familiar do autêntico catolicismo.
A obrigação de ajudar a salvar as almas dos membros de nossa família é
colossal, é verdadeiramente gigantesca. É óbvio que, sem uma abundância de
graças sacramentais, seria uma tarefa impossível.
O fundamental é que devemos ser bons. Devemos ser obedientes, não
apenas porque amamos a Deus, não apenas para salvar nossas próprias al-
mas, mas também porque precisamos servir de exemplo a nossos cônjuges e
nossos filhos.
Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à
mesa e perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor,
e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei
os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo
para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. (João 13, 12-15)

Cooperar com a graça

Nós recebemos essas graças pelo Sacramento do Matrimônio, mas


também precisamos trabalhar constantemente para nos valer delas. Eis
uma combinação imbatível para o nosso fortalecimento pessoal contra
os ataques diários e incessantes do inimigo espiritual: oração diária, es-
pecialmente o Rosário, Missa diária, se possível, e confissão ao menos
uma vez ao mês.
Ao cooperarmos com a graça, podemos ir além das meras responsabi-
lidades de nossa vocação, não apenas por reconhecer que podemos fazer
mais, mas para que o cumprimento de nossos deveres não se justifique
pela simples obrigatoriedade. O Pe. Hardon dizia que a graça nos ajuda a
“ser apostólicos” no convívio com nossos cônjuges, nossos filhos e nossas
famílias.
O cardeal Édouard Gagnon, do Pontifício Conselho para a Família, dis-
se-me certa vez, em uma conferência na Filadélfia, que os pais americanos
precisam evangelizar suas próprias famílias. O cardeal acreditava que o ho-
meschooling era vital para a evangelização das próximas gerações. A perda
da fé entre os católicos de hoje pode ser atribuída ao fato de os pais terem,
no passado, negligenciado sua obrigação de educar seus filhos e confiado nas
escolas, segundo o cardeal.

86
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O casamento é permanente

Nenhuma autoridade humana pode dissolver um casamento válido, sa-


cramental e consumado. Este princípio merece atenção especial, dado o co-
lapso quase universal do casamento e da família em “países materialmente
superdesenvolvidos”, nas palavras de Pe. Hardon. As atitudes vigentes com
relação à liberdade individual levam muitas pessoas a pensar que o casamen-
to é uma simples relação de conveniência, não um pacto entre cada esposo e
Deus. Em consequência, tem-se a perda do comprometimento de milhões de
pessoas para com seus casamentos e suas famílias.
O homeschooling representa o extremo oposto dessas tendências moder-
nas. Os pais homeschoolers estão dispostos a assumir compromissos cujo
fundamento é Deus, compromissos com a família, com o cônjuge e com os
filhos, vínculos sérios que demandam tempo, energia e sacrifício.

O casamento fortalece a sociedade

Os pais homeschoolers compreendem que o fortalecimento do casamen-


to e da família também fortalece a sociedade. Seu compromisso de criar
filhos católicos reflete sua crença de que seus valores religiosos deverão, em
última análise, “dominar o mundo”. Pais homeschoolers veem claramente
que a máxima liberdade, para si mesmos e seus filhos, está nas recompensas
eternas. O homeschooling será responsável pela considerável desaceleração
da tendência nacional ao divórcio e às segundas uniões, na presente geração
como na próxima.
Jesus tornou-se Homem para redimir a raça humana, e não apenas as
pessoas individuais, mas também as sociedades, especialmente a unidade bá-
sica da sociedade humana, a família. As famílias são chamadas a santificar-se
enquanto famílias, e “os méritos de Jesus providenciarão as graças de que
elas necessitam para santificar-se nessa vida”, nas palavras do Pe. Hardon.
Este é “um tema que percorre todo o Novo Testamento, o fato de que Cristo
redimiu a raça humana não apenas individual, mas coletivamente, não ape-
nas pessoal, mas socialmente.”
Diz a nossa tradição católica que Deus designou certos anjos como guar-
diões de cidades, igrejas, prefeituras, nações e povos. Consequentemente,
não é difícil concluir que, se as famílias são chamadas a ser santas, e se Cristo
morreu para redimi-las enquanto famílias, então cada família decerto possui
um anjo da guarda.

87
MARY KAY CLARK

Na cerimônia de casamento do Rito Bizantino da Igreja Católica, tanto


a noiva quanto o noivo usam uma coroa, simbolizando o início de um novo
“reino” para Deus. Com cada nova família que inicia uma vida cristã, não
apenas seus filhos virão povoar o reino de Deus, como uma segunda geração
virá a Cristo e depois uma terceira. Isto reflete os comandos do Êxodo, em
que Moisés mandou o povo a ensinar os Mandamentos de Deus aos seus
filhos e aos filhos de seus filhos.
Meus pais têm nove filhos vivos, oito casados. Têm 43 netos vivos e mui-
tos bisnetos. Eis o que quero dizer com reino familiar!

Caridade sobre-humana

Jesus exige esforços “sobre-humanos” das pessoas casadas e de suas fa-


mílias, demandando, sobretudo, que tenham uma caridade sobre-humana
umas com as outras. É sobre-humano lidar dia após dia com os defeitos
do seu cônjuge. É sobre-humano, especialmente na sociedade atual, quando
todos somos tão influenciados pela mídia que nos bombardeia com slogans
do tipo “faça o que você gosta”, “seja você mesmo” ou, como na música de
Frank Sinatra, “vou fazer tudo do MEU jeito”.
“Seja verdadeiro consigo mesmo” tem hoje um novo significado: “Eu
primeiro!” Assim, ser fiel a alguém pela vida inteira, convivendo com seus
defeitos todos os dias, e abrir mão de nossos desejos e vontades pessoais pelo
bem do cônjuge, pelo bem da família, pela glória de Deus, demanda de fato
um esforço sobre-humano. O único modo de cumprir com essas exigências
sobre-humanas que Deus nos faz é com o auxílio “da luz e da força sobre-
naturais que resultam da morte redentora de Cristo no Calvário.” Tantos sa-
crifícios pessoais e sobre-humanos só são possíveis se pudermos contar com
a graça santificante, a graça sacramental e as graças atuais, que recebemos
pelo Sacramento do Matrimônio e outros Sacramentos.

Em termos práticos

Pessoas casadas sabem muito bem que não é fácil obedecer ao comando
de Cristo de “dar a outra face”. O difícil não é perdoar nossos inimigos: o
difícil é perdoar nosso cônjuge! E às vezes nossos filhos!
O Pe. Hardon dizia que o segredo para se ter um casamento e uma vida
familiar pacíficos e felizes é perceber que nossos cônjuges, nossos filhos, nos-
sos pais e demais familiares são todos potenciais veículos da graça para nós.

88
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Não há outras criaturas que nos sejam mais próximas, mais constantes e
mais providenciais. Não importa quão difíceis ou exigentes sejam nossos
familiares, eles são um dom de Deus, um dom de Sua amável providência,
uma oportunidade para que cresçamos espiritualmente.
Contudo, perceber qual a vontade de Deus e escolher cumpri-la requer
oração constante e diária. O Pe. Hardon nos lembrava que, além de viver
uma vida santa em nossa vocação para o casamento católico, nossa fa-
mília deve, em meio à sociedade pagã atual, dar o testemunho de Cristo
e Seus ensinamentos. Em um mundo que “abandonou Cristo, O ignora
e chega a confrontá-Lo abertamente”, nós e nossas famílias devemos ser
uma fonte de graça para nossa sociedade, que está “literalmente lutando
para sobreviver”. Nosso apostolado evangelizador deve agir de família
para família.

Humanae Vitae

Na carta encíclica do Papa Paulo VI, Humanae Vitae, ou Da Vida Hu-


mana, os ensinamentos da Igreja Católica acerca do matrimônio e da ge-
ração de filhos são cuidadosamente explicados. Nesta encíclica, o Papa
repete os ensinamentos eclesiásticos sobre a importância da educação en-
quanto parte essencial da vocação matrimonial e sobre nossa colaboração
com Deus “na geração e educação de novas vidas”. E afirma que “O ma-
trimônio e o amor conjugal têm por fim natural a geração e a educação
dos filhos.”
O Papa Paulo VI declara que
Os esposos cristãos, portanto, lembrem-se de que a sua vocação cristã, inicia-
da com o Batismo, se especificou ulteriormente e se reforçou com o sacramen-
to do Matrimônio. Por ele os cônjuges são fortalecidos e como que consagra-
dos para o cumprimento fiel dos próprios deveres e para a atuação da própria
vocação para a perfeição e para o testemunho cristão próprio deles, que têm
de dar frente ao mundo.5

Note-se, mais uma vez, que o Papa enfatiza o fato de que maridos e espo-
sas, tendo recebido o Sacramento do Matrimônio, são consagrados para que
cumpram os deveres próprios do estado conjugal.

5 http://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_25071968_huma-
nae-vitae.html

89
MARY KAY CLARK

A vocação dos pais para a educação

Nas décadas de 1960 e 1970, os pais católicos começaram a praticar o


homeschooling porque acreditavam ser esse o único modo de protegerem
seus filhos. Eles estudaram as Escrituras e os ensinamentos da Igreja para
determinar se o homeschooling era permitido. Ora, não apenas as Escrituras
e a Igreja apoiam o homeschooling, como em diversas situações chegam a
recomendá-lo.
Histórica, tradicional e doutrinalmente, a Igreja Católica não apenas apoia,
como recomenda fortemente que os pais eduquem seus próprios filhos.
Em 1875, o Vaticano enviou “Instruções” aos bispos dos Estados Unidos,
concernentes às crianças católicas matriculadas em escolas públicas.

Instruções do Santo Ofício aos Bispos dos


Estados Unidos, 24 de novembro de 1875

À Sagrada Congregação, este método (de educação pública) afigura-se intrin-


secamente perigoso e absolutamente contrário ao Catolicismo. Pelo fato de
o programa adotado por essas escolas excluir qualquer instrução religiosa,
os alunos não absorvem os elementos da fé, e tampouco são instruídos nos
preceitos da Igreja, sendo assim privados do que há de mais essencial ao co-
nhecimento humano e sem o qual é impossível viver de forma cristã.
O fato de nessas escolas, ou ao menos em sua maioria, os adolescentes de
ambos os sexos frequentarem as mesmas salas de aula, com moças e rapazes
dividindo os mesmos bancos, os expõe à corrupção. O resultado de tudo isso
é que a juventude encontra-se, infelizmente, sob o risco de perder a fé, ao
mesmo tempo em que sua boa moral é ameaçada.
Se este perigo, que beira a perversão, não for combatido, tais escolas não
podem ser frequentadas sem peso na consciência. Proclamam-no as próprias
leis divinas e naturais.
Isto foi claramente exposto pelo Santo Padre quando, em 14 de julho de
1864, escreveu ao Arcebispo de Friburgo: “Em todos os lugares, em todos os
países onde formula-se ou, pior ainda, põe-se em prática este plano pernicioso
de retirar da Igreja sua autoridade sobre as escolas, expondo a juventude ao
perigo de perder a fé, é o dever da Igreja tomar todas as medidas, não apenas
para garantir que os jovens recebam educação religiosa e instrução básica,
mas principalmente no sentido de advertir os fiéis e deixar-lhes claro que não
é possível frequentar escolas que se opõem à Igreja Católica.”
Estas palavras, fundamentadas na lei divina e natural, afirmam de forma de-
finitiva um princípio geral, têm validade universal e aplicam-se a todos os

90
HOMESCHOOLING CATÓLICO

países onde tal método pernicioso de instrução da juventude infelizmente foi


ou será introduzido.
É, portanto, absolutamente necessário que todos os bispos apliquem-se ao
máximo para assegurar que o rebanho a eles confiado evite qualquer tipo de
contato com as escolas públicas.

Se as escolas públicas do século passado eram moralmente inaceitáveis,


que se dirá das de hoje?
A Instrução continua:
Esta instrução, bem como a necessária educação cristã das crianças, têm sido
negligenciadas pelos pais que permitem que seus filhos frequentem escolas
onde a perda das almas é inevitável, e também por aqueles que, malgrado a
existência de alguma escola católica pelas redondezas ou a possibilidade de
educar as crianças em uma escola católica em outra vizinhança, mandam-nas
às escolas públicas sem razão suficiente e sem tomar as precauções necessárias
para evitar o perigo de perversão; é um fato bem conhecido que, segundo o
ensinamento moral católico, estes pais, caso persistam em sua atitude, não
podem receber a absolvição no Sacramento da Penitência.
Há até mesmo escolas que se denominam “católicas” sem proclamar em sua
totalidade a fé católica. Os pais não devem tomar por certo que a palavra
“católica” no letreiro ou na fachada de uma escola seja sinônimo de fidelida-
de à Igreja.

Não fossem os problemas nas escolas, provavelmente nem teria ocorrido


aos pais católicos educar seus filhos em casa. E assim, consequentemente,
eles também não teriam descoberto as alegrias de se viver a autêntica vida
católica, tendo todos os aspectos de suas vidas permeados pela fé.

Escolas do governo

Quando as escolas públicas governamentais surgiram, após a Guerra Ci-


vil, não eram ministradas aulas de “religião” protestante. Ainda assim, a fi-
losofia e os valores protestantes permeavam os livros didáticos e o currículo;
os professores eram protestantes e as crianças católicas eram influenciadas
por eles.
Na Carta sobre Educação de Blumenfeld, de setembro de 1990, o Sr.
Blumenfeld citou um excerto de um autor católico do século XIX acerca das
escolas públicas americanas:
No que diz respeito aos católicos, o sistema de Escolas Públicas deste país é
uma monstruosa engrenagem de injustiça e tirania. Na prática, ele opera um

91
MARY KAY CLARK

gigantesco esquema de proselitismo (...) a fé de nossas crianças é gradualmen-


te minada (...) Apesar de se dizer religioso, é um sistema anticatólico, e apesar
de se dizer secular, é pagão.

Hoje, muitas crianças católicas frequentam escolas do governo ou escolas


“católicas” onde aprendem valores seculares. Apesar de se dizerem religio-
sas, são escolas anticatólicas, e apesar de se dizerem seculares, são pagãs.
O tradicional programa educativo de Confraternidade da Doutrina Cris-
tã (CDC), mesmo que ensine ideias católicas tradicionais, não pode competir
com as sete horas diárias e cinco dias por semana durante os quais as crian-
ças católicas frequentam o campo do inimigo da Igreja Católica. As escolas
estão afastando as almas das crianças do amor de Deus, do amor pela famí-
lia, do amor pelo país, do amor por nossa Fé Católica.
Na encíclica a seguir, o Papa Leão XIII declara que os chefes das famílias
têm a obrigação proteger seus filhos de escolas onde não haja devoção e
reverência a Deus.

Encíclica Sapientiae Christianae, de 10 de janeiro de 1890

Neste momento, é oportuno exortarmos os chefes de família a governar seus


lares de acordo com estes preceitos, educando seus filhos desde a mais tenra
idade. A família pode ser considerada o berço da sociedade civil, pois é em
grande medida de dentro do círculo da vida familiar que nasce o destino do
Estado. Consequentemente, aqueles que se apartarem da disciplina cristã es-
tarão contribuindo com a corrupção da família e sua total destruição, desde
a raiz. Não os dissuade de tal objetivo profano o fato de estarem ultrajando
cruelmente os pais, que detêm o direito natural de educar aqueles que gera-
ram, um direito ao qual se soma o dever de harmonizar instrução e educação
com a finalidade para a qual a bondade de Deus lhes deu filhos.
Cabe, portanto, aos pais não medir esforços para resistir a ataques nesse sen-
tido e reivindicar a qualquer custo o direito à educação de sua prole, de modo
apropriado e de maneira cristã; e, antes de tudo, proteger seus filhos de esco-
las onde correm o risco de ser infectados com o veneno da impiedade.
No que diz respeito à correta educação da juventude, nenhum esforço é de-
masiado. Neste quesito há muitos católicos, de diversas nações, a quem de-
vemos louvar pelo trabalho árduo e notável zelo para com a educação das
crianças. Desejamos que este nobre exemplo seja seguido, conforme a neces-
sidade dos tempos.
No entanto, que não haja dúvidas, primeiramente, de que as mentes das crian-
ças são melhor formadas pela educação que recebem no lar. Se, em seus anos
de crescimento, elas assimilarem, no seio do lar, o modelo de uma vida correta

92
HOMESCHOOLING CATÓLICO

e o exercício da virtude cristã, assegurar-se-á em grande medida a salvação


da sociedade.

O programa de ensino deve ser piedoso

Em 1897, na encíclica Militantis Ecclesiae, o Papa Leão XIII afirma que o


programa de ensino pelo qual se educam as crianças deve ser, em sua integri-
dade, permeado pelo “senso de piedade cristã”, isto é, pelo senso de devoção
e reverência a Deus e às doutrinas ensinadas por Jesus Cristo.

Encíclica Militantis Ecclesiae, de 1 de agosto de 1897

No que toca ao assunto em questão, deve-se prestar atenção especial aos


seguintes pontos. Primeiramente, os católicos não devem frequentar escolas
“mistas” [aquelas para católicos e não católicos], em especial as crianças pe-
quenas. Os católicos devem ter suas próprias escolas e selecionar professores
excelentes e confiáveis. Uma educação eivada de equívocos religiosos ou da
qual seja banida a religião é muito perigosa: e isto é o que mais acontece nas
escolas a que chamamos “mistas”. Que ninguém se permita persuadir de que
a piedade pode ser impunemente separada da instrução.
De fato, em nenhum momento da vida, seja em assuntos públicos ou privados,
pode-se dispensar a religião, e muito menos pode aquela idade inexperiente,
cheia de vida, ainda cercada por tantas tentações corruptoras, escusar-se das
obrigações religiosas.
Aquele, portanto, que estabelecer um programa educativo desprovido de con-
tato com a religião estará destruindo a beleza e a honestidade em sua raiz,
e ao invés de ajudar a nação estará contribuindo com a deterioração e a ex-
tinção da raça humana. Pois, eliminado Deus, quem fará com que os jovens
tomem ciência de seus deveres ou redimirá aqueles que se tiverem desviado do
reto caminho da virtude e caído no abismo do vício?
A religião não deve ser ensinada à juventude apenas durante algumas horas;
o sistema educacional em sua totalidade deve ser permeado pelo senso da
piedade cristã. Se assim não for feito, se este espírito de santidade não pene-
trar e inflamar as almas de alunos e professores, pouco benefício se obterá da
tentativa de educar; e ao invés se causará dano.
Quase todos os métodos educativos têm seus riscos, e é sempre dificultoso
proteger deles a juventude, em especial se o controle divino estiver ausente
para coibir as mentes e vontades dos jovens. Deve-se, portanto, tomar grande
cuidado, de modo a não relegar a segundo plano o que é em verdade essencial,
a saber, a busca da justiça e da piedade, evitando que se confine a juventude
ao mundo visível e assim se deixe às traças seu potencial vital para a virtude;
e que, deste modo, se assegure que jamais os professores, ao dedicar-se ardu-

93
MARY KAY CLARK

amente ao ensino mesmo das disciplinas mais maçantes, negligenciem aquela


verdadeira sabedoria, cujo princípio é o temor ao Senhor e cujos preceitos
demandam obediência em todas as circunstâncias da vida.
Uma instrução profunda deve seguir de mãos dadas com o zelo pelo progres-
so espiritual; a religião deve permear e dirigir todos os ramos do conheci-
mento, qualquer que seja a natureza deste, e por sua doçura e majestade deve
deixar uma impressão tão grandiosa nas mentes dos jovens, que os incite cada
vez mais a coisas melhores.
Como foi sempre a intenção da Igreja que todas as áreas do conhecimento
sirvam à formação religiosa da juventude, afirmamos que não basta à religião
ter seu lugar, ainda que lugar principal; é necessário que a ninguém se atribua
a função de professor, sem que antes seja considerado à altura do cargo se-
gundo o julgamento e a autoridade da Igreja. (Papa Leão XIII)

Acerca da Educação Cristã da Juventude

Outra grande encíclica católica sobre educação chama-se Acerca da Edu-


cação Cristã da Juventude, ou, em latim, Divini Illius Magistri, publicada em
1929 pelo Papa Pio XI.
Esta encíclica é o mais poderoso documento da Igreja Católica onde se
afirma a obrigação parental de educar as crianças. Pio XI cita o Código de
Direito Canônico de 1917, Cânon 1113:
Aos pais cabe a grave responsabilidade de cuidar da educação moral e religio-
sa de seus filhos, não menos que de sua educação civil e física, na medida de
suas possibilidades, e prover, ademais, seu bem-estar temporal.

O Papa Leão XIII é citado extensamente nesta encíclica:


Por natureza os pais têm direito à formação dos filhos, com esta obrigação a
mais, que a educação e instrução da criança esteja de harmonia com o fim em
virtude do qual, por benefício de Deus, tiveram prole. Devem portanto os pais
esforçar-se e trabalhar energicamente por impedir qualquer atentado nesta
matéria, e assegurar de um modo absoluto que lhes fique o poder de educar
cristãmente os filhos, como é da sua obrigação, e principalmente o poder de
negá-los àquelas escolas em que há o perigo de beberem o triste veneno da
impiedade.6 (Ênfase da autora)

O Papa Pio XI continua a citar Leão XIII: “...a obrigação da família


compreende a educação religiosa e moral, bem como física e cívica, princi-

6 In: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_31121929_di-
vini-illius-magistri.html

94
HOMESCHOOLING CATÓLICO

palmente enquanto estas têm relação com a religião e a moral..” Esta é uma
fala importante, que os pais devem trazer na memória, pois nos lembra que
as graças sacramentais vêm sempre ao auxílio dos pais-professores em todas
as disciplinas acadêmicas.

Educação familiar

Prossegue o Papa Pio XI em Acerca da Educação Cristã da Juventude:


Queremos porém chamar dum modo especial a vossa atenção, Veneráveis
Irmãos e amados Filhos, sobre a lastimável decadência hodierna da educação
familiar. Para os ofícios e profissões da vida temporal e terrena, com certeza
de menor importância, fazem-se longos estudos e uma cuidadosa preparação,
quando, para o ofício e dever fundamental da educação dos filhos, estão hoje
pouco ou nada preparados muitos pais demasiadamente absorvidos pelos cui-
dados temporais.
Para enervar a influência do ambiente familiar, acresce hoje o facto de que,
quase por toda a parte, se tende a afastar cada vez mais da família a juventu-
de, desde os mais tenros anos (...) e há regiões aonde se arrancam as crianças
do seio da família para as formar ou com mais verdade para as deformar
e depravar em associações e escolas sem Deus, na irreligiosidade, no ódio,
segundo as avançadas teorias socialistas, repetindo-se um novo e mais horro-
roso massacre dos inocentes.7 (Ênfase da autora)

Estas são palavras fortes proferidas pelo Papa. Quando as crianças são
deformadas e corrompidas em escolas sem Deus, trata-se de uma versão
mais real e mais terrível do massacre dos inocentes narrado na Bíblia, diz o
Papa. Vale notar que essa fala data de muito antes de que crianças da quinta
série aprendessem a colocar camisinhas em bananas em sala de aula.
Seguem-se, nas próximas páginas, trechos da encíclica Acerca da Educa-
ção da Juventude, do Papa Pio XI.
É portanto da máxima importância não errar na educação, como não errar na
direção para o fim ultimo com o qual está conexa intima e necessariamente
toda a obra da educação. Na verdade, consistindo a educação essencialmente
na formação do homem como ele deve ser e portar-se, nesta vida terrena, em
ordem a alcançar o fim sublime para que foi criado, é claro que, assim como
não se pode dar verdadeira educação sem que esta seja ordenada para o fim

7 Nas próximas páginas, a autora citará longamente a encíclica Divini Illius Magistri. A tradu-
ção em português de todos os trechos citados consta como documento oficial no site da Santa
Sé: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_31121929_divi-
ni-illius-magistri.html

95
MARY KAY CLARK

último, assim na ordem actual da Providencia, isto é, depois que Deus se nos
revelou no Seu Filho Unigênito que é o único « caminho, verdade e vida »,
não pode dar-se educação adequada e perfeita senão a cristã.

A educação cristã é necessária à sociedade humana

Daqui ressalta, com evidencia, a importância suprema da educação cristã, não


só para cada um dos indivíduos, mas também para as famílias e para toda
a sociedade humana, visto que a perfeição desta, resulta necessariamente da
perfeição dos elementos que a compõem. Dos princípios indicados aparece,
de modo semelhante, clara e manifesta, a excelência (que bem pode dizer-se
insuperável) da obra da educação cristã, como aquela que tem em vista, em
última análise, assegurar o Sumo Bem, Deus, às almas dos educandos, e a má-
xima felicidade possível, neste mundo, à sociedade humana. E isto no modo
mais eficaz que é possível ao homem, isto é, cooperando com Deus para o
aperfeiçoamento dos indivíduos e da sociedade, enquanto a educação impri-
me nos espíritos a primeira, a mais poderosa e duradoura direção na vida, se-
gundo a sentença muito conhecida do Sábio: “o jovem mesmo ao envelhecer,
não se afastará do caminho trilhado na sua juventude.”

Os direitos educacionais da família são prioritários


relativamente à sociedade civil

A educação é obra necessariamente social e não singular. Ora, são três as


sociedades necessárias, distintas e também unidas harmonicamente por Deus,
no meio das quais nasce o homem: duas sociedades de ordem natural, que
são a família e a sociedade civil; a terceira, a Igreja, de ordem sobrenatural.
Primeiramente a família, instituída imediatamente por Deus para o seu fim
próprio que é a procriação e a educação da prole, a qual por isso tem a prio-
ridade de natureza, e portanto uma prioridade de direitos relativamente à
sociedade civil.

Todas as ações devem se dar à luz do sobrenatural

É isto mesmo que Pio X, de s. m., declara com esta límpida sentença:
“Em tudo o que fizer o cristão, não lhe é licito desprezar os bens sobrenatu-
rais, antes, segundo os ensinamentos da sabedoria cristã, deve dirigir todas as
coisas ao bem supremo como a fim último: além disso todas as suas ações,

96
HOMESCHOOLING CATÓLICO

enquanto são boas ou más em ordem aos bons costumes, isto é, enquanto
concordam ou não com o direito natural e divino, estão sujeitas ao juízo e à
jurisdição da Igreja.”

Os direitos educacionais da família não podem ser violados

A família recebe portanto imediatamente do Criador a missão e consequen-


temente o direito de educar a prole, direito inalienável porque inseparavel-
mente unido com a obrigação rigorosa, direito anterior a qualquer direito da
sociedade civil e do Estado, e por isso inviolável da parte de todo e qualquer
poder terreno.
A razão da inviolabilidade deste direito é-nos dada pelo Angélico: “De facto
o filho é naturalmente alguma coisa do pai... daí o ser de direito natural que
o filho antes do uso da razão esteja sob os cuidados do pai. Seria portanto
contra a justiça natural subtrair a criança antes do uso da razão ao cuidado
dos pais, ou de algum modo dispor dela contra a sua vontade.” E porque a
obrigação do cuidado da parte dos pais continua até que a prole esteja em
condições de cuidar de si, também o mesmo inviolável direito educativo dos
pais perdura. “Pois que a natureza não tem em vista somente a geração da
prole, mas também o seu desenvolvimento e progresso até ao perfeito estado
de homem, enquanto homem, isto é, até ao estado de virtude”, diz o mesmo
Doutor Angélico.

Obrigação parental

Portanto a sabedoria jurídica da Igreja, assim se exprime, tratando desta ma-


téria com precisão e clareza sintética no Código de Direito Canônico, cân.
1113: “os pais são gravemente obrigados a cuidar por todos os meios possí-
veis da educação, quer religiosa e moral quer física e civil, da prole, e também
a prover ao bem temporal da mesma”.

Os filhos pertencem à família

Sobre este ponto é de tal modo unânime o sentir comum do gênero humano
que estariam em aberta contradição com ele, quantos ousassem sustentar que
a prole pertence primeiro ao Estado do que à família, e que o Estado tenha
sobre a educação direito absoluto. Insubsistente é pois a razão que estes adu-
zem, dizendo que o homem nasce cidadão e por isso pertence primeiramente

97
MARY KAY CLARK

ao Estado, não reflectindo que o homem, antes de ser cidadão, deve primeiro
existir, e a existência não a recebe do Estado mas dos pais, como sabiamente
declara Leão XIII: “os filhos são alguma coisa do pai e como que uma exten-
são da pessoa paterna: e se quisermos falar com rigor, não por si mesmos, mas
mediante a comunidade doméstica no seio da qual foram gerados, começam
eles a fazer parte da sociedade civil”.
Portanto: “o poder dos pais é de tal natureza que não pode ser nem suprimido
nem absorvido pelo Estado, porque tem o mesmo princípio comum com a
mesma vida dos homens”, diz na mesma Encíclica Leão XIII.

A educação deve estar de acordo com


o propósito da existência humana

Do que porém não se segue que o direito educativo dos pais seja absoluto ou
despótico, pois que está inseparavelmente subordinado ao fim último e à lei
natural e divina, como declara o mesmo Leão XIII noutra memorável Encí-
clica “sobre os principais deveres dos cidadãos Cristãos”, onde assim expõe
em síntese a súmula dos direitos e deveres dos pais: “Por natureza os pais têm
direito à formação dos filhos, com esta obrigação a mais, que a educação e
instrução da criança esteja de harmonia com o fim em virtude do qual, por
benefício de Deus, tiveram prole.”

Os pais devem ter controle sobre a educação

Devem portanto os pais esforçar-se e trabalhar energicamente por impedir


qualquer atentado nesta matéria, e assegurar de um modo absoluto que lhes
fique o poder de educar cristãmente os filhos, como é da sua obrigação, e
principalmente o poder de negá-los àquelas escolas em que há o perigo de
beberem o triste veneno da impiedade.

Obrigação relativamente à educação


religiosa, moral, física e cívica

Importa notar, além disso, que a educação da família compreende não só a


educação religiosa e moral, mas também a física e civil, principalmente en-
quanto têm relação com a religião e a moral.

98
HOMESCHOOLING CATÓLICO

As leis do Estado devem proteger os


direitos educacionais da família

Portanto relativamente à educação, é direito, ou melhor, é dever do Estado


proteger com as suas leis o direito anterior da família sobre a educação cristã
da prole, como acima indicamos, e por consequência respeitar o direito sobre-
natural da Igreja a tal educação cristã.

A educação cristã diz respeito à totalidade do homem

Com efeito nunca deve perder-se de vista que o sujeito da educação cristã é
o homem, o homem todo, espírito unido ao corpo em unidade de natureza,
com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais, como no-lo dão a
conhecer a recta razão e a Revelação: por isso o homem decaído do estado
original, mas remido por Cristo, e reintegrado na condição sobrenatural
de filho de Deus, ainda que o não tenha sido nos privilégios preternaturais
da imortalidade do corpo e da integridade ou equilíbrio das suas incli-
nações. Permanecem portanto na natureza humana os efeitos do pecado
original, particularmente o enfraquecimento da vontade e as tendências
desordenadas.

A mente deve ser iluminada e a vontade, fortalecida

“A estultícia está no coração da criança e a vara da disciplina dali a ex-


pulsará”. Devem-se portanto corrigir as inclinações desordenadas, excitar
e ordenar as boas, desde a mais tenra infância, e sobretudo deve iluminar-
-se a inteligência e fortalecer-se a vontade com as verdades sobrenaturais e
os auxílios da graça, sem a qual não se pode, nem dominar as inclinações
perversas, nem conseguir a devida perfeição educativa da Igreja, perfeita e
completamente dotada por Cristo com a divina doutrina e os Sacramentos,
meios eficazes da Graça.

Educação sexual nas escolas: um grave perigo

Mormente perigoso é portanto aquele naturalismo que, em nossos tempos,

99
MARY KAY CLARK

invade o campo da educação em matéria delicadíssima como é a honestidade


dos costumes. Assaz difuso é o erro dos que, com pretensões perigosas e más
palavras, promovem a pretendida educação sexual, julgando erradamente po-
derem precaver os jovens contra os perigos da sensualidade, com meios pu-
ramente naturais, tais como uma temerária iniciação e instrução preventiva,
indistintamente para todos, e até publicamente, e pior ainda, expondo-os por
algum tempo às ocasiões para os acostumar, como dizem, e quase fortalecer-
-lhes o espírito contra aqueles perigos.

O mal resulta da fraqueza da vontade

Estes erram gravemente, não querendo reconhecer a natural fragilidade hu-


mana e a lei de que fala o Apóstolo: contrária à lei do espírito, e desprezando
até a própria experiência dos factos, da qual consta que, nomeadamente nos
jovens, as culpas contra os bons costumes são efeito, não tanto da ignorância
intelectual, quanto e principalmente da fraqueza da vontade, exposta às oca-
siões e não sustentada pelos meios da Graça.

A educação em família é mais eficiente e duradoura

O primeiro ambiente natural e necessário da educação é a família, precisa-


mente a isto destinada pelo Criador. De modo que, em geral, a educação mais
eficaz e duradoira é aquela que se recebe numa família cristã bem ordenada e
disciplinada, tanto mais eficaz quanto mais clara e constantemente aí brilhar
sobretudo o bom exemplo dos pais e dos outros domésticos.

O lamentável declínio da educação familiar

Queremos porém chamar dum modo especial a vossa atenção, Veneráveis


Irmãos e amados Filhos, sobre a lastimável decadência hodierna da educação
familiar. Para os ofícios e profissões da vida temporal e terrena, com certeza
de menor importância, fazem-se longos estudos e uma cuidadosa preparação,
quando, para o ofício e dever fundamental da educação dos filhos, estão hoje
pouco ou nada preparados muitos pais demasiadamente absorvidos pelos cui-
dados temporais.

100
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Filhos cada vez mais afastados de casa

Para enervar a influência do ambiente familiar, acresce hoje o facto de que,


quase por toda a parte, se tende a afastar cada vez mais da família a juventude,
desde os mais tenros anos, sob vários pretextos, quer económicos, industriais
ou comerciais, quer mesmo políticos; e há regiões aonde se arrancam as crian-
ças do seio da família para as formar ou com mais verdade para as deformar
e depravar em associações e escolas sem Deus, na irreligiosidade, no ódio, se-
gundo as avançadas teorias socialistas, repetindo-se um novo e mais horroroso
massacre dos inocentes.

Os sacerdotes devem auxiliar os pais


na educação de seus filhos

Portanto rogamos instantemente, pelas entranhas de Jesus Cristo, aos Pas-


tores de almas, que nas instruções e catequeses, pela palavra e por escritos
largamente divulgados, empreguem todos os meios para recordar aos pais
cristãos as suas gravíssimas obrigações não só teórica ou genericamente, mas
também praticamente e em particular cada uma das suas obrigações relativas
à educação religiosa, moral e civil dos filhos e os métodos mais apropriados
para atuá-la eficazmente, além do exemplo da sua vida.

Pais, sejam pacientes, mas disciplinem seus filhos

A tais instruções práticas não desdenhou descer o Apóstolo das gentes nas
suas epístolas, particularmente naquela aos Efésios onde, entre outras coisas,
adverte: “O’ pais, não provoqueis à ira os vossos filhos”, o que é efeito não
tanto de excessiva severidade quanto principalmente da impaciência, da igno-
rância dos modos mais adequados à frutuosa correcção e ainda do já dema-
siado e comum relaxamento da disciplina familiar, aonde crescem indómitas
as paixões dos adolescentes.

Os pais são vigários – ou representantes – de Deus

Cuidem por isso os pais e com eles todos os educadores, de usar retamente da
autoridade a eles dada por Deus, de Quem são verdadeiramente vigários, não
para vantagem própria, mas para a reta educação dos filhos no santo e filial «

101
MARY KAY CLARK

temor de Deus, principio da sabedoria » sobre o qual se funda exclusiva e so-


lidamente o respeito à autoridade, sem o qual não pode subsistir nem ordem,
nem tranquilidade, nem bem-estar algum na família e na sociedade.

Os pais estão proibidos de enviar seus


filhos a escolas irreligiosas

Daqui resulta precisamente que a escola chamada neutra ou laica, donde é


excluída a religião, é contrária aos princípios fundamentais da educação. De
resto uma tal escola é praticamente impossível, porque de fato torna-se ir-
religiosa. Não ocorre repetir aqui quanto acerca deste assunto disseram os
Nossos Predecessores, nomeadamente Pio IX e Leão XIII, em cujos tempos
começou particularmente a dominar o laicismo na escola pública.
Nós renovamos e confirmamos as suas declarações, (48) e juntamente as pres-
crições dos Sagrados Cânones pelas quais é proibida aos jovens católicos a
freqüência de escolas acatólicas, neutras ou mistas, isto é, daquelas que são
abertas indiferentemente para católicos e não católicos, sem distinção, e só
pode tolerar-se tal freqüência unicamente em determinadas circunstâncias de
lugar e de tempo, e sob especiais cautelas de que é juiz o Ordinário. E não
pode admitir-se para os católicos a escola mista (pior se única e obrigatória
para todos), na qual, dando-se-lhes em separado a instrução religiosa, eles
recebem o resto do ensino em comum com os alunos não católicos de profes-
sores acatólicos.

Definição de uma autêntica escola católica

Pois que uma escola não se torna conforme aos direitos da Igreja e da família
cristã e digna da freqüência dos alunos católicos, pelo simples fato de que
nela se ministra a instrução religiosa, e muitas vezes com bastante parcimô-
nia. Para este efeito é indispensável que todo o ensino e toda a organização
da escola: mestres, programas, livros, em todas as disciplinas, sejam regidos
pelo espírito cristão, sob a direção e vigilância maternal da Igreja católica,
de modo que a Religião seja verdadeiramente fundamento e coroa de toda a
instrução, em todos os graus, não só elementar, mas também media e superior.
“É mister, para Nos servirmos das palavras de Leão XIII, que não só em
determinadas horas se ensine aos jovens a religião, mas que toda a restante
formação respire a fragrância da piedade cristã. Porque, se isto falta, se este
hálito sagrado não penetra e rescalda os ânimos dos mestres e dos discípulos,
muito pouca utilidade se poderá tirar de qualquer doutrina; pelo contrário,
virão daí danos e não pequenos”.

102
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O homem sobrenatural é produto da educação cristã

O fim próprio e imediato da educação cristã é cooperar com a graça divina na


formação do verdadeiro e perfeito cristão, isto é, formar o mesmo Cristo nos
regenerados pelo Baptismo, segundo a viva expressão do Apóstolo: “Meus
filhinhos, a quem eu trago no meu coração até que seja formado em vós Cris-
to”. Pois que o verdadeiro cristão deve viver a vida sobrenatural em Cristo:
“Cristo que é a vossa vida”, e manifestá-la em todas as suas acções: “a fim
que também a vida de Jesus se manifeste na vossa carne mortal ”.
Precisamente por isso a educação cristã abraça toda a extensão da vida huma-
na, sensível, espiritual, intelectual e moral, individual, doméstica e social, não
para diminuí-la de qualquer maneira, mas para a elevar, regular e aperfeiçoar
segundo os exemplos e doutrina de Cristo.
Por isso o verdadeiro cristão, fruto da verdadeira educação cristã, é o homem
sobrenatural que pensa, julga e opera constantemente e coerentemente, se-
gundo a sã razão iluminada pela luz sobrenatural dos exemplos e doutrina
de Cristo.

O homem católico aperfeiçoa o natural


por meio do sobrenatural

Por conseqüência o verdadeiro cristão, em vez de renunciar às obras da vida


terrena ou diminuir as suas faculdades naturais, antes as desenvolve e aperfei-
çoa, coordenando-as com a vida sobrenatural, de modo a enobrecer a mesma
vida natural, e a procurar-lhe utilidade mais eficaz, não só de ordem espiritual
e eterna, mas também material e temporal.

A educação cristã enobrece e beneficia a sociedade humana

Isto é provado por toda a história do cristianismo e das suas instituições, a


qual se identifica com a história da verdadeira civilização e do genuíno pro-
gresso até aos nossos dias; e particularmente pelos Santos de que é fecundís-
sima a Igreja, e só ela, os quais conseguiram em grau perfeitíssimo, o fim ou
escopo da educação cristã, e enobreceram e elevaram a convivência humana
em toda a espécie de bens. De facto, os Santos foram, são e serão sempre os
maiores benfeitores da sociedade humana.

103
MARY KAY CLARK

A educação cristã beneficia todas as instituições sociais

E que dizer da imensa obra, mesmo em prol da felicidade temporal, dos mis-
sionários evangélicos que juntamente com a luz da fé levaram elevam aos
povos bárbaros os bens da civilização, dos fundadores de muitas e variadas
obras de caridade e de assistência social, da interminável série de santos edu-
cadores e santas educadoras que perpetuaram e multiplicaram a sua obra,
nas suas fecundas instituições de educação cristã, para auxílio das famílias e
benefício inapreciável das nações?
São estes os frutos benéficos sobre todos os aspectos da educação cristã,
precisamente pela vida e virtude sobrenatural em Cristo que ela desenvolve
e forma no homem; pois que Jesus Cristo, Nosso Senhor, Mestre Divino, é
igualmente fonte e dador de tal vida e virtude, e ao mesmo tempo modelo uni-
versal e acessível a todas as condições do gênero humano, com o seu exemplo,
particularmente à juventude, no período da sua vida oculta, laboriosa, obe-
diente, aureolada de todas as virtudes individuais, domesticas e sociais, diante
de Deus e dos homens. (Acerca da Educação Cristã da Juventude)

Os ensinamentos ainda são válidos

O conteúdo da encíclica Acerca da Educação Cristã da Juventude tem


sido repetidamente reforçado por outros documentos papais e encíclicas. Em
1955, em uma carta papal ao Cardeal de Malines, o Papa Pio XII escreveu a
respeito desta encíclica:
Os princípios invioláveis afirmados por este documento, com relação à Igreja,
à família e ao papel do Estado no que toca à educação, baseiam-se na própria
natureza das coisas e na verdade revelada. Não podem ser modificados pelo
ir e vir dos eventos. Quanto às regras fundamentais ali prescritas, tampouco
elas estão sujeitas ao desgaste temporal, pois são apenas o eco fiel do Divino
Mestre, Cujas palavras jamais expiram. Esta encíclica é uma verdadeira Carta
Magna da educação cristã, “fora da qual nenhuma educação pode ser com-
pleta e perfeita.”

Mais adiante, na mesma carta, o Papa repete o ensinamento de que a


família tem “prioridade de direitos em questões de educação, relativamente
ao Estado.” A Igreja, porém, tem o direito e o dever de ensinar “as mais altas
verdades e leis da vida religiosa e moral.” E o Papa conclui que
O Estado, portanto, tem o dever de respeitar os direitos primários da família
e da Igreja no tocante à educação, inclusive protegendo-os contra violações

104
HOMESCHOOLING CATÓLICO

desses direitos. Se o Estado “monopolizasse a educação”, isto violaria os di-


reitos dos membros individuais da família e da Igreja.

A responsabilidade divina

Na encíclica Mit Brennender Sorge, de 1937, o Papa Pio XI dirigiu pala-


vras fortes aos administradores de falsas escolas católicas:
A preservação formal da instrução religiosa, especialmente quando controla-
da e saqueada por pessoas incompetentes, e em meio à atmosfera de uma es-
cola que, no ensino de outras matérias, trabalha sistemática e maliciosamente
contra a religião, não pode jamais servir de justificativa a que um cristão de fé
aprove esta escola cujo objetivo é destruir a religião.
...tenham isto em mente: nenhum poder terreno pode destituí-los da respon-
sabilidade divina que une vocês aos seus filhos. Nenhum destes que hoje bus-
cam privá-los de seus direitos educacionais, fingindo libertá-los de um pesado
fardo, poderá jamais responder a Deus em seu lugar quando Ele perguntar:
“Onde estão aqueles que confiei a ti?” Desejo que cada um de vocês possa
responder: “Eu não perdi nenhum daqueles que me confiastes.” (João 18, 9)

Summi Pontificatus8, 20 de outubro de 1939

A missão que Deus confiou aos pais de se interessarem pelo bem material e
espiritual da sua prole e de dar a ela uma formação harmônica e repassada de
verdadeiro espírito religioso, não lhes poderá ser arrebatada sem grave lesão
do direito.
Esta formação deve certamente ter por finalidade também preparar a juventu-
de para cumprir com inteligência, consciência e galhardia aqueles deveres de
patriotismo que dá à pátria terrestre a devida medida de amor, de dedicação e
colaboração. Mas por outra parte, uma formação que se esqueça, ou, o que é
pior ainda, propositalmente descure de dirigir os olhos e o coração da juven-
tude para a pátria sobrenatural, seria uma injustiça contra a juventude, uma
injustiça contra os inalienáveis deveres e direitos da família cristã, um excesso
a que se deve remediar também em favor do bem público e do Estado. (...)
As almas dos filhos que Deus deu aos pais, assinaladas no batismo com o selo
real de Cristo, são um depósito sagrado por Deus vigiado com cioso amor.
O mesmo Cristo que disse “deixai que as crianças venham a mim”, ameaçou

8 Versão em língua portuguesa: http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/


hf_p-xii_enc_20101939_summi-pontificatus.html

105
MARY KAY CLARK

também, não obstante sua bondade e misericórdia, terríveis males àqueles que
escandalizam os prediletos do seu coração. (...)
De tudo o que existe sobre a terra, somente a alma tem vida imortal. Um sis-
tema de educação que não respeitasse o recinto sagrado da família, protegido
pela santa lei de Deus, que procurasse minar-lhe os alicerces, que fechasse à
juventude o caminho que conduz a Deus, às fontes de vida e de alegria do Sal-
vador (Is 12, 3), que considerasse o apostatar Cristo e a Igreja como símbolo
de fidelidade ao povo ou a uma determinada classe, pronunciaria contra si
mesmo a sentença de condenação, e experimentaria, a seu tempo, a inelutável
verdade das palavras do profeta: “Aqueles que se afastam de ti serão escritos
na terra” (Jr 17, 13).

Discurso aos professores

Em um discurso a professores secundários, feito em 1949, o Papa Pio XII


afirmou que o “Trono de Pedro” sempre defendeu os direitos dos pais. O
Trono de Pedro
jamais consentirá em deixar a Igreja, que recebeu este direito [de guardar o
bem das almas] por um mandado divino, ou a família, que o reclama por jus-
tiça natural, serem privadas do exercício efetivo deste direito natural.

Concílio Vaticano II

Na Declaração sobre a Educação Cristã9, do Concílio Vaticano II, de ou-


tubro de 1965, muitas das citações acima se repetem, reiterando e exaltando
o ensinamento tradicional da Igreja. Na verdade, as palavras do Concílio são
até mais fortes do que as precedentes:
Os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação
de educar a prole e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e
principais educadores. Esta função educativa é de tanto peso que, onde não
existir, dificilmente poderá ser suprida. Com efeito, é dever dos pais criar um
ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade para com Deus e
para com os homens que favoreça a completa educação pessoal e social dos
filhos.
A família é, portanto, a primeira escola das virtudes sociais de que as socie-

9 Versão em língua portuguesa da Declaração: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/


ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_gravissimum-educationis_po.html

106
HOMESCHOOLING CATÓLICO

dades têm necessidade. Mas, é sobretudo, na família cristã, ornada da graça


e do dever do sacramento do Matrimónio, que devem ser ensinados os filhos
desde os primeiros anos, segundo a fé recebida no Baptismo a conhecer e a
adorar Deus e a amar o próximo; é aí que eles encontram a primeira expe-
riência quer da sã sociedade humana quer da Igreja; é pela família, enfim,
que eles são pouco a pouco introduzidos no consórcio civil dos homens e no
Povo de Deus. Caiam, portanto, os pais na conta da importância da família
verdadeiramente cristã na vida e progresso do próprio Povo de Deus. (Ênfase
da autora)

No Decreto sobre o Apostolado dos Leigos10, o papa e os bispos ensi-


nam, no Parágrafo 11, que os pais cristãos
são os primeiros que anunciam aos filhos a fé e os educam. Formam-nos, pela
palavra e pelo exemplo, para a vida cristã e apostólica. (...) [deve-se] afirmar
vigorosamente o direito e o dever próprio dos pais e tutores de educar cristã-
mente os filhos.
Foi a própria família que recebeu de Deus a missão de ser a primeira célula
vital da sociedade. Cumprirá essa missão se se mostrar, pela piedade mútua
dos seus membros e pela oração feita a Deus em comum, como que o santuá-
rio doméstico da Igreja; se toda a família se inserir no culto litúrgico da Igreja
e, finalmente, se a família exercer uma hospitalidade actuante e promover a
justiça e outras boas obras em serviço de todos os irmãos quê sofrem neces-
sidade.
As famílias cristãs, pela coerência de toda a sua vida com o Evangelho e pelo
exemplo que mostram do matrimónio cristão, oferecem ao mundo um pre-
ciosíssimo testemunho de Cristo, sempre e em toda a parte, mas sobretudo
naquelas regiões em que se lançam as primeiras sementes do Evangelho ou em
que a Igreja está nos começos ou atravessa alguma crise grave.

Do decreto “Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Atual”11, o


Concílio declarou:
Por sua própria índole, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão
ordenados para a procriação e educação da prole, que constituem como que
a sua coroa. (...) Quanto aos esposos, revestidos com a dignidade e o encargo
da paternidade e maternidade, cumprirão diligentemente o seu dever de edu-
cação, sobretudo religiosa, que a eles cabe em primeiro lugar. (n. 48)
O matrimónio e o amor conjugal ordenam-se por sua própria natureza à ge-

10 Versão em língua portuguesa: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_coun-


cil/documents/vat-ii_decree_19651118_apostolicam-actuositatem_po.html
11 Versão em língua portuguesa: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_coun-
cil/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html

107
MARY KAY CLARK

ração e educação da prole. (...) Os esposos sabem que no dever de transmitir


e educar a vida humana - dever que deve ser considerado como a sua missão
específica - eles são os cooperadores do amor de Deus criador e como que os
seus intérpretes. (n. 50)

O Papa Paulo VI, dirigindo-se ao Comitê da Família, em 1974, falou


sobre as virtudes que devem ser promovidas pela família:
(...) O lar é a morada privilegiada do amor, da comunhão profunda entre as
pessoas, do aprendizado que se dá a partir da doação total e incessante dos
esposos um para o outro. (...) Esse amor necessariamente pressupõe a ternura,
o autocontrole, a compreensão paciente, a piedade e a generosidade.

E ainda: “...o amor conjugal não deve apenas conter seus instintos, mas
superar seus egoísmos incessantemente.”

Catechesi Tradendae12

Em Catechesi Tradendae (em português, Sobre a Catequese do Nosso


Tempo), uma Exortação Apostólica promulgada em 1979, o Papa João Pau-
lo II recorda os ensinamentos tradicionais da Igreja com relação ao ensino
do catecismo:
A acção catequética da família tem um carácter particular e, em certo sentido,
insubstituível, justificadamente posto em evidência pela Igreja, de modo espe-
cial pelo Concílio Vaticano II.

As notas de rodapé acrescentadas a esta afirmação apontam que os con-


cílios da Igreja têm “insistido na responsabilidade dos pais no tocante à edu-
cação na fé.” São citados o Sexto Concílio de Arles, o Concílio de Mainz, o
Sexto Concílio de Paris, documentos de Pio XI, os “numerosos discursos e
mensagens de Pio XII” e diversos documentos do Concílio Vaticano II.
Vejamos, a seguir, um trecho de Catechesi Tradendae que explica por que
o homeschooling católico funciona:
A educação para a fé, feita pelos pais — a começar desde a mais tenra idade
das crianças — já se realiza quando os membros de determinada família se
ajudam uns aos outros a crescer na fé, graças ao próprio testemunho de vida
cristã muitas vezes silencioso, mas perseverante, no desenrolar da vida de to-

12 Versão em português: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/docu-


ments/hf_jp-ii_exh_16101979_catechesi-tradendae.html

108
HOMESCHOOLING CATÓLICO

dos os dias, vivida segundo o Evangelho. Torna-se ainda mais marcante quan-
do, ao ritmo dos acontecimentos familiares — como por exemplo a recepção
dos Sacramentos, a celebração de grandes festas litúrgicas, o nascimento de
um filho, um luto — se tem o cuidado de explicar em família o conteúdo cris-
tão ou religioso de tais acontecimentos.

O Papa João Paulo II prossegue afirmando que, em alguns lugares,


onde uma legislação anti-religiosa pretende impedir a educação para a fé, e
onde a incredulidade difundida ou o secularismo avassalador tornam pratica-
mente impossível um verdadeiro crescimento religioso, a família, essa «como
que Igreja doméstica», acaba por ser o único meio onde as crianças e os jovens
poderão receber uma autêntica catequese. Sendo assim, nunca serão demais os
esforços que fizerem os pais cristãos para se prepararem para este ministério
de catequistas de seus próprios filhos e para o exercerem com zelo infatigável.

Note-se a expressão “Igreja doméstica”, que é similar às expressões pa-


pais anteriores, como “Igreja do lar” e “santuário do lar”.

Código de Direito Canônico13

O Código de Direito Canônico de 1983 declara firmemente o direito e a


responsabilidade dos pais quanto à educação de seus filhos, em todas as ma-
térias, e especialmente quando se trata de educação religiosa e da preparação
das crianças para a recepção dos Sacramentos.

Cânon 226.2:
Os pais, já que deram a vida aos filhos, têm a obrigação gravíssima e o
direito de os educar; por consequência, aos pais cristãos compete primaria-
mente cuidar da educação cristã dos filhos, segundo a doutrina da Igreja.

Cânon 774.2:
Antes de todos, os pais têm obrigação de, com a palavra e o exemplo, for-
mar os filhos na fé e na prática da vida cristã; semelhante obrigação impende
sobre aqueles que fazem as vezes dos pais e sobre os padrinhos.

O Cânon 776 declara: “Promova e fomente o papel dos pais na catequese


familiar, a que se refere o cân. 774, § 2.”

13 Versão digital integral: http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-


-iuris-canonici_po.pdf

109
MARY KAY CLARK

O Cânon 793.1 afirma:


Os pais, e os que fazem as suas vezes, têm a obrigação e gozam do direito
de educar os filhos; os pais católicos, além disso, têm o dever e o direito de
escolher os meios e as instituições com que, segundo as circunstâncias dos
lugares, possam providenciar melhor à educação católica dos filhos. (Ênfase
da autora)

Cânon 835.4:
Também os demais fiéis, ao participarem activamente, a seu modo, nas
celebrações litúrgicas, sobretudo na eucarística, têm uma parte que lhes é
própria no múnus santificador; de modo peculiar participam neste múnus
os pais, vivendo em espírito cristão a vida conjugal e cuidando da educação
cristã dos filhos.

O Cânon 1055.1 declara: “O pacto matrimonial (...) é ordenado por sua


índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole.”

O Cânon 1134 afirma: “Do matrimónio válido origina-se entre os cônju-


ges um vínculo de sua natureza perpétuo e exclusivo; no matrimónio cristão,
além disso, são os cônjuges robustecidos e como que consagrados por um
sacramento peculiar para os deveres e dignidade do seu estado.”

O Cânon 1136, da seção “Dos Efeitos do Matrimônio”, afirma:


Os pais têm o dever gravíssimo e o direito primário de, na medida das
suas forças, darem aos filhos educação tanto física, social e cultural, como
moral e religiosa. (Ênfase da autora)

O Cânon 1366 declara:


Os pais ou quem faz as suas vezes, que entregam os filhos para serem
baptizados ou educados numa religião acatólica, sejam punidos com uma
censura ou outra pena justa.

Em Homeschooling e o Novo Código de Direito Canônico, o advogado


canônico Edward N. Peters escreve:
Os direitos canônicos dos pais sobre a educação de seus filhos são fortemen-
te afirmados pelo Código de Direito Canônico de 1983. Portanto, qualquer
tentativa, seja da parte de autoridades eclesiásticas ou quaisquer outras, de
restringir o exercício prudente destes direitos educacionais (inclusive, con-

110
HOMESCHOOLING CATÓLICO

forme argumentaremos em breve, a decisão parental de ensinar os filhos em


casa) deve, mediante a lei canônica, ser estritamente investigada, para que não
se impeça injustamente o exercício deste direito. (...) O que importa perceber,
contudo, é que questões relativas à prática do homeschooling afetam não
apenas o direito da criança à educação, mas em última instância a identidade
e a missão sacramentais da família e de cada um de seus membros.

A Exortação Apostólica Familiaris


Consortio14, do Papa João Paulo II

O mais importante documento moderno dirigido às famílias homescho-


olers é a exortação apostólica O Papel da Família Cristã no Mundo Mo-
derno, ou Familiaris Consortio, publicada em 1981. Esta encíclica merece
ser estudada mais profundamente pelos pais católicos homeschoolers, para
ampliarmos nosso nível de compreensão do Sacramento do Matrimônio e
das graças e obrigações do estado conjugal.
O Papa João Paulo II afirma que
O dever de educar mergulha as raízes na vocação primordial dos cônjuges
à participação na obra criadora de Deus: gerando no amor e por amor uma
nova pessoa, que traz em si a vocação ao crescimento e ao desenvolvimento,
os pais assumem por isso mesmo o dever de a ajudar eficazmente a viver uma
vida plenamente humana. (...) A família é, portanto, a primeira escola das
virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade.
O direito-dever educativo dos pais qualifica-se como essencial, ligado como
está à transmissão da vida humana; como original e primário, em relação ao
dever de educar dos outros, pela unicidade da relação de amor que subsiste
entre pais e filhos; como insubstituível e inalienável, e portanto, não delegável
totalmente a outros ou por outros usurpável.
Para além destas características, não se pode esquecer que o elemento mais
radical, que qualifica o dever de educar dos pais é o amor paterno e mater-
no, o qual encontra na obra educativa o seu cumprimento ao tornar pleno e
perfeito o serviço à vida: o amor dos pais de fonte torna-se alma e, portanto,
norma, que inspira e guia toda a acção educativa concreta, enriquecendo-a
com aqueles valores de docilidade, constância, bondade, serviço, desinteresse,
espírito de sacrifício, que são o fruto mais precioso do amor.

É óbvio que os pais homeschoolers precisam ter a certeza de estarem cul-

14 Versão em língua portuguesa: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhorta-


tions/documents/hf_jp-ii_exh_19811122_familiaris-consortio.html

111
MARY KAY CLARK

tivando essas virtudes cristãs em si próprios, assim como seus filhos. O Papa
João Paulo II prossegue sua Exortação ressaltando o direito educacional
prioritário dos pais, chamando-o de “missão”:
Para os pais cristãos a missão educativa, radicada como já se disse na sua
participação na obra criadora de Deus, tem uma nova e específica fonte no
sacramento do matrimónio, que os consagra para a educação propriamente
cristã dos filhos, isto é, que os chama a participar da mesma autoridade e do
mesmo amor de Deus Pai e de Cristo Pastor, como também do amor materno
da Igreja, e os enriquece de sabedoria, conselho, fortaleza e de todos os outros
dons do Espírito Santo para ajudarem os filhos no seu crescimento humano
e cristão.
O dever educativo recebe do sacramento do matrimónio a dignidade e a vo-
cação de ser um verdadeiro e próprio “ministério” da Igreja ao serviço da
edificação dos seus membros. Tal é a grandeza e o esplendor do ministério
educativo dos pais cristãos, que Santo Tomás não hesita em compará-lo ao
ministério dos sacerdotes. (...)
A consciência viva e atenta da missão recebida no sacramento do matrimónio
ajudará os pais cristãos a dedicarem-se com grande serenidade e confiança ao
serviço de educar os filhos e, ao mesmo tempo, com sentido de responsabili-
dade diante de Deus.

Carta dos Direitos da Família15

Em 1983, o Papa João Paulo II publicou a Carta dos Direitos da Família,


visando sobretudo a apoiar o direito dos pais de opor-se aos programas de
educação sexual nas escolas. O Papa ressalta novamente o papel insubstituí-
vel da família enquanto fonte primária de educação para as crianças:
A família constitui, mais que uma unidade jurídica, social ou económica, uma
comunidade de amor e de solidariedade insubstituível para o ensino e trans-
missão dos valores culturais, éticos, sociais, espirituais e religiosos, essenciais
para o desenvolvimento e bem-estar de seus próprios membros e da socieda-
de.
A família é o lugar onde se encontram diferentes gerações e onde se ajudam
mutuamente para crescer em sabedoria humana e harmonizar os direitos in-
dividuais com as outras exigências da vida social.
Os pais devem, por terem dado a vida aos filhos, ter o direito primeiro e ina-
lienável de educá-los; por isto devem ser reconhecidos como os primeiros e

15 Versão em língua portuguesa: http://diocesedecoimbra.pt/sdpfamiliar/documentocartadosdi


reitosdafamilia.htm

112
HOMESCHOOLING CATÓLICO

principais educadores dos seus filhos.


Os pais têm o direito de educar os seus filhos de acordo com suas convicções
morais e religiosas, levando em consideração as tradições culturais da família.
(...)
Os pais têm o direito de escolher livremente as escolas ou outros meios neces-
sários para educar seus filhos, em conformidade com as suas convicções. (...)
Os pais têm o direito de obter que seus filhos não sejam obrigados a receber
ensinamentos que não estejam de acordo com suas convicções morais e reli-
giosas – particularmente na educação sexual. (...)
Os direitos dos pais são violados quando o Estado impõe um sistema de edu-
cação obrigatório, no qual se exclui a educação religiosa.

É óbvio que o plano de Deus para as famílias cristãs é que os pais edu-
quem seus filhos. Não se trata de uma missão fortuita, mas de um trabalho
em tempo integral, um dever e uma ordem, que necessita ser cumprido dia
após dia. Ele abrange primeiramente a educação religiosa e a preparação
para os Sacramentos, mas também inclui a devida supervisão para que toda
a instrução se dê segundo a perspectiva católica.
Alguns pais optam pelo homeschooling por motivos acadêmicos e com
frequência julgam a tarefa demasiado difícil. Porém, aqueles comprometidos
com a Fé e com os autênticos valores católicos encontram forças para sofrer
todas as pressões e carregar tão pesadas cruzes, impostas inclusive por mem-
bros da família.
Párocos, bispos e outros religiosos devem apoiar os pais que se dispõem
a fazer tantos sacrifícios para cumprir sua missão e seu dever de educar seus
filhos em casa. O Papa João Paulo I, em setembro de 1978, falando a um
grupo de arcebispos e bispos americanos, recordou a importância da oração
em família. Ele afirmou que a igreja do lar, através da oração em família, é
capaz de liderar a renovação da Igreja e a transformação de todo o mundo.
“Um apostolado extremamente relevante” para o século XX, acreditava ele,
é a transmissão do amor de Deus de pais para filhos e o bom exemplo dos
pais como uma forma de incentivar a fé das novas gerações.
Em conclusão, o Papa João Paulo I implorou aos bispos americanos:
Queridos irmãos, queremos que vocês conheçam nossas prioridades. Preci-
samos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance em prol da família cristã,
para que nosso povo possa cumprir sua grande vocação com alegria cristã e
compartilhar de forma íntima e efetiva da missão salvadora da Igreja, que é
a missão de Cristo.

113
MARY KAY CLARK

Carta às Famílias16

O Papa João Paulo II declarou 1994 o Ano da Família e o iniciou com


um documento chamado Carta às Famílias. Nele, a Igreja repete seus ensina-
mentos de longa data acerca dos direitos e responsabilidades de pais e filhos.
O Papa inicia escrevendo: “A celebração do Ano da Família oferece-me o fe-
liz ensejo de bater à porta da vossa casa, no desejo de vos apresentar as mais
afectuosas saudações e conversar convosco.” Ele enfatiza que Deus deu Seu
único Filho ao mundo, porém escolheu fazê-Lo entrar “na história humana
através da família. (...) O divino mistério da Encarnação do Verbo tem assim
uma conexão íntima com a família humana.”
A primeira seção deste documento é muito importante, pois ensina mais
uma vez qual o significado do casamento e por que Deus instituiu o sacra-
mento do matrimônio. Com o subtítulo A Civilização do Amor, o Papa fala
sobre A Aliança Conjugal, A União dos Dois, O Bem Comum do Matrimô-
nio e da Família, O Dom Sincero de Si, Paternidade e Maternidade Respon-
sáveis e O Amor é Exigente.
Ao fim desta seção (seção 16), o Papa escreve sobre a educação na família
e afirma que os pais, no processo de educar seus filhos, doam-se a eles.
Em que consiste a educação? Para responder a esta questão, há que recordar
duas verdades fundamentais: a primeira é que o homem é chamado a viver na
verdade e no amor; a segunda é que cada homem realiza-se através do dom
sincero de si. Isto vale tanto para quem educa, como para quem é educado.
Assim, a educação constitui um processo singular, no qual a recíproca comu-
nhão das pessoas aparece impregnada de grande significado. O educador é
uma pessoa que “gera” em sentido espiritual. Nesta perspectiva, a educação
pode ser considerada um verdadeiro e próprio apostolado. É uma comunica-
ção vital, que não só constrói uma relação profunda entre educador e educan-
do, mas fá-los ambos participar na verdade e no amor, meta final à qual cada
homem é chamado por Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Que consolo e privilégio para os pais saber que a Igreja considera seu
trabalho de educadores como um genuíno apostolado!
Após alguns parágrafos lidando com o fato de a educação ser um dom
do ser e afirmando que “a educação é, portanto, antes de tudo, uma ‘oferta’
recíproca da parte de ambos os pais”, diz o Papa:

16 Versão em língua portuguesa: https://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1994/do-


cuments/hf_jp-ii_let_02021994_families.html

114
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Com razão, pois, pergunta a Igreja durante o rito do matrimónio: “Estais


dispostos a receber amorosamente da mão de Deus os filhos e a educá-los se-
gundo a lei de Cristo e da Igreja?”. O amor conjugal exprime-se na educação
como verdadeiro amor de pais. A “comunhão de pessoas”, que ao início da
família se manifesta como amor conjugal, completa-se e aperfeiçoa-se quando
se estende aos filhos com a educação. A potencial riqueza, constituída por
cada homem que nasce e cresce na família, deve ser responsavelmente assu-
mida de modo que não degenere nem se dissipe, mas, ao contrário, se realize
numa humanidade cada vez mais madura. Também este é um dinamismo de
reciprocidade, no qual os pais-educadores são, por sua vez, em certa medida
educados. Mestres de humanidade dos próprios filhos, também a aprendem
deles. Aqui emerge com destaque a estrutura orgânica da família e revela-se o
sentido fundamental do quarto mandamento.

A Igreja reconhece que, no processo de educar nossos filhos, nós ama-


durecemos e aprendemos com eles. Quantos de nós já não modificaram um
ponto de vista após um comentário feito por um filho?
Se os pais, ao darem a vida, tomam parte na obra criadora de Deus, pela
educação tornam-se participantes da sua pedagogia conjuntamente paterna e
materna. A paternidade divina, segundo S. Paulo, constitui o modelo originá-
rio de toda a paternidade e maternidade no cosmos (cf. Ef 3, 14-15), especial-
mente da maternidade e paternidade humana. Sobre a pedagogia divina nos
instruiu plenamente o Verbo eterno do Pai que, ao encarnar-se, revelou ao ho-
mem a verdadeira e integral dimensão da sua vocação: a filiação divina. E re-
velou assim também qual é o verdadeiro significado da educação do homem.
Por meio de Cristo, toda a educação, na família e fora dela, é inserida na di-
mensão salvífica da pedagogia divina, que se dirige aos homens e às famílias
e culmina no mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor. Daqui, do
“coração” da nossa redenção parte todo o processo de educação cristã que,
ao mesmo tempo, é sempre educação para a plena humanidade.

Nós, pais, somos parte do plano de Deus, designados para instruir nossos
filhos e ajudá-los a alcançar a eterna felicidade com Ele no paraíso. Desde
o momento em que concebemos os filhos criados por Deus e passamos a
criá-los com o propósito de que alcancem a eternidade com Ele, recebemos
graças que nos qualificam a ensinar-lhes tudo o que precisam saber para
obter a salvação eterna.
Os pais são os primeiros e principais educadores dos próprios filhos e têm
também neste campo uma competência fundamental: são educadores porque
pais. Eles partilham a sua missão educadora com outras pessoas e institui-
ções, tais como a Igreja e o Estado; todavia, isto deve verificar-se sempre na
correcta aplicação do princípio da subsidiariedade. Este implica a legitimida-

115
MARY KAY CLARK

de e mesmo o ónus de oferecer uma ajuda aos pais, mas encontra no direito
prevalecente deles e nas suas efectivas possibilidades o seu limite intrínseco
e intransponível. O princípio da subsidiariedade põe-se, assim, ao serviço do
amor dos pais, indo ao encontro do bem do núcleo familiar. Na verdade, os
pais não são capazes de satisfazer por si sós a todas as exigências do processo
educativo inteiro, especialmente no que toca à instrução e ao amplo sector da
sociabilização. A subsidiariedade completa assim o amor paterno e materno,
confirmando o seu carácter fundamental, porque qualquer outro participante
no processo educativo não pode operar senão em nome dos pais, com o seu
consenso e, em certa medida, até mesmo por seu encargo.
A família é chamada a cumprir a sua tarefa educativa na Igreja, participando
assim na vida e missão eclesial. A Igreja deseja educar sobretudo através da
família, para isso habilitada pelo sacramento do matrimónio com a “graça de
estado” que dele se obtém e o específico “carisma” que é próprio da inteira
comunidade familiar.

Como é estimulante ver que a Igreja deseja que os pais assumam a tarefa
de educar seus filhos! A Igreja afirma que, pelo Sacramento do Matrimônio,
os pais tornam-se capazes dessa tarefa.
Um dos campos onde a família é insubstituível, é certamente o da educação
religiosa, graças à qual a família cresce como “igreja doméstica”. A educação
religiosa e a catequese dos filhos colocam a família no âmbito da Igreja como
um verdadeiro sujeito de evangelização e de apostolado. Trata-se de um di-
reito intimamente conexo com o princípio da liberdade religiosa. As famílias
e, mais em concreto, os pais têm a faculdade de livremente escolherem para
os seus filhos um determinado modelo de educação religiosa e moral segundo
as próprias convicções. Mas ainda quando eles confiam tais obrigações a ins-
tituições eclesiásticas ou a escolas geridas por pessoal religioso, é necessário
que a sua presença educativa continue a ser constante e activa.

Não há nada de errado com aulas de educação religiosa ministradas fora


de casa, para os pais que desejem utilizá-las, porém cabe a eles “o direito de
escolher” para seus filhos uma paróquia ou escola local, ou optar por seu
próprio programa de educação religiosa domiciliar, desde que alinhado, é
claro, com os ensinamentos da Igreja.
O evangelho do amor é a fonte inexaurível de tudo quanto se nutre a família
humana como “comunhão de pessoas”. No amor, encontra apoio e sentido
definitivo todo o processo educativo, como fruto maduro da recíproca doação
dos pais. Mediante as canseiras, os sofrimentos e as desilusões, que acompa-
nham a educação da pessoa, o amor não cessa de estar sujeito a uma contínua
avaliação. Para superar este exame, requer-se um manancial de força espiritual
que se encontra apenas n’Aquele que “amou até ao fim” (Jo 13, 1). Assim, a

116
HOMESCHOOLING CATÓLICO

educação coloca-se plenamente no horizonte da “civilização do amor”; desta


depende e, em grande medida, contribui para a sua construção.
A assídua e confiante oração da Igreja, durante o Ano da Família, é oferecida
pela educação do homem, para que as famílias perseverem no compromisso
educativo com coragem, confiança e esperança, não obstantes as dificuldades
às vezes tão graves que parecem insuperáveis. A Igreja reza para que vençam as
forças da “civilização do amor”, que jorram da fonte do amor de Deus; forças
que a Igreja emprega sem descanso em benefício da inteira família humana.

Sexualidade Humana: Verdade e Significado17

O Pontifício Conselho para a Família publicou este documento em 1995,


com o subtítulo “Orientações educativas em família”. É endereçado especi-
ficamente aos pais, como se nota no comentário introdutório feito pelo Car-
deal Trujillo, que liderava o Pontifício Conselho para a Família. O Cardeal
preocupa-se sobretudo com a exposição das crianças a programas de educa-
ção sexual, porém o documento também enfoca os direitos educacionais dos
pais. Em um artigo explicando por que o Conselho publicou o documento,
o Cardeal Trujillo escreveu:
O direito dos pais enquanto primeiros educadores de seus filhos, em especial
durante a infância e a adolescência, é uma exigência da ordem natural e é
constantemente ressaltada nos ensinamentos da Igreja. A Carta às Famílias
comenta: “...os pais têm a riqueza de um potencial educativo que só eles pos-
suem. De forma única, eles conhecem seus próprios filhos; conhecem-nos em
sua identidade irrepetível, e por experiência possuem os segredos e os recur-
sos do amor verdadeiro.” (n. 7)
Evidentemente, o Pontifício Conselho para a Família sabe que nem todas as
famílias têm ciência destes direitos e deveres que são seus e insubstituíveis,
em circunstâncias normais. As famílias às vezes deixam essa tarefa de lado,
relegando-a à influência indireta mas quase sempre insalubre do acaso, da te-
levisão, da escola... Deste modo, um tipo de expropriação tem sido praticado
pelas escolas, ou antes pelos pedagogos que não estão em harmonia com os
pais, pois utilizam métodos com que as famílias não concordam e que, muitas
vezes, têm como única preocupação a promoção de seus próprios conceitos
ideológicos ou pragmáticos...
Além disso, não podemos ignorar o fato de que as organizações que apoiam
o planejamento familiar, guiadas pelo preceito do anti-natalismo, conse-

17 Versão em língua portuguesa: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/family/


documents/rc_pc_family_doc_08121995_hman-sexuality_po.html

117
MARY KAY CLARK

guiram se infiltrar na “educação” dos adolescentes, tomando o lugar que


pertence às famílias.

O capítulo IV de Verdade e Significado, intitulado “Pai e mãe como edu-


cadores”, e o capítulo V, “Itinerários formativos no seio da família”, são
fundamentais para demonstrar mais uma vez que a Igreja considera os pais
os primeiros educadores e os tomadores de decisão no que diz respeito à
educação de seus filhos, especialmente em áreas importantes como a sexua-
lidade humana.
Como esposos, pais e ministros da graça sacramental do matrimónio, os pais
são sustentados, dia após dia, com energias especiais de ordem espiritual, por
Jesus Cristo, que ama e nutre a Igreja, Sua Esposa. (...)
Enquanto cônjuges, tornados “uma só carne” pelo vínculo do matrimónio,
partilham o dever de formar os filhos mediante uma pronta colaboração ali-
mentada por um diálogo mútuo e vigoroso, que “tem uma nova e específica
fonte no sacramento do matrimónio, que os consagra para a educação pro-
priamente cristã dos filhos, isto é, que os chama a participar da mesma autori-
dade e do mesmo amor de Deus Pai e de Cristo Pastor, como também do amor
materno da Igreja, e os enriquece de sabedoria, conselho, fortaleza e de todos
os outros dons do Espírito Santo para ajudarem os filhos no seu crescimento
humano e cristão”. (n. 37)
(...) Os pais nunca se devem sentir sós neste empenho. A Igreja apoia-os e
encoraja-os, confiante de que podem desempenhar esta função melhor do que
qualquer outra pessoa. (n. 40)
Antes de entrar nos pormenores práticos da formação dos jovens para a cas-
tidade, é de extrema importância que os pais conheçam os seus direitos e de-
veres, em particular diante de um Estado e duma escola que tendem a tomar
a iniciativa em matéria de educação sexual.
Na Familiaris Consortio, o Santo Padre João Paulo II reafirma-o: “O direi-
to dever educativo dos pais qualifica-se como essencial, ligado como está à
transmissão da vida humana; como original e primário, em relação ao dever
de educar dos outros, pela unicidade da relação de amor que subsiste entre
pais e filhos; como insubstituível e inalienável, e portanto, não delegável to-
talmente a outros ou por outros usurpável “. (n. 41)
Esta doutrina apoia-se nos ensinamentos do Concílio Vaticano II e é também
proclamada na Carta dos Direitos da Família: “Tendo dado a vida aos seus
filhos, os pais têm o direito original, primário e inalienável de os educar; eles...
têm o direito de educar os seus filhos em conformidade com as suas convic-
ções morais e religiosas, tendo em conta as tradições culturais da família que
favoreçam o bem e a dignidade da criança; devem, além disso, receber da
sociedade o auxílio e a assistência necessários para desempenharem conve-
nientemente o seu papel educativo”. (n. 42)

118
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O Santo Padre acrescenta: “Pelos laços estreitos que ligam a dimensão


sexual da pessoa e os seus valores éticos, o dever educativo deve conduzir os
filhos a conhecer e a estimar as normas morais como necessária e preciosa
garantia para um crescimento pessoal responsável na sexualidade humana”.
Ninguém está em condições de realizar melhor a educação moral, neste cam-
po delicado, do que os pais, devidamente preparados. (n. 43)
Este direito implica também um dever educativo: se de facto não conferem
uma adequada formação à castidade, os pais faltam a um seu dever preciso;
e eles não deixariam de ser culpados se tolerassem que uma formação imoral
ou inadequada fosse dada aos filhos fora de casa. (n. 44)

A consequência direta deste último comentário é que quase todos os pais


deveriam optar pelo homeschooling, pois há raríssimas escolas fiéis aos ensi-
namentos da Igreja no quesito moral.
Assim, por meio deste documento, a Igreja afirma seu dever de estimular
a autoconfiança dos pais em sua própria capacidade e ajudá-los a desempe-
nhar sua função de educadores.
E deste modo podemos chegar à conclusão de que os documentos da Igreja
enfaticamente incentivam os pais que decidem educar seus filhos em casa.

119
Capítulo 4
Como iniciar o homeschooling católico?

A
ntes de iniciar o homeschooling católico, você precisa estar convicto
de que é isto o que deseja fazer e comprometer-se integralmente com
a ideia.
Fazer homeschooling não é como comprar um casaco novo. O homescho-
oling católico é um modo de vida. Deve ser algo que você já tenha tentado em
menor medida com seus filhos, ao ensinar religião ou os Sacramentos, ao des-
ligar a TV de vez em quando e tentar levar uma vida autenticamente católica.
O homeschooling católico não é simples, nem fácil. É, em primeiro lugar,
um compromisso com Deus e, em segundo, com a família. Tendo decidido
que deseja firmar esse compromisso, você deve tentar preparar-se.
Comece rezando uma novena, isto é, nove dias de orações especiais. An-
tes de tudo, vá à Confissão. Então, reserve nove dias para rezar à Virgem
Santíssima ou ao Sagrado Coração. Vá à Missa todos os dias. Reze ao seu
anjo da guarda e aos anjos da guarda de seus filhos, pedindo que intercedam
por você. Peça ao seu santo padroeiro que lhe ajude. Reze o Terço todos
os dias, se possível. Implore pela graça de saber o que fazer, pela coragem
de tomar a decisão certa e pela força de levá-la adiante. Faça com que seu
cônjuge participe o máximo possível das orações. Você precisará ao menos
de um mínimo apoio dele ou dela. Trata-se, afinal, de uma responsabilidade
inerente à vocação matrimonial de ambos.
MARY KAY CLARK

Se, ao final dos nove dias de oração, você finalmente decidir que quer
iniciar o homeschooling, mas seu cônjuge ainda for contra a ideia, pergunte
se ele ou ela permitiria que você tentasse por um ano. Afinal, considerando a
reputação das escolas atualmente, as crianças não perderiam muito ficando
em casa por um ano, mesmo que não aprendessem nada nesse período.
Apesar do dito acima, não postergue o homeschooling até que tudo es-
teja perfeito e você não tenha mais dúvidas quanto ao projeto. Você sempre
terá dúvidas e as coisas nunca serão perfeitas. Se, num dado momento, você
sentir que é isso o que Deus lhe está chamando a fazer, apenas vá fundo!
João Paulo, o Grande, costumava dizer que às vezes é necessário “dar um
salto de fé nas profundezas”. É isto o que Nosso Senhor disse a São Pedro
no Mar da Galileia, ao que Pedro saiu do barco e pisou sobre a água. Todos
os que iniciam o homeschooling estão, de certo modo, dando um salto de fé
nas profundezas.

Como contar ao seu marido

Como em 90% das situações são as mães que querem ensinar seus filhos
em casa, esta seção é dedicada a elas. Contudo, se você for um pai que deseja
praticar o homeschooling com seus filhos, estas ideias também podem ajudá-lo.
Alguns maridos pensam que o homeschooling é uma espécie de movi-
mento alternativo, um tipo de modinha “natureba”. Mostre ao seu marido a
maior quantidade possível de literatura sobre o assunto. Temos informações
disponíveis no portal Seton Online, www.setonhome.org. Seu marido pode
conhecer a Seton, assim como o homeschooling em geral, ouvindo em nosso
site áudios de vários conferencistas sobre homeschooling. Além do portal
da Seton, há outros muitos sites sobre homeschooling em geral e homes-
chooling católico em particular. Vá a qualquer ferramenta de busca e digite
“homeschooling católico”.
Uma boa fonte de estatísticas sobre homeschooling é o National Home
Education Research Institute (NHERI - Instituto Nacional de Pesquisa so-
bre Educação Domiciliar). Eles disponibilizam diversas tabelas simplificadas
com estatísticas sobre o número de crianças educadas em casa, níveis de
desempenho, informações demográficas e ajuste emocional e social. Estão
disponíveis em www.nheri.org.
Se você pensa em matricular-se na Seton, diga ao seu marido que se trata
de uma instituição certificada. A certificação é importante para muitas orga-
nizações profissionais, coisa que os maridos compreendem.

122
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Se mais for necessário, há vídeos, fitas cassete e livros com o conteúdo das
conferências organizadas pela Seton. Peça ao seu marido que leia este livro,
ou leia passagens para ele. Há muitos materiais acessíveis, seja no portal da
Seton ou através da associação de homeschooling da sua região. Se possível,
vá com seu marido a encontros de homeschooling católico, onde ele conhe-
cerá centenas de pessoas adeptas do ensino domiciliar ou simpáticas à ideia.
Quando ele conhecer bons casais católicos que ensinam seus filhos em casa,
verá a possibilidade com melhores olhos. Se ele topar, leve-o aos encontros
do grupo de apoio regional, especialmente quando você souber que outros
pais estarão presentes. Esta será uma oportunidade para ele tirar dúvidas.
Vá à biblioteca ou à livraria católica mais próxima e procure por livros
sobre homeschooling. No entanto, uma maior variedade de títulos você só
encontrará nos congressos estaduais sobre homeschooling católico. Incenti-
ve seu marido a ler alguns livros e a informar-se melhor sobre o tema. Se ele
não quiser ler, então leia você mesma e discuta as ideias com ele.
Alguns pais temem que o homeschooling transforme seus filhos em de-
sajustados antissociais. Ginny Seuffert sugere que, se esse for o medo do seu
marido, você o leve a um passeio no shopping. Procure o grupo de adoles-
centes que tiverem as aparências mais estranhas – aqueles com cabelo roxo,
tatuagens e piercings – e pergunte a eles se são praticantes do homeschooling.
O capítulo deste livro escrito pelo Dr. Mark Lowery, que é pai homescho-
oler de uma família numerosa, pode ajudar seu marido.

Declaração de princípios

Antes de iniciar o homeschooling, escreva uma lista com os motivos pe-


los quais você deseja educar seus filhos em casa. Isto lhe ajudará a esclare-
cer seus propósitos. Tente expressar-se de forma clara e específica, pois isto
refinará seu pensamento e fortalecerá sua decisão. É necessário que você
compreenda inteiramente seus próprios motivos para tomar esta decisão
que, no fim das contas, precisará ser defendida diante de parentes, amigos
e conhecidos da paróquia.
Discuta o assunto minuciosamente com seu cônjuge, se possível. Ele (ou
ela) precisa compreender perfeitamente sua perspectiva. Caso seus filhos se-
jam mais velhos, façam uma reunião em família. Você e seu esposo devem
explicar às crianças exatamente por que vocês têm tanta certeza de que elas
devem ser educadas em casa. Incluí-las nas discussões desde o princípio pode
impedir reclamações e arrependimentos mais tarde.

123
MARY KAY CLARK

Assim que tiver uma declaração de princípios sobre seus motivos para
buscar o homeschooling e sobre quais são seus objetivos ao praticá-lo, co-
le-a em uma superfície que fique bem à mostra em sua casa. Você precisará
deste auxílio nos dias em que a coisa “ficar preta”, pois servirá como um
lembrete constante a todos da casa de que há bons motivos para fazerem
o que estão fazendo.

Declaração de objetivos

Além da declaração de princípios, escreva uma lista com os objetivos


específicos do homeschooling para sua família. Por exemplo, entre os obje-
tivos religiosos pode constar que todos vão à Missa todos os dias, que vão à
Confissão uma vez por mês e que ao menos uma vez por semana haja ativi-
dades relacionadas ao calendário litúrgico. Entre os objetivos de construção
de caráter pode constar que a pequena Susie aprenda a dizer “por favor” e
“obrigada”, que o Johnny aprenda a ser educado e a não irritar seu irmão
mais novo, que o George aprenda a respeitar seus pais, e assim por diante.
Entre os objetivos acadêmicos pode constar, caso você utilize programa
estruturado, que as crianças terminem uma série em nove meses, ou que,
custe o que custar, a pequena Sally aprenda as tabuadas neste verão. A Seton
disponibiliza o material “Objetivos e Progressão”, que determina objetivos
acadêmicos para cada disciplina de cada série. Mesmo que você não queira
segui-los à risca, eles lhe ajudarão a chegar a uma lista de objetivos adequa-
da. Em alguns estados, os pais são obrigados a apresentar todos os anos
um plano curricular para cada criança. Seja como for, estabelecer objetivos
funcionará como um guia para o seu trabalho, e ao mesmo tempo propor-
cionará um sentimento de sucesso quando as metas forem alcançadas.
Para ver alguns exemplos de objetivos acadêmicos, você pode pesquisar
online por “Virginia Standards of Learning” [Grade de Objetivos Acadêmi-
cos do Estado da Virgínia]. Clique em uma disciplina e uma série específica
para ver a lista dos objetivos que as escolas públicas da Virginia traçam para
seus alunos. Isto lhe dará uma excelente noção do que se espera academica-
mente de cada série. Tenha em mente que os objetivos listados não são ne-
cessariamente atingidos pela maioria das escolas públicas. As autoridades da
educação se orgulham de estabelecer seu “padrão de qualidade”, porém uma
imensa porcentagem das escolas públicas não atingem as metas dessas listas.
Traçar objetivos específicos mantém você e seus filhos em um caminho
bem definido. Mesmo que você não os alcance exatamente de acordo com

124
HOMESCHOOLING CATÓLICO

o plano, para alcançar quaisquer objetivos é preciso antes de tudo traçá-


-los. Com a popularização crescente do homeschooling, temos visto alguns
pais trabalharem de forma excessivamente desorganizada. Do mesmo modo
como é arriscado ir às compras sem um orçamento estabelecido, se você não
traçar seus objetivos para o homeschooling, logo os passos diários rumo à
meta começarão a ser esquecidos e as aulas deixarão de acontecer. A desor-
ganização faz com que você se sinta frustrado e se pergunte por que teve a
ideia de começar tudo isso. Às vezes você se sente até culpado e começa a
perder a autoconfiança.

Escreva um lembrete

A maioria dos pais opta pelo homeschooling tanto por motivos positivos
quanto por negativos. Os negativos costumam derivar da insatisfação com
as escolas que seus filhos frequentam. Então, talvez seja útil fazer uma lista
com as desvantagens de mandar as crianças à escola. Pode ser uma lista só
com frases, mas ainda assim é importante escrevê-la, por serem frases pesso-
ais e que fazem sentido para você. É algo que deve ser feito menos pelos seus
filhos do que por você. Seus filhos podem, com a sua ajuda, fazer as listas
deles, considerando que tenham idade suficiente para compreender a tarefa.
Passados alguns anos de homeschooling, algumas mães parecem esquecer
qual era exatamente o problema com a escola de seus filhos. Elas começam
a pensar que talvez nem fosse assim tão ruim. Algumas crianças voltam à
escola devido a frustrações e dificuldades, mas muitas delas imploram para
voltar para casa após um semestre de miséria e choque diante da cultura
cruel, bárbara e baixa das escolas. Os pais que pensam que as escolas são
boas para as crianças decerto não passam um dia inteiro em uma escola há
muitos anos. Basta visitar as salas de aula, caminhar pelos corredores, visitar
o pátio, assistir a um trecho de uma aula; basta passar um dia inteiro em
uma escola para você perguntar-se: “Eu gostaria que meu filho passasse 180
dias por ano neste lugar?”
É comum as mães telefonarem para a Seton para contar histórias terríveis
sobre o assédio emocional e psicológico que seus filhos sofrem na escola.
Após um ou dois anos em casa, elas pensam que talvez no próximo ano a
escola não estará tão ruim. E assim a pequena Susie deixa o homeschooling.
Dentro de duas semanas, ela está falando gírias degradantes e contando his-
tórias sobre pessoas que “ficam” umas com as outras, e quer vestir roupas
imodestas para não destoar das meninas da escola. Pior ainda, ela quer ter

125
MARY KAY CLARK

um namorado, um corte de cabelo esquisito, um piercing na língua, uma


tatuagem, etc etc. Com alguma sorte, como costuma, graças a Deus, acon-
tecer, Susie perceberá que tudo isso são patologias e pedirá à sua mãe para
retornar para casa.
As histórias que ouvimos são tão ultrajantes que nos fazem pensar que
a maioria dos pais, ou não tomam conhecimento delas, ou não acreditam,
pois são de fato inacreditáveis. Ocorre o mesmo com o aborto. É algo tão
pérfido que nossas mentes têm dificuldade de compreender o horror em que
ele consiste.
Os pais que fazem homeschooling com seus filhos mais novos devem to-
mar nota dos efeitos que a escola teve sobre seus mais velhos. Mesmo bons
pais já tiveram filhos que deixaram a Igreja, que se casaram fora da Igreja,
que se divorciaram, que tiveram filhos fora do vínculo matrimonial ou que
viveram com namorados e namoradas sem o benefício do matrimônio. Re-
corde-se sempre de que você deseja poupar desses problemas os seus filhos
que não foram expostos a esse tipo de má influência.
Precisamos encarar fatos difíceis. Vivemos em uma sociedade pagã. A
filósofa católica Alice von Hildebrand já assinalou que na verdade é até pior
do que uma sociedade pagã, pois os pagãos ao menos acreditavam em alguns
deuses. Já a nossa sociedade parece não acreditar em nada além do prazer
momentâneo.
As escolas são lugares que colocam em risco a integridade física das
crianças. Não é incomum lermos sobre meninos que são presos pela polícia
por terem carregado uma arma dentro da escola. De fato, em um estudo
feito pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, estimou-se
que 1 em cada 20 alunos leva uma arma para a escola ao menos uma vez
por mês. A presença de armas e facas nas escolas públicas já se tornou tão
comum, que um dos debates entre os administradores escolares hoje em dia
é sobre qual a máquina mais eficaz para detectar armas na entrada dos pré-
dios. Em 1999, o ano do massacre de Columbine, doze outros tiroteios em
escolas foram relatados em um período de dezoito meses.
Nos últimos anos, a mídia tem noticiado sem parar os escândalos de
abuso sexual de crianças por padres. Este é um problema terrível, porém
a mídia tende a ignorar o abuso sexual de crianças nas escolas públicas,
por professores e funcionários. Em um estudo recente, cerca de 10% dos
alunos relataram ter sido vítimas de abuso sexual da parte de professores
e funcionários de suas escolas. (Hostile Hallways, American Association of
University Women, 2001)

126
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Mas é claro que o perigo mais sério nas escolas é o perigo espiritual. O Pe.
Hardon costumava dizer que, diante de professores que apoiam o “direito”
das mães de matar inocentes bebês não nascidos, ou que pensam que o abor-
to, a fornicação ou o homossexualismo podem ser opções justificáveis, como
você pode, moralmente, permitir que essas pessoas ensinem o que quer que
seja aos seus filhos, seja no âmbito espiritual ou puramente técnico? O que
nos aguarda no futuro, com os “casamentos” homossexuais já começando a
ser legalizados, são currículos escolares que ensinem que essas “novidades”
não apenas são moralmente possíveis, como basta alguém falar abertamente
contra elas para ser acusado de “crime de ódio”.
Na verdade, com o passar do tempo, vai haver cada vez menos “bons pro-
fessores”, pois todos serão obrigados a bombardear seus alunos com valores
imorais. Os professores piedosos sentirão cada vez mais que não podem fazer
parte de um sistema que espera deles o ensino de mentiras e imoralidades. E
assim restarão apenas os professores que concordam com a imoralidade.

Os avós

Um dos problemas que você terá de enfrentar antes de iniciar o homes-


chooling é o que seus pais e parentes vão pensar. O que eles vão dizer? Eles
apoiarão ou serão contra? Eles criticarão você na frente dos seus filhos? Ten-
te de todos os modos explicar a eles por que você optou pelo homeschooling,
já que eles têm um interesse legítimo pelo bem dos seus filhos.
A maioria dos avós não têm consciência do estado deplorável das escolas
de hoje. Caso eles pensem que a escola não é assim tão ruim, peça-lhes que
passem um dia em uma escola da vizinhança. Eles provavelmente ouviram
falar sobre o baixo desempenho acadêmico das crianças de todo o país, pois
a televisão, os jornais, os governadores e até o Presidente dos Estados Unidos
já o admitiram. Não será difícil convencê-los de que as escolas não oferecem
uma educação de qualidade às crianças. Difícil seria negá-lo.
Além de mostrar o lado negativo das escolas, explique os motivos posi-
tivos pelos quais você escolheu o homeschooling. Exponha os ensinamentos
da Igreja e diga-lhes que você acredita dispor de todas as graças necessárias
para tomar essa decisão, e que Deus lhe agraciará com o quanto for neces-
sário para você estar à altura da tarefa. Faça com que eles entendam seus
motivos espirituais. Eles respeitarão você por isso.
Se possível, peça a ajuda de seus pais e parentes. Algumas famílias têm
relatado que os avós são professores excepcionais. Eles amam seus netos,

127
MARY KAY CLARK

são pacientes e muitos deles têm tempo livre. Participando ativamente do


homeschooling, os avós aprendem a compreender seus benefícios.
Quando eles se opõem, quase sempre é por pensar que as crianças cres-
cerão antissociais. Mostre-lhes o conteúdo do capítulo sobre Socialização,
mais adiante, assim como os dados do site do NHERI. Além disso, descreva
as muitas oportunidades de boa socialização que seus filhos terão com os
grupos de homeschooling, a prática de esportes, aulas de música, idas à igre-
ja e tantas outras.
Alguns avós pensam que crianças educadas em casa não poderão ir à
universidade. Este pensamento sem dúvida está desatualizado. Milhares de
alunos egressos do homeschooling estão hoje na universidade. Faculdades
privadas buscam notas altas no SAT ou ACT. A maioria não se preocupa
com onde ou como os alunos adquiriram seu conhecimento. Na verdade, as
faculdades privadas costumam primar pela formação de um corpo estudan-
til diverso, e ser um ex-homeschooler pode acabar aumentando suas chances
de admissão universitária.
Faculdades estaduais normalmente exigem apenas que os alunos homes-
choolers apresentem o teste G.E.D. Contudo, alguns estados podem requerer
outros documentos específicos.
As faculdades católicas tradicionais têm recebido com gosto os alunos
homeschoolers. Muitos graduados da Seton recebem, todos os anos, bolsas
de estudo de faculdades católicas como a Christendom, Magdalen, Thomas
Aquinas, Ave Maria e Universidade Franciscana de Steubenville. Afinal, os
alunos homeschoolers têm motivação própria, são autodisciplinados, não
usam drogas e tendem a ter valores católicos e familiares tradicionais. Eles
são precisamente o que as boas faculdades católicas buscam.
Algo que também beneficia a aceitação de alunos homeschoolers pelas fa-
culdades é que muitas delas hoje oferecem programas de graduação à distân-
cia. Estes têm sido muito bem-sucedidos e bem frequentados, especialmente
com recursos como aulas online, mídia interativa, CD-ROM, além dos mais
tradicionais cursos pela televisão. Além do Discovery Channel e do Learning
Channel, alunos do ensino médio e de faculdades podem sintonizar cursos
da Oklahoma State e da Mind Extension University. Cursos desse tipo estão
se tornando cada vez mais refinados, pois há pesquisadores obtendo títu-
los de mestrado e doutorado na área de Desenvolvimento Curricular para
cursos online! Seria contraditório as faculdades oferecerem seus próprios
programas de graduação à distância e ao mesmo tempo duvidar de que os
alunos homeschoolers estão qualificados para admissão.

128
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Se os avós ainda se opuserem, diga-lhes que vocês vão tentar o homes-


chooling por um ano e ver se funciona. Durante esse ano, convide-os a lhe
fazer uma visita enquanto você estiver dando aula, ou faça as crianças lerem
para eles, ou recitar a tabuada diante deles.
Às vezes, no entanto, os avós tentam indispor as crianças com relação
ao homeschooling e causam com isso um problema sério no seio da família.
Alguns já chegaram ao ponto de contatar as autoridades locais e queixar-
-se porque seus netos não estavam sendo educados. Esta é uma situação
delicada, porém precisamos ter em mente que eles estão sendo sinceros em
relação ao que creem, mesmo que estejam equivocados. Os pais talvez pre-
cisem deixar claro que a família pode deixar de visitá-los enquanto o pro-
blema continuar. Alguns pais optam por não comunicar aos avós sobre o
homeschooling, temendo situações potencialmente desagradáveis. Essa deci-
são requer muita oração. Por favor, sejam cautelosos, sábios como serpentes,
gentis como pombas.

O pároco

Tendo firmado seu compromisso com o homeschooling; tendo discutido


e chegado a um acordo com seu cônjuge e tendo conversado com seus pa-
rentes e pessoas mais íntimas, a próxima preocupação é com seu pároco e
conhecidos da paróquia.
É claro que você não tem qualquer obrigação de informá-los sobre o que
você faz. No entanto, é um assunto que tende a ser comentado, especialmen-
te se você e as crianças frequentam a Missa durante a semana. Nesses casos,
o pároco eventualmente perguntará por que elas não estão na escola. Talvez
você também prepare seus filhos para os Sacramentos, ao invés de matriculá-
-los nas aulas da paróquia. Se for esse o caso, você precisará explicar ao
pároco que vocês praticam o homeschooling e que eles têm aulas de religião
em casa.
Consultando os documentos da Igreja Católica, dos quais há muitos tre-
chos neste livro, você pode ter uma excelente noção a respeito dos ensina-
mentos da Igreja e ter a certeza de que ensinar seus filhos em casa não apenas
é correto, como é também sua responsabilidade.
Contudo, muitos párocos não estão a par dos documentos da Igreja que
asseguram o direito e o dever dos pais quanto à educação da prole. Nos
seminários, o homeschooling sequer é discutido. Portanto, seja cauteloso em
sua abordagem.

129
MARY KAY CLARK

Em nossos dias, todos os párocos conhecem ao menos uma ou duas fa-


mílias homeschoolers. Então, se a sua família estiver começando no homes-
chooling, dificilmente será a primeira de que o pároco terá notícia. Ainda
assim, como os padres mudam de paróquia com frequência, pode ocorrer de
você ter que lidar com um que não saiba nada sobre homeschooling. Neste
caso, pode ser uma boa ideia reunir algumas famílias homeschoolers para
encontrá-lo e explicar do que se trata.
O fato de que os padres mudam de paróquia com frequência é na verdade
um bom motivo para se iniciar um grupo de apoio ao homeschooling na sua
paróquia. Se for estabelecido um grupo oficial, cujos costumes e tradições
já estejam em voga há alguns anos, será mais difícil para um novo pároco
causar problemas aos homeschoolers.

Paroquianos e vizinhos

Vizinhos hostis são a principal causa de problemas jurídicos para as fa-


mílias homeschoolers. Antes de iniciar o homeschooling, entre em contato
o grupo de apoio da sua região. Informe-se sobre como os moradores da
sua comunidade têm reagido ao homeschooling. Se eles forem hostis, há
duas alternativas. Você pode continuar na vizinhança e tentar estabelecer
uma boa convivência baseada na tolerância mútua, ou você pode mudar-se
para outra vizinhança. Ambas as possibilidades precisam ser consideradas
com seriedade.
Vivemos em um momento estranho da história americana, em que o
abuso de crianças tornou-se preocupação nacional! As pessoas sabem que
podem, com toda a tranquilidade, contatar anonimamente o serviço social
e submeter queixas contra seus desafetos. O grito de “abuso infantil!” pode
trazer muitos problemas a uma família. Esteja ciente do perigo e mantenha-
-se alerta. Além disso, mantenha contato com outras famílias homeschoo-
lers. Não se isole de seus pares. E, havendo quaisquer candidatos pró-vida
concorrendo às eleições locais, ajude em suas campanhas. Ter amigos no
poder pode ser de grande utilidade em uma situação de perseguição por
vizinhos ou professores.
No passado, os pais homeschoolers costumavam manter seus filhos den-
tro de casa durante o horário de funcionamento das escolas. Hoje em dia,
no entanto, o homeschooling já não é uma realidade tão fora do comum. A
não ser que haja um problema específico com algum vizinho, você não deve
temer que seu filho saia de casa enquanto as outras crianças estão na escola.

130
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Você deve escolher sua vizinhança com cuidado. Há regiões onde o ho-
meschooling é forte. Você deve buscar relacionar-se com pessoas católicas
que também desejam fortalecer seus laços familiares. Com alguma sorte,
você encontrará uma vizinhança onde haja outras famílias católicas homes-
choolers. Muitos de nós temos ancestrais que, à custa de grandes sacrifícios
pessoais, vieram à América por conta da intolerância religiosa em seus países
de origem. É em virtude de nossos valores familiares e religiosos que deci-
dimos ensinar nossos filhos em casa. Se seus vizinhos forem profundamente
intolerantes, inspire-se na determinação de seus ancestrais e mude-se de bair-
ro pelo bem de sua família.
Se você está considerando mudar-se e tem em vista algumas opções de
locais, verifique antes com outros homeschoolers. A internet, especialmente
os fóruns para troca de mensagens, é uma excelente ferramenta para quem
busca informações sobre diferentes comunidades.

Associações regionais ou estaduais de homeschooling

Torne-se um membro pagante da associação católica de homeschooling


do seu estado. É provável que eles publiquem um boletim de notícias men-
sal ou bimensal, que manterá você informado sobre propostas estaduais de
legislação que possam afetar as famílias homeschoolers. Eles também divul-
gam encontros e convenções regionais ou estaduais sobre homeschooling e
atividades de interesse para as famílias católicas homeschoolers.
Faça parte do grupo de apoio ao homeschooling católico da sua região.
Caso não haja um grupo formado, comece um você mesmo, ainda que con-
tando com apenas mais uma família homeschooler. Já será um começo. Com
o passar do tempo, mais famílias se sentirão encorajadas a tentar o homes-
chooling pelo fato de que existe “um grupo” para auxiliá-las. Elas passarão
a frequentar as reuniões em busca de ajuda e por fim acabarão também
ajudando outras famílias. Não é isto a evangelização?

Associação de Defesa Legal do Homeschooling

Muitos pais homeschoolers filiam-se à Associação de Defesa Legal do Ho-


meschooling (Home School Legal Defense Association – HSLDA). Trata-se
de uma corporação cristã que, pelo custo de uma taxa anual razoável, presta
serviços de assistência jurídica a famílias homeschoolers que enfrentam pro-
blemas com autoridades regionais ou estaduais. Ela conta com advogados

131
MARY KAY CLARK

em todos os estados, que conhecem bem as legislações estaduais específicas


e os diversos modos como os distritos escolares regionais as interpretam.
Recomendamos que as famílias católicas homeschoolers filiem-se à HSLDA,
mesmo que o homeschooling seja uma prática bem aceita em seu estado.
Caso você não utilize os serviços da associação, seu pagamento será bem
utilizado na defesa dos direitos de famílias homeschoolers de todo o país.
Historicamente, os homeschoolers não teriam a legislação favorável que
têm hoje se não fosse pelo trabalho da HSLDA, que vem atuando em sua
defesa tanto nos tribunais quanto na batalha por melhores leis.
Recomendamos às famílias homeschoolers que se beneficiem do conhe-
cimento jurídico e da segurança de contar com advogados especialistas nas
legislações de cada estado. Contudo, reiteramos a necessidade de que as fa-
mílias também se mantenham informadas sobre as questões jurídicas mais
recentes relativas ao homeschooling. Você pode consultar as últimas atuali-
zações e casos relevantes no site da HSLDA.

Regulamentos estatais

Informe-se sobre as leis e regulamentos relativos ao homeschooling no


seu estado. Apesar de a prática ser legal em todo o país, é recomendável que
você conheça bem a situação particular do seu estado. Você pode pesquisá-la
na sua associação estadual de homeschooling ou no site da HSLDA. Se você
se filiar à HSLDA, eles também responderão às suas dúvidas.
Devemos estar sempre bem informados sobre os regulamentos e leis de
nosso estado. Se você quiser realmente mergulhar no homeschooling, leia so-
bre os casos jurídicos que ocorreram no estado onde você mora. É um material
interessante! Contudo, recomendamos fortemente que você não siga quais-
quer regulamentos que vão contra sua consciência. Caso você se sinta descon-
fortável com algum deles, procure um advogado em sua associação estadual
de homeschooling, ou um advogado católico. Além disso, se o superintendente
da sua região pedir informações que vão além das requeridas pelo estado, bus-
que o auxílio de um advogado especialista em homeschooling.
Esteja ciente do fato de que muitos distritos escolares tendem a interpre-
tar as leis estaduais do modo que mais lhes convém, ao invés de considerá-las
pelo que realmente dizem. Por exemplo, um distrito escolar pode enviar uma
carta dizendo que todos os homeschoolers devem seguir um determinado
regulamento. Porém, a própria lei talvez diga que é possível seguir uma en-
tre três ou quatro opções. Informe-se bem quanto às leis e aos seus direitos

132
HOMESCHOOLING CATÓLICO

quando tiver de lidar com distritos escolares. Afinal, seu direito de educar
seus filhos em casa vem de Deus, não de legisladores do estado ou de distri-
tos escolares.

Seguir ou não um programa pré-estabelecido

Decida se você quer seguir um programa de homeschooling católico pré-


-estabelecido, ou se prefere tentar criar seu próprio programa. Caso tenha
experiência como professor, você provavelmente terá mais autoconfiança,
saberá onde obter materiais e possivelmente terá uma boa noção de quais
conceitos devem ser aprendidos em cada série escolar.
Se quiser conhecer as vantagens de não seguir um programa, entre em
contato com famílias que vão por esse caminho. Cada família tem seus obje-
tivos, ideias, métodos e materiais particulares, de modo que você deve con-
versar com muitas mães homeschoolers e adotar as ideias com que mais se
identificar. Você pode pesquisar em sites ou grupos virtuais de homeschoo-
ling católico por mais informações ou comentários de famílias que praticam
o homeschooling por conta própria.
Se você optar por não seguir um programa, seu primeiro grande objetivo
será encontrar livros didáticos católicos. Vinte anos atrás, seria possível ir
até uma loja St. Vincent de Paul ou a um bazar de garagem e comprar livros
católicos usados. Hoje, porém, eles praticamente não existem mais. Caso
você não viva em uma comunidade predominantemente católica, será quase
impossível conseguir exemplares dos antigos livros didáticos católicos.

Editoras católicas

Quando as escolas católicas decidiram aceitar financiamento estadual e/


ou federal, não tinham permissão para utilizá-lo para qualquer fim religioso.
Em consequência, as editoras de livros católicos pararam de produzi-los. Isto
tem acontecido desde a década de 1970.
Há algumas editoras de livros católicos para crianças, porém, em sua
maioria, é difícil utilizá-los como livros didáticos. Os antigos livros Vision,
uma série de biografias de santos, têm sido reeditados pela Ignatius Press. A
TAN Publishers está editando biografias de santos. A Bethlehem Books tem
editado histórias com heróis católicos. Essas são boas opções para relatórios
de leitura. No entanto, seria trabalhoso demais utilizar este material para de-
senvolvimento de vocabulário, compreensão de texto e treino de pensamen-

133
MARY KAY CLARK

to analítico, habilidades que não podem ser excluídas de um bom currículo


educacional.
A Seton disponibiliza diversas coleções de livros didáticos e livros de
exercícios católicos, que estão à venda na página da Seton Educational Me-
dia (www.setonbooks.com). Você não precisa estar inscrito no programa de
homeschooling da Seton para adquirir estes livros.

A grande controvérsia

Se você optar pelo caminho independente e não desejar inscrever-se em


um programa pré-estabelecido, enfrentará a controvérsia: é melhor utilizar
textos protestantes ou seculares, na falta de textos católicos?
Caso seja absolutamente impossível encontrar um livro didático cristão ou
católico, então você deve recorrer aos seculares. Esta, porém, deve ser sua últi-
ma opção. O motivo é que, não apenas Deus é totalmente ignorado, mas todas
as atitudes e valores seculares da modernidade, bem como todas as ideias po-
liticamente corretas, se fazem presentes ao longo desses livros, mesmo que não
tenham relação com o tópico estudado. Os livros didáticos seculares de hoje
estão literalmente repletos de ideias anticristãs, as quais são às vezes difíceis de
reconhecer, por sermos todos em alguma medida afetados pela sociedade pagã
em que vivemos. Muitas dessas ideias anticristãs têm a ver com valores sociais,
feminismo, vida, políticas governamentais e assim por diante.
Na Seton, temos nos empenhado em escrever livros didáticos católicos
o mais rapidamente possível e estamos sempre em busca de bons materiais
católicos, mas ainda utilizamos, relutantemente, alguns poucos textos secu-
lares em conjunto com livros católicos e cristãos. Porém, apresentamos o
ponto de vista católico nos planos de aula e nos exercícios. Por exemplo, nas
séries fundamentais, nosso livro de exercícios sobre vocabulário é secular,
mas os testes semanais incluem frases que versam sobre a Bíblia ou os santos,
ou sobre Jesus, ou lições de catecismo.
Alguns católicos acreditam que não é correto financiar editoras protes-
tantes fundamentalistas. Ora, é preciso ter em mente que os fundamenta-
listas cristãos acreditam na Bíblia e nos Dez Mandamentos e são contra o
aborto, o homossexualismo, a bruxaria e demais atividades ocultas. Nas
editoras seculares, cujos responsáveis tendem a ser um reflexo da sociedade
em geral, todos esses temas são encontrados na prática.
Em nossa sociedade pagã, quando você compra qualquer coisa, em qual-
quer lugar, parte do seu dinheiro irá para pessoas que não concordam com

134
HOMESCHOOLING CATÓLICO

você com relação a aborto, “casamentos” homossexuais e outras práticas


anticristãs básicas. A questão é se você prefere que seu dinheiro seja gasto
com livros que talvez contenham um ou outro traço anticatólico, ou se pre-
fere que eles financiem um material incisivamente anticristão.

Escolas de homeschooling

Há muitas vantagens e benefícios em inscrever seus filhos em um programa


católico de homeschooling. Se você não tem experiência como professor, ou se
tem, mas não dispõe de tempo para arranjar todos os detalhes das aulas diá-
rias, o melhor caminho provavelmente é inscrever-se em uma escola de homes-
chooling. Essa também é uma boa opção caso você esteja em busca de livros
didáticos católicos, embora a maioria das escolas agora disponibilizem seus
livros para venda. Se você quiser aconselhamento, esquemas de avaliação, um
boletim de notas e outros serviços escolares, sua melhor opção é inscrever-se
em um programa de homeschooling oferecido por uma escola especializada.
Além das tradicionais escolas por correspondência, há também progra-
mas católicos de homeschooling que oferecem cursos online, como o da Re-
gina Coeli Academy (www.reginacoeli.org).
Assim como não há um carro que seja adequado a todas as famílias, e
assim como as pessoas têm necessidades diferentes e buscam qualidades di-
ferentes em um carro, as escolas de homeschooling também são tão variadas
quanto os tipos de família. Não há uma que seja a melhor para todos. A
família precisa avaliar o que é oferecido por cada escola para decidir qual é
a melhor para as necessidades dos seus filhos.
Lembre-se de que nenhum desses programas de homeschooling será pe-
rigoso ou prejudicial ao seu filho, como a maioria das escolas formais. No
homeschooling você está no controle a cada minuto do dia. É possível fazer
mudanças ao longo do processo. Se você iniciar um programa que não se
mostre satisfatório, pode substituí-lo no ano seguinte. A escolha do progra-
ma é uma decisão importante, porém não se sinta preso a ele definitivamente.
Alguns homeschoolers católicos recomendam o uso de programas não ca-
tólicos, como o Calvert. É difícil compreender a lógica dessa visão. Se você vai
se dar ao trabalho de ensinar seus filhos em casa para formá-los segundo os
valores católicos, por que escolher um programa que não afirma esses valores
e sua Fé? Alguns dizem que não é necessário limitar o homeschooling ao uso
de materiais católicos. É verdade, mas ao adotar um programa não católico,
que fornece grande parte do material que você utilizará, você está efetivamente

135
MARY KAY CLARK

limitando sua prática do homeschooling ao uso de materiais não católicos. E,


com o número de programas católicos disponíveis, é difícil acreditar que esses
pais não consigam encontrar nenhum que atenda às suas famílias.

Flexibilidade

Alguns pais homeschoolers acreditam que, ao se inscreverem em um pro-


grama, perdem a flexibilidade que de outro modo teriam. Isto depende de
quanta flexibilidade você quer ter e se essa expectativa é compatível com
uma determinada quantidade de estrutura para ajudá-lo a organizar-se. Ima-
gino que todos os programas incentivem a flexibilidade, embora só possa
falar pelo da Seton. Nosso refrão na Seton é: “Ajuste o programa à criança,
não a criança ao programa”.
A Seton pede que os pais submetam as avaliações de seus filhos, caso
desejem receber as notas em um boletim. Se eles não tiverem esse interesse,
ou preferirem registrar suas próprias notas, não precisam submeter testes à
Seton. Não importa qual a recomendação ou sugestão da lição, os pais têm
total liberdade para ensinar como quiserem. Contudo, as notas no boletim
da Seton baseiam-se na média dos testes ou trabalhos pontuados pelos pais
e na média dos testes pontuados pelos avaliadores da Seton. O que os pais
ensinam como preparação a esses testes, ou como o ensinam, ou em que
ritmo ensinam, cabe totalmente a eles.
Alguns programas de homeschooling seguem um calendário, outros não.
Na Seton não há calendário, de modo que pais e alunos não são pressionados a
submeter avaliações em uma data específica, o que sem dúvida confere flexibi-
lidade ao programa. Além disso, os programas da Seton e de outras instituições
católicas também podem adaptar os materiais a situações particulares, permi-
tindo que a criança trabalhe com livros de séries superiores em uma ou mais
disciplinas, conforme a necessidade, ou com livros de séries inferiores, quando o
aluno precisa de aulas de reforço. A Seton também oferece um serviço particu-
larizado para crianças com demandas educacionais diferentes, com o auxílio de
um professor especialista em dificuldade de aprendizagem e outros profissionais
que possam ajudar a determinar quais as necessidades específicas da criança.

Planos de aula

A inscrição em um programa pré-estabelecido é o caminho mais fácil


para o homeschooling. Programas como da Seton oferecem materiais didá-

136
HOMESCHOOLING CATÓLICO

ticos completos e planos de aula diários prontos para ser colocados em prá-
tica. Os planos de aula abrangem não apenas tarefas diárias, mas também
dicas pedagógicas, diagramas, informações suplementares, atividades de en-
riquecimento do conteúdo, links da internet, gráficos e assim por diante. Os
planos de aulas de inglês para o ensino médio da Seton, com duração de um
ano, chegam a cerca de duzentas páginas, contando com os apêndices que
contêm análises de livros e explicações detalhadas das tarefas de leitura e de
redação de parágrafos. Tanto o pai quanto o aluno homeschooler podem
utilizar as informações necessárias e ignorar as desnecessárias.
Uma mãe homeschooler cujos filhos estejam inscritos em um programa
tem a vantagem de contar com uma pessoa de carne e osso ajudando a ava-
liar os trabalhos escolares e/ou testes das crianças. Os professores não ape-
nas corrigem os trabalhos do aluno, mas fazem comentários que o ajudam
e incentivam. Adesivos e selos, muitos deles de temas religiosos, são dados
como recompensa por trabalhos bem feitos. “Certificados de Bom Desem-
penho” são emitidos para incentivar as crianças que fazem suas tarefas com
excelência. Muitas vezes as crianças sentem-se mais motivadas ao saber que
sua família faz parte de uma escola católica – e que seu trabalho será avalia-
do por um professor com experiência naquela determinada série.
Outra vantagem da inscrição em um programa é o serviço de aconselha-
mento, que é e tem de ser parte integral do serviço oferecido pelas escolas
de homeschooling católico. Algumas escolas, como a Seton, contam com
especialistas em dificuldade de aprendizagem e professores secundários com
formação em áreas específicas, muitos dos quais possuem titulações altas
ou são professores universitários atuantes. Outras escolas talvez ofereçam
serviços similares que podem ser úteis à sua família
O serviço de aconselhamento, na Seton e provavelmente nas outras es-
colas, é oferecido não apenas por correio e telefone, mas também por fax,
em fóruns na internet e por e-mail. A tecnologia atual oferece aos alunos
serviços rápidos e às vezes instantâneos.
A inscrição em um programa, especialmente para pais sem diplomas uni-
versitários, costuma ajudar na hora de evitar problemas com autoridades
escolares, como diretores de escolas e superintendentes. Em geral, tais auto-
ridades não gostam de famílias que educam os filhos em casa. Porém, quan-
do os alunos estão inscritos em um programa de homeschooling, há menos
chances de os pais serem incomodados, pois os burocratas da educação sa-
bem que há terceiros supervisionando o trabalho.

137
MARY KAY CLARK

Certificação

A Seton Home Study School é certificada pela Southern Association of


Colleges and Schools (Associação Sulista de Faculdades e Escolas) e pela
Commission on International and Trans-Regional Accreditation (Comissão
de Certificação Internacional e Trans-regional). A Mother of Divine Grace é
certificada pela Western Association of Schools and Colleges (Associação de
Escolas e Faculdades do Oeste). Estas são agências de certificação reconhe-
cidas pelo Departamento de Educação dos EUA. (Algumas outras escolas
de homeschooling são certificadas por agências não reconhecidas pelo DE
dos EUA. Para mais informações sobre diferentes tipos de certificação, ver
Capítulo 15.)
Para conferir a certificação a uma escola, o comitê de certificação da as-
sociação analisa os materiais curriculares para checar se há suficientes aulas
diárias ou orientações para que o aluno aprenda por conta própria. O foco
não é a “filosofia do conteúdo”. Eles avaliam os programas de homeschoo-
ling com base em métodos de trabalho, eficiência e qualificação de pessoal.
Além disso, eles enviam uma pesquisa às “famílias clientes” para saber se há
queixas e determinar se a escola cumpre com suas obrigações contratuais.
A certificação é um modo de garantir aos superintendentes dos distritos
escolares um programa de homeschooling foi objetivamente avaliado por
educadores profissionais e submetido a certos critérios. É a garantia de que
se trata de uma empresa honesta, que utiliza métodos de trabalho profissio-
nais, e não uma organização de fachada qualquer.
Muitos superintendentes escolares exigem que as escolas de homescho-
oling sejam avaliadas pelo departamento de educação do estado no qual se
situa a escola. Eles acreditam que assim é possível avaliar mais de perto a
escola, ao invés de deixar o juízo a cargo de uma comissão de certificação
de fora do estado. Sempre que a comissão de certificação visita a Seton, um
representante do Departamento de Educação da Virginia também vem.
Alguns estados, como Virginia e Nevada, têm listas oficiais das escolas de
homeschooling consideradas aprovadas. A matrícula nessas escolas exime as
famílias de alguns requerimentos legais que de outro modo são exigidos pelo
estado. Assim, visando a facilitar a vida dos pais, a Seton passou por todos
os trâmites para ser aprovada como escola de homeschooling nesses estados.
Não é estritamente necessário que um programa de homeschooling seja
certificado ou conste em uma lista de provedores aprovados pelo Estado. No
entanto, estas duas coisas tendem a minimizar problemas com as autorida-

138
HOMESCHOOLING CATÓLICO

des regionais. Então, quando estiver diante da decisão de inscrever-se ou não


em um programa, você precisará decidir quão importantes são esses itens
para sua família.

Retirando as crianças da escola

Caso seu filho ainda frequente a escola quando você decidir iniciar o
homeschooling, tente fazer a transição no início do ano letivo, ou nas férias
semestrais, ou durante um feriado longo, como Natal ou Páscoa. Academi-
camente, para os alunos das séries fundamentais, faz pouca ou nenhuma
diferença em que momento do ano deixarão de ir à escola, porém emocio-
nalmente é mais fácil para as crianças passar por isso durante um intervalo
que deixe bem claro o fim de uma fase. Já no ensino médio o aluno pode
perder créditos ao sair antes do fim do semestre. Ainda assim, a situação nas
escolas costuma ser tão séria, que os pais acabam trazendo seus filhos para
casa imediatamente.
É melhor instruir seus filhos para que não comentem que estão deixando
a escola enquanto ainda a estiverem frequentando. Professores, diretores,
pais e alunos às vezes têm reações negativas quando sabem que um aluno
está deixando a escola para estudar em casa. Muitos acreditam sinceramen-
te que um homeschooler nunca poderá ter uma boa educação. Às vezes, os
burocratas do ensino público se ressentem porque cada aluno perdido repre-
senta uma quantidade de verba estatal que eles deixam de receber.
Quando estiver pronto para iniciar o homeschooling, notifique o diretor
da escola por escrito, a não ser que você tenha um bom relacionamento com
ele e queira dar a notícia pessoalmente. Escreva uma carta breve e a envie de
forma registrada, dizendo sem rodeios que você decidiu matricular seu filho
em uma escola católica privada e que em breve essa nova escola entrará em
contato solicitando a documentação do seu filho. Essa última afirmação é
importante porque dá veracidade ao fato de seu filho estar matriculado em
uma escola. É menos provável que a escola pública exija mais explicações,
tendo a expectativa de ser contatada pela sua nova escola.
Às vezes os alunos saem da escola depois de algum desentendimento en-
tre seus pais e a direção, e nesse caso os pais podem sentir a tentação de
“fazer um barraco”. É melhor, porém, resistir. Isto não lhe trará nenhum
benefício, e é sempre salutar evitar novos inimigos.
A escola de homeschooling costuma enviar um formulário aos pais, in-
titulado “Pedido de Transferência de Documentação”, que precisa ser assi-

139
MARY KAY CLARK

nado pelos pais e devolvido à escola de homeschooling, para ser em seguida


enviado à escola pública ou privada anterior. A maioria das escolas tradicio-
nais prefere receber esse formulário diretamente da escola de homeschoo-
ling, sem o intermédio dos pais, pois assim se comprova que o aluno está de
fato matriculado em uma instituição de ensino.
Se os pais homeschoolers não quiserem pedir à escola a documentação
de seus filhos, ou preferirem adiar o pedido, não há problema. É possível
solicitar que o formulário não seja enviado à escola anterior. Na verdade,
apenas os documentos relativos ao ensino médio são absolutamente neces-
sários para a transferência. Contudo, a escola anterior se preocupará menos
com o destino do aluno se a documentação deste não constar mais em seus
arquivos, de forma que você deve considerar seriamente fazer o pedido de
transferência de documentação, mesmo que não tenha a intenção de obter
um diploma da escola de homeschooling.

Perguntas que a escola pode fazer

Tenha em mente que a) o homeschooling é legal em todos os estados


norte-americanos, mas b) as autoridades escolares regionais o desaprovam.
Diretores ou superintendentes às vezes criam problemas aos pais homes-
choolers. Esse assédio costuma ser bem sucedido quando os pais estão mal
informados e querem evitar confrontos ou situações desagradáveis. De uns
anos para cá, temos visto as escolas fazerem todos os tipos de arranjos, desde
requerer a matrícula das crianças em escolas cooperativas ou simplesmente
exigir que elas frequentem nem que seja apenas uma aula, para que se possa
afirmar que estão matriculadas no ensino público e assim receber dinheiro
do governo. Esses arranjos diminuem um pouco a hostilidade das autorida-
des pedagógicas.
Caso o diretor ou os professores da escola lhe perguntem por que você
optou pelo homeschooling, apresente sempre os motivos positivos. Fale so-
bre os benefícios do aprendizado em família, sobre a instrução individuali-
zada e a flexibilidade, sobre a família ter experiências em comum e, por fim,
que você deseja empenhar-se mais na educação católica de seus filhos. Caso
seja uma escola católica e os professores se ofendam com essa informação,
diga simplesmente que você quer tentar o homeschooling como uma “alter-
nativa” por um ano e ver se funciona.
Sempre que possível, evite discussões desagradáveis com os funcionários
das escolas, sejam públicas ou católicas. Pode haver reações inesperadas e im-

140
HOMESCHOOLING CATÓLICO

previsíveis, capazes de prejudicar seus filhos, seu marido e o ambiente no qual


ele trabalha, sua família como um todo e a própria prática do homeschooling.
É importante enfatizar os benefícios que o homeschooling traz para sua
família e seus filhos e jamais mencionar os pontos negativos da escola de que
você está saindo.

Testes de mensuração de nível

A maioria dos programas de homeschooling fazem uma avaliação ou


procedimento de “varredura” para mensurar o nível do aluno. Esses testes
são enviados aos pais, que os aplicam às crianças. Eles tendem a acusar sé-
ries mais baixas, pois são pensados para os alunos das escolas públicas. No
entanto, não adquira um teste de nível mais alto a não ser que seja para seu
próprio benefício. Alguns estados têm leis que estabelecem um resultado mí-
nimo a ser atingido nesse tipo de teste, então é melhor não submeter seu filho
a um que seja demasiadamente avançado. (No entanto, se seu filho tiver al-
guma deficiência de aprendizagem, o estado não pode forçá-lo a fazer o teste.
Crianças com problemas de aprendizagem são protegidas por leis federais.)
Por um lado, esse tipo de avaliação fornece dados objetivos sobre o desem-
penho do aluno, mas, por outro, é apenas um fator. A observação e a avaliação
dos pais são mais importantes para a determinação da série em que o aluno se
encontra. O programa de homeschooling deve acatar a decisão dos pais nesse
quesito, pois são eles quem melhor conhece seus filhos e respectivas capacida-
des de aprendizagem. Contudo, os pais devem ser cautelosos e jamais forçar
uma criança a cursar uma série mais avançada, a não ser que tenham total
confiança de que ela se sairá bem. Na maioria das vezes, um aluno que pula
uma série sofre consequências mais tarde, quase sempre devidas à imaturidade
para lidar com questões analíticas. Um aluno capaz de ler as palavras em uma
página não necessariamente é maduro o suficiente para compreendê-las.

O currículo

Se você é católico, seu desejo naturalmente será que sua pedagogia reflita
sua Fé. Isto está de acordo com as instruções de Roma, contidas em diversas
encíclicas e outros documentos. A Igreja afirma claramente que o currículo
escolar deve ser permeado pelos valores católicos.
Ao mesmo tempo, isso é um problema, pois é difícil encontrar livros
didáticos católicos. Nos últimos dez anos, com o esforço editorial da Seton,

141
MARY KAY CLARK

a situação melhorou, porém, apesar de nossos mais de 70 livros católicos


publicados, nem mesmo a Seton trabalha 100% com textos católicos.
Como mencionado anteriormente neste capítulo, os pais católicos têm de
lidar frequentemente com o dilema de utilizar livros protestantes ou secula-
res em algumas disciplinas. Optando pelos protestantes, há sempre erros bá-
sicos, tendenciosidade editorial quanto a eventos históricos e más traduções
ou más interpretações da Bíblia. Sem dúvida, tudo o que disser respeito à
Virgem Santíssima, à Europa Católica, a Cristóvão Colombo, a Galileo, aos
santos católicos e ao Rosário será apresentado desfavoravelmente. E, mais
ainda, às vezes há preconceitos explícitos, verbalizados em palavras como
“romanismo” e “papista”.
Os pais católicos homeschoolers devem ler ao menos um ou dois livros
que expliquem os erros doutrinais mais comuns do protestantismo. Catoli-
cismo e Fundamentalismo (Catholicism and Fundamentalism), de Karl Ke-
ating, é editado pela Ignatius Press. Fundamentalismo Protestante e o Cató-
lico Renascido (Protestant Fundamentalism and the Born Again Catholic),
do Pe. Robert Fox, é editado pelo Fatima Family Apostolate. Se você utiliza
materiais didáticos protestantes, esses livros lhe instruirão sobre os erros
típicos dessa corrente de pensamento.
Livros seculares não são bons para crianças católicas – são, de fato, pio-
res do que os protestantes. Os autores seculares simplesmente ignoram o
fato de que Deus existe e que de há valores morais absolutos. Eles também
seguem qualquer que seja a modinha politicamente correta do momento e
glorificam a cultura pop – uma cultura imprópria à emulação pelas crianças.
Neste momento, simplesmente não há livros didáticos católicos em quan-
tidade suficiente para que se monte um programa de estudos totalmente
católico. Se você for criar seu próprio currículo, precisará decidir caso a caso
qual o melhor livro para o seu filho.

Quanto tempo?

Uma das perguntas mais comuns feitas pelas mães antes de iniciar o ho-
meschooling é “Quanto tempo por dia devo dedicar às aulas?”
Não há uma resposta simples. Uma menininha da primeira série que está
ansiosa para aprender tomará obviamente menos tempo do que um meni-
ninho que não tem interesse na escola e quer passar o dia na rua brincando.
Um menino da sexta série que ainda não sabe ler tomará mais tempo do que
um que iniciou o homeschooling na primeira série. Alunos com menos moti-

142
HOMESCHOOLING CATÓLICO

vação e menos instruídos tomam mais tempo do que seus opostos. Crianças
com dificuldade de aprendizagem demoram mais a aprender. Sua filosofia
educacional será em grande medida pautada pela quantidade de tempo que
você utilizará. Por exemplo, muitos pais acham que as disciplinas importan-
tes podem ser finalizadas ao meio-dia, com algumas atividades divertidas
programadas para a tarde. Se você deseja que seus filhos vão à universidade,
porém, será uma boa ideia investir mais tempo em disciplinas estritamente
acadêmicas, sobretudo no ensino médio.
O programa da Seton oferece, como sugestão, um tempo estimado para
cada disciplina, mas este obviamente varia de criança para criança. Matemá-
tica e leitura devem tomar cerca de uma hora por dia, enquanto ortografia e
vocabulário normalmente podem tomar 20 minutos por dia cada um. inglês,
religião, história e ciências são aulas de normalmente 30 a 40 minutos. Aulas
do ensino médio demandam cerca de 50 minutos cada para a maioria dos
alunos, sem contar o tempo de leitura para relatórios sobre livros.
Dito isso, é possível afirmar que a maioria das crianças das séries primá-
rias (primeira a terceira) provavelmente conseguem finalizar seu trabalho
em cerca de três horas, embora sejam três horas espaçadas ao longo do dia.
Alunos das séries intermediárias conseguem finalizar a parte principal do
trabalho em quatro horas, sendo que leituras extras para relatórios sobre
livros, por exemplo, podem tomar mais uma hora à noite. Alunos do ensino
médio devem reservar de 45 minutos a uma hora por dia por disciplina, com
talvez uma hora à noite ou fins de semana reservados para leitura extra ou
pesquisas. Alunos que desejam ser admitidos em faculdades muito seletivas
deverão reservar um tempo maior para disciplinas ou projetos específicos.
Por exemplo, o aluno pode passar um tempo maior aprendendo uma língua
estrangeira ou treinando suas habilidades musicais.
Tudo isso diz respeito à quantidade de tempo necessário para as aulas em
si, mas há também uma certa quantidade de tempo a ser reservado para os
pais fazerem preparativos. Isto também varia. Normalmente, com as primeiras
séries, não é necessária qualquer preparação, pois em geral você simplesmente
prosseguirá com as lições à medida que a criança for aprendendo. Contudo, nas
demais séries, é necessária certa quantidade de preparativos, pois você dará au-
las mais substantivas. É recomendável que você separe uma ou duas horas por
semana para organizar o que você precisará fazer na semana seguinte.
Para as aulas do ensino médio, o tempo necessário para auxiliar seus fi-
lhos depende de eles já praticarem o homeschooling desde as primeiras séries
ou não. A maioria dos alunos que acabou de sair da escola não possui boas

143
MARY KAY CLARK

estratégias de estudo e precisam de mais ajuda dos pais. Alunos que prati-
cam o homeschooling há vários anos conseguem fazer praticamente todas
as suas tarefas do ensino médio sem ajuda. No entanto, é importante que os
pais discutam os trabalhos escolares com seus filhos do ensino médio, espe-
cialmente em religião, literatura e história, para transmitir-lhes a perspectiva
católica apropriada. Se você está aprendendo o conteúdo de uma disciplina
de ensino médio junto com seu filho, como matemática, isto pode tomar uma
quantidade considerável de tempo.

Un-schooling

Um tema intimamente relacionado à quantidade de tempo é o conceito


de un-schooling. Esta é uma abordagem que varia de família para família,
mas que pode ser definida, de modo geral, como a filosofia de aprender
sem aulas fixas e tarefas. Levada ao extremo, pode significar simplesmente
“aprender com os livros”. Em uma versão modificada, pode significar que as
crianças têm um livro de matemática para estudo, e de resto leem quaisquer
livros de ficção ou não ficção que sejam de seu interesse.
O un-schooling tem pontos em comum com a abordagem de “estudo por
unidade”, na qual o aluno foca em um tópico de cada vez, sobre o qual apren-
de tudo o que estiver disponível. O estudo por unidade pode ser muito rigoro-
so, porém na abordagem do un-schooling ele seria posto em prática de modo
mais informal, com o aluno escolhendo o que estudar e quando estudar.
O un-schooling pode ser muito atraente, em especial por não demandar
de pais e alunos nenhum trabalho formal. Se o único trabalho escolar feito
pelo aluno for passar o dia inteiro aprendendo coisas casualmente, então há
de fato pouquíssimas exigências. Como colocar as crianças para trabalhar
costuma ser difícil para os pais, uma abordagem do tipo un-schooling pode
ser a garantia de uma vida familiar pacífica e tranquila.
O un-schooling puro provavelmente se aplica mais às primeiras séries. À me-
dida que as séries avançam e o aluno começa a se preparar para a universidade,
haverá áreas específicas do conhecimento que ele precisará dominar. As facul-
dades exigem créditos de matemática, línguas e ciências, e um aluno sem nada
a oferecer em qualquer dessas áreas dificilmente será aceito no nível superior.
A mãe católica Suzie Andres escreveu um livro chamado Homeschoo-
ling com Suavidade (Homeschooling with Gentleness), que relata como ela
utilizou o un-schooling em sua família. Segundo o livro, seu filho Joseph
beneficiou-se com essa experiência. A Sra. Adres tem o cuidado de enfatizar,

144
HOMESCHOOLING CATÓLICO

porém, que não é uma abordagem recomendável para todos.


As famílias precisam decidir pela abordagem que melhor lhes atenda, mas
o un-schooling pode ter alguns inconvenientes, ao mesmo tempo em que tem
vantagens. Por exemplo, ele parece funcionar melhor para famílias e crianças
que são leitores vorazes. Mesmo na ausência de um programa formal, se as
crianças leem o tempo todo, estarão aprendendo. Mas, caso seus filhos não
gostem tanto de ler, o un-schooling pode levar a um aprendizado quase nulo.
Se a família optar pelo un-schooling por acreditar que é pedagogicamente
mais adequado ao seu perfil, é uma escolha compreensível. Mas se a decisão
for tomada por razões de disciplina (porque as crianças se recusam a fazer
as tarefas), é preciso questionar se será realmente uma abordagem benéfica.
Se as crianças não fazem as tarefas escolares, provavelmente não fazem tra-
balhos domésticos e têm dificuldade de aprender o catecismo. Assim, qual
mensagem estarão assimilando, quando não precisam fazer algo simples-
mente porque não querem?
O un-schooling acarreta também um problema social mais amplo. Por
anos o establishment educacional tem acusado os homeschoolers de não
serem verdadeiramente comprometidos com a educação. Dizem que o ho-
meschooling não é educação de verdade. Os homeschoolers têm combati-
do essa acusação demonstrando que seus filhos são excepcionalmente bem
educados, e a prova são suas notas nos testes oficiais. No entanto, se um
grande número de famílias homeschoolers adotassem a abordagem do un-
-schooling, as notas nesse tipo de teste provavelmente cairiam, ao menos nas
séries inferiores. Isto aconteceria porque muitos alunos un-schoolers apren-
dem leitura e matemática em idades mais avançadas do que o normal. Um
site de un-schooling relata: “não é incomum encontrar un-schoolers de oito
anos de idade estudando astronomia ou aos dez anos aprendendo a ler.” Isto
pode não trazer malefícios a longo prazo, mas obviamente um aluno de dez
anos de idade que está começando a ler não tirará boas notas em um teste
padronizado. E, com a queda nas notas dos homeschoolers, o establishment
educacional conseguiria facilmente aprovar regulamentos restritivos. Assim
sendo, se por um lado o un-schooling funciona para famílias particulares,
pode ter consequências negativas para o homeschooling em geral.

Preparando a casa

O homeschooling é um modo de vida, que envolve todos os membros


da família e provavelmente mobilizará a maior parte do espaço doméstico.

145
MARY KAY CLARK

Se possível, você deve reservar alguma área específica da casa para a prática
do homeschooling. Algumas famílias montam uma sala de aula no porão, com
painéis coloridos, prateleiras para os livros e uma boa iluminação. Em algumas
casas, uma saleta de visitas é a sala de aula; em outras, a garagem. Conheço uma
família que transformou um pequeno prédio da propriedade em sala de aula.
É difícil utilizar a sala de jantar ou a sala de estar como sala de aula
principal. É preciso haver um lugar permanente para livros, globos, enciclo-
pédias e carteiras. Se você utilizar a sala principal da casa para as aulas, pre-
cisará constantemente mover livros e materiais para dentro e para fora dali.
Como seu tempo será gasto ensinando, você não terá mais tanta disponi-
bilidade para trabalhos domésticos como cozinhar e limpar. Recomendamos
que você faça uma grande faxina geral antes de iniciar o homeschooling. Jo-
gue fora tudo o que puder e, quando achar que já se livrou de muitas coisas,
jogue ainda mais! Estabeleça um limite para o número de itens da cozinha,
especialmente pratos e copos. Você precisará de espaço para livros e outros
materiais pedagógicos, além de atividades como projetos de ciências e arte.
Em outro capítulo, trataremos mais especificamente do trabalho doméstico.
Sabemos que se trata de um verdadeiro sacrifício para aquelas mulheres que
gostam de manter suas casas em perfeita ordem, mas sabemos também que
essas mesmas mulheres são mães dispostas a fazer sacrifícios por seus filhos.
O homeschooling é um modo de vida. A casa cedo ou tarde será redeco-
rada. Mapas serão colados nas paredes e de repente surgirá um globo, ou um
telescópio, ou o modelo de um coração. Se você não tiver um altar ou local
para orações, providencie um. Além disso, prepare espaços para colagem de
desenhos e amostras de trabalhos bem feitos.
Você decidirá se é melhor ensinar todas as crianças no mesmo espaço ou
cada uma em um local diferente. A maioria das famílias acaba fazendo uma
combinação, com crianças estudando matemática e inglês, por exemplo, em
salas separadas, mas reunindo-se para outras aulas, como religião e música.
Isto pode ser modificado ao longo do ano. Mais detalhes sobre dar aulas em
grupo para as crianças encontram-se no capítulo “Homeschooling em uma
família numerosa”.

Quando chegam os materiais

É comum as crianças não gostarem da escola, mas elas gostam de apren-


der. O que surpreende a maioria dos pais é com que entusiasmo seus filhos
exploram os livros didáticos assim que eles chegam.

146
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Às vezes as crianças simplesmente folheiam os materiais, lendo as histó-


rias e resolvendo as primeiras páginas dos livros de exercícios. Quando uma
família inicia um programa de homeschooling, os pais e as crianças devem
examinar os materiais, localizar as chaves de resposta, verificar a estrutura
das tarefas para cada disciplina, o cronograma e os tipos de testes, e de modo
geral familiarizar-se com o programa como um todo.
É importante envolver as crianças ao menos em parte das tomadas de
decisão. Trabalhe com elas, por exemplo, para montar um cronograma. A
maioria das crianças prefere ter as aulas mais difíceis pela manhã e as mais
fáceis à tarde. Peça a elas que utilizem lápis de cor ou canetas coloridas para
desenhar o cronograma da semana e cole-o ao lado das mesas de estudo.
Uma coisa que as escolas fazem e que não ocorre às famílias fazer são
simulações de incêndio. É algo que todas as famílias, homeschoolers ou não,
deveriam fazer. A família deve conversar sobre as saídas de incêndio e prati-
car simulações. Um bom projeto de início de ano seria pedir às crianças para
diagramar uma saída de incêndio para cada sala. Elas teriam de desenhar
a sala e, com caneta colorida, traçar a rota de saída. Cada desenho, então,
seria colado em cada sala. Certifique-se de que seus filhos estão a par das
regras de segurança contra incêndio e de que sabem o que fazer em caso de
emergência.
A propósito, não esqueça de comprar vários extintores de incêndio. Ensi-
ne às crianças mais velhas como utilizá-los. Além disso, façam uma excursão
ao corpo de bombeiros e peça a um bombeiro para demonstrar os diferentes
tipos de extintores. Ele pode explicar quando é necessário adquirir um novo.
Incentive seus filhos a inscrever um pôster no concurso regional de seguran-
ça contra incêndios, que costuma acontecer na metade do ano.
Eu matriculei meus meninos em aulas de Primeiros Socorros oferecidas
pela Cruz Vermelha. A maioria dos hospitais disponibilizam esse tipo de
aula. Se você vai manter seus filhos em casa o tempo inteiro, você e eles pre-
cisarão estar preparados para agir em caso de emergência.
Você se surpreenderá com a calma que as crianças podem demonstrar
diante de emergências, inclusive quando você “perde a linha”. Contar com a
ajuda de seus filhos pode salvar a vida de um membro da família.

Outros materiais

Antes de iniciar o homeschooling, adquira tudo o que for necessário para


montar um espaço para ensino e aprendizagem. Compre não apenas os ma-

147
MARY KAY CLARK

teriais escolares normais, como cadernos, canetas, lápis e apontadores, mas


também outros utensílios que deem a você e a seus filhos um suporte psico-
lógico e ajudem a prepará-los para o trabalho que os espera. Por exemplo,
compre um quadro negro ou providencie uma placa de madeira e faça seus
filhos pintarem-na com tinta de quadro negro. Fazer com que as crianças
participem da confecção do equipamento pedagógico as motiva diante do
trabalho; faz com que queiram escrever no quadro que ajudaram a pintar.
Considere repintar ou mudar o papel de parede da “sala de aula”. Pro-
videncie uma mesa especial ou carteiras, mesmo de segunda mão. Algumas
crianças fazem questão de uma carteira escolar; assim se sentem de fato na
escola. É claro, se você preferir não recriar uma atmosfera de sala de aula,
a decisão é sua. Tente ser criativo na criação de um ambiente que ajude a
motivar você e seus filhos diante da ideia de aprender em casa.
Visite outras famílias homeschoolers da região e veja como eles orga-
nizam seu espaço de homeschooling. Não deixe de se valer dos hobbies e
talentos especiais predominantes na sua família.

Conclusão

As famílias homeschoolers sabem que o tempo que passamos ao lado


de nossos filhos, rezando, trabalhando e aprendendo juntos, é insuperável,
tamanha a alegria que nos traz. Embora sejam necessários alguns prepa-
rativos já desde antes do início, assim que você começar, se convencerá de
que valeu a pena.
Começar é um importante primeiro voto de confiança em Jesus, sabendo
que Ele providenciará todas as graças que forem necessárias para que você
cumpra sua obrigação de educar seus filhos.
Lembre-se de que, enquanto membro do Corpo Místico de Cristo, você
tem direito a muitas graças. Basta pedi-las.

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Capítulo 5
Homeschooling em uma
família numerosa

A
s pessoas costumam ficar intimidadas diante da ideia de ensinar mui-
tos filhos em casa. No entanto, o homeschooling não é mais difícil
para uma família numerosa – é difícil, sim, mas até menos do que
em famílias menores, pois a mãe de muitos filhos pode contar com a ajuda
de seus mais velhos.
O motivo básico pelo qual o homeschooling é menos difícil em famílias
numerosas é que há pessoas para ajudar com o serviço doméstico, as tarefas
escolares e mesmo com a manutenção da disciplina entre as crianças. Além
disso, os filhos mais velhos e já bem disciplinados podem servir como mode-
lo para os mais novos.

O plano geral de Deus

Praticar o homeschooling torna-se mais fácil se compreendermos que


cada família homeschooler é importante no plano geral de Deus para a
nossa salvação, para a Igreja e para a sociedade. É mais fácil vencer as
dificuldades se estivermos convictos de que nosso objetivo final é o maior
de todos.
Às vezes pensamos que nossa própria vida e as vidas de nossos familiares
não fazem a diferença no plano total que Deus tem para a sociedade, mas,
em verdade, cada um de nós é imprescindível.
Na encíclica Humanae Vitae, o Papa Paulo VI pede aos esposos católicos
que evangelizem outros casais, abrindo seus olhos para os ensinamentos de
Deus acerca do controle de natalidade. O modo como conduzimos nossas
vidas e os exemplos que damos diariamente são um tipo de evangelização.
Obedecemos a um mandamento divino quando nos dispomos a educar nos-
sos filhos, e deste modo representamos algo extraordinário em nossa socie-
dade, que há de levar outros pais a investigar o assunto e tentar viver tam-
bém a autêntica vida católica em família. Um dos melhores exemplos que
podemos dar à sociedade pagã de hoje é ter filhos e assumir pessoalmente a
responsabilidade de educá-los, ao invés de entregá-los às escolas do governo.
Além disso, nossa prática homeschooler é importante por nos levar a
aprofundar nosso conhecimento e nossa prática da Fé católica, visando não
apenas à nossa própria salvação e à de nossa família, mas também à de nos-
sos futuros netos e bisnetos.
As famílias homeschoolers podem ter um grande impacto sobre o plano
geral de Deus para a salvação das almas de nossos conhecidos católicos, de
nossos vizinhos e até onde Deus quiser prolongar tal influência. Como São
Francisco, nós, pais homeschoolers, não fomos chamados somente a recons-
truir a igreja do nosso bairro ou, no caso, nossa própria igreja doméstica.
Também fomos chamados a evangelizar toda a Cristandade, dando o exem-
plo vivo da autêntica vida familiar católica.
A sociedade secular incentiva as pessoas a praticarem suas perversidades
abertamente, a “sair do armário”. Nós, católicos, também precisamos nos
abrir, mas não para promover o homeschooling de forma agressiva, e sim
para falar sem medo e sem rodeios quando os outros nos perguntarem sobre
o assunto.

A família numerosa estimula as virtudes

A família numerosa é especialmente importante ao pleno desenvolvimen-


to de indivíduos virtuosos, famílias virtuosas e uma sociedade virtuosa. A
família católica, qualquer que seja seu tamanho, é uma igreja doméstica,
como ensina a própria Igreja. Mas a família numerosa dá às crianças a opor-
tunidade de praticar mais virtudes, de modo mais profundo e constante.
Quanto maior a família, mais aspectos da sociedade em geral seus membros
tendem a representar. Em uma família numerosa, as crianças têm mais opor-
tunidades para relacionar-se entre si, e assim há ocasiões mais variadas para
a prática de virtudes cristãs como a bondade, a paciência, a generosidade,
saber compartilhar com os outros, fazer boas ações de livre e espontânea
vontade, compadecer-se dos membros da família que estão doentes ou já são
idosos e cuidar de bebês. De modo geral, quanto mais numerosa a família,
mais se demanda de cada criança em particular.
A maioria das famílias numerosas precisa praticar a virtude da pobreza. Isto
não significa que as famílias sejam realmente pobres, mas o fato é que famílias
grandes são obrigadas a sobreviver sem muitos dos “extras” com que as famílias
em geral são acostumadas. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos
EUA, uma família típica gasta $235.000,00 para criar uma criança nascida em
2003, excluídos os gastos com a universidade. É evidente que, quanto mais filhos
você tiver, menos gastará com cada um. Mas, mesmo que a família gaste metade
do valor típico por criança para criar seis filhos, o total seriam $705.000,00. São
$705.000,00 que não poderão ser gastos com carros e viagens.
Porém, ao mesmo tempo em que dispor de menos dinheiro é um fato
exterior, também pode ser uma virtude internalizada, pois leva pais e filhos
compreender mais profundamente quão pouco importantes são os bens ma-
teriais se comparados a pessoas e princípios morais. Como os pais católicos
“escolhem a vida” repetidamente, os filhos compreendem a mensagem de
que é preciso sacrificar-se para dar espaço aos outros.
A virtude da obediência imediata é vital para que se mantenha a sanida-
de e a ordem em uma família numerosa. Famílias grandes precisam cultivar a
obediência e o respeito pela autoridade; do contrário, quando vêm tempos de
crise, as pessoas não permanecem unidas, mas dispersam-se em muitas direções
diferentes e prejudicam a integridade da família. Uma família numerosa, em que
as crianças devem obediência não só aos pais, como também aos irmãos mais
velhos, gera mais oportunidades para que se explique e se ponha em prática o
Quarto Mandamento, que nos instrui a obedecer toda autoridade respeitável.
Maus comportamentos não duram muito em uma família numerosa,
pelo simples fato de que há muitas pessoas para protestar contra eles. O mau
comportamento de um dos filhos faz com que os demais irmãos pressionem
os pais para que não o tolerem e apliquem a punição adequada à desobedi-
ência. E, caso os pais se omitam, os filhos mais velhos se encarregam da puni-
ção. Reconhece-se prontamente, em uma família numerosa, como a prática
da virtude é necessária para o bem de cada membro e da família como um
todo. Indivíduos que crescem em famílias numerosas aprendem a praticar a
MARY KAY CLARK

virtude na sociedade em geral, no ambiente de trabalho, no supermercado,


na paróquia, na vizinhança, na vida civil e política.
Todos reconhecemos a necessidade de vivermos vidas virtuosas, visan-
do à salvação de nossas almas imortais. Mas também é parte do plano
de Deus para nós que nos dediquemos a evangelizar aqueles ao nosso re-
dor. As famílias católicas homeschoolers são parte deste plano. Precisamos
aceitar humildemente o fato de que Deus escolheu cada uma de nossas
famílias para servir aos Seus desígnios, desempenhando uma importante
tarefa de evangelização. Isto deve inspirar-nos a ser a melhor família cató-
lica que podemos ser.
Steve Wood, um ex-pastor evangélico que tem atuado no movimento pró-
-vida há vários anos, certa vez visitou Front Royal. Ele tinha, na época, uma
numerosa família de oito filhos, e fez um comentário muito verdadeiro: onde
quer que uma família numerosa vá, sua simples presença é um testemunho
dos valores cristãos. As pessoas sabem que essa família abriu mão de bens
materiais para ter muitos filhos. Certa vez, a família do ex-pastor estava em
um restaurante, e uma mulher aproximou-se de sua esposa e perguntou:
“Vocês são religiosos, não são?” A esposa respondeu: “Sim.” A outra conti-
nuou: “Católicos, não?” E, embora eles fossem convertidos havia apenas três
dias, a esposa respondeu: “Sim, católicos.”
A família numerosa é um símbolo da vida interior da fé, um símbolo
reconhecido mesmo por aqueles que negam tal vida. A família numerosa é
uma rejeição pública dos valores seculares vigentes, do materialismo e da
autossatisfação sem sacrifícios pessoais, promovidos pela mentalidade con-
traceptiva, por feministas, homossexuais e abortistas.
Então, a primeira dica para o homeschooling dar certo em uma família
numerosa é compreender o que somos e qual nosso propósito enquanto fa-
mílias abertas à vida. Você deve fazer essa reflexão, escrever suas respostas
em um papel e colá-lo em uma parede, retornando a ele sempre, nos bons
dias como nos maus.
A segunda dica é que a mãe professora faça uma auto avaliação, anali-
sando sua vida emocional e espiritual, para identificar suas virtudes e fraque-
zas e disciplinar-se para ser uma autêntica esposa e mãe católica.

A mãe professora

Que é importante disciplinarmos nossos filhos, todos sabemos. Mas o


que dizer de nossa autodisciplina? Mães homeschoolers devem ser discipli-

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

nadas. Precisamos nos fazer perguntas como: “Consigo me controlar e não


utilizar palavras agressivas com as crianças? Ou com meu marido, na frente
das crianças? Sou firme com meus filhos quando é preciso, ou controlá-los é
difícil demais e acabo me omitindo?”
Devemos pedir a Nossa Senhora do Bom Conselho que nos dê as virtudes
da paciência, da compreensão, do discernimento e da perseverança. Preci-
samos ser firmes ao administrar correções, e ao mesmo tempo sensíveis a
necessidades especiais. Devemos rezar pedindo por coragem e firmeza emo-
cional para disciplinarmos nossos filhos e ensiná-los a ser obedientes de livre
e espontânea vontade.
No primeiro ano de homeschooling, a rotina da casa sofre modificações,
para dizer o mínimo. Precisamos estar prontas a aceitar essas mudanças e
aprender a aceitar os sacrifícios relativos a bens materiais.
Discipline-se e seja firme. Não hesite em buscar a ajuda de outras mães
católicas homeschoolers, que certamente ficarão felizes em auxiliá-la. Ver
que outros homeschoolers conseguiram solucionar os problemas que lhes
ocorreram ajuda-nos a lidar com nossa própria situação, que pode ser apa-
rentemente insolúvel. E, é claro, confie na Mãe Santíssima – a melhor de
todas as mães homeschoolers – para guiá-la em tempos difíceis, assim como
nos abençoados momentos de calmaria.
Muitas santas são exemplos para nós. Santa Elizabeth Ann Seton conti-
nuou a educar seus filhos mesmo diante de sérias dificuldades. Ela os ensi-
nava enquanto seu marido estava extremamente doente e necessitando de
atenção, e também depois que ele faleceu. Em Emmitsbutg, Maryland, onde
ela fundou uma pequena escola, ela ensinava seus filhos e outras crianças.
Em meio a todas as dificuldades, ela manteve seus filhos ao seu lado, mesmo
após tornar-se freira. O primeiro convento em que a família morou era bas-
tante frio e antigo, e ela adoeceu de tuberculose, mas não se apartou de seus
filhos ao longo de todos esses difíceis anos. O sentido do homeschooling é
justamente manter seus filhos ao seu lado, não importa o que aconteça, pois
os problemas só podem ser resolvidos quando a família está unida, quando
todos trabalham juntos, rezam juntos e se sacrificam juntos.
Aprenda a seguir adiante mesmo quando os problemas parecerem insu-
peráveis: um esposo alcóolatra, uma esposa infiel, morte ou doenças sérias,
uma casa muito pequena, um orçamento fora de controle, coabitar com pa-
rentes. Essas são situações em que seus filhos precisarão de você mais do
que nunca; na escola, eles recorrem a drogas, sexo e a colegas imaturos para
contornar esses problemas. Esteja ao lado dos seus filhos.

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MARY KAY CLARK

É justamente nos tempos de maior dificuldade que seus filhos devem estar
mais próximos de você, de Jesus, da vida católica tradicional. Em tempos
difíceis, seus filhos serão instrumentos da graça para você, e você será um
instrumento da graça para seu esposo e seus filhos. O homeschooling oferece
a oportunidade e o tempo para esse fluxo de graça se faça sentir. Confie que
Deus, através do homeschooling, lhe providenciará tempo e espaço.
Deus lhe deu graças para compreender a necessidade do homeschooling,
agora tenha fé de que também não lhe faltarão graças para continuar sua
missão educadora. Ele sem falta ajudará você a disciplinar-se e disciplinar
seus filhos.
Lembre-se de que a mais alta manifestação do amor é você doar-se e
sacrificar-se, como fez Jesus ao sofrer e morrer por nós. O homeschooling
é um ato contínuo de doação e sacrifício pelas melhores pessoas do mundo
– seus próprios filhos. Treine-se, discipline-se para a doação e o sacrifício.
Quando o sofrimento vier, devemos ter em mente que se trata de um dom
de Deus. O sofrimento nos ensina a ser humildes e nos ensina o significa-
do do amor, pois aprendemos a nos sacrificar pelos outros mesmo quando
aparentemente não recebemos nada em retorno. Deus permite o sofrimento
para que nos aproximemos Dele. Ele disse isso à Irmã Josefa, segundo expli-
ca o livro O Caminho do Amor Divino (The Way of Divine Love). Ele disse
a ela que precisa permitir a existência de doenças e problemas para que as
pessoas se voltem a Ele quando estiverem angustiadas, já que tantos de nós
O esquecemos quando as coisas vão bem.
Na Rede de Televisão Palavra Eterna, a Madre Angélica tem o costume
de entrevistar pessoas com problemas – problemas médicos, filhos envolvi-
dos com drogas, um cônjuge alcoólatra, adolescentes grávidas fora do casa-
mento e assim por diante. São histórias de crescimento espiritual! É por isso
que Deus permite o sofrimento.
Precisamos entender que o homeschooling – especialmente em uma famí-
lia numerosa, em que os desafios e tribulações, as dificuldades e frustrações
prolongam-se por muitos anos – é uma bênção especial! Você descobrirá que
pode ser verdadeiramente feliz, mesmo com frustrações diárias.
São Paulo nos encoraja em sua primeira epístola aos coríntios: “Meus
amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à
obra do Senhor. Sabeis que o vosso trabalho no Senhor não é em vão.” E, na
epístola aos filipenses: “Tudo posso Naquele que me fortalece.”
Devemos ser como a Mãe Santíssima, que teve fé e confiou Nele. Em
Caná, ela disse aos empregados: “Fazei segundo Ele vos disser!” Ela tinha fé

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

de que Ele providenciaria o que fosse necessário, pois em casa Ele já demons-
trara Seu modo de proceder.
Confie em Jesus e em Sua Mãe Santíssima. Quer tenha você uma família
numerosa ou pequena, quer tenha um cônjuge ou não, motive-se, seja disci-
plinada, confie na Palavra e acredite: “Tudo posso Naquele que me fortalece.”

Aulas em grupo

Para o homeschooling dar certo, especialmente em uma família nume-


rosa, os pais precisam agrupar as crianças por disciplinas ou habilidades. O
princípio geral é combiná-las em turmas, sempre que possível. E, em segundo
lugar, lembre-se de que o maior “recurso pedagógico” de sua família são os
demais membros da família.
Tomemos como exemplo uma família bastante numerosa. A família
“Kelly” tem um bebê, uma criança pequena e filhos na pré-escola e na se-
gunda, quinta, sexta, nona e décima séries. Como eles podem organizar seu
homeschooling?

Arte, música e educação física

Em geral, todas as crianças, menos o bebê pequeno, podem ter aulas de


arte, música e educação física juntas. Em arte, os trabalhos podem ter níveis
diferentes, mas a tarefa de todos pode ser, por exemplo, confeccionar cartões
para a Páscoa. Uma criança pode cortar e colar, outra, fazer um desenho, e
outra pode compor um poema sobre a Páscoa para escrever em seu cartão.
Em música, todos podem cantar juntos, ouvir cantos litúrgicos, visitar
uma loja de música e aprender sobre os instrumentos, ir a um evento musical
em uma escola ou igreja da região ou mesmo fazer parte do grupo musical
do bairro.
Educação física é fácil. Em minha família, com sete meninos, eles todos
jogavam beisebol, futebol ou outro esporte. As crianças da mesma idade po-
dem frequentar aulas de ginástica ou esgrima, como faziam meus meninos,
ou outras atividades esportivas.
Caso você matricule seus filhos em alguma atividade artística, musical ou
esportiva, não deixe de supervisionar as primeiras três ou quatro aulas, ou
mais, se você tiver tempo.

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Quinta e sexta séries

Pelas séries em que estão as crianças da família Kelly, é óbvio que as da quinta
e da sexta séries podem frequentar algumas aulas juntas. As mães não demoram
a perceber que, em geral, as meninas podem frequentar aulas mais avançadas
de literatura, ortografia e vocabulário, enquanto os meninos têm facilidade com
matemática e ciências. (É claro que esta é uma regra geral aberta a exceções.)
As aulas mais fáceis para agrupamento de alunos são religião, ciências e
história. A criança mais nova pode seguir a mais velha, mas também não será
prejudicial à mais velha fazer uma revisão ou trabalhar o mesmo tópico da
tarefa da mais nova. Depois de duas semanas de homeschooling, em média,
a mãe consegue avaliar o nível de cada criança, disciplina por disciplina.
Se ambas as crianças lerem os textos das tarefas, alternando parágrafos, a
mais nova conseguirá acompanhar. Além do mais, elas aprenderão a trabalhar
juntas, talvez até se tornem amigas e aprenderão um pouco mais sobre os vários
dons que Deus dá a cada indivíduo. Elas também aprenderão a praticar as vir-
tudes da caridade, paciência e compreensão, trabalhando e aprendendo juntas.
Em uma família numerosa, em que há menos tempo disponível para cada
criança, certifique-se de que todas estejam em níveis nos quais se sintam
confortáveis, pois assim não precisarão de muita ajuda. É melhor começar
com tarefas mais fáceis, que a criança consiga realizar, do que começar em
um nível mais alto e ter que dedicar mais tempo a uma só criança, correndo
ainda o risco de ambos, você e ela, se frustrarem.
Outra vantagem de ter crianças trabalhando juntas é que elas tendem a
estimular o progresso uma da outra, e assim a mãe não precisa supervisioná-
-las tão de perto. Ela deverá, é claro, estar disponível para explicar conceitos
e ajudar quando necessário, para ouvir a pronúncia de leitura ao menos duas
vezes por semana e discutir o que está sendo estudado em religião. A partir
da quinta série, os alunos podem ajudar a dar notas aos seus trabalhos diá-
rios e aos de seus irmãos.

Pré-escola e segunda série

As crianças da pré-escola e da segunda série tomarão mais tempo do pro-


fessor, pois estão começando seu aprendizado. No entanto, se a criança da
segunda série for escalada como “ajudante” de vez em quando, para auxiliar
o irmão mais novo, não apenas se economizará tempo, como seu domínio do
alfabeto e seu conhecimento matemático serão beneficiados.

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

Quando uma criança tem dificuldade em alguma matéria, uma boa ideia
é colocá-la para ajudar um irmão mais novo nessa mesma matéria. Ensinar
os conceitos ou técnicas em um nível mais baixo reforçará o fundamento da
disciplina e fortalecerá o domínio geral da criança que está tendo dificuldade.
Além disso, a criança mais velha aprenderá a ser paciente e bondosa com
seu irmão ou irmã menor, deste modo praticando a maior das virtudes, a
caridade. A criança mais nova, por sua vez, aprenderá a valorizar a ajuda
que recebe de seus familiares, a ser humilde ao receber favores e a reconhecer
o valor de seus irmãos e irmãs mais velhos. As virtudes da humildade e da
confiança são assim assimiladas desde cedo.
Tanto a criança da pré-escola quanto a da segunda série podem ajudar a crian-
ça pequena que está aprendendo a andar, por exemplo, brincando de escolinha e
ensinando-lhe letras e números. Incentivar desde cedo as boas ações para com o
próximo resultará em atos caridosos de misericórdia mais tarde. Faça com que
seus filhos recordem das palavras ditas por Cristo quando lavou os pés dos Após-
tolos: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós.”
Algumas mães gostam de utilizar as férias de verão para alfabetizar um
dos filhos que ainda não saiba ler. Concentrando-se nesse objetivo durante
um período específico, menos tempo precisa ser gasto durante o ano regular,
quando há também as demandas das demais crianças.
Às vezes as mães querem adiantar uma criança mais nova à série de uma
mais velha, mas temem que seja um salto grande demais. Nesses casos, con-
sidere a possibilidade de trabalhar durante o verão com a criança mais nova,
em matérias como literatura, ortografia e vocabulário, para que, no início
do período letivo, ela possa ter aulas com o irmão mais adiantado. Nas pri-
meiras séries, contudo, um verão costuma ser pouco tempo para as crianças
absorverem conceitos abstratos.

Ensino médio

Alguns pais não se sentem aptos a ensinar as disciplinas do ensino médio.


Eles perguntam: “Como posso ensinar geometria ou química quando nem eu
mesmo domino essas disciplinas?”
Há várias soluções para esse problema. Primeiro, se você tiver acesso a
um computador, pense na possibilidade de comprar um software educativo
para a disciplina em questão. Há inúmeros programas excelentes disponíveis
hoje em dia, abordando os mais diversos tópicos, de modo que você não terá
dificuldade para encontrar um que atenda as necessidades do seu filho.

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MARY KAY CLARK

Segundo, procure um professor particular que possa ir à sua casa uma


vez por semana ensinar a disciplina.
Terceiro, tente matricular seu filho em cursos de matemática avançada, ci-
ência avançada e línguas estrangeiras em nível avançado. Frequentar um único
curso limita a interação social com os outros alunos, ao mesmo tempo em que
possibilita o acesso de seu filho a todos os recursos da instituição de ensino.
Quarto, algumas famílias homeschoolers juntam seus recursos e têm au-
las em grupo com alguém da comunidade que domine alguma disciplina em
particular. Por exemplo, eu conheço um grupo de alunos que têm aulas com
um pesquisador na área de química. Outro grupo reúne-se com um professor
natural da França que gosta de ajudar crianças homeschoolers a aprender
francês. Os exemplos são muitos.
O importante é ter em mente que o homeschooling católico não gira em
torno do aprendizado de geometria e química; trata-se, antes de tudo, de
viver uma vida católica virtuosa – de formar santos, não acadêmicos. Se eu
tiver de escolher entre meu filho jamais dominar a geometria porque eu não
consigo ensinar-lhe essa disciplina e meu filho diariamente assimilar valores
pagãos, a escolha é óbvia.

Nona e décima séries

A criança da nona série, em nossa imaginária família Kelly, já deverá ser


capaz de fazer boa parte de seu trabalho sozinha. Se os alunos praticam o
homeschooling durante os primeiros anos escolares, costumam ser aprendi-
zes independentes quando chegam ao ensino médio. Os meus viviam dizen-
do: “Mãe, eu sei fazer sozinho!”
No ensino médio, as mães precisam supervisionar o progresso do alu-
no e discutir temas ligados à religião e outras disciplinas, quando neces-
sário. As matérias que mais suscitam discussões são inglês, em torno dos
livros lidos e analisados, história e às vezes geografia, álgebra e geome-
tria não costumam ser dificultosas se as crianças já forem homeschoolers
experientes; caso contrário, recomendamos que os pais ou irmãos mais
velhos auxiliem de perto o aluno. Na maior parte do tempo, contudo, os
alunos do ensino médio não precisam de muita supervisão para cumprir
suas tarefas.
Ainda assim, certifique-se de que eles estão mantendo um bom ritmo em
todas as disciplinas. Às vezes o aluno gosta de alguma matéria em especial e não
gosta de outra. Quando isso acontece, ele tende a passar mais tempo estudando

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

o que gosta e a negligenciar o que não gosta. Por isso, você certificar-se de que
as crianças estão cumprindo suas obrigações em todas as áreas, todos os dias.
Problemas às vezes ocorrem quando o jovem inicia o homeschooling na
nona série, pois ele não possui a base acadêmica, as estratégias de estudo,
nem a motivação necessárias. Além disso, os professores da escola talvez o
tenham acostumado a não utilizar todo o seu potencial.
Nas escolas é comum acontecer de algumas crianças serem pressionadas
por seus colegas para que não demonstrem sua inteligência ou tenham um
bom desempenho. Nesses casos, a mãe precisará trabalhar com o aluno da
nona série por mais tempo do que planejara.
A mãe homeschooler deve ter em mente que um de seus objetivos é aju-
dar o aluno a desenvolver estratégias de estudo, para que possa continuar
seu aprendizado de forma mais independente. A Seton possui um mini-curso
sobre técnicas de estudo, que é enviado aos nossos alunos da sétima à décima
segunda série. Ele também está disponível gratuitamente em www.setonhome.
org. Oferecemos orientações sobre a organização de um espaço de estudos,
a montagem do cronograma, a importância de ter livros e outros materiais
de estudo sempre à mão, técnicas para evitar distrações e assim por diante.
O curso também ensina a tomar notas de leitura, resumir um capítulo de
livro, identificar detalhes importantes e memorizar fatos. Uma vez domina-
das essas técnicas, o aluno terá muito mais facilidade para aprender.
Se tudo se encaminhar bem, na décima série a mãe precisará apenas su-
pervisionar algumas disciplinas, embora recomendemos o envolvimento
contínuo dos pais nas discussões.

Nona e décima séries ensinadas em conjunto

Alunos da nona e da décima séries podem cursar diversas disciplinas jun-


tos, especialmente aquelas que não precisam ser dadas na ordem. Cursos
de pesquisa em história, geografia, religião, literatura e cursos de ciências
normalmente podem ser frequentados por alunos de diferentes séries, pois
não dependem de conceitos trabalhados no ano anterior. O estudo de uma
língua estrangeira pode ser iniciado mais cedo por um aluno mais novo que
deverá estudar com seu irmão ou irmã mais velha.
Obviamente, o aluno da nona série não poderá cursar álgebra 2 ou geo-
metria com um irmão mais velho. Também é provável que não seja possível
os dois cursarem juntos a disciplina de inglês, porque certas regras de escrita,
análise, composição e gramática são ensinadas na nona série. Contudo, se o

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MARY KAY CLARK

aluno for ambicioso, poderá cursar, digamos, álgebra 1 durante o verão, de


forma intensiva, visando a participar do curso mais avançado junto com seu
irmão ou irmã mais velha durante o ano regular.

Um adolescente rebelde

Uma das desgraças da existência moderna é o adolescente rebelde. Iniciar


o homeschooling com um adolescente pode ser problemático. Tratando-se
de um adolescente rebelde, todo o primeiro ano de homeschooling pode
consistir fundamentalmente em um programa para ensinar valores e atitudes
do catolicismo tradicional, inclusive a autodisciplina. O conteúdo acadêmico
desse primeiro ano pode levar até o dobro do tempo para ser finalizado.
Alguns pais retiram seus filhos do ensino médio, seja público ou católi-
co, somente na décima segunda série. Sabemos que é difícil, mas a ideia de
“antes tarde do que nunca” é um conselho importante aqui. Mesmo tardia-
mente, se os pais perceberem os perigos do ambiente escolar para a alma
de seus filhos, podem utilizar esses meses finais para ensinar o máximo que
conseguirem, o mais rápido possível.
Alguns pais, quando percebem o perigo que seus filhos estão corren-
do e como eles estão distantes dos bons valores católicos, decidem lhes
ensinar de novo, desde o princípio, todas disciplinas do ensino médio,
especialmente religião, história e literatura. Alguns alunos reiniciam todo
o currículo do ensino médio para rever tudo segundo a perspectiva ca-
tólica. A maior parte do conteúdo pode ser absorvido rapidamente, por
se tratar de revisão, porém há uma perspectiva totalmente diferente. Os
conceitos politicamente corretos absorvidos nas aulas de geografia, por
exemplo, podem ser corrigidos através da perspectiva católica. Os planos
de aula para a disciplina de geografia no homeschooling podem incluir
uma variedade de tópicos apresentados sob o ponto de vista católico –
tópicos como multiculturalismo e globalismo, crescimento populacional
e comunismo.

Agrupamento parcial

Discutimos a possibilidade de duas crianças terem aula juntas, adiantan-


do a mais nova ou atrasando a mais velha em uma matéria na qual ambas
podem beneficiar-se de estudar juntas. Mas há um outro formato que tam-
bém pode funcionar, chamado agrupamento parcial.

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HOMESCHOOLING CATÓLICO

Por exemplo, suponha que você tem filhos na quarta, quinta e sétima sé-
ries e não quer ensinar três níveis diferentes de religião, ciências ou história,
porém sente que as diferenças de habilidades entre eles são tais que não é
possível uni-los em suas tarefas diárias. Um modo de lidar com essa situação
seria reunir todas as crianças para uma discussão ou explicação sobre um
tópico em particular. Sua fala provavelmente seria voltada à criança do meio,
utilizando o livro didático ou as lições da criança do meio. Mais tarde, po-
rém, ou no dia seguinte, cada criança resolveria a tarefa de seu próprio livro,
em seu nível. Assim, a criança da quarta série pode trabalhar memorizando
os fatos do catecismo sobre o Quarto Mandamento, a da quinta série pode
responder algumas perguntas factuais e a da sétima pode escrever um pará-
grafo sobre uma situação mais complexa, digamos, de um adolescente que é
desobediente com seus pais ou alguma outra figura de autoridade.

Outros membros da família

Embora os membros da família em que você costuma confiar mais para aju-
dar com o homeschooling sejam seus próprios filhos, seu marido também deve
ajudar. (Isto será tratado mais especificamente no capítulo sobre o papel do pai.)
Outros familiares que também podem ajudar são os avós. Eles costu-
mam ter tempo livre e energia para ajudar, seja tomando conta de crianças
pequenas, seja ensinando. Peça a ajuda inclusive dos avós desfavoráveis ao
homeschooling, pois, na maioria dos casos, quanto mais eles participam da
rotina de estudos da família, mais a apoiam.
Os avós podem ser excelentes professores para os seus filhos. Eles têm
experiência, conhecimento e sabedoria sobre a vivência católica. Eles são um
verdadeiro tesouro para os seus filhos, pois tendem a ser muito pacientes,
sensíveis, compreensivos e amáveis com os netos. A segurança e a profunda
ternura que eles transmitem criam um ambiente saudável tanto para o cres-
cimento espiritual quanto intelectual das crianças.
Os avós são excelentes professores para as crianças mais novas, porém
sua sabedoria e experiência podem ser de grande valia aos adolescentes, que
tendem a pensar que sabem tudo. Em uma sociedade pagã que tem aceitado
a eutanásia e promovido o utilitarismo em detrimento da virtude moral, os
avós podem ensinar lições inestimáveis para a família homeschooler. Esse
aprendizado multi-geracional é uma das experiências ausentes nas escolas.
Jovens cursando o ensino médio ou a faculdade são excelentes profes-
sores para seus irmãos mais novos, especialmente em matemática e inglês.

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MARY KAY CLARK

Também podem oferecer uma ajuda valiosa aos homeschoolers as freiras ou


professores aposentados, que podem ajudar, talvez semanalmente, a revisar
os conteúdos de matemática ou inglês.
Considere a possibilidade de seus filhos mais velhos alternarem turnos,
de cerca de uma hora e meia por dia, para ficar com as crianças da pré-esco-
la. Eles podem brincar com os irmãos mais novos, vigiá-los, ou ensinar-lhes
letras e números. Essa interação entre as crianças é importante, beneficiando
tanto o mais novo quanto o mais velho.
Permita sempre que as crianças da pré-escola participem do homescho-
oling. Elas não devem sentir-se deixadas de fora. Elas podem ficar brincan-
do no chão, ou sentadas no colo de alguém, ou ter seu próprio “caderno
escolar”, ou desenhar com giz em um quadro negro. Integrar as crianças
menores à rotina de estudos fará com que elas tenham menos problemas
com disciplina mais tarde. Além disso, elas começarão desde cedo a absorver
conteúdos, o que fará com que sejam melhores alunos, pois inconsciente-
mente assimilarão estratégias de estudo. Além disso, elas tendem a esperar
ansiosamente pelo início de seu homeschooling, pois acreditam que é coisa
de “gente grande”.

Flexibilidade

Para que o homeschooling funcione, é preciso ter flexibilidade. Este é um


ponto que costuma ser subestimado. O maior benefício acadêmico do ho-
meschooling é a possibilidade de se montar um currículo individual. Se você
não adaptar os materiais e o ritmo de estudo aos pontos fortes e fracos do
seu filho, estará perdendo um grande benefício.
A Seton sempre incentiva a flexibilidade. Nosso refrão é: “Ajustar o pro-
grama à criança, não a criança ao programa”. Isto significa que, embora
haja conteúdos matemáticos específicos que devem ser aprendidos em uma
determinada série, recomendamos que as aulas sigam o ritmo e o método
mais adequados ao aluno.
Uma criança pode conseguir terminar duas lições em um dia, mas em ou-
tro momento ela talvez precise de dois dias para concluir uma lição. Durante
os meses quentes do ano, é comum que as crianças mais novas rendam mais
quando têm várias aulas curtas ao longo do dia, podendo sair para brincar
mais vezes.
As lições e recomendações oferecidas pela Seton para o dia a dia escolar
são um guia geral. Se você desejar segui-las estritamente, não há problema;

162
HOMESCHOOLING CATÓLICO

muitos pais o fazem. Por outro lado, você também pode ajustá-las, aumen-
tando o número de tarefas orais e diminuindo o de escritas, ou encurtando
uma tarefa sobre um tema que o aluno aprendeu com facilidade. Você pode
aumentar a carga de leitura de uma tarefa, por exemplo, pedindo à criança
que pesquise em uma enciclopédia sobre um artista mencionado em um tex-
to do livro.

Materiais suplementares

Seja flexível em suas aulas diárias, utilizando, sempre que possível, mate-
riais suplementares para enriquecê-las. Prepare as aulas da semana seguinte
durante o fim de semana. Se tiver acesso à internet, tente encontrar sites
com materiais interessantes. A internet modificou para sempre o processo de
aprendizado, ao disponibilizar uma quantidade inacreditável de informação
ao alcance dos seus dedos. Pode ser difícil encontrar online exatamente o que
você procura, por isso recomendamos que você aprenda a utilizar muito bem
as ferramentas de pesquisa. Quando encontrar boas fontes, salve as páginas
para que possa visitá-las novamente. Os navegadores da internet permitem
que você organize seus sites favoritos em categorias como ciência, história,
religião etc.
Algumas famílias preferem não ter acesso à internet, por medo de que
seja uma porta de entrada a más influências em sua casa. É uma preocupação
compreensível, e cabe a cada família decidir o que fazer a respeito. Em geral,
a internet é uma ferramenta e, como tal, pode ser utilizada para o bem e para
o mal. O fato é que, depois de ter acesso a ela, será difícil imaginar como
você vivia antes dela.
Se possível, visite bibliotecas e pesquise por livros, brochuras, CDs, DVDs
e obras de referência que possam ser úteis às suas aulas. Peça ao bibliotecário
que lhe explique sobre todos os recursos e materiais disponíveis. Pergunte
sobre a possibilidade de emprestar livros de outras bibliotecas através da
ferramenta de empréstimo entre bibliotecas. A maioria das bibliotecas per-
mitem que suas obras de referência circulem, normalmente as edições mais
antigas de enciclopédias. Além disso, pergunte ao bibliotecário se eles não
têm interesse em vender a cópia mais antiga de uma enciclopédia. Você pro-
vavelmente conseguirá comprar o conjunto completo por $25,00. Também é
possível tentar comprar uma enciclopédia no eBay. Existe a possibilidade de
utilizar uma enciclopédia virtual, porém os alunos gostam de livros físicos.
Livros são essenciais ao aprendizado. Muitas crianças gostam de folhear en-

163
MARY KAY CLARK

ciclopédias para aprender sobre tópicos diversos, o que não é possível fazer
com materiais virtuais.
Pergunte ao bibliotecário sobre outras fontes onde seja possível obter
informações e materiais de estudo. Os governos municipais e estaduais em
geral disponibilizam toneladas de materiais gratuitos. Pesquise em sebos por
enciclopédias e outras obras de referência, como enciclopédias de ciência
ilustradas.
Os professores das escolas, limitados por tempo, espaço, localização e
uma enxurrada de outros problemas, não conseguem oferecer aos seus alu-
nos nem um milésimo da quantidade quase ilimitada de recursos disponíveis
à família homeschooler.

Cronograma

Montar um cronograma costuma ser um desafio para as famílias numero-


sas. Algumas mães gostam de que todas as crianças cursem a mesma disciplina
ao mesmo tempo. Assim, todos estudam matemática das 9:00h às 10:00h. A
vantagem de proceder assim é que, ao supervisionar cada criança, pode ser
mais fácil para você ensiná-las. Além disso, se uma criança precisar auxiliar
outra, estarão ambas estudando a mesma disciplina naquele momento.
Por outro lado, algumas mães acham necessário que as crianças leiam em
voz alta todos os dias, então fazem com que as aulas de leitura coincidam. Ou-
tras acham mais fácil concentrar-se nos filhos mais velhos logo de manhã cedo
e trabalhar com os mais novos mais tarde. Algumas mães optam por trabalhar
ao mesmo tempo com um filho que tem dificuldade em uma disciplina e com
outro que esteja trabalhando em uma tarefa em que não precisa de ajuda.
A maioria das mães tentam trabalhar as disciplinas mais difíceis pela ma-
nhã, quando as crianças estão bem-dispostas, deixando a resolução de livros
de atividades para o período da tarde. É claro que, se você tiver um bebê que
cochila à tarde, esse será um bom momento para aulas de leitura ou para aju-
dar um filho em uma disciplina mais complexa, como inglês. Muitas mães pre-
ferem que as crianças tenham aulas com o pai no fim do dia ou aos sábados.
Ao mesmo tempo em que é importante ter flexibilidade e, se necessá-
rio, fazer modificações no plano inicial, é melhor começar o ano com um
cronograma definido e tentar mantê-lo por algumas semanas ou meses, se
possível, antes de fazer modificações. Contar com uma estrutura de trabalho
dá estabilidade e incentiva a disciplina, coisas de que as crianças gostam e
necessitam.

164
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Crianças precisam de rotina. Elas querem saber quando será o jantar,


quando é a hora de ir para a cama, quando podem brincar, a que horas é a
aula de matemática ou inglês, a que horas devem rezar ou ir à Missa. A roti-
na lhes dá segurança, e elas têm mais facilidade para a fazer O QUE devem
QUANDO devem. Em uma família numerosa, é muito fácil as coisas ficarem
caóticas sem um cronograma.
As crianças costumam ter mais disposição para seguir um cronograma
quando ajudam a montá-lo. Pergunte a elas se preferem começar o dia com a
disciplina mais fácil ou com a mais difícil. Nem sempre será possível atender
às vontades de todos, mas você deve tentar.
Quando todos tiverem seus cronogramas prontos, faça com que cada
criança desenhe o seu e o decore com canetas coloridas. Os cronogramas
podem ser fixados na parede da sala onde cada um costuma trabalhar. Essa
dedicação especial ao cronograma faz com que as crianças se comprometam
mais com seu cumprimento.
Ao mesmo tempo em que os pais devem ajustar seus planos às habili-
dades e necessidades de seus filhos, guiar-se por um cronograma escrito faz
com que ambos, pais e filhos, sintam-se melhor, pois é como se tivessem um
mapa do caminho a ser trilhado. Eles sabem para onde estão indo, mesmo
que não mantenham exatamente o ritmo esperado, ou mesmo que façam
modificações de vez em quando.

Começando o ano

Em uma família numerosa, é importante iniciar o ano escolar mais lenta-


mente. As escolas públicas trabalham com o número de 180 dias letivos, po-
rém nem todas as crianças vão à escola todos esses dias. Elas adoecem, ou vão
a excursões fora da escola, ou os professores se ausentam para participar de
treinamentos. Muitas vezes o ritmo das aulas diminui quando quem está em
sala são professores substitutos ou quando ocorre algum evento que mobiliza
a escola toda. As escolas se valem muito de filmes e períodos na sala de estu-
dos. Então não se preocupe se em casa vocês não tiverem 180 dias de aulas. É
melhor começar com calma e estabelecer uma boa rotina escolar para o ano.
Comece com a criança mais velha ou, se for trabalhar com turmas, com
as duas mais velhas, durante a primeira semana, e não trabalhe com as de-
mais crianças nesse período. Tome a primeira semana para montar o cro-
nograma, localizar as chaves de resposta nos livros didáticos, ver com que
frequência as avaliações serão feitas, familiarizar-se com o esquema de tare-

165
MARY KAY CLARK

fas do programa e assim por diante. Se seu filho mais velho cursar o ensino
médio, ele deverá familiarizar-se com os materiais didáticos e o modo de
utilizá-los. Essa primeira semana pode servir para estabelecer um modelo de
rotina para as próximas.
Na segunda semana, comece as aulas do segundo filho mais velho, ou,
se já tiver iniciado o segundo, dos dois próximos, e trabalhe, na medida
do possível, sem interrupções das demais crianças. Você pode seguir esse
procedimento a cada início de ano letivo. Algumas mães gostam de seguir
assim até o feriado do Dia do Trabalho18, e desse modo o programa integral
começa em setembro.
Certifique-se de que todos saibam o que fazer caso a mãe (ou o pai) não
esteja disponível quando necessário. A criança deve ser instruída a a) conti-
nuar da melhor forma possível a tarefa em que esteja trabalhando, passando
às questões seguintes à medida em que for terminando; ou b) ler para um
relatório sobre um livro; ou c) fazer a tarefa de outra disciplina. Não permita
que seus filhos percam tempo esperando até você estar disponível. Você pode
aplicar um castigo do tipo “sentar sem fazer nada” até que eles entendam o
valor do tempo.

Sextas-feiras

Algumas famílias numerosas têm muita dificuldade para manter o ho-


meschooling por cinco dias na semana, pois precisam de um dia para outras
coisas. Elas programam as aulas para apenas quatro dias úteis, deixando
o quinto dia para finalizar algo que não tenha sido cumprido nos quatro
anteriores, ou para fazer trabalhos domésticos, ou para consultas médicas.
Quando há um Dia Santo durante a semana, algumas famílias, ou têm me-
nos aulas, ou aula nenhuma. Na minha família, omitíamos algumas discipli-
nas nos Dias Santos para que fôssemos à Missa ou pudéssemos rezar mais.
Algumas famílias utilizam a sexta-feira para que todos ajudem a limpar a
casa. Em uma família numerosa, é importante dividir os afazeres domésticos
em equipe, com um filho mais velho trabalhando com um mais novo. Assim,
o mais novo aprende com o mais velho, e este não pode distrair-se, pois tem
a obrigação de supervisionar o irmão; e a tarefa é cumprida de forma mais
rápida e eficaz.

18 Celebrado, nos Estados Unidos, na primeira segunda-feira de setembro.

166
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Um dia típico, porém único

Uma das perguntas que as mães que pretendem iniciar o homeschooling


sempre me fazem é como seria um típico dia homeschooler. Sua principal
preocupação é quanto tempo precisarão investir nas aulas.
Quem pratica o homeschooling não tarda a descobrir que não existe um
cronograma típico ou universalmente válido. A realidade é única para cada
família, pois cada família é única. Qual terá de ser o “investimento” da mãe,
é imprevisível. Crianças mais novas demandam mais do que as mais velhas.
No entanto, crianças mais velhas que acabaram de começar o homeschoo-
ling demandam mais do que as pequenas que também estão começando. Em
algumas famílias, as aulas de inglês levam mais tempo e, em outras, as de
matemática. Há famílias em que as aulas de ciências são tranquilas e as de
redação, impossíveis.
Em uma família, a mãe é totalmente dedicada ao lar e às necessidades
dos que ali vivem. Tudo é organizado, desde os móveis até a última xícara do
armário. Ela habituou seus filhos a utilizar sempre os mesmos espaços para
trabalhar, estudar em certos horários, fazer as tarefas escolares exatamente
como escrito em seus planos de aula. Os meninos leem sem parar e tiram
notas altíssimas nos testes oficiais. Eles amam aprender e assistem às aulas
como se brincassem, enquanto a mãe dedica cada minuto do dia escolar a
tornar as tarefas mais interessantes.
Em outra família, a mãe mal tem tempo para tirar o pijama. Ela precisa
ficar ao telefone resolvendo problemas do centro ajuda às grávidas, mas dá
continuidade às aulas, com seus filhos trabalhando na sala de estar. Ela os
supervisiona entre as ligações. A família é numerosa e os filhos mais velhos
ajudam bastante com os mais novos. Ela entra em cena quando necessário.
A casa parece uma biblioteca e as crianças leem bastante.
Outra mãe tem muitos filhos, porém apenas um em idade escolar. Ela
senta o bebê menor em seu colo, enquanto o menino maior lê e os pequeni-
nos brincam no chão. Às vezes ele recita a tabuada enquanto ela coloca as
roupas na máquina de lavar. Às vezes ele vai para uma sala mais silenciosa
estudar o alfabeto. O pai lhe ensina novos conceitos matemáticos todos os
dias antes de ir para o trabalho.
Uma família vive em uma fazenda e as crianças precisam ajudar o
pai durante alguns meses do ano. Quando não precisam trabalhar, elas
estudam intensamente e o pai as ajuda. Durante a estação de cultivo da
terra, elas só estudam à noite, pois precisam ajudar o pai durante o dia.

167
MARY KAY CLARK

Elas têm projetos pessoais no 4-H19 e plantam e vendem seus próprios


produtos.
Outra família estuda entre as aulas de música, pois o pai é músico profis-
sional e quer que os filhos pratiquem seus instrumentos com frequência. Eles
adoram tocar na orquestra municipal e odeiam matemática, por isso têm um
professor particular que vem uma vez por semana ajudá-los.
Uma família com vários filhos no ensino médio uniu-se a outras duas fa-
mílias homeschoolers em situação semelhante. Eles contrataram um professor
particular para revisar o conteúdo de ciências do ensino médio e ajudar com ta-
refas de matemática, enquanto a mãe cuida da educação das crianças menores.
Uma família tem filhos adolescentes que praticam artes cênicas, e as au-
las frequentemente acontecem no teatro. Em outra família, as moças são
enfermeiras voluntárias em um hospital da região, e as aulas acontecem nos
intervalos dessa atividade. Em muitas famílias, a militância pró-vida é uma
parte importante do serviço social católico.
Em outra família, dois adolescentes do ensino médio trabalham como
aprendizes, a moça como contadora e o rapaz como soldador e operador de
máquinas.
Em uma família, os meninos trabalham várias horas por semana com o
pároco, ajudando na igreja e na casa paroquial. Um adolescente de outra
família é professor auxiliar em uma escola para crianças com necessidades
especiais.
Na maioria das famílias, os métodos de homeschooling se modificam à
medida que os filhos crescem. Métodos e cronogramas são diferentes para
cada criança. Enquanto uma criança se dá bem trabalhando na tranquilida-
de de seu próprio quarto, outra parece trabalhar melhor na mesa de jantar,
mesmo com ruídos ao redor.
O tempo nos modifica e modifica nossos filhos. Os pais podem estar mais
ou menos disponíveis para ajudar com o homeschooling, dependendo de seu
trabalho.
Evidentemente, um dia típico de uma família não é idêntico ao de outra.
Cada família é única em seus talentos e dons, em suas fraquezas e interesses,
e a estes deve adequar-se o cronograma do homeschooling, assim como às
ocupações dos pais. Algumas crianças aprendem a cultivar a terra e criar
animais, outras aprendem a programar computadores e outras aprendem a
tricotar blusas de frio e costurar belos vestidos.

19 Ver: http://www.4-h.org/

168
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Minha família

As pessoas sempre me perguntam como foi o homeschooling dos meus


sete meninos. Eis aqui, então, a nossa história típica, porém única. Apresen-
to-a apenas como um exemplo da experiência de uma família. Pode ser que
ela ajude você a refletir sobre sua própria situação, mas certamente não a
apresento como um ideal a ser seguido por você ou qualquer outra família.
Quando iniciei o homeschooling dos meus filhos, eu trabalhava como dire-
tora de uma escola primária, uma escola católica que eu fundara em coopera-
ção com outros pais. Meus filhos mais novos estudavam lá. (Mais tarde, todos
os meus filhos passaram a estudar em casa.) Meus três mais velhos estavam
no ensino médio nessa época. Eles estudavam sozinhos, cada qual em sua res-
pectiva série, enquanto eu estava fora. Quando eu chegava em casa, às quatro
da tarde, supervisionava seus estudos, fazia-lhes perguntas, ou eles me faziam
perguntas. Aos domingos, eu passava a tarde corrigindo e dando notas às suas
tarefas e escrevendo as tarefas que eles fariam durante a semana.
Meus filhos estudavam muito. Eles estudavam o número de horas re-
gulares da escola e ainda liam livros da biblioteca ou faziam pesquisas na
enciclopédia. Eles liam literatura e livros sobre política, que eram meus prin-
cipais interesses. Eles iam à biblioteca uma vez por semana.
Alguns anos mais tarde, em outra casa, eu já havia deixado meu empre-
go de diretora e era homeschooler em tempo integral, ensinando todos os
meus filhos, exceto o mais velho, que estava na faculdade. Tínhamos uma
sala ampla onde quase todos tinham sua própria mesa e tarefas específicas.
Eles trabalhavam os conteúdos de suas respectivas séries e eu distribuía meu
tempo entre todos.
Um dos mais novos ficava em uma sala separada com um garoto vizinho
da mesma série. Eu ensinava os dois, com a ajuda ocasional de uma amiga.
Meu mais novo simplesmente brincava onde eu estivesse.
Em uma terceira casa, os meninos já estavam mais velhos e ajudavam
bastante com os afazeres domésticos. Eu estava retornando ao trabalho,
nesse momento, porém de forma limitada. Dois, e depois três dos garotos
estavam na faculdade. Grande parte do meu trabalho profissional era feito
em casa, à noite. Continuávamos com cada garoto em sua respectiva série a
maior parte do tempo, embora tenha acontecido de trabalharem juntos em
projetos de ciências.
Até esse momento, meu marido ajudava apenas ocasionalmente, mas a
partir daqui começou a passar mais tempo com os meninos, ajudando-os em

169
MARY KAY CLARK

matemática e história. Os mais velhos também passaram a ajudar os mais


novos, especialmente em matemática.
O cronograma de estudos era bastante similar nessas três situações. Co-
meçávamos o dia com orações: Oferta Matinal, Litania do Sagrado Coração
e uma leitura da vida do santo do dia. Nossa primeira aula era sempre reli-
gião, sendo matemática sempre a segunda. Disciplinas para as quais as crian-
ças precisavam de mim, como inglês e literatura, vinham sempre em seguida,
pela manhã. Para inglês, eu costumava usar um quadro negro onde podia
fazer desenhos, quando necessário, o que tornava a aula mais divertida. Eu
ouvia os meninos lerem todos os dias, por no mínimo 15 minutos, até a oita-
va série. A pronúncia correta e a inflexão são importantes para determinar o
nível de compreensão que a criança tem do que lê. Sempre considerei muito
importantes os exercícios de compreensão de texto, nos livros didáticos.
Fônica, ortografia e vocabulário eram trabalhados no fim da manhã ou iní-
cio da tarde. Meus filhos tinham facilidade com essas matérias, embora fossem
muitas vezes descuidados com ortografia. Eles precisavam praticar caligrafia, e
eu aproveitava para esse fim as aulas de Ortografia e Vocabulário.
Nos primeiros anos, rezávamos o Terço diário à noite, mas acabei per-
cebendo que nesse horário as crianças estavam cansadas demais. Então de-
cidimos rezar o Terço às 11 da manhã, e quem estivesse em casa (e não na
faculdade) participaria. Depois do almoço, fazíamos mais algumas orações,
especialmente o Ângelus e o Ato de Contrição. Por um tempo tentamos fazer
as orações ao fim do dia escolar, mas isto não funcionou, pois os garotos em
geral terminavam suas tarefas em horários diferentes.
Eles estudavam ciências e história sozinhos à tarde, embora leituras com-
plementares fossem feitas regularmente em livros da biblioteca e na enciclo-
pédia. Ocasionalmente, o pai os levava a um museu ou passeio histórico.
Quando morávamos perto de uma biblioteca onde havia filmes, fazíamos
empréstimos de filmes toda semana, a maioria para as aulas de ciências. Senti
muita falta disso quando nos mudamos para uma cidade pequena.
À tarde, eles faziam tarefas dos livros de exercícios. Educação física era
uma disciplina feita ao longo do dia, pois meus filhos eram bastante ativos
entre as aulas. Uma de suas atividades favoritas era pular corda. Eles eram
especialistas em manobras de pular corda. Embora pudessem ir para fora de
casa na hora do almoço, até às três da tarde não tinham permissão para ir
ao jardim. Eu me sentia melhor não despertando a curiosidade dos vizinhos.
Alguns dos meus filhos faziam aula de piano, o que correspondia ao seu
currículo de música. Para além disso, não tínhamos um currículo de música

170
HOMESCHOOLING CATÓLICO

regular, embora meu marido seja um músico semi-profissional. Eles ouviam


boa música ao piano todos os dias. A disciplina de arte era uma questão de
inspiração; fazíamos quando estávamos inspirados. Sempre fizemos projetos
relacionados às festas e feriados litúrgicos importantes: chapéus do Dia de
Ação de Graças, decorações de Natal, painéis para a Páscoa.
Não importa qual fosse a rotina das tarefas escolares, sempre fazíamos
nossas orações diárias, com horários fixos ao longo do dia. Eu ia à Missa
com frequência, quase diariamente. Meus filhos não iam todos os dias, em-
bora fossem às vezes. A primeira Missa do dia era muito tarde e atrapalhava
demais o homeschooling, e eu não queria meus filhos fora de casa durante o
horário da escola.
Minha situação, muitos anos atrás, era incomum. Meus últimos dois fi-
lhos, com catorze e dezessete anos na época, estudavam no meu escritório.
Naquele ano, alguns de nós, pais da região, ensinávamos em conjunto nos-
sos filhos que estavam no ensino médio, ao menos algumas matérias. Eu
ensinava literatura americana, um pai ensinava matemática e ciências, meu
marido ensinava história, um jovem universitário ensinava latim e um padre,
religião. Em algumas disciplinas, era um mero trabalho de supervisão. Em
outras, dávamos aulas de fato.
Sem dúvida, pela minha experiência própria e pelas de muitas famílias
homeschoolers que compartilharam sua trajetória comigo, existem muitos
modos de se praticar o homeschooling com sucesso. Não há uma situação
típica, nem sequer uma situação melhor do que as outras para se praticar o
homeschooling. O fundamental é que os pais sigam o cronograma e os mé-
todos ou programas que melhor se adequem aos seus filhos.

À medida que o ano progride

Há matérias para as quais rapidamente as crianças assimilam uma rotina


semanal, que será a mesma durante o ano todo. Isto normalmente aconte-
ce com vocabulário, ortografia e caligrafia. Após cerca de duas semanas, a
criança já sabe quais as tarefas de cada dia e não precisa de muita ajuda. Isto
simplifica a vida de uma mãe com muitos filhos.
Quando você já tiver alguma prática com o homeschooling, se ocorrer
de um de seus filhos distrair-se com facilidade, procrastinar ou desperdiçar
tempo, tente trabalhar com ele antes das refeições ou lanches. Isto funciona
sobretudo com meninos. Por exemplo, uma aula de matemática com dura-
ção de uma hora e meia pode ser dada antes do café da manhã, mais duas ou

171
MARY KAY CLARK

três aulas antes do lanche matinal, depois duas ou três aulas antes do almoço
e assim por diante. O aluno só poderá fazer as refeições depois de concluir
a aula ou tarefa.
É claro que, independentemente de sua família ser numerosa ou pequena,
quando estiver montando seu cronograma, deve haver horários fixos para
as orações da manhã e da tarde, para o Terço e quaisquer outras atividades
religiosas de acordo com o ano litúrgico.

Aulas curtas

É melhor para as crianças mais novas que as aulas sejam curtas. Normal-
mente, elas aprendem mais matemática em três aulas de 20 minutos do que
em uma aula de uma hora. A aula de leitura pode ser dividida em uma sessão
de leitura, seguida pelo livro de exercícios ou a redação de um texto.
Não programe um dia escolar muito longo. O homeschooling é uma ex-
periência de aprendizado muito mais intensa do que a escola, portanto não
ultrapasse cinco ou seis horas diárias. As crianças mais novas em geral con-
seguem fazer seu trabalho em poucas horas. É melhor ter aulas durante as
manhãs de sábado, ou prolongar seu ano escolar, do que ter uma rotina di-
ária longa demais. Após uma certa quantidade de aulas formais, as crianças
simplesmente param de absorver conteúdo, de forma que continuar torna-se
inútil. É sem dúvida mais interessante incluir atividades práticas para variar
a rotina. Utilizar instrumentos de medida culinários, por exemplo, ajuda a
diversificar o processo de aprendizado da matemática, quando uma criança
ajuda a preparar uma refeição.

Não faça o serviço doméstico à parte

Quando estiver montando seu cronograma, considere fazer o serviço


doméstico e o homeschooling ao mesmo tempo. Por exemplo, eu ouvia as
leituras dos meus filhos ou sua recitação das tabuadas enquanto lavava os
pratos ou limpava o chão da cozinha. Também era comum eles estudarem na
cozinha enquanto eu cozinhava. Confesso que nunca fui a melhor das donas
de casa, mas meus filhos me ajudavam com os afazeres.
A propósito, logo após dar à luz, eu costumava supervisionar os estudos
de meus filhos mais velhos deitada na cama, amamentando. Pense no ho-
meschooling como parte integrante da vida normal de uma família católica.

172
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Afazeres domésticos e homeschooling

Inclua no cronograma do homeschooling alguns afazeres domésticos que


sejam de responsabilidade das crianças. Isso é importante sobretudo em uma
família numerosa, onde há tanto a fazer; as mães ficariam exaustas se ten-
tassem dar conta de tudo sozinhas. Mesmo uma criança de dois anos pode
sentir-se importante desempenhando alguma tarefa.
Em minha família, percebi que meus meninos não gostavam de fazer
serviços de casa depois do horário das aulas. Eles preferiam ajudar enquanto
estudavam, entre uma disciplina e outra, para descansar do trabalho escolar,
e também porque, quando o horário de aulas terminava, os serviços domés-
ticos já estavam concluídos.
Outro motivo para fazer o serviço doméstico entre as aulas é que pes-
quisas têm mostrado que as crianças têm um melhor desempenho mental
quando praticam exercícios físicos entre as atividades escolares. Um estudo
publicado na revista Prevention mostrou que as notas das crianças melho-
raram quando breves exercícios diários foram incluídos entre as aulas, na
própria sala de aula.

Potenciais interrupções

As mães de famílias numerosas costumam ser muito ocupadas, e tam-


bém é comum incluírem atividades pró-vida e similares em seu cronograma
apertadíssimo. No entanto, o ideal é que o trabalho fora de casa seja o
mínimo possível até que as crianças estejam mais velhas. Evidentemente,
atividades com as crianças, como fazer piquetes em clínicas de aborto ou
ajudar os necessitados, são importantes para ensinar valores católicos por
meio do exemplo.
Não permita que telefonemas e problemas de outras pessoas atrapalhem
o cumprimento de suas próprias prioridades junto aos seus filhos. É muito
comum as mães gastarem um tempo enorme ajudando os outros, chegando
a magoar seus próprios filhos. A caridade REALMENTE começa em casa!
Você também só deve interromper seus filhos quando for estritamente
necessário. Sobretudo quando eles chegam à idade em que podem cuidar dos
mais novos, trocar fraldas e ajudar em muitas tarefas, é fácil afastá-los de
seus estudos para que ajudem na casa. Ajudar é importante e pode ser educa-
tivo e estimular virtudes, mas não pode tornar-se tão frequente ao ponto de a
criança atrasar-se em seus estudos. Os alunos precisam de um tempo sem in-

173
MARY KAY CLARK

terrupções para se concentrar em seu trabalho. Interrompê-los várias vezes,


mesmo que por breves minutos, pode ser muito prejudicial aos seus estudos.

Quando os filhos mais velhos voltam para casa

Outra situação frequente nas famílias numerosas é que os filhos mais


velhos, de vinte e poucos anos, ou mesmo com mais idade, casados e com
filhos, tendem a voltar para casa quando têm problemas. Se por um lado não
há nada de errado nisso, eles também precisam entender que as responsabi-
lidades dos pais são primeiramente com as crianças mais novas, que ainda
precisam de cuidados. Se os filhos mais velhos precisarem voltar a morar em
casa, devem ajudar a família, não ser um peso extra. Exija que eles ajudem,
seja dando aulas ou resolvendo problemas na rua ou ajudando com o serviço
doméstico, o que é realmente pedir o mínimo.

Espaço, espaço, espaço

Algumas famílias constroem um quarto a mais na casa, ou transformam


um quarto, uma garagem ou um porão em sala de aula. Algumas utilizam
outras dependências, como um depósito de ferramentas. Pais e filhos, juntos,
podem esforçar-se para tornar esse o seu local especial para o homeschoo-
ling. É inspirador para as crianças estudar na sala ou no ambiente que elas
trabalharam tanto para decorar.
Em espaços como um celeiro ou uma sala de estar, as crianças em geral estu-
dam juntas; mas tenha em mente que elas também precisam de um espaço tran-
quilo para dedicar-se a algumas disciplinas específicas. Em uma família numero-
sa, uma sala no porão ou algo similar é ideal para o estudo formal durante o dia.
Muitas famílias já nos relataram que o homeschooling é muito adaptável
a modificações de espaço. É comum as famílias saírem de férias com seus
livros e lições, ou irem visitar parentes idosos ou adoentados, ou viajarem a
negócios. Tarefas escolares podem ser feitas mesmo na sala de espera de um
consultório médico.

Avaliação e notas

Os pais às vezes reclamam do tempo que gastam dando notas aos traba-
lhos de seus filhos. Um modo de economizar tempo é incentivá-los a pontuar

174
HOMESCHOOLING CATÓLICO

seus próprios exercícios imediatamente após concluí-los. A vantagem é que


assim eles recordam a linha de raciocínio que utilizaram para responder às
perguntas ou problemas e aprendem com o processo auto avaliação. Além
disso, pontuar os próprios exercícios estimula a honestidade e o perfeccio-
nismo. Para a mãe de uma família numerosa, é realmente uma economia de
trabalho burocrático.
Outra dica para economizar tempo é pedir que a criança marque como
finalizadas, no plano de trabalho, as tarefas respondidas, corrigidas com a
chave de resposta e pontuadas. Isto não significa que a mãe não verificará o
trabalho, porém ela poderá checar apenas algumas respostas aleatoriamente.

Biblioteca doméstica

Em uma família numerosa, é extremamente útil possuir uma boa biblio-


teca em casa, especialmente de livros católicos. Com muitas pessoas e seus
variados interesses e necessidades, cedo ou tarde vocês precisarão de sua
própria biblioteca. Compre livros usados de bibliotecas públicas, inclusive
enciclopédias e outras obras de referência. Procure livros em sebos, em con-
venções de homeschooling e em lojas St. Vincent de Paul. Garimpe também
as lojas de bairros católicos em busca de bons livros católicos antigos. Talvez
você encontre até livros didáticos antigos e biografias de santos.
É muito importante que as crianças aprendam a utilizar dicionários desde
muito cedo. Você pode comprar dicionários para iniciantes e para os níveis
intermediário e avançado, em geral usados, em sebos e bibliotecas. Deve
haver vários deles em casa, e você deve estimular sua utilização pelas crian-
ças. Já me ocorreu seria uma boa ideia dar prêmios à criança que utilize o
dicionário com mais frequência.
Tente conseguir outros itens de segunda mão, como globos, um atlas, mi-
croscópios, aquários, gaiolas de pássaros, porta-livros, fotografias e pinturas
históricas, enfim, todo tipo de equipamento ou jogos educacionais. Compre
luminárias, mesas e carteiras em antiquários. É claro que você também pode
adquirir todas essas coisas pelo eBay por um bom preço, porém às vezes o
custo do frete faz com que a compra física valha mais a pena.

Atividades extracurriculares

Não tenha pressa para matricular seus filhos em atividades extracurri-


culares. Algumas são positivas, mas há famílias que se comprometem com

175
MARY KAY CLARK

atividades demais, ao ponto de sua vida girar em torno delas. Sobretudo em


uma família numerosa, esse tipo de atividade não é tão necessário, quando o é.
Não pense que seu filho precisa estar sempre praticando algum esporte
ou frequentando algum curso. Mesmo em famílias com apenas dois ou três
filhos, tais atividades podem começar a sobrecarregar a rotina. Ter quatro
ou cinco ou seis filhos todos matriculados em aulas de dança, ginástica ou
futebol torna-se caótico depois de um tempo.
Nós temos essa ideia moderna de que as crianças devem estar ocupadas o
tempo todo. Antes do advento dessa obsessão, havia algo que as crianças faziam
sozinhas e sem precisar ser forçadas pelos adultos. Chamava-se “brincar”.

Enriquecimento adicional

Em uma família numerosa, na qual é impossível para a mãe ouvir a leitu-


ra de todos os filhos todos os dias e nem sequer ouvir as respostas de todas
as suas tarefas, pode-se pedir às crianças que utilizem um gravador. Assim é
possível verificar sua pronúncia e inflexão de leitura, ouvir as respostas das
tarefas e gravar palavras para testes de ortografia e vocabulário.
Caso os pais frequentem congressos sobre homeschooling, normalmente
são produzidos CDs com as palestras e minicursos. Pode ser útil às crianças
ouvir algumas dessas gravações, sobretudo se tiverem como tema alguma
disciplina escolar, como ciências.
Em uma família numerosa, quando não houver dinheiro para pagar aulas
de músicas para todos, faça com que um de seus filhos aprenda um instru-
mento musical, para que depois possa ensiná-lo aos irmãos mais novos. Você
também pode matricular uma das crianças em uma aula de arte e artesanato,
para que ela ensine aos irmãos.
Caso seus filhos gostem de um programa de TV, peça-lhes para pesqui-
sar na enciclopédia ao menos um item relacionado ao programa e depois
compartilhá-lo com a família na hora do jantar. Isso incentiva as crianças
a analisar os programas a que assistem e identificar conteúdos educativos.
Uma família numerosa raramente tem dinheiro para passeios educati-
vos e, devido ao cronograma apertado, dificilmente tem tempo. Nesse caso,
considere fazer breves visitas a estabelecimentos da região, como a padaria,
a gráfica ou a casa de soldagem. Leve as crianças aos correios quando preci-
sar comprar selos, ou à loja de tapeçaria quando precisar comprar tecidos.
Transforme essas visitas em pequenas excursões sem custo, mas educativas,
acompanhando suas necessidades rotineiras pela cidade.

176
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Pense em tudo o que você fizer como uma possível oportunidade de ensi-
nar algo aos seus filhos.

E então surgiu o computador

Para uma família homeschooler, numerosa ou pequena, não há nada


como um computador para facilitar os estudos. Adquira um, mesmo que
usado, pois será uma excelente ferramenta de auxílio para as crianças. Pro-
cessadores de texto são úteis sobretudo para os meninos, que pensam mais
rápido do que conseguem escrever. Meninos tendem a alcançar melhores
resultados e a ficar mais satisfeitos quando veem seu trabalho bem feito,
impresso em um papel.
Um computador também é útil para armazenar os trabalhos já concluí-
dos e obter cópias de arquivos armazenados. Entretanto, não deixe de fazer
o back up de todo o material salvo no computador. O problema não é se seu
computador vai ter algum defeito, mas quando. Caso você não possua um
gravador de CD ou DVD, é um bom investimento adquirir um. Um DVD ou
CD pode armazenar todos os trabalhos escolares feitos ao longo do ano, o
que é muito mais conveniente do que guardar pilhas de papel.

A controvérsia da estrutura fixa

Um dos tópicos que sempre vêm à tona nos grupos de homeschooling é a


questão de se trabalhar ou não com um programa escolar bem estruturado.
Pesquisando a literatura da área, verificamos que alguns programas parecem
estimular a liberdade e a independência, enquanto outros têm como foco um
conteúdo acadêmico de alto nível, e outros preconizam a formação do caráter,
e outros utilizam a abordagem de estudo por unidade, e outros enfocam habi-
lidades e conteúdo básicos. Alguns desses também podem caracterizar-se como
abordagens do tipo un-schooling, o que já foi discutido no capítulo anterior.
Os programas sem estrutura fixa, ou que praticam o estudo por unidade,
afirmam que os programas estruturados tentam trazer a sala de aula para
dentro da sala de estar. Já os defensores dos programas estruturados costu-
mam dizer que a falta de estrutura pode resultar em sérias deficiências em
áreas básicas do conhecimento.
Em geral, os programas sem estrutura ou que utilizam a abordagem do
estudo por unidade consistem em considerar as várias disciplinas pela pers-
pectiva de uma ideia ou conceito. Programas cristãos, por exemplo, tomam

177
MARY KAY CLARK

o conceito de uma virtude, como o patriotismo ou lealdade, e começam os


estudos por personagens da Bíblia que praticam essa virtude. Também são
estudadas personagens históricas que demonstram essa virtude. Palavras
para exercícios de ortografia e vocabulário, bem como leituras sobre histó-
ria, podem ser retiradas da Bíblia. Lições de gramática, como o estudo de
substantivos, são baseadas em frases da Bíblia ou de literatura histórica.
Partidários dessa abordagem acreditam que ela consegue manter o aluno
altamente interessado e motivado, pelo fato de o programa ser pensado para
ele individualmente. E, como há uma grande motivação, mesmo matérias
como ortografia, vocabulário e inglês são aprendidas de forma mais eficaz –
dizem – do que em uma abordagem estruturada.
Obviamente, em um programa sem estrutura fixa, no qual os estudos são
iniciados pela criança e voltados aos seus interesses, a motivação será maior,
pelo fato de a criança ter um vínculo particular com o tópico estudado. A hi-
pótese é que a consequência de uma grande motivação é uma boa educação,
o que pode ser verdade, caso as mães se dediquem e garantam que todas as
habilidades de seus filhos serão desenvolvidas em torno do tópico em ques-
tão. Contudo, é evidente que muitas crianças também obtêm uma formação
excelente através dos programas estruturados.
Alguns líderes do movimento homeschooler acreditam que a experiência
de exaustão por que passam certas mães homeschoolers deve-se aos progra-
mas estruturados ou à abordagem que replica a estrutura da sala de aula.
Essa, porém, é uma visão simplista. A exaustão pode ser causada pela falta
de organização ou de disciplina, por falta de apoio do cônjuge, pela pressão
negativa feita por familiares e amigos e por problemas pessoais e familiares.
É uma situação que também pode acontecer em decorrência da quantidade
de trabalho que um programa sem estrutura exige dos pais.
Às vezes as famílias iniciam um programa estruturado, desistem da es-
trutura por um ano e depois a retomam, pois sentem que é muito difícil
continuar sem aulas diárias. Uma mãe, que é uma profissional bem-educada,
certa vez admitiu gostar do aspecto de prestação de contas dos programas
estruturados, pois é algo que a ajuda a manter-se organizada. Ela também
percebeu que seus filhos tinham maior motivação, especialmente os que es-
tavam no ensino médio, quando recebiam de volta seus trabalhos corrigidos,
com notas e comentários de um professor.
Insisto, contudo, em que não existe um único currículo ou método de es-
tudo para todos os alunos, todas as famílias ou todas as mães. Uma premissa
básica da educação domiciliar é que a melhor educação é aquela moldada às

178
HOMESCHOOLING CATÓLICO

necessidades e habilidades da criança. E, sendo assim, o debate sobre a pre-


sença ou ausência de uma estrutura fixa para os estudos deve ser resolvido
por cada família.

História do ensino católico

Em ambas as abordagens, com e sem estrutura fixa, há vantagens que


nós católicos não devemos esquecer. A educação católica formal foi ini-
ciada pela Igreja Católica com as escolas de catedral, na Europa. Dessas
escolas surgiram grandes estudiosos como Santo Alberto e Santo Tomás
de Aquino. Seria, de fato, uma negação da história, uma negação das con-
quistas do mundo ocidental, negar que uma educação de altíssimo nível
era oferecida pelos currículos estruturados das escolas e universidades
católicas.
No entanto, dentro da estrutura dos programas, incentivava-se a criativi-
dade, o pensamento inovador e a flexibilidade de métodos.
Pense na Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino. Santo Tomás
conhecia certas verdades que desejava ensinar, mas estimulava seus alunos
a fazerem perguntas. Ele primeiro recolocava as questões, depois fazia uma
exposição básica, como a respeito das provas da existência de Deus, e por
fim respondia as questões. Ele estimulava discussões e questionamentos en-
tre seus alunos.
Pense nas excelentes escolas mantidas por conventos nos Estados Uni-
dos. Delas vieram grandes líderes católicas, mulheres que prestaram servi-
ços voluntários às suas comunidades, em escolas e hospitais, e fundaram
instituições de caridade para os pobres, os doentes e os idosos. Algumas
tornaram-se médicas e advogadas. As escolas que lhes ensinavam fatos tam-
bém ensinavam estratégias de raciocínio e a ser criativas, iniciar projetos,
desenvolver habilidades de escrita e, talvez o mais importante, ensinavam-
-lhes a servir seus semelhantes.
Patrick Buchanan e William Bennet, dois renomados pensadores políticos
católicos, são produtos do sistema de ensino superior católico. Eles estuda-
ram em escolas católicas com programas bem estruturados – na verdade,
ambos frequentaram a Gonzaga High School, em Washington, D.C. Nem
amigos, nem inimigos podem dizer deles que não são pensadores profundos,
que não são criativos, bem-educados e oradores e escritores articulados. E
o fato é que eles aprenderam inglês utilizando o programa estruturado da
Universidade Loyola, Viagens em Inglês (Voyages in English), que propor-

179
MARY KAY CLARK

ciona um alto nível de compreensão da língua inglesa, propondo também


exercícios de redação, nos quais a criatividade e o pensamento original são
valorizados.

Então, qual a resposta?

A resposta é um equilíbrio entre presença e ausência de estrutura fixa.


Mas este equilíbrio deve ser estabelecido após a consideração de vários fa-
tores, que incluem a idade do aluno, sua agilidade para aprender, o melhor
estilo de aprendizado para ele, a habilidade da mãe ou pai professor e a
própria matéria estudada.
Crianças mais velhas precisam de mais estrutura, pois certas habilidades
e conteúdos básicos precisam ser assimilados. Todos os dias, o aluno deve ler,
praticar caligrafia, fazer seu treinamento matemático e fônico. Quase todos
os dias, deve-se estudar ortografia e vocabulário. O estudo da gramática
da língua inglesa depende mais da maturidade do aluno, pois demanda um
grau mais elevado de pensamento lógico. Exercícios de redação, no entan-
to, devem ser iniciados já na primeira série, com frases e breves parágrafos
criativos. A estrutura seria relativa à prática formal diária: a quantidade de
tempo de estudo tenderia a ser regular, bem como os horários do dia.
As crianças precisam de uma certa quantidade de estrutura, o que lhes
dá estabilidade e a sensação de que as coisas estão na ordem. Como você se
sentiria se em alguns dias o padre celebrasse a Missa às 8:00h, em outros às
9:00h e às vezes às 10:00h? Rapidamente nos frustraríamos e pararíamos de
ir à Missa. Do mesmo modo, as crianças precisam acordar em determinado
horário, comer e descansar em horários determinados. Isto é bom para sua
saúde física e mental, seu conforto, confiança e segurança.
Estabelecer uma estrutura para o horário da aula, para o tempo gasto
durante a aula e possivelmente, inclusive, para o desenvolvimento das aulas,
como as de ortografia e vocabulário, resultará em mais confiança e um pro-
gresso saudável no aprendizado das matérias.
Por outro lado, algumas aulas tendem naturalmente à flexibilidade, como
as de ciências e história. Nessas disciplinas, ou se seguem estritamente os livros
didáticos, ou pode haver mais criatividade e leveza. O programa de ciências da
Seton, por exemplo, oferece tarefas diárias e semanais com o auxílio do livro
didático, porém, projetos e experimentos são sempre bem-vindos.
Se por um lado nossos cursos de história contam com um livro didático
e exercícios diários, passeios a museus históricos ou cenários de batalhas fa-

180
HOMESCHOOLING CATÓLICO

mosas são sempre estimulados. Pode-se também recorrer a filmes ou vídeos


históricos ou biográficos, ou a materiais da internet. Tais atividades podem
perfeitamente servir como material suplementar aos cursos.
No estudo da religião, sobretudo em uma família numerosa, a flexibiliza-
ção é possível quando duas ou mais crianças aprendem um tópico ao mesmo
tempo, mas fazem suas tarefas individuais de acordo sua respectiva série, ou
trabalham juntas em um projeto. Os pais decidem o que é melhor. As crian-
ças podem todas discutir o Oitavo Mandamento com o pai e a mãe, porém
os mais velhos podem, depois, fazer uma leitura mais detalhada em um livro
mais avançado, enquanto os mais novos fazem um desenho de uma criança
retornando da biblioteca no horário certo, e o filho do meio pode trabalhar
na memorização de uma resposta do catecismo.

Avaliações e notas

Um aspecto que desagrada aos pais, quando utilizam programas com


estruturas fixas, é o que consideram uma ênfase exagerada em testes e notas.
Há vantagens e desvantagens em avaliar seus filhos por meio de testes. Uma
das vantagens é ajudar mães e alunos a manter um cronograma regular,
além de que podem contar com uma “prova” de seu progresso constante.
Em alguns estados, testes formais e boletins de notas são obrigatórios, ou
servem como uma proteção contra o assédio de autoridades pedagógicas
regionais ou estaduais. A vantagem de não fazer testes nem atribuir notas
aos trabalhos dos seus filhos é que vocês não serão pressionados a moldar
seu desempenho por um padrão exterior.

Após o ensino médio

Se os pais optarem por não seguir um programa estruturado nos anos


do ensino médio, eles devem estar muito bem informados sobre quais os
requisitos admissionais da faculdade ou escola vocacional que o aluno de-
seja cursar. Deve-se perguntar à faculdade quais seus requisitos, não apenas
relativos ao currículo, mas também a boletins de notas e testes padronizados.
Algumas faculdades estaduais seguem a política de aceitar alunos egres-
sos de escolas não credenciadas durante um semestre, em caráter probatório.
Às vezes, os alunos homeschoolers não vinculados a uma escola de homes-
chooling são considerados desistentes. Apesar de injusta, essa é a praxe em
algumas faculdades estaduais. Algumas delas estão repensando essa condu-

181
MARY KAY CLARK

ta, mas o mais seguro é você informar-se junto à instituição onde seu filho
deseja estudar. É claro que, no caso das faculdades privadas, elas fazem suas
próprias regras e têm uma abertura maior para admitir alunos apenas com
base nas notas do SAT.

Rede de Televisão Palavra Eterna


(Eternal Word Television Network)

Muitas famílias optam por não ter televisão em casa, porém eu recomen-
do que tenham, caso seja possível sintonizar a RTPE, o canal católico da Ma-
dre Angélica. Alguns dos programas ali transmitidos podem ser incluídos na
rotina diária de homeschooling da sua família. Se sua região não tiver acesso
a esse excelente canal católico, recomendamos que você adquira uma antena
parabólica. O canal funciona 24h por dia, sete dias por semana. Você pode
providenciar uma antena para ter acesso à RTPE. Ela levará para dentro da
sua casa os melhores fiéis católicos, que sem dúvida inspirarão você e seus
filhos a viver catolicamente.
A RTPE apresenta a Fé Católica de forma viva, vibrante, cheia de signifi-
cado e relevância para nossos filhos. São programas que apoiam a fé e a cul-
tura que estamos tentando transmitir-lhes, mas que frequentemente parecem
“esquisitas” no seio de uma sociedade pagã.

Conclusão

Se eu tiver de apontar algo que é comum a todas as famílias católicas ho-


meschoolers, diria que é o fato de a maioria delas estar fazendo seu melhor
para manter uma forte vida de oração. Muitas têm horários fixos para as
orações e muitas frequentam a Missa durante a semana. Visitando famílias
em minhas viagens, sempre me impressionou seu estilo de vida humilde e sua
fervorosa dedicação aos filhos, a Deus e à Igreja.
Apenas tenha em mente que a prece familiar é essencial, não apenas para
o sucesso do homeschooling, mas também para a sobrevivência da família
enquanto instituição católica. Reze todos os dias com seus filhos. Ensine-lhes
tanto as orações oficiais quanto a “conversar” informalmente com Deus.
Todos devemos respeitar as outras famílias e seus métodos. Do mesmo
modo, em nossa própria família, precisamos fazer ajustes levando em con-
sideração as diferentes personalidades, necessidades e habilidades de cada

182
HOMESCHOOLING CATÓLICO

criança. No fim das contas, disso resultará uma geração de adultos católicos
que reconhecem o valor de um processo de aprendizagem que respeita os
indivíduos, bem como o valor de cada indivíduo enquanto filho de Deus.
Daí renascerá uma sociedade cristã mais forte, tanto intelectual quanto es-
piritualmente.

183
Capítulo 6
A vida sacramental

A
mais importante chave para o sucesso do homeschooling é viver em fa-
mília a autêntica vida sacramental católica. A vida sacramental abran-
ge não apenas a recepção regular dos Sacramentos da Santa Eucaristia
e da Penitência, mas também a utilização diária dos sacramentais como uma
ajuda para se viver a vida de oração e celebrar as festas do ano litúrgico.
O lar católico foi chamado de “igreja doméstica” pelo Concílio Vaticano
II e por muitos documentos da Igreja. Para que nosso lar seja verdadeiramen-
te uma “igreja doméstica”, utilizar os sacramentais e fazer com que a vida da
família organize-se em função do ano litúrgico não é apenas recomendável,
mas é de fato o melhor modo de se viver a autêntica vida católica em família.
A Igreja oferece os sete Sacramentos como um meio direto para que seus
membros individuais recebam a Graça Santificante de Deus. Tal Graça é
necessária a cada membro da família homeschooler. Podemos receber graças
também através dos sacramentais, que são aprovados pela Igreja, mas cuja
utilização pode ocorrer em nossa própria casa.

A Santa Eucaristia

Acredito que a recepção diária de Jesus no Sacramento da Santa Eucaris-


tia seja da maior importância para a família homeschooler. Se você deseja o
sucesso de seu homeschooling católico, vá à Missa todos os dias e receba a
Santa Eucaristia, de preferência com seus filhos.
Se não puder ir à Missa diariamente, vá quando puder. Comece indo em
um dia extra durante a semana, talvez às sextas-feiras. Nos dias em que não
conseguir ir, recite as orações da Missa em casa com seus filhos. Peça a Nosso
Senhor que venha a você e seus filhos em uma Comunhão Espiritual. É um
ensinamento da Igreja, baseado em Gálatas 5:6, “A fé que opera pela carida-
de”, que aqueles que desejam fortemente receber Jesus na Santa Eucaristia
beneficiem-se do Sacramento em certa medida. O Concílio de Trento decla-
rou que os fiéis podem receber de uma Comunhão Espiritual, “se não todos,
ao menos uma generosa quantidade de benefícios”. Na Rede de Televisão
Palavra Eterna, durante a transmissão diária da Missa do Monastério dos
Anjos, a Madre incentiva os telespectadores a receber Jesus espiritualmente
e os guia em uma prece de Comunhão Espiritual.
Nós, famílias católicas homeschoolers, estamos na vanguarda de uma
batalha espiritual para salvar as almas, a Igreja e a nação. Precisamos de
Jesus conosco todos os dias nessa batalha contra as forças espirituais do mal.
As graças do sacramento da Santa Eucaristia nos ajudam a lidar com as
preocupações e frustações diárias que acometem todas as famílias. Muitos de
nós já aprendemos que não são tanto as grandes crises que nos abatem, mas
as pequenas e constantes irritações. E muitos de nós são chamados a ser santos
por meio do enfrentamento diário de problemas pequenos, mas constantes.
Jesus quer que mostremos nosso amor por Ele visitando-O e recebendo-
-O todos os dias. Ele não estabeleceu o sacramento da Santa Eucaristia para
que Seus amigos O ignorassem nesse Sacramento que nos foi dado tão amo-
rosamente. Vindo até nos na Santa Comunhão, Jesus mostra Seu amor extre-
mo por nós, querendo estar conosco e Se dar a nós, e é nosso dever mostrar
nossa gratidão recebendo-O o mais frequentemente possível.
O evento mais importante que acontece em nossas cidades todos os dias é
a vinda do Filho de Deus, Jesus Cristo, no Santo Sacramento. Como podemos
nos ausentar? Como podemos não estar lá para receber o Filho de Deus?
Nós, que podemos ir à Missa todos os dias, devemos rezar por todas as
famílias homeschoolers. Como membros do Corpo Místico de Cristo, elas
podem valer-se de nossas preces e das graças resultantes. Esse tipo de carida-
de de nossa parte pode obter grandes favores de Jesus e Maria para o nosso
próprio homeschooling.
Em um mundo que se afoga em sua própria imoralidade, a ordem de
Jesus para sermos luz e fermento na sociedade ganha um novo sentido. Sim-
plesmente não somos capazes de sobreviver e promover a Fé sem a ajuda
DIÁRIA de Jesus Cristo Ele Mesmo presente entre nós. Como costumava
dizer o Pe. Hardon, para que as famílias católicas sobrevivam, precisamos
fazer esforços extraordinários no sentido de viver vidas santas.
Precisamos levar nossos filhos à Missa diariamente e ensinar-lhes o signi-
ficado da Missa. Quanto mais próximos de Jesus forem nossos filhos, mais
eles O amarão e obedecerão Seus mandamentos. Com filhos obedientes e
respeitadores, nosso homeschooling terá sucesso.
A exaustão pelo homeschooling, tão comentada nas conferências sobre o
tema, ocorre quando a educação dos filhos é difícil, seja quanto à disciplina
ou ao aprendizado escolar. Também ocorre porque as mães esforçam-se para
cumprir diversas demandas: homeschooling, serviço doméstico, cozinhar e
cuidar das necessidades de seus maridos. Mas, se a mãe homeschooler de-
senvolver sua vida espiritual por meio da recepção diária de Jesus, e seus
filhos vierem a conhecer e amar cada vez mais a Jesus ao recebê-lo no Santo
Sacramento, é muito menos provável acontecerem crises de exaustão.
Ao ensinarmos nossos filhos sobre o Sacramento da Santa Eucaristia,
precisamos relacioná-lo ao homeschooling. Somos mais capazes de enten-
der Jesus e o mundo criado por Deus ao estudarmos o conteúdo de nossos
livros e nos educarmos. Quanto mais sabemos sobre Deus, mais O amamos
e melhor O servimos. Quando nossos filhos compreenderem a relação entre
aprender com os livros católicos e aprender sobre Deus, haverá menos con-
flitos em nosso homeschooling.
Quanto mais amamos Jesus, mais merecemos recebê-Lo na Santa Comu-
nhão. Recebendo-O com maior merecimento, Ele nos dá as graças necessárias
para que O conheçamos ainda melhor e O amemos ainda mais profundamente,
e assim nos aprimoramos também em nosso trabalho como educadores, nossos
afazeres domésticos e no relacionamento com os demais membros da família.
É um princípio teológico que, quanto mais utilizamos as graças que rece-
bemos, mais graças nos são dadas. E assim, quanto mais graças recebermos
a partir recepção diária da Santa Eucaristia, mais graças obteremos para
cumprirmos nossa tarefa de educadores. E, quanto mais graças receberem
nossos filhos, mais graças eles obterão para ser bons alunos e bons filhos,
deste modo garantindo um homeschooling de sucesso.
O homeschooling dá mais certo para as famílias católicas devido à recep-
ção da Santa Eucaristia por pais e filhos. Em um lar católico repleto de Jesus
todos os dias, a atmosfera de amor e crescimento espiritual permeia tanto o
homeschooling quanto o ambiente doméstico de modo geral.
MARY KAY CLARK

Penitência

O Sacramento da Penitência é um dos nossos maiores auxílios para viver


a vida católica diariamente. Algumas pessoas querem fazer apenas o mínimo
exigido pela Igreja, indo à Confissão uma vez por ano se estiverem em pecado
mortal. Alguns católicos tentam ir à Confissão ao menos uma vez por mês.
Muitos anos atrás, eu decidi ir à Confissão semanalmente durante a
Quaresma. Isso mudou minha vida. Eu descobri quantas imperfeições vi-
nha ignorando. Quando você examina sua consciência todas as noites e,
aos sábados, reúne todo o conteúdo examinado, tem uma boa lista de fal-
tas e descuidos. Você começa a se dar conta de seus comentários maldosos
e desnecessários, pensamentos maldosos e momentos de impaciência, sem
mencionar as distrações durante as orações. Com apenas uma Confissão por
mês, você tende a ignorar as pequenas faltas. A base de tudo é que somos
chamados a ser santos, a ser perfeitos, segundo nos ordenou Nosso Senhor.
Se queremos sinceramente tentar viver uma vida perfeita, devemos avaliar
seriamente se estamos examinando nossa consciência tanto quando devemos
e utilizando o sacramento da Penitência com a frequência necessária.
Se nosso objetivo é realmente ser a melhor família católica possível, um
bom propósito para firmarmos é ir à Confissão uma vez por semana, ao
longo de todo o ano. Por causa do paganismo do ambiente que nos circun-
da, tendemos a nos dessensibilizar para o pecado. Receber o Sacramento da
Penitência semanalmente nos ajudará, e aos nossos filhos, a tentar fortalecer
nossas virtudes e aprimorar nossa vida familiar. Quando todos da família
trabalham juntos para melhorar, quando conversamos com as crianças sobre
as imperfeições de nosso convívio, à noite ou no carro, a caminho da Confis-
são, ajudamos uns aos outros, de forma tranquila, a nos tornarmos santos.
São Francisco de Sales ensinava que, se você estiver tentando livrar-se
de um mau comportamento, precisa praticar a virtude oposta, e de modo
extraordinário. Por exemplo, se seu mau hábito for uma tendência a fazer
comentários maldosos sobre certa pessoa, então você deve, primeiro, firmar
o propósito de não repetir esse comportamento e, segundo, fazer comentá-
rios positivos sobre a pessoa mesmo quando não for necessário.
Em certo sentido, o homeschooling segue a recomendação de São Fran-
cisco de Sales. Quando sabemos que o que nossos filhos aprendem na escola
é prejudicial ao seu bem espiritual, não é suficiente simplesmente privá-los
das aulas de educação sexual. Precisamos fazer tudo o que estiver ao nosso
alcance para dar aos nossos filhos a melhor educação católica. Sabemos que

188
HOMESCHOOLING CATÓLICO

é errado expor nossos filhos a valores anticatólicos cinco dias por semana.
Mas demanda uma virtude verdadeiramente heroica assumir a total respon-
sabilidade pela educação de nossas crianças em casa, para assegurar que elas
receberão a melhor educação católica que podemos lhes oferecer.
Precisamos relacionar nosso homeschooling ao Sacramento da Penitên-
cia. Nossos filhos precisam entender, primeiro, que é nosso dever como pais
ensiná-los e, segundo, que é seu dever como filhos nos obedecer e aprender
mais sobre a obediência a Deus. Se nossos filhos não nos obedecerem em
seus estudos ou em suas tarefas diárias em casa, estarão pecando. Quando
você os ajudar a recapitular seus pecados antes da Confissão, ajude-os a
compreender que a recusa a fazer suas tarefas, reclamar ou resmungar du-
rante o cumprimento de uma tarefa, fazer seus exercícios escolares de modo
descuidado ou preguiçoso, não se dedicar e procrastinar são comportamen-
tos irresponsáveis, que desagradam a Deus.
Ao longo de cada dia, devemos lembrar nossos filhos, quando eles peca-
rem, de que devem arrepender-se e mencionar o pecado na Confissão. Quando
uma criança bater em seu irmão, devemos lembrá-la de arrepender-se e con-
fessar-se. Quando uma criança é desobediente diante da obrigação de cumprir
uma tarefa, devemos lembrá-la de arrepender-se e confessar-se. Quando uma
criança recusar-se a fazer o exercício de matemática, precisamos lembrá-la de
arrepender-se e confessar-se. À noite, no momento da oração, pode-se reca-
pitular com cada criança seus pecados, respeitando suas respectivas idades, e
pode-se discutir modos de evitar que o pecado se repita. Isto não precisa ser
uma importunação constante, mas um meio de elevação espiritual.
Alguns pais acreditam que, assim como a criança deve ser corrigida no
momento da ofensa, também deve haver uma discussão sobre as implicações
religiosas do erro, quando a criança não estiver mais irritada com o que fez.
Quando uma discussão como essa for possível, autores especializados em
espiritualidade sempre recomendam um exame de consciência noturno e o
Ato de Contrição. Este é um bom hábito para todos nós, adultos e crianças.
O homeschooling dará certo em uma família católica que busque uma
vida virtuosa através do exame de consciência diário e idas semanais ou
quinzenais à Confissão.

Batismo

Se você estiver naquele momento da vida em que tem um novo bebê a


cada dois anos, seus filhos participarão com frequência do rito do Sacramen-

189
MARY KAY CLARK

to do Batismo. Caso contrário, não deixe de levar seus filhos à igreja quando
estiver sendo celebrado um Batizado, para lhes ensinar sobre esse Sacramen-
to fundamental. Explique o Sacramento a partir das palavras do rito:
Vocês pediram para batizar seu(sua) filho(a). Ao fazê-lo, tomam a responsa-
bilidade de ensiná-lo(a) na prática da Fé. Será seu dever criá-lo(a) para que
cumpra os Mandamentos de Deus segundo nos ensinou Cristo, amando a
Deus e aos nossos semelhantes.

É evidente que o homeschooling consiste em uma aceitação, no mais


profundo sentido, da responsabilidade conferida aos pais no momento do
Batismo de seus filhos.
O padre, no Sacramento do Batismo, reza para que pais e padrinhos sejam
bons exemplos de fé para a criança batizada. Explique aos seus filhos que o
melhor modo de os pais darem bons exemplos é permanecendo ao lado dos
filhos. O homeschooling é o melhor método educacional justamente porque
dá aos pais mais oportunidades para ensinarem seus filhos por meio de bons
exemplos. Um Batizado é uma ocasião excelente para recapitular os dogmas
católicos a respeito de Adão e Eva e do Pecado Original, o qual está prestes
a ser lavado da alma do pequeno irmão ou irmã. Ensine aos seus filhos sobre
o importante papel que têm os padrinhos para a família.
O padre, após a leitura das muitas ocasiões em que Deus usou a água
para o benefício de Seu povo, continua o rito do Batismo com a Renúncia
do Pecado e a Profissão de Fé. Ele diz aos pais e padrinhos:
Deve-lhes ser um cuidado constante educá-lo(a) na prática da Fé. Certifi-
quem-se de que a vida divina que Deus deu a ele(a) esteja a salvo do veneno
do pecado, para que se fortaleça cada vez mais em seu coração.

Sem dúvida, basta-nos ligar a televisão ou visitar uma escola para ates-
tarmos a proximidade do “veneno do pecado”. Perceba que os pais são ad-
moestados não apenas a manter a criança longe do pecado, mas, em concor-
dância com S. Francisco de Sales, a trabalhar positivamente no caminho do
bem, para que a prática da Fé e a vida divina “se fortaleçam cada vez mais”.
Este é o propósito do homeschooling católico.
Após discutir tudo isso com seus filhos, a família inteira pode participar
de uma cerimônia especial, seja no dia de um aniversário natalício, ou em
um aniversário de batismo, ou no dia do Batizado de um bebê, ou quando
for apropriado, com o propósito de fazer a Renovação dos Votos Batismais.
O pai pode repetir as perguntas, enquanto a família responde:

190
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Você renuncia a Satanás?


Renuncio.
E a todas as suas obras?
Renuncio.
E a todas as suas falsas promessas?
Renuncio.
Você crê em Deus, Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra?
Creio.
Você crê em Jesus Cristo, Seu único Filho, Nosso Senhor, Que nasceu da Vir-
gem Maria, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos,
subiu aos céus e está sentado à direita do Pai?
Creio.
Você crê no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos San-
tos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna?
Creio.

Enquanto estiver lendo as palavras do Sacramento, explique qual a relação


entre o Batismo, a vida familiar católica e o homeschooling. Por exemplo,
como nós, católicos, renunciamos ao demônio e passamos a integrar a famí-
lia de Deus no Batismo, devemos evitar o pecado, praticar atos virtuosos e,
como diz nosso catecismo, viver de acordo com os ensinamentos da Igreja.
Ao compreenderem seu ingresso na família da Igreja através do Sacramento
do Batismo, nossos filhos adquirem um melhor entendimento de seu papel e
sua obrigação de aprender mais sobre sua Fé católica através homeschooling.

Confirmação

Na Confirmação, o jovem batizado recebe o Espírito Santo de forma


mais profunda, é fortalecido na graça e “selado” ou marcado como um sol-
dado de Jesus Cristo. A maioria das crianças demonstra empolgação diante
da ideia de tornar-se soldados de Cristo na Confirmação. Ensine aos seus
filhos sobre S. Francisco de Assis, que primeiro queria ser um soldado em
sua cidade, mas logo descobriu como ser um soldado de Cristo. Ensine-lhes
sobre S. Inácio de Loyola, que foi soldado até seus trinta anos de idade
e depois vestiu a armadura da pobreza e da humildade. Ensine aos seus
filhos sobre S. Jorge, um jovem soldado que progredia dentro do exército,
mas repreendeu o imperador por perseguir os cristãos e então tornou-se
soldado de Cristo.

191
MARY KAY CLARK

Explique que a Confirmação fortalece as virtudes que ajudam os jovens


a tornar-se soldados de Cristo, como a coragem, a lealdade, a firmeza moral
e a força contra as tentações. Utilize um catecismo e explique como cada
virtude pode ajudá-los em seus estudos e como eles podem crescer em cada
uma delas por meio de do empenho escolar.
Ensine a seus filhos que, se as sementes dos Sete Dons do Espírito Santo
são infundidas no Batismo, tornam-se plenamente operantes no Sacramento
da Confirmação, desde que eles cooperem. Estes dons são sabedoria, en-
tendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus. Se todos
os anos você explicar aos seus filhos sobre estes dons e sua relação com o
homeschooling, eles terão maior motivação para os estudos.
Comente que o homeschooling é, em muitos sentidos, como um cam-
po de treino militar, onde se empregam armas para que a mente aprenda
sobre Deus e para a vontade amá-Lo e obedecê-Lo. Meus rapazes leva-
vam isso muito a sério. Um deles investigou a possibilidade de ingressar
em uma das ordens de Cavalaria. Ele pensou que ainda deveria haver
uma ordem de cavaleiros combatendo o mal pelo mundo, e ficou desa-
pontado ao descobrir que não há mais nenhuma que de fato lute! À luz
dos acontecimentos recentes no Iraque e em outros países nessa região
do mundo, talvez algum homeschooler católico devesse reviver uma das
ordens de Cavalaria para prestar ajuda espiritual aos cristãos que sofrem
no Oriente Médio.
Outro de meus filhos tornou-se fuzileiro naval, tamanha era sua vontade
de lutar pelos valores cristãos e contra o ateísmo comunista. Ele apoiava os
combatentes pela liberdade afegãos, e sozinho os visitou no front de guerra
no Afeganistão. Ele discutiu com eles o conceito de odiar o pecado mas amar
o pecador, ou ao menos rezar pela conversão do pecador, e eles acharam que
ele era um louco! Mais tarde, ele serviu na operação Tempestade no Deserto
(Desert Storm, durante a Guerra do Golfo – N. da T.) e participou do ataque
por terra e na batalha pelo aeroporto da Cidade do Kuwait. E, ao mesmo
tempo em que preparava uma tese de doutorado em Filosofia, ele era lobista
pelos bósnios em Washington, D.C. Para ele, todas essas atividades fazem
parte de sua função de soldado de Cristo.
Um de nossos filmes favoritos em casa é Cyrano de Bergerac. É a história
de um soldado que luta em nome da honra, um ator e escritor que defende a
virtude e os valores tradicionais, um homem que sacrifica sua própria felici-
dade pela felicidade da garota que ama e de um amigo por quem tem afeto.
Cyrano é um cavalheiro cristão, cuja pluma branca representa seu desejo de

192
HOMESCHOOLING CATÓLICO

viver a vida mais virtuosa possível. Um filme como este é ótimo para discutir
a Confirmação.
Leve seus filhos para ver o rito de Confirmação na igreja. Se o bispo der
o tapa simbólico no rosto, explique que seu significado é que nós, Soldados
de Cristo, devemos esperar sofrer por Ele enquanto lutamos por Suas ver-
dades. A maioria dos bispos já não dá esse tapa simbólico, mas você certa-
mente pode comentar a respeito com seus filhos. Isto pode ser relacionado
a quaisquer atividades pró-vida de que você e sua família participem, assim
como ao homeschooling enquanto preparação para a vida de um Soldado
de Cristo.

Matrimônio

Explique o Sacramento do Matrimônio aos seus filhos. De acordo com


seu propósito primário, este Sacramento atribui ao casal duas responsabili-
dades equivalentes: ter filhos e educá-los. Explique aos seus filhos que, se eles
forem desobedientes ou não fizerem as tarefas de seu homeschooling, será
difícil para você cumprir seu dever matrimonial. Alguns documentos papais,
que expõem de forma muito clara no que consiste a obrigação parental de
educar a prole, podem ser discutidos com as crianças.
Leve-as a um casamento, em uma ocasião em que você possa explicar os
passos da cerimônia. Faça com que percebam a formalidade e a seriedade do
Sacramento, bem como a obrigação que você tomou diante de Deus, quando
contraiu Matrimônio, de educá-los: que você fez a promessa solene diante de
Deus e da Igreja de educar os filhos que lhe fossem enviados.

Extrema Unção, ou Unção dos Enfermos

A Extrema Unção, ou Unção dos Enfermos, deve ser explicada aos seus
filhos por muitos motivos, porém deve sempre ser relacionada à prática do
homeschooling. Este sacramento nos ajuda a focar na eternidade. Discuti-lo
é um bom momento para ponderar a brevidade da vida e nossa presente
morada temporal. Enfatize que nosso objetivo último é sermos felizes com
Jesus no Paraíso. Tal discussão pode facilmente abordar o homeschooling,
e a ênfase nas verdades eternas pode ser contrastada com as escolas, que
valorizam sobretudo o mundo e suas fórmulas de sucesso.

193
MARY KAY CLARK

Ordem

O homeschooling dá às crianças a oportunidade de crescer espiritu-


almente na fé, sem sofrer pressão da parte de professores e colegas para
conformar-se aos valores sociais vigentes. Mais de uma mãe já me disse
que, por causa do homeschooling, um filho muito jovem, ainda nas séries
primárias, começou a falar em tornar-se padre. Muitos pais e mães já me
falaram sobre filhos que desejam aprender latim, ou que brincam de rezar
a Missa, ou que querem vestir-se como padres. Não é incomum, em famí-
lias católicas homeschoolers, que pré-adolescentes sejam leitores ávidos de
biografias de santos.
Meninos e meninas podem aprender o valor do sacerdócio e da vida
religiosa. O melhor modo é ler sobre e discutir as vidas dos santos. Mesmo
durante seus anos de formação, nossos filhos devem buscar transmitir aos
outros o conhecimento de Jesus Cristo. Nosso estilo de vida homeschooler
pode ajudar cada membro da família a crescer espiritualmente, de modo
que, entrando ou não na vida religiosa, os jovens possam ajudar outras
pessoas a conhecer e amar Jesus, e mesmo convertê-las à Fé Católica.
Famílias católicas homeschoolers devem aproximar-se de Cristo em sua
igreja doméstica e levá-Lo à sociedade através de seus filhos. Portanto, nós,
pais, devemos discutir o catecismo e a Bíblia com nossos filhos, enfatizando
que apenas os padres podem oferecer a Missa e administrar os maravilhosos
dons do Sacramento da Penitência e da Santa Eucaristia.
Ao ressaltarmos o valor do serviço aos outros no sacerdócio e na
vida religiosa, nossos filhos adolescentes devem ser estimulados a ofere-
cer sua ajuda a instituições de acolhimento a idosos e outras semelhan-
tes. O homeschooling é flexível, permitindo que nossos filhos pratiquem
valiosas obras de caridade. Ouvimos o tempo todo os pais dizerem que o
homeschooling foi decisivo para que seu filho ou filha escolhesse a vida
religiosa.
Não há dúvida de que todos os sete Sacramentos devem ter significa-
do nas vidas de nossos filhos. Compreendendo o sentido de cada um dos
Sacramentos, indo regularmente à Missa, recebendo a Santa Comunhão
diária ou frequentemente e indo à Confissão uma vez por semana ou a
cada quinze dias, essas boas famílias, lutando para ser autenticamente ca-
tólicas, não se desapontarão com a abundância de graças que lhes enviará
o Senhor.

194
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Os Sacramentais

Se por um lado o sentido da vida sacramental é a recepção dos Sacramen-


tos, por outro também é a utilização diária dos sacramentais.
Os sacramentais são parte de nossa herança cultural autenticamente ca-
tólica, que, infelizmente, tem sido deixada de lado em favor do mundo mo-
derno. Os sacramentais são, no entanto, um complemento importante para
a prática de nossa vida católica e, em alguns casos, podem ser o único modo
de as famílias manterem uma vida sacramental durante a semana, entre as
Missas de domingo.
O Catecismo da Igreja Católica diz dos sacramentais: “Estes são sinais
sagrados por meio dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, se
significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos principalmente de or-
dem espiritual. Por meio deles, dispõem-se os homens para a recepção do
principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias
da vida.” (1667)
Os sacramentais são sinais que nos remetem a Deus, aos Santos e às ver-
dades católicas. Enquanto os Sacramentos foram instituídos por Jesus como
um meio direto de se obterem graças sacramentais e santificantes, os sacra-
mentais foram instituídos pela Igreja para a obtenção indireta de graças para
nós. Seus principais benefícios são as graças atuais, o perdão de pecados
veniais, a remissão de penas temporais, a saúde do corpo, bênçãos materiais
e proteção de espíritos malignos. Os pais homeschoolers devem começar a
utilizar os sacramentais com seus filhos, caso ainda não o façam. Torna-nos
humildes perceber que Deus, que está por trás das declarações de Sua Igreja,
deseja perdoar pecados veniais e remir penas temporais atribuídas a pecados
através de nosso uso dos sacramentais. Este é um dom fantástico que precisa
ser ensinado aos nossos filhos, para que eles o coloquem em prática para seu
próprio benefício espiritual.
O Catecismo explica que os principais sacramentais são as bênçãos de
padres e bispos, exorcismos e objetos de devoção abençoados. Entre estes
últimos, os mais populares são o Rosário e o Escapulário. Outros objetos
abençoados são água benta, velas, cinzas, folhas de palmeira, crucifixos, me-
dalhas, relíquias, imagens ou estátuas de Nosso Senhor, da Mãe Santíssima e
dos Santos. Uma igreja, uma bênção, novenas e as Estações da Cruz também
são considerados sacramentais. O Catecismo diz: “Quase não há uso hones-
to das coisas materiais que não possa reverter para este fim: a santificação
dos homens e o louvor a Deus”.

195
MARY KAY CLARK

Leia mais sobre esses objetos sagrados na The Catholic Encyclopedia (A


Enciclopédia Católica) ou outros livros.
A história do Rosário, as aparições da Mãe Santíssima e os muitos even-
tos históricos miraculosos devidos ao Rosário são todos oportunidades fan-
tásticas para transmitirmos aos nossos filhos o valor de uma autêntica vida
sacramental católica.
A The Catholic Encyclopedia lista todos os vários tipos de escapulários,
com suas diversas cores e associações a várias ordens religiosas, além dos
eventos miraculosos que ocorreram como resultado de pessoas os utilizarem.
(A propósito, uma versão da enciclopédia católica está disponível online em
www.newadvent.org/cathen.) Ninguém pode garantir que jovens egressos do
homeschooling serão perfeitos porque rezam o Terço diariamente e usam um
Escapulário. No entanto, pela minha experiência pessoal e pelo que os pais
e mães me contam, crianças que vivenciam a vida sacramental costumam
ser boas e obedientes. De fato, muitos pais já me confessaram que o cres-
cimento espiritual de seus filhos pequenos foi para eles uma experiência de
humildade. É bastante comum entre nós, pais homeschoolers, chegarmos a
um novo entendimento, embora ainda confessadamente inadequado, da vida
espiritual de santos muito jovens, como Santa Teresinha do Menino Jesus.
Os sacramentais nos ajudam a construir a igreja doméstica em nossos
lares. Precisamos redecorar nossa casa com sacramentais, para torná-la ca-
tólica. Tradicionalmente, a Igreja Católica sempre desejou que as famílias se
cercassem de objetos que remetessem à Fé. Isto remonta ao tempo em que
Moisés falou ao povo judeu sobre a obediência aos Dez Mandamentos. Ele
disse que Deus queria ver sinais da fé do povo nas entradas das casas, nas
portas, nos umbrais. Eles deveriam usar sinais em suas testas e seus pulsos.
Esses sinais físicos deveriam ser, não apenas testemunhos da crença do povo
nas verdades de Deus, mas também espécies de lembretes, a cada momento,
de que Deus está presente em nossas atividades domésticas diárias e nossos
pensamentos.
Viver a autêntica vida católica significa não apenas receber os sacramen-
tos, mas cercarmo-nos em nossos lares dos sacramentais, que nos remetem a
nossa Fé, como oportunidades contínuas para mergulharmos em Jesus e Sua
Mãe Santíssima, em Seus Santos, em Suas verdades doutrinais e morais. São
Francisco de Sales dizia que, se desejamos viver uma vida devota, os objetos
e eventos em nossa rotina diária devem nos levar a pensar em Deus e em
Seus atributos. Se nossos arredores nos encorajarem, nós e nossos filhos nos
deixaremos levar muito mais facilmente por pensamentos tão admiráveis.

196
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Um exemplo

Já que às vezes me perguntam sobre isso, permitam-me citar brevemente


minha própria família como exemplo de um lar repleto de artigos religiosos.
Na sala de estar, eu utilizo a parte superior da lareira como nosso “altar”,
onde tenho duas Estações da Cruz esculpidas, que pertenciam a uma paró-
quia que foi reformada.
Relíquias e pinturas sagradas também ficam lá, incluindo um crucifixo,
do tipo usado quando alguém precisa receber a Unção dos Enfermos. Nas
paredes da sala de estar, temos uma pintura original da Mãe Santíssima, uma
grande e antiga pintura de Santa Rita e uma pintura em três painéis de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro.
Todos os cômodos de minha casa têm imagens, fotografias e relíquias religio-
sas. Ambos os meus armários de louça são repletos imagens religiosas, principal-
mente de Nossa Senhora. A imagem de centro da mesa de jantar é uma estátua
do Menino Jesus com um anjo ajoelhado à Sua frente. Há um anjo sentado
sobre meu fogão e uma estátua do Sagrado Coração próxima à pia da cozinha.
Minha coleção é o resultado de anos visitando antiquários, lojas St. Vin-
cent de Paul, bazares de igrejas, lojas de artigos religiosos e todos os lugares
possíveis onde se pudessem encontrar itens religiosos. Minha mãe sempre
decorou sua casa com imagens, pinturas e relíquias religiosas. Hoje meus
filhos me dão itens religiosos de presente. Meu filho Paul trouxe estátuas
religiosas da Espanha. Amigos e famílias de alunos da Seton enviam-me pre-
sentes religiosos de todo o país; estes decoram os escritórios da escola.
Se nossas casas não puderem ser facilmente identificadas como católicas
para qualquer um que pise em nossa sala de estar, não estamos seguindo as
orientações que Deus deu ao Seu povo. O ambiente católico de nossos lares
ajudará todos os membros da família a serem bons e virtuosos. Em mais de
uma ocasião, lembro-me de dizer: “Não diga isso em frente à imagem de
Nossa Senhora. Você quer chateá-la?” O Pe. John Hardon, que costumava
falar muito sobre a vida familiar católica, incentivava as famílias a terem
imagens, pinturas e medalhas da Virgem Santíssima em suas casas. Ele tam-
bém recomendava que os membros da família participassem da Associação
da Medalha Milagrosa (Association of the Miraculous Medal). A Meda-
lha Milagrosa recebeu esse nome porque muitos milagres aconteceram para
aqueles que a usam. Seu modelo foi sugerido por Nossa Senhora a Santa
Catherine Labouré em 1830, na França. Nela se lê: “Ó Maria, concebida
sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

197
MARY KAY CLARK

A Entronização

As famílias católicas homeschoolers têm redescoberto uma antiga tradi-


ção: a Consagração da Família ao Sagrado Coração através da cerimônia da
Entronização. Esta é uma devoção familiar oriunda das Promessas do Sagra-
do Coração de Jesus a Santa Margaret Mary. O propósito é que a família
reconheça o reino do Sagrado Coração em seu lar, desapegue-se dos bens
mundanos e tente imitar as virtudes da Sagrada Família. Uma pintura ou
estátua do Sagrado Coração deve ter na casa um lugar de honra. Um padre
normalmente vai até a casa abençoar a imagem, enquanto o Sagrado Cora-
ção é oficialmente entronizado como Rei da família. As palavras de consa-
gração e a cerimônia são aprovadas pelos papas, que garantiram uma indul-
gência parcial, podendo ser plenária sob as condições de costume – ter ido à
Confissão, comungado e rezado na intenção do Santo Padre (pelo menos um
Pai Nosso e uma Ave Maria) alguns dias antes ou depois da Entronização.
Normalmente, a cerimônia de Entronização é feita no dia da Festa do
Sagrado Coração ou de Cristo Rei, ou em uma primeira sexta-feira do mês,
ou em ocasião de uma Primeira Comunhão. Ela é normalmente feita após
uma Missa na paróquia. O Ato de Consagração é a parte indispensável da
cerimônia, porém as famílias também gostam de recitar a Litania do Sagrado
Coração e de cantar hinos apropriados. Algumas famílias convidam paren-
tes e amigos e fazem uma pequena reunião social depois.

O ano litúrgico

Muitos sacramentais, com suas respectivas orações, devem ser utiliza-


dos de acordo com o ano litúrgico. Este, começando pelo Advento, nos leva
através da história da humanidade que esperava o Cristo Redentor, e depois
pelos eventos da vida de Jesus Cristo. Trata-se de um modo magnífico de
cultivarmos nossa vida espiritual, mas o melhor de tudo é que é um modo
alegre de ensinarmos nossos filhos a viver e praticar a autêntica vida católica
ao longo de todo o ano.
Nos planos de aula da Seton para as aulas de arte, sugerimos diversas
atividades de arte e artesanato ao longo do ano litúrgico, relacionadas aos
dias de festa. Recomendamos especialmente a confecção de murais e mó-
biles ou outros projetos artísticos nos quais as crianças possam trabalhar
todas juntas.

198
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Advento

Algumas práticas católicas tradicionais podem ser iniciadas e mantidas


ao longo dos anos para nos ajudar a compreender melhor e amar mais a
nossa Fé Católica. Durante o Advento, a confecção da Coroa do Advento
é um evento muito especial. Ela pode ser confeccionada em um ano e nos
seguintes ser simplesmente redecorada e modificada.
Confeccionar esses itens tradicionais em família, e depois utilizá-los ao
longo dos anos, traz de volta memórias e é um tesouro único de cada família.
Você pode começar a coroa de forma simples e a cada ano ir acrescentando
mais fitas de veludo roxo, ramos de trigo e cachos de uva, reais ou não.
O ritual de acender as velas da coroa todas as noites e dizer as preces
do Advento aproximam a casa de uma igreja doméstica! Caso você perca a
Missa em um dos dias, você pode recitar as orações respectivas. Além disso,
as Filhas de São Paulo vendem calendários do Advento que vêm com leituras
diárias da Bíblia ou ilustrações. Estes pequenos calendários, com portas que
devem ser abertas a cada dia do Advento, são especialmente interessantes
para as crianças pequenas.
Muitas famílias fazem um Berço de Natal para o Menino Jesus, que fica
vazio no começo do Advento, porém a cada dia um membro da família
acrescenta um pouco de palha, representando um sacrifício pequeno e secre-
to, um presente que a pessoa oferece em preparação para o Natal. Na manhã
de Natal, o berço é preenchido com palha e preparado para a chegada do
Menino Jesus.
O Pe. Charles Fiore, já falecido, sempre participava de conferências sobre
homeschooling. Ele nos contou, certa vez, sobre uma família que tomava
uma estátua do Menino Jesus, no início do Advento, e a colocava à distância,
fora da casa. A cada dia do Advento, o Menino Jesus era trazido por uma das
crianças um pouco mais para perto do Berço de Natal, até que, na manhã
de Natal, ele chegava ao berço. Esses projetos são experiências práticas que
ajudam as crianças a entender o real sentido do Advento e do Natal.
Pouco depois do início o do Advento, celebra-se a festa de São Nicolau.
No Rito Bizantino, essa festa é celebrada com uma festa para as crianças
no salão da paróquia, com “São Nicolau” distribuindo presentes. Em nos-
sa igreja doméstica, ela precisa ser uma ocasião significativa, ressaltando a
alegria da doação, de que São Nicolau é tão bom exemplo. Pode ser um mo-
mento em que os membros da família trocam pequenos presentes, ou fazem
uma doação à caixa dos pobres na paróquia.

199
MARY KAY CLARK

Atividades criativas desse tipo podem ser feitas para a Festa da Imacula-
da Conceição ou a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe. São festas que po-
dem ser precedidas por uma novena ou pela Litania da Santa Virgem Maria.
A Rede de Televisão Palavra Eterna transmite a Missa de 8 de dezembro do
Santuário Nacional da Imaculada Conceição.
Não deixe de transmitir aos seus filhos o significado da Festa da Imacula-
da Conceição. O modo popular de se fazer referência a um bebê não nascido
como um “feto” pode ser a terminologia “politicamente correta”, mas não
pode ser aceito por nós. Nossos bebês são pessoas desde o momento em que
são concebidos. O uso da palavra “feto” é uma tentativa de desumanizar
nossos bebês.
Visite santuários nos dias de festa. O Catholic Almanac (Almanaque Ca-
tólico) lista os santuários católicos do país, por estados. Descubra quais você
conseguiria visitar e leve a família inteira. Se não houver um santuário pró-
ximo, visite uma igreja que as crianças ainda não conheçam. Ensine a Fé aos
seus filhos a partir das imagens, das pinturas e dos vitrais. Leve uma câmera,
para que possa lembrar da visita mais tarde e discutir os eventos ilustrados
nos vitrais das janelas. Uma câmera que grave vídeos seria excelente, pois
pode ajustar-se à luz que entra pelos vitrais. Quando sair de férias ou viajar
para outras cidades, visite santuários e igrejas históricas.
Reze uma novena antes da celebração das festas litúrgicas. Uma no-
vena são nove dias de oração, normalmente orações específicas recitadas
em relação ao santo ou festa do dia. Às vezes elas podem ser encontradas
em livrarias de santuários ou em livros de orações antigos, mas também
podem ser feitas orações originais. A TAN publica um livrinho barato
chamado 30 Novenas Favoritas (30 Favorite Novenas). Nele estão in-
clusas novenas a Nossa Senhora, a São José, a São Miguel, a Santa Ana,
entre outras.
Uma novena em preparação para o Natal deve ser iniciada em 16 de no-
vembro. No primeiro dos nove dias, você pode armar uma árvore de Natal,
na qual, durante os dias da novena, as crianças pendurem itens que repre-
sentem simbolicamente personagens do Antigo Testamento ou eventos que
precedam o nascimento de Jesus. Por exemplo, um fragmento de uma maçã
pode representar o Pecado Original de Adão e Eva, que acabou levando à
Encarnação. O estilingue usado pelo garoto Davi quando matou Golias e a
sarça ardente que Moisés viu estão entre os temas favoritos que as crianças
podem desenhar para a árvore.

200
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Após o Natal

Outros dias que podem ser celebrados com atividades ou projetos religio-
sos são dos Doze Dias de Natal20 e as Festas de Santo Estêvão, da Sagrada
Família, do Bom Rei Venceslau, de São João Evangelista, dos Santos Inocen-
tes e de Santa Elizabeth Ann Seton. Enquanto as festas litúrgicas mais impor-
tantes devem ser celebradas todos os anos, algumas das menores podem ser
celebradas uma vez a cada dois ou três anos.
Não há um modo específico para as famílias celebrarem cada festa, mas
é possível fazê-lo com uma leitura do evento bíblico ou da biografia do
santo em questão. A família pode encenar momentos da vida do santo, ou
escrever uma peça de teatro, ou fazer um show de marionetes. Convidar
uma irmã religiosa para jantar, ou um padre para fazer uma bênção especial
acrescenta reverência à celebração. Inclua o Terço, o uso de água benta,
cantar ou ouvir alguns hinos religiosos, ou assistir a um vídeo sobre a vida
do santo celebrado.

Epifania

A Festa da Epifania do Senhor é um importante dia santo, especialmen-


te no Rito Bizantino. Nos dias que vão do Natal à Epifania, os Três Reis
Magos, com seus camelos, lentamente viajam ao redor da árvore de Natal,
aproximando-se do estábulo no qual vive a Sagrada Família.
Em algumas famílias católicas, na Festa da Epifania, cada membro tro-
ca um pequeno presente com outro membro da família, representando os
presentes dados pelos Três Reis. Ou pode-se dar presentes a alguma família
pobre que tenha acabado de ganhar um bebê, ou aos idosos que estejam aos
cuidados de instituições. Outras famílias celebram vestindo as crianças de
Reis Magos e encenam a jornada. A cada ano, com o crescimento da família,
os figurinos ficam mais elaborados.
Esta festa é um momento oportuno para discutir com seus filhos mais
velhos o reino de Cristo Rei, não apenas em nossos lares, mas em nosso país.
Ensine-lhes que, assim como os Reis Magos curvaram-se a Cristo Rei, os
líderes do nosso país e de todos os outros devem curvar-se e obedecer às leis
de Deus. Explique-lhes também que, a não ser que as leis humanas estejam

20 Período que vai do dia de Natal até a noite de 5 de janeiro, também conhecido como Quadra
Natalícia. (N. da T.)

201
MARY KAY CLARK

em conformidade com as de Deus, não são justas, mesmo que a maioria das
pessoas concorde com elas.

A Apresentação de Nosso Senhor no Templo

Caso sua paróquia não realize uma procissão no dia 2 de fevereiro, dia da
Festa da Apresentação de Nosso Senhor no Templo, faça uma em sua igreja
doméstica. O Dia da Candelária, como também é chamado, deve incluir a
bênção das velas, mas você também pode providenciar velas previamente
abençoadas. Leia a história bíblica da Apresentação. Tente encontrar uma
meditação ou leitura sobre a Apresentação em um livro sobre os mistérios
do Rosário.
A Bênção das Gargantas, com velas abençoadas formando uma cruz, no
dia da Festa de São Brás, em 3 de fevereiro, é um belo sacramental para católi-
cos e não católicos, visando a obter boa saúde e o alívio de gargantas enfermas
ou outros problemas relacionados à garganta, além de proteção contra o mal.
As mães costumavam considerar essa bênção importante para seus bebês.
Em 11 de fevereiro, Festa de Nossa Senhora de Lourdes, tente visitar um
santuário de Lourdes, ou escreva a um santuário e pergunte como eles cele-
bram o dia da festa. Algumas orações e atividades podem ser reproduzidas
em sua igreja doméstica. A propósito, muitos santuários marianos têm ré-
plicas do santuário de Lourdes ou de Santa Bernadette, embora às vezes não
o divulguem. A devoção a Nossa Senhora de Lourdes costumava ser muito
popular em nosso país. Faça com que seus filhos leiam a biografia de Santa
Bernadette e assistam ao filme. Depois de Fátima, esta foi a maior e mais
miraculosa aparição de Nossa Mãe Santíssima.

Quarta-feira de Cinzas

A Quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma. Todos devem ir


à Missa neste dia. Explique aos seus filhos o significado das palavras do pa-
dre ao benzer as testas das pessoas com cinzas: “Lembra-te, homem, de que
és pó, e ao pó voltarás”. Não deixe de discutir com eles as regras do jejum e
da abstinência. Em nossa casa, sempre ressaltamos o significado da abstinên-
cia de carne às sextas-feiras, mas também nos abstemos de carne às quartas-
-feiras da Quarema, o que é uma recomendação adicional do Rito Bizantino.
Neste rito, é proibido consumir carne ou laticínios no dia do Grande Jejum,
na primeira segunda-feira da Quaresma, e na Sexta-feira da Paixão.

202
HOMESCHOOLING CATÓLICO

A Missa da Quarta-feira de Cinzas determina o tom da Quaresma e ilus-


tra concretamente o significado da vida e da morte. A família deve discutir
qual a lição da Quarta-feira de Cinzas e os sacrifícios quaresmais que cada
membro pretende fazer. Além dos pequenos sacrifícios diários, precisamos
incentivar nossos filhos a praticar atos positivos de oração, generosidade
e obediência instantânea. Eu sempre dizia a meus filhos: “Qual o sentido
de não comer doces na Quaresma, se você inicia discussões, briga com seu
irmão ou diz coisas maliciosas?”
O jejum caiu em desuso nos Estados Unidos, mas precisamos ensinar seu
valor e significado aos nossos filhos. A Quaresma existe para nos lembrar
dos quarenta dias de jejum que Jesus passou no deserto. Enquanto a mãe e o
pai devem restringir consideravelmente sua dieta, as crianças podem apren-
der a abster-se de doces e sobremesas.
Várias referências bíblicas ao jejum podem ser discutidas durante a Qua-
resma. A Bíblia Concordance menciona as palavras “jejum”, “jejuns” e “jeju-
ar” 143 vezes! No período da Quaresma, histórias bíblicas sobre eventos que
envolvam o jejum podem ser temas de discussão. Foi jejuando que Nínive
salvou-se da ira de Deus, uma lição de que nós americanos precisamos nos
lembrar. Não deixe que ninguém lhe diga que jejuar não é parte integral
da prática de nossa fé católica. Como a própria Bíblia, o jejum nunca será
antiquado!

Quaresma

Durante a Quaresma, explique aos seus filhos os sacrifícios que precisa-


mos fazer, por que são tão importantes e como através deles nos unimos a
Cristo e aos demais membros de Seu Corpo Místico para obter a reparação
dos pecados. Leia sobre como os santos celebravam a Quaresma. Leia as
palavras magníficas de Jesus à Irmã Josefa em O Caminho do Amor Divino
(The Way of Divine Love) (publicado pela TAN), quando Ele relata Seus
pensamentos durante os eventos que precederam a Crucifixão.
A Quaresma é um período em que as famílias podem buscar os costumes
católicos da cultura étnica à qual pertencem. As tradições culturais católicas,
especialmente as comidas típicas da Quaresma e da Páscoa, podem propor-
cionar uma experiência religiosa e cultural muito interessante para a família,
que pode ser transmitida às futuras gerações. Podemos desenvolver um vín-
culo novo com nossa Fé ao nos aprofundarmos em nossa própria tradição
cultural católica e em outras presentes em nossa comunidade.

203
MARY KAY CLARK

No passado, todas as imagens, estações da Cruz e pinturas das igrejas eram


cobertas com um manto púrpura durante a Semana da Paixão e a Semana
Santa, em sinal de penitência. Era um período no qual comemorações e a
contemplação de coisas belas eram deixadas de lado. Algumas famílias ainda
mantêm essa tradição, sem cobrir totalmente as imagens da igreja doméstica,
mas colocando fitinhas roxas nos pés de cada imagem ou pintura sagrada. Às
vezes coloca-se um manto púrpura ao redor das pinturas religiosas.

Festividades de março

No dia 17 de março, tente ir com seus filhos a um desfile do Dia de São


Patrício, ou faça seu próprio desfile com outra família homeschooler. Ajude
as crianças a confeccionar trevos e os relacione à história de São Patrício e
sua explicação da Trindade. Não deixe de discutir os grandes sacrifícios e o
empenho do santo para converter o povo irlandês. Tente sensibilizar seus fi-
lhos em relação aos católicos irlandeses que já sofreram tanto sob o governo
protestante da Inglaterra. Seus filhos podem usar verde e entregar pequenos
folhetos a amigos da vizinhança, explicando quem é São Patrício. Isto é um
modo de evangelizar nossa sociedade, como fez o próprio São Patrício.
A festa de São José, no dia 19 de março, pode ser celebrada ao longo de
vários dias, com leituras diárias de histórias sobre o Santo. Como ele é o
guardião especial do lar e da família, as famílias homeschoolers devem fazer
uma novena anual a ele, incluindo a Litania a São José. Nos dias atuais, com
tantos problemas econômicos, São José deve ser chamado a ajudar o pai de
família em seu emprego ou ocupação. Algumas famílias rezam a São José
todos os dias e mantêm uma vela acesa para ele na paróquia, como um lem-
brete diário de nossos pedidos a ele. São José é considerado o mais poderoso
intercessor junto a Jesus, depois da Santíssima Virgem Maria.
Em 25 de março, na Festa da Anunciação, ajude seus filhos a pesquisar
pinturas famosas deste maravilhoso evento! Pesquise na Internet por pintu-
ras e imagens. Tire fotos ou faça vídeos de vitrais de igrejas da região que
representem a Anunciação. Tente visitar um santuário mariano neste dia e
reze a Litania da Santa Virgem Maria.

Estações da Cruz

A Quaresma é o período mais apropriado para ensinar aos seus filhos o


significado e o ritual das Estações da Cruz. Há orações compostas por diversos

204
HOMESCHOOLING CATÓLICO

santos para meditar sobre as Estações, sendo a mais popular “A Via-Crúcis”,


de Santo Alphonsus Liguori, e “A Via-Crúcis”, de São Francisco de Assis, que
originou a devoção às Estações. Ambas foram publicadas pela TAN.
O caminho das Estações da Cruz pode ser feito ao longo de todo o ano,
porém tente fazer desta uma prática familiar durante todas as sextas-feiras
da Quaresma. Uma Indulgência Plenária é concedida a quem perfizer as Es-
tações no mesmo dia em que tiver recebido a Santa Eucaristia. Este é um
excelente modo de obter graças para as almas do Purgatório.
Quando as orações são ditas em privado, a Indulgência Plenária é con-
cedida apenas se a pessoa de fato fizer o caminho entre as Estações. Pode-
-se obter uma Indulgência Plenária a partir de uma recitação pública das
Estações e sem caminhar entre elas, desde que a pessoa que estiver recitando
perfaça o caminho. Lembre-se de que para obter uma Indulgência Plenária é
sempre indispensável rezar na intenção do Santo Padre e ir à confissão, seja
antes ou alguns dias depois da prática indulgenciada.
Para tornar as Estações mais variadas para as crianças, utilize diversas
meditações. Se estiver com pressa, simplesmente vá até cada Estação, ajoe-
lhe-se e diga: “Nós Te adoramos, Ó Cristo, e Te bendizemos, pois pela Tua
Santa Cruz Tu redimiste o mundo”. Ensine aos seus filhos o hino Stabat Ma-
ter para que o cantem nas Estações: “Na cruz mantendo seu posto / a Mãe,
pranteado seu rosto, / com Jesus até o fim”, e os versos seguintes.
Como as orações das Estações podem ser recitadas em qualquer momen-
to do dia, você pode ir com seus filhos à igreja mais próxima e recitá-las
todas as sextas-feiras à tarde. Algumas famílias católicas adotam o hábito de
visitar um santuário mariano nas primeiras sextas-feiras do mês e rezar as
Estações lá. Sempre que visitar santuários, veja se é possível obter uma In-
dulgência Plenária pela visita e por ali rezar, já que muitos papas conferiram
esse tipo de bênção.
Se não lhe for possível recitar as Estações em uma igreja ou santuário,
tente comprar pinturas com as Estações e colocá-las em um cômodo onde
você e sua família possam rezá-las. Caso não encontre quadros, peça aos
seus filhos para fazerem desenhos. Eles podem colorir ilustrações das Esta-
ções, que depois você pode utilizar para rezar.

Domingo de Ramos

No Domingo de Ramos, explique o significado dos ramos e então os espa-


lhe pela casa, no altar da família e ao redor de imagens e pinturas religiosas.

205
MARY KAY CLARK

Algumas crianças gostam de fazer cruzes com os ramos, ou fazer tranças, para
colocar nas paredes. Não as deixe esquecer que os ramos são um sacramental
abençoado. Se sua paróquia não fizer uma procissão, procure uma Igreja Bi-
zantina que faça, ou organize sua própria procissão em sua igreja doméstica
ou junto com o grupo de apoio ao homeschooling da região. Faça com seus
filhos a leitura do relato bíblico da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.

Semana Santa

A Semana Santa deve ser um tempo de séria reflexão sobre o sentido do


sofrimento e da morte de Cristo na Terra. Pode ser tanto uma semana de
preces litúrgicas quanto de orações pessoais. Vá à Missa todos os dias, se
possível, e também a todos os serviços religiosos da semana. Ensine aos seus
filhos as canções quaresmais, como “Ó Sagrado Coração Cercado”. Para os
pais e crianças mais velhas, pode-se escolher um livro para mediar a reflexão
sobre Jesus e Seu sofrimento, como O Caminho do Amor Divino, As Re-
velações de Santa Brígida (Revelations of St. Bridged) ou Os Sermões de S.
Francisco de Sales para a Quaresma (The Sermons of St. Francis de Sales for
Lent), todos publicados pela editora TAN.
Durante a Semana Santa, a RTPE costuma transmitir visitas à Terra San-
ta e documentários sobre a Crucifixão ou sobre o Santo Sudário. Você tam-
bém pode alugar vídeos sobre a vida de Cristo ou outros filmes apropriados.
Procure uma paróquia que celebre as cerimônias tradicionais da Semana
Santa. O Rito Bizantino é bastante elaborado e inspirador. Seus filhos, por
toda a vida, trarão na memória as cerimônias da Semana Santa. Pense que,
se no futuro eles não puderem frequentá-las, poderão reproduzi-las de forma
similar em suas próprias casas.
Na Quinta-feira Santa, explique o significado da celebração antes de as
crianças participarem da Missa, para que entendam de que modo ela se re-
laciona com os eventos da Semana Santa. Na Sexta-feira da Paixão, tente ir
a uma paróquia que faça o caminho das Estações e celebre a Missa à tarde,
pois, além de as crianças estarem cansadas demais para apreciar a celebração
à noite, foi durante a tarde que Jesus sofreu na Cruz.
Caso sua família esteja em casa e não na paróquia após o meio-dia da
Sexta-feira da Paixão, você pode optar por seguir a tradição de manter o
silêncio entre o meio-dia e as três da tarde. Com crianças muito pequenas
isto pode não ser possível, mas é certamente válido tentar. As crianças podem
ser instruídas a meditar ou rezar em privado. Outra possibilidade é assistir a

206
HOMESCHOOLING CATÓLICO

um vídeo sobre as Estações da Cruz ou os Mistérios Dolorosos do Rosário


e rezar em família.
As solenidades na igreja costumam começar às duas da tarde. Algumas fa-
mílias tentam passar algum tempo na paróquia desde antes, ou ir à Confissão
mais para o fim da tarde. A Igreja ordena o jejum na Sexta-feira Santa (idades
de 21 a 59 anos) e a abstenção de carne (a partir de 14 anos). Em algumas
famílias, os adolescentes e adultos praticamente não comem. No Rito Bizanti-
no, “O Grande Jejum” significa a abstenção de carne e laticínios. Muitos fieis
continuam o jejum no Sábado de Aleluia, até depois da Missa de Páscoa.

Sábado de Aleluia

Se as crianças forem decorar ovos de Páscoa, explique-lhes os vários sím-


bolos católicos, como o Cordeiro Pascal, que simboliza Cristo. Esses símbo-
los podem ser ensinados inclusive a crianças bem pequenas, para ajudá-las
a compreender o real sentido da Páscoa. No Rito Bizantino, as paróquias
costumam ministrar aulas ensinando adultos e crianças como fazer pysanky,
que são ovos enfeitados com símbolos religiosos e decorações elaboradas.
Se você levar seus filhos às celebrações de vigília do Sábado de Aleluia ou
da Páscoa, eles aprenderão a amá-las e passarão a esperá-las ansiosamente
todos os anos, à medida que forem crescendo. O ritual de acender as velas
na igreja escura dá um sentido vívido à “Luz do Mundo”. A cerimônia em
que se acende o Fogo Novo e a vela da Páscoa deve ser lida e explicada às
crianças antes de ir à igreja.
Algumas famílias vão à celebração de Vigília de Páscoa para estarem pre-
sentes no momento da Ressurreição, mas vão à Missa de novo no Domingo
de Páscoa para celebrar os eventos em torno da tumba encontrada vazia,
com Maria Madalena encontrando o anjo e depois Jesus, São João e São
Pedro que correm para a tumba e os dois discípulos encontrando Jesus na
estrada para Emaús. Tanto na Vigília de Páscoa quanto durante a Missa na
manhã de Páscoa, as promessas batismais são renovadas. Discuta a impor-
tância de ambas as celebrações com sua família.
Em igrejas que seguem o Rito Bizantino, os paroquianos levam pães ca-
seiros e bolos para serem abençoados após a celebração. Você e seus filhos
podem preparar pães para levar à igreja. A Santa Comunhão pode ser re-
cebida tanto na Vigília de Páscoa quanto na manhã de Páscoa. (De fato, é
possível receber a Santa Comunhão até duas vezes por dia, em qualquer dia
do ano, desde que se assista duas vezes à Missa.)

207
MARY KAY CLARK

Páscoa

Faça com que a alegria da Ressurreição repercuta em sua casa. Você pode
alugar um DVD sobre o primeiro Domingo de Páscoa. Conte a história de
Pedro e João correndo até a Tumba e depois ao Cenáculo. Leia os relatos da
Ressurreição nos quatro Evangelhos.
A mensagem da Ressurreição é o centro de nossa Fé. Como apóstolos
de Cristo de nossos dias, desejamos transmitir Sua mensagem. Peça aos seus
filhos que escrevam “Ele Ressuscitou” em folhas de cartolina colorida e de-
pois as colem nas portas de sua igreja doméstica. Cumprimentem-se dizendo
“Ele Ressuscitou!” e respondendo “Sim, Ele Ressuscitou!”. Ensine alguns
dos hinos pascais aos seus filhos, ou os escute em CDs ou fitas.
Em muitas culturas católicas, um bolo em formato de cordeiro é servido
como sobremesa do jantar de Páscoa. É um bolo coberto com glacê branco
e coco. Você pode comprar um para ter uma ideia de como é feito e fazê-lo
você mesma no ano seguinte. Normalmente, na época da Páscoa, é possível
comprar formas em formato de cordeiro. Encomende em lojas especializadas
em confeitaria, se não conseguir encontrar uma.
Durante os quarenta dias entre a Páscoa e a Ascensão, tente infundir
sua casa da alegria dos Apóstolos quando o Senhor ressuscitado aparecia
várias e várias vezes em seu Corpo ressurreto. Essa é uma boa oportunida-
de para as crianças apresentarem seus talentos artísticos, fazendo desenhos
do Senhor glorificado e ressuscitado. Estude livros de arte e artesanato
para aprender sobre métodos e materiais para confecção artística e peça a
seus filhos que ilustrem ou representem em vivas cores os eventos gloriosos
da Ressurreição.
Ao longo deste período, discuta a instituição do Sacramento da Penitên-
cia por Nosso Senhor. Perceba quantas vezes Ele diz: “Sou eu. Não temei.”
Apresente o Sacramento da Penitência como um sacramento calmo e amá-
vel. Sempre que eu levava meus meninos à Confissão, aos sábados, era um
momento feliz. Às vezes levávamos seus amigos conosco e comíamos doces
no caminho de volta para casa.

Ascensão

Quinta-feira da Ascensão! Que evento para celebrar! Jesus nos deixa, su-
bindo aos céus em uma nuvem, enquanto os Apóstolos O observam. Porém,
contamos com a promessa de Seu retorno. Como esperamos ansiosamente

208
HOMESCHOOLING CATÓLICO

por Ele! Analise o Credo dos Apóstolos com seus filhos, explicando o sentido
de “E subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai, e de novo há de vir
em Sua glória para julgar os vivos e os mortos”. Leia o relato bíblico sobre
a Ascensão.
Se você ler alguns dos relatos de santos, Doutores da Igreja ou escritores
católicos sobre a Ascensão, poderá reconstituir alguns dos eventos de fundo
que a cercaram. Ensine aos seus filhos sobre os anjos e Nossa Senhora, sobre
a tristeza e o arrependimento dos Apóstolos quando Ele estava prestes a
partir, as cento e vinte pessoas que testemunharam a cena, os muitos santos
ressurretos que decerto O acompanharam, o canto ao mesmo tempo alegre
e triste que hão de ter cantado os Apóstolos. Reconte a história da procissão
que subiu o Monte das Oliveiras, a mensagem de Jesus aos Seus apóstolos,
Sua previsão da vinda do Espírito Santo, as perguntas dos dois anjos e sua
certeza de que Ele retornaria e os Apóstolos com os corações cheios de ale-
gria ao voltar para casa, louvando a Deus o tempo todo.
Seu grupo de apoio ao homeschooling pode reunir-se na Quinta-feira da
Ascensão e reencenar a procissão da Ascensão, com orações, uma leitura do
relato bíblico e hinos. Como houve diversas ocasiões em que Jesus comeu
peixe com Seus apóstolos durante os quarenta dias antes de Sua ascensão ao
Paraíso, pode-se concluir a reunião com um piquenique com sanduíches ou sa-
lada de atum. Faça lembrar aos seus filhos que o símbolo do peixe será, ainda
por muitos anos, um sinal secreto entre os cristãos. Você pode pedir a eles que
desenhem ou recortem figuras de peixes durante o piquenique da Ascensão.

Pentecostes

Entre a Quinta-feira da Ascensão e Pentecostes, sua família pode fazer


a novena do Espírito Santo. Nesse período, as questões do catecismo sobre
o Espírito Santo podem ser revisadas, especialmente Suas virtudes, dons e
frutos. Durante a novena, a família pode suplicar por um dom do Espírito
Santo a cada dia.
Na Festa de Pentecostes, as leituras da Bíblia e as meditações sobre a des-
cida do Espírito Santo podem ser feitas em família. Como os discípulos, os
Apóstolos e a Virgem Santíssima, a família pode reunir-se em torno de uma
mesa, em plena expectativa. A imaginação das crianças pode ser estimulada
a imitar o trovão, o vento e a luz enchendo a casa. Lembre-lhes que este
evento é considerado o Nascimento da Igreja e a instituição do Sacramento
da Confirmação.

209
MARY KAY CLARK

Três mil pessoas foram batizadas após o sermão de São Pedro sobre
Pentecostes. Alguns dos seus filhos podem representar diferentes culturas,
usando chapéus ou outro figurino que represente uma nacionalidade. Após
as leituras e uma ou duas canções, a família pode celebrar com um bolo do
Espírito Santo, coberto com glacê branco e línguas de fogo em vermelho
vivo. As crianças também podem confeccionar porta-copos ou suportes para
pratos em formato de língua de fogo.
Caso haja alguma paróquia do Espírito Santo pela região, verifique se
haverá alguma celebração especial a que você possa ir com sua família.
Além disso, caso tenham acesso à Rede de Televisão Palavra Eterna, vo-
cês podem assistir à Missa de Domingo de Pentecostes do Santuário Nacio-
nal da Imaculada Conceição.

O mês de maio

A Festa de São José Operário, em 1º de maio, deve ter um significado


especial para nossos filhos homeschoolers, pois ressaltamos a importância e
a alegria do trabalho em nossas vidas. A Festa pode ser precedida por uma
novena a S. José. É uma tradição comum fazermos nossos pedidos com cui-
dado, já que S. José é conhecido por atender facilmente aos pedidos que lhe
fazem. Além das atividades regulares das crianças, esse é um bom dia para
trabalharem em um projeto de carpintaria pela casa, como consertar cercas
de madeira ou construir aquela tão necessária estante de livros para a sala
de aula, ou talvez consertar a porta de tela de madeira. Oriente as crianças a
pedir a S. José que rogue por elas enquanto trabalham, especialmente quan-
do se dedicam aos seus estudos. Preces especiais a S. José devem ser feitas na
intenção do pai da família e seu trabalho.
Durante o mês de maio, dedicado à honra da Santíssima Virgem Maria,
poucas igrejas ainda realizam procissões. Talvez seu grupo de apoio ao ho-
meschooling possa persuadir o pároco da região a fazer uma. Caso contrário,
organize uma procissão junto com outras famílias católicas homeschoolers.
Tradicionalmente, a procissão de maio é composta por crianças vestidas em
suas melhores roupas de domingo, caminhando em direção a uma imagem
da Virgem Maria e cantando um hino mariano. A procissão é liderada por
uma menina pequena, geralmente vestida de branco, carregando uma coroa
de flores a ser colocada na imagem. Ela é acompanhada por duas outras
meninas, também vestidas de branco e carregando flores. Quando chegam à
imagem, a Virgem Maria é coroada, enquanto se canta:

210
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Tragam as flores mais belas, tragam as flores mais raras


De todos os vales, florestas, vastos jardins e montanhas.
Nossos corações se dilatam, nossas vozes querem cantar
Elogios à mais bela flor jamais nascida entre as flores!
Ó Maria, eis tua coroa primaveril!
Rainha de maio, rainha dos anjos,
Ó Maria, eis tua coroa primaveril,
Rainha de maio, rainha dos anjos!

Após a coroação de maio, deve-se recitar a Litania de Nossa Senhora,


seguida de uma Bênção, se possível. Duas ou três canções marianas podem
ser cantadas durante a celebração. Depois pode haver uma pequena reu-
nião social.

Junho e julho

Todos os anos, durante as Festividades do Sagrado Coração de Jesus e


do Imaculado Coração de Maria, o Pe. Robert Fox organiza um congresso
mariano em Dakota do Sul, como uma homenagem especial às aparições de
Fátima. Se sua família não puder participar, tentem realizar um mini con-
gresso mariano junto a outras famílias homeschoolers de sua região. En-
contre alguém para palestrar sobre a Virgem Maria, organize uma procissão
para recitação do Terço e por fim uma reunião social para as famílias.
Há magníficas festas de santos celebradas em julho, que podem ser
temas de projetos de música e arte, como a do Beato Junípero Serra, a da
Beata Kateri Tekakwitha, a de Nossa Senhora do Monte Carmelo, de San-
ta Brígida, de Santa Maria Goretti e dos Santos Joaquim e Ana. Use sua
criatividade para celebrar essas festas. Peça às crianças que leiam sobre as
vidas desses santos e depois peça que deem sugestões de modos criativos
para a família celebrar suas festas. A Seton disponibiliza dois livros que
podem ser úteis para organizar atividades relativas aos dias de santos e
feriados religiosos: Costumes Religiosos em Família (Religious Customs in
the Family), do Pe. Weiser, que trata das memórias de juventude do autor
sobre as celebrações de festas religiosas em sua família; e Dias de Santos
e Festividades Religiosas (Saints and Feast Days), que contém propostas
de atividades para as crianças realizarem nos dias de santos ao longo de
todo o ano.

211
MARY KAY CLARK

Começando o ano escolar

Ao iniciar o ano escolar, não deixe de organizar um evento envolvendo


toda a comunidade homeschooler da sua religião, relacionado a alguma fes-
ta religiosa. Em Front Royal, na Virgínia, os homeschoolers costumam ini-
ciar o ano com uma Consagração dos Estudantes ao Menino Jesus de Praga,
feita na paróquia. A cerimônia inclui uma bênção, orações, aspersão de água
benta e cânticos em latim. As crianças enfeitam um pequeno missário para
cada pessoa, que inclui as orações e um desenho da coroa do Menino Jesus,
decorada com lantejoulas. Após a cerimônia, as famílias fazem uma festa
com um bolo decorado.

Rede de Televisão Palavra Eterna

A RTPE é a rede de televisão católica de nosso país. Ela leva até sua casa
eventos apropriados para o ano litúrgico e pode ajudar você e sua família
a celebrar cada festividade. A RTPE está disponível por cabo ou satélite. Se
não tiver acesso a ela via cabo, você pode adquirir uma antena parabólica.

Rádio Relevante (Relevant Radio)

A Rádio Relevante é uma estação de rádio católica com sede em Wiscon-


sin, que possui estações em catorze estados por todo o país. Além de estar
disponível nessas estações, também é possível acessar os programas pela In-
ternet. A programação conta com o famoso padre e palestrante, Frei John
Corapi, e com o conselheiro familiar, Dr. Ray Guarendi. Como os programas
são transmitidos apenas em áudio, são excelentes para mães e filhos escuta-
rem enquanto trabalham pela casa. Ver: www.relevantradio.com.

Conclusão

Se você organizar sua vida familiar em função das festas anuais e estações
do ano litúrgico, cada membro da família aprofundará sua vida de oração,
seu estudo da Bíblia e seu conhecimento e amor por Jesus, Maria, José e a
Igreja. Todos também aprimorarão sua compreensão da importância de se
viver uma vida virtuosa. Para mais ideias sobre como celebrar as diversas
festividades católicas, procure livros que tratem dos santos ou eventos cele-

212
HOMESCHOOLING CATÓLICO

brados e então busque, junto com as crianças, modos criativos de festejá-los.


Dê especial atenção aos santos que tenham estudado em casa (foi o caso da
maioria) e aos que tenham educado seus filhos em casa (foi o caso da maio-
ria entre os que tiveram filhos).
A chave de sucesso do homeschooling católico é colocar em prática a
vida sacramental. Utilize algumas das ideias acima em sua família. Confie em
Jesus e Maria para ajudá-lo em sua prática e em seu apostolado homescho-
oler. Como certa vez me disse o Cardeal Edouard Gagnon, ex-presidente do
Pontifício Conselho para a Família, praticar homeschooling é simplesmente
evangelizar em casa, que é onde toda evangelização deve começar.

213
Capítulo 7
O papel do pai na família homeschooler
O texto a seguir é de autoria do Dr. Mark Lowery,
professor de Teologia e pai homeschooler

Introdução

M
inha esposa, Madeleine, e eu temos sete filhos com idades entre
12 anos e alguns meses de vida (o mais velho nascido em 1993).
Começamos a praticar o homeschooling quando nos mudamos
para o Texas, em 1988, pois estávamos decepcionados com a escola paro-
quial onde nosso filho mais velho, David, havia cursado o jardim de infância
e a primeira série. Hoje em dia, ensinamos em casa nossos quatro filhos mais
velhos: David na sétima série, Daniel na quinta, Benjamin na segunda e Eli-
zabeth na primeira. Utilizamos nosso próprio currículo, fruto de vários anos
de pesquisas em diversas fontes, porém somos gratos à Seton Home Study
School por ter-nos ajudado a nos organizar e estimulado nossa autoconfian-
ça quando começamos. Nosso homeschooling começou de forma irregular, e
sem a Seton provavelmente teria sido um desastre.
Como pai, foi gradualmente que aprendi todas as coisas de que desejo
falar neste capítulo, e não tenho dúvidas de que ainda há muitas descobertas
à minha espera. O mais importante para as famílias homeschoolers – e seus
pais – é ter paciência. Você não vai acertar “de primeira”; na verdade, as
coisas nunca serão perfeitas. Seja paciente, e esteja aberto a novas ideias e
sugestões, algumas das quais vou dar ao longo deste texto. Uma importan-
te ressalva, porém: o fato de que tenho sugestões a oferecer, e de que estas
podem ser úteis a outras pessoas, não quer dizer que minha família e eu te-
nhamos chegado à perfeição. Muito do que apresentarei aqui são ideais que
buscamos e alcançamos apenas de forma imperfeita. Temos nosso quinhão
de tropeços, frustração e fracasso. Assim como na vivência da fé católica,
todos devemos ser pacientes. “Para nós, só resta a tentativa”. (T.S. Eliot)
Se por um lado devemos ter paciência, por outro devemos ter constância
em nossos esforços, pois muito está em jogo; a família é “o” fundamento da
sociedade. De acordo com o ConcílioVaticano II, no documento A Igreja no
Mundo Atual21:
A família é como que uma escola de valorização humana. Para que esteja
em condições de alcançar a plenitude da sua vida e missão, exige, porém, a
benévola comunhão de almas e o comum acordo dos esposos, e a diligente
cooperação dos pais na educação dos filhos. (n. 52)

A linha seguinte do documento diz: “A presença ativa do pai contribui


poderosamente para a formação destes”. O presente capítulo, enquanto re-
flexão sobre esta afirmação, organiza-se em torno de seis temas-chave que
devem ser de especial interesse aos pais: a conversão à família, a atitude em
relação à esposa, a disciplina familiar, a disciplina no homeschooling, sua
contribuição prática ao homeschooling e seu papel enquanto professores
de religião.

Conversão à família

A habilidade mais importante de que o homeschooling necessita não tem


particularmente a ver com inteligência ou métodos pedagógicos, que são o
que primeiro lhe vem à mente quando um pai contempla a tarefa de ensinar
os filhos em casa. Na verdade, o sucesso do homeschooling está totalmente
vinculado à compreensão que o pai tem do que significa ser pai. É claro que
ele já é pai desde o momento da concepção de seu primeiro filho, porém tem
de trabalhar para tornar-se o que é – do mesmo modo como uma pessoa ba-
tizada na comunidade cristã deve trabalhar para tornar-se verdadeiramente
cristã. Em ambos os casos, o homem precisa empenhar-se para ser fiel ao seu
novo tipo de vida.

21 Versão em língua portuguesa: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_coun-


cil/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html
Muitas pessoas que tiveram uma criação católica experimentam, depois
de adultas, uma espécie de conversão à Fé que já possuem; uma reafirmação,
agora integralmente consciente, da Igreja e da vida sacramental. Uma con-
versão similar acontece com muitos pais. Eles têm, é claro, um compromisso
com suas famílias, mas uma parte de seu coração – muitas vezes uma parte
significativa – está em outro lugar. O escritor George Gilder escreveu sobre
como os homens têm um impulso natural a ser livres e desprendidos, a ser
“bárbaros”, e sobre como eles precisam sacrificar esse impulso pelo seu lar
– pelos valores familiares.
Esta tarefa torna-se especialmente dificultosa em nossa sociedade, por
inúmeras razões. O Papa João Paulo II, em O Papel da Família no Mundo
Moderno (Familiaris Consortio, doravante FC), dedica uma seção especial
aos pais, na qual diz:
De modo especial onde as condições sociais e culturais constringem facilmen-
te o pai a um certo desinteresse em relação à família ou de qualquer forma a
uma menor presença na obra educativa, é necessário ser-se solícito para que
se recupere socialmente a convicção de que o lugar e a tarefa do pai na e pela
família são de importância única e insubstituível. (n. 25)

Os pais precisam converter-se integralmente ao dom que possuem; como


diz o Papa João Paulo II, “o homem é chamado a viver o seu dom e dever de
esposo e pai.” (FC, n. 25)
Eu recordo o momento preciso em que tal conversão aconteceu em mi-
nha vida. Tínhamos dois filhos na época. Eu sempre gostei de andar de bici-
cleta e já havia dedicado um tempo considerável de minha vida às aventuras
ciclistas. Naquele momento, eu havia instalado uma cadeirinha infantil em
minha bicicleta de dez marchas e gostava de levar meus dois filhos para fazer
passeios curtos pela cidade. Mas também fazia passeios mais longos sozinho,
e lembro-me perfeitamente de que, uma manhã, durante um desses passeios,
irritei-me com o fato de haver uma cadeira infantil presa à minha bicicleta,
que eu levaria alguns minutos para retirar dali. Decidi simplesmente deixá-la
lá, mesmo que fosse causar atrito com o vento e diminuir minha velocidade.
Durante o percurso, subitamente me ocorreu que apenas metade de mim es-
tava comprometida com minha família. Era com uma forte relutância que eu
vinha fazendo os sacrifícios necessários à vida familiar. Eu ainda era apegado
demais àquela parte de mim representada pela bicicleta de dez marchas sem
o peso de cadeirinhas infantis!
Antes dessa experiência, eu simplesmente nunca pensara a sério sobre a
necessidade de modificar minha atitude. A simples consciência disso teve um
MARY KAY CLARK

impacto poderoso sobre mim e devo honestamente confessar que um homem


novo retornou para casa naquela manhã – um homem convertido ao que ele
já possuía! Nos anos seguintes, eu ainda tinha meus interesses pessoais, porém
desenvolvi uma tendência natural a colocá-los em segundo plano e priorizar
minha tarefa de esposo e pai. Isto incluía não sentir pena de mim mesmo
quando meu compromisso familiar me impossibilitava de satisfazer algum de
meus interesses particulares. E, pelo lado positivo, aprendi a desenvolver no-
vos interesses diretamente relacionados às necessidades da minha família. Por
exemplo, tornei-me um aficionado por brinquedos de parquinho, e desde en-
tão é um hobby meu e das crianças visitar todos os parquinhos da vizinhança
e depois voltar àqueles que elas mais tenham gostado.
Qual impacto esta ideia de “conversão à família” tem sobre a educação?
Ora, se você se “converte à sua família”, a educação de seus filhos deixa de
ser apenas mais um item em uma longa lista de tarefas exaustivas. A educa-
ção é uma parte tão essencial da vida de uma criança que, qualquer que seja
o tipo de ensino escolhido pela família, o pai tem de participar integralmente
de todo o processo. Como disse o Papa João Paulo II:
(...) o homem é chamado a garantir o desenvolvimento unitário de todos os
membros da família. Cumprirá tal dever mediante uma generosa responsabi-
lidade pela vida concebida sob o coração da mãe e por um empenho educati-
vo mais solícito e condividido com a esposa (...) (FC, n. 25)

Caso os pais optem por uma escola pública ou paroquial, é fundamen-


tal que ambos – não somente a mãe – participem do processo educacional.
Os pais que obtêm os melhores resultados dentro do sistema escolar são
aqueles que participam constantemente de todo o processo educativo, em
casa como na escola. (E ocorre com muita frequência entre esses pais a
questão: se já estou tão envolvido com a educação do meu filho, por que
não o educar em casa de uma vez e me valer de todos os benefícios de um
esforço que já estou fazendo?)

A atitude do pai de família diante da mãe

Pais – mesmo aqueles realmente comprometidos com suas famílias – po-


dem facilmente presumir que é função de suas esposas acompanhar o pro-
cesso educacional dos filhos. É claro que a mulher tende a envolver-se mais,
por uma questão de tempo disponível. No entanto, ambos devem estar igual-
mente a par do que se passa nesse âmbito da vida em família.

218
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Considere a seguinte analogia. Durante a gravidez e o parto, a mãe ob-


viamente dedica ao bebê uma maior quantidade de tempo do que o pai. Mas
o aspecto qualitativo do projeto em si requer uma doação igual de energia
e comprometimento de ambos os cônjuges. Assim deve ser com a educação.
Deve haver um comprometimento primário dos dois, mesmo que tal com-
prometimento se cumpra de modos diferentes, que envolverão quantidades
diferentes de tempo. O pai nunca deverá dizer: “Minha esposa faz a maior
parte do trabalho, no que diz respeito à educação de nossos filhos.”
De fato, é extraordinariamente fácil para o marido permitir-se pensar,
de modo equivocado, que é ele quem faz o trabalho realmente importante e
desafiador, enquanto sua esposa, sendo dona de casa, fica com a parte fácil
– mesmo quando ela dá as aulas do homeschooling. Os maridos precisam
corrigir esse pensamento! As esposas e mães têm o papel mais importante e
também o mais difícil dentro da família. Como bem colocou George Gilder:
A mulher é responsável pelo que podemos chamar de os valores domésticos
da comunidade – suas preocupações morais, estéticas, religiosas, sociais, se-
xuais. Nestes valores consistem os objetivos finais da vida humana – todas
aquelas questões que consideramos de tal importância, ao ponto de não lhes
podermos atribuir valor financeiro. Soberana é a vida humana individual,
preservada nos lares e nos vínculos entre uma mulher e seus filhos. Estes
valores estão acima de qualquer mercado. (Homens e Casamento [Men and
Marriage], p. 168).

No mesmo sentido, escreve o Papa João Paulo II: “a verdadeira promo-


ção da mulher exige também que seja claramente reconhecido o valor da sua
função materna e familiar em confronto com todas as outras tarefas públicas
e com todas as outras profissões”; e fala também do “significado original
e insubstituível do trabalho da casa e da educação dos filhos”. (FC, n. 23)
Acrescente-se a isso a tarefa de ser a principal professora do homeschooling!
Em suma, uma contribuição crucial que o pai pode dar ao homeschooling
é ter a atitude correta diante de sua esposa. Nem é preciso lembrar que as
crianças assimilam muito rápido a qualidade da relação que há entre seus
pais e são profundamente influenciadas por isso.

Disciplina familiar

Assim como é fácil para o pai delegar a maior parte do “trabalho peda-
gógico” para sua esposa, também é fácil fazê-lo com relação à disciplina. A
velha caricatura do pai de mão pesada tem seus óbvios problemas, porém

219
MARY KAY CLARK

hoje eu vejo muitos pais, inclusive alguns bastante sinceros e dedicados, ado-
tando uma postura demasiadamente relaxada com relação à disciplina. Isto
já é um grande perigo para as famílias cujos filhos vão à escola fora de casa,
e torna-se ainda mais perigoso em lares homeschoolers. Eu trabalhei muitos
anos em salas de aula e tornei-me uma espécie de fanática pela organização
e disciplina nesses ambientes. Manter as coisas em ordem melhora o humor e
o desempenho do professor e agrada aos alunos, mesmo que aparentemente
eles queiram o oposto. Essa é uma falsa aparência – tudo o que as crianças
querem é ordem. Uma de minhas principais frustrações quanto às várias es-
colas que experimentamos para nossos filhos era o tipo (ou, melhor dizendo,
a falta) de disciplina aplicada. Quase sempre as salas de aula eram aglome-
rados de crianças rebeldes, que sugavam a energia do professor. Mesmo um
professor excepcionalmente competente e organizado acaba se frustrando
em um ambiente assim, pois os problemas de disciplina em sala de aula têm
raízes profundas na educação irregular que as crianças recebem em casa.
Daí que, no homeschooling, assim como na vida doméstica em geral, uma
educação disciplinar tão amorosa quanto firme é indispensável. Durante o
dia, a mãe será a responsável pela disciplina do ponto de vista quantitativo,
mas o pai, repito, deve estar integralmente envolvido no projeto contínuo,
exigente e muito gratificante que é criar filhos bem-comportados.
Talvez o aspecto mais importante de um bom sistema disciplinar seja
saber o que esperar de uma criança. As expectativas dos pais quanto ao com-
portamento de seus filhos costumam ser muito baixas (embora, ironicamen-
te, sejam altíssimas quanto ao seu desempenho escolar e desenvolvimento
em geral, já desde a primeira infância). As crianças conseguem comportar-se
bem. Não devemos jamais ver o mau comportamento de nossos filhos na
igreja, em um restaurante ou no shopping e dizer “são só crianças”.
A capacidade que a criança tem de comportar-se é análoga a um as-
pecto fundamental da vida moral católica. Como resultado permanente da
Queda, todos temos uma tendência a mal utilizar nossa liberdade (isto é, a
pecar), uma tendência chamada concupiscência. Porém, também temos a
capacidade de resistir a essa tendência. Como bem colocou o teólogo moral
William May, “Podemos agir como devemos”. De modo similar, as crianças
têm a capacidade de resistir à sua tendência à rebeldia. Em ambos os casos,
nos tornamos mais felizes quando vencemos nossos apetites mais baixos. E,
curiosamente, essas duas áreas de nossas vidas – comportamento e moral
– afetam-se e condicionam-se mutuamente. É claro que pode haver ladrões
bem comportados, assim como pode (talvez) haver santos mal comportados,

220
HOMESCHOOLING CATÓLICO

mas em geral pessoas com bom comportamento já dominaram suas paixões


mais baixas e desenvolveram bons hábitos, os quais tendem a ser mantidos
quando ocorrem situações de cunho moral.
Um método particular que me parece muito eficaz – e que é também um
modo simples de os pais participarem deste campo da vida familiar – é desen-
volver grupos de regras muito concretas e claramente descritas, que se apli-
quem a diversas situações. Por exemplo, pode haver as seguintes regras para
quando a família for à Missa: sentar-se em postura ereta; não se agitar; unir as
mãos ao ajoelhar-se – e assim por diante. O pai deve recapitular essas regras
no caminho até a igreja e deixar muito claras para os filhos as consequências
de desobedecê-las. Eu chamo este de o “método da preempção”. Ele antecipa
os problemas antes que estes apareçam, o que é muito mais eficaz do que ter de
remediá-los. A maioria dos pais faz o oposto. Eles não deixam suficientemente
claras as regras que seus filhos têm de seguir, e depois fazem uma espécie de
birra própria quando as crianças seguem suas tendências naturais!
Outras situações para as quais regras concretas podem ser desenvolvidas
são fazer compras, comer e, é claro, estudar. Um dos motivos por que faço
questão de ressaltar essas outras áreas é que, para as famílias homeschoolers,
é fundamental apresentar-se de modo positivo em público (e entre parentes).
São famílias que precisam fazer um esforço extra para demonstrar aos céticos
que elas realmente “sabem o que estão fazendo” – o que pode mudar a percep-
ção de muitas pessoas sobre o homeschooling. Então, pais, assumam seu pos-
to! Façam com que suas famílias despertem no mundo o desejo de imitá-las.
Talvez a maior ameaça a um bom sistema disciplinar seja a ideia, altamente
nociva e cada vez mais popular em nossa cultura, de que a boa autoestima é o
principal objetivo na formação das crianças. Essa é uma ideia verdadeiramen-
te daninha, pois impede, na prática, a educação disciplinar. Quando precisa
ser firme com seu filho, você teme estar prejudicando sua autoestima e então
desiste (e ele não aprende como deve comportar-se). É claro que a autoestima
é um componente crucial do caráter de qualquer ser humano saudável, mas
eis a pegadinha: ela não é um fim em si mesma. Se você se esforçar muito para
ajudar alguém (ou você mesmo) a ter boa autoestima, o resultado, provavel-
mente, será o oposto. A autoestima é um produto final, algo que resulta de fa-
zermos alguma coisa com excelência – por exemplo, ter bom comportamento.
É como a felicidade. A maioria das pessoas que tentam por muitos anos ser fe-
lizes não o conseguem, pois a felicidade vem como resultado de uma vida bem
vivida; não pode ser buscada como um fim em si mesma. No entanto, se você
levar uma vida ordenada, acabará sendo feliz. Do mesmo modo, quando as

221
MARY KAY CLARK

crianças recebem uma boa educação, o que significa, sobretudo, defrontarem


o desafio de estar à altura de boas regras de conduta, elas acabam simplesmen-
te desenvolvendo uma boa autoestima. Outra pegadinha: elas em geral não
dizem a você o quanto são felizes!

Disciplina no homeschooling

Se o pai está longe de casa durante a maior parte do dia escolar, como ele
pode ter um papel importante na construção de um homeschooling ordena-
do e eficiente? A resposta é, mais uma vez, que, embora ele não esteja pre-
sente quantitativamente, pode estar qualitativamente. As crianças precisam
saber que por trás da mãe há o pai. Alguns métodos possíveis: faça uma lista
com regras muito claras para o homeschooling. O pai pode lê-las no começo
do dia, se possível, ou na noite anterior ao dia escolar. No meu caso, tem
sido útil ligar para casa no meio do dia e conversar brevemente com cada
homeschooler. Caso haja problemas de disciplina, eles podem ser discutidos
pelo telefone. Este é um excelente método de prevenção – o aluno sabe que
o pai vai ligar, ou que a mãe pode ligar para ele.
Cada família, é claro, tem de decidir qual será seu sistema de consequências
para maus comportamentos. Isto demanda um tanto de tentativa e erro. O
importante não é ter um sistema perfeito, mas que um programa consisten-
te exista e esteja em constante estado de aprimoramento. Em minha família,
parte do aprimoramento constante se dá por meio do “encontro conciliar da
família”, que ocorre todos os sábados após o café da manhã. Este é um mo-
mento em que os filhos mais velhos, conjuntamente comigo e com sua mãe,
podem fazer suas reclamações e relatar problemas (quanto ao homeschooling
ou qualquer outra área da vida familiar). A reunião tem como propósito fazer
um “mini-recuo”, em que todos possam parar e olhar para as dificuldades com
maior objetividade. É útil sobretudo para que as crianças saibam que podem
fazer reclamações e que estas podem ser discutidas de forma inteligente (fora
do contexto que as gerou). Quando reclamações surgem ao longo da semana,
pedimos aos nossos filhos que as anotem e coloquem em um recipiente espe-
cial a ser aberto no próximo encontro conciliar da família.

O homeschooling na prática

Ao longo dos anos em que temos praticado o homeschooling, descobri


que tenho um prazer imenso em ensinar meus próprios filhos. Ensinando-os,

222
HOMESCHOOLING CATÓLICO

você “se insere” nas vidas dos seus filhos de um modo especial. O envolvi-
mento integral com eles é algo imensamente enriquecedor, por um motivo
que o Papa João Paulo II comentou com perfeição:
A solicitude pela criança ainda antes do nascimento, desde o primeiro mo-
mento da concepção e, depois, nos anos da infância e da adolescência, é a pri-
mária e fundamental prova da relação do homem com o homem. (FC, n. 26)

Ao se esforçar para “passar” neste teste, os pais são gratificados, pois os


filhos nos dão “o seu precioso contributo à edificação da comunidade fami-
liar e à santificação dos pais”. (FC, n. 26)
O pai não deve apenas “ajudar” no trabalho educativo da mãe; ele deve
ser responsável por várias disciplinas e ensiná-las aos seus filhos. Quais dis-
ciplinas ele deve escolher? A resposta mais comum é: quaisquer umas em que
seja especialmente competente. Sem dúvida esse é um bom critério, porém
me parece que, sobretudo no ensino primário, os critérios podem ser muito
mais amplos e estender-se a quaisquer disciplinas pelas quais tenha interesse.
Um de meus amigos conta a história de quando foi contratado para ensi-
nar inglês em uma escola de ensino médio. Certa vez, o professor de física
precisou ausentar-se por motivo de doença, e pediram ao meu amigo para
substituí-lo. Ele sabia pouco de física, mas tinha interesse no assunto, e ao
final se saiu muito bem, embora tivesse apenas um conhecimento ligeiramen-
te superior ao da turma. Alunos universitários costumam dizer que algumas
de suas melhores aulas são as dos professores mais jovens, que têm energia e
entusiasmo de sobra, embora sejam recém-graduados e não se sintam muito
competentes. Portanto, desde que você tenha motivação e esteja disposto a
raciocinar, você se sairá bem e terá um prazer enorme ao expandir seus ho-
rizontes na companhia de seus filhos.
Como um pai pode dar conta de ensinar várias disciplinas, quando seu
tempo já é tão limitado? Em primeiro lugar, você pode atribuir tarefas a cada
dia (escreva-as em um livro de tarefas, onde o aluno assinalará as já concluí-
das), e trabalhar formalmente com as crianças a cada dois dias. Eu consegui
organizar meu cronograma de modo a passar algumas horas em casa duas
manhãs por semana. Quando isto não é possível, separo um tempo à noite
ou no fim de semana. Utilizo este tempo especial para trabalhar matérias que
requerem instrução individual intensiva.
Outras áreas requerem menos trabalho intensivo. Todos os tipos de téc-
nicas podem ser utilizadas para que o trabalho diário seja rapidamente con-
cluído. Nesse momento, para o estudo de ciências, nossos dois filhos mais ve-

223
MARY KAY CLARK

lhos estão lendo capítulos de um livro sobre “fatos fascinantes” (O Grande


Livro do Conhecimento Fascinante [The Big Book of Amazing Knowledge],
publicado pela Creative Child Press) e relatando suas descobertas todas as
noites, durante o jantar. Em matemática, eles fazem exercícios diariamente,
contando com a ajuda da mãe quando necessário, e eu normalmente corrijo
seus trabalhos assim que chego em casa. Quando eles estavam estudando o
catecismo, tinham de me receber todos os dias, quando eu voltava para casa,
com a resposta à pergunta do dia na ponta da língua – o que eles faziam
cheios de orgulho. E assim minha chegada em casa transformava-se em um
divertido método de avaliação escolar.
Perguntam-me com frequência se a tarefa de ser ao mesmo tempo pai e
professor de meus filhos causa conflitos. Parece-me que é muito mais difícil
para uma mãe distinguir seus papéis de mãe e professora, o que torna ainda
mais importante o envolvimento do pai na prática diária do homeschooling.
Para mim tem sido relativamente fácil distinguir os dois papeis, em parte
porque deixo bem claro para as crianças que elas devem me considerar e me
tratar como seu professor durante as aulas.
Uma das melhores partes do homeschooling é que você aprende muito.
Esta é uma verdadeira bênção, pois alimenta seu entusiasmo, o que por sua
vez torna tudo mais fácil também para o aluno. Permitam-me, por um mo-
mento, gabar-me de meus esforços. Eu (gradualmente) assumi cinco discipli-
nas de nosso homeschooling. Como professor de música, passei a dominar
partes da teoria musical que jamais compreendera antes. Senti-me motivado
para melhorar minha própria habilidade técnica. Aprendi aquele terceiro
ou quarto verso obscuro de várias canções que temos apreciado em família.
Como professor de latim, aprendi vários paradigmas – especialmente para
verbos irregulares – que antes não dominara de fato. Ainda não aprendi
nada de muito novo em matemática – embora esteja certo de que o momento
chegará –, mas tenho gostado muito de tentar explicar assuntos como fra-
ções ou o sistema decimal. O mais divertido é tentar encontrar aspectos da
vida cotidiana com os quais as crianças possam praticar. Meu filho Daniel e
eu somos fanáticos pelo jogo Yahtzee; nós registramos nossos pontos, calcu-
lamos as médias uma vez por mês e depois as inserimos em gráficos. Não há
nada melhor do que ensinar matemática a partir de estatísticas de beisebol!
Em educação física, meus papéis de pai e professor confundem-se comple-
tamente! Todos os anos, nós fazemos um “banquete esportivo”, em que os
alunos ganham prêmios por seu desempenho. E, finalmente, sou professor de
religião, um tópico ao qual desejo dar atenção especial.

224
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O papel do pai no ensino de religião

Religião é a disciplina mais difícil dentre as que tenho ministrado, o


que é irônico, pois ensinar religião e teologia é minha profissão. Porém, à
parte minhas dificuldades, creio ser essencial que o pai ensine este tópico,
ou ao menos compartilhe seu ensino com a mãe. Devido às diferenças
inerentes ao homem e à mulher, as mulheres têm uma tendência mais
natural a adotar uma atitude de adoração diante de Deus. Já os homens
têm de abrir mão de uma parte de seu ego para fazer o mesmo – tarefa
que não é fácil. Ainda assim, é absolutamente crucial que as crianças ve-
jam seu pai nessa posição. Elas devem ver seu pai rezar e devem ouvi-lo
falar e ensinar com orgulho sobre o bem mais nobre do homeschooling
católico – a Fé una, santa, católica e apostólica. Nas palavras do Papa
João Paulo II:
Elemento fundamental e insubstituível da educação para a oração é o exem-
plo concreto, o testemunho vivo dos pais: só rezando em conjunto com os
filhos, o pai e a mãe, enquanto cumprem o próprio sacerdócio real, entram na
profundidade do coração dos filhos, deixando marcas que os acontecimentos
futuros da vida não conseguirão fazer desaparecer. (FC, n. 60)

O Papa então cita o apelo do Papa Paulo VI às mães, e em seguida aos pais:
E vós, Pais, sabeis rezar com os vossos filhos, com toda a comunidade domés-
tica, pelo menos algumas vezes? O vosso exemplo, na retidão do pensamento
e da ação, sufragada com alguma oração comum, tem o valor de uma lição de
vida, tem o valor de um ato de culto de mérito particular; levais assim a paz
às paredes domésticas: “Pax huic domui!”. Recordai: deste modo construís a
Igreja! (FC, n. 60)

(Nesta última frase, encontramos um princípio cardeal do pensamento


social católico: que o verdadeiro papel do laicato é construir a Igreja, e não
simplesmente fazendo coisas “igrejeiras” na paróquia, embora a doação da-
queles que dispõem de tempo para tanto seja de valor inestimável; o grande
papel dos leigos é, sim, fazer com que as verdades transcendentais vinguem,
tanto em seu lar quanto na sociedade em geral.)
Quando os filhos veem seu pai levar a religião a sério, aprendem que não
se trata de “coisa de mulher”, mas de algo que diz respeito a todos que se
reconhecem criaturas e não seus próprios deuses. Eles aprendem que a liber-
dade não é “viver do seu jeito” e ser autônomo, mas antes render-se a uma
verdade superior. Somos mais livres quando sujeitos à Verdade.

225
MARY KAY CLARK

Do ponto de vista prático, no que diz respeito à religião, eu sugeriria uma


combinação de catecismo, Bíblia e boas biografias de Santos. Quando meus
filhos estavam aprendendo o catecismo, eles memorizavam uma ou duas
perguntas por dia. Como dito acima, eles me cumprimentavam, quando eu
retornava para casa, com a resposta à pergunta do dia – uma técnica que
funcionou muito bem. E um bônus extra: as respostas do catecismo estão
dadas em frases muito bem escritas, cuja memorização auxilia o estudo de
gramática e redação, além do conteúdo da Fé propriamente.
No contexto do ensino de religião, é importante notar o papel insubsti-
tuível do pai na educação para a castidade. O Papa João Paulo II relaciona
este papel a um dos princípios do pensamento social católico, o princípio da
subsidiariedade, o qual, entre outras coisas, requer que tarefas pertencentes
a um degrau particular da escada social, como o degrau da família, não
sejam assumidas por níveis superiores, como o Estado. Pelo contrário, os
níveis superiores devem servir à família e prestar-lhe auxílio (subsidium) no
cumprimento de sua tarefa.
A educação sexual, direito e dever fundamental dos pais, deve atuar-se sempre
sob a sua solícita guia, quer em casa quer nos centros educativos escolhidos e
controlados por eles. Neste sentido a Igreja reafirma a lei da subsidiariedade,
que a escola deve observar quando coopera na educação sexual, ao imbuir-se
do mesmo espírito que anima os pais. (FC, n. 37)

Esta citação, sozinha, é um excelente argumento em favor do homescho-


oling! O Papa prossegue, apontando o papel central da castidade na forma-
ção da juventude:
Neste contexto é absolutamente irrenunciável a educação para a castidade
como virtude que desenvolve a autêntica maturidade da pessoa e a torna ca-
paz de respeitar e promover o «significado nupcial» do corpo. Melhor, os pais
cristãos reservarão uma particular atenção e cuidado, discernindo os sinais da
chamada de Deus, para a educação para a virgindade como forma suprema
daquele dom de si que constitui o sentido próprio da sexualidade humana.
(FC, n. 37)

Quais os passos práticos que o pai pode dar no sentido de educar seus
filhos para a castidade? Primeiro, ser um homem de verdade e mandar a
televisão para bem longe. Faça isto literalmente, se puder, mas se você for
como eu, ao menos coloque-a sobre rodinhas e a mantenha dentro de um
armário a maior parte do tempo (o rádio é melhor para ouvir beisebol, de
todo o modo). Se você só pudesse fazer uma coisa por sua família, essa seria

226
HOMESCHOOLING CATÓLICO

a melhor opção. A simples ausência da televisão é uma educação para a cas-


tidade e também em muitos outros sentidos.
Mais diretamente, converse com seus filhos sobre as virtudes, ressaltando
sempre a castidade e a pureza. Quando for ensinar o Sexto Mandamento,
explique o significado que tem para eles, isto é, que Deus deseja que eles
respeitam seus corpos e em especial seus órgãos sexuais. Você deve falar de
forma bastante concreta com seus filhos, à medida que eles se aproximarem
e entrarem na puberdade. Defina a pureza em termos claros. Converse sobre
como eles podem resistir a tocar-se, com uma linguagem que seja humana e
não produza culpa excessiva caso eles falhem. Pergunte-lhes regularmente:
“Como você está em relação à pureza?” Não se irrite com eles caso tenham
dificuldades nesse terreno, mas os estimule, lembrando-lhes que Deus será
paciente com eles, ao mesmo tempo em que espera que eles controlem seus
desejos. Essa é, sem dúvida, uma tarefa desafiadora – mas mantenha abertos
os canais de comunicação. Seus filhos saberão que você está aí, disposto a
responder às suas grandes questões quando estas surgirem. Em meio a tudo
isso, você também se sentirá fortalecido na castidade. Enfatize para seus
filhos (e para você mesmo) que ser casto é um ato verdadeiramente heroico.
Quando seus filhos se tornarem adolescentes e começarem a prestar aten-
ção às pessoas do sexo oposto, uma ideia possível é, após uma conversa
apropriada, você dar aos meninos (a mãe pode lidar com as filhas) um anel
especial – um anel de pureza – como sinal ou lembrete de que eles promete-
ram a Deus que vão manter-se castos.

Conclusão

Espero que você considere minhas sugestões como o que são – meras
sugestões. Desde que você abrace totalmente a única ideia não negociável –
envolver-se por inteiro –, todo o resto decorrerá dela à medida que você for
desenvolvendo seus métodos próprios. Como chefes de suas famílias, vocês,
pais, desempenham o papel mais importante de suas vidas. Pois, como nos
diz o Santo Padre, “O futuro da humanidade passa pela família.” (FC, n. 86)
E você pode ter certeza de que Deus lhe dará toda a força e as graças neces-
sárias para você seguir adiante.

Fim da contribuição de Dr. Lowery

227
MARY KAY CLARK

O que pensam as mães

Um amigo meu, que é pai homeschooler e, alguns anos atrás, pales-


trou para nossa Associação de Educadores Domiciliares da Virgínia (Home
Educators Association of Virginia), fez uma pesquisa entre as mães do gru-
po de apoio ao homeschooling do norte da Virgínia. Ele fez a seguinte
pergunta: “Na opinião das mães homeschoolers, qual deve ser o papel de
seus maridos na educação domiciliar de seus filhos?”
A resposta que venceu como número um absoluta dizia que o papel
dos maridos era comprometer-se com o homeschooling e apoiá-lo, incen-
tivando suas esposas e seus filhos. Foi uma surpresa para todos – inclusive
os pais homeschoolers – descobrir que as esposas esperavam dos maridos
uma atitude de apoio e encorajamento, ao invés de que assumissem parte
da tarefa de ensinar.
Algumas mães ressaltaram a importância de os pais serem pacientes quan-
do chegam em casa à noite, mostrando interesse pelo trabalho das crianças,
elogiando o comprometimento da família com o homeschooling e acreditan-
do que tal comprometimento está de acordo com a vontade de Deus.
O segundo ponto mais mencionado pelas mães foi que os pais devem
estar dispostos a aceitar viver um estilo de vida diferente. Elas simples-
mente não conseguem dar conta do trabalho doméstico e da cozinha como
faziam antes do homeschooling, especialmente se as crianças ainda forem
muito pequenas para ajudá-las.
Em terceiro lugar, foi mencionada a necessidade de os pais entenderem
que o homeschooling é difícil para as mães. É uma tarefa que gasta uma
boa quantidade de tempo e energia, sobretudo se a mãe tiver de ensinar
um filho rebelde ou com problemas de aprendizado. As mães gostariam
que seus maridos frequentassem o grupo de apoio de vez em quando, para
ouvir outras pessoas relatarem as situações que enfrentam na prática do
homeschooling.
Em quarto lugar, as mães disseram que os pais devem ter grandes ex-
pectativas quanto aos seus filhos e acreditar na capacidade que eles têm de
atingir seu pleno potencial. Para isso, os pais precisam encorajar e apoiar
as crianças, elogiando seus sucessos e minimizando suas falhas.
Em quinto lugar, as mães gostariam de poder contatar os pais pelo tele-
fone ao longo do dia, para quando ocorrerem problemas disciplinares ou
qualquer situação que possa se beneficiar da intervenção paterna. Normal-
mente, o importante não é nem mesmo a duração da ligação, mas que as

228
HOMESCHOOLING CATÓLICO

crianças saibam que o pai preocupa-se com seus estudos e está a apenas um
telefonema de distância de ser informado do que se passa em casa.
Algumas mães já me disseram que a simples possibilidade de telefonar
aos seus maridos para relatar problemas disciplinares diminui drasticamente
esse tipo de ocorrência. Steve Wood, um pai católico homeschooler com sete
filhos, que dá palestras sobre disciplina, conta que, no início do ano letivo,
caso sua esposa precise contatá-lo no meio do dia para relatar um problema
de comportamento, ele vai para casa lidar com a situação. Isto deixa claro
como as coisas serão ao longo do ano e as crianças percebem que seu pai
leva muito a sério a obediência à mãe.
Os pais precisam perceber que as mães homeschoolers têm algumas ne-
cessidades extras em casa. Por exemplo, eles devem providenciar uma sala
de estudos. Ter um espaço reservado especialmente ao homeschooling ajuda
as mães a manter a ordem e a disciplina, sobretudo ao longo dos anos, com
o aumento dos materiais.
Os pais, tanto quanto as mães, precisam conversar com as crianças sobre
o porquê de a família ter optado pelo homeschooling. Eles devem dar todo
o seu apoio à causa e explicar que o homeschooling é o modo de a família
viver a vida que mais agrada a Jesus.
Os pais devem preocupar-se com a socialização adequada de seus filhos
pré-adolescentes e adolescentes, especialmente os meninos. Precisam passar
tempo com eles, levá-los a atividades supervisionadas ou encorajá-los a par-
ticipar de atividades na igreja.
Nesta pesquisa, a maioria das mães não pedia aos pais que ensinassem
quaisquer disciplinas. Tendo o apoio do pai, elas sentiam que podiam dar
conta sozinhas da tarefa de ensinar.

Disciplina

Teremos outro capítulo sobre disciplina, mas, quando discutimos o papel


dos pais, a educação disciplinar dos filhos sempre entra em questão. Sendo o
chefe da família, é natural que ele tome para si essa função.
Steve Wood, mencionado acima, tem sido um líder ativo do movimento
pró-vida. À medida que intensificou seu envolvimento com atividades pró-
-vida, ele percebeu claramente que um dos principais motivos para que mes-
mo pessoas de bom caráter não queiram ter mais filhos é sua dificuldade
para educar os que já têm. O Sr. Wood acredita que, se nós, católicos, esta-
mos dispostos a “vender” a ideia de que as pessoas devem ter quantos filhos

229
MARY KAY CLARK

Deus quiser lhes enviar e de que devem parar de praticar a contracepção,


então precisamos ajudá-las a resolver os problemas que têm com seus filhos
já nascidos. E o maior desses problemas é a disciplina.
Wood acredita que o mesmo se aplica ao homeschooling. Problemas com
o comportamento das crianças são um dos motivos mais comuns para que
os pais, ou não pratiquem o homeschooling, ou deixam de praticá-lo.
O Livro dos Provérbios é um excelente guia para pais e mães, especial-
mente os pais. São instruções que nos foram dadas por Deus para a forma-
ção e a educação de nossos filhos. De fato, muitos dos versos referem-se a um
filho que está sendo instruído por seu pai:
“Um filho sábio ama a disciplina, mas o incorrigível não aceita repreensões.”
13, 1
“Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa.”
13, 24
“O néscio desdenha a instrução de seu pai, mas o que atende à repreensão
torna-se sábio.” 15, 5
“Um filho insensato é a desgraça de seu pai.” 19, 13
“A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á
dela.” 22, 15

São Paulo, no Capítulo 12, lembra aos Hebreus os mandamentos dos


Provérbios. Ele diz que Deus, como todo bom pai que ama seus filhos, nos
educa, nós que somos Seus filhos. Se as crianças não forem castigadas, não
estarão sendo tratadas como verdadeiros filhos, mas como filhos ilegítimos.
São Paulo diz que os “pais de nossa carne” são nossos instrutores, “e nós os
reverenciamos”.
Em Efésios, Capítulo 6, versículos 1 a 4, São Paulo instrui pais e filhos:
Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo. O pri-
meiro mandamento acompanhado de uma promessa é: Honra teu pai e tua
mãe, para que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a terra. Pais, não exaspereis
vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e doutrina do Senhor.

Alguns anos atrás, o congresso da Associação de Educadores Domicilia-


res da Virgínia teve como tema o papel do pai na família homeschooler. A
inspiração do encontro foi Malaquias 4:6: “E ele converterá o coração dos
pais para os filhos, e o coração dos filhos para os pais”. Nós verdadeiramen-
te acreditamos que, ao estreitar o vínculo com seus filhos, os pais passam a
conhecê-los melhor e a amá-los mais, e os filhos lhes são recíprocos, e encon-
tram motivação para bem cumprir suas tarefas escolares.

230
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Um dos pontos ressaltados por Steve Woods, quanto à formação e à


educação disciplinar das crianças, é a necessidade vital de os pais passarem
tempo com seus filhos. Estes são feitos à imagem e semelhança de seus pais,
assim como todos somos feitos à imagem e semelhança de Deus. As crianças
tendem a imitar seus pais. Se os pais derem bons exemplos, vivendo a au-
têntica vida familiar católica, seus filhos não serão desobedientes e rebeldes
como tantos jovens de hoje em dia. A maioria das crianças de hoje recebe sua
“instrução” de colegas, não dos pais, pois passam grande parte de seu tempo
com os amigos e não com a família. Uma das frases favoritas de Steve Wood
é: “O amor se soletra como T-E-M-P-O”.

Ajuda extra

Já esclarecemos qual a ajuda esperada dos pais em muitas áreas; ainda


precisamos, contudo, discutir alguns outros modos como eles podem prestar
assistência às suas famílias homeschoolers. Os pais podem ajudar com a ma-
nutenção da casa. As mães fazem a vasta maioria dos serviços domésticos,
porém recomendamos que os pais as ajudem sempre que puderem. É certa-
mente um bom exemplo para os filhos, que assim perceberão que o serviço
de casa não é apenas “trabalho de mulher”, mas que uma casa bem cuidada
atende aos interesses de toda a família.

Relatórios de estudo diários

Muitas mães homeschoolers acreditam na importância de o pai pedir


relatórios diários às crianças sobre seu dia de estudos. Essa é a melhor téc-
nica para mantê-las num bom caminho e estimulá-las a concentrar-se em
seu trabalho diário, pois sabem que terão de se reportar ao pai quando ele
chegar em casa.
Além disso, o pai deve perguntar sobre as tarefas domésticas do dia. A
mãe necessita da ajuda dos filhos com a manutenção da casa, mas é comum
que eles só cooperem se souberem que o pai acompanha de perto seu com-
portamento e aplicará os castigos adequados se necessário.
Os pais podem trabalhar com os filhos na montagem de um cronograma
de serviços domésticos, assim como faria um supervisor em um emprego,
essa semelhança pode ser discutida. Com o pai no comando, as crianças
compreenderão melhor a importância do trabalho e de participar das ativi-
dades domésticas.

231
MARY KAY CLARK

Elaboração de projetos

As necessidades físicas do homeschooling são domínio do pai. É preciso di-


nheiro para livros e materiais complementares. Prateleiras extras são uma ne-
cessidade constante. Pais e filhos juntos devem planejar a construção de novas
prateleiras, à medida que a mãe for expandindo a biblioteca da família. O pai
deve cuidar da compra de livros, computadores e outros equipamentos de se-
gunda mão. Isto será de grande serventia à mãe, que passa seus dias dando aulas.
É responsabilidade do pai organizar uma sala de aula ou espaço reser-
vado ao homeschooling – pode ser uma sala de recreação, ou garagem, ou
estúdio, ou um quarto no sótão. Isto também pode ser um projeto de toda a
família, porém o pai precisa dar supervisão. E dinheiro!

Aulas

As aulas são normalmente a parte mais difícil de adequar à rotina dos


pais, mas também são a experiência mais maravilhosa. Recomendamos que
os pais ensinem sobretudo matemática aos seus filhos adolescentes. Mesmo
aulas de apenas quinze minutos por dia ou a cada dois dias, apenas para
ensinar novos conceitos, representam um tempo que as crianças passam com
seu pai. E elas percebem como ele é inteligente! Elas passam a verdadeira-
mente respeitar o pai enquanto autoridade em certas áreas de conhecimento,
ou em todas as áreas, dependendo do caso.
Os pais também devem tentar ensinar ciências, ou ao menos ajudar as
crianças em projetos semanais envolvendo ciências, talvez nas tardes de sá-
bado ou domingo. Podem-se organizar passeios a museus, parques ou ex-
posições. O pai pode especializar-se em oportunidades de aprendizado pela
cidade ou região, como estátuas históricas, cavernas subterrâneas ou igrejas
católicas antigas.
Na maioria das famílias, como os pais se ausentam de casa durante o dia,
ninguém espera que eles se envolvam com a rotina de estudos diária. Esta,
porém, é a falha da nossa sociedade. Os pais devem participar diariamente
dos estudos de seus filhos. Recomendamos às famílias que, se possível, mo-
difiquem seus estilos de vida para que o pai possa estar mais tempo em casa
e ficar mais com a família. Não importa qual seja sua carreira, ela eventual-
mente chegará a um fim. Criar filhos, contudo, tem consequências eternas,
e no fim das contas os pais acabam compreendendo, às vezes tarde demais,
que esse é o principal emprego de suas vidas.

232
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O homeschooling tem levado os pais a valorizar mais o tempo investido


em suas famílias. Muitos deles têm buscado empregos mais próximos de
casa, ou casas que sejam menos dispendiosas. Algumas famílias têm procu-
rado um trabalho para o pai, ou para o pai e a mãe, que possa ser feito de
casa. Além disso, indústrias caseiras são comuns entre famílias homeschoo-
lers, nas quais a família inteira, incluindo as crianças, mantém uma empresa
familiar. Como na Sagrada Família, pais e filhos podem aprender juntos,
trabalhar juntos e orar juntos.
E brincar juntos.
E sacrificar-se juntos.
E crescer juntos.
E amar juntos.

Cuidar de bebês

Alguns pais não gostam de cuidar de bebês, mas é realmente muito útil
para a exausta mãe homeschooler ter uma noite livre para fazer algo com
suas amigas. Algumas mães podem não ter essa necessidade, mas outras sem
dúvida têm.

Aprender sobre homeschooling

O movimento homeschooler americano é uma revolução sutil e crescen-


te, com consequências tanto para vida familiar quanto para a educação do
país. Os motivos para praticar homeschooling, os ensinamentos da Igreja,
passagens bíblicas relativas à educação e ao papel dos pais, as muitas ideias
sobre aprendizado individual e o modo como as crianças aprendem, novas
descobertas nas áreas de religião, história, ciências – todos esses são tópicos
para leitura, aprendizado, estudo e discussão. Os pais devem aceitar o de-
safio de aprender mais sobre homeschooling e envolver-se nesse movimento
que está na vanguarda da revolução educacional deste país.
O movimento homeschooler, ao expandir-se e amadurecer entre os católi-
cos, oferece aos pais uma ocupação estimulante tanto no campo profissional
quanto intelectual. Com o crescimento dos grupos de apoio ao homescho-
oling e com o aumento da militância pela causa, haverá espaço, ou mesmo
a necessidade de que os pais homeschoolers assumam papeis de liderança.

233
MARY KAY CLARK

São José

Nenhuma discussão do papel do pai em uma família homeschooler esta-


ria completa sem a menção a São José. Afinal, Jesus viveu em casa por trinta
anos antes de iniciar Sua vida pública, o que significa que seu vínculo com
Maria e José era sem dúvida muito íntimo.
Em João 5, 19-20, Jesus afirmou que
o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que vê fazer o
Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhantemente o Filho. Pois o Pai
ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz.

Essas palavras deixam claro que, porque Deus Pai ama Deus Filho, mos-
tra a Ele todas as coisas que faz, e então Deus Filho as faz também, imitando
Seu Pai.
Sendo isto verdadeiro, parece lógico que São José tenha dado a Jesus um
bom exemplo, mostrando-Lhe todas as boas coisas que fazia, e no que diz
respeito às coisas humanas Jesus imitava São José.
Embora Jesus seja a Segunda Pessoa da Santa Trindade, era a vontade de
Deus que fosse ressaltada a importância de José como chefe da Sagrada Fa-
mília. Deus enviou em sonho um anjo a José para dizer-lhe que “o que nela
foi concebido veio do Espírito Santo”. Deus enviou um anjo a José instruin-
do-lhe a “fugir para o Egito” para proteger Jesus dos soldados de Herodes.
Foi para José que o anjo apareceu instruindo-lhe a voltar com a família para
Nazaré. Percebe-se, assim, que Deus Pai teve o cuidado de fazer com que o
chefe da Sagrada Família recebesse instruções do Céu, ao invés de o próprio
Jesus instruir Seu pai adotivo. Isto demonstra o profundo respeito que Deus
deseja que esposas e filhos tenham pelos pais de suas famílias.
São José, como pai de família, era responsável por levar Jesus e Maria até
Jerusalém nos dias de festividades judaicas. Assim, é evidente a importância
de os pais se incumbirem de conduzir suas famílias às celebrações religiosas.
Quando Jesus foi encontrado no Templo e respondeu “Acaso não sabíeis
que eu me encontraria na casa de Meu Pai?”, poder-se-ia pensar que estava
iniciando sua vida pública. Mas, pelo contrário, Ele sujeitou-Se voluntária,
imediata e completamente à autoridade de José e Maria pelos dezoito anos
seguintes.
O próprio fato de Jesus sujeitar-Se a Maria e José, embora certamente
não fosse obrigado a fazê-lo, mostra que Ele desejava que nós, pais e filhos,
respeitássemos a autoridade que os pais têm sobre os filhos. Mais do que

234
HOMESCHOOLING CATÓLICO

isso, Ele estava declarando diante de todos nós a importância da obediên-


cia da parte dos filhos e da autoridade da parte dos pais. Trata-se de uma
mensagem poderosa, transmitida de modo extraordinário. Deus sujeita-Se
à autoridade de pais humanos. E o faz por um longo tempo – trinta anos,
como que para enfatizar duplamente a importância da obediência dos filhos
à autoridade dos pais. Jesus realmente nos ensina que a autoridade do pai
dentro da família é de suprema importância, de supremo valor e de suprema
dignidade.
A Sagrada Família em Nazaré nos ensina ainda outra lição: que se, por
um lado, os pais são responsáveis por oferecer bons exemplos, uma educa-
ção religiosa e um trabalho honesto, não devem preocupar-se com prover
mais do que o necessário.
Não há dúvida de que São José guiava sua família através da oração e da
reverência a Deus, do auto sacrifício, da humildade, da pureza e da santida-
de. Rezemos para que nossos pais homeschoolers tenham-no como guia na
condução de suas famílias rumo à autêntica vida católica.

235
Capítulo 8
Disciplina na família
católica homeschooler


Disciplina” talvez seja uma das palavras mais rejeitadas pela nossa so-
ciedade. Com o advento da geração “faça do seu jeito”, o próprio con-
ceito de limite tornou-se uma ideia estranha e antiquada. Para aqueles
que desejam viver uma vida católica, contudo, a disciplina é de primeira
importância. “Disciplina” e “discípulo” vêm da mesma raiz. Se queremos ser
verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, precisamos ter a disciplina necessária
para seguir Seus mandamentos e ensinar nossos filhos a segui-los ao invés de
suas vontades egoístas.
A questão da disciplina afeta inclusive algumas boas e santas famílias
católicas. O motivo mais comum pelo qual as famílias católicas temem
iniciar o homeschooling ou deixam de praticá-lo é o mau comportamento
dos filhos.
É um problema muito sério que acomete a família católica contemporâ-
nea, o fato de que, mesmo rejeitando os valores culturais vigentes, ainda seja
afetada por eles. Mesmo sem se dar conta, muitos pais católicos perderam o
controle sobre seus próprios filhos.
Definição

O que queremos dizer com disciplina? Basicamente, disciplina significa


controle – controle da vontade. Antes de pretendermos ensinar matérias
escolares ou mesmo a Fé aos nossos filhos, precisamos aprender a ter au-
tocontrole, e ensiná-lo aos nossos filhos, para que pratiquemos a vontade
de Deus.
Ser disciplinado é viver com regras. Significa estar sob controle. Para a
família católica, significa obediência às regras de Deus. Uma das definições
que o dicionário dá para a palavra disciplina é “um sistema de práticas ou
regras para membros de uma igreja.” Nos documentos do Concílio Vaticano
II, o lar católico é chamado de “igreja doméstica”, portanto é apropriado
que seja um lar bem disciplinado.
Outra definição para a palavra disciplina, presente na The Catholic
Encyclopedia, é “o chicote ou corda que os monges utilizam nos monasté-
rios para a autoflagelação como modo de mortificação.” A mortificação é
um ato que visa à autodisciplina. São atos praticados para diminuir nosso
amor-próprio e aumentar nosso amor por Deus e pelos outros; para aumen-
tar nossa disposição para sofrer em reparação por nossos próprios pecados
e pelos pecados dos outros.
Antes que possamos contar com a obediência de nossos filhos em relação
a tarefas escolares, precisamos ensiná-los a obedecer primeiramente às re-
gras de Deus e, em segundo lugar, às nossas regras enquanto representantes
de Deus nesse mundo. Nossos filhos precisam compreender os motivos posi-
tivos pelos quais os católicos acreditam na disciplina.
Além de disciplinar nossos filhos, precisamos perceber a necessidade de
nos disciplinarmos como pais e mães. Se nossos filhos perceberem que tam-
bém nós batalhamos para manter bons hábitos de comportamento, tenderão
cada vez mais a unir-se a nós nesse esforço.

A filosofia católica como base para a disciplina

A Igreja Católica ensina que, devido ao Pecado Original, o intelecto do


indivíduo, mesmo após o Batismo, é obscurecido e precisa de orientação
para chegar à verdade. A vontade do homem também é enfraquecida e tem
uma inclinação para o mal. A Graça Divina, através dos Sacramentos e da
oração, ilumina o intelecto para que conheça o bem e guie a vontade no
sentido de escolher o que é bom.
No Antigo Testamento, Deus guiava Seu povo eleito por meio dos líderes
judeus, que representavam a autoridade divina. No Novo Testamento, Cris-
to estabeleceu Sua Igreja, a Igreja Católica, como autoridade a ser seguida
nesse mundo. Seguindo os ensinamentos da Igreja sobre doutrina e moral,
temos acesso ao conhecimento certo e seguro da Verdade.
Todos os católicos têm a obrigação de reconhecer e obedecer à autori-
dade de direito na Terra, a Igreja Católica. Os pais católicos têm a respon-
sabilidade extra de ensinar seus filhos a obedecê-los enquanto autoridades
de direito, estabelecidas por Deus até que eles tenham idade suficiente para
seguir a autoridade da Igreja sem mediadores.
Assim, o objetivo da educação disciplinar na família católica é fazer as
crianças compreenderem a vontade de Deus e praticá-la. Deus dá aos pais,
assim como à Igreja, a autoridade necessária para fazer-se obedecer por seus
filhos. O objetivo final é ajudar cada criança, enquanto indivíduo, a agir
sempre de acordo com a vontade de Deus, e assim tornar-se santa, como
Deus quer que sejamos.
Muitos pais acreditam que sempre deve haver um fator compulsório ex-
terno para que a criança faça o que deve, porém, o objetivo da educação
disciplinar é gerar uma mudança ou autodisciplinação interior, na mente e
na vontade da criança. Se ela conseguir a fazer o certo quando forçada, a
esperança é que isto crie nela um hábito de agir corretamente, que dure por
toda a sua vida.
Ser uma família católica disciplinada significa que todos os membros de-
vem agir constantemente de acordo com a vontade de Deus. Mas, ao mes-
mo tempo, deve haver o reconhecimento de que existe uma batalha interior
incessante, devida ao intelecto obscurecido e à vontade enfraquecida. Cada
membro da família precisa ajudar os demais a discernir a verdade mais niti-
damente e a fazer o certo com maior fidelidade.

Disciplina: treino da vontade

Para nós, católicos, o treino da vontade para fazer o bem é mais im-
portante do que o treino da mente para saber. É inútil à mente saber, se a
vontade escolhe agir malignamente. Os administradores de nossas escolas
públicas acreditam que, quanto mais conhecimento tiverem as crianças,
melhor para elas. Mas, se a vontade não estiver treinada para agir corre-
tamente em relação ao saber, se ela não buscar o bem, qual o ponto de ter
conhecimento?
MARY KAY CLARK

Nas escolas, as crianças aprendem a fazer suas escolhas com base em


suas inclinações pessoais, depois de terem sido supostamente “informadas”
sobre suas opções. As crianças dos Estados Unidos sabem tudo o que há
para saber sobre sexo e drogas e continuam a fazer más escolhas. A conduta
recomendada pelas autoridades pedagógicas é que não se diga qualquer pa-
lavra sobre como fazer o bem e evitar o mal. Os alunos são rebeldes porque
ninguém os ensinou a escolher o bem.
Um bom exemplo disso é o programa de Educação para Combate ao
Abuso de Drogas - ECAD (Drug Abuse Resistance Education), que tem sido
aplicado em muitos distritos escolares de todo o país. Quando se avaliam
os efeitos do programa, descobre-se que os alunos que chegam ao fim do
ECAD têm uma opinião mais negativa sobre as drogas e o álcool do que os
demais alunos. Mas também se descobre que o programa faz pouca ou ne-
nhuma diferença quanto ao real uso de drogas e álcool pelos estudantes. Em
outras palavras, o programa ECAD é eficaz no convencimento do intelecto
(os alunos sabem quais os malefícios das drogas), mas não tem efeito sobre
a vontade (eles continuam tornando-se usuários).
Na encíclica Para a Educação Cristã da Juventude, o Papa Pio XI escre-
veu que a “matéria da educação cristã diz respeito ao homem como um todo,
alma em conjunção com o corpo.” O homem decaído de seu estado original
tem dificuldades para controlar suas paixões e também para aprender sobre
elas. Os principais efeitos do Pecado Original, de fato, são a fraqueza da
vontade e “inclinações desordenadas”.
Tais inclinações, de acordo com o Papa, precisam ser corrigidas. “Boas
tendências” devem ser estimuladas e “orientadas desde a mais tenra infância”.
A vontade deve ser fortalecida pelas verdades sobrenaturais e pela graça. Esse
é o tipo de disciplina de que precisamos em nossas famílias católicas. Sem isso,
é impossível haver qualquer aprendizado real ou educação verdadeira.

O que diz a Bíblia sobre disciplina

A Bíblia tem muito o que dizer aos pais sobre a educação disciplinar
de seus filhos. Deus disse a Moisés de que modo os Mandamentos devem
ser ensinados às crianças pelos pais. Este tema perpassa o Antigo e o Novo
Testamentos.
Por exemplo, o livro dos Provérbios diz:
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam a sa-
bedoria e a instrução. Ouve, meu filho, a instrução de teu pai: não desprezes o

240
HOMESCHOOLING CATÓLICO

ensinamento de tua mãe. Isto será, pois, um diadema de graça para tua cabeça
e um colar para teu pescoço.

Alguns trechos do livro dos Provérbios, que devem ser matéria de refle-
xão para os pais, são os seguintes:
Corrige teu filho e ele te dará repouso e será as delícias de tua vida.
Vara e correção dão a sabedoria; menino abandonado à sua vontade se torna
a vergonha da mãe.
Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer,
dele não se há de afastar.
Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa.
Corrige teu filho enquanto há esperança, mas não te enfureças até fazê-lo
perecer.
A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á
dela.

Outras citações bíblicas que devemos levar em consideração são:


Efésios 6, 4: “Pais, não exaspereis vossos filhos. Pelo contrário, criai-os
na educação e doutrina do Senhor.”
Êxodo 20, 12, Mateus 15, 14 e Efésios 6, 2: “Honra teu pai e tua mãe”.
Colossenses 3, 20: “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais”.
Deuteronômio 27:16: “Maldito o que despreza o pai e a mãe!”
1 Samuel 3:13: “Anunciei-lhe que eu condenaria para sempre a sua fa-
mília, por causa dos crimes que ele sabia que os seus filhos cometiam, e não
os corrigiu.”

Precisamos ter sempre em mente as palavras de Jesus, que são o funda-


mento para a indispensável ênfase espiritual que devemos dar à educação
disciplinar de nossos filhos: “Deixai vir a mim estas criancinhas e não as
impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.”

Bebês

Neste período em que vivemos, educar bebês é especialmente difícil para


os pais católicos. São tempos em que crianças são mortas, antes e depois do
nascimento, e por isso cada um destes seres preciosos e inocentes tem um
significado extra para Deus e para nós. No entanto, é importante proteger-
mos não apenas os corpinhos de nossos bebês, como também suas almas
de inclinações malignas. Proteger suas almas é, de fato, nossa mais grave

241
MARY KAY CLARK

responsabilidade. E o modo mais eficiente de protegermos nossos bebês de


males físicos e espirituais é educá-los e discipliná-los.
Muito se discute, em grupos de homeschooling, sobre camas familiares,
amamentação ecológica, parentalidade com apego, etc. Alguns pais acreditam
que, se um bebê chora, deve sempre ser acalentado. Outros acreditam que, se o
bebê for colocado para tirar uma soneca em um determinado horário todos os
dias, ele chorará por um tempo nos primeiros dias, mas depois se acostumará
com a rotina de sono e não chorará mais. Já outros afirmam que uma mãe que
amamenta pode estabelecer uma rotina de sono ao recolher-se com o bebê em
um certo horário todas as tardes e fazê-lo dormir amamentando.
Como quer que seja, você precisará encontrar um modo de cuidar do
bebê e manter a rotina de estudos de seus demais filhos. Cada mãe deve
encontrar sua própria solução para cada situação, por isso não entrarei em
maiores detalhes, porém lembre-se de que não é bom a criança acostumar-se
a nunca ouvir “não” da mãe, mesmo que seja um bebê.
Você decerto conhece a frase “a mão que balança o berço governa o
mundo”. Ao balançarmos nossos bebês em seus berços, devemos educá-los
para que, quando chegar o dia de eles “governarem” o mundo, o façam com
justiça e autodisciplina.

Crianças pequenas

Os primeiros anos de vida são o momento mais propício à educação


disciplinar de uma criança e provavelmente o período mais importante de
sua vida. Diz-se que uma criança aprende mais durante esses anos do que
ao longo de todos os restantes somados. Embora eu tenha minhas dúvidas
quanto a isso, é certo que atitudes de amor, obediência e respeito são apren-
didas nessa fase.
É um período em que a criança, para garantir sua própria segurança físi-
ca, precisa aprender a obedecer instantaneamente aos seus pais. Ela precisa
reconhecer a legítima autoridade que deles emana e aceitar o fato de que
seus pais sabem o que é melhor para ela, e que obedecer instantaneamente,
sem questionar, é importante.
Os pais jovens precisam entender que é sua responsabilidade disciplinar
seus filhos pequenos, mesmo quando estão exaustos. Às vezes é uma questão
de persistência e uma batalha entre vontades, mas os pais devem perseverar.
Nós, pais, devemos estudar o que a Igreja ensina sobre o Sacramento do
Matrimônio. O Magistério nos diz que os pais dispõem das graças necessá-

242
HOMESCHOOLING CATÓLICO

rias para saber o que é melhor para seus filhos. Deus ordena que, em nome
de nossa vocação parental, exijamos respeito e obediência de nossos filhos,
assim como Ele os exige de nós, que somos Seus filhos.
Temos de ter confiança em nós mesmos, confiança nas graças que Deus
nos envia e em nossa própria experiência de vida e sabedoria. Nós temos a
capacidade de discernir o que é melhor para nossos filhos, e devemos exigi-
-lo sempre.
Devemos estar convictos de que, apesar da televisão, dos psicólogos mo-
dernos e dos assistentes sociais, as crianças absolutamente não sabem o que
é melhor para si mesmas – mas nós, pais, sabemos. Muitos documentos cató-
licos ensinam que os pais, pela lei natural, têm a obrigação de exigir respeito
e obediência de seus filhos.

Amor difícil

Disciplinar crianças pequenas é muito difícil e pode instaurar em nossa


casa um conflito diário entre vontades. Nosso arbítrio parental está fre-
quentemente em conflito com o de uma criancinha linda que nós amamos
mais do que a nós mesmos. Somos capazes de dar nossa vida pela de
nosso precioso filhinho, porém nesse momento não é de nossa vida que
ele precisa, mas de nosso sacrifício pessoal para obrigá-lo a nos obedecer.
A curto prazo, exigir obediência é árduo, mas no futuro nos poupará de
incalculáveis problemas e mágoas. Certa vez fui a um encontro com um
grupo de senhoras idosas que não eram católicas. Quando uma jovem mãe
afirmou que tinha nos braços seu oitavo filho, uma das senhoras disse: “Eu
tive apenas um filho, e para mim já foi suficiente.” Outra disse: “Não con-
segui lidar com mais do que dois”. Disciplina é a chave para a educação
das crianças.
Esse momento da vida de um filho não é compatível com pais de per-
sonalidade complacente. Não é o momento para dizer “mas Maria nunca
espancou Jesus”. Por mais que isto seja verdade, Ele também nunca desafiou
Sua mãe. Ou riscou a mesa de centro de propósito, ou continuou batendo no
vidro do balcão depois de ela Lhe mandar parar dez vezes.
Reze diariamente com seus filhos, inclusive os menores, e peça pelas gra-
ças necessárias, pela força, pela energia para discipliná-los e lhes ensinar a ter
autocontrole, para que, deste modo, aprendam a ser também obedientes ao
seu Pai do céu. Essa é a obrigação primária da vocação maternal.

243
MARY KAY CLARK

Regras domésticas para as crianças pequenas

Determine quais as regras da sua casa e as cole na porta da geladeira ou


em outro local bem visível. Explique-as verbalmente às crianças pequenas.
Mesmo que elas não consigam ler as regras, são capazes de entender que
você leu uma lista de regras e que isso significa que elas precisam segui-las.
Mostre aos seus filhos pequenos como você lê os rótulos de embalagens na
cozinha e receitas em livros culinários, e depois coloque em prática o que
você leu. Mostre-lhes que, seguindo corretamente as instruções, colocando
o forno na temperatura indicada, o resultado será uma refeição saborosa.
Explique aos seus filhos que você lê placas quando dirige, e que ao segui-
-las você chega com segurança ao seu destino. Uma criança pequena conse-
gue entender que deve seguir as regras coladas na geladeira, que você as lê
para ela porque deseja que ela obedeça. Ensine-lhe que, se todos obedecerem
às regras, a família alcançará um objetivo: um lar organizado e agradável.
Ensine-lhe que, aprendendo a seguir as leis de Deus, todos chegaremos ao
objetivo final desta vida: a felicidade no Paraíso, ao lado de Jesus.
Exemplos de regras domésticas que você pode adotar:

• Guardar os brinquedos depois de brincar;


• Recolher roupas sujas;
• Ajudar a mamãe a recolher as roupas sujas no fim do dia;
• Usar um guardanapo para limpar a boca à mesa;
• Fazer as refeições na mesa de jantar e não na sala;
• Não ir ao banheiro sem a mamãe;
• Não bater na mesa;
• Tocar piano com delicadeza;
• Deixar os sapatos do lado de fora.

É evidente que não podemos ter uma lista interminável, mas não é exa-
gerado ter alguns itens para cada ambiente da casa ou ocasião. Um tópico
que costuma ser ignorado na educação de crianças pequenas, e mesmo das
mais velhas, é a cortesia. É vital para o bom funcionamento da casa que as
crianças aprendam a falar e a agir de modo cortês. Caso contrário, haverá
conflitos e disputas, pois cada criança se sentirá desrespeitada pelas outras e
todas terão comportamentos defensivos e agressivos. Não é possível ter um
lar feliz cujos membros não sejam corteses uns com os outros.

244
HOMESCHOOLING CATÓLICO

As crianças pequenas podem e devem aprender o básico da cortesia,


como dizer “por favor” e “obrigado”. Elas devem aprender a pedir com
educação por aquilo que querem e a esperar por um curto período antes de
recebê-lo. Não é raro que mesmo as boas famílias tenham filhos pequenos
com comportamento descontrolado, o que transmite uma péssima impres-
são da família e do homeschooling em geral. Bons modos são importantes e
nunca devem ser considerados dispensáveis.

Psicologia dos pequeninos

As inclinações ocasionadas pelo Pecado Original são muito evidentes


nas crianças pequenas. Muitas gostam de testar a mãe diariamente, de
propósito, para ver quão longe conseguem chegar antes de ser punidas.
As mães às vezes se cansam desse conflito diário e desse esforço incessan-
te para disciplinar os filhos. Os pequeninos muitas vezes conseguem ven-
cer suas mães pelo cansaço. É por esse motivo que nós, mães, precisamos
rezar todos os dias pedindo por graças que nos ajudem a perseverar e nos
manter constantes.
Meninos e meninas que são desobedientes, desrespeitosos e que respon-
dem às suas mães aos treze anos de idade são meninos e meninas que não
foram educados para ser obedientes e respeitosos quando pequenos.
Antes de tudo, é preciso que os pais sejam obedientes a Deus e discipli-
nem seus filhos.
Estabeleça para as crianças pequenas um certo período de tempo a cada
dia durante o qual devem ficar quietas, nem que seja pouco tempo, talvez 15
minutos pela manhã e depois à tarde. Dê-lhes um livro ou um brinquedo,
mas explique que devem brincar quietos. Quando os levar à igreja, insista
para que fiquem sentados durante a Missa.
Quando a criança estiver à mesa durante as refeições, não deixe que fique
pulando ou saindo da cadeira. Ensine-lhe a permanecer sentado por um tem-
po médio, cerca de 15 minutos, durante a refeição.
Dê-se ao trabalho de fazer um treino prático com as crianças pequenas,
para que aprendam a cumprir as regras. Por exemplo, se em sua casa há
a regra de que a criança deve vir para dentro imediatamente quando você
a chamar, pratique essa ação. Mande-a para fora e chame-a para dentro.
Faça isso muitas vezes para que ela compreenda e memorize a regra.

245
MARY KAY CLARK

Catecismo pré-escolar

Quando as crianças forem bem pequenas, mesmo antes de aprenderem a


falar, os pais já devem começar a ensinar-lhes sobre Jesus, sobre Seu amor por
todos nós e sobre a importância de agradá-Lo sendo obediente. Mostre figuras
sagradas à criança. Ensine-lhe a fazer o Sinal da Cruz, a rezar o Pai Nosso,
a Ave Maria, a oração do Anjo da Guarda e a agradecer antes das refeições.
Converse com seu filho sobre o Menino Jesus e como Ele obedecia aos
Seus pais. Leia histórias sobre Jesus e outros relatos bíblicos.
Explique várias e várias vezes ao seu filho que você o ama, independen-
temente do que ele fizer de errado, mas que justamente por amá-lo você
deve ser obediente a Deus e educá-lo, castigando-o quando ele agir de forma
desrespeitosa ou desobediente.
Estabeleça horários regulares para orações, nos quais todos os seus filhos,
inclusive os pequenos, devem unir-se para recitar o Terço e outras orações.
Escolha horários em que as crianças estejam bem dispostas, nunca após o
jantar, quando todos estão cansados. Crianças – sejam pequenas ou maiores
– não devem ser excluídas dos momentos de oração em família. Adapte as
orações e a participação de cada uma de acordo com a idade. No entanto,
mesmo crianças bem pequenas conseguem aprender rapidamente a rezar o
Terço, e não demora para que possam liderar as orações.
Antes de seu quinto aniversário, as crianças devem saber ajoelhar-se an-
tes de sentar no banco da igreja e a manter uma postura respeitável durante
a Missa.

Homeschooling pré-escolar

Pelo bem da disciplina familiar, permita que as crianças pequenas e as que


estiverem em idade pré-escolar participem do programa de homeschooling.
Se seus filhos mais velhos utilizarem carteiras, providencie pequenas cartei-
ras para que os menores sintam-se incluídos nas atividades homeschoolers
da família. Dê-lhes livros de colorir e lápis de cera, ou um pequeno quadro
negro com giz colorido. Permita que eles se sentem em seu colo enquanto
você dá aula. Deixe que eles virem a página do livro para você.
Tente fazer um pouco de homeschooling “formal” com seu filho peque-
no, mesmo que por apenas alguns minutos por dia, se ele ou ela mostrar
interesse. As meninas costumam interessar-se já desde os dois ou três anos
de idade. Crianças em idade pré-escolar podem aprender letras e números. Se

246
HOMESCHOOLING CATÓLICO

você quiser que seus filhos desenvolvam uma atitude positiva em relação aos
estudos, a primeira infância é a melhor época para começar. Quanto mais a
criança se sente parte das atividades escolares da família, menos problemas
com disciplina terá no futuro.
Normalmente, as crianças pequenas absorvem informações das tarefas
de seus irmãos mais velhos, mesmo que fiquem apenas por perto durante as
aulas, brincando no chão. Elas podem não compreender tudo o que memori-
zaram de ouvido, mas o memorizam ainda assim. Quando chega sua vez de
compreender conceitos, como dois mais dois são quatro, ou “O Salvador de
todos os homens é Jesus Cristo”, elas já possuem muitos fatos na memória,
que então serão muito mais facilmente compreendidos. Assim, os problemas
de disciplina diminuem, ao mesmo tempo em que as crianças aprendem mais
fácil e rapidamente.
Caso a criança adoeça e precise ficar de cama, um irmão mais velho
pode ajudá-la a aprender letras e números ou o catecismo da pré-escola, ou
pode ler histórias para ela. Essa é uma boa oportunidade para as crianças
aprenderem a se ajudar mutuamente e para a criança pequena perceber que
precisa da ajuda de seus irmãos mais velhos. É comum crianças mimadas só
aceitarem ajuda da mãe. Incentive nos pequenos uma atitude positiva em
relação à ajuda que os mais velhos podem lhes dar com seus estudos.

Igualdade

Caso seus filhos tenham frequentado a escola antes de você os educar em


casa, seu trabalho de disciplinamento terá de ser recomeçado do zero. Nossa
sociedade tem vendido aos jovens a ideia de que cada pessoa tem o direito
de escolher para si o que bem quiser. Ninguém, nem pais, nem amigos, nem
a sociedade, tem qualquer autoridade sobre quem quer que seja. Este ensino
secular da “liberdade”, que muitos jovens têm acatado, torna muito difícil
para os pais a tarefa de discipliná-los.
A ideia de liberdade individual perverteu-se tanto que muitas crianças
do ensino primário acreditam que suas decisões têm o mesmo valor que as
de seus pais, e consequentemente elas teriam os mesmos direitos e autori-
dade que eles. Os conselheiros tutelares modernos conseguem convencer os
jovens pais a fazer reuniões em família nas quais a criança pode expressar
suas ideias. Reuniões de tal tipo podem ser úteis, porém apenas se os filhos
tiverem consciência de que o pai e a mãe têm a palavra final enquanto chefes
da família. Muitos pais são pressionados, chegando até a ser ameaçados,

247
MARY KAY CLARK

primeiro por conselheiros tutelares e depois por seus próprios filhos, quando
desejam afirmar e assegurar sua autoridade.
Os programas de televisão mostram famílias cujos filhos são tomadores
de decisão em pé de igualdade com seus pais. A situação melhora um pou-
co para quem tem acesso à TV a cabo e pode assistir aos antigos seriados
que mostravam pais e mães “sabendo mais”. Hoje em dia, o conceito de
família vem sendo pervertido. Sitcoms, as famosas comédias de situação,
mostram vários homens criando filhos, ou simplesmente grupos de pessoas
vivendo juntas.

Uma hierarquia de autoridade

A Igreja Católica possui uma hierarquia de autoridade que foi estabele-


cida pelo próprio Jesus Cristo, quando nomeou São Pedro como primeiro
Papa. Sempre que o Papa faz pronunciamentos sobre Fé e Moral, não são
necessários os votos dos bispos (exceto em concílios eclesiásticos). O Papa
fala com autoridade divina, dirigido pelo Espírito Santo. Os bispos devem
obediência ao Papa, os padres devem-na aos bispos e os leigos, aos padres.
Evidentemente, tudo isso está de acordo com as verdades da Igreja, e essa
hierarquia de autoridade deve continuar dentro da família católica. O pai
é o chefe da família, enquanto a mãe é o coração. E os filhos devem obe-
diência a ambos.
Pais que não fazem respeitar sua autoridade não estão seguindo as ins-
truções da Igreja, e seus filhos não estão seguindo o Mandamento Divino
para que honrem e obedeçam aos seus pais. Este Mandamento em particular
era repetido enfática e frequentemente no Antigo Testamento. A obrigação
de disciplinar os filhos está diretamente relacionada à vocação matrimonial
dos pais: educar a prole, o que significa tanto o controle da vontade quanto
a instrução da mente.
Não aceite a visão de que é normal as crianças quererem tomar suas pró-
prias decisões ou que passem por períodos de rebeldia. Não aceite o desres-
peito como um “sinal de que a criança está crescendo”. Não aceite respostas
malcriadas como normais. Não aceite cortes de cabelo bizarros e roupas
estranhas ou imodestas como normais. Esses são sinais externos que eviden-
ciam uma aceitação interna dos valores mundanos.
É TÃO difícil ser forte o tempo todo. Mas faça esse esforço enquanto
eles são jovens e pequenos. A batalha pode ser fatal se você esperar até eles
entrarem na adolescência.

248
HOMESCHOOLING CATÓLICO

A Igreja Católica é como uma mãe amorosa. Suas instruções darão a


você a força e a coragem necessárias para o trabalho de disciplinamento
que é sua obrigação.
Dirigindo-se aos recém-casados, o Papa Pio XII disse:
Crianças são como “caniços agitados pelo vento”. São flores delicadas cujas
pétalas caem com o sopro da mais leve brisa. São um solo virgem no qual
Deus plantou as sementes do bem e que no entanto é sufocado pela (...) “con-
cupiscência da carne e a concupiscência dos olhos, e o orgulho da vida.”
Quem endireitará o caniço? Quem protegerá essas flores? Quem cultivará
esse solo e fará com que as sementes do bem frutifiquem contra as ciladas do
mal? Em primeiro lugar, será a autoridade que governa a família e os filhos:
a autoridade parental.
Pais e mães, hoje, costumam lamentar-se por não conseguirem mais fazer-se
obedecer por seus filhos. Criancinhas teimosas não escutam ninguém; crian-
ças maiores desdenham de toda orientação; rapazes e moças exasperam-se
ao receber qualquer conselho, são surdos a todas as advertências e insistem
em seguir suas próprias ideias, por estarem convencidos de que eles e só eles
são capazes de discernir integralmente as necessidades do modo de vida mo-
derno...
E qual a causa dessa insubordinação? O motivo que se costuma oferecer é
que as crianças de hoje não possuem mais o senso de submissão e respeito às
ordens de seus pais. (...) Tudo o que percebem ao seu redor serve ao propósito
único de aumentar, aguçar, colocar fogo em sua paixão natural e indomada
pela independência, por zombar do passado e ansiar avidamente pelo futuro.
(...)
O exercício normal da autoridade depende não apenas daqueles que devem
obedecer, mas também, e em grande medida, daqueles que comandam. Dizen-
do de forma mais clara: devemos distinguir entre o direito de possuir autori-
dade e dar ordens, por um lado, e por outro aquela excelência moral que é a
essência e o espírito de uma autoridade efetiva, que sabe se impor aos outros
e fazer-se obedecer.
Aquele primeiro direito é conferido a você por Deus no próprio ato de você
tornar-se pai. O segundo é um privilégio que deve ser adquirido e preservado;
ele tanto pode ser perdido como pode ser fortalecido. Seu direito de exercer
autoridade sobre seus filhos não terá grande valor se não for acompanhado
do controle e da influência pessoal que você tem de ter sobre eles, sendo essa
sua única garantia de que eles o obedecerão.
Essa autoridade deve ser temperada (...) com bondade amorosa e encoraja-
mento paciente. Temperar a autoridade com bondade significa vencer a ba-
talha inerente à sua obrigação parental. (...) Todos aqueles que desejam sa-
tisfatoriamente exercer sua autoridade sobre quaisquer outros devem, como
um elemento essencial, primeiro dominar a si próprios, suas paixões, suas

249
MARY KAY CLARK

impressões. Não há real submissão e respeito por qualquer autoridade, a não


ser que aqueles que obedecem sintam que tal autoridade é exercida com ra-
zão, fé e senso de dever, pois apenas deste modo eles perceberão que um dever
similar os obriga a obedecer.
Se as ordens que você dá aos seus filhos e os castigos que lhes impõe forem
fruto de um impulso momentâneo, ou de explosões de impaciência ou imagi-
nação ou algum sentimento cego e irrefletido, elas serão quase sempre arbitrá-
rias ou inconsistentes, e talvez mesmo injustas ou inadequadas.
Mas como você governará seus filhos, se não sabe como dominar seus humo-
res, controlar sua imaginação e dominar a si mesmo? Se em algum momento
você sentir que não está inteiramente no controle de seus sentimentos, então
deixe para mais tarde a correção que deseja fazer ou o castigo que naquele
momento lhe parece justo. A dignidade tranquila com que você falar e cas-
tigar será muito mais efetiva, muito mais educativa e cheia de autoridade...
Não se esqueça de que crianças, independentemente de quão pequenas forem,
são observadoras e percebem num átimo qualquer mudança no humor dos
pais. Desde o berço (...) elas percebem o poder que suas birras e crises de
choro têm sobre os pais, e com inocente esperteza não hesitam em explorá-lo
ao máximo.
Evite tudo o que puder diminuir sua autoridade diante delas. Tome cuidado
para não desgastar sua autoridade com críticas e sugestões infinitas. (...) Evite
enganar seus filhos com explicações falsas. (...) Nunca falsifique a verdade. É
sempre melhor ficar em silêncio. (...) Tome o cuidado de não deixar que qual-
quer sinal de discordância entre vocês [pais] seja aparente. (...) Não cometa
o erro de esperar até que seus filhos sejam grandes para fazê-los sentir o peso
tranquilo de sua autoridade. (...)
Sua autoridade deve ser desprovida de fraqueza, e contudo deve ser fruto do
amor, e enraizada no amor, e sustentada pelo amor. (...) Se você realmente
insuflar com seu amor parental (...) as ordens que der aos seus filhos, essas
ordens encontrarão eco nas íntimas profundezas de seus corações, sem que se
precise dizer muita coisa.
A linguagem do amor é mais eloquente no silêncio do trabalho do que em
muitos discursos. Mil pequenos sinais, uma inflexão da voz, um gesto quase
imperceptível, uma expressão facial, um pequeno sinal de aprovação... Tudo
isso dirá a eles, mais do que quaisquer explicações, quanto afeto há na proi-
bição que tanto lhes desagrada, quanta bondade há escondida na ordem que
tanto os irrita. Deste modo a autoridade lhes parecerá, não um fardo pesado,
não um jugo odioso do qual é necessário libertar-se (...) mas a manifestação
suprema do seu amor por eles.
O exemplo não deve andar de mãos dadas com o amor? Como podem as
crianças, que têm uma inclinação natural para imitar, aprender a obedecer,
caso vejam sua mãe descumprir a ordem do pai, ou pior, discutir com ele;
se na casa houver críticas contínuas a todas as formas de autoridade; se elas

250
HOMESCHOOLING CATÓLICO

virem que seus pais são os primeiros a desobedecer aos mandamentos de Deus
e da Igreja?
Vocês devem ser aos seus filhos aqueles pais cujos modos de falar e agir sir-
vam como modelo de respeito pela autoridade legítima e de fidelidade ao
dever. A partir desse exemplo edificante, eles aprenderão qual a verdadeira
natureza da obediência cristã e como devem praticá-la no convívio com seus
pais, sendo esta uma lição muito muito mais convincente do que qualquer ser-
mão de igual conteúdo. Esteja firmemente convencido de que o bom exemplo
é a herança mais preciosa que você pode dar aos seus filhos.
Papa Pio XII, 1941, Discurso aos Recém-casados

Declaração de princípios

Crianças em idade escolar podem compreender a explicação de por que


vocês fazem homeschooling. Elas precisam compreendê-la. A compreensão
as estimula a ser obedientes, a fazer as tarefas escolares com empenho e aju-
dar com os serviços de casa.
Reserve um tempo, talvez no início de cada trimestre escolar, para expli-
car de novo por que vocês fazem homeschooling. Gaste o dia inteiro com
essa conversa, se necessário, e ajude as crianças a escrever com suas próprias
palavras quais os motivos para estudarem em casa e não em uma escola.
Peça-lhes para colar suas listas de motivos no espaço onde estudam. Elas
podem decorar a folha com canetas coloridas ou mesmo fazer uma moldura.
“Eu faço homeschooling porque amo Jesus e quero aprender mais sobre
Ele com meus pais.” Deixe eles parafrasearem como quiserem, porém a mo-
tivação espiritual é importante.
Ressalte as razões espirituais para vocês estudarem em casa, os motivos
positivos e não os negativos, isto é, os problemas nas escolas. Não fale sobre
drogas ou educação sexual ou falta de disciplina ou ensino insuficiente. Fale
sobre viver a Fé Católica, poder rezar em família durante o dia e usar sacra-
mentais nas festas litúrgicas.
Converse sobre as virtudes com seus filhos, diga-lhes que você deseja que
sua família leve uma vida virtuosa. Explique-lhes que, depois de fé, espe-
rança e caridade, a virtude mais importante é a obediência. Peça-lhes para
pesquisar sobre as virtudes no catecismo e depois escrever e discutir sobre as
virtudes da fé, da esperança e da caridade. Peça para tomarem nota de que as
virtudes morais são prudência, justiça, fortaleza e temperança, e para discu-
tirem também as outras virtudes listadas no catecismo: piedade, patriotismo,

251
MARY KAY CLARK

paciência, humildade. E, por fim, peça-lhes que discutam outras virtudes que
lhes venham à mente.
É possível disciplinar seus filhos, isto é, treiná-los para serem obedientes
e seguir regras e regulamentos. Eles precisam compreender qual o objetivo
superior, qual a missão de cada indivíduo católico e das famílias católicas.
Explique-lhes quantas vezes for necessário que, porque os pais amam a
Deus, devem obedecer-Lhe. Obedecendo-Lhe, você, com seu próprio exem-
plo, ensinará aos seus filhos como comportar-se de acordo com as leis de
Deus e praticar as virtudes cristãs. Para educá-los corretamente, você pode,
sempre que necessário, recorrer a castigos para punir a desobediência às suas
regras.
Explique-lhes sobre o Purgatório e por que Deus demanda justiça em
reparação pelos pecados, seja neste mundo ou no Purgatório. Enriqueça sua
exposição com histórias de santos. Muitos santos jovens rezaram e ofere-
ceram seus sacrifícios e sofrimentos a Jesus em reparação pelos pecados.
Relacione histórias de jovens santos às de seus filhos, explicando-lhes o pro-
pósito da disciplina e de sujeitarmos nossa própria vontade como um ato de
reparação pelos pecados.
Ensine-lhes sobre o Inferno. Por quase dois mil anos, os pais ensinaram
sobre o Inferno e o Juízo Final aos seus filhos. Nós não devemos esconder
deles a existência do Inferno por causa das opiniões de psicólogos modernos.
As crianças precisam conhecer a consequência do pecado, especialmente do
pecado mortal. Afinal, Jesus morreu na Cruz como consequência do pecado
e pela necessidade de reparar tamanhas ofensas a Deus Pai. A discussão do
Inferno e de seus horrores pode ser adaptada ao grau de maturidade da
criança. A Virgem Maria revelou uma visão do Inferno às três crianças de
Fátima, para lembrar-lhes as consequências do pecado.

Uma ditadura do bem

Não administre sua família como uma democracia, mas como uma dita-
dura do bem. Os pais são “ditadores” amorosos porque possuem as graças
necessárias para saber o que é melhor para seus filhos. Um problema que os
pais costumam enfrentar é ter de explicar repetidamente aos seus filhos por
que não devem fazer algo. Explique-lhes uma ou duas vezes, mas não con-
tinue a conversa indefinidamente. Tente não discutir ou aumentar sua voz,
tente não continuar falando e não se exaltar quando uma criança insistir em
fazer a mesma pergunta várias vezes seguidas.

252
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Regras práticas

Para crianças do nível primário, é importante deixar muito claros os regula-


mentos e regras estabelecidos para a casa e a família. A cada trimestre, reserve
um dia para discutir com calma esses regulamentos e ajudar seus filhos a anotá-
-los e memorizá-los. Se você fizer isso no início de cada trimestre do ano letivo,
adaptações necessárias podem ser incorporadas. Oriente as crianças a colar a
lista com as regras na parede da sala de estudos, no quarto, ou na cozinha.
Algumas dessas regras podem ser: acordar em um determinado horário,
arrumar a cama, não correr pela casa e não deixar roupas espalhadas pelo
chão. “Manter o quarto limpo” não é suficientemente específico para crian-
ças. Outras regras ou objetivos, baseados nos Mandamentos, podem ser:
não responder de forma desrespeitosa, não fazer birras, não jogar objetos
nas pessoas e não perturbar irmãos e irmãs. Algumas regras positivas podem
ser: fazer as tarefas escolares no prazo correto, fazer tudo com ordem e cla-
reza, revisar as tarefas e corrigir os erros antes de devolvê-las à mãe. É claro
que não se deve sobrecarregar as crianças com regras. Você pode trabalhar
com algumas por um período de tempo e ir variando. Discutir essas regras
quando todos estiverem calmos resultará em uma maior compreensão e uma
melhor atitude com relação à obediência.
Uma nota de esperança às jovens famílias que estão tendo problemas
para disciplinar seus dois ou três filhos pequenos: acredite ou não, à medida
que sua família for crescendo, a educação disciplinar se torna mais fácil.
Isto ocorre porque, uma vez que os filhos mais velhos tiverem aprendido as
regras e se habituado a obedecê-las, não permitirão que os mais novos as in-
frinjam. Com frequência os mais velhos cuidarão de disciplinar os pequenos
quando a mãe estiver ausente ou ocupada com o bebê. Tenham paciência.
Com o tempo, fica mais fácil!

Algumas referências

Há muitos livros sobre educação disciplinar de crianças, mas você deve


escolher aqueles escritos por católicos. Eu recomendo União Familiar Atra-
vés da Disciplina (Family Bonding Through Discipline). Esse livro contém
capítulos escritos por pais católicos conjuntamente com o Pe. Robert Fox. O
Pe. Fox tem trabalhado com famílias e adolescentes há vários anos, organi-
zando viagens até Fátima. Ele escolheu famílias com filhos bem-comporta-
dos e lhes pediu para escrever sobre seus métodos de disciplinamento.

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MARY KAY CLARK

Outros dois livros bons são Linha da Vida: A Criação Religiosa de Seus
Filhos (Life Line: The Religious Upbringing of Your Children) e Criar Filhos
(Upbringing), de James Stenson. O Sr. Stenson é diretor de escola há muitos
anos, e pediu a diversos pais católicos de filhos bem comportados que conver-
sassem com ele sobre seus métodos práticos. Os capítulos abordam temas como
regras e regulamentos, responsabilidade, coragem e autocontrole. O Sr. Stenson
tornou-se um popular palestrante em conferências sobre criação de filhos.
Steve Wood dá excelentes palestras sobre disciplina baseada em princí-
pios bíblicos. Suas gravações em áudio são disponibilizadas pelo Family Life
Center, Caixa Postal 6060, Port Charlotte, FL 33949, ou em www.dads.org.
O Dr. Ray Guarendi é um psicólogo clínico e radialista que dá palestras
em conferências sobre homeschooling. Ele escreveu vários livros, incluindo
Disciplina para Toda a Vida (Discipline that Lasts a Lifetime) e Você é um
Pai Melhor do que Você Pensa (You’re a Better Parent Than You Think). Seu
site é www.drray.com.
Há alguns pastores protestantes que escreveram livros bastante popula-
res sobre disciplina, como o Dr. Moore e o Dr. Dobson. Caso você os leia,
tenha em mente que as ideias protestantes sobre disciplina são influenciadas
por uma compreensão muito sombria da natureza humana decaída, que não
condiz com a visão católica.

Castigo

Há uma técnica interessante, recomendada por um psicólogo infantil


cristão. Ele recomenda que, quando as crianças fizerem algo errado ou se
recusarem a fazer algo que lhes foi ordenado fazer, você deve contar até três
e depois a criança deve ir para o seu quarto por cinco minutos. Por exemplo,
se você mandar seu filho parar de perturbar o irmão menor e ele não obe-
decer, você diz “Contei até um”. Se ele continuar, você não grita ou discute,
mas diz “Contei até dois”. Se o mau comportamento continuar, você diz
“Contei até três. Agora, cinco minutos!”. Esses cinco minutos significam que
a criança deve ir para o quarto por cinco minutos. Às vezes, é claro, é preciso
arrastá-la até lá, mas depois de mais ou menos uma semana de aplicação
da técnica, ela compreenderá que, quando você começa a contar, se ela não
parar com o mau comportamento, terminará presa no quarto.
Se for tentar esse método, você pode escolher outro lugar que não o quar-
to. Alguns pais escolhem um lugar sem distrações ou brinquedos por perto.
Outras possibilidades são o quarto dos fundos, ou uma área no pátio de en-

254
HOMESCHOOLING CATÓLICO

trada, ou um closet grande. Se a criança for mais nova, alguns pais a colocam
virada para o canto, ou sentada sozinha em uma cadeira, longe dos outros
membros da família. A quantidade de tempo deve ser ajustada à idade da
criança e à seriedade do mau comportamento. Esse tipo de punição tem
como objetivo fazer a criança perceber que, como não agiu corretamente,
perdeu temporariamente o privilégio de participar das atividades da família.
A chave do sucesso para a educação disciplinar de seus filhos é, em pri-
meiro lugar, explicar as regras, depois explicar qual o castigo em caso de
desobediência (a mãe conta até três e depois a criança passa um tempo longe
da família; ou uma palmada) e por fim manter o controle e não discutir nem
exaltar-se. É importante ser firme na aplicação dos castigos.
Há um longo debate em torno da prática do castigo corporal (palmada).
Por um lado, pesquisas já mostraram que praticamente todos os pais se va-
lem desse recurso de vez em quando, mas, por outro, alguns ditos “especia-
listas em crianças” têm afirmado que apanhar dos pais é emocionalmente
maléfico para a criança. No entanto, estudos recentes, incluindo um condu-
zido pelas psicólogas Diana Baumrind e Elizabeth Owens, da Universidade
da Califórnia, em Berkeley, concluíram que a palmada não é emocionalmen-
te prejudicial. No fim das contas, qualquer que seja o caso, resta a questão
de se a palmada é efetiva, o que parece variar de criança para criança. Então,
de novo, essa é uma questão a ser decidida por cada família.

Deixe as crianças tomarem algumas


decisões sobre o homeschooling

Crianças mais velhas precisarão de menos disciplinamento e terão mais


motivação em seus estudos se puderem participar de algumas das decisões
que a família tomar quanto ao homeschooling. Deixe-as ajudar a organi-
zar seu cronograma de serviços domésticos e decidir em quais dias querem
trabalhar cada matéria do programa de estudos. Peça-lhes que desenhem
seu cronograma diário em uma cartolina e o colem na parede da sala onde
estudam. Pergunte se elas têm ideias para projetos de ciências ou para deixar
as aulas de história mais interessantes.

Refeições, estudos e trabalho doméstico

Pequenos truques podem ajudar as crianças mais velhas a aprender a ter


autodisciplina. Por exemplo, você pode relacionar o cronograma de estudos

255
MARY KAY CLARK

às refeições e tarefas domésticas do dia. Condicione o início das refeições à


conclusão de certas tarefas escolares. Um exercício de matemática pode ser
obrigatório antes do café da manhã, certas aulas teriam de ser finalizadas an-
tes do almoço e mais três ou quatro antes do jantar. Isso deve aplicar-se apenas
às crianças mais velhas, a partir dos 10 anos. É um método que ajuda a ressal-
tar a relação entre trabalhar e comer, que é bíblica, e ensina à criança, de forma
dramática, o valor do trabalho do pai pelo bem da família. Tarefas domésticas
devem ser programadas da mesma maneira. Deste modo, a mãe não precisa
ficar o tempo todo “pegando no pé” das crianças para que trabalhem.
O truque é a mãe permanecer firme. Perder uma ou duas refeições não
fará mal à criança; na terceira, os resultados começarão a aparecer. É claro
que você terá de ser realista, sobretudo no início. Não exija trabalho demais.
Por exemplo, você quer que o pequeno Joey, que está na quinta série, faça
duas páginas de matemática meia hora antes do café da manhã. Você deve,
contudo, pedir-lhe apenas uma página no dia em que começar o novo pro-
grama de “Matemática antes do café”. Após cerca de dois dias, peça uma
página e meia. Alguns dias depois, peça duas.
Além disso, os serviços domésticos devem ser programados entre as au-
las. Isso fará com que seus filhos sejam periodicamente ativos ao longo do
dia, e também ajudará na questão da disciplina, pois eles terão períodos
frequentes, embora breves, de atividade física durante o dia escolar. Se o ser-
viço doméstico for deixado para o fim do dia, depois das aulas, as crianças
estarão mais resistentes e será mais difícil discipliná-las.
Algumas crianças têm pouca autodisciplina por não dominarem o con-
ceito de tempo. Elas se desconcentram durante suas tarefas e começam a
divagar. Se você tiver um filho assim, providencie um despertador para que
ele coloque sobre a mesa em que estuda. Ajuste o alarme para soar ao fim do
tempo necessário para a conclusão de uma tarefa. Ao trabalhar diariamente
com o relógio, ele começará a perceber quanto tempo é necessário para o
estudo de cada disciplina, e então conseguirá ritmar seu trabalho. Isto ensina
a ter disciplina, autocontrole e responsabilidade – e poupa a mãe de ter de
supervisionar a criança o tempo inteiro.

A síndrome do “Eu sou burro”

Em uma família numerosa, é provável que você tenha um filho com essa
síndrome. Ele pode ser muito inteligente, mas com toda a atividade familiar
acontecendo ao seu redor e a atração exercida pela rua, ele tem dificuldade

256
HOMESCHOOLING CATÓLICO

para manter o ritmo de estudo, especialmente em comparação com seus ir-


mãos. Então ele reclama e resmunga: “Eu sou burro”. Ele resiste a fazer suas
tarefas porque os outros estão se saindo melhor ou evoluindo mais rápido.
Converse com ele e mostre-lhe os diferentes dons que cada membro da
família recebeu de Deus. Fale sobre os talentos da mãe, do pai e dos avós.
Fale sobre os talentos que ele herdou de você e de seu esposo. Explique-lhe
que Deus decidiu que, em uma sociedade eficiente, as coisas só funcionam
bem porque cada pessoa tem diferentes talentos e habilidades e, consequen-
temente, cada um atua em áreas e trabalhos diferentes.
Permita que esse filho passe mais tempo trabalhando nas disciplinas ou
tarefas em que se sinta vitorioso. Caso ele goste de desenhar, peça-lhe para
fazer cartões de aniversário aos primos. Se ele tiver uma excelente coordena-
ção para arremessos de basquete, veja com outras famílias homeschoolers se
não haveria interesse em formar um time de basquete.
Ressalte o aspecto espiritual. Diga-lhe para pedir ao seu anjo da guarda
para ajudá-lo a fazer o seu melhor, em honra de seu santo padroeiro e do
Menino Jesus. Existiram muitos santos que não iam bem na escola ou eram
considerados “burros”. Santo Tomás de Aquino – talvez o maior dos Dou-
tores da Igreja – era chamado de “boi pateta” por seus colegas de classe. O
grande pároco Jean Vianney foi o último a se graduar em sua turma do se-
minário e precisou de aulas particulares para passar nos exames necessários
para tornar-se padre.

Saiba como cada filho aprende

Às vezes os problemas de disciplina surgem porque as crianças se frus-


tram durante o processo de aprendizado. Meninos pequenos, por exemplo,
costumam aprender melhor oralmente, ouvindo histórias que alguém lê para
eles. É claro que em algum momento precisam aprender a ler, mas alguns
podem não estar prontos para isso antes dos sete ou oito anos. Então, pres-
te atenção ao modo como cada criança aprende melhor e prepare as au-
las segundo seu estilo de aprendizado. Utilizar o método apropriado para a
criança, disciplina por disciplina, aumentará seu desempenho acadêmico e
diminuirá os problemas de comportamento.
Você não deve, é claro, valer-se de um único método pedagógico. Se a
criança aprender melhor ouvindo, ainda assim é bom praticar com palavras
escritas e enunciados narrativos. Quando ela crescer e for para a faculdade e
para o trabalho, terá de dominar habilidades variadas.

257
MARY KAY CLARK

É comum surgirem problemas de disciplina durante tarefas que envolvem


a escrita. A maioria dos meninos têm problemas com caligrafia, pois o de-
senvolvimento de seus bíceps e tríceps é mais lento. Eles conseguem girar um
bastão, arremessar bolas de basquete dentro de um aro e sacar uma bola de
vôlei por cima de uma rede, mas escrever traçados pequeninos em um espaço
minúsculo entre linhas paralelas de uma folha de papel simplesmente não é
um esforço natural para pessoas jovens do sexo masculino.
Com seus meninos, tente resolver tarefas oralmente. Eles podem gravar
algumas das respostas em um gravador. (Eles adoram ouvir sua própria voz.)
Outra opção que dá certo é fazê-los digitar as respostas em um processador
de texto. Os meninos se saem muito bem nisso, pois podem fazer correções
sem ter de reescrever o relatório ou exercício inteiro.
Não desista de ensinar caligrafia aos seus filhos homens, mas para tarefas
mais longas, ou quando eles estiverem frustrados ou prestes a desenvolver
um problema disciplinar, é uma boa ideia tentar o processador de texto. O
produto final será até legível!

Ajuste o nível de esforço

Problemas de disciplina costumam surgir quando a tarefa é muito difícil, ou


muito fácil, ou muito chata, ou muito repetitiva. No homeschooling, mesmo se
você seguir um programa, os materiais devem ser ajustados às habilidades dos
seus filhos. A maioria dos programas de homeschooling customiza seus ma-
teriais, de modo que, por exemplo, um aluno pode estar na quinta série, mas
aprendendo o conteúdo de matemática da quarta série e ortografia da sexta.
As escolas de homeschooling enviam testes que ajudam os pais e a pró-
pria escola a identificar a série apropriada para a criança em cada disciplina.
Contudo, esses testes são apenas um fator entre outros. A melhor avaliação
é sempre a que é feita pelos pais durante o trabalho diário com seus filhos.

Invista no trabalho de memorização

É comum ocorrerem problemas de disciplina quando as crianças não têm


certos conceitos básicos na memória. Elas se frustram quando passam longas
horas tentando resolver problemas de Matemática antes de terem memori-
zado as tabuadas. Elas se frustram com o trabalho de memorização do Livro
Dois do catecismo, quando ainda não têm um bom domínio das perguntas
e respostas do Livro Um.

258
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Uma das atitudes típicas da sociedade atual é considerar que nada precisa
ser memorizado. “Tudo vai mudar mesmo, então por que nos darmos ao
trabalho de memorizar algo hoje?” Muitas coisas, porém, não mudam. Os
ensinamentos católicos não mudam, a Bíblia não muda; as regras de adição
e subtração não mudam. É importante memorizar os conceitos básicos de
cada área do conhecimento.
Uma verdade muito importante, que deve ser trazida à discussão atual
sobre disciplina, é a seguinte: as crianças são mais disciplinadas em seus es-
tudos quando memorizam conceitos básicos. Além disso, o próprio trabalho
de memorização ajuda a discipliná-las, pois força a mente a tentar aprender
os fatos de maneira lógica.

Se seu filho frequentou a escola

Não há dúvida quanto a este fato; muitas mães homeschoolers podem


atestá-lo: quanto mais tempo uma criança passou na escola, mais difícil é
discipliná-la e educá-la em casa, especialmente durante o primeiro ano.
Não apenas são crianças que costumam estar academicamente atrasadas,
como suas atitudes e seu comportamento em relação aos estudos, aos pais e
à família quase sempre foram negativamente moldados pelo ambiente esco-
lar, por colegas, pelos livros didáticos seculares e pelos professores.
O modo de vida e os princípios católicos adotados pela sua família ho-
meschooler provavelmente vão de encontro a tudo o que seu filho vinha
aprendendo nos livros didáticos seculares e politicamente corretos utiliza-
dos tanto nas escolas públicas quanto nas católicas. Seus valores familiares
conflitam com os que seu filho vinha assimilando a partir do convívio com
a maioria dos coleguinhas.
Seu modo de ver a família vai de encontro ao afirmado pelos professores
nas escolas, os quais se valem da sala de aula para promover sua opinião
– ou a da Associação Educacional Nacional (National Education Associa-
tion) – de que vivemos em uma nova ordem mundial onde a “família” está
sendo redefinida; um mundo em que pais e mães são meros cuidadores e não
figuras de insubstituível importância para o desenvolvimento de seus filhos,
tanto do ponto de vista emocional quanto espiritual.
Quanto menos tempo seus filhos tiverem passado na escola, menos pro-
blemas disciplinares você terá. Eu tenho uma caixa cheia de cartas de pais
e avós, onde eles relatam a diferença entre o comportamento das crianças
quando frequentavam a escola e durante o homeschooling. Uma avó conta

259
MARY KAY CLARK

que sua neta era uma menina dócil quando estudava em casa, mas a família
se mudou e decidiu matriculá-la em uma pequena escola pública rural. A
menina sofreu uma transformação imediata, e após quatro anos havia se
tornado maliciosa, era violenta com seu irmão menor, mentia descaradamen-
te e gritava para a avó que queria que seu irmão morresse. A avó percebeu
que a neta estava manifestando as frustrações e o comportamento de que
precisava para sobreviver e ser aceita em uma escola que eliminara Deus
das salas de aula. A avó me escreveu, afirmando ter certeza de que todas as
crianças do país estavam aprendendo a rejeitar Deus, mas que ela decidira
recomeçar o homeschooling com sua neta, na esperança de trazê-la de volta
para a Fé Católica.

Algumas regras para ajudar a manter o controle

Exclua do convívio da família as influências mundanas e anticristãs, como


amiguinhos com valores conflitantes, alguns estilos de roupas e cortes de ca-
belo, CDs de rock, palavras, frases e conversas vulgares, “amigos” violentos.
Tenha sempre em casa quadros, ilustrações, filmes, DVDs e livros sobre san-
tos adolescentes. Não permita pôsteres de “heróis” seculares nas paredes dos
quartos. Faça seções de cinema em família com bons filmes católicos ou mo-
ralizantes, ao invés de permitir que seus filhos vão ao cinema na rua. Não os
deixe frequentar quaisquer cursos, como de esportes ou artes, sem que você
os monitore nas primeiras aulas. É comum os professores desses cursos não
terem controle sobre os alunos. E alunos indisciplinados, mesmo em turmas
de bairro, podem influenciar seu filho a adotar a linguagem, o tipo de roupa
e o comportamento exigido para se ter a aceitação do grupo. Supervisione
mesmo as aulas do programa de Confraternidade da Doutrina Cristã, que,
afinal, se destinam aos alunos de escolas públicas.
Há, é claro, a televisão. Muitas famílias homeschoolers optam por não
ter uma em casa. Se você tiver, não deixe de monitorar o que as crianças as-
sistem. A maioria dos programas refletem os valores pagãos de nossa socie-
dade. Mesmo alguns desenhos animados mostram cenas de sexo e violência
e promovem atividades criminais e ocultistas. Isso está muito detalhadamen-
te documentado em um livro chamado Controle Mental aos Sábados de
Manhã (Saturday Morning Mind Control), de Phil Phillips.
O Sr. Phillips estudou brinquedos que promovem a agressividade. Ele
analisou os vídeos games, alguns dos quais têm como objetivo explodir pes-
soas, lugares e objetos. Heróis e vilões praticam atos de violência com bas-

260
HOMESCHOOLING CATÓLICO

tões e espadas; eles atacam seus inimigos, atirando-os em vãos do metrô ou


armando terríveis armadilhas mortais. Os jogos de computador comumente
retratam espíritos malignos, personagens demoníacos e bruxaria. Muitos de-
finem seu público-alvo como “os interessados em astrologia, magia, previsão
do futuro e mistérios antigos.” (p. 151, Phillips)
O Sr. Phillips também pesquisou as histórias em quadrinhos:
Muitas dessas histórias têm enredos perversamente anticristãos. Algumas
abordam de forma explícita temas como reencarnação, mediunidade espiri-
tual e o uso de poderes psíquicos e de cristais para obter poder e exercê-lo.
(p. 155, Phillips)

A respeito de sua pesquisa sobre filmes infantis, Phillips escreve:


Em Os Ursinhos Carinhosos – O Filme II, um espírito maligno toma o corpo
de um garoto de 14 anos. Rainbow Brite e o Roubo das Estrelas é um filme
infantil que contém quase tudo o que um pai não deseja ensinar ao seu filho:
ganância, egocentrismo, violência, sexismo e maldade generalizada. (p. 159,
Phillips)

Esses e muitos outros filmes infantis são analisados pelo Sr. Phillips.
Vivemos em uma sociedade pagã e o único modo de criar nossos filhos
como cristãos é mantê-los distantes de influências anticatólicas e contrárias
à família e à vida. É praticamente certo que, se as crianças forem constante-
mente expostas a essas influências, seu comportamento será problemático.

Aulas da Confraternidade da Doutrina Cristã (CDC)

Alguns pais homeschoolers perguntam se seus filhos devem frequentar as


aulas de religião (CDC) de sua paróquia. Muitos professores da CDC são
influenciados pelo mundo e não são necessariamente fiéis católicos. Alguns
deles nem sequer fingem ser católicos. Já houve casos de pais não católicos
serem contratados como professores da CDC ou mesmo como Diretores de
Educação Religiosa em programas da CDC. Isso não nos surpreende, já que
professores não católicos e mesmo não cristãos têm ensinado em escolas,
faculdades e seminários “católicos”.
Os alunos da CDC vêm de escolas públicas e são muito influenciados
pelo currículo e pelo ambiente pagãos ali vigentes. O programa da CDC foi
pensado especificamente para crianças de escolas não católicas e não para
famílias homeschoolers que ensinam um currículo católico. Assim sendo, as
aulas do CDC às vezes apresentam valores conflitantes com os das famílias

261
MARY KAY CLARK

católicas homeschoolers, seja por causa do professor, dos alunos ou do ma-


terial utilizado.
Se você quiser que seu filho frequente o programa da CDC, não deixe
de se inteirar das aulas antes de permiti-lo. Verifique quem é o professor, se
a turma é disciplinada, qual o material didático e quem são os alunos. Eu,
certa vez, assisti a uma aula de educação religiosa para crianças pequenas
na qual o padre não tinha qualquer controle sobre um menino que era ex-
tremamente violento com as outras crianças, empurrando-as e chutando-as
o tempo inteiro. Muitos professores são incapazes de manter a disciplina em
sala de aula, e muitas crianças inocentes acabam sendo fisicamente violenta-
das bem ali, diante de quem deveria protegê-las.

Catolicismo integrado à vida familiar

O melhor modo de você manter a disciplina em sua casa é integrar a


vida sacramental católica à sua vida familiar. Se você e seus filhos viverem
diariamente a Fé católica, rezando o Terço, usando o escapulário, confeccio-
nando coroas do Advento, decorando o altar no mês maio e todas as demais
práticas litúrgicas ao longo do ano, será mais fácil ensinar-lhes bons compor-
tamentos. Eles obedecerão às suas ordens e instruções. O vínculo espiritual e
o respeito, baseados na compreensão que terão da autoridade espiritual, não
deixarão que desenvolvam problemas de disciplina.
O fato de nossos vizinhos terem tanta dificuldade para disciplinar seus
filhos não significa o mesmo acontecerá conosco. Não significa que teremos
problemas com o comportamento de nossos filhos, nem que devemos aceitar
problemas desse tipo como normais.
As famílias católicas homeschoolers tendem a não ter grande dificuldade
para disciplinar seus filhos. É uma questão de assumir o controle quando as
crianças são pequenas e saber mantê-lo. A tarefa não é fácil, mas é funda-
mental para que as crianças não se tornem rebeldes e o homeschooling seja
bem sucedido.

Ensinos Fundamental e Médio

A educação disciplinar deve ser iniciada com os bebês ou, nas palavras da
orientação papal, desde o berço. Deve ser mantida consistentemente durante
a primeira infância, até cerca dos doze anos de idade. Aos doze ou treze anos,
espera-se que a criança seja bem-comportada.

262
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Alguns pais provavelmente rirão diante da ideia de que adolescentes po-


dem ter autocontrole, pois os jovens de hoje são o que há de pior em termos
de disciplina. Eles respondem de forma desrespeitosa, usam roupas e cortes
de cabelo bizarros ou imodestos, têm piercings por todo o corpo, gastam
dinheiro insensatamente, passam tempo demais com seus amigos, falam de-
mais ao telefone (e ainda insistem em ter seu próprio telefone celular ou car-
ro) e, de modo geral, estão fora do controle de seus pais. Alguns pais pensam
que tudo isso faz parte do processo de crescimento da criança, que é devido
à diferença entre gerações, ou alguma outra desculpa secular moderna.
Em uma família católica homeschooler, na qual o disciplinamento começa
quando as crianças são bem pequenas, podemos praticamente garantir que os
problemas mais comuns da adolescência não existirão. Na verdade, muitos
pais homeschoolers dizem que os anos da adolescência são os melhores para
o homeschooling, pois os filhos já têm autodisciplina e automotivação, bem
como métodos de estudo bem desenvolvidos. Além disso, os adolescentes aju-
dam as crianças mais novas com seus estudos, ajudam a cuidar dos bebês, a
cuidar da casa e também auxiliam o pai em sua atividade profissional. Mais
ainda, eles são pessoas interessantes, capazes de manter com os pais discussões
consistentes sobre questões importantes. Muitos começam bem cedo a ter au-
las vocacionais ou a assistir aulas em faculdades; eles envolvem-se em ativida-
des na igreja ou começam a ajudar em clínicas de apoio a mulheres grávidas.
Pais homeschoolers que têm filhos adolescentes educados em casa desde
cedo certamente testemunharão que uma de suas maiores alegrias são seus
adolescentes. Esses jovens adultos são felizes, maduros, bons alunos, bons
católicos e bons cidadãos. Eles preocupam-se com as questões fundamentais
de nossa sociedade. Ao contrário de muitos adolescentes, eles são socialmen-
te ajustados.
Nas biografias de pessoas de sucesso, sejam santos ou heróis patriotas,
lemos que a maioria já demonstrava maturidade desde muito cedo. As escolas
de hoje em dia estão impedindo o amadurecimento das pessoas, especialmente
quando se trata de maturidade espiritual. Esse é o ponto central. Com matu-
ridade espiritual vem a maturidade em muitas outras áreas. Os adolescentes
homeschoolers, com sua maturidade, são uma grande bênção para os pais.

Disciplina para jovens adultos

Para o adolescente que não teve o benefício de estudar em casa durante


as primeiras séries, o homeschooling pode exigir um difícil período de adap-

263
MARY KAY CLARK

tação. É comum os adolescentes não se adaptarem em escolas cujos valores


vão de encontro aos de suas famílias, e por isso, embora inseguros, eles não
costumam resistir à ideia de estudar em casa. Mesmo que atravessem perío-
dos de dificuldade, eles se dispõem a trabalhar duro para continuar em casa,
longe do ambiente hostil que conheceram na escola.
Mas é claro que também há os que resistem ao homeschooling. Trazê-los
para casa pode ser uma experiência terrível. Alguns são ressentidos e rebel-
des, causando sérias rupturas no seio da família. Eles afirmam os valores e
comportamentos pagãos e são resistentes à mudança.
Mesmo assim, os pais devem persistir na batalha e ensinar-lhes a obediên-
cia. Durante o primeiro ano de homeschooling de um adolescente, pode ser
necessário restringir seus estudos a apenas duas ou três matérias. O principal
objetivo do primeiro ano em casa será o disciplinamento; isto é, ensinar-lhe
a ter respeito pela autoridade, o significado da obediência, as virtudes da ca-
ridade, bondade e humildade. O adolescente precisa descobrir Jesus e Maria,
rezar diariamente, ir à Missa diariamente, se possível, voltar a confessar-se
regularmente e assim por diante.
Muitos de vocês devem lembrar-se do filme O Milagre de Anne Sullivan
(The Miracle Worker), sobre Hellen Keller e sua professora Anne Sullivan.
Anne literalmente lutou com Helen para fazê-la mudar de atitude. As mães
de filhos autistas têm o tempo todo de tocar, puxar e empurrar seus filhos,
no sentido mais concreto possível, para que eles saiam de si mesmos e ve-
nham para a realidade. Quando as mães amam seus filhos, são capazes de
percorrer grandes distâncias para ajudá-los a superar terríveis deficiências.
Se um adolescente que frequentou a escola tiver assimilado as atitudes e
comportamentos típicos do ambiente escolar, seus pais homeschoolers terão
de tomar medidas drásticas e ter uma grande perseverança física e emocional
para salvar a alma de seu filho.
Nos primeiros meses de um adolescente em casa, o treino da vontade
deve ser priorizado em detrimento do ensino acadêmico. Com a graça de
Deus e o amor e a paciência dos pais, o jovem pode ser modificado e vir a
aceitar a autêntica vida familiar católica.

O pai pode ajudar

A pessoa mais apta a ajudar a mãe com problemas de disciplina é, evi-


dentemente, o pai. Deus deu aos pais um certo jeito autoritário de falar, que
tem como efeito fazer com que os filhos obedeçam rapidamente. O interesse

264
HOMESCHOOLING CATÓLICO

e a participação do pai no homeschooling e na educação disciplinar é um


forte fator de motivação para os filhos. Isso é válido especialmente no caso
dos adolescentes.
Por outro lado, quando o pai não apoia, ou se critica abertamente o
homeschooling, será difícil obter sucesso. As crianças, embora quase sempre
por pura inocência, tentam piorar o conflito entre os pais, normalmente mais
como um modo de manifestar infelicidade do que por qualquer prazer pes-
soal em fomentar discussões.
O pai precisa ensinar e reforçar certas atitudes concernentes ao trabalho:
que este é importante, que Deus espera que nós trabalhemos, que o trabalho
é um mandamento de Deus, que nós recebemos graças quando cumprimos
bem nossas tarefas escolares e que Deus nos ensina através da Bíblia que,
se não trabalharmos, não teremos o que comer! Caso o pai trabalhe fora
de casa, pode levar os filhos consigo (um de cada vez), para ajudá-los a
compreender a importância do trabalho paterno para a família. As crianças
precisam entender que é o trabalho que garante a comida e a segurança da
família e que um trabalho bem feito é fonte de alegria humana.
Na encíclica Acerca da Educação Cristã da Juventude22, o Papa Pio XI
cita a instrução prática de São Paulo aos Efésios: “Ó pais, não provoqueis à
ira os vossos filhos.” O Papa explica que este equívoco de provocar as crian-
ças à ira é resultado
não tanto de excessiva severidade quanto principalmente da impaciência, da
ignorância dos modos mais adequados à frutuosa correcção e ainda do já
demasiado e comum relaxamento da disciplina familiar, aonde crescem indó-
mitas as paixões dos adolescentes.

Pais e mães disciplinados

Nós, pais e mães homeschoolers, precisamos aprender a ser disciplinados,


assim como o exigimos de nossos filhos. Mary Kay Ash, da Mary Kay Cos-
méticos, em sua autobiografia, descreve como sua vida é extremamente bem
ordenada. Ela acorda antes do resto da família, faz suas orações e trabalha
por uma hora na tranquilidade da manhã. Ela também reserva, é claro, um
tempo para maquiar-se com seus produtos Mary Kay e sentir-se mais bonita.
Nós precisamos fazer o mesmo, de um ponto de vista católico.

22 http://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_31121929_divi-
ni-illius-magistri.html

265
MARY KAY CLARK

O melhor modo de você disciplinar-se é montar um cronograma para


cada dia. Um caderno para planejamento de aulas, como os que utilizamos
no ensino de nossos filhos, funciona muito bem como caderno de planeja-
mento pessoal. Você pode encontrá-los em papelarias. Utilizo-os há muitos
anos para fazer listas com o que preciso fazer todos os dias. Providencie um
que seja grande o suficiente para você anotar tudo o que queira. Mantenha-o
na cozinha ou em qualquer lugar onde você possa facilmente encontrá-lo ao
longo do dia. Pode ficar perto do telefone ou sobre sua penteadeira. Prenda a
ele uma caneta, para que não precise ficar procurando algo com que escrever.
Comece cada dia consultando seu caderno de planejamento. Utilize-o ao
longo do dia, anotando horários de compromissos, ligações telefônicas que
precisa fazer, ocasiões especiais com as crianças, horários de Missa ou outros
eventos religiosos e assim por diante. Você também pode acrescentar itens
relativos ao homeschooling, embora estes disponham de bastante espaço nos
cadernos de planejamento de aulas. Antes de se deitar à noite, marque os
itens já cumpridos e passe para o dia seguinte o que ainda precisa ser feito.
Se você não estabelecer metas diárias, não cumprirá muitos dos compro-
missos e acabará se sentindo frustrada por não ter feito nada. Caso você se
faça frequentemente a pergunta “onde foi parar o dia?”, com um caderno de
planejamento é possível saber de antemão para onde você está indo, e ao fim
do dia você saberá exatamente por onde andou.

Bom exemplo

Em um discurso de 1941, o Papa Pio XII orientou os pais a darem bons


exemplos aos seus filhos, sendo este o modo mais eficiente de discipliná-los.
Ele perguntou:
Seria coerente repreender uma criança pelas mesmas faltas que você comete
diariamente diante dela? Querer que ela seja obediente e submissa, se você
critica seus superiores civis ou eclesiásticos e desobedece os mandamentos de
Deus ou as leis da justiça?
Será razoável querer que seus filhos sejam fieis se você é desleal, pacientes se
você é violento e irritadiço? O exemplo é sempre o melhor professor.

Com o amor guiado pela razão e a razão guiada pela fé, a educação domici-
liar não se sujeitará aos extremos deploráveis que com frequência a ameaçam:
alternar indulgência débil com severidade cruel, ir da complacência culpável,
deixando a criança sem orientação, ao castigo severo, desamparando-a. A
afeição dos pais, estando sob controle, (...) deve empregar elogios e correções

266
HOMESCHOOLING CATÓLICO

com igual moderação. Deste modo, será totalmente eficaz e merecerá o amor
da criança.

Em outro discurso de 1941, o Papa Pio XII aconselhou os pais a respeito


da educação disciplinar dos filhos:
Você deve criá-los na Fé e no temor de Deus. Faça com que assimilem o con-
ceito de vida correta, que os torna cristãos, os coloca no caminho da virtude e
os guia entre os perigos dos muitos inimigos insidiosos da juventude.
Seja-lhes um exemplo na busca de tudo o que for bom, comporte-se de tal
modo que aos seus filhos baste espelhar suas vidas na sua...
Eduque-os para que a luz de suas vidas seja observar você, imitar você, lem-
brar-se, no dia em que você não estiver mais com eles, de seus conselhos, con-
firmados pelo seu perfeito cumprimento de todas as obrigações da vida cristã,
por seu senso de dever forte e refinado, por sua fé e confiança inabaláveis em
Deus, mesmo diante das mais severas provações, e pela afeição mútua que
haverá entre vocês, fortalecida pelo passar dos anos e por sua atitude caridosa
diante de todo tipo de sofrimento.

A Sagrada Família

Para ensinarmos nossos filhos a nos obedecer da mesma forma como


Jesus obedecia a Seus pais, devemos estudar as vidas de Maria e José. Eles
foram obedientes à lei de Moisés ao apresentar Jesus ao Templo, em Jerusa-
lém, quando Ele tinha doze anos de idade. A Sagrada Família participou da
celebração da Páscoa por oito dias; após José e Maria procurarem durante
três dias por Jesus que se perdera, Ele explicou-lhes que, em obediência ao
Seu Pai do céu, fora visitar Sua casa. E então retomou a viagem com Maria
e José e sujeitou-Se a eles e às suas ordens.
Nosso primeiro objetivo com o homeschooling deve ser apresentar nos-
sos filhos a Deus, ensinando-lhes a Palavra Divina e as orações e celebrações
das festividades litúrgicas, e ensinando-lhes também a ser obedientes a nós,
pais, que somos os representantes de Deus para guiá-los em sua imaturidade.
Por fim, devemos também nós disciplinar-nos, seguindo os mandamentos de
Deus e dando bons exemplos.

267
Capítulo 9
Administração doméstica na
família católica homeschooler
A Sra. Ginny Seuffert é mãe de doze filhos, pratica o homeschooling há
muitos anos e é palestrante em conferências sobre homeschooling

T
enho uma amiga mais velha que já não está bem de saúde e sente-se
frustrada quando não consegue lembrar de algum evento recente, ou
quando não encontra a palavra de que precisa para expressar um
pensamento. No entanto, ela é capaz de relatar, em detalhes vívidos, sua
infância em um lar cheio de amor. Oitenta anos depois, são memórias que
permanecem frescas e vivas. Que presente seus pais lhe deram!
Não importa que tipo de tristeza nossos filhos venham a enfrentar na
idade adulta, memórias de um lar feliz, afetuoso e bem ordenado os susten-
tarão. Um lar tranquilo é o cenário ideal para lhes transmitirmos nossa bela
crença católica. Armados com a verdadeira Fé e os valores de seus pais, nos-
sos filhos nunca estarão sozinhos diante das tribulações que ocorrem na vida
de qualquer pessoa. Eles sempre terão sua fé em Cristo, seus Anjos da Guar-
da e o conforto da Mãe Santíssima. Na rotina de uma família homeschooler,
um cronograma confiável dá aos pequenos o tempo e a oportunidade para
desenvolver uma vida de oração regular. Uma vida doméstica tranquila e
bem administrada resulta em atitudes de serenidade e confiança, que os au-
xiliam em seu desenvolvimento intelectual.
Diante disso, não é triste que a sociedade americana moderna reserve seu
reconhecimento e seu apoio apenas às conquistas profissionais que ocorrem
fora de casa? Nós subestimamos o papel insubstituível dos pais (sobretudo
das mães) em fazer de nossas casas lugares de onde surgirá a próxima gera-
ção de santos e bons cidadãos. Não deveríamos devotar aos nossos lares a
energia e criatividade que hoje reservamos ao ambiente de trabalho?
A chave para uma administração doméstica de sucesso, portanto, é res-
taurar aos lares católicos, a essas verdadeiras igrejas domésticas, o seu lugar
de direito enquanto pedra de toque da sociedade. Devemos aplicar às nossas
casas as mesmas atitudes profissionais e o enfoque em objetivos concretos
que um CEO utiliza na gestão de uma empresa citada na lista Fortune 500.

Uma rotina típica

Tratar nosso trabalho doméstico como um trabalho profissional digno de


valor significa pensar sobre como o realizamos, ao invés de apenas reprodu-
zir a mesma rotina de nossas mães ou avós. A rotina diária a seguir, que é,
de modo geral, como as coisas funcionam para a minha família, é oferecida
como um ponto de partida para que você e outros membros de sua família
possam começar a pensar sobre como gerir sua casa de um modo eficiente,
econômico e alegre.
Um bom dia na verdade começa antes das preces noturnas, no dia an-
terior. Reserve um momento para organizar os quartos. Faça as crianças
guardarem os brinquedos, recolher roupas sujas e organizar escrivaninhas e
mesas. Peça também para escolherem as roupas que usarão no dia seguinte.
Deste modo você pode aprovar suas escolhas e lidar com eventuais proble-
mas (“Mãe! Não tenho meias limpas!”) antes que se tornem emergenciais.
Você provavelmente não precisará varrer e passar aspirador de pó, de modo
que não levará mais do que dez minutos em cada quarto.
No dia seguinte, tente levantar ao menos 30 minutos antes do resto da famí-
lia. Assim você poderá fazer com calma a Oferta da Manhã e planejar-se para o
dia escolar sem ter cada pensamento seu interrompido pela voz de uma criança.
Em seguida, vista-se e se arrume para o dia (mesmo que esteja usando um mole-
tom e rabo de cavalo). Tente fazer sua cama antes de ir para a cozinha.
Eu começo o homeschooling com as crianças mais novas assim que reti-
ro a mesa do café da manhã. Normalmente passo exercícios de matemática
ou fônica, para que eles resolvam na mesa da cozinha, mais ou menos sozi-
nhos, enquanto eu lavo a louça. Meus dois filhos mais velhos estudam por
conta própria em outros cômodos. Meu filho de quatro anos brinca com o
irmão menor.
Lavada a louça, o resto da manhã é dedicado ao homeschooling. Nor-
malmente trabalhamos religião, leitura e inglês, disciplinas com as quais as
crianças menores podem precisar de ajuda. Após as crianças da segunda e
da terceira série terem finalizado a maior parte de seu trabalho, elas ficam
com o bebê para que eu possa dar uma aula de leitura ao filho que está na
pré-escola. Minhas duas filhas mais velhas, da sétima e da quarta série, vêm
até mim conforme necessitam de ajuda.
Normalmente fazemos um longo intervalo para o almoço, de uma hora
ou mais. As meninas mais velhas cozinham para as crianças menores en-
quanto eu dobro uma leva de roupa e coloco outra na máquina. As crianças
têm um tempo de recreio enquanto eu como e lavo mais louças. Às vezes,
vou à Missa do meio-dia.
Antes de as crianças recomeçarem os estudos, planejo o jantar. Tudo o
que puder ser preparado de antemão é feito agora. Pensando com calma,
o preparo de quase todas as refeições pode ser iniciado horas antes. Por
exemplo, você pode fazer almôndegas e lavar batatas ao meio-dia. Será fácil
colocá-las no forno às 16:30h para jantar às 18:00h. Folhas verdes podem
ser lavadas e cortadas no meio do dia, deixadas para secar em uma peneira
e colocadas na geladeira até a hora da refeição. Esse tipo de planejamento e
preparação prévia realmente compensa quando o jantar está se aproximan-
do e a mãe está levando as crianças para atividades extracurriculares, o pai
está chegando, o bebê está agitado e o telefone não para de tocar.
Recomeçamos os estudos por volta das 13:00h. As crianças mais novas
podem colorir um mapa ou formar palavras, ou trabalhar em um projeto de
arte ou ciências. Dou mais atenção às meninas mais velhas, corrigindo seus
trabalhos da manhã, verificando sua ortografia e vocabulário ou revisando
um trabalho escrito no computador. No melhor dos cenários, o bebê estará
tirando uma soneca nesse momento.
Por volta das 15:00h, o dia escolar acabou. Agora é hora de limpar a
principal área de estar da casa. Peça para as crianças limparem a bagunça
que fizeram enquanto você dava aula. Certifique-se de que os banheiros,
especialmente a pia e o vaso, estão limpos, passe o aspirador de pó, varra o
chão e organize a sala de estar e a cozinha. Dobre o restante da roupa lavada
e guarde nos respectivos quartos.
Em seguida, peça a um filho para pôr a mesa. Essa é uma tarefa excelente
para crianças em idade pré-escolar, pois você estará na sala para supervisio-
MARY KAY CLARK

nar e, quando os pratos estiverem postos, será fácil acrescentar os talheres,


guardanapos e copos. Ao terminar de utilizar uma panela ou utensílio de
cozinha, lave-o imediatamente. O jantar será mais agradável se você não
tiver que olhar para uma pia cheia de louças sujas. Após o jantar, a limpeza
será mais fácil também.
Em nossa casa, a mãe e o pai normalmente lavam a louça com o filho
mais velho, enquanto as meninas mais velhas dão banho nas crianças pe-
quenas e as aprontam para dormir. As crianças do meio cuidam-se sozinhas.
À hora em que as crianças estiverem se aprontando para dormir, sua casa
deve estar razoavelmente organizada, a cozinha e os banheiros limpos e as
roupas lavadas.

Trabalho de fim de semana

Uma rotina diária, similar à que acabei de traçar, manterá sua casa em
ordem, com refeições decentes sobre a mesa e roupas limpas nos armários.
Ao mesmo tempo, seus filhos estarão obtendo a melhor educação disponível
nos Estados Unidos hoje. Na maioria dos casos, contudo, e especialmente
em famílias numerosas, você ainda precisará dos fins de semana para dar
conta de tudo.
Eu uso os fins de semana para corrigir tarefas, preparar aulas e organizar
as atividades das crianças para a semana que vai começar. Isto é importante
sobretudo para os alunos mais velhos, que fazem sozinhos a maior parte de
seu trabalho. Mesmo os homeschoolers motivados e experientes precisam
ter seus exercícios corrigidos e seu progresso monitorado. Esse apanhado
semanal torna o fim de cada trimestre menos estressante.
Sábado também é o dia de a família debruçar-se sobre tarefas domésticas
mais pesadas, como lavar janelas, lavar o chão, esfregar os azulejos ao redor
da banheira, passar roupa e fazer compras no supermercado. Reserve o do-
mingo como um dia de adoração e visitas a familiares e amigos. É crucial que
crianças educadas em casa tenham momentos de socialização com crianças
de outras famílias católicas praticantes. As memórias dessa época feliz e as
amizades que aí se construíram durarão por toda a vida.
Este é o momento em que devo apontar um fato que muitas mulheres
cristãs trabalhadoras hesitam em admitir: não há desgraça em contratar aju-
da doméstica. No ano em que comecei o homeschooling, utilizei o dinheiro
que vínhamos gastando com a escola para contratar uma faxineira que vi-
nha duas ou três vezes por semana. Não me valho mais desses serviços, mas

272
HOMESCHOOLING CATÓLICO

sem dúvida foi o que me ajudou a passar pelo “olho do furacão” e me deu
tempo para ganhar confiança em minha capacidade de ensinar meus pró-
prios filhos e desenvolver uma rotina diária.
O homeschooling, especialmente se você tiver muitos filhos e alguns
deles nas séries mais avançadas, não é algo que pode ser feito durante
o seu tempo livre. Muitas famílias mandam seus filhos de volta para a
escola quando o fardo parece insuportável, o que pode acontecer com a
chegada de um novo bebê. Contratar ajuda doméstica pode ajudar você a
passar por esses momentos difíceis. Antes de pagar para enviar seus filhos
a escolas públicas, onde eles podem perder a Fé, experimente contratar
um serviço de limpeza. Mesmo que apenas uma vez por mês (para tirar
as teias de aranha antes que sua casa pareça mal-assombrada), será um
verdadeiro bálsamo.
Se você não puder pagar por esse tipo de serviço, seja criativa. Uma ideia
é mandar as camisas do seu marido para a lavanderia. Também é possível
pagar a crianças da vizinhança para que cortem a grama ou retirem a neve
da frente de casa. Você pode pedir a uma adolescente conhecida para olhar
as crianças por algumas horas toda semana, dando a você tempo livre para
os afazeres domésticos. Peça aos parentes, como presente de natal ou aniver-
sário, uma faxina paga.
Se nada disso for possível para você, ainda não coloque as crianças na
escola! Arregace as mangas e inicie a difícil tarefa de treinar seus filhos para
ajudar em casa.

Motivando as crianças

A chave para treinar seus filhos para cuidar da casa é começar cedo e
manter-se firme. Reze para o Anjo da Guarda deles pedindo ajuda nessa
importante tarefa. Dê-lhes o exemplo da Sagrada Família e acrescente à sua
Oferta Matinal a jaculatória “Jesus, Maria e José, rogai por nós agora e na
hora de nossa morte, Amém”.
Uma especialista em homeschooling sugere que você mantenha um cesto
no canto do berço de seu filho pequeno e o faça colocar dentro dele animais
de pelúcia e outros brinquedos de berço antes de você pegá-lo no colo. Co-
meçar mais cedo do que isso, impossível! Sem dúvida, em algum momento
entre as idades de um e dois anos, todas as crianças podem ser treinadas para
seguir instruções simples. “Pegue aquela fralda” e “Coloque isso no cesto”
são apenas dois exemplos.

273
MARY KAY CLARK

A maioria das crianças de três anos adoram ajudar a mãe e são capazes
de desempenhar muitas tarefas simples. Eles podem esvaziar cestos de lixo,
desde que com ajuda, passar um pano na mesa da cozinha e nos assentos das
cadeiras e recolher a roupa suja.
Crianças de quatro anos devem ser responsáveis por colocar suas pró-
prias roupas na respectiva gaveta da cômoda, arrumar a mesa de jantar e dar
comida ao animal de estimação da família.
Aos cinco anos, a maioria das crianças já consegue varrer ou passar aspi-
rador de pó no chão (bem, talvez não seja o melhor trabalho para elas!), re-
tirar o pó dos móveis e até dobrar roupas limpas. Assim que tiver certeza de
que seu filho não colocará nenhuma substância perigosa na boca e é capaz
de compreender regras de segurança, ele pode aprender a limpar o banheiro.
A maioria dos pais dirá que o problema não é que seus filhos não sabem
fazer o serviço doméstico, mas que não querem. Eu também gostaria de vê-
-los trabalhar felizes, porém meu marido diz que isso é impossível e que, se
eles gostassem de fazer trabalho doméstico nessa idade, não precisariam de
pai e mãe. Sendo assim, compartilharei algumas dicas que podem ser úteis
para você:
1. Não permita que seus filhos discutam com você. Reclamações como
“Por que eu tenho que fazer isso o tempo inteiro?” devem ser respondidas
com “A única resposta que quero ouvir de você é ‘Sim, mãe.’”
2. Dê aos seus filhos o bom exemplo de um adulto trabalhador. Sou grata
aos meus pais, que transmitiram esse valor a mim e aos meus irmãos, princi-
palmente através de suas próprias ações. Todos os meus irmãos são pessoas
trabalhadoras que não temem novos desafios. Meu marido dá um excelente
exemplo aos nossos filhos.
3. Lembre às crianças que há trabalho para fazer, mesmo que seja pela
quinta vez, com o mesmo tom de voz que você usou da primeira vez. Comen-
tários como “Quantas vezes eu tenho que dizer que...?” feitos com um grito
agudo são compreensíveis mas ineficazes. Uma atmosfera cortês e razoavel-
mente quieta é mais difícil de manter-se em uma família numerosa, porém é
de extrema importância.
4. Lembre-se de que seus filhos lhe devem respeito e pronta obediência.
Faça-os lembrar de que a desobediência deliberada é um pecado contra o
Quarto Mandamento e deve ser confessado.
5. Agradeça aos seus filhos quando fizerem um bom trabalho, e os elogie,
de forma que eles possam ouvir, para o pai e os irmãos.

274
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Uma rotina eficiente para a lavanderia

Tenho assistido a uma série de palestras de uma mulher que dirige uma
escola para ingressantes no ramo de hotelaria e administração hospitalar.
Após vinte e um anos de casamento e onze filhos, finalmente fiz as pazes com
minha lavanderia. Assim como com todo o resto, pensar no melhor modo de
desempenhar a tarefa de lavar roupas faz com que você dinamize a opera-
ção. Eis algumas ideias simples que têm funcionado para mim:
1. Peça para o seu marido afixar uma barra de pendurar roupas ao lado
da máquina de lavar, para que camisetas e calças possam ser penduradas
assim que estiverem secas.
2. Compre um pacote de alfinetes grandes e peça aos membros da famí-
lia para prender juntas as duas meias de um mesmo par antes de colocá-las
nos cestos.
3. Compre três cestos e escreva em cada um deles as palavras “claro”,
“escuro” e “branco”, para que as pessoas coloquem as roupas nos lugares
apropriados. O fato de as roupas já estarem separadas possibilitará a você
colocar uma leva de roupa na máquina com muito mais agilidade.
4. Dobre cada leva assim que estiver finalizada. Não deixe a roupa limpa
acumular!
Nem todas as ideias deste capítulo são aplicáveis a todas as situações,
porém um pouco de reflexão fará com que você chegue às suas próprias
soluções. Reze à Virgem Santíssima pedindo para que ajude você a espelhar
sua casa na dela.

Fim da contribuição de Ginny Seuffert

As ideias de Ginny Seuffert sobre administração doméstica são sem dú-


vida muito boas e você não se arrependerá de implementá-las. Ao longo de
sua prática do homeschooling, você fará ajustes e acabará encontrando seu
próprio modo de fazer as coisas.
O homeschooling de sucesso depende de uma administração doméstica
de sucesso. Se uma mãe sentir que não consegue manter sua casa decente, sua
frustração se refletirá em sua função como professora, ou levará ao término
dessa função.
Muitas mães me telefonam para dizer que têm medo de iniciar o homes-
chooling porque são desorganizadas. Elas acreditam que não conseguirão ad-
ministrar o trabalho de casa e os estudos de seus filhos ao mesmo tempo. Bem,

275
MARY KAY CLARK

precisamos estabelecer prioridades aqui. Permitiremos que nossos filhos sejam


expostos a aulas de educação sexual, ou que sejam ridicularizados por colegas
por usarem um escapulário, ou que ouçam os professores dizerem que seus pais
são “antiquados” e que eles podem escolher seus próprios valores? Permitire-
mos tudo isso por sermos desorganizadas, ou por termos medo de não ter tem-
po para cuidar da casa? Precisamos ter nossas vidas e nós mesmas sob controle!
Organizar significa unir partes para que funcionem como um todo. Para
nós, mães homeschoolers, significa sermos suficientemente eficientes em cada
parte, ou seja, nas tarefas do dia a dia, para que nosso homeschooling fun-
cione integralmente e consigamos treinar nossos filhos para ser católicos
educados e praticantes.
Mães homeschoolers precisam ser organizadas quanto à administração
de seus lares por diversos motivos: para que tenham controle sobre suas pró-
prias vidas; para que deem bons exemplos a seus filhos; para trazerem calma
e estabilidade à casa; para alcançarem metas e não se sentirem frustradas
e infelizes; e para proporcionar aos seus filhos um ambiente católico onde
possam aprender e viver a Fé.

Estabelecer cronogramas

A mãe homeschooler é a gerente de um pequeno negócio. Ela precisa


controlar o que acontece em seu doce lar homeschooler. Minha primeira
recomendação é que você providencie um caderno de planejamento. Você
pode comprar um específico para professores, vendido pela Seton ou em
lojas de materiais de escritório, ou mesmo um caderno de planejamento para
empresários, vendido na seção de papelaria de lojas de departamento. Se
você tiver facilidade com computadores, pode manter um cronograma diário
em versão virtual. A maioria dos celulares também contam com as funções
de calendário, listas de compromissos e alarmes.
Antes de alcançarmos a ordem, precisamos defini-la. Para algumas mães,
ordenação significa que tudo esteja em seu devido lugar, as coisas sejam
feitas em determinados horários e a casa seja organizada diariamente. A or-
dem, porém, como tantas outras coisas, pode ser estar mais em uma atitude
mental do que nos objetos ao seu redor.
Um executivo muito ocupado tem uma mesa cheia de pilhas de trabalho.
Para um estranho, sua mesa está desorganizada. Mas, se vem alguém e or-
ganiza os papeis que estão sobre a mesa, ele se desespera. Ele mantém certas
pilhas de papel em certos lugares, alguns tipos de documentos em certas pi-

276
HOMESCHOOLING CATÓLICO

lhas e conhece a ordem que há em meio à “desordem”. Ele está mentalmente


confortável com a situação de sua mesa.
Nós, mães, precisamos rezar para alcançarmos o entendimento adequado
do que significa ter uma casa organizada. Precisamos conseguir trabalhar, mas
isso não significa que sejamos obrigadas a passar pano no chão todos os dias
ou que tudo deva estar no lugar o tempo todo. Precisamos encontrar a paz
dentro de nós mesmas, aceitar uma certa quantidade de imperfeição ao nosso
redor e perceber que as aulas diárias do homeschooling, que abrangem valores
espirituais, são muito mais importantes do que a perfeita ordem física da casa.
Isto não quer dizer que não possamos melhorar, aprendendo cada vez
mais a manter as coisas em seus devidos lugares e a casa limpa e organizada.
Precisamos continuar tentando e, à medida que nossa família for crescendo,
precisamos ensinar esses valores aos nossos filhos. De fato, eles precisam de
prática nessa área!

Cômodos limpos

Tenho me esforçado para manter as principais áreas de minha casa sob


controle. Assim, caso alguém venha nos visitar, verá que a sala de estar, a
sala de jantar e o hall de entrada estão limpos. Sinto-me melhor quando as
principais áreas de convivência da casa estão organizadas e limpas.
Anos atrás, quando eu não trabalhava em tempo integral, fazia os meni-
nos limparem seus quartos semanalmente. Porém, era raro eu me irritar com
a condição de seus quartos. Havia muitas outras coisas importantes, como
recitar o Terço todos os dias.
Mantenho um armário exclusivo para utensílios de cozinha. Não há nada
mais maravilhoso do que um armário inteiro com muitas prateleiras onde
posso colocar desde tigelas e panelas até a peneira e o mixer. Em uma casa
pequena, você pode guardar esses itens em uma prateleira da lavanderia.
Uma mãe me ensinou seu truque para guardar os sapatos e botas de sua
família numerosa: seu marido construiu prateleiras na entrada da porta dos
fundos. Todos os sapatos e botas são guardados ali e não geram confusão
espalhados pela casa e embaixo das camas.
Além disso, tenho um lugar para guardar coisas que não estão sendo uti-
lizadas. Costuma ser um canto do porão, mas também pode ser um quarto
pequeno ou um closet grande.
Quando for limpar um quarto, peça ao seu filho para juntar tudo o que
tiver que ser jogado fora e colocar em um saco de lixo. Itens que pertencem

277
MARY KAY CLARK

a outras áreas da casa devem ser colocados em pilhas de acordo com a área.
Assim que o quarto estiver livre de todos esses itens, as pilhas podem ser
levadas ao cômodo a que pertencem.

Fazer um cronograma para a limpeza

Nós, mães homeschoolers, por sermos muito ocupadas, precisamos desen-


volver uma forte personalidade gestora e treinar nossos filhos para que nos
ajudem com a manutenção de nossas casas. O pai deve participar verificando,
todas as noites, que as crianças cumpriram suas tarefas domésticas e escolares.
Programe o que você precisa fazer a cada hora, a cada dia, a cada sema-
na. Isso se aplica ao homeschooling, ao trabalho doméstico, à Missa e às
orações. (As orações, quase inevitavelmente, ficam para trás, se não consta-
rem em um cronograma fixo – e não estiverem listadas em primeiro lugar!)
Atribua tarefas domésticas a cada filho em seu caderno de planejamento.
Estas também devem estar anotadas no caderno de planejamento de lições
da criança, ou coladas em uma parede da cozinha.
Faça cronogramas para todos os afazeres, o mais detalhadamente possí-
vel: refeições, serviço doméstico, hora de dormir, hora de acordar, trabalhos
escolares. Você e seus filhos precisam de um cronograma regular. Você se sen-
tirá emocionalmente e até fisicamente melhor se comer, trabalhar e dormir
de acordo com um cronograma.
Faça as crianças ajudarem com o serviço de casa. Programe tarefas do-
mésticas nos intervalos do cronograma escolar diário. Fazer as camas ou
colocar uma leva de roupa na máquina podem ser tarefas agendadas entre
as aulas de história e ciências. Outras tarefas são tirar o lixo, varrer o chão,
passar aspirador no carpete, tirar o pó dos móveis, cortar a grama, trazer
madeira para dentro de casa (se você tiver uma lareira), arrumar a sala de
estudos ou a sala de recreação, e assim por diante.
Uma mãe homeschooler com dez filhos me disse que seu sucesso se de-
via em grande medida ao fato de ela ter um cronograma diário e “segui-lo
religiosamente”. Em suas palavras, seu cronograma nunca estava atrasado
“nem mesmo em cinco minutos”.

As refeições

Mantenha suas refeições organizadas. A regularidade das refeições fami-


liares é muito importante para as crianças. Dê-lhes diferentes responsabili-

278
HOMESCHOOLING CATÓLICO

dades na hora de colocar a mesa e preparar a comida. Estabeleça horários e


procedimentos regulares: oração antes da refeição, regras de cortesia, forma
correta de se vestir à mesa e assim por diante.
Há muitos pequenos truques para ajudar a preparar refeições. Quando
for fazer o jantar, prepare o suficiente para ao menos duas noites. Eu sempre
faço dois bolos de carne, ou uma receita dupla de frango, ou cozido suficien-
te para duas noites. Tenho uma amiga que, além de ser mãe homeschooler,
é parteira e possui uma família numerosa de oito filhos; ela reserva um dia
por mês para cozinhar, com a ajuda de seus filhos, TRINTA refeições! Ela as
congela e, nas semanas seguintes, tem o prato principal pronto em minutos.
Isto dá um novo significado a “Semper Paratus!” (sempre pronto).
Reduza o número de objetos que você tem na cozinha ou na despensa.
Doe copos e pratos extras. Mantenha apenas aquilo que você está disposta
a lavar. Da última vez que me mudei, eu avaliei cada item da cozinha para
determinar o quanto realmente precisava de cada coisa. Doei toneladas de
objetos. Eu realmente gosto de ter menos coisas para limpar. Sou uma grande
entusiasta da utilização de pratos descartáveis no café da manhã, no almoço
e no jantar durante a semana.

Sua maior ajuda, seus filhos

É importante ensinar seus filhos a ajudar com os serviços domésticos. É


impossível para uma mãe homeschooler ser uma boa professora e ainda cui-
dar da casa sozinha. Mas as crianças não devem ajudar apenas porque a mãe
precisa, e sim por ser moralmente uma questão de justiça que elas aprendam
a trabalhar como parte da equipe familiar. Além disso, Deus nos fez de tal
modo que precisamos trabalhar para ser felizes, e as crianças devem estar
cientes disso.
Muitos adolescentes e adultos vivem sem desfrutar da alegria e da felici-
dade que o trabalho pode trazer. Como Jesus era “submisso” aos Seus pais,
podemos presumir que José ensinou-Lhe o ofício da carpintaria. Precisamos
lembrar a nossos filhos que Jesus tinha trinta anos de idade quando come-
çou Sua pregação pública, e São José já havia morrido a essa altura. Assim,
sabemos que Jesus trabalhou para ajudar seu padrasto e mais tarde para
sustentar a Si e a Maria. Ele era conhecido como “o Filho do carpinteiro”.
Já se constatou que a maioria dos homens que têm problemas para man-
ter empregos não trabalhavam quando mais novos: ou vieram de famílias
abastadas, ou foram mimados, ou não tiveram quem se importasse com o

279
MARY KAY CLARK

fato de trabalharem ou não. Além disso, quando não se exige que as crianças
façam serviços domésticos, é difícil convencê-las a cumprir suas tarefas esco-
lares. É um modo de mimá-las e prejudicar sua educação.
Os estudos são importantes para as crianças, mas o serviço doméstico
é benéfico para toda a família, além de incentivar o trabalho em equipe. Se
praticamos o homeschooling para fortalecer nossa vida familiar e nossos
vínculos, precisamos admitir que o trabalho doméstico na verdade ajuda
mais nesse sentido do que os estudos.
Algumas tarefas de cunho pessoal devem ser rotineiras, como o cuidado
com o próprio quarto. Tarefas extras como lavar o chão da cozinha, limpar
o porão e cuidar do jardim podem dar direito a uma pequena recompensa,
se assim quiserem os pais.

Como ensinar as crianças a ajudar

Quando seus filhos estiverem aprendendo a executar uma tarefa doméstica,


você precisará ajudá-los nas primeiras vezes. Esse é o único modo de a criança
aprender a fazer o trabalho como você quer, ou algo próximo disso. Em minha
casa, trabalhar junto com meus filhos em uma grande faxina sempre ajudou a
mantê-los na ativa e ao mesmo tempo fazendo as coisas como eu queria.
É importante mostrar muito claramente ao seu filho como executar uma
tarefa. Em vez de apenas dar-lhe um pano e um detergente, mostre-lhe como
limpar a pia. Explique o passo a passo, apontando a necessidade de limpar
também atrás da torneira e coisas do tipo. No início você deve checar o
trabalho feito, verificando se ele seguiu as instruções que você deu quando o
ensinou; depois, cheque apenas de vez em quando.
Crianças mais velhas podem ajudar a ensinar as mais novas. Se uma
criança mais nova e uma mais velha formarem uma dupla, a mais velha po-
derá executar a tarefa enquanto ensina ao irmão ou à irmã. As duas crianças
não devem ter idades semelhantes, ou acabarão brigando. Deve haver muitos
anos de diferença entre as crianças de uma mesma equipe.
Assim como você incentiva seus filhos a estudar, incentive-os a ajudar
com a manutenção da casa. Uma das coisas que costumo dizer aos meus
filhos é que eles devem limpar como se o Próprio Jesus fosse visitar aquele
cômodo específico. É importante que nossos filhos compreendam que devem
fazer seu melhor mesmo nas coisas pequenas e aparentemente sem impor-
tância. Eu sempre lembrava aos meus filhos que, quando a Challenger explo-
diu no céu, matando várias pessoas, foi porque alguém foi descuidado com a

280
HOMESCHOOLING CATÓLICO

formação de gelo em um “o-ring”. Às vezes as pequenas coisas são questão


de vida e morte!
Assim como é uma grave responsabilidade dos pais ensinar leitura e ma-
temática aos filhos, é igualmente grave ensiná-los a ajudar com os serviços
de casa. Não há nada pior do que adultos que não conseguem cuidar de si
mesmos ou manter suas casas organizadas e razoavelmente limpas. Se uma
criança não se esforça para ajudar a manter a organização de seu lar ou
para progredir em seus estudos, ele provavelmente não se esforçará em seu
emprego ou sua carreira profissional mais tarde.
Ensinar as crianças a trabalhar, tanto fisicamente, na execução de tarefas
domésticas, quanto intelectualmente, fazendo o homeschooling, é uma grave
responsabilidade parental.

Aprenda com os outros

Procure em uma biblioteca ou livraria católica livros sobre administração


doméstica e modos de as crianças ajudarem em casa. Por exemplo: 401 Mo-
dos de Seus Filhos Ajudarem em Casa (401 Ways to Get YourKids to Work at
Home). É um livro com “técnicas, dicas, truques e estratégias para seus filhos
ajudarem com os serviços domésticos (...) e, no processo, tornarem-se adultos
responsáveis e independentes.” Há diversos livros em livrarias cristãs que tam-
bém podem ajudar nesse sentido. As associações de homeschooling divulgam
dos livros de Don Aslett: Existe vida após o serviço doméstico? (Is There Life
After Housework?), Limpar não é função só da mulher (It´s Not Just a Woman´s
Job to Clean), O último reduto da bagunça (Clutter´s Last Stand) e Sua casa
pode fazer o serviço doméstico (Make Your House Do the Housework). Outro
livro que apresenta ideias interessantes e que ajudam a ganhar tempo é Cozi-
nhando Uma Vez por Mês (Once-a-Month Cooking), de Mimi Wilson.
Uma advertência. Atividades na igreja são ótimas, mas não se permita
negligenciar sua casa e seus filhos por causa delas, por melhores que sejam
enquanto atividades religiosas. Sua primeira obrigação é criar seus filhos se-
gundo os preceitos católicos. Limite suas atividades na igreja ou serviços de
caridade àqueles em que seus filhos puderem participar com você.

Conclusão

Adeque seu estilo de vida e sua casa à educação domiciliar. Faça de sua
casa um refúgio – um lugar estável, confortável e ordenado, não como o

281
MARY KAY CLARK

frenético, estressante, desordenado e caótico mundo exterior. Transforme-a


em uma fortaleza contra os problemas de fora; torne-a agradável, afetuosa
e piedosa. Quando Deus disse a Moisés que nossos lares deviam ostentar os
Dez Mandamentos em suas portas, soleiras e vestíbulos, Ele quis dizer que
nosso ambiente doméstico deve refletir nossa Fé. Manter um lar organizado
é uma forma de refletir nossa Fé no Deus da ordem e da harmonia.

282
Capítulo 10
Homeschooling em famílias
com pai ou mãe ausente
Escrito por uma mãe solteira homeschooler


Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais...” (Marcos 10, 14).
Tais palavras de Cristo, o maior Professor que já existiu e existirá, ates-
tam a gravidade da responsabilidade parental de aproximar as crianças
de Deus, desde a primeira infância, desenvolvendo nelas o conhecimento, o
amor e a obediência constantes e crescentes por Nosso Senhor.
A posição católica é e sempre foi que “Os pais têm o dever gravíssimo e
o direito primário de, na medida das suas forças, darem aos filhos educação
tanto física, social e cultural, como moral e religiosa.” (Código de Direito
Canônico de 1983, 1136)
O Papa Leão XIII, em Sapientiae Christianae afirma que
Por natureza os pais têm direito à formação dos filhos, com esta obrigação
a mais, que a educação e instrução da criança esteja de harmonia com o fim
em virtude do qual, por benefício de Deus, tiveram prole. Devem portanto
os pais esforçar-se e trabalhar energicamente por impedir qualquer atentado
nesta matéria, e assegurar de um modo absoluto que lhes fique o poder de
educar cristãmente os filhos, como é da sua obrigação, e principalmente o
MARY KAY CLARK

poder de negá-los àquelas escolas em que há o perigo de beberem o triste


veneno da impiedade.23

O Concílio Vaticano Segundo também reiterou esta afirmação no do-


cumento Declaração sobre a Educação Cristã. De fato, os dois propósitos
primários e equivalentes do Sacramento do Matrimônio são a procriação e
a educação da prole. Nosso Próprio Criador afirmou que, visando ao cum-
primento deste propósito divino do casamento, é essencial que a ordem e a
estrutura da família sejam solidamente preservadas.
O que se pode fazer, porém, quando você descobre que falta a essa es-
trutura sagrada um componente-chave – quando um dos pais não pertence
mais à unidade familiar? É possível aos membros restantes sobreviver? É
possível a um lar dilacerado ir além da mera sobrevivência e, elevando-se,
tornar-se uma família curada, estável, feliz e centrada em Deus? A resposta é
sim, desde que as crianças sejam educadas em casa.
O homeschooling em tais circunstâncias parece irrealista – talvez mesmo
impossível? Bem, a Igreja nos informa que os pais têm “o direito”, “a obri-
gação” e “a grave responsabilidade” de educar seus filhos.
Na encíclica Acerca da Educação da Juventude, o Papa Pio XI nos diz:
Na verdade, consistindo a educação essencialmente na formação do homem
como ele deve ser e portar-se, nesta vida terrena, em ordem a alcançar o fim
sublime para que foi criado, é claro que não se pode dar verdadeira educação
sem que esta seja ordenada para o fim último [do homem].

Tendo isto em mente, não é de maneira nenhuma aceitável que um siste-


ma educacional verdadeiro inclua tópicos como educação sexual, conscien-
tização sobre drogas, conscientização sobre a morte, aulas sobre AIDS ou
qualquer outro tópico da agenda humanista. Evidentemente, não era isso o
que Nosso Senhor tinha em mente quando deu a ordem: “Ide, pois, e ensinai
a todas as nações.”
Se a posição da Igreja quanto à importância de uma educação verda-
deiramente cristã não for um fator convincente a favor do homeschooling,
talvez o seja a preocupação com a estabilidade emocional de uma criança
cujo ambiente familiar foi dilacerado. A pressão emocional sofrida por essas
crianças durante o rompimento de suas famílias é algo que elas carregarão
consigo pelo resto de suas vidas. É nossa intenção machucá-las ainda mais,

23 A versão em português deste trecho é citada em: In: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/


encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_31121929_divini-illius-magistri.html

284
HOMESCHOOLING CATÓLICO

separando-as da família que lhes resta – mandando-as para a escola, para


fora de casa, onde terão de passar de seis a oito horas todos os dias? Elas
não encontrarão lá a segurança e a estabilidade de que tanto precisam. Será
correto colocar os mais novos em uma creche, ou talvez matriculá-los em
um programa escolar extracurricular, do tipo que está na moda hoje em
dia, para que o pai ou a mãe saia em busca de emprego? E quanto aos
adolescentes que retornarão para uma casa vazia? Não demorará muito até
envolverem-se em problemas. Alguma das soluções acima pode ajudá-los?
Já estamos tendo de lidar com uma geração de crianças que vêm sendo
criadas por estranhos: a babá ou cuidadora da creche é quem descobre o
primeiro dente e testemunha o primeiro passo e, tristemente, muitas vezes
é chamada de “mamãe”. Será que essas crianças serão, no futuro, adultos
equilibrados e dedicados à família? Como isso seria possível, quando eles
não tiveram ninguém por perto só para eles, que os amasse como nenhuma
cuidadora é capaz, pois o lugar dos pais é insubstituível? Foi assim que Deus
quis que as coisas fossem, e sem uma vida familiar estável e a estrutura
hierárquica a ela inerente, faltará a essas crianças o afeto necessário à sua
maturidade emocional. Infelizmente, o filho de um casamento desfeito quase
sempre perde não apenas um, mas ambos os pais.
Em meio ao turbilhão da perda de um dos pais, será que o melhor para
essas crianças não é ficar na segurança de suas casas? Não será importante
para elas poder chorar quando sentirem vontade, gritar quando precisarem
e se expressar como sentirem vontade? E o principal: não será importante
para elas saber que um dos pais ainda está lá para ampará-las?
Diante da destruição de sua família, o que é melhor: deixar seus filhos no
ponto de ônibus todas as manhãs, ou colocá-los no carro, dirigir até a igreja
e começar todos os dias com o Santo Sacrifício da Missa? Sem dúvida, nem
você nem seus filhos conseguiriam atravessar tamanha tribulação sem a graça
constante de Deus e o alimento e a força de Seus Preciosos Corpo e Sangue.
O dia escolar em casa será tranquilo? Provavelmente não, sobretudo no
começo. Mas pense na alternativa que há além dessa. Em todo o caso, será
muito melhor enfrentar juntos, em família, tudo o que tiver de acontecer, do
que cada um sofrer sozinho em seu canto.
Confie e reze sempre para a Sagrada Família; jamais permita que um dia
se passe sem a recitação do Terço. Consagre seus filhos aos cuidados de Nos-
sa Senhora, confiando que a Mãe Santíssima os guardará como se fossem
dela. Faça isso e Nosso Senhor estará sempre presente em seu lar como Rei
e Chefe da sua família e do seu homeschooling.

285
MARY KAY CLARK

As aulas

Como faz uma mãe ou pai solteiro para ensinar seus filhos sem o apoio
de um cônjuge? Na verdade, quanto a isso, tudo se dá teoricamente da mes-
ma forma que na situação em que ambos os pais estão presentes. Na maioria
dos lares, o provedor é o pai, que deixa a maior parte ou mesmo todo o
homeschooling a cargo da mãe. Também há famílias cujas circunstâncias
requerem que ambos trabalhem, e ainda assim o homeschooling é parte inte-
gral de suas vidas. Portanto, como o ensino é normalmente tarefa de apenas
um dos pais, as situações são mais ou menos similares e o sucesso do homes-
chooling depende dos mesmos fatores.
Em primeiro lugar, seja organizado. Monte um cronograma e simplifique
seu dia. Elimine todas as saídas, visitas e eventos desnecessários, que con-
sumam seu precioso tempo. Estabeleça horários para acordar, ir à Missa,
tomar café da manhã e iniciar as aulas, e os cumpra rigorosamente. Não
atenda o telefone durante as horas de estudo. Estabeleça um determinado
horário para finalizar o dia escolar e não vá além dele, sobretudo se você
tiver de se arrumar para ir trabalhar fora. Caso haja tarefas escolares por
finalizar, elas podem esperar até o dia seguinte.
Em segundo lugar, seja flexível. Se sua situação exigir que você trabalhe
fora de casa dois dias por semana, continue o homeschooling nos três dias
restantes. Dê aulas nos fins de semana. O homeschooling pode facilmente ser
adaptado a um emprego fora de casa.
Em terceiro, não se permita desmotivar. O homeschooling é bom para
sua família. Tenha isso em mente todos os dias, sem exceção.
Em quarto, reconheça que se trata de um sacrifício e um compromisso,
mas que são, na verdade, idênticos ao sacrifício que a criação de filhos de-
manda de modo geral.
Em quinto, não dispense ajuda. As crianças, mesmo pequenas, devem ter
suas responsabilidades: uma lava os pratos, outra varre o chão, o pequenino
pode recolher as roupas para lavar, juntar brinquedos etc. Eles devem com-
preender que você não pode dar conta de tudo. Se houver parentes que con-
cordem com o estilo de vida de vocês, deixe-os ajudar de qualquer modo que
possam. No entanto, se seus familiares forem contrários ao homeschooling,
é melhor manter certa distância.
Por fim, e mais importante, devemos ser virtuosos. Devemos cultivar a
paciência, bem como a autodisciplina, que também é sinônimo de abnega-
ção. A perseverança é igualmente vital. Não perca a coragem, não pense em

286
HOMESCHOOLING CATÓLICO

desistir! Se o dia estiver impossível, mande seu filho ler um livro sobre a
vida de um santo. Encha as prateleiras de seus filhos com livros saudáveis e
interessantes: clássicos e boa literatura espiritual. Ou então deixe-os assistir
a um bom filme: A Canção de Bernadette, O Homem que Não Vendeu Sua
Alma, O Dia em que o Sol Dançou. As crianças estarão aprendendo algo
com esses filmes.
Console-se sabendo que, desde que seus filhos estejam em casa com você,
suas almas estão a salvo. Ensine-os a rezar, ensine-lhes os Dez Mandamen-
tos, prepare-os para os Sacramentos, instrua-os a fazer exame de consciência
todas as noites. Ao final, entender tudo sobre computadores não fará grande
diferença. O que Nosso Senhor quer de nossas crianças é que tenham um
coração puro.
Uma das coisas que você precisa compreender para criar filhos bons,
equilibrados e espiritualmente saudáveis, em uma situação na qual a unidade
da família tradicional tenha sido rompida, é que a tarefa é impossível sem a
rotina e os valores de uma família tradicional. É especialmente importante
que todos os membros da família estejam presentes às refeições. Esses de-
vem ser momentos tranquilos, em que todos sentam-se à mesa e relaxam,
você aproveita para observar possíveis comportamentos “de empréstimo” e
a televisão nunca está ligada. Também deve ser o momento para discutir os
eventos do dia, contar piadas e, de modo geral, estabelecer-se comunicação
entre os membros da família. Cozinhe os pratos favoritos de seus filhos. Evi-
te a tentação de achar que é trabalhoso demais fazer aquele prato especial só
porque apenas um deles está em casa.
Celebre todas as ocasiões especiais, principalmente os feriados tradicio-
nalmente voltados à família. Saiam todos juntos com frequência. Sempre que
possível, dê-se ao luxo de ir com todos tomar café da manhã fora. Tomar um
sorvete no shopping é sempre uma delícia e é uma daquelas poucas extrava-
gâncias que não causam tantos danos (na melhor das hipóteses) ao orçamen-
to de uma mãe ou pai solteiro. Torne os domingos especiais com um almoço
ao ar livre e uma visita ao museu (ou outro lugar gratuito e interessante). O
objetivo é ter uma vida familiar feliz e memorável apesar das circunstâncias.
Como fazer tudo isso quando você precisa ganhar dinheiro e ensinar seus
filhos ao mesmo tempo? Idealmente, seria bom você encontrar um trabalho
que pudesse ser feito de casa, talvez algo através da Internet ou pelo telefone.
O fato de você estar sempre ao lado de seus filhos será uma riqueza infinita-
mente maior do que qualquer salário que você ganhasse em um escritório. Se
isso, porém, não for possível, então trabalhe fora de casa no fim da tarde ou

287
MARY KAY CLARK

à noite. O objetivo é que você esteja em casa com seus filhos durante o dia,
quando eles mais precisam de você.
Lembre-se das palavras do grande Doutor da Igreja, São João Crisósto-
mo: “Qual trabalho há maior do que educar a mente e formar os hábitos da
juventude?” Sempre deixe as crianças aos cuidados de um parente confiável
ou de uma babá honesta. Faça a babá ir até sua casa, pois assim também se
constrói no emocional da criança a sensação de estabilidade. Não é divertido
dormir em um lugar desconhecido e ser despertado de um sono profundo
algumas horas depois, atravessar o vento gelado da noite e ainda ter de en-
frentar mais uma viagem de carro antes de estar no conforto de sua cama.
Novamente, é preciso rezar por uma solução. Essa é uma área em que,
pressionando o Céu, Nosso Senhor responderá generosamente. Ensinar seus
filhos em casa é o que Deus quer que você faça e, se Ele vir que você está
determinado a vencer os obstáculos, Ele o recompensará abundantemente e
removerá o que quer que esteja em seu caminho.
O grande propósito é minimizar, na medida do possível, a perda de um
dos pais. Você recebeu, através do Sacramento do Matrimônio, as graças
necessárias para criar e educar seus filhos da maneira correta, mesmo que
tenha de fazê-lo sozinho.
Nosso Senhor abençoou a natureza com uma maravilhosa capacidade de
resiliência e adaptabilidade. Se ocorrer a uma pessoa a grande infelicidade de
perder algo tão necessário quanto um olho, os efeitos da tragédia serão em
certa medida minimizados pelo fato de o olho sobrevivente tornar-se mais
forte – o que ocorre por causa da perda –, e assim é possível compensar pelo
membro que não está mais lá.
Um cristão sabe que, quando somos menores, somos capazes de mais.
Quando reconhecemos nossa pequeneza, Cristo nos ensina a conquistar
grandes coisas. Pelo bem de nossos filhos, devemos recorrer a Ele todos os
dias, reconhecendo nossa fraqueza, nossas limitações, nossos erros, nossas
incertezas como pais e mães solteiros, e pedindo-Lhe que faça por nós e por
meio de nós tudo o que somos incapazes de fazer sozinhos.

***

Uma mãe de muitos filhos, solteira e homeschooler, escreveu o artigo


acima. Ao longo dos anos, conheci muitos pais e mães solteiros que praticam
o homeschooling.
Como eles conciliam o trabalho e o ensino de seus filhos? A maioria

288
HOMESCHOOLING CATÓLICO

trabalha de casa, com trabalhos nas áreas de datilografia, edição e revisão


de textos. Alguns trabalham para um parente que compreende a situação e
deseja ajudá-los a flexibilizar seus horários.
Algumas mães são enfermeiras em hospitais, ou trabalham em casas de
repouso, ou como enfermeiras particulares à noite. Outras têm empregos no-
turnos, como na área de telemarketing. Algumas têm o auxílio de outra mãe
homeschooler, que cuida de seus filhos durante a tarde. Algumas moram com
ou perto de sua mãe ou de uma irmã, que lhes ajudam quando elas precisam
trabalhar à tarde ou no início da noite.
Há mães solteiras que levam seus filhos para o trabalho. Uma trabalha em
uma livraria e as crianças ficam em uma sala nos fundos. Outra é secretária
e seu filho fica em uma mesinha próxima à dela. Outra é faxineira e leva seus
filhos aos locais de trabalho.
Há alguns poucos pais solteiros que educam seus filhos por conta pró-
pria. A maioria trabalha de casa. Um é escritor. Um é aposentado. Outro dá
aula aos filhos pela manhã e à tarde vai para o trabalho. Outro mora com
parentes que ajudam.
Devemos exaltar seus esforços e rezar pelos pais e mães solteiros que re-
conhecem suas responsabilidades e estão dispostos a fazer sacrifícios extras
pelo bem de seus filhos.

289
Capítulo 11
Crianças com demandas
pedagógicas diferentes
Por Cathy Gould

Cathy Gould é especialista em deficiência de aprendizagem. Ela graduou-


se em Educação pela James Madison University em 1977 e concluiu o
mestrado em Educação, com ênfase em Deficiência de Aprendizagem e
Perturbações Emocionais, pela George Mason University, em 1981. Cathy é
integralmente qualificada para ensinar crianças com necessidades especiais,
função na qual atua há mais de vinte anos. Ela também orienta grupos de
pais, inclusive famílias da Seton Home Study School, há muitos anos.
Cathy é mãe de quatro filhos.

D
eficiências de Aprendizagem (DA), como Hiperatividade e Transtor-
no do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H), costumam ser
chamadas de deficiências ocultas. Identificá-las desde cedo pode ali-
viar alguns problemas que são típicos de crianças com essas dificuldades,
como baixa autoestima, síndrome de fracasso e depressão.
Quando os pais educam seus filhos em casa, costumam perceber bem
cedo quando uma criança não consegue progredir com o uso dos métodos
pedagógicos tradicionais. Então começa a busca para descobrir qual a de-
manda pedagógica específica daquela criança.
MARY KAY CLARK

O que é exatamente a deficiência de aprendizagem? Há quatro pontos


consensuais entre os profissionais que lidam com DA:
O indivíduo com deficiência de aprendizagem não aprende satisfatoria-
mente por meio dos métodos de ensino tradicionais.

• A causa básica da insuficiência do aprendizado não é falta de inteli-


gência;
• A causa básica não é um problema psicológico;
• A causa básica não é uma deficiência física;
• O Ato de Educação a Todas as Crianças Portadoras de Deficiência
define a deficiência de aprendizagem como um distúrbio em um ou
mais de um dos processos psicológicos básicos envolvidos na com-
preensão ou no uso da linguagem, seja escrita ou falada, o que pode
manifestar-se em uma capacidade imperfeita de ouvir, pensar, falar,
ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. Deficiências de
aprendizagem incluem deficiências de percepção, disfunções cere-
brais mínimas, danos cerebrais, dislexia e afasia do desenvolvimen-
to; contudo, não incluem deficiências de visão, audição ou motoras,
nem deficiências associadas a retardo mental ou a privação cultural
ou econômica.

Identificando o problema

Deficiência de Aprendizagem (DA) é um termo amplo que inclui difi-


culdades como problemas de processamento, dislexia, disgrafia, discalculia,
Síndrome de Asperger e autismo. Ao avaliar uma criança para determinar se
ela tem DA, os profissionais devem estar atentos a uma discrepância entre
o potencial da criança, ou seu QI, e seu desempenho e resultados. Crianças
com deficiência de aprendizagem costumam ter um QI médio ou acima da
média. A seguir, estão listadas características que ocorrem em indivíduos
com DA. Tenha em mente que algumas dessas características podem estar
presentes em crianças pequenas que não têm DA.

1. Dominância mista e confusão direcional. A partir dos cinco ou seis


anos de idade, a criança ainda demonstra confusão quanto a usar sua
mão direita ou esquerda para escrever, pegar objetos e comer. Algumas
têm dificuldade para cruzar a linha média do corpo; elas se confundem

292
HOMESCHOOLING CATÓLICO

ao tentar pegar um objeto que está à esquerda de seu corpo usando a


mão direita.
2. Noção de tempo confusa. Elas não possuem a noção de tempo interna-
lizada e têm dificuldade para cumprir cronogramas ou executar tarefas
agendadas. Um exemplo disso pode ser quando você dá ao seu filho
dez minutos para brincar lá fora e passa-se muito mais do que isso sem
que ele retorne. Após trinta minutos, você o encontra e percebe que ele
não tem a menor noção de quanto tempo se passou.
3. Capacidade de observação fora do comum. Nada escapa à sua vista.
Eles têm dificuldade para filtrar objetos desnecessários e focar no que
é importante.
4. Criatividade fora do comum. Eles conseguem ver as coisas de modos
muito diferentes das demais pessoas e abordar problemas por cami-
nhos inusitados. Podem ser muito mecânicos, gostando de desmontar e
remontar objetos. É comum que entre esses indivíduos surjam artistas
muito talentosos.
5. Aparentar ser “esquisitões solitários”. Eles são frequentemente cha-
mados de “burros” pelos outros alunos; os professores costumam
considerá-los preguiçosos; é comum não compreenderem linguagem
corporal e piadas e às vezes têm dificuldade de discernir quais os com-
portamentos adequados a situações específicas.
6. Perdas de memória momentâneas. Eles podem conhecer a palavra “ver-
melho”, e conhecê-la há muito tempo, mas, no meio de uma conversa,
de repente não conseguem encontrar essa palavra em seu vocabulário.
7. Dificuldade de memorização. Muitas crianças com deficiência de
aprendizagem têm dificuldade para memorizar as tabuadas de adição,
subtração, multiplicação e divisão. Elas também podem ter dificuldade
para memorizar listas de informações, como os nomes dos planetas.
8. Inversões. Apesar de serem normais em crianças pequenas, as inversões
não devem continuar depois dos dez anos de idade. É fácil identificá-
-las na escrita de palavras e números. As letras invertidas com maior
frequência são b e d, p e q; às vezes alguns números são invertidos,
como 3, 7 e 9 escritos para o lado oposto; às vezes o 6 é escrito no
lugar do 9 e vice-versa.
9. Problemas de motricidade fina. Essa dificuldade pode manifestar-se na
escrita trêmula, no desenho inapropriado das letras, na dificuldade de

293
MARY KAY CLARK

encontrar o espaço no papel, na dificuldade de espaçar letras e pala-


vras ou na dificuldade de manter a escrita entre as linhas.
10. Problemas de atenção. Eles podem ter dificuldade para concentrar-se
na tarefa em que estão trabalhando, ou só conseguir concentrar-se em
uma tarefa por curtos períodos de tempo.
11. Sequenciação. Muitos desses indivíduos têm dificuldade para recontar
na sequência correta algo que lhes aconteceu. Eles podem ir a uma
festa, voltar e contar a você tudo o que aconteceu lá; contudo, a sequ-
ência de eventos pode estar fora da ordem. Eles também podem ter di-
ficuldade para colocar em sequência informações que lhes são repassa-
das. Consequentemente, podem ter problemas para seguir orientações
na ordem correta. Às vezes têm dificuldade para resolver problemas
matemáticos que exijam uma sequência de passos.

Transtorno do déficit de atenção/Hiperatividade

Transtorno do déficit de atenção/Hiperatividade é um distúrbio neuro-


comportamental. A criança com TDA/H pode manifestar principalmente fal-
ta de atenção, ou principalmente um comportamento hiperativo-impulsivo,
ou uma combinação de ambos. Alguns dos sintomas são falta de organi-
zação, dificuldade para seguir instruções, falta de atenção, esquecimento,
distrair-se facilmente, dificuldade para manter-se sentado, atividade exces-
siva, interromper os outros frequentemente, dificuldade para esperar pelos
outros. Porém, tenha em mente que as crianças afetadas apresentam essas
características ou comportamentos em diversas situações e por um longo
período de tempo, não em episódios eventuais.

Materiais pedagógicos

Desenvolver um currículo para uma criança com DA ou TDA/H representa


um desafio único para os pais. Com a abordagem individualizada do homes-
chooling, muitas crianças com esses distúrbios conseguem utilizar um currícu-
lo padrão para sua série, sendo que às vezes é necessário fazer modificações.
Há, no entanto, as crianças que precisam de um currículo totalmente
adaptado às suas necessidades. Elas podem precisar de livros com capítulos
mais curtos, embora basicamente o material siga o conteúdo do currículo
padrão. Algumas crianças podem precisar de materiais com mais cores e

294
HOMESCHOOLING CATÓLICO

figuras. Outras precisam de revisões com mais frequência e se beneficiam


de poder responder ativamente ao material, utilizando folhas de trabalho,
exercícios no computador, flashcards e experimentos práticos.
Diversas editoras publicam materiais produzidos especialmente para
crianças com DA ou TDA/H. Há também as que publicam livros didáticos
“terapêuticos”, que podem ser igualmente úteis.
A Globe Publishers edita uma série de livros didáticos para alunos do
ensino fundamental, cobrindo as disciplinas de ciências, história americana
e geografia. A Steck-Vaughn publica uma série sobre Ciências e Estudos So-
ciais para o nível primário. A Educators Publishing Service edita materiais de
qualidade em ortografia, vocabulário, fônica e artes da linguagem em geral.
Nenhum destes materiais é católico, porém raramente apresentam conteú-
dos não-católicos ou que vão contra a família, embora os pais devam ler os
livros antes de oferecê-los aos seus filhos.
As perguntas que você deve fazer ao buscar materiais para seu filho são:
de que modo ele aprende melhor, e qual o estilo pedagógico do material? Por
exemplo, se seu filho tiver facilidade para aprender pela audição, ele pode
se dar muito bem com um método de alfabetização que utilize canções; ao
passo que, se ele aprender melhor pela visão, esse tipo de abordagem não
funcionará para ele, por mais chamativa que seja.
Há alguns fatores cruciais a levar em consideração quando você for mon-
tar um currículo para o seu filho. O mais importante é determinar quais os
pontos fortes e fracos da criança. Você deve desenvolver um programa de
estudos baseado nos pontos fortes do seu filho, para que, valendo-se deles,
você possa reforçar os pontos fracos.
Se seu filho tiver alguma dificuldade em particular, o fundamental é en-
contrar um modo de trabalhar os conteúdos de forma eficiente. Por exemplo,
se ele tem problemas de memorização ao estudar matemática, utilize outros
materiais, como objetos palpáveis, para ajudá-lo a memorizar as tabuadas.
Ao mesmo tempo, você pode tomar alguns minutos por dia para ensinar ou-
tros conceitos matemáticos, como a noção de tempo ou unidades de medida.
Se seu filho ainda não souber as tabuadas de multiplicação, mas ainda
assim vocês já estiverem estudando problemas de multiplicação com dois
números de três dígitos, como 324x436, e se você utilizar a máquina de cal-
cular como apoio, faça-o resolver o problema passo a passo, ao invés de digi-
tar os números inteiros e os multiplicar digitalmente; assim, ele fará a conta
de multiplicação como faria no papel e precisará da calculadora apenas para
a tabuada básica. Quando tiver aprendido as tabuadas, ele ainda saberá re-

295
MARY KAY CLARK

solver aquele tipo particular de problema de multiplicação. Se você permitir


que ele multiplique os dois números de três dígitos digitando-os inteiros na
calculadora, ele não aprenderá como multiplicá-los de fato.

Problemas de memória

Para crianças com problemas de memória, uma boa técnica é a que utili-
za os cue cards. Compre cartões encadernados em espiral, de tamanho 5x8
ou 4x6, ou então você pode fazer furos em cada cartão individual e prendê-
-los com um anel de caderno. Explique a lição, depois peça ao seu filho para
repeti-la com suas próprias palavras. Anote os pontos chave do que ele disser
em um pedaço de papel ou quadro negro e codifique com cores diferentes o
passo a passo do processo ensinado. Por exemplo, quando vocês estiverem
estudando a multiplicação de dois números com três dígitos (324x436), co-
difique o “6” com uma cor, desenhe flechas com a mesma cor para indicar
o que deve ser multiplicado por 6 (6x4; 6x2; 6x3) e depois utilize a mesma
cor para escrever as orientações para esse passo. Em seguida, escreva o “3”
em outra cor e desenhe flechas da mesma cor para designar o que deve ser
multiplicado por 3 (3x4; 3x2; 3x3), e escreva as orientações na mesma cor.
Faça o mesmo com o “4”. Lembre-se de escrever o sinal de multiplicação
com uma cor diferente das anteriores.
Em problemas de divisão, seu filho pode utilizar lápis coloridos para as
diferentes operações. Assim, o resultado da divisão estará em uma cor, o da
multiplicação em outra e o da subtração em uma terceira cor. As explica-
ções sobre o que fazer em cada passo devem ser escritas nas cores utilizadas
em cada passo. Essa técnica é útil para matemática, soletração de palavras,
gramática ou qualquer outra matéria. Alguns pais utilizam cue cards em
ciências ou história para ajudar a criança a memorizar listas de informações.

Problemas com a escrita

O computador é um item válido para alunos que têm problemas de mo-


tricidade fina e, consequentemente, com a linguagem escrita. Alguns têm
dificuldade para formar letras ou espaçar as letras e palavras no papel. A
maioria das crianças gosta de trabalhar no computador, e para as que têm
problemas de motricidade fina é um modo de evitar algo que para elas é
inevitavelmente difícil. O computador oferece possibilidades incríveis. Por
exemplo, ele permite que as crianças movam e reorganizem informações

296
HOMESCHOOLING CATÓLICO

sem reescrevê-las. E os corretores ortográficos ajudam-nas com problemas


de ortografia.
Um gravador é outro item útil para crianças com dificuldades com a lin-
guagem escrita. Para algumas crianças é impossível usar papel e lápis para
escrever. Se você lhes pedir que contem uma história, são infinitamente cria-
tivas; inventam histórias longas, profundas, com um vocabulário maravilho-
so. No entanto, basta você colocar um lápis em suas mãos para elas bloque-
arem toda criatividade. Nesses casos, deixar que a criança trabalhe com um
gravador é um excelente modo de contornar os sentimentos negativos asso-
ciados à tentativa de escrever. Quando a criança expressa seus pensamentos
no gravador, fica mais fácil colocá-los por escrito no computador, depois.

Métodos de aprendizado

Conhecer o método pelo qual seu filho aprende melhor será muito im-
portante quando você estiver montando um currículo voltado à deficiência
de aprendizado que ele apresenta. Por exemplo, uma criança que é predo-
minantemente um aprendiz auditório, ao invés de visual ou tátil, aprende
melhor ouvindo. Nesse caso, você deve usar materiais que ofereçam mais
possibilidades para um ensino voltado à audição. A maioria das pessoas
aprende melhor através de exposições multi-modalidade, que combinam as
modalidades auditória, visual e tátil.
Crianças com problemas de aprendizagem precisam de repetição. Seja
repetitivo. Se uma criança apresentar dificuldade com as tabuadas de mul-
tiplicação, repita-as exaustivamente, durante alguns minutos por dia, possi-
velmente muitas vezes por dia, utilizando técnicas diferentes. Use flashcards
da primeira vez, depois folhas de exercícios, depois um jogo.
Quando falo em repetitividade, também me refiro a um ensino cujo mo-
vimento seja, por assim dizer, em espiral. Se algo já foi ensinado anterior-
mente naquele ano e a criança pareceu dominá-lo, não o deixe de lado. Tente
incorporá-lo em aulas futuras, seja como parte da aula ou como revisão.
Por exemplo, se você já tiver ensinado as tabuadas de adição, subtração e
multiplicação e agora estiver ensinando as de divisão, todo o conhecimento
anterior deve estar incluso neste último. Você não precisará fazer exatamen-
te uma revisão, de modo que poderá passar normalmente de divisão para
frações, resolvendo apenas um, dois ou três problemas por dia que poderão
ser considerados revisão. Não exagere na quantidade de revisões; limite o
número de problemas a três ou cinco por dia, dependendo da criança.

297
MARY KAY CLARK

Crianças com DA ou TDH/A precisam de estrutura. Muitas dessas crian-


ças, como mencionado anteriormente, têm uma noção de tempo problemática
e normalmente precisam seguir um cronograma rígido, ou mesmo trabalhar
com a ajuda de um cronômetro. Um dos benefícios do homeschooling é a
flexibilidade. Assim, quando eu digo “estrutura, estrutura, estrutura”, alguns
pais podem não gostar da ideia; contudo, é precisamente do que essas crianças
necessitam. Elas precisam acordar no mesmo horário todas as manhãs e ter
a mesma rotina matinal. Elas devem iniciar seu trabalho escolar no mesmo
horário todos os dias e trabalhar as disciplinas numa ordem pré-estabelecida.
Para a criança que tem dificuldade de concentrar-se por um período de
tempo mínimo, é uma boa ideia tentar utilizar um cronômetro, mesmo que
temporariamente. Determine a média de tempo durante o qual a criança
consegue manter-se concentrada. Se seu filho conseguir, confortavelmente,
trabalhar em um exercício por sete minutos, então ajuste o cronômetro para
sete minutos. A maioria das crianças precisam de reforços bastante concre-
tos. Talvez seja útil montar um quadro e dividir o dia escolar em intervalos
de sete minutos, e acrescentar um adesivo ou uma estrela para cada intervalo
em que a criança conseguiu se concentrar. Peça a ela para levantar-se ao fim
dos sete minutos, colocar um adesivo no quadro, voltar e começar de novo.
Essa pausa costuma ser suficiente para que a criança consiga voltar ao tra-
balho sem distrair-se muito.
Eduque seu filho para o sucesso. Certifique-se de que ele entende o que
você quer dele. Quando você expuser algum tema, faça-o resumir com suas
próprias palavras o que acredita ter aprendido com aquela aula. Quando
você lhe der orientações, faça-o repeti-las para você. Se a tarefa for resolver
problemas de matemática, mostre um exemplo e então deixe-o resolver sozi-
nho enquanto você observa. A ideia é que seu filho consiga resolver de forma
independente as tarefas que você lhe atribuir.
Se a criança tiver dificuldades com a escrita, você pode deixá-la fazer o
trabalho oralmente. Assim a tarefa será cumprida, seu filho se sentirá vi-
torioso e o material didático terá sido utilizado. Caso seja necessária uma
resposta escrita, você pode escrever o que seu filho responder oralmente.

Avaliação

A questão das avaliações pode ser complicada para crianças com neces-
sidades especiais. Enquanto pai ou mãe homeschooler, você pode ser mais
flexível do que um professor em uma sala de aula. A avaliação pode ser feita

298
HOMESCHOOLING CATÓLICO

através de gravações de áudio ou vídeo, de canções ou de apresentações tea-


trais. Utilize qualquer método que você acredite poder mostrar que seu filho
dominou o conteúdo.
Se no seu caso for necessário utilizar testes tradicionais, seja para subme-
ter ao sistema escolar do governo ou porque você trabalha com uma escola
de homeschooling que requer avaliações, adapte o contexto do teste. Esque-
ça o limite de tempo. Deixe que seu filho faça o teste por períodos curtos,
durante vários dias.
Quando a avaliação tiver como foco certas habilidades que não envolvam
a capacidade de ler e compreender o que está sendo perguntado, você pode
ler o teste e as respostas possíveis ao seu filho. Caso necessário, permita-lhe
responder oralmente, e então escreva as respostas você mesmo.
Outra forma de modificar o formato do teste é, em vez de pedir respostas
curtas, preenchimento de lacunas ou redações, apresentar questões de múl-
tipla escolha. As crianças costumam ir bem nesse tipo de teste; ao ver a res-
posta correta, reconhecem-na. Também há, porém, as crianças que vão mal
com questões de múltipla escolha, pelo fato de haver muitas opções. Se for
o caso do seu filho, diminua a quantidade de alternativas para duas. Talvez
seu filho se saia melhor com a composição de um texto; peça-lhe para contar
o que aprendeu no capítulo. Muitas vezes ele acabará dando uma resposta
mais completa do que a pedida pelo teste.
Submeter uma criança com necessidades especiais a avaliações particu-
lares é bastante caro, o que talvez leve você a considerar as avaliações do
sistema escolar do governo. Se essa for sua opção, não deixe de conversar
com outras famílias homeschoolers para saber que tipo de experiência elas
tiveram ao expor-se ao sistema escolar estatal. Alguns distritos escolares do
país acreditam que, se seu filho tiver deficiência de aprendizagem ou TDA/H,
eles têm o direito de educá-lo, por serem profissionais. Assim sendo, se você
estiver em busca de sistemas de avaliação, não deixe de perguntar a outros
homeschoolers qual a visão de seu distrito escolar a respeito de crianças com
necessidades especiais serem educadas em casa.

Homeschooling

Basicamente, há muitos bons motivos para se educar em casa uma crian-


ça com necessidades especiais. As escolas TENTAM dar instrução individu-
alizada ao seu filho; você PODE fazer isso por ele. Você pode montar um
currículo pensado especificamente para as necessidades especiais dele, e além

299
MARY KAY CLARK

disso você estará lá, dedicado inteiramente a dar-lhe a atenção e a ajuda de


que ele necessita.
Há muitos recursos disponíveis para você e seu filho. Às vezes é vantajoso
submetê-lo a avaliações formais, para que você tenha acesso a certos recur-
sos. Alguns sistemas escolares permitem que as crianças frequentem aulas de
reforço voltadas à linguagem e à fala, ou à deficiência de aprendizagem em
geral, caso elas tenham sido formalmente identificadas como tendo necessi-
dades especiais.
Há leis protegendo as crianças com necessidades especiais, como as Leis
Públicas 94-142 e 504, que dão aos pais o direito de matricular crianças
com DA ou TDA/H em uma escola para cursar apenas um ou dois serviços
especiais, como terapia ocupacional, fonoaudiologia e aulas de reforço. É
claro que a decisão de utilizar a escola pública deve ser tomada com cautela
e o mediante orações.
O homeschooling liberta seu filho da pressão dos colegas. É comum, nas
escolas, as crianças serem provocadas ou ridicularizadas quando não conse-
guem seguir instruções ou acompanhar conversas. Elas costumam passar por
socialmente desajustadas. Fora da escola, não faltarão situações onde seu
filho poderá ter uma socialização mais saudável, como os Escoteiros, clubes
de 4-H, um coral ou aulas de música.
Pesquisas mostram que uma proporção substancial dos crimes juvenis
cometidos nos Estados Unidos são protagonizados por crianças com pro-
blemas de aprendizagem. A última coisa de que você precisa é que seu filho,
que já tem problemas, se envolva com drogas. O uso ilegal de drogas pode
destruir uma criança com problemas de atenção ou percepção.
Manter seu filho em casa é um modo de incentivá-lo a aprender. É co-
mum as crianças em situação escolar adquirirem a síndrome do fracasso,
porém em casa você pode dar reforços positivos ao seu filho e beneficiá-lo
com situações pedagógicas eficientes.
Seu filho tem necessidades especiais, e você o conhece melhor do que
qualquer pessoa. Você, mais do que ninguém, tem interesse em investir no
sucesso e na autoestima dele. Você tem o amor e a paciência necessários para
que a experiência de ensiná-lo seja bem sucedida. Pode não ser o trabalho
mais fácil do mundo, mas é possível educar em casa uma criança com neces-
sidades especiais. E seu filho necessita do amor e da paciência que só você,
como pai ou mãe, pode lhe dar.

300
Capítulo 12
Homeschooling para crianças
com necessidades especiais
Por Cathy Rich

C
riar e educar uma criança com necessidades especiais é uma tarefa
complexa. É preciso lidar com questões educacionais e espirituais,
além do relacionamento delicado com pais e irmãos.
Sou mãe de cinco filhos. Os meninos têm 12, 8 e quase 4 anos. As meni-
nas têm 10 e 2. Meu menino de 12 tem TDA/H, sendo predominantemente
do tipo desatento. O de 8 tem TDA/H, sendo predominantemente do tipo
hiperativo-impulsivo, além de ter a síndrome do lobo temporal, problemas
de percepção visual/auditiva, problemas na fala e dificuldades de coor-
denação motora grossa e fina. O de 4 anos tem atraso na fala, e minha
suspeita é TDA/H, mas não está confirmada. Minha menina de 10 anos
tem dificuldades de memória e processamento. A de dois anos até agora
aparenta ser “normal”.
Sou mãe homeschooler há cinco anos, após ter descoberto do pior modo
possível, com meu filho mais velho, que a educação privada não funciona
nem pedagógica nem espiritualmente para crianças atípicas. Além do desafio
de educar meus filhos, tenho de administrar a extraordinária rotina de nossa
casa. O TDA/H repercute em todos os aspectos de nossas vidas.
MARY KAY CLARK

Vida espiritual

O primeiro – e sem dúvida o mais importante – tópico a ser abordado é


a vida espiritual, que deve ter precedência sobre todo o resto. Crianças com
necessidades especiais são mais vulneráveis às tentações, por conta de sua
tendência a manipular os outros e seus problemas para manter o autocon-
trole. Na batalha contra seus transtornos, devemos equipá-las com todo o
auxílio espiritual disponível. Quando sua vida espiritual está em ordem, as
crianças têm mais disposição para estudar. A fé deve ser a fortaleza do seu
filho. Faça dela um manto protetor para ele.
O dia deve começar com uma oração. Aqui, quando as crianças acordam,
fazemos a Oferta Matinal e recitamos a oração do Anjo da Guarda. Em se-
guida, rezamos um Pai Nosso, uma Ave Maria e sete Glórias. Tentamos, já na
noite anterior, checar quem será o Santo do dia seguinte, para que desperte-
mos sabendo em quais virtudes nos concentrar. Outra possibilidade é lermos
sobre o Santo do dia pela manhã ou durante o Ângelus do meio-dia. Temos
o hábito de fazer novenas em honra de Santos especiais e praticar devoções
mensais, como ao Sagrado Coração em junho e a Maria em maio.
É indispensável rezar o Terço todos os dias. A capacidade de atenção do
meu filho de 8 anos ainda não é suficiente para acompanhar um Terço de
cinco dezenas, então ele participa de uma dezena por dia. Antes, ele partici-
pava recitando o Pai Nosso e/ou o Glória ao fim de cada dezena. No início,
ele rezava as primeiras e últimas orações do Terço. Quando se trata de preces
longas como o Terço e o Rosário, devemos ter em mente que nosso objetivo
é cultivar o relacionamento de nossos filhos com Deus, não os afastar da Fé,
sobrecarregando-os.
Por fim, todos os dias devem terminar com um exame de consciência,
ainda que breve, e um ato de contrição seguido de uma oração de penitên-
cia. Com que frequência, fora da Confissão, fazemos nosso ato de contri-
ção sem nos atribuirmos uma penitência depois? As crianças absorvem esse
tipo de omissão.
Tudo isso pode parecer muito, mas na verdade é feito rapidamente. De-
pendendo da idade da criança, você pode fazer as orações matinais durante
um intervalo na metade da manhã. Na minha família, contudo, a Oferta Ma-
tinal, o Anjo da Guarda e a Ave Maria no início do dia são indispensáveis.
Os Sacramentos são muito importantes para crianças com necessidades
especiais. Por conta de suas fortes tentações, faço meus filhos irem à Confis-
são a cada quinze dias, no mínimo. A Missa diária também é muito impor-

302
HOMESCHOOLING CATÓLICO

tante. Eu sei que controlar crianças atípicas durante a Missa pode ser estres-
sante. Eu sempre levo comigo estátuas de plástico de figuras religiosas, ou
livros de temas religiosos para colorir, para manter suas mãos ocupadas. Mi-
nha regra é que todos os brinquedos ou distrações sejam de temas religiosos.
Esse esquema funciona muito bem. Eu já percebi que meus filhos se compor-
tam melhor em igrejas com muitas estátuas, que distraem seus olhares. De
fato, eles tendem a ficar mais quietos quando sentamos no banco da frente,
onde há uma estátua bem diante deles, entretendo-os. Na frente eles também
podem observar os movimentos do padre mais de perto. Eu os incentivo a
acender velas na igreja. Tudo que você puder fazer para proporcionar-lhes
uma participação mais ativa na Missa será útil. Quando não vamos à Missa
várias vezes durante a semana, é mais difícil controlá-los aos domingos. A
constância é muito importante para o aprendizado do bom comportamento.
Quando estava preparando meu filho de 8 anos para sua primeira Con-
fissão e primeira Comunhão, tive levar em consideração sua singularidade e
evitar a tentação de me perguntar quando ele receberia esses Sacramentos “nor-
malmente”. Ele deve estar maduro o suficiente para atentar à gravidade dos
Sacramentos; não basta saber o catecismo e ser fisicamente capaz de seguir
os rituais. Essa é uma decisão que os pais devem tomar após considerar cada
criança individualmente. Não cabe apenas ao padre decidir, mas primeiramente
aos pais. É necessário que a criança saiba muito bem o que é o pecado em sua
vida e queira eliminá-lo. Hoje, meu filho ainda não tem plena consciência sobre
o que há de pecaminoso em sua vida, por conta do seu problema de atenção. A
outra questão é compreender o significado da Santa Eucaristia. É muito difícil
não se incomodar com o fato de seu filho receber a Santa Comunhão, quan-
do ele nem sequer consegue ficar quieto durante a Missa. É preciso discernir
quais comportamentos são intencionais e quais ele sinceramente não consegue
controlar e pelos quais, portanto, não pode responder. Não há respostas fáceis.
As bênçãos recebidas por meio da devoção dos seus filhos aos seus Anjos
da Guarda são incontáveis. Recentemente, li um livro chamado Tudo sobre
os Anjos (All About the Angels), do Pe. Paul O’Sullivan, uma obra cuja edi-
ção já está esgotada. Ainda assim, recomendo a leitura a todos. Meus filhos
ficam muito mais confiantes sabendo que seu anjo está com eles. É uma de-
voção que também ajuda a evitar o pecado, pois eles percebem que, quando
pecam, seus anjos sofrem tanto quanto eles. É uma tremenda injustiça nos-
sa para com nossos filhos não estimularmos sua devoção pelos seus anjos.
Se desejamos que eles sejam bem-sucedidos em seus estudos e no serviço a
Deus, é necessário que eles se utilizem de todas as vantagens ao seu alcance.

303
MARY KAY CLARK

Também é de crucial importância que seus filhos conheçam o catecismo,


embora a vida de oração venha em primeiro lugar, porque ações falam mais
alto do que palavras. Você pode lhes ensinar todo o catecismo do mundo;
ainda será imprescindível que eles vejam você colocá-lo em prática e que
você os faça praticá-lo. Caso contrário, o estudo do catecismo torna-se uma
disciplina pesada, por causa da necessidade de memorização, e eles se recu-
sarão a aprendê-lo e ainda terão raiva de você por obrigá-los a aprendê-lo. O
que, aliás, faz todo sentido: por que eles devem aprender algo que seus pais
não praticam e, logo, não julgam importante? Se o catecismo vier antes da
vivência diária da Fé, seus filhos acabarão afastando-se de Deus.
Ao ensinar a Fé a crianças com deficiência de aprendizado, utilize o máxi-
mo de recursos práticos possíveis. Um quadro de feltro com figuras bíblicas
para ensinar histórias da Bíblia é uma ferramenta excelente. Faça um teatrinho
com diferentes situações para ensinar os Dez Mandamentos. Use sua imagi-
nação. Incentive seu filho a trabalhar em um projeto criativo sobre o tópico
religioso que você estiver ensinando. Por exemplo, se o tema for o Sacramento
da Penitência, peça-lhe para fazer um cartaz explicando como examinar sua
consciência. Converse com ele sobre os diversos passos do exame de consci-
ência enquanto vocês estiverem trabalhando no cartaz. A Seton disponibiliza
um vídeo explicativo sobre o Catecismo de Baltimore, que é uma verdadeira
joia para se ter à mão, especialmente em dias atribulados. Também foram
produzidas pela Seton algumas canções sobre o catecismo em formato cassete,
abordando temas como os artigos do Credo, os Sacramentos, entre outros.
Fique atento a novos recursos que possam ajudá-lo no ensino da Fé.
Crianças mais velhas demandam uma abordagem ligeiramente diferente.
Quando for ensinar o Catecismo de Baltimore, decida quais perguntas são
mais importantes. Quais serão mais úteis ao seu filho ao longo da vida? São
essas as que ele deverá memorizar. No entanto, discuta todas com ele. Revise
semanalmente as perguntas principais e não as deixe de lado assim que ele
passar no teste sobre elas.
Uma alternativa ao exercício de preencher lacunas é discutir com seu fi-
lho os temas estudados. Essa é uma forma de captar o interesse da criança e
incentivá-la a querer aprender mais. Leia com seu filho as narrativas de cada
capítulo do material didático. Explore-as por todos os lados. Faça o papel
de advogado do diabo para mostrar-lhe como os valores mundanos não
fazem sentido. Aponte as diferenças entre os valores seculares da sociedade
atual e os ensinamentos de Cristo. Mostre-lhe as falácias do humanismo. Se
não ajudarmos nossos filhos a pensar em argumentos contra o catolicismo

304
HOMESCHOOLING CATÓLICO

e depois a refutá-los, eles certamente ficarão encurralados quando alguém


os questionar. Devemos prepará-los para esse tipo de ataque. Além disso,
as crianças naturalmente questionam a religião quando atingem a puber-
dade. Se os auxiliarmos desde cedo a refletir sobre essas questões, sua fé
será fortalecida. E, mais ainda, se não nos intimidarmos com os ataques que
sofremos, eles perceberão quão forte é nossa fé e que não temos medo de
ser questionados, o que dará credibilidade àquilo em que cremos. Passe por
essa fase desafiadora de mãos dadas com seu filho. Será uma experiência que
fortalecerá a fé e os vínculos de todos.

Humildade parental

O próximo tópico que desejo abordar é a vida espiritual dos pais de uma
criança com necessidades especiais. Há muitos subtemas envolvidos, entre as
quais os Sacramentos, o esquecimento de si, permitir-se ser instrumento de
Deus, o sofrimento e nossa obrigação diante de Deus.
Devemos cuidar para que a Fé seja o centro de nossas vidas, assim como
deve ser nas de nossos filhos. Deus deve ser nossa “rocha”, como é a deles.
Devemos nos lembrar de rezar para os anjos da guarda de nossos filhos e a
Maria e José. Somente com a ajuda de Deus os aspectos negativos das defici-
ências de aprendizagem podem ser superados e a família consegue manter-se
espiritualmente intacta.
A recepção frequente dos Sacramentos é uma de minhas “rochas” para evi-
tar o pecado e manter a sanidade. A recepção frequente da Penitência me traz
mais bênçãos do que consigo descrever. A Penitência me ajuda a evitar a tenta-
ção de irar-me quando as coisas ficam caóticas, ou de olhar apenas para mim
mesma quando a falta de compreensão ou de cooperação de uma das crianças
me frustra. É fácil sentir pena de nós mesmos, quando para os outros ensinar
os próprios filhos parece ser tão fácil. Creio que uma de nossas tentações mais
fortes é comparar nossos filhos aos dos outros. A Penitência me ajuda a morrer
para mim mesma e tornar-me um instrumento de Deus. É tremendamente fácil
pensar apenas em como está sendo o dia para nós e nossas tarefas rotineiras,
ao invés de considerá-lo pelo ponto de vista de nossos filhos.
A Missa diária é uma de minhas maiores bênçãos. Ela dá ordem e sentido
ao meu dia. Às vezes sinto-me frustrada durante a Missa, por conta do com-
portamento das crianças, e me pergunto por que me dei ao trabalho de sair
de casa. É então que me lembro de que o Santo Sacrifício da Missa é um ato
de louvor a Deus, que não tem como objetivo primeiro fazer-nos sentir bem.

305
MARY KAY CLARK

Uma de minhas cruzes mais difíceis costumava ser a humilhação pública.


Mas então me dei conta de que a humildade é uma virtude – e meus filhos
são a garantia que eu tomarei uma dose generosa dela ainda por um bom
tempo! Quantas vezes já desejei poder esconder-me sob uma mesa (ou banco
de igreja) diante de algum comportamento inaceitável deles. Ou quando al-
guém me dirigiu aquele olhar de “Que tipo de mãe é você, que não consegue
controlar seu próprio filho?” Eu seria muito mais orgulhosa do que sou, não
fosse por essas situações.
Às vezes me sinto culpada, pois a expectativa geral é que crianças educa-
das em casa comportem-se muito melhor do que as que vão à escola. Nós,
homeschoolers, devemos dar o bom exemplo a todos; e no entanto cá estou
eu dando o pior dos exemplos. É nesses momentos que a dor é maior. Somen-
te quem tem filhos com necessidades especiais sabe como são nossos dias.
Ainda assim, podemos nos consolar com o fato de sermos muito abençoados
por ter essas crianças. Que honra saber que Nosso Senhor não as teria dado
a nós se não confiasse em nossa capacidade de cuidar delas com o auxílio de
Sua graça. Tudo é possível com Deus ao nosso lado.

Métodos pedagógicos

Agora tratemos das demais disciplinas curriculares. Primeiramente, não


há duas crianças idênticas, de modo que o currículo e os métodos utiliza-
dos podem variar dentro da mesma casa, ou de ano para ano e às vezes de
semana para semana. Devemos ser flexíveis, sempre. O único aspecto fixo
é a existência de um problema e qual a natureza geral deste problema. Meu
filho de 8 anos é muito cíclico em seu grau de deficiência. Ainda não con-
seguimos entender o porquê, nem como controlar isso. Em consequência,
suas aulas são mais curtas no outono e na primavera, até que ele ultrapasse
a fase difícil.
Outro problema diz respeito à fixação de conteúdos. Uma criança pode
passar semanas estudando um conceito, compreendê-lo, e um belo dia acor-
dar tendo-o esquecido completamente. Sabemos quão frustrante isso pode
ser para os pais. Você consegue imaginar como é frustrante para a criança?
Tente planejar de antemão diversos modos de ensinar o mesmo conceito. Isto
aumenta a assimilação, diminui o tédio e estimula a cooperação. As aulas
devem ser curtas, concisas e interessantes. Lembre-se de sempre parar antes
de seu filho frustrar-se. A frustração impede o aprendizado. Faça uma pausa
e retorne mais tarde ao problema.

306
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Ao selecionar textos didáticos, tente escolhê-los de forma tanto cumulati-


va quanto sequencial. Para os meus filhos, isso é indispensável. Por cumula-
tivo, quero dizer que um conceito se vale de outro anterior e há uma revisão
dos conceitos previamente aprendidos. O material de matemática da Seton
é assim. Por sequencial, quero dizer que os conceitos seguem uma ordem
lógica. Textos de inglês que saltam de um conceito a outro, sem uma rela-
ção lógica entre ambos, não devem fazer parte do material dos seus filhos.
É melhor explorar cada tópico integralmente antes de começar um novo.
Minha filha ficou totalmente confusa quando utilizamos um material não
sequencial, seu aprendizado foi quase nulo por um tempo. Assim como se dá
com a religião, revisar conceitos previamente aprendidos é essencial para a
fixação de longo prazo, principalmente se você tem a preocupação de fazer
testes padronizados ao fim de cada ano.
Ao planejar seu dia, você deve decidir qual o mínimo absoluto de tarefas
que deseja cumprir. Quais as disciplinas fundamentais para você? As minhas
são religião, matemática, fônica/leitura, inglês e caligrafia. A caligrafia pode
ser incorporada, ou na aula de inglês, ou na de leitura/fônica do meu filho
da primeira série. Quaisquer outras disciplinas são consideradas extras. Se
você não estabelecer um nível mínimo de objetivos, se sentirá mais frustrado
ao fim de um dia difícil. Há dias em que só estudamos matemática, leitura
e religião, o que costuma acontecer durante as fases difíceis do meu filho de
8 anos.
Não deixe de reservar um tempo para atividades lúdicas, como projetos
de arte e experiências científicas, que podem ser feitos após as disciplinas
fundamentais. Se seu filho estiver em um dia difícil, deixe-o trabalhar em
projetos mais simples, ou façam corridas de revezamento ou qualquer ativi-
dade ao ar livre, como uma caminhada.
Ao ensinar história ao seu filho, minha recomendação é que você seja
o mais criativo que puder. Procure as atividades sugeridas ao fim de cada
capítulo do material didático. Faça-o resolver as tarefas que envolvem ma-
pas. Para os meus filhos, as perguntas de fim de capítulo são péssimas, pois
respondê-las demanda um trabalho de pesquisa enorme, que acaba sendo
frustrante para eles. Discuta com seu filho os capítulos estudados.
Outra técnica educativa que eu utilizo é construir diagramas com meus
dois mais velhos. Normalmente, dividimos os capítulos em seções marcadas
com letras em negrito. Então eles devem colocar as principais ideias de cada
seção no centro de um círculo. Qual o argumento central? Setas saindo do
círculo apontam detalhes que sejam pertinentes. Todas as informações do

307
MARY KAY CLARK

diagrama devem estar em palavras e expressões curtas. Não são permitidas


frases completas, pois seria um desvio da proposta do exercício. Ao final, dis-
cuto o diagrama com eles. É uma atividade que os diverte, além de fazê-los
pensar e estimular sua compreensão textual. Eis um exemplo de aprendizado
ativo versus aprendizado passivo.
Como mencionei anteriormente, aprender deve ser divertido, interes-
sante e conciso. Deve acontecer por meio de aulas curtas, que você deve
interromper ao menor sinal de frustração da criança. Quando estamos
frustrados, aprendemos pouco ou nada. É um sentimento que faz as crian-
ças se fecharem ao aprendizado. Se você se frustra como professor, pense
em como seu filho deve se sentir! Conheço um adulto com TDA que foge
de qualquer tipo de novo aprendizado por conta de frustrações sofridas na
infância. Ele adquiriu aversão a qualquer tipo de leitura, mesmo romances
de entretenimento. É isso o que queremos para nossos filhos? Descubra
quais os interesses do seu filho e invista neles. Por exemplo, se ele gosta de
colecionar cartões de beisebol, faça-o pesquisar o que estava acontecendo
na história mundial durante a vida de seus jogadores favoritos. Os jogado-
res eram católicos? Quais santos foram contemporâneos a eles? Tudo isso
o manterá interessado em aprender.
Tente ser flexível quanto ao modo de resolver tarefas. Com uma criança
pequena, você pode deixá-la utilizar adesivos para marcar as respostas, ao
invés de desenhar círculos ou marcar Xs. Isso ajuda sobretudo as crianças
com problemas de motricidade fina. Em algumas atividades de fônica, seu
filho pode ligar um traço até a resposta correta, ao invés de escrever todas as
palavras, ou mesmo responder oralmente, ou em um gravador. Seja criativo
para administrar os níveis de frustração e as deficiências de seus filhos.
Tanto a espontaneidade quanto a fidelidade a um cronograma são im-
portantes ao aprendizado de crianças com TDA/H. Elas precisam levar vidas
estruturadas. Em minha casa, costumamos fazer várias aulas curtas, ou pe-
quenas doses de cada disciplina, de não mais de 30 minutos cada. Do nível
pré-escolar até a primeira série, meus filhos aprendem principalmente em
situações improvisadas, que incluem rótulos de caixas de cereal, etiquetas de
roupa, placas pela rua, placas de carro, etc. Tudo o que chama sua atenção,
tento transformar em uma experiência educativa. Tente retirar o máximo de
cada situação educativa ao longo do dia. Isso funciona especialmente com
crianças impulsivas. Você pode valer-se de oportunidades que surgem pela
casa ou pela rua, ou aproveitar as deixas mais sutis dadas pela criança para
desenvolver um tópico educativo.

308
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Eu normalmente inicio as tarefas de meus dois mais velhos antes de co-


meçar a trabalhar com o de 8 anos, o qual normalmente fica brincando de
alguma coisa enquanto os irmãos trabalham. Então, ao longo do dia, alterno
minha atenção entre as crianças. Ter várias atividades prontas para meu filho
de 8 anos é importante para manter sua atenção. A organização é fundamen-
tal para o sucesso, quando você tem de ensinar tantas crianças e ao mesmo
tempo cuidar das pequeninas. Em nossa casa, nossos dias escolares não são
curtos; porém, embora às vezes trabalhemos até o fim da tarde, nosso apren-
dizado não é compacto e intenso. Há muitas pausas, por diversas razões.
Essa pode não ser a norma, mas é o que funciona para nós.

Administrando o caos

Um de meus grandes desafios é conseguir dar aulas e cuidar de meus ou-


tros filhos, mantendo, ao mesmo tempo, meu filho com TDA/H ocupado ou
ajudando-o com os estudos. Muitas famílias homeschoolers têm o luxo de
contar com seus filhos mais velhos para ensinar os menores ou auxiliá-los.
Isso não é possível no meu caso. Ou a criança precisa de mim ao seu lado, ou
resiste inteiramente às tentativas dos irmãos de ajudá-la.
Você deve ter sempre o cuidado de monitorar o progresso das aulas e
do aprendizado da criança, para que ela não fique atrasada nos conteúdos,
especialmente tendo em vista os testes padronizados. O primeiro passo é
checar o documento com os Objetivos de Aprendizado do seu estado. Seu
currículo básico deve ter como meta atingir esses objetivos. Lembre-se de
que não costuma haver provas de história e ciências, dependendo da idade
da criança e do estado no qual você vive. Tendo dito tudo isso, reitero que
as aulas de religião são mais importantes do que cumprir os Objetivos de
Aprendizado do governo estadual. Prestamos contas primeiro a Deus.
Estabeleça objetivos básicos para o seu ano escolar e vá acrescentando
conteúdos extras na medida do possível. Não fique obcecado com cumprir
uma série por ano, ou com manter seu filho na mesma série em todas as
disciplinas. Isso contradiz completamente uma das grandes vantagens do
homeschooling, que é possibilitar que a criança aprenda de fato e em seu
próprio ritmo. O que é mais importante: um aprendizado de qualidade em
um ritmo mais lento do que a média, ou cumprir o cronograma? Apegar-se
demais ao plano inicial gera somente raiva e ressentimento para ambos, pro-
fessor e filho. É algo que dificulta muito o aprendizado e eventualmente pode
levar à exaustão. Não se preocupe com dar um andamento igual a todas as

309
MARY KAY CLARK

disciplinas. O importante é que seu filho esteja aprendendo em seu ritmo


próprio e que você o esteja ajudando.
Se possível, recomendo fortemente que você monte portfolios, ou arqui-
vos de tarefas, em vez de fazer testes padronizados para submeter à escola
ou guardar em seus registros pessoais. Portfolios são um modo mais preciso
de avaliar o progresso do seu filho, pois muitas crianças com necessidades
especiais simplesmente não se dão bem com testes formais, devido à própria
natureza de sua deficiência e não porque não sabem a resposta. Caso seja
indispensável fazer os testes, aplique-os você mesmo e em sua própria casa.
Do mesmo modo como crianças que vão à escola fazem suas provas em um
ambiente escolar conhecido, assim obtendo resultados precisos quanto aos
seus conhecimentos, seus filhos merecem gozar do mesmo benefício e ser
avaliados em seu ambiente conhecido.
Às vezes surge a questão de fazer ou não testes para diagnosticar TDA/H,
quando há suspeita. Sabíamos que existia a chance de um diagnóstico po-
sitivo para o nosso filho da primeira série desde que ele tinha dois anos,
mas, naquele momento, não vimos razão para testar. Já hoje penso que uma
avaliação precisa teria sido útil, pois poderíamos ter aprendido mais cedo os
modos corretos de lidar com ele e ajustado nossas expectativas à realidade.
Os testes feitos quando ele tinha cinco anos nos ajudaram ao nos revelar,
finalmente, contra o que estávamos lutando, e o fato de haver uma motiva-
ção médica para o problema diminuiu nossa sensação de fracasso. Estamos
hoje mais confiantes em nossos papéis, embora ainda soframos com o peso
da responsabilidade; mas agora podemos aprender mais sobre a condição de
nosso filho, ao invés de pesquisar às escuras.

Disciplina

Maus comportamentos são muito comuns em crianças com TDA/H. Uma


psicóloga me deu alguns conselhos excelentes nessa área. Primeiro, ela dis-
se que era necessário exagerar tanto nos elogios como nas punições. Isso
não significa aplicar castigos severos. Crianças com TDA/H têm dificuldade
para compreender o sentido exato de uma mensagem. Dê ao seu filho 100%
de sua atenção. ELOGIE cada conquista, ou, mais do que isso: faça uma
VERDADEIRA FESTA! Pare o que você estiver fazendo para acentuar esse
momento. Abrace-o. Por outro lado, seja igualmente explícito quando tiver
de corrigi-lo. Pareça BRAVO. Deixe-o perceber que a situação é séria e que
você está chateado com ele. É igualmente importante, nessas ocasiões, não

310
HOMESCHOOLING CATÓLICO

falar demais; não utilize o momento para conversas ou explicações longas. A


hora de conversar é após a correção adequada.
O convívio social costuma ser uma área dificultosa para crianças com
problemas de aprendizagem. Interações em ambientes lotados devem ser
adiadas até que elas consigam lidar com grupos pequenos. Alguns profis-
sionais já me disseram que meus filhos precisam de mais interação social do
que a maioria das crianças, para que possam desenvolver suas habilidades de
convívio. Eu discordo. Esse tipo de coisa somente os sobrecarrega e frustra.
A vida familiar é melhor para ensinar essas habilidades, e o resto fica por
conta de passeios educativos, leitura de histórias na biblioteca e atividades
esportivas. Além disso, também é possível interagir socialmente com outros
homeschoolers. Certamente Nosso Senhor nos dará as graças necessárias
para socializarmos nossos filhos sem ter de submetê-los às salas de aula es-
colares, que incentivam o mau comportamento pelo simples fato de serem
tão lotadas de crianças e repletas de distrações!

Alegrias especiais

Uma das muitas bênçãos que recebemos ao criar nossos filhos especiais
é a alegria que experimentamos com cada uma de suas conquistas. O que
para a maioria das crianças são conquistas ordinárias é quase sempre uma
batalha para os nossos filhos. Como é gratificante, então, ver seus rostos
quando finalmente aprendem ou dominam algo! É uma alegria que os pais
de crianças “normais” não conseguem mensurar.
Ter um filho com necessidades especiais é tão difícil para irmãos e irmãs
quanto para os pais. Imagine ter de amar seu irmão, mas ao mesmo tempo
odiar o comportamento imprevisível dele. Os irmãos estão sujeitos às mesmas
emoções que nós ao lidar com o TDA/H. Não é fácil para eles. É incalculável
a importância de aceitar seus sentimentos sem julgá-los. Sentimentos não são
nem certos, nem errados. É o que fazemos com eles que pode ser pecaminoso.
Devemos ensinar nossos filhos “típicos” a recorrer a Deus, aos santos e aos seus
anjos da guarda, para que também eles sejam confortados e ganhem um maior
compreensão da situação. Devemos conversar abertamente com eles, para que
ajudá-los a entender por que os pais têm formas diferentes de lidar com filhos di-
ferentes, assim como expectativas que variam de filho para filho. Do contrário,
eles presumirão que se trata de favoritismo, o que causará raiva e ressentimento.
Criar um filho com TDA/H é uma tarefa dificílima. Contudo, com a graça
de Deus, particularmente com a ajuda dos Sacramentos e de muita oração,

311
MARY KAY CLARK

ela pode ser cumprida. Deus nos honrou ao nos dar a tarefa de criar filhos
especiais. Somos verdadeiramente abençoados por termos a possibilidade
de educá-los em casa, para que eles não precisem sofrer as humilhações e
abusos que encontrariam em qualquer sistema escolar. É a consciência disso
que me mantém firme nos momentos mais difíceis.

312
Capítulo 13
A questão da socialização

D
epois de expostos os motivos positivos para se praticar o homescho-
oling, e tendo-se explicado todos os benefícios para a família, tanto
educacionais quanto espirituais, resta sempre uma última questão:
“Mas e a socialização?”
É uma triste característica de nossos tempos e de nossas instituições edu-
cacionais, que muitas pessoas, mesmo as mais cultas, mesmo os católicos,
estejam mais preocupadas com a socialização das crianças do que com sua
educação acadêmica e religiosa.
O termo “socialização” foi inventado pelos educadores porque eles já
não conseguem “vender” as escolas por sua finalidade educacional, sendo
necessário inventar outro motivo para elas existirem.
A verdade é que o propósito principal das escolas públicas nunca foi a edu-
cação. Pesquisando os escritos dos fundadores do sistema de ensino moderno
dos Estados Unidos, percebemos que a realidade que hoje testemunhamos é o
cumprimento do plano que eles tinham desde o início. O objetivo nunca foi o
“simples aprendizado”, mas a “eficiência social, a virtude cívica e o caráter”.
(Ellwood, P. Cubberley, The History of Education, p. 690. E também: Rousas
John Rushdoony, The Messianic Character of American Education, passim.)
É claro que, se as escolas buscassem a eficiência social, a virtude cívica e
o desenvolvimento do caráter utilizando a Bíblia como guia, não teríamos
MARY KAY CLARK

muito do que reclamar. Porém, desde a década de 1960, não é permitido


rezar nas escolas, livros e materiais religiosos não podem ser utilizados e,
hoje em dia, livros como Gloria vai à Parada Gay e Heather tem duas mães
tornaram-se obrigatórios nas escolas de Nova York, Nova Jersey e Con-
necticut. Com a legalização dos “casamentos” homossexuais, as crianças
aprenderão na escola que esse é um modo de vida entre outros possíveis.
Onde houver pessoas reunidas, haverá interação e socialização. O que
os pais católicos precisam ponderar é: que tipo de socialização queremos
para os nossos filhos? Queremos que eles convivam com colegas de classe
imersos na cultura das drogas e do sexo livre, na cultura do “Eu primeiro”?
Queremos que nossos filhos sejam doutrinados pela cultura da Nova Era e
do politicamente correto? Queremos que eles sejam alvo de campanhas do
tipo “Mais corujas, menos bebês”, apoiadas por professores e colegas de
classe corrompidos?
Quantas vezes recebo telefonemas de pais e mães que relatam a per-
seguição aos alunos que usam escapulários ou protestam contra pro-
fessores abortistas e em favor da vida! Um padre me contou que certa
vez visitou uma escola católica cujos alunos riram quando ele disse que
a Santa Eucaristia é Jesus Cristo, o Filho de Deus. E há a anedota de
Donna Steichen (autora do livro Fúria Ímpia [Ungodly Rage]), quando
um aluno em sua aula na Confraternidade da Doutrina Cristã exclamou:
“Nossa, Sra. Steichen, você fala de Jesus como se ele fosse Deus ou algo
do tipo!”
Outro padre relatou que, certa vez, visitou uma escola católica de
ensino médio para dar uma palestra sobre a fé, onde repetiu os ensina-
mentos católicos sobre adultério, fornicação e pecado mortal. Não só os
jovens ficaram incrédulos, como os professores ficaram furiosos com ele
por falar sobre pecado mortal! Com que tipo de companhias queremos
que nossos filhos socializem? Queremos ensiná-los a “se dar bem” com
quem prega valores anti-católicos, com quem os influenciaria a seguir
pelo caminho do sexo precoce e do uso de camisinhas? Queremos que
vivam sua infância escolar infelizes, sendo sempre aqueles que são dife-
rentes, aqueles que são ridicularizados por colegas e professores? Quanto
tempo uma criança consegue resistir a ataques sistemáticos aos valores
cristãos, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano?
“Quem visita os sábios torna-se sábio; quem se faz amigo dos insensatos
perde-se.” Provérbios 13, 20

314
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Socialização nas escolas

Recebo, o tempo todo, telefonemas de pais arrasados. Eles querem tentar o


homeschooling não apenas porque seus filhos estão recebendo uma educação
precária, mas porque têm tido terríveis experiências de “socialização” nas es-
colas. Os pais me telefonam porque os colegas de seus filhos, após a leitura dos
livros didáticos de literatura, tentam de fato praticar bruxaria com os colegas
de classe. Algumas crianças são abusadas por outras crianças, física, verbal ou
sexualmente. Em uma escola, dois garotos atacaram sexualmente uma menina
em um banheiro. Em outra escola, colegas de classe tentaram enforcar um
menino da sétima série. As histórias são infinitas. Há de fato pouquíssima evi-
dência de que a socialização nas escolas americanas seja saudável. Você pode
conferir pelo noticiário da televisão ou da internet, todos os dias.
Em abril de 1992, foi ao ar na ABC News uma reportagem de dez minu-
tos sobre educação sexual nas salas de aula. Um grupo de alunos da quinta
série, com rostos infantis e brincalhões, apareceu brincando de atirar camisi-
nhas uns nos outros e cutucar-se com os instrumentos para controle de nata-
lidade que haviam recebido das mãos de seus professores, que supostamente
lhes ensinariam o que é “sexo seguro”. Socialização, á la paganese!
O Departamento de Educação dos EUA publicou, no final dos anos 70,
um relatório sobre a violência nas escolas, fornecendo estatísticas de quantos
estupros, ataques pessoais e roubos ocorriam nas escolas. Foi surpreendente
o fato de eles publicarem um documento desse teor, que declarava que a
escola era um dos lugares mais perigosos do país!
Recentemente, a televisão nos deu uma imagem precisa de quão maravi-
lhosa é a socialização nas escolas, ao transmitir um debate entre educadores
que buscavam um consenso sobre o que é melhor: um detector de metal
manual ou um mais caro, a ser instalado no portão de entrada das escolas,
para detectar armas e facas escondidas nos pertences dos alunos.
Em fevereiro de 1993, um garoto de 11 anos foi encontrado com uma
arma carregada em uma escola de classe alta do norte da Virginia. Em en-
trevista, os policiais que o prenderam relataram que as crianças têm levado
armas às escolas para se proteger de outras crianças que levam armas. De
fato, um estudo realizado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos
descobriu que um em cada vinte alunos de escolas públicas leva uma arma
de fogo para a escola ao menos uma vez por mês!
As crianças que vão à escola e seus pais sabem perfeitamente que existe
pressão grupal para que os jovens usem drogas e iniciem sua atividade sexu-

315
MARY KAY CLARK

al. Duas adolescentes de uma escola católica rural me disseram que eram as
únicas virgens em sua classe. Mary Elizabeth Podles, na edição de abril de
1993 da Crisis, escreveu que sua confiança na escola católica de sua região
foi abalada quando a turma da oitava série recebeu como tarefa escrever
para a Catholic Review apoiando o recebimento de camisinhas pelos alunos
como um modo de prevenir a AIDS.
Os alunos passam por problemas tão sérios nas escolas hoje em dia, que
crianças normais são levadas a considerar-se anormais. As escolas têm in-
vestido sessões de terapia em sala de aula, para lidar com os problemas das
crianças. Após um caso de suicídio em uma escola, os professores dão “aulas
terapêuticas” abordando o tema do suicídio. Se o pai de um aluno morre
de repente, toda a escola assiste a aulas sobre a morte. As escolas têm aulas
regulares sobre drogas e experiências sexuais precoces. Há aulas para ajudar
filhos de pais divorciados, filhos de segundos, terceiros ou mais casamentos e
filhos cujos pais coabitam com novos parceiros sem ser casados.
As escolas têm dedicado tanto tempo a aulas de conteúdos clínicos, isto
é, não acadêmicos, que acabam afetando as crianças normais e saudáveis.
Crianças cristãs e equilibradas podem acabar perturbadas, perguntando-se
se talvez as anormais não são elas, que não têm todos esses problemas. Uma
mãe que me telefonou para contar que decidiu retirar seu filho pequeno da
escola quando ele foi motivo de piada por ter apenas um pai e uma mãe, os
mesmos que teve a vida toda!
Há um livro que denuncia a terrível hipocrisia da socialização nas es-
colas. A Família Importa (Family Matters), do professor secundário David
Guterson, que também é pai homeschooler, discute a obsessão que os ado-
lescentes nas escolas têm por conquistar a aceitação dos colegas. Há uma
batalha constante por status grupal, e as chamadas “panelinhas” isolam os
jovens de grupos de outras faixas etárias. A obsessão pela conformação ao
grupo através de roupas, cortes de cabelo, valores e atitudes debilita o cresci-
mento emocional e a socialização desses jovens depois de adultos.
Alguns psicólogos infantis têm reconhecido o dano social que as escolas
vêm causando às crianças. O Dr. Raymond Moore, em Crianças criadas em
casa (Home Grown Kids), discute um estudo conduzido pelo Dr. Urie Bron-
fenbrenner, da Universidade Cornell, com 766 alunos da sexta série, que che-
gou à conclusão de que a maioria deles não possuía valores sociais saudáveis.
Para o Dr. Moore, a dependência grupal é o câncer social de nossos tempos.
Nos dias de hoje, em que as crianças passam mais tempo com colegas do
que com seus pais, pois estes trabalham fora de casa por longas horas, elas

316
HOMESCHOOLING CATÓLICO

acabam adotando os valores dos grupos de amigos. Tal é a origem do cha-


mado “conflito de gerações”. Esse problema tem sido causado pelas escolas,
que definitivamente não proporcionam uma socialização saudável.

Escolas católicas

Muitos pais católicos têm consciência desses problemas, porém acredi-


tam que as escolas católicas são mais seguras. Eles provavelmente não estão
a par dos fatos. Os problemas descritos acima podem não ser tão comuns
nas escolas católicas, mas a realidade é que estas, hoje, raramente ensinam
valores católicos positivos; há, inclusive, evidências claras de que o nível de
imoralidade e perda da fé está em franca escalada nas escolas católicas.
Em janeiro de 1993, o Pe. Kevin McBrien, da sede nova-iorquina do Escri-
tório de Educação Católica, foi entrevistado pela Madre Angélica na EWTN.
Quando lhe perguntaram por que o novo Catecismo Católico Universal é
necessário, ele revelou que, a cada ano, nos últimos onze anos, 100.000 alu-
nos da oitava série participaram de uma pesquisa sobre seu conhecimento da
moral e da fé católicas. Segundo o Pe., os resultados tornavam-se mais aber-
rantes com o passar dos anos, e a esperança do Vaticano era que o Catecismo
da Igreja Católica pusesse um fim à perda da fé e à prática da imoralidade
entre os jovens.
Em maio de 2004, na EWTN, o Pe. Mitch Pacwa e Pe. John Connor afir-
maram que a fé não tem sido ensinada nas escolas católicas, e ambos reco-
mendaram o homeschooling. O Pe. Pacwa comentou sobre sua experiência
como professor de uma grande universidade católica; no primeiro dia de
aula, ele sempre pedia aos alunos católicos que escrevessem os Dez Manda-
mentos e os Sete Sacramentos, e eles não conseguiam fazê-lo.
Uma “socialização” saudável consiste na prática das virtudes cristãs. Sig-
nifica amar nosso próximo como a nós mesmos. Significa querer o melhor
para os outros, desejando especialmente a sua salvação. Porém, se as crian-
ças não leem as vidas dos Santos, não têm os modelos morais de que preci-
sam para ser virtuosas. Se as crianças não aprendem os Dez Mandamentos,
nem as Bem-Aventuranças, e se não compreendem os princípios aí implica-
dos, não têm como praticar o amor abnegado pelo próximo, que é a base de
todas as amizades verdadeiras. Elas precisam aprender sobre Jesus, sobre Seu
auto sacrifício e Seu amor por nós, para que sejam capazes de pôr em prática
bons hábitos sociais, cheios de bondade, generosidade e caridade.

317
MARY KAY CLARK

Nós resistiríamos?

Alguns pais argumentam que querem manter seus filhos na escola para
que eles ajudem outras crianças. O bom exemplo de seus filhos mostraria
aos coleguinhas como devem se comportar. Talvez assim – pensam eles – seja
possível modificar as outras crianças.
O que esses pais não admitem é que talvez seus filhos é que mudem para
pior. O mal costuma usar disfarces convincentes e é sempre tentador. É por
isso que as boas companhias são tão importantes e as más, tão perigosas.
Não por acaso, nosso catecismo ensina que, após recebermos o Sacramento
da Penitência, devemos tomar a firme resolução de não pecar mais, o que
significa “não apenas evitar o pecado, mas evitar, na medida do possível, as
ocasiões que levam a ele”. Devemos evitar pessoas que provavelmente nos
levarão a pecar.
Será emocional ou espiritualmente bom para as crianças tentar converter
seus colegas de classe, especialmente quando as próprias figuras de autori-
dade daquele ambiente promovem valores e atitudes anticatólicos? Quanto
tempo as crianças são capazes de resistir aos livros que são obrigadas a ler
e que atacam os valores católicos que aprenderam com seus pais? Quanto
tempo elas conseguem resistir a professores que lhes são hierarquicamente
superiores, a quem, portanto, devem “obedecer”, e que ridicularizam suas
crenças católicas?
Podemos esperar que nossos filhos mantenham-se firmes por treze anos,
afirmando sua fé e vivendo uma vida católica? Realmente queremos que
nossos filhos, do jardim de infância ao ensino médio, frequentem escolas
que promovem ativamente, todos os dias, uma visão de mundo anticatólica?
A mídia tem falado muito sobre abuso sexual no local de trabalho. Diz-
-se que essa prática cria um “ambiente hostil” no qual não se pode esperar
que as mulheres tenham um bom desempenho. Ora, se alguns comentários
libidinosos aqui e ali constituem um ambiente hostil para um adulto, então
necessariamente, para as crianças cristãs em geral, uma escola pública é uma
zona de guerra. E, sinto muito precisar dizê-lo, mas o mesmo se aplica a
muitas escolas católicas.
A premissa dos educadores é que a socialização com os colegas de classe
ajudará as crianças a “adequar-se” à sociedade. Evidentemente, a ironia é
que eles estão certos! Após trezes anos de doutrinação para a indiferença
moral, qualquer criança estará perfeitamente “adequada” aos valores pa-
gãos da cultura secular, pronta para tornar-se mais um cidadão passivo de

318
HOMESCHOOLING CATÓLICO

nossa sociedade americana. É improvável, contudo, que essas crianças te-


nham maturidade para ser cidadãs da sociedade do Céu.

A perspectiva católica

Enquanto fiéis católicos, nós precisamos abordar a questão da socia-


lização por uma perspectiva católica. “Socialização” é uma palavra in-
ventada pelos educadores modernos. Não há menção a ela em qualquer
catecismo católico, tampouco na Bíblia. No dicionário Webster de 1989,
a palavra “socialização” é definida como “socializar ou ser socializado”.
Socializar significa “ser ativo em afazeres sociais”. Provavelmente, os edu-
cadores querem dizer que as crianças devem ser capazes de relacionar-se
com ou ajustar-se aos demais, em geral colegas da mesma idade, em diver-
sas situações sociais.
Se não fosse tão alto o número de cristãos praticando o controle de nata-
lidade, haveria mais famílias numerosas. No passado, as famílias eram bem
maiores. E os avós costumavam morar com os filhos. Algumas décadas atrás,
o argumento da “socialização” fora da família seria ridículo. É em grande
medida devido ao fato de as famílias terem se tornado tão pequenas que os
pais têm se deixado enganar com tanta facilidade pela ideia de que a “socia-
lização” na escola é tão importante.
A verdade é que muitos educadores têm a preocupação de manter a
comunidade escolar, que lhes serve como instrumento para manipular os
valores das crianças. Eles querem que nossos filhos aceitem as ideias secu-
lares modernas, que lhes são apresentadas em sala de aula. Eles querem
moldar as atitudes e os valores das crianças de acordo com o que creem
ser o melhor para a sociedade. Assim, as crianças católicas que frequentam
escolas públicas ou algumas escolas católicas acabam rejeitando os valores
e atitudes católicos.
Se você tem qualquer dúvida sobre a eficácia de campanhas que bus-
cam modificar os valores das pessoas, considere apenas a campanha con-
tra o cigarro, iniciada há trinta anos. Fumar era socialmente adequa-
do. Em filmes e programas de TV antigos, as pessoas fumavam o tempo
todo. Hoje, essa atitude foi totalmente invertida. Se a campanha contra
o cigarro pôde modificar uma sociedade inteira, será que treze anos de
doutrinação secular não terão um impacto profundo sobre a maioria das
crianças católicas?

319
MARY KAY CLARK

Ensinamentos de Jesus

Os pais católicos precisam perguntar-se: “De acordo com a Bíblia, o que


Jesus tem a dizer a esse respeito? Há alguma indicação de que devemos ad-
quirir virtudes sociais a partir do convívio com grupos de colegas?”
Jesus fala o tempo todo sobre o modo correto de tratarmos nossos seme-
lhantes. Basicamente, Ele repete os Dez Mandamentos, os sete últimos dos quais
nos ensinam especificamente como agir em relação aos outros: devemos ser obe-
dientes, respeitar nossos pais e aqueles com autoridade sobre nós; não cometer
adultério; não matar; não roubar; não mentir ou prestar falso testemunho; não
cobiçar os bens do próximo; não cobiçar a mulher do próximo. São Manda-
mentos tão simples, que cabem em um parágrafo; porém, é necessário que sejam
apropriadamente ensinados e que a esse ensino se somem os exemplos de pais,
professores e outras figuras modelares, ou não serão cumpridos.
Jesus ensinou que a caridade é a mais importante “virtude social”. Ele
mandou o jovem rico vender tudo o que possuía e dar o dinheiro aos pobres.
Ele também contou a parábola do homem que estava ferido na beira da
estrada e era ignorado pelos transeuntes. A “maioria” escolheu não ajudar
a vítima. O Bom Samaritano que finalmente o ajudou era seu verdadeiro
semelhante. Jesus ensina que a verdadeira socialização muitas vezes significa
ir contra as massas, pensando primeiramente, não em nossos próprios inte-
resses, mas em ajudar o próximo.
A lição de Cristo é inflexível quando nos chama a nos sacrificamos por
Ele e por nossos semelhantes. Uma de Suas ordens fundamentais foi dada
após Ele lavar os pés dos Apóstolos: “Vós me chamais Mestre e Senhor, e o
dizeis bem, pois eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os
pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo
para que, como eu vos fiz, assim façais também vós.”
Nosso Senhor nos deixou numerosos ensinamentos a respeito de como
devemos tratar nossos semelhantes; do mesmo modo, está claro na Bíblia
que é preciso ensinar valores cristãos às crianças. Não devemos impedi-las
de aprender sobre Ele, disse Jesus aos Apóstolos em uma ocasião particular,
quando as crianças reuniram-se ao Seu redor. Ainda assim, nas escolas pú-
blicas de nossos dias, o Departamento Estadual de Educação proibiu expres-
samente o ensino de “religião”. As crianças são proibidas de aprender sobre
Jesus e Seus ensinamentos “religiosos”.
Não há qualquer indicação na Bíblia de que Jesus tenha frequentado uma
escola. Na verdade, quando Ele, aos doze anos, visitou o Templo em Jeru-

320
HOMESCHOOLING CATÓLICO

salém, os sacerdotes judeus não O conheciam e ficaram maravilhados com


Sua compreensão das Escrituras. Quando Jesus voltou para casa com José
e Maria, sujeitou-Se a eles. Durante o tempo em que viveu sob a tutela de
Seus pais, Ele cresceu em sabedoria, maturidade e graça. Não há qualquer
indicação nos Evangelhos de que Ele tenha recebido instrução formal, ou
que tenha desenvolvido sabedoria, maturidade e graça em qualquer lugar
que não sua casa; tampouco nos escritos de quaisquer dos Padres da Igreja
eu pude encontrar qualquer passagem que sustentasse a hipótese de Cristo
ter frequentado uma escola.

Documentos da Igreja

Pesquisando os documentos da Igreja Católica que tratam de educação,


não encontramos a palavra “socialização”. Obviamente, a Igreja Católica não
acredita que “ser ativo em situações sociais” seja um objetivo em si mesmo.
Em Familiaris Consortio, O Papel da Família Cristã no Mundo Moderno,
parágrafo 37, o Papa João Paulo II afirma o seguinte:
Numa sociedade agitada e desagregada por tensões e conflitos em razão do
violento choque entre os diversos individualismos e egoísmos, os filhos devem
enriquecer-se não só do sentido da verdadeira justiça que, por si só conduz
ao respeito pela dignidade pessoal de cada um, mas também e, ainda mais, do
sentido do verdadeiro amor, como solicitude sincera e serviço desinteressado
para com os outros, em particular os mais pobres e necessitados. A família é
a primeira e fundamental escola de sociabilidade: enquanto comunidade de
amor, ela encontra no dom de si a lei que a guia e a faz crescer. O dom de si,
que inspira o amor mútuo dos cônjuges, deve pôr-se como modelo e norma
daquele que deve ser actuado nas relações entre irmãos e irmãs e entre as
diversas gerações que convivem na família. E a comunhão e a participação
quotidianamente vividas na casa, nos momentos de alegria e de dificuldade,
representam a mais concreta e eficaz pedagogia para a inserção activa, res-
ponsável e fecunda dos filhos no mais amplo horizonte da sociedade.24

Vidas dos Santos

De minha leitura das vidas dos santos, não recordo de nenhum que se
tenha beneficiado de seguir as massas, ou que tenha se tornado santo por ter

24 In: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_
19811122_familiaris-consortio.html

321
MARY KAY CLARK

uma extraordinária capacidade de socialização. Pelo contrário, se há algo em


comum entre os santos, é sua não aceitação dos valores sociais de seu tempo.
Ao estudar a vida de qualquer santo, sempre verificamos que ele ou ela ia
contra os valores da sociedade, recusando-se a ser “sociáveis” e a aceitar as
normas sociais vigentes em seu tempo. Foi por ensinar e viver os valores de
Deus e não os dos homens que eles se tornaram santos.
Muitos santos viveram como ermitões ou semi-ermitões. Santo Antônio
do Egito visitou vários homens santos, aprendeu sobre a vivência das vir-
tudes e então viveu como um ermitão por vinte anos. Porém, como muitas
pessoas o visitavam para aprender mais sobre como viver uma vida santa,
ele acabou fundando um monastério, o primeiro da história. Cristo apareceu
para ele e permitiu-lhe realizar muitos milagres. Santo Atanásio, que escre-
veu uma biografia de Santo Antônio, dizia que “o simples conhecimento de
como vivia Santo Antônio nos ajuda a ser virtuosos.”
Outros santos passavam longas horas ou mesmo dias sozinhos. Santa Ca-
tarina de Sena passou vários anos em prece antes de trabalhar em hospitais e
visitar o Papa. São Jerônimo viveu como um ermitão por trinta anos e tradu-
ziu a Bíblia ao latim. Santa Rosa de Lima rezava diariamente em seu peque-
no convento e só saía para ajudar no hospital, ou quando certa vez precisou
liderar uma corrente de orações na cidade, contra uma calamidade iminente.
Nosso Senhor só iniciou Sua vida pública aos trinta anos. Mesmo então,
após ser batizado, Ele afastou-se das pessoas e fez um retiro de quarenta
dias no deserto para rezar e jejuar. Em diversos momentos dos três anos
seguintes, Ele afastou-se das massas e mesmo dos Apóstolos para dedicar-se
à oração. Sem dúvida, há muitos exemplos para nós, cristãos, demonstrando
que, em silêncio, solitários, distantes das situações sociais, é mais fácil en-
contramos Deus. Como se costuma dizer, Deus fala em silêncio. Infelizmente,
para muitas pessoas, a virtude do silêncio se perdeu.
As vidas dos santos nos oferecem, a nós e a nossos filhos, muitos exem-
plos de como colocar em prática as virtudes sociais. Os santos ajudavam
seus amigos e todos aqueles que estivessem em situação de necessidade. Eles
trabalhavam em hospitais, cuidando dos doentes e dos pobres. Eles ajuda-
vam minorias e aqueles acometidos por doenças. Eles cuidavam dos bebês e
dos velhos. Em suma, eles sacrificavam-se pelo bem dos outros.
Se é verdadeiro nosso chamado à santidade, como podemos nos preocupar
tanto com a socialização entre colegas? Não devemos, ao invés, evangelizar
nossa sociedade com os valores de Cristo? Não somos chamados a dar o tes-
temunho cristão a outros que tenham sido “socializados” em meio aos valores

322
HOMESCHOOLING CATÓLICO

mundanos? Não somos chamados a viver a autêntica vida cristã e mostrar à


sociedade pagã de nossos dias que tal vida pode levar à felicidade eterna?

Homeschooling

As crianças homeschoolers podem praticar virtudes sociais em seus pró-


prios lares, no relacionamento com os membros de sua sociedade familiar.
Elas também podem ajudar na igreja ou no centro de jovens, em casas de
repouso para idosos, em centros de apoio às mulheres grávidas e em insti-
tuições para crianças, idosos ou deficientes intelectuais. Elas podem ajudar
seus vizinhos idosos que não conseguem sair de casa, ou visitar famílias que
enfrentam necessidades espirituais ou físicas, devidas a doenças ou morte na
família; elas podem ler para os cegos, ou visitar freiras idosas.
As oportunidades para crianças católicas desenvolverem “virtudes so-
ciais” são quase ilimitadas. Basta pensar um pouco para que se encontrem
oportunidades dentro da família, na igreja ou na comunidade. Há sempre
pessoas necessitadas ao nosso redor. A socialização não se restringe à insti-
tuição chamada escola.
E aí vem a questão: devemos socializar com outros paroquianos que pen-
sem diferentemente de nós? Devemos permitir que nossos filhos frequentem
a escola paroquial para dar testemunho da fé e da vida católicas?
Há dois problemas diferentes aqui. Um diz respeito aos nossos filhos, o
outro a nós mesmos. Crianças pequenas ainda não têm a estrutura neces-
sária para enfrentar as ideias complexas e muitas vezes sutis que têm sido
promovidas em nossa sociedade, pela televisão, pelos livros didáticos, pelos
professores e pelos colegas de classe. Não podemos expor nossos filhos dia-
riamente, por várias horas, a valores anticatólicos e contrários à família, e
ainda assim esperar que eles permaneçam fiéis aos valores católicos. Qual
pai ou mãe dispõe de tempo suficiente após a escola para refutar o que ali
se ensina todos os dias? Mesmo saber tudo o que acontece em sala de aula
todos os dias seria impossível. As crianças não necessariamente sabem que a
mãe e o pai têm interesse no discurso feito pela professora sobre superpopu-
lação. Crianças precisam ser criadas com cuidado e consistência, segundo os
preceitos cristãos, na segurança e estabilidade do lar.
Os pais, por outro lado, firmes em sua fé e crenças católicas, DEVEM
expor-se aos males de nossa sociedade, para dar testemunho e evangelizar. O
que não significa que não devam ter cuidado para não cair. Expor-se cons-
tantemente a ideias ou práticas malignas pode levar à aceitação tácita desses

323
MARY KAY CLARK

males. Muitas mães que lutam contra a pornografia e a educação sexual já


se flagraram dessensibilizadas diante do assunto.
E quanto a socializar com os paroquianos do bairro? Depende da paró-
quia. Em minhas viagens pelo país, percebi que as diferenças entre as igrejas
são como a noite e o dia. Certa vez, um paroquiano me explicou que a igreja
e a Missa não pareciam católicas “porque aqui nós fazemos tudo diferente”.
Mas imediatamente garantiu que era de fato uma igreja católica.
Muitas mães já me telefonaram para contar que, após as Missas, precisam
ter uma longa conversa com seus filhos para explicar as muitas aberrações
que testemunham, porém não conseguem explicar por que o Padre as pratica
mesmo assim. Uma mãe permitia que sua filha fosse coroinha (quando ainda
era proibido para mulheres), pois a menina via várias outras garotas nessa
função. A pressão social acabou sendo forte demais para mãe e filha.
Em algumas situações, os pais escolhem frequentar uma boa igreja mais
distante de casa, onde podem levar seus filhos para explicar as bênçãos da
Missa. (A isso se soma o benefício de a família manter contato com católicos
de mentalidade semelhante à sua.) Talvez seja possível frequentar a paróquia
mais próxima nas Missas noturnas, sem as crianças, para dar testemunho e
fazer por lá alguma evangelização.

Socialização ou destruição da personalidade?

O Dr. Damian Fedoryka, ex-presidente da Christendom College e pai


homeschooler de dez filhos, disse o seguinte em uma conferência sobre ho-
meschooling:
Eu realmente não achava certo que meus filhos passassem um ano de suas
vidas aprendendo a ser uma criança de onze anos, depois outro ano apren-
dendo a ser uma criança de doze, e assim por diante... Eles têm uma mãe em
casa. Eu prefiro que eles aprendam a ser como sua mãe, e disponham de todo
o tempo necessário para isso.

O que o Dr. Fedoryka quis dizer é que os ditos valores sociais que as
crianças aprendem na escola mudam o tempo todo, pois acompanham a
imaturidade coletiva do grupo. Por outro lado, os valores ensinados pela
mãe são estáveis e servirão à criança ao longo de toda a sua vida.
Para o Dr. Fedoryka, a socialização escolar não é apenas perda de tempo;
o tipo de socialização vivenciado pelas crianças nas escolas de hoje é pre-
judicial às suas personalidades e, consequentemente, também à sociedade.

324
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Uma criança é como uma jóia preciosa, bruta, intocada, diz o Dr. Fe-
doryka. Cabe aos pais transformar essa jóia bruta em
um diamante esplendoroso, com facetas que reflitam a luz dos valores eternos
da verdade e da bondade. Já o sistema escolar atual não mede esforços para
polir essas pedras preciosas de tal modo, que ao final sejam todas uniforme-
mente similares umas às outras.

O Dr. Fedoryka nos adverte de que os educadores utilizam palavras


como liberdade, responsabilidade e moralidade, porém com significados
totalmente diversos da perspectiva cristã. Liberdade, para os pedagogos
seculares, significa
a perda de todas as inibições morais e sexuais. Responsabilidade significa
jamais deixar de usar um contraceptivo. Moralidade significa não impor suas
opiniões aos outros.
O que se costuma chamar de socialização é, na verdade, um processo que
destrói o centro pessoal da criança, sua capacidade de ser um indivíduo livre
e verdadeiramente responsável por seu caráter e seu destino. A ideia é que a
criança se concentre em sua satisfação pessoal ou naquilo que comumente se
chama de “necessidades humanas”, e que esteja apta a funcionar em qualquer
sistema de valores vigente na sociedade.

O comportamento social estimulado nas escolas consiste na “aceitação


complacente do direito que os demais têm de afirmar seus valores e na ca-
pacidade de funcionar em meio a um sistema de valores pluralista”, diz Dr.
Fedoryka. Para serem socialmente corretas, as crianças aprendem que todos
têm direito aos seus próprios valores e que um dado conjunto de valores não
pode ser superior aos demais.
Simultaneamente, as crianças aprendem que suas próprias opiniões e
valores são de primeira importância. “Seus pais têm valores, que para eles
funcionam muito bem. Você, porém, está desenvolvendo seus valores pesso-
ais. Você não é obrigado a afirmar os mesmos valores que seus pais, ou os
valores do passado, ou os valores de uma igreja.” Em sua interação ou so-
cialização com professores a serviço do Estado, com pedagogos ou “agentes
da mudança social”, com autores de livros didáticos aprovados pelo Estado
e com colegas inexperientes e facilmente manipuláveis, as crianças devem
desenvolver seu próprio conjunto de valores.
Não importa o que diga Hillary Rodham Clinton sobre “os direitos das
crianças” e sua “emancipação”, professores, autores de livros didáticos e pe-
dagogos não medem esforços quando se trata de manipular as crianças e levá-

325
MARY KAY CLARK

-las a tomar decisões de acordo com os valores DELES. A questão não é se as


crianças devem ou não ter direito de escolha, mas quem escolhe por elas.
Os programas curriculares criados para abordar a autoestima das crian-
ças ensinam que elas devem concentrar-se em si mesmas, em seus desejos
e vontades. Ao mesmo tempo, elas aprendem a não criticar os outros que,
da mesma forma, concentram-se em si próprios e fazem tudo o que querem
para satisfazer seus desejos. Ao instaurar a tirania das vontades e desejos
pessoais, o sistema escolar público é um instrumento de destruição da ver-
dadeira sociedade.

Verdade objetiva versus opinião pessoal

Dr. Fedoryka acredita que a preocupação dos pais deve ser


introduzir a criança no mundo dos valores objetivos. Eles devem preocupar-
-se com a perfeição moral e religiosa de seu filho, com a cristalização de sua
personalidade à luz dos valores eternos e absolutos. E, em segundo lugar,
devem ter em vista a comunhão eventual de seu filho com outro ser humano
[por exemplo, no casamento]. Seja como for, no entanto, o foco básico da
educação deve ser a comunhão final da criança com Deus.

Se você se negar a orientar seu filho no mundo dos valores objetivos,


ele não tardará a fechar-se em si mesmo. “A pedagogia moderna”, diz Dr.
Fedoryka,
ao estimular o egocentrismo, ensina a criança a concentrar-se nos aspectos
periféricos e superficiais de sua experiência: a satisfação de suas necessidades
momentâneas. (...) Daí resulta a perda do senso de identidade da pessoa. (...)
O sistema escolar moderno endossa isso, incentivando a criança a se fechar
em si, o que nos permite chamá-lo de um sistema antipessoal. Como con-
sequência, toda comunhão verdadeira, todo genuíno convívio em sociedade
torna-se impossível.

A tese central do Dr. Fedoryka é que o humanismo secular da era moder-


na, que tem reinado nas escolas e seduzido as crianças de todo o país, rejeita
a autoridade de Deus, rejeita Deus como nosso destino e busca deificar a
pessoa individual.
A filosofia da auto-realização, da autoafirmação, da auto-satisfação e da au-
toestima é dominante hoje em dia, não apenas em nossa sociedade e nossa
cultura como um todo, mas especificamente nas escolas. Este é o mal predo-
minante.

326
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O homem moderno não é ateu por acidente. O homem moderno rejeita Deus
enquanto obstáculo à sua satisfação. Ele deseja provar que é superior a Deus,
e o faz seduzindo as crianças: fazendo com que, antes de tudo, as crianças
neguem Deus e não se entreguem a Ele.
Então, o homem moderno pode mostrar-se maior do que Deus dizendo:
“Deus, a quem essa criança pertence? Em que coração tu és Senhor e Sobera-
no? Com certeza não no dessa criança, pois ela pertence a mim, não aos seus
pais.” A criança pertence ao Homem Moderno, ao Estado, que vem declaran-
do uma guerra sistemática contra a inocência.
Ao reivindicar a posse das crianças, o Homem Moderno pensa que é superior
a Deus. O sistema escolar moderno é essencialmente hostil a Deus.

A posição católica, evidentemente, é que devemos reformar e modificar a


sociedade atual, trazendo a ela o Evangelho de Cristo. “Por que deixaríamos
nossos filhos passarem treze anos aprendendo a adequar-se a algo que não é
adequado?”, nas palavras do Dr. Fedoryka.

Duas visões de mundo

Vivemos em uma sociedade dividida entre duas visões de mundo: a das


escolas, promovida pela Associação Educacional Nacional, e a dos católicos,
promovida por Jesus Cristo através da Bíblia e de Sua Igreja Católica.
Segundo a visão de mundo católica, sermos socializados significa que de-
vemos tentar ser bons, dóceis, leais, fiéis, obedientes à autoridade, diligentes,
piedosos, justos, humildes e generosos com os outros, que também são filhos
de Deus. Nossa ideia de comunidade ou sociedade baseia-se no fato de que
Deus é nosso Criador, o Criador de cada ser humano individual, e portanto
somos todos irmãos e irmãs em Cristo.
Segundo a visão de mundo baseada no humanismo secular, as crianças
nas escolas devem fazer tudo o que lhes der prazer. Se gostarem de usar dro-
gas, ou de mentir, ou de dirigir um carro sem permissão, ou de importunar
um colega de classe, ou de fazer alguém tropeçar na sala de aula, ou se qui-
serem juntar-se a uma gangue e atormentar pessoas inocentes, ou vandalizar
uma loja, ou que quer que seja, não importa – se for prazeroso, faça.
Portanto, a pergunta nossos amigos e parentes deveriam fazer não é “Mas
e a socialização?” e sim “Em qual mundo seu filho será socializado – no do
humanismo secular, onde a satisfação pessoal, os valores individualistas e as
escolhas egoístas vêm primeiro, ou no mundo cristão, onde servir aos outros
e, em última instância, a Deus é o propósito da existência humana?”

327
MARY KAY CLARK

Servir ao próximo

As crianças nas escolas de hoje não têm aprendido sobre a vocação cristã
fundamental, que nos chama a servir a Deus e ao próximo. Jesus disse: “Eu
estou entre vós como aquele que serve”. E também: “Dei-vos o exemplo para
que, como eu vos fiz, assim façais também vós.”
Segundo Dr. Fedoryka, é evidente que as escolas
contrariam a vocação básica do homem enquanto ser criado para servir aos
outros. Esta é, para mim, a grande crise da nossa cultura, a grande crise do
nosso sistema educacional e o mais importante motivo pelo qual devemos
retirar nossos filhos de qualquer escola, seja pública ou privada, que se volte
contra esta vocação básica do homem.

Um vínculo genuíno entre as pessoas, a genuína socialização, depende de


que cada indivíduo abra mão de si pelo seu próximo. “Aquele que quiser Me
seguir deverá negar a si mesmo, tomar sua cruz e vir comigo”. A atual filo-
sofia da autoestima, que tem sido inoculada em nossas crianças, passa muito
longe disso! “Pois aquele que quiser salvar sua vida irá perdê-la; mas aquele
que perder sua vida por causa de mim, encontra-la-á.”
Sabemos que é obrigação nossa, como católicos, oferecer nossas vidas em
serviço a Deus e aos Seus filhos. No passado, considerávamos heróis aque-
les que arriscavam suas vidas para resgatar outros do perigo, assim como
aqueles que, por muitos anos, dedicavam suas vidas ao serviço ao próxi-
mo. Mesmo nossa sociedade pós-cristã ainda admira quem segue este ideal.
Por exemplo, Bob Hope tornou-se conhecido e respeitado porque, todos os
anos, durante o Natal, dedicava-se a alegrar nossos recrutas do Exército. Sua
prioridade era ser útil aos soldados e não buscar seu próprio prazer pessoal
durante as festas de fim de ano.
Dr. Fedoryka acredita que uma socialização genuína, com a formação de
um genuíno vínculo entre as pessoas, ocorre apenas quando
um indivíduo doa-se, rende-se, submete-se ao seu próximo. Esta noção trans-
formará nosso modo de educar nossos filhos. Se admitirmos que cada um de
nós tem como destino esquecer de si próprio para servir aos outros, precisa-
remos admitir também que as crianças que nos foram confiadas devem ser
moldadas e educadas segundo essa atitude.
O primeiro motivo pelo qual estou educando meus filhos em casa é ensiná-
-los a dedicar-se aos outros, mesmo que às custas de sua felicidade pessoal.
Eles devem estar prontos para doar-se, para negar a si mesmos, em benefício
do próximo. Esse deve ser o cerne, o coração, o espírito da educação cristã.

328
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Como nossa principal responsabilidade para com nossos filhos é enca-


minhá-los ao Céu, precisamos supervisionar seus contatos sociais, para ter
certeza de que são cristãos e inofensivos. Os problemas profundos e comple-
xos que têm acometido crianças e adultos hoje em dia resultam, em parte, da
falta de controle dos pais sobre os contatos de seus filhos.
As virtudes sociais devem ser ensinadas primeiro em casa, no seio da
família, segundo orientam os documentos papais. Interações sociais extras
podem se dar por meio de grupos de apoio ao homeschooling católico, que
promovem encontros entre as famílias, para que interajam umas com as ou-
tras enquanto famílias, diferentemente do convívio entre crianças da mesma
faixa etária. A ideia é que as crianças mais velhas aprendam a cuidar das
mais novas e as crianças mais novas aprendam os valores cristãos a partir do
exemplo dos adultos e das crianças mais velhas.
Sempre que os pais permitirem a participação de seus filhos em clubes
como os Escoteiros, ou em atividades esportivas ou artísticas, como teatro
ou balé, devem prestar atenção ao comportamento da turma, se há uso de
linguagem inadequada, consumo de bebidas alcoólicas ou drogas, tensões
sexuais e coisas do tipo. É o que se chama de atividade social controlada
pelos pais, com o objetivo de proteger a criança de situações física ou espi-
ritualmente perigosas.
Durante os anos de formação das crianças, o controle parental é uma res-
ponsabilidade seríssima. Se durante a infância for estabelecida uma estrutura
sólida para o caráter da criança, como uma casa construída sobre uma ro-
cha, os ventos da sociedade pagã poderão soprar, mas nossos filhos saberão
manter-se firmes diante dos furacões que vierem. Eles escolherão cônjuges de
formação semelhante, não hesitarão em sacrificar-se pelo bem de sua família
e criarão outra geração de filhos católicos virtuosos.

A agenda pagã das escolas

Muitos educadores têm promovido agendas que arruínam as relações


sociais entre as pessoas. Uma das mais comuns é a agenda homossexual, que
deforma totalmente a visão que as crianças têm da sexualidade.
Em dezembro de 1992, quando a cidade de Nova York decidiu imple-
mentar o programa Filhos do Arco-Íris, cujo objetivo era ensinar as crianças
a respeitar o homossexualismo como um estilo de vida alternativo, muitos
pais foram contra. O programa começaria na primeira série, e os pequenos
receberiam livros com ilustrações – por exemplo, a de dois homens dormin-

329
MARY KAY CLARK

do juntos numa cama. As crianças aprenderiam a respeitar “famílias” com


“pais” que fossem gays ou lésbicas. E é claro que, no processo, assimilariam
que tais “famílias” são moralmente aceitáveis.
Essa é uma agenda promovida pela Associação Educacional Nacional e
outros grupos de esquerda. Tais grupos supostamente defendem os ideais da
democracia. Contudo, quando uma maioria de pais, que com seus impostos
pagam os salários desses pedagogos, posicionam-se contra uma agenda do
interesse da esquerda, os ideais democráticos vão para o espaço.
Na Virginia, encontros para discutir uma proposta de programa de edu-
cação sexual aconteceram por todo o estado. Muitos grupos de pais compa-
receram, encontro após encontro, para protestar, mas o programa foi imple-
mentado ainda assim. A mesma situação ocorreu em Michigan. O Senado de
Michigan dispôs-se a ouvir os pais que reclamavam da situação e em seguida
publicou o seguinte relatório:
Após ouvirmos os testemunhos de centenas de pais, não restam dúvidas de
que as propostas dos pedagogos dos Departamentos de Educação, Saúde Pú-
blica e Saúde Mental atropelaram as convicções e a vontade das famílias. (...)
Comunidades de todo o estado foram forçadas a aceitar a visão do estado de
Michigan sobre como e o que seus filhos devem aprender no que tange a al-
gumas das questões mais importantes e mais íntimas que terão de considerar
ao longo de suas vidas.

Na Cidade de Nova York, os membros do conselho administrativo de


uma escola apoiaram o protesto dos pais contra o programa de “conscien-
tização” homossexual, sendo por esse motivo demitidos pelo Conselho Es-
colar Central. O conselho local foi posteriormente reintegrado, e dessa vez
o coordenador das escolas municipais, Joseph Fernandez, foi demitido. A
demissão não ocorreu porque alguém da burocracia estatal de Nova York
julgasse equivocada sua retaliação contra os opositores do programa pró-
-homossexual, mas por ele não ter comandado a situação com mais destreza.
Em fevereiro de 1993, a ABC News “honrou” o Sr. Fernandez com uma
participação, nos termos mais elogiosos, no quadro de Pessoa da Semana.
Aqui na área rural de Front Royal, Virginia, 240 pais requereram ao con-
selho escolar que modificasse a listra de livros de literatura, incluindo títu-
los que não expusessem as crianças a linguagem inapropriada, vulgaridade,
violência, nem à ideia de que eles devem desenvolver seus próprios valores
individuais. O conselho escolar rejeitou o pedido. Seus membros têm certeza
de que sabem o que é melhor para os filhos dos outros. (A propósito, os pais
homeschoolers devem participar da eleição dos conselhos escolares de sua

330
HOMESCHOOLING CATÓLICO

região e monitorá-los bem de perto. Os homeschoolers pagam impostos


que ajudam a manter as escolas, por isso têm tanto direito quanto quaisquer
pessoas a expressar suas opiniões. Lembre-se também de que aquilo que as
crianças aprenderem nas escolas públicas terá um grande impacto sobre seus
filhos, sua família e sua comunidade.)
O fato é que os pais cristãos, que acreditam em valores absolutos, não
ganharão essa batalha com argumentos lógicos, pois a ideia de que há va-
lores absolutos é inaceitável para os conselhos escolares e pedagogos. Não
ganharemos essa batalha com base em valores democráticos, como o de que
a opinião da maioria deve governar, pois a agenda de nossos inimigos é mais
importante para eles do que a “democracia”.
Os católicos precisam encarar o fato de que uma socialização boa, saudá-
vel e cristã só é possível entre lares bons, saudáveis e autenticamente cristãos.

Casamento homossexual

Agora que um tribunal de Massachusetts decretou que este estado deve en-
dossar o casamento homossexual, é realmente apenas uma questão de tempo
até que esta seja a lei em todo o país. O eminente jurista Robert Bork escreveu
o seguinte, na edição de agosto/setembro de 2004 da First Things: “Dentro de
dois ou três anos, é altamente provável que a Suprema Corte ratifique uma sé-
rie de decisões dos tribunais estaduais, conferindo direito constitucional nacio-
nal ao casamento homossexual.” Com a nomeação dos juízes Roberts e Alito,
talvez este processo seja desacelerado. Embora sempre se possa ter esperança,
a tendência é claramente contra o casamento tradicional.
Essa mudança terá implicações profundas para o modo como a sociedade
compreende o casamento. Para as crianças nas escolas públicas, é simples-
mente impossível evitar o fato de que a educação sexual gayzista será imple-
mentada. Se já há muitos pais irritados com a educação sexual heterossexu-
al, é de se perguntar qual será sua reação à exaltação do homossexualismo.
Será que assim sua paciência chegará ao limite, ou eles se conformarão como
têm se conformado com tantas outras coisas?
Em um artigo de janeiro de 2004, o Washington Post afirmou que cada
vez mais meninas adolescentes estão tendo experiências homossexuais. Dizia
a matéria: “Você as pode ver nos pátios de escolas como a South Lakes, em
Reston, Magruder, em Rockville, ou Coolidge, no Distrito. Em 2002, na es-
cola Coolidge, um professor perdeu a paciência com meninas que trocavam
carícias em sala de aula e em outros locais públicos e ameaçou mandá-las à

331
MARY KAY CLARK

sala do diretor.” Há anos ouvimos dizer que a orientação sexual é decidida no


momento do nascimento e que as pessoas não têm escolha, mas essas meninas
estão provando o contrário. Segundo o Post: “Engulam essa, Sr. e Sra. Amé-
rica: essas meninas dizem que não sabem o que são e nem precisam saber. A
adolescência e os primeiros anos da idade adulta são um período exploratório
e elas querem estar livres para amar parceiras do mesmo sexo sem afirmar que
é esse o tipo de relacionamento que terão pelo resto de suas vidas.”
Essas meninas já assimilaram a ideia de que a sexualidade não tem qual-
quer propósito intrínseco e que relacionamentos hétero ou homossexuais
são igualmente válidos. Onde vamos parar, quando essa ideia for adotada
como posição oficial da escola? Qual será o impacto dessa postura sobre a
sociedade e o modo como criamos nossos filhos?

Uma perspectiva pró-vida

Segundo a visão de mundo cristã, toda pessoa tem sua dignidade. Aí estão
inclusos os não nascidos e os idosos, bem como todas as crianças em idade
escolar. Ao ensinarmos a cada um de nossos filhos o quanto eles são impor-
tantes aos olhos de Deus e como cada uma de suas ações tem importância
para Deus, lhes ensinamos que o indivíduo possui dignidade.
Na perspectiva do humanismo secular, que é a base do ensino escolar
atual, o grupo é mais importante do que o indivíduo. Por um lado, a crian-
ça é supostamente estimulada a desenvolver seu sistema pessoal de valores,
porém, se este não estiver de acordo com os valores grupais, a criança é re-
jeitada. As crianças nas escolas costumam atrelar seu valor enquanto pessoas
à sua aceitação pelo grupo.
O motivo pelo qual os pais homeschoolers têm dificuldade para ensinar
em casa crianças que acabaram de sair da escola é que elas já substituíram a
imagem parental de si mesmas pela imagem construída a partir do grupo de
colegas. Ou seja, tornaram-se dependentes deste grupo.

Outros homeschoolers

É importante garantir uma socialização saudável aos nossos filhos ho-


meschoolers. Muito já se escreveu sobre o assunto em diversas revistas sobre
ensino domiciliar. A seguir, elencamos alguns comentários feitos por pais
homeschoolers:

332
HOMESCHOOLING CATÓLICO

1. Muitas pessoas pensam que interagir com colegas ajuda a desenvolver


a confiança e a autoestima, porém o que costuma acontecer é o exato
oposto. Expostas a estresse, rivalidade, competição e comparação com
outros, as crianças passam a ver-se como os colegas as veem. Elas não
conseguem avaliar-se objetivamente e, com frequência, convencem-se
de que há algo errado com elas.
2. A educação em massa praticada nas escolas não tem ensinado às crian-
ças um comportamento social positivo. Crianças precisam de víncu-
los estreitos e individuais com pessoas que as amem e que possam
ensinar-lhes um comportamento positivo, principalmente através de
bons exemplos.
3. Crianças são imaturas demais para ter as convicções e a força moral
necessárias ao desenvolvimento de relacionamentos sociais positivos,
sobretudo quando expostas diariamente a comportamentos sociais
imaturos ou negativos. Elas precisam desenvolver autodisciplina e um
caráter sólido para que estejam aptas a manter amizades verdadeiras.
Não se pode esperar que isto resulte da simples interação com outras
crianças do mesmo nível de imaturidade; antes, deve ser um processo
orientado por adultos amorosos e através de bons exemplos diários.
4. Os efeitos do julgamento grupal podem inibir a expressão criativa e
tentativas de desenvolvimento intelectual. É comum haver crianças
cujo desempenho é baixo ou mediano de propósito, porque “é legal”
estar no mesmo nível do grupo e não parecer “inteligente” (embora em
algumas escolas possa se dar o contrário).
O julgamento grupal é especialmente danoso às meninas dos ensinos
fundamental e médio de escolas mistas, pois elas desejam ser atraentes
aos garotos e, com essa distração, acabam não desenvolvendo todo o
seu potencial acadêmico. Pesquisas e experiências concretas têm mos-
trado que nessas séries as meninas têm um desempenho muito melhor
quando estudam em turmas só para meninas.
Os garotos, que nas primeiras séries não são tão maduros quanto as
garotas, tendem a fazer menos perguntas e a esforçar-se menos do que
elas, pois as meninas são mais engajadas em seu desempenho escolar.
5. O grupo de colegas tem sido um substituto para a segurança que era
anteriormente representada pela família na vida das crianças. O grupo,
contudo, não oferece nem a estabilidade, nem o amor de que a criança
precisa para desenvolver-se emocional e espiritualmente. O “conflito

333
MARY KAY CLARK

de gerações” tem sido a expressão empregada para apontar a incom-


patibilidade de valores entre o grupo de colegas e a família. É natural
que as crianças cresçam e deixem suas famílias, porém as de hoje têm
levado consigo os valores dos colegas e não de seus pais.
6. As crianças não precisam viver na pele o assédio e a crueldade de
outras crianças para aprender sobre “o mundo real”. Em qualquer
família há situações de disputa e competição, que, no entanto, envol-
vem pessoas que se importam umas com as outras. No convívio com
vizinhos e conhecidos também pode haver conflitos, mas a criança
tem sempre a possibilidade de afastar-se. Na escola, contudo, onde as
crianças são forçadas a interagir com os colegas todos os dias, todas
as semanas, todos os meses, todos os anos, personalidades podem ser
quase totalmente destruídas.
Basta ler o jornal, assistir à televisão ou conversar com outros pais
para se perceber que as escolas não têm conseguido ensinar compor-
tamentos sociais corretos às crianças. Essa é uma tarefa que os pais
devem tomar para si.
7. Não devemos nos esquecer de que possuir muitos amigos não é crité-
rio para se medir o valor de uma pessoa. A maioria dos adultos têm
apenas uns poucos bons amigos e muitos conhecidos. Os pais que se
dedicarem ao desenvolvimento de seus filhos, incentivando diariamen-
te cada um deles, terão como resultado indivíduos independentes e
autoconfiantes.
8. Escolas são instituições administradas por educadores profissionais com
altos títulos acadêmicos, e por isso é comum existir dentro delas uma
espécie de preconceito – provavelmente inconsciente – contra opções
profissionais diferentes dessa. Os alunos que escolhem carreiras não
acadêmicas são quase sempre considerados fracassados. Curiosamente,
anos mais tarde, alguns desses alunos tornam-se profissionais liberais ou
empresários de muito sucesso em diversas áreas de liderança, mas conti-
nuam a considerar-se inferiores ao educador profissional com toneladas
de títulos, muitos anos de sala de aula e poucos valores cristãos.
9. Embora haja muitos motivos positivos para se optar pelo homeschoo-
ling, muitos pais o fazem precisamente por conta dos problemas rela-
tivos à socialização com as crianças que vão à escola.
A maioria dos pais deseja preservar seus filhos dos incontáveis pro-
blemas sociais presentes nas escolas, a maioria relacionados a sexo,

334
HOMESCHOOLING CATÓLICO

drogas e violência. Os pais também fazem questão de selecionar de


perto boas companhias para seus filhos.
Há quem diga que as crianças devem aprender a conviver com pes-
soas diferentes, pois pelo resto de suas vidas terão de interagir com
as mais diversas visões de mundo. No entanto, depois de adultos, nós
escolhemos onde moramos e trabalhamos e com quem socializamos;
podemos manter amizade com boas famílias católicas, se buscarmos
isso. Por que as crianças devem ser forçadas a associar-se a pessoas que
não refletem os valores cristãos? Após treze anos desse convívio, elas
estarão tão dessensibilizadas para o mal circundante, que o aceitarão
como parte de suas próprias vidas.
É muito comum se dizer que as crianças não devem ser protegidas,
mas precisam ser expostas ao “mundo real”. Bem, o que é o mundo
real? É o mundo no qual as pessoas amam e servem a Deus e reco-
nhecem as verdades permanentes do universo? Ou seria o mundo em
que todos negam a realidade de Deus e a responsabilidade moral do
indivíduo? Evidentemente, o lar católico é o mundo real, o mundo
que está em contato com a realidade. O mundo em que as crianças
aprendem a dar azo a toda sorte de vícios sem sofrer consequências
é apenas uma fantasia.

Rejeição

Em 19 de dezembro de 1985, foi publicado no Chicago Tribune um ar-


tigo do colunista Bob Greene, intitulado “O fantasma da rejeição assombra
adultos bem-sucedidos”. O texto foi um verdadeiro divisor de águas para
alguns leitores, embora a outros talvez não tenha revelado nenhuma no-
vidade. Todos os pais que temem prejudicar seus filhos ao protegê-los da
socialização nas escolas deveriam lê-lo.
Bob Greene começa dizendo: “Há muitos adultos vivendo até hoje com a
dor de feridas abertas durante sua infância.” Em um artigo anterior, o autor
havia escrito a história de um garoto que ficara arrasado ao receber de seus
colegas de classe o “Prêmio de Aluno Mais Impopular”. Após a publicação
do artigo, o Sr. Greene recebeu muitas cartas de leitores adultos que lhe rela-
taram suas histórias pessoais de rejeição durante os anos escolares.
“O que tenho visto”, diz o Sr. Greene,

335
MARY KAY CLARK

...é que essa dor nunca vai de fato embora. Um homem pode ser hoje um
executivo de sucesso; uma mulher pode ser uma advogada bem remunerada
– porém, se na infância eles eram ridicularizados e rejeitados por não serem
populares como seus colegas, essa experiência permanece viva neles.

Um homem escreveu:
Sinto pelo protagonista do seu conto. Eu sei exatamente como ele se sentia. Já
faz 35 anos que tudo isso me aconteceu, mas lembro-me claramente de ficar
em casa sozinho após a escola e nos fins de semana, porque ninguém queria
ser meu amigo. Era uma dor tão grande, que nunca sequer tive coragem de
conversar com meus pais sobre o assunto, embora esteja certo de que eles
sabiam. Era como se minha vida não tivesse sentido.

Outro homem escreveu:


Esse garoto poderia ser eu quando criança. É a pior dor do mundo – saber
que, mesmo sem você ter feito nada para merecer isso, as outras crianças
não querem sua companhia. A culpa não é de ninguém, então você acaba
culpando a si mesmo. No fim você acaba acreditando que as outras crianças
estão certas – que deve haver algo de errado com você. Do contrário, por que
o tratariam desse jeito?

Bob Greene cita outras cartas semelhantes e conclui:


Tenho descoberto que muitas pessoas passaram por isso – e é uma experiência
que não conseguem esquecer. Parece que a dor nunca vai embora. (...) Essas
pessoas viverão sempre com a memória de como é ser deixado de fora e saber
que não são bem-vindas.

Quando as pessoas falam sobre os valores positivos da socialização


nas escolas, nunca levam em consideração as práticas antissociais que ma-
chucam tantas crianças. Eu já conversei com pais cujos filhos odiavam a
escola pelo modo como eram tratados, por não “se encaixarem”, ou por-
que tinham medo dos colegas que os importunavam. Também há mães que
se queixam de que seus filhos querem tanto participar de um grupo, que
acabam sucumbindo a más influências. Diversas mães já me ligaram para
desabafar sobre suas filhas grávidas. Uma mãe me contou que seu filho
falava palavrões para ser aceito pelos outros garotos. Uma menina do ensi-
no fundamental chegou a pedir à mãe para estudar em casa, pois percebia
que a influência dos colegas estava lhe fazendo mal. Histórias como essas
poderiam continuar infinitamente.

336
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Apoio ao homeschooling

Crianças homeschoolers interagem com grupos de todas as faixas etárias,


principalmente dentro de sua família e nos grupos de apoio ao homescho-
oling. Nos casos em que os pais têm muitos filhos, ou se tiverem famílias
agregadas, com avós, tios, tias e primos, as crianças mantêm contato com
pessoas de todas as idades.
Os grupos de apoio ao homeschooling costumam planejar atividades
para a família e não somente para uma certa faixa etária, o que estimula um
desenvolvimento social saudável entre grupos de todas as idades. Crianças
educadas em casa amadurecem mais rápido, apesar de não serem tão “ruei-
ras” quanto as que frequentam escolas públicas ou privadas.
Crianças homeschoolers conseguem relacionar-se melhor com pessoas de
todas as idades porque não passam várias horas por dia fechadas em um
ambiente com crianças da mesma idade. Elas também não são pressionadas
por livros didáticos, professores e colegas para adotar padrões de comporta-
mento grupais. Seus melhores amigos são seus familiares, irmãos e irmãs que
lhes são fiéis, as apoiam e não são agressivamente competitivos.
Por terem uma melhor autoestima, nutrida pelo apoio de uma família
amorosa e afetuosa, as crianças educadas em casa conseguem lidar melhor
com dificuldades sociais ou pressões grupais que surjam em sua idade adulta.
O aluno homeschooler tende a ser um líder e não um seguidor, sendo capaz
de tomar decisões baseadas no que ele acredita ou no que aprendeu com sua
família, e não no que os agentes de mudança social desejam que ele pense.
Como esse aluno tem uma educação mais sólida e confia em seu sistema de
valores, costuma ser admirado pelos colegas e respeitado por aqueles que
buscam um sentido para suas vidas.
É recomendável que as famílias homeschoolers filiem-se ao grupo de
apoio ao homeschooling de sua região. Esses grupos organizam atividades
para as famílias, voltadas não apenas ao público de uma faixa etária especí-
fica. O desenvolvimento social natural ocorre quando as crianças convivem
com crianças e adultos de todas as idades. Os avós costumam participar dos
dos passeios organizados pelos grupos de apoio.
Quando crianças homeschoolers conhecem outras crianças, elas não fi-
cam tensas ou com medo de ser apelidadas ou xingadas. Elas não se sentem
pressionadas a vestir a mesma marca de calças jeans ou usar o corte de
cabelo da moda. Elas não são pressionadas a usar maquiagem ou ter um
namorado na quarta série.

337
MARY KAY CLARK

Os alunos homeschoolers têm liberdade para participar de atividades na


comunidade e praticar esportes ou hobbies. A Seton tem alunos bailarinos,
patinadores, atores, músicos, modelos, jogadores de tênis, ginastas, nadado-
res e assim por diante.
Os alunos homeschoolers são poupados dos modelos dúbios de conduta
apresentados pelos livros didáticos e professores de mentalidade secular. Com
a infiltração das ideologias feminista, homossexual e de gênero nas escolas, os
alunos têm aprendido a rejeitar os papéis cristãos tradicionais de pais e mães.
Em Familiaris Consortio, Sua Santidade, o Papa João Paulo II, repete
o ensinamento da Igreja Católica ao declarar, no parágrafo 36: “O melhor
lugar para a aquisição de virtudes sociais é o lar.”

Por que o melhor lugar para a aquisição


de virtudes sociais é o lar?

A mãe fica em casa e em casa educa seus filhos. Ela os protege, reza com
eles, ensina-lhes a Fé e tenta lhes dar um bom exemplo, como Maria, a Mãe
Santíssima.
A socialização de que as crianças precisam hoje em dia é a que se dá com
seus pais e outras pessoas com valores cristãos. Os pais devem ser seus mo-
delos de conduta, devem instruí-las com palavras e por meio de exemplos,
vivendo a autêntica vida católica. Tudo de negativo que sabemos sobre as
escolas, tudo de positivo que aprendemos com as vidas dos Santos, os ensi-
namentos da Igreja Católica e da Bíblia – tudo aponta para o fato de que,
como disse o Papa João Paulo II, “o melhor lugar para a aquisição de virtu-
des sociais é o lar”. De acordo com o Concílio Vaticano II,
A família é, portanto, a primeira escola das virtudes sociais de que as socie-
dades têm necessidade. Mas, é sobretudo, na família cristã, ornada da graça
e do dever do sacramento do Matrimónio, que devem ser ensinados os filhos
desde os primeiros anos, segundo a fé recebida no Baptismo a conhecer e a
adorar Deus.

Se formos com efeito seguidores de Jesus Cristo, não devemos nos pre-
ocupar demais com a “socialização” ou a necessidade de nossos filhos inte-
ragirem com outras crianças de mesma idade. Não há qualquer menção a
isso na Bíblia, nos documentos da Igreja, no catecismo, nem nas vidas dos
Santos. Quando se trata de lidar com outras pessoas, eis o que os católicos
somos instruídos a fazer:

338
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Alimentar os famintos.
Dar de beber aos quem têm sede.
Vestir os despidos.
Abrigar os sem abrigo.
Visitar os doentes.
Visitar os cativos.
Sepultar os mortos.
Instruir os ignorantes.
Aconselhar os duvidosos.
Advertir os pecadores.
Suportar os erros pacientemente.
Perdoar as ofensas de bom grado.
Confortar os aflitos.
Rezar para os vivos e para os mortos.

339
Capítulo 14
Grupos de apoio católicos

P
or que os pais homeschoolers precisam de grupos de apoio? A maioria
das mães homeschoolers têm a resposta na ponta da língua: porque é
necessário contar com o apoio moral de outros pais e mães católicos
– normalmente mães – que enfrentam as mesmas tensões e podem compar-
tilhar suas experiências com a educação domiciliar. Os escritos do Papa e de
muitos padres extraordinários, como o Pe. Robert Fox e o falecido Pe. John
Hardon, deixam claro que as famílias católicas devem unir-se para ajudar
umas às outras a perseverar na virtude, sobretudo vivendo em uma cultura
anticristã e hostil como a nossa.
Nós, católicos, buscamos na Igreja Católica, em nossa fé e em nossa cul-
tura as soluções para nossos problemas. Nossa crença na remissão dos peca-
dos, no sofrimento e no sacrifício é distintamente católica. Nossa atitude em
relação aos filhos, à contracepção e ao casamento é distintamente católica. A
maioria de nós somos mães marianas, que desejamos ser como Nossa Mãe
Santíssima no que diz respeito ao casamento, à família e à educação domi-
ciliar de nossos filhos. Portanto, quando nós, mães católicas homeschoolers,
nos encontramos diante de qualquer desses problemas de cunho íntimo e
familiar, queremos consultar outros católicos.
Quando o Pe. John Hardon ministrou um seminário sobre o matrimônio
no Christendom College, concluiu sua apresentação lembrando-nos de que
“Assim como os membros de uma família devem ser instrumentos da graça
uns para os outros, as famílias e matrimônios católicos o devem ser para este
mundo em que vivemos.” Ao mesmo tempo em que desejamos evangelizar
outras pessoas para que se aproximem de Cristo, precisamos nos relacionar
constantemente com aqueles que nos ajudam a fortalecer nossa fé. Um grupo
de apoio católico pode ajudar mães, pais e filhos a melhor compreender e
viver a autêntica vida católica.
Mulheres com filhos adultos e que já não praticam o homeschooling de-
vem continuar levando a sério o chamado à evangelização. Sua obrigação
primeira nesse momento da vida é servir a seus filhos e netos, porém, essas
avós homeschoolers devem estar dispostas a ajudar as novas mães, a quem
tanto podem ser úteis as palavras de mães católicas experientes.

Encontrando outras famílias

Uma vez estabelecida a importância de grupos católicos de apoio ao ho-


meschooling, precisamos encontrar outras famílias católicas com interesses
e valores semelhantes. Se não houver um grupo formado em sua região, as
sugestões a seguir podem lhe ser úteis. Talvez você se sinta intimidado diante
do que vou recomendar, mas tenha confiança em Deus, não em você. Peça-
-Lhe ajuda para que você seja um instrumento da graça para outras pessoas.
Não se preocupe com o que você dirá ou o que fará. Deus lhe dará o que for
necessário.
Primeiramente, descubra se já existe um grupo de apoio ao homescho-
oling em sua paróquia ou pela região. Se você for recém-chegado a uma
paróquia e não conhecer muitas pessoas, procure uma família com muitos
filhos e lhes pergunte sobre grupos de apoio ao homeschooling pela região.
Caso não haja grupos católicos, visite o que estiver mais próximo, que
provavelmente será protestante. Deixe claro que você é católico e gostaria de
compartilhar ideias com outros católicos. Pergunte aos membros se algum
deles é católico ou se conhecem algum católico que pratique o homescho-
oling ou tenha interesse em fazê-lo. Deixe um “cartão de visita” com seu
nome, endereço e telefone e peça aos membros do grupo para entregá-lo a
algum católico. Escreva no cartão algo como: “Em busca de homeschoolers
católicos para formar um grupo de apoio”. Caso você sinta que pode haver
alguma rivalidade, escreva apenas: Associação de Homeschoolers Católicos.
Distribua seus cartões em congressos regionais e estaduais sobre homes-
chooling. Se houver a possibilidade de você organizar uma mesa em um
desses congressos, faça uma com o tema “Homeschooling Católico”, na qual
você possa expor seus livros, planos de aula e outros materiais católicos.
O website da Seton School disponibiliza uma lista de congressos católicos
sobre homeschooling, onde você pode encontrar as informações de conta-
to dos organizadores. Ligue ou escreva a eles para saber qual o congresso
mais próximo de sua casa e pergunte se você pode anexar um aviso em al-
gum lugar, com um papel para recolher assinaturas e contatos de possíveis
membros do novo grupo de apoio que você está montando em sua região.
Participe do congresso e não deixe de escrever o nome de sua cidade em seu
crachá, para que todos possam ver.
Pergunte ao seu pároco se você pode fazer uma pequena exposição na
cafeteria, no domingo de manhã, no horário entre as Missas. Uma mãe da
Califórnia nos deu essa ideia. O padre incluiu o evento em sua lista de avisos
e após a Missa divulgou que a Sra. Smith era uma mãe homeschooler, que
no horário entre as Missas faria uma exposição de seus materiais didáticos e
responderia perguntas sobre o homeschooling católico. Leve seu marido e seus
filhos (se estes forem bem comportados) à exposição. Não se preocupe caso
você não saiba responder todas as perguntas. Diga às pessoas que você pesqui-
sará sobre. Anote nomes e endereços. Esse tipo de abordagem pessoal costuma
dar muitos frutos. É uma oportunidade para você ser instrumento da graça
aos outros, ao mesmo tempo em que lhes permite responder à graça de Deus.
Considere a possibilidade de colocar um anúncio no jornal de sua comu-
nidade; ou peça um espaço na seção “Eventos da Comunidade”. Talvez não
seja a melhor opção recorrer ao jornal diocesano ou ao jornal diário da cida-
de, pois as pessoas que você procura precisam estar bem próximas. E o ideal
é conhecer algumas poucas pessoas para começar. Um exemplo de anúncio:
“Encontro de católicos homeschoolers no dia 7 de junho, após a Missa das 9
a.m., na Igreja Católica São Mateus. Estão convidados católicos praticantes
do homeschooling e católicos com interesse no tema.” Peça permissão ao
pároco para servir um lanche no salão social.
Se não for possível reservar o espaço em uma igreja católica da região,
tente usar a sala de reuniões da biblioteca, que normalmente pode ser uti-
lizada sem custos. Faça um anúncio no jornal da comunidade dizendo que
você e seu marido exporão materiais didáticos voltados ao homeschooling
e responderão perguntas. Pode ser um encontro informal, que não precisa
durar mais do que uma hora.
Se houver uma livraria católica em seu bairro, peça para deixar lá seu
cartão de apresentação. Também é uma boa ideia distribuir folhetos convi-
MARY KAY CLARK

dando católicos interessados em homeschooling para assistir a uma Missa


seguida de discussão sobre o tema.

Como montar o grupo de apoio

Assim que você tiver feito contato com famílias católicas interessadas em
participar do grupo de apoio, há vários itens que precisam ser considerados.
Caso haja apenas mais uma ou duas famílias, façam algo simples, com en-
contros uma ou duas vezes ao mês; deixem as crianças brincarem enquanto
vocês discutem sobre o homeschooling e situações familiares em comum,
dentro da perspectiva católica. Tentem ir à Missa juntos antes do encontro.
E continuem com os esforços de divulgação para atrair mais famílias.
Caso o grupo cresça, abarcando mais de cinco famílias, pode ser uma boa
ideia fazer um encontro mensal apenas com as mães, ou as mães e os pais,
com o propósito de ter uma discussão mais séria sobre o homeschooling e
a vida familiar católica. Isto pode ser feito no fim da tarde. Alguns grupos
fazem um café da manhã no sábado, em um restaurante de preço razoável,
para que ninguém precise preparar comida e limpar a bagunça.
Além disso, as mães e crianças podem encontrar-se regularmente para um
dia de brincadeiras. Este é um bom momento para as crianças interagirem
com outras crianças católicas homeschoolers; as mães devem evitar discutir
assuntos sérios.
Talvez você tenha a sorte de conhecer um padre simpático à causa. Se for
o caso, peça-lhe para ser o capelão do grupo. Quando ocorrerem os encontros
para discussões sérias, ele pode ajudar a expor os autênticos ensinamentos da
Igreja. Ele não precisa comparecer a todos os encontros, especialmente quan-
do o tema em pauta for disciplina infantil ou administração doméstica.

Manutenção do grupo

Alguns grupos de apoio criam um boletim de notícias. Este pode ser uma
lista simples com os próximos eventos de interesse aos católicos homescho-
olers, talvez com um parágrafo comentando cada item – por exemplo, even-
tos marianos e pró-vida. Também pode ser um boletim mais longo, com a
publicação de um ou mais artigos, porém isso demanda um tempo precioso
e um dinheiro que pode ser gasto com as famílias e o homeschooling. Com
o acesso crescente das famílias à internet, os grupos de apoio estão aderin-
do cada vez mais às listas eletrônicas e salas de chat para conversar sobre

344
HOMESCHOOLING CATÓLICO

homeschooling. Há vários sites que oferecem esses serviços, como o yahoo.


com e o msn.com.
Os encontros de homeschoolers costumam começar com uma oração.
Muitos grupos gostam de começar indo à Missa, outros com o Terço. Alguns
também planejam ir à Confissão antes ou depois da Missa, todas as primei-
ras sextas-feiras do mês. O que quer que se faça, deve ser feito regularmente.
É realmente vantajoso para o grupo se todos na comunidade souberem que,
na primeira sexta-feira de cada mês, há um grupo de homeschoolers que se
encontram na Missa das 9 a.m., na igreja Santa Maria.
Outras atividades possíveis são uma Missa do Espírito Santo para inau-
gurar o ano escolar, uma festa de Coroação no mês de maio e festas de gra-
duação para a oitava e a décima segunda séries. Em alguns grupos de apoio,
as mães levam materiais didáticos aos encontros para mostrá-los às outras
mães.
A Ação Católica ou iniciativas de caridade são boas atividades extracur-
riculares para as crianças do grupo. Elas podem ser voluntárias em uma casa
de repouso da região, por exemplo. Alguns grupos ajudam a coletar comida
e roupas para os pobres ou para mães solteiras em um centro de apoio a
grávidas carentes. Contudo, deve haver um limite para os trabalhos de ca-
ridade, estipulado com base no que as famílias podem fazer sem perturbar
sua vida familiar.
É comum que as mães recém afiliadas a um grupo de apoio ao homes-
chooling queiram saber antes de tudo quais passeios educativos estão pro-
gramados. Um serviço importante que esse tipo de grupo deve oferecer são
informações acerca de atrações da região, especialmente localidades e monu-
mentos católicos. Alguns museus e outros lugares pedagogicamente interes-
santes oferecem excursões exclusivas para grupos numerosos de visitantes,
de modo que planejar um passeio com todos os membros do grupo de apoio
pode dar acesso a pacotes originalmente destinados a escolas.
No entanto, excursões em grupo talvez não sejam uma boa ideia para sua
família. Diferentemente das escolas, que planejam passeios para uma série
em particular, as famílias homeschoolers costumam ter alunos em diversas
séries, de modo que talvez esses grandes passeios não funcionem para vocês.
Não pense que você é obrigado a participar de todas as atividades progra-
madas pelo grupo. Você pode não querer que seus filhos que cursam o ensino
médio percam um dia inteiro de aula para colher abóboras com as crianças
pequenas, ao mesmo tempo em que pode não ser uma boa ideia deixá-los so-
zinhos em casa. Além disso, planejar e coordenar excursões em grupo costu-

345
MARY KAY CLARK

ma consumir um tempo precioso que pode ser melhor aproveitado durante


o homeschooling puro e simples. Também é comum acontecer de nem todos
os pais terem a mesma expectativa quanto ao comportamento de seus filhos
durante esses passeios, o que pode gerar situações desagradáveis.
Como muitos pais tiveram sua formação em escolas institucionais, eles
associam zoológicos e museus a excursões em grupo. Ao fazer a transição
para a educação centrada na família, eles comumente percebem que passeios
com menos crianças trazem uma atmosfera mais relaxada e educativa.
Muitos grupos de apoio também costumam “publicar”, seja por meio
eletrônico ou físico, uma lista com as famílias homeschoolers da região, in-
cluindo as datas de nascimento das crianças. É uma boa ideia fazer amizade
com uma ou duas famílias que tenham filhos com idades semelhantes às dos
seus e que pensem de modo semelhante sobre o comportamento infantil.
Muitas vezes, planejar excursões com apenas uma ou duas famílias causa
menos transtornos ao planejamento semanal do homeschooling.
Bibliotecas são muito importantes aos homeschoolers, de modo que pode
estar entre os objetivos do grupo ajudar a biblioteca local. Vocês podem tentar
conversar com o bibliotecário, elogiando os bons livros e criticando o desper-
dício de dinheiro público em materiais anticatólicos. Há um grupo de apoio ao
homeschooling católico que doa bons livros à sua biblioteca. É de praxe que
as bibliotecas não comprem livros considerados didáticos, mas, com o número
crescente de homeschoolers, seria o caso de elas reverem essa prática. Um ou-
tro grupo católico reuniu-se com a bibliotecária e a convenceu a comprar bons
livros didáticos e materiais suplementares para currículos homeschoolers.
Um grupo de uma grande cidade descobriu que a bibliotecária era contra
o homeschooling e por isso as famílias fundaram sua própria biblioteca. Eles
pediram doações de livros a vizinhos de mais idade, que tinham em casa ex-
celentes livros católicos e outros materiais educativos já esgotados.
A paróquia da região deve ser um lugar de acolhimento às famílias ho-
meschoolers, que tendem a frequentar juntas a mesma igreja. Quando essas
famílias são ativas na igreja, comungando diariamente, permitindo que seus
filhos sejam coroinhas e participando da administração da paróquia, o padre
as enxerga com novos olhos e acaba lhes sendo favorável. Assim, na melhor
das hipóteses, o grupo de apoio ao homeschooling consegue permissão para
encontrar-se na paróquia, contando com a ajuda dos padres para palestras,
ou livros de religião, ou dispondo de espaço para se dirigir à comunidade.
O grupo deve manter contato com a associação estadual de homeschoo-
lers, para que as famílias fiquem a par de eventos importantes ou movimen-

346
HOMESCHOOLING CATÓLICO

tações no campo legislativo. A maioria das organizações estaduais voltadas


ao homeschooling editam um manual e um boletim de notícias.
As discussões de um grupo católico de apoio ao homeschooling normal-
mente concentram-se em bons livros católicos, sobretudo os que tratam da
vida em família e do homeschooling. Cada família deve comprar um livro
por mês ou assinar uma boa revista ou um bom jornal católico para compar-
tilhar com as demais. O grupo também pode ter uma biblioteca rotativa, da
qual os pais possam emprestar livros mensalmente.
À medida que o grupo for crescendo, é importante que vários pais divi-
dam a liderança. Quanto mais membros tiverem uma participação ativa na
organização das atividades, não se limitando a comparecer aos encontros,
mais forte será o grupo. As crianças, a propósito, também podem ajudar.
Elas podem dobrar folhetos de avisos, endereçar e selar envelopes, imprimir
documentos eletrônicos e escrever nomes e endereços no computador. Elas
podem inclusive criar seu próprio boletim de notícias.

Rede de contatos

O propósito de formar um grupo de apoio ao homeschooling na sua


região é fomentar o contato entre as famílias, que deverão ajudar-se mutua-
mente diante de problemas familiares ou relativos ao homeschooling. Esse é
o principal objetivo, e às vezes é o único.
No entanto, para alguns grupos pequenos, especialmente em comunidades
rurais, a existência de uma rede de contatos pode ser útil à organização de uma
conferência regional anual e/ou uma feira para exposição de materiais e currí-
culos. Tais encontros podem ser de grande incentivo aos pais, ao mesmo tempo
em que permitem que cada família conheça um grupo numeroso de pessoas que
também praticam o homeschooling. São boas ocasiões para que alguns maridos
céticos ou outros parentes passem a ver o homeschooling com melhores olhos.
Não é necessário realizar um congresso estadual ou regional, porém, se
a ideia for exequível e muito bem divulgada, pode atrair novas famílias ao
homeschooling. O evento não precisa durar um dia inteiro; pode ocorrer em
um sábado de manhã, contando com dois ou três palestrantes e alguns ven-
dedores de materiais para homeschooling. Tenha em mente que, para pes-
soas viajando longas distâncias, é difícil aproveitar devidamente um evento
que dure o dia inteiro.
Grupos de apoio menores devem fazer seu máximo para divulgar os con-
gressos estaduais sobre homeschooling católico. Faz parte do papel desses

347
MARY KAY CLARK

grupos ajudar outros pais católicos a obter ajuda e encorajamento, e um con-


gresso estadual, com a presença de palestrantes e muitas vezes também de
padres, pode oferecer uma importante ajuda espiritual e transmitir coragem.
Para a organização do evento estadual é vital a ajuda dos grupos regionais,
sem os quais o grupo maior não conseguirá articular o encontro de todos.
Quanto à exposição de materiais didáticos, é melhor disponibilizar pou-
cos, que sejam católicos, do que ter muitas mesas repletas de materiais pro-
vavelmente questionáveis. Mães inexperientes têm confiança na organização
do evento quanto à disponibilização de materiais corretos e autenticamente
católicos. Não desmereça essa confiança.

A liderança

Mais de duas décadas de experiência com grupos de apoio ao homes-


chooling ensinaram-nos algumas lições importantes sobre o que funciona
e o que não funciona neste campo. Grupos de apoio devem oferecer sim-
plesmente isso – apoio. Quando as atividades de um grupo são frequentes
demais, ou quando os pais sentem-se pressionados a participar de muitas
atividades, prejudica-se a tarefa primordial, que é ensinar as crianças. Os
pais devem avaliar cuidadosamente a quantidade de atividades ligadas ao
grupo de apoio que cabe melhor à sua família. Isto se aplica especialmente à
questão da liderança dentro dos grupos.
Antes de uma mãe ou pai professor assumir o compromisso de liderar um
grupo de apoio, deve considerar a possibilidade de dividir essa tarefa com
mais alguém. Nosso tempo é quase todo ocupado com o ensino de nossos fi-
lhos, os cuidados com nossa família, a administração de nossas casas e nossas
tentativas de ser bons pais e cônjuges. Seja honesto diante de Deus, reze para
saber com clareza quais são suas responsabilidades e aproxime-se da liderança
com cautela. Busque alguma mãe que já tenha finalizado o trabalho de ensinar
seus filhos em casa e veja se ela pode tornar-se a líder ativa. As mães mais no-
vas devem ter cuidado para não pôr em risco seu homeschooling.
O que quase sempre ocorre em grupos de apoio é que um pequeno núcleo
de famílias participativas toma a frente, repetidamente assumindo os papeis
de liderança. Isto pode ser necessário de tempos em tempos para a sobrevi-
vência do grupo, mas não é saudável a longo prazo. Quando a equipe que
lidera é pequena, há uma chance maior de exaustão. Além disso, quando a
liderança é amplamente compartilhada, há menos chances de que a saída de
uma ou duas pessoas dissolva o grupo.

348
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Exemplos de atividades para grupos de apoio

Um grupo de apoio ao homeschooling situado em Nova Jersey organiza-


va uma excursão a um mosteiro, e no caminho as crianças confeccionavam
terços que depois eram doados a diversas instituições de caridade católicas.
Eles também faziam uma festa de aniversário para Nossa Senhora, em se-
tembro, e uma festa do Dia de Todos os Santos, em 31 de outubro, na qual
as crianças se fantasiavam de santos.
Na Flórida, um grupo de apoio ao homeschooling pediu a um pároco que
abençoasse as crianças e seus pais, bem como seus materiais de estudo. Com
a aproximação do sacerdote, os pais conseguiram reunir-se com o Diretor de
Educação Religiosa para mostrar os materiais católicos utilizados no homes-
chooling. O grupo encontra-se às primeiras sextas-feiras do mês para assistir
à Missa e trocar experiências.
Em Oregon, um grupo de apoio ao homeschooling reúne-se para discutir
as mais variadas questões, como autodisciplina, organização, montagem de
cronogramas, avaliação das crianças, ideias para a Quaresma e a Semana
Santa, impressões sobre “um livro de química com experiências para se fazer
em casa” e a importância da oração e de se praticarem as virtudes cristãs. O
grupo encontra-se em uma igreja católica, que conta com uma sala constru-
ída pelo padre para uso das famílias homeschoolers.
Um grupo na Virginia edita um boletim de notícias. Eles relatam suas
excursões, como uma visita a um mosteiro e a uma casa para freiras aposen-
tadas. Eles também se reúnem às primeiras sextas-feiras do mês para assistir
à Missa, rezar o Terço e realizar atividades com as crianças. O grupo conta
com um padre que vai aos encontros rezar o Terço com eles. Está sendo pla-
nejada uma excursão ao Santuário Nacional de Santa Elizabeth Ann Seton,
em Emmitsburg. O grupo também organiza uma festa do Dia de Todos os
Santos em uma paróquia da região. Eles fundaram três pequenos clubes para
as crianças: um de matemática, um de redação e um de geografia.
Um grupo da Filadélfia organizou um retiro para meninos homeschoolers
em um seminário da região. Um grupo de Ohio faz visitas semanais a um
convento, onde as crianças aprendem música católica com as freiras e assis-
tem a uma palestra com o padre.
Aqui em Front Royal, na Virginia, uma das mães conseguiu que nosso
pároco realizasse uma Bênção e uma cerimônia em homenagem ao Menino
Jesus de Praga, com o propósito de abençoar as crianças e os pais antes
do início do novo ano escolar. As famílias homeschoolers quase lotaram a

349
MARY KAY CLARK

igreja. O padre utilizou seus candelabros mais suntuosos. Após as orações


ao Menino Jesus, ele cantou em latim as canções da Bênção e encerrou a
cerimônia abençoando-nos com água benta.

Conclusão

Os exemplos dados acima, de atividades realizadas por grupos católicos


de apoio ao homeschooling, representam apenas uma parcela minúscula dos
relatos que recebemos regularmente de famílias homeschoolers. A importân-
cia de tais grupos tem crescido para as famílias. Eles são fonte de oportuni-
dades religiosas e sociais, além de apoio moral, e são, por isso, de extrema
importância para o sucesso do homeschooling nas famílias católicas.

350
Capítulo 15
Respondendo às autoridades
Por Kenneth Clark, Mestre e Juris Doctor

Q
uando, muitos anos atrás, eu comecei a trabalhar com as questões
jurídicas do homeschooling, era muito mais comum as famílias serem
contatadas pelas autoridades educacionais. Nos últimos anos, menos
de dez pessoas entraram em contato comigo por terem sido chamadas a con-
versar com um superintendente escolar a respeito do homeschooling. E todas
essas conversas terminaram bem.
Em casos de “conversas” envolvendo a Seton Home Study School – há
cerca de 300 todos os anos – a situação foi encerrada após a Seton enviar
uma carta às autoridades, confirmando a matrícula do aluno. Muitas vezes,
tudo o que os representantes do governo querem é algo que comprove que
o aluno é regularmente matriculado em uma instituição ou uma cópia do
certificado de credenciamento da escola de homeschooling. Nesses casos, as
famílias nunca têm de encontrar os assistentes sociais ou autoridades esco-
lares, pois é um trâmite envolvendo requerimentos burocráticos rotineiros,
aos quais a Seton responde com satisfação. Os pais que estiverem inscritos
em um programa devem contatar imediatamente a escola de homeschooling
para a resolução rápida de qualquer situação envolvendo autoridades.
Mesmo sendo bastante improvável que você tenha algum problema desse
tipo, este artigo oferecerá alguns conselhos para ajudá-lo a lidar melhor com
as autoridades governamentais. É necessário que você tenha duas coisas em
MARY KAY CLARK

mente. Primeiro: quais os seus direitos legais? Segundo: qual o modo correto
de um cristão responder a pedidos ou demandas do Estado?
A primeira seção deste capítulo lida com o sistema legislativo e judiciário
de nosso país e deverá servir como plano de fundo para a segunda seção, que
dá aos pais católicos homeschoolers algumas dicas práticas de como lidar
com autoridades educacionais, sociais e jurídicas.

A Constituição dos Estados Unidos

A lei suprema de nosso país é a Constituição dos Estados Unidos. Todas


as leis – regionais, estaduais e federais, assim como todas as decisões dos
tribunais – devem estar em acordo com a Constituição Federal. Qualquer
lei considerada inconstitucional pela Suprema Corte americana perde o es-
tatuto de lei. Assim, quando o Congresso federal ou os legislativos estadu-
ais aprovam leis, o texto destas deve passar pela “triagem constitucional”.
Consequentemente, a Suprema Corte dos Estados Unidos é o mais poderoso
grupo de pessoas do país, ao qual cabe decidir se qualquer lei aprovada pelo
Congresso ou pelos estados é legal.
Para os homeschoolers, isto significa que, mesmo se o presidente, o go-
vernador ou os legisladores estaduais forem contrários ao homeschooling,
ainda assim gozamos de certas proteções sob a Constituição Federal. Fe-
lizmente, a Suprema Corte decidiu, com base na Constituição, que os pais
têm o “direito inalienável” de escolher qual tipo de educação querem dar
aos seus filhos. O único modo de modificar a Constituição é através de uma
emenda. Este é um processo muito difícil, como comprova o fato de que,
nos últimos 200 anos, a Constituição foi alterada apenas dezesseis vezes
desde a aprovação da Declaração de Direitos. O que há de mais importan-
te, portanto, é a Constituição Federal e os direitos que ela garante a todos
os americanos.

Leis federais

Depois da Constituição dos EUA, as leis federais são as mais importantes.


São as leis aprovadas pelo Congresso dos Estados Unidos e são válidas igual-
mente em todos os estados. A maior parte da legislação federal diz respeito
a questões que envolvem o país inteiro. Assim, o Congresso aprova leis que
versam sobre o comércio interestadual e a tributação federal. Historicamen-
te, a educação é responsabilidade dos estados, não do governo federal.

352
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O Departamento de Educação dos EUA tem uma grande influência so-


bre as escolas e a situação educacional do país, embora não possa criar leis.
É um departamento responsável por pesquisar e analisar diversos aspectos
da educação e das escolas. Além disso, ele participa da distribuição da
verba federal entre os estados. Por exemplo, ele pressionou o Congresso
para alocar fundos aos estados e assim garantir que as escolas adotassem
certos programas. O Congresso às vezes aprova leis determinando que as
escolas regionais só receberão dinheiro sob a condição de seguirem certos
regulamentos. As escolas não são obrigadas por lei a seguir tais regulamen-
tos, porém a maioria delas precisa de todo o dinheiro que lhes for possível,
e por isso tendem a obedecer. O programa Nenhuma Criança Ficará Para
Trás é um exemplo disto.
Apesar de os funcionários do Departamento de Educação dos EUA não
serem eleitos, eles têm, junto com a poderosa (e privada) Associação Educa-
cional Nacional, grande influência sobre o que se passa nas escolas do país.
Ainda assim, a legislação final concernente às escolas de um estado deve ser
aprovada pelos legisladores estaduais.

Leis estaduais

Depois das leis federais, as mais importantes são as constituições e


leis estaduais. Estas são válidas somente naqueles estados em que fo-
ram aprovadas. É aqui que se encontram as leis sobre o homeschooling.
Há cinquenta estados e cinquenta diferentes constituições estaduais (sem
contar com Washington, D. C., mais os territórios dos Estados Unidos).
Não há dois estados com leis idênticas sobre o homeschooling. As leis
estaduais, contudo, devem estar em conformidade com ambas as consti-
tuições, federal e estadual.
Cada estado possui uma constituição, e as leis sobre homeschooling são
tão diversas entre si quanto o são as diversas constituições estaduais. No en-
tanto, as proteções garantidas pelas constituições estaduais são às vezes maio-
res do que as garantidas pela Constituição Federal. Costuma-se dizer que a
Constituição Federal oferece “um chão” como proteção, não “um teto”. Em
outras palavras, ela garante uma proteção mínima, a partir da qual os estados
podem oferecer mais. Em alguns estados, o direito ao homeschooling é garan-
tido, mesmo que de forma não específica, pela constituição estadual.
A constituição estadual é interpretada pela Suprema Corte do estado,
assim como a Constituição dos EUA é interpretada pela Suprema Corte na-

353
MARY KAY CLARK

cional. Assim, possuímos uma Constituição e leis federais, às quais se somam


constituições e leis estaduais. É, de certo modo, mais fácil de modificar as leis
estaduais do que a Constituição Federal, e no entanto não deixa de ser um
processo difícil.

Regulamentos Administrativos dos Estados

Após as leis estaduais, temos os chamados regulamentos administrativos.


Estes são adotados por várias agências estaduais, como o Departamento de
Educação do Estado e o Departamento de Transportes do Estado, que são
responsáveis por processar os detalhes para que as pessoas cumpram os re-
querimentos genericamente presentes nas leis estaduais. Em outras palavras,
o estado pode aprovar uma lei a respeito da educação domiciliar, afirmando
que o homeschooling é legal neste estado e que o Departamento de Edu-
cação do Estado deverá promulgar regulamentos para administrá-lo. Tais
regulamentos podem lidar com questões como avaliação e qualificação do
pai-professor.
Dois exemplos de estados cujas leis sobre homeschooling têm seus pro-
cessos explicados e administrados pelo Departamento de Educação do Es-
tado são Havaí e Nevada. Os regulamentos administrativos de ambos os
estados desenvolvem as leis estaduais. Usando o exemplo do Havaí, diga-
mos que a lei afirmasse algo como: “Uma criança está isenta de frequência
escolar compulsória quando matriculada em um programa educacional al-
ternativo apropriado, aprovado pelo superintendente pedagógico.” Isto é,
evidentemente, muito vago. O que exatamente quer dizer “aprovado pelo
superintendente pedagógico”? Aprovado como? Serão considerados os pro-
fessores, os currículos, os métodos de avaliação? Segundo os regulamentos
administrativos do Havaí, a afirmação genérica da lei significa que os pais
devem fazer uma notificação formal e então são automaticamente conside-
rados instrutores qualificados, etc.
Regulamentos administrativos, não sendo propriamente leis, têm de fato
a força de leis, pois a legislatura estadual dá às agências administrativas
parte de seu poder legislativo. Ela delega aos regulamentos parte de sua au-
toridade em uma certa área – no caso do Departamento de Educação, ape-
nas o que diz respeito à educação dos cidadãos do estado. Porém, embora
os regulamentos administrativos tenham a força de leis, não versam sobre
penalidades; quem o faz são as leis estaduais que autorizam a aprovação de
tais regulamentos.

354
HOMESCHOOLING CATÓLICO

No entanto, os regulamentos administrativos também devem obedecer a


ambas as constituições, a federal e a de seu respectivo estado. Infelizmente,
muitas agências reguladoras estaduais não cumprem essa exigência, em par-
te porque os regulamentos são menos formais e implementados com menos
cuidado do que as leis. E, felizmente, eles são muito mais fáceis de modificar
do que as leis. É neste nível que as associações estaduais de homeschooling
ou mesmo pais homeschoolers sozinhos têm as maiores chances de conseguir
modificações.

Declarações de distritos escolares regionais

A última forma de regulamentação com que os homeschoolers nor-


malmente têm de lidar são as declarações feitas, ou por um superinten-
dente local, ou pelo conselho administrativo de uma escola. Tais decla-
rações não têm força de lei e os pais não são obrigadas a segui-las. Por
exemplo, um superintendente pode declarar que as crianças de seu dis-
trito escolar devem ser submetidas a um teste padronizado, mesmo que
isto não conste na lei estadual e não haja regulamentos administrativos
sobre o assunto.
Declarações de distritos escolares regionais não têm força de lei. Con-
tudo, às vezes os superintendentes ou conselhos escolares julgam que sua
posição lhes confere autoridade. Algumas pessoas acreditam que o mero
fato de integrarem o conselho administrativo de uma escola ou serem supe-
rintendentes faz delas autoridades legislativas. Sua autoridade, no entanto,
limita-se àquelas áreas estabelecidas de forma precisa pela legislação estadu-
al, através de uma lei ou de um regulamento administrativo.
É muito importante ter em mente que superintendentes podem fazer de-
clarações, mas se têm ou não a autoridade legal para exigir que estas decla-
rações sejam seguidas é inteiramente outra questão. Os pais têm de ser muito
cautelosos ao lidar com uma situação desse tipo. Eles devem estar cientes de
que saber se a “exigência” do superintendente é boa ou má é irrelevante. Se
este não goza de uma autoridade que só pode ser conferida pelo Estado, suas
“exigências” não são mais do que sugestões e os pais não são obrigados a
cumpri-las.
Recomendamos que os pais sejam muito, muito, muito cuidadosos ao
obedecer às “exigências” de um superintendente. Mesmo quando se trata de
algo não muito oneroso, devemos pensar seriamente antes de atender às de-
clarações de autoridades regionais, pois isto pode abrir um precedente capaz

355
MARY KAY CLARK

de afetar futuras legislações. O superintendente pode informar ao legislativo


estadual ou ao Departamento de Educação do Estado que há dois anos ele
tem exigido, por exemplo, que os alunos de seu distrito escolar façam
testes padronizados. Se os pais não se opuserem a isso, ou se se opuserem
mas ao mesmo tempo cumprirem a exigência, o superintendente pode
sugerir ao Departamento de Educação que a prática se torne um regula-
mento administrativo, ou mesmo uma lei estadual. Quanto mais alta a
posição de uma lei ou regulamento na cadeia hierárquica, mais difícil se
torna modificá-lo.

Resumo

Em suma: a legislação mais importante e poderosa do país é a Consti-


tuição dos Estados Unidos, seguida pelas leis federais. A estas se seguem as
leis e constituições estaduais, que não podem estar em conflito. Em seguida,
há os regulamentos administrativos de várias agências estaduais, e por fim
declarações feitas por superintendentes regionais.
Os pais não devem temer o homeschooling, pois temos ao nosso lado
muitas decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos, bem como de su-
premas cortes estaduais, afirmando o direito que os pais têm de cuidar da
educação de seus filhos. Este direito parental já foi até mesmo classificado
como “direito inalienável”. A lista de casos que chegaram à Suprema Corte e
foram concluídos com a afirmação deste direito parental vem desde a década
de 1920, com Meyer vs. Nebraska, Pierce vs. Sociedade das Irmãs, Prince vs.
Massachussetts e outros casos, chegando até os dias de hoje, em que temos
obtido vitórias seguidas nas cortes estaduais e federais, garantindo o direito
dos pais de ensinar seus filhos em casa.
Deve-se notar que, apesar de ser obrigatório que todas as leis e regula-
mentos estaduais estejam em conformidade com as constituições federal e
estaduais, nem sempre isto acontece. Há inúmeras leis e regulamentos esta-
duais incompatíveis com a Constituição. O problema é que são necessários
dinheiro e tempo para que uma pessoa ou um grupo de pessoas vão ao
tribunal alegando a inconstitucionalidade de uma lei. Os cristãos costumam
interpretar leis como justas ou injustas com base na Bíblia, nos ensinamentos
da Igreja, ou na Lei Natural, porém, com juízes que não são cristãos, ou que
não interpretam a lei de um ponto de vista cristão, o tempo e o dinheiro gas-
tos com o esforço costumam se perder. Nos tribunais, apenas a lei tem vez, e
não as verdades eternas.

356
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Algumas dicas para que sua experiência com


o homeschooling seja mais fácil e segura:

1. Associação de Defesa Legal do Homeschooling


Considere filiar-se à Associação de Defesa Legal do Homeschooling. O
telefone para contato é (540) 338-5600, ou você pode escrever para a Cai-
xa Postal 3000, Purcellville, VA 20134-9000. Mais informações no website
www.hslda.org. A filiação à Associação é o modo mais eficiente de as famílias
homeschoolers obterem proteção jurídica. Se você for membro e tiver algum
problema com a lei, eles providenciarão um advogado e irão ao tribunal com
você. Se necessário, eles levarão o caso até a Suprema Corte dos Estados
Unidos.
A taxa anual é irrisória, se levarmos em consideração que alguns casos da
HSLDA chegaram a custar entre $50.000,00 e $100.000,00. Eles conseguem
cobrar tão pouco principalmente pelo fato de solucionarem a maioria dos
problemas legais por meio do diálogo com superintendentes, persuadindo-
-os a não ir adiante com o processo. Há muitas famílias filiadas à HSLDA,
porém muito poucas já enfrentaram dificuldades jurídicas. Em termos esta-
tísticos, apenas uma família homeschooler em cada cem será contatada pelas
autoridades de forma negativa, e apenas uma em cada cem deste grupo terá
algum tipo de problema sério, como um julgamento ou queixas registradas
em seu nome. Isto significa que apenas uma em cada dez mil famílias terá
algum problema jurídico sério. Contudo, essa é uma realidade que depende
de os pais manterem-se informados e filiarem-se à HSLDA.
Os superintendentes conhecem a reputação da HSLDA, e o simples fato
de você ser um membro muito provavelmente os fará recuar. Eles sabem que
a HSLDA é muito agressiva e luta até o fim.
Tenha em mente que a HSLDA é como uma apólice de seguro. Você pre-
cisa filiar-se antes de ter problemas. Embora eles possam aceitar sua parti-
cipação após você ter recebido um contato negativo, nesses casos eles reser-
vam-se o direito de recursar novos membros.

2. Matrícula em um programa de estudos


Considere a possibilidade de matricular seus filhos em um programa de
estudo domiciliar. O fato é que famílias ligadas a programas institucionais
têm menos problemas com as autoridades.

357
MARY KAY CLARK

Quando for escolher um programa, você terá de decidir se o credencia-


mento é importante para você. A Seton é credenciada pela Associação Sulista
de Faculdades e Escolas (Southern Association of Colleges and Schools), que
é um membro da Comissão de Credenciamento Internacional e Transregio-
nal (Comission on International and Transregional Accreditation). Essas são
organizações reconhecidas pelo Departamento de Educação dos EUA. Há
seis agências regionais de credenciamento:

• Associação Sulista de Faculdades e Escolas (Southern Association of


Colleges and Schools)
• Associação Nova Inglaterra de Escolas e Faculdades (New England
Association of Schools and Colleges)
• Associação de Faculdades e Escolas do Centro-Norte (North Central
Association of Colleges and Schools)
• Associação de Faculdades e Escolas dos Estados do Meio (Middle Sta-
tes Association of Colleges and Schools)
• Associação de Escolas e Faculdades do Noroeste (Northwest Associa-
tion of Schools and Colleges)
• Associação de Escolas e Faculdades do Oeste (Western Association of
Schools and Colleges)

A Seton buscou credenciar-se porque acreditávamos que assim nossas


famílias teriam menos problemas com superintendentes regionais e estadu-
ais, e também que seria mais fácil a transferência dos créditos do ensino
médio para os alunos terem acesso às universidades. Hoje sabemos que
estávamos certos.
Nem todas as credenciais são iguais. As agências listadas acima são agên-
cias de credenciamento reconhecidas. Se uma escola afirma ser credenciada,
mas sua credencial não tiver sido obtida por meio de uma dessas agências, as
autoridades regionais e estaduais podem não a reconhecer.
Há outras agências de credenciamento, como a Associação Nacional de
Escolas Privadas Católicas e Independentes ou a Associação Internacional de
Escolas Cristãs. Se por um lado o credenciamento oferecido por um grupo
como esse pode ser útil para determinar a qualidade acadêmica de uma esco-
la, o credenciamento em si pode ser juridicamente irrelevante.
Os superintendentes escolares costumam levar muito a sério as creden-
ciais de uma instituição de ensino. É uma satisfação saber que o simples
fato de a Seton ser credenciada já levou superintendentes a recuarem em sua

358
HOMESCHOOLING CATÓLICO

tentativa de causar transtornos. Em geral eles nem sequer olham para o cur-
rículo, mas querem apenas ter certeza de que uma organização profissional
objetiva avaliou e credenciou nosso programa.
De maneira geral, os superintendentes são menos hostis quando a família
segue um programa formal de estudos. Eles gostam de saber que há uma ins-
tituição formal por trás do homeschooling. Eles também têm uma impressão
muito mais favorável diante de um currículo elaborado por profissionais do
que de um feito pela própria família. Para eles é importante que a família
possa buscar a assistência telefônica de um profissional de educação durante
sua empreitada pedagógica.
Quase sempre é possível resolver problemas com superintendentes regio-
nais através de uma carta ou de um telefonema da escola de homeschooling.
Na maioria das vezes, o superintendente quer apenas checar as linhas gerais
do currículo. Na Seton, consideramos que esses são casos de “objetivos e
continuidade”. Nove em cada dez “problemas” que já tivemos com superin-
tendentes foram resolvidos quando lhes mostramos os objetivos e a conti-
nuidade dos cursos que oferecemos aos nossos alunos.

3. Declaração de princípios
Escreva uma declaração de princípios filosóficos ou religiosos, isto é, os
motivos pelos quais você aderiu ao homeschooling, especialmente se forem
motivos religiosos. Mesmo que os estados não exijam que você explique por
que você fez essa opção, quando notificar o superintendente ou a direção da
escola, sugerimos que você o faça. Nossa experiência tem mostrado que as
famílias que optam pelo homeschooling por motivos religiosos têm um com-
prometimento mais forte do que aquelas que o fazem por outros motivos. Os
superintendentes também percebem essa diferença e tendem a não perturbar
os homeschoolers que têm um comprometimento religioso com sua decisão
de educar os filhos em casa.
Sua declaração de princípios deve ser basicamente uma declaração de que
você obedece às verdades da sua fé e que Deus ordena que você eduque seus
filhos. Mesmo que não inclua todos os detalhes na carta ao superintendente,
você deve escrever todos os motivos que levam você ao homeschooling e
guardar a lista para uso seu e de sua família. É bom tê-la como um lembre-
te ao qual recorrer quando necessário. Na melhor das hipóteses, você não
precisará dele.

359
MARY KAY CLARK

Como agir ao ser contatado por uma autoridade do governo


Nesta seção, abordaremos dois tópicos: primeiro, como agir ao ser pro-
curado pelo governo para tratar da educação de seus filhos; e, segundo, al-
gumas dicas sobre como evitar problemas jurídicos.
Como uma mãe ou pai católico homeschooler deve agir ao ser contatado
por autoridades educacionais? Há duas regras muito importantes que dão
o tom, não apenas de como lidar com esse tipo de contato, mas para quase
todas as situações sociais. A primeira regra, quer seja um contato telefônico,
por carta ou pessoal, é ser educado. Seja amigável, seja um bom cristão.
“Uma resposta branda aplaca o furor.” Na maioria das vezes, a pessoa que
entra em contato está apenas cumprindo uma ordem. Ela não tem nada pes-
soal contra você e provavelmente não nutre um ódio mortal contra o homes-
chooling. Ela foi informada de que você ensina seus filhos em casa, ou que
eles frequentam um tipo de escola diferente. Ao ir investigar a queixa, essa
pessoa está apenas fazendo seu trabalho; ela não sabe nada sobre homescho-
oling. Caberá a você fazer com que ela tenha uma boa primeira impressão
sobre o que é o homeschooling. Tente passar uma boa impressão cristã.
A segunda regra é: ao mesmo tempo em que você deve ser amigável e
educado, não faça nada que o deixe desconfortável. Seja responder uma per-
gunta específica, seja deixar a pessoa entrar na sua casa e ver os seus filhos,
ou o que quer que seja: siga seu instinto. Se o funcionário pedir informações
que você não queira lhe dar, você provavelmente tem bons motivos para isso.
Se você não se sentir confortável com deixá-lo entrar na sua casa, você tem
o direito de não o permitir. Seja educado, seja amigável, mas não faça nada
que não queira fazer. Confie em seu instinto. Deus não permitirá que você se
equivoque se você confiar Nele.

Contato telefônico
Tendo em mente as duas regras acima, abordemos agora os diferentes
tipos de contatos. O primeiro é o contato por telefone. Sempre peça à pessoa
que ligar para enviar seus questionamentos por escrito, em papel timbrado
comercial. Isto é necessário por vários motivos. Primeiro, você não sabe ao
certo com quem está falando. Se alguém telefona dizendo que é do Depar-
tamento Estadual de Educação, ou do escritório do superintendente, ou do
escritório do diretor da escola, você não tem como verificar a veracidade
dessa informação pelo telefone. A não ser que você conheça a voz da pessoa

360
HOMESCHOOLING CATÓLICO

que ligar, poderia se tratar de qualquer interessado em obter informações


sobre você. Já houve ocasiões em que pessoas desautorizadas telefonaram
a famílias homeschoolers e fizeram perguntas bastante pessoais sobre suas
vidas e sua rotina escolar. Nunca dê informações pessoais a um estranho pelo
telefone. A pessoa do outro lado da linha deve ser considerada um estranho
sempre que você não puder verificar quem ela é.
Também não prometa que responderá às perguntas que lhe serão en-
viadas por escrito. Após conversar com seu cônjuge, com o advogado da
escola de homeschooling ou com um advogado pessoal, talvez você chegue
à conclusão de que não é obrigado a responder às perguntas. Na Virginia,
é possível recorrer à isenção por motivo religioso, mas os superintendentes
regionais não mencionam essa possibilidade quando enviam questionamen-
tos às famílias homeschoolers, e assim muitos pais acabam respondendo e se
submetendo a regulamentos desnecessários.
O segundo motivo para pedir que as perguntas sejam feitas por escrito é
que, muitas vezes, esse contato por escrito nunca será feito. Os funcionários
da burocracia do governo são muito ocupados; é muito mais fácil para eles
pegar o telefone e fazer algumas perguntas do que digitar ou ditar uma carta.
Consequentemente, já houve muitas ocasiões em que os pais foram contata-
dos pelo telefone para que dessem algumas informações e, quando pediram
que as perguntas fossem enviadas por escrito, acabaram não recebendo mais
questionamento algum.

Quando alguém vai à sua casa


Até aqui está tudo muito bem, mas e se algum funcionário do governo
for à sua casa? De novo, seja educado, mas não faça nada que não queira
fazer. A regra mais importante, e que não cansamos de enfatizar, é que, se
um funcionário for à sua casa, você não é obrigado a deixá-lo entrar, a não
ser que ele apresente um mandado de busca. Deixe-me repetir: se alguém do
governo for à sua casa, quem quer que seja, você não é obrigado a deixá-lo
entrar, a não ser que ele apresente um mandado de busca.
Uma ou duas vezes, quando eu era educado em casa por meus pais, pes-
soas vieram à nossa casa averiguar qual escola nós frequentávamos. Em uma
dessas ocasiões, nossa mãe, embora não estivesse apropriadamente vestida
para o mau tempo que estava lá fora, saiu e fechou a porta atrás de si. Os
visitantes não foram convidados a sentar na varanda, nem a entrar em casa,
e a mão de nossa mãe não soltou a maçaneta da porta. Ela pediu que se iden-

361
MARY KAY CLARK

tificassem, e eles o fizeram, antes de que qualquer pergunta fosse respondida.


E mesmo assim nem todas as perguntas foram respondidas.
Quando estiver diante de um funcionário do governo, seja um diretor
de escola, um superintendente, ou algum encarregado que venha em nome
deles, sempre se trata de um representante do governo. Você não é obriga-
do a permitir a entrada de representantes do governo em sua casa sem um
mandado de busca. Isto se aplica à polícia, ao FBI, a assistentes sociais, a
funcionários do distrito escolar, ou a qualquer outro agente do governo.

A Quarta Emenda
Você dispõe de um direito constitucional muito importante, o direito da
Quarta Emenda, que protege os cidadãos contra revistas e prisões ilegais. Basi-
camente, isto significa que a casa de uma pessoa é seu castelo. Você não é obri-
gado a permitir a entrada de quem quer que seja, sem um mandado de busca.
Obter um mandado de busca não é simples. A pessoa que deseja fazer
a revista precisa ir até um juiz e apresentar a causa provável de que algum
crime está sendo cometido. Em outras palavras, a polícia, o assistente social
ou superintendente devem ir até um juiz e afirmar: “Vossa Excelência, tenho
motivos para acreditar, com base no testemunho de um informante, que o Sr.
e a Sra. Smith estão cometendo um crime, pois praticam o homeschooling.”
Acontece que o homeschooling não é crime. Um juiz não concederá um man-
dado de busca a não ser que haja uma real evidência de um crime. Muitos
casos envolvendo acusações infundadas de “abuso infantil” começam quan-
do, mesmo sem haver mandado de busca, os pais permitem que funcionários
do governo entrem em suas casas.
Às vezes, pais e mães incorrem no erro de pedir ajuda ao Serviço Social,
vindo a descobrir que a função deste órgão não é realmente prestar auxílio,
mas controlar as pessoas. Certa vez, um pai católico estava no trabalho, en-
quanto sua mulher estava doente, de cama, e por isso ele telefonou ao Servi-
ço Social pedindo que alguém buscasse seus filhos e os levasse para casa. Os
assistentes sociais decidiram que as crianças deveriam ir para um orfanato.
Embora a mãe de fato tivesse problemas crônicos, ela era capaz de caminhar
pela casa e cuidar de si mesma e de seus filhos. Ainda assim, os pais até hoje
não têm permissão para ver as crianças, exceto nos fins de semana, e terão de
lutar com a burocracia do serviço social para ter seus filhos de volta. A lição
é clara: não acredite que as agências de serviço social existem para ajudar
você e sua família!

362
HOMESCHOOLING CATÓLICO

A não ser que as circunstâncias exijam (isto é, que haja crianças gritando
e pedindo socorro), a não ser que haja crianças em perigo físico iminente,
ninguém tem permissão para entrar em uma casa de família sem um man-
dado de busca.
Se você conhecer casos em que os assistentes sociais ou a polícia entraram
na casa de um homeschooler com um mandado de busca, é provável que
um vizinho hostil tenha dado uma “dica” anônima da possível existência
de abuso infantil. Se você tiver problemas com funcionários na porta da
sua casa, ligue para o seu advogado, ou para qualquer advogado disponível,
imediatamente. Peça a ele que vá à sua casa o quanto antes. Não responda
quaisquer perguntas até que o advogado esteja presente. Se necessário, faça
o funcionário falar com o advogado pelo telefone. Dê-lhe o telefone pela
porta e faça-o conversar com o advogado do lado de fora, em sua varanda
ou jardim. (Assim como é necessário saber o telefone do médico para casos
de emergência, é preciso ter sempre em mãos o número do advogado.)
Obter um mandado de busca é um processo muito difícil e demorado, ex-
ceto diante de uma queixa de abuso infantil. Não se deixe intimidar, permi-
tindo que pessoas entrem na sua casa pelo simples fato de elas dizerem que
PODEM conseguir um mandado de busca ou trazer a polícia. Caso digam
isso, responda-lhes que você sente muito, mas não vai deixá-los entrar e, se
quiserem solicitar um mandado de busca, é problema deles. Se quiserem li-
gar para a polícia, também é problema deles. Fazer isso lhe dá TEMPO para
entrar em contato com o advogado ou com a associação de homeschooling
de seu estado ou região.

Como receber o funcionário que for à sua casa


Quando algum funcionário do governo vai à sua casa fazer perguntas, a
primeira coisa a fazer é pedir que ele se identifique. Caso ele não queira ou
não possa comprovar sua identidade, não converse com ele. Vá para dentro
de casa, feche a porta e tranque-a. Se ele não sair de sua propriedade, chame
a polícia. Alguém que seja de fato um funcionário da superintendência ou do
Serviço Social não terá dificuldade para identificar-se. Não há motivo para
não o fazer, e de fato, na maioria dos estados, os representantes do governo
são obrigados por lei a apresentar sua identificação, que normalmente con-
siste em um crachá com uma fotografia.
Além de pedir para ver a identificação do funcionário, peça um cartão
de visitas. Se você tiver em mãos um cartão com o nome, o endereço e o

363
MARY KAY CLARK

telefone do visitante, diminuem as chances de ele ser grosseiro ao falar com


você, pois saberá que você pode fazer uma queixa contra ele. Além disso, é
recomendável que você entre em contato com um advogado após a conversa.
Seu advogado precisará saber com quem você conversou e, logo, para quem
telefonar no Departamento de Educação ou no Serviço Social.
Lembre-se de que qualquer funcionário que aparecer na sua porta será
uma pessoa sobrecarregada de trabalho. Agências regionais do Serviço So-
cial chegam a ter quarenta ou cinquenta funcionários, e é virtualmente im-
possível encontrar alguém se você não tiver um nome, o que significa ter em
mãos um cartão de visitas. Muitos pais, após esse tipo de encontro inespera-
do na porta de suas casas, ficam tão irritados que não memorizam o nome
do visitante. Assim, por favor não deixe de pedir o cartão de visitas ou de
anotar o nome, o endereço e o telefone do funcionário em questão.

Responder ou não às perguntas


Assim que tiver fornecido sua identificação e cartão de visitas, o funcio-
nário visitante provavelmente desejará lhe fazer algumas perguntas sobre sua
prática do homeschooling. Neste momento, você precisará decidir se conver-
sará ou não com ele. Nada obriga você a responder quaisquer perguntas.
Você conta com o direito, afirmado pela Quinta Emenda, de permanecer
calado – o direito contra a autoincriminação. Mesmo que você não tenha
infringido a lei, o funcionário visitante fará certas perguntas cujas respostas
podem levá-lo a acreditar que você fez algo de errado. Portanto, qualquer
resposta que você dê, mesmo a mais adequada, pode ser autoincriminatória
aos olhos do funcionário. Assim, você tem o pleno direito de não responder,
com a justificativa da possibilidade de autoincriminação. Você não deve, no
entanto, falar nesses termos com seu visitante. Diga apenas: “Eu prefiro me
informar melhor com meu advogado antes de responder suas perguntas.”
Caso você se sinta confortável para conversar com a pessoa que for
à sua casa, ótimo. Lembre-se, contudo, de que não haverá testemunhas e
tudo o que você disser poderá ser anotado, de forma precisa ou não. Será
a palavra do agente do governo contra a sua, caso um processo jurídico se
instaure no futuro.
Se você decidir não conversar com o funcionário, diga simplesmente que
está ocupado, que não tem tempo no momento, mas que, se a requisição
de informações for feita por escrito, você retomará o contato. Isto lhe dará
tempo para conversar com seu cônjuge, pensar no que vocês querem fazer,

364
HOMESCHOOLING CATÓLICO

rezar pela situação, contatar um advogado ou o grupo regional ou estadual


de apoio ao homeschooling.
Caso você decida responder as perguntas, minha recomendação en-
fática é que você converse com a pessoa do lado de fora de sua casa.
Vá para fora, feche a porta e converse com a pessoa lá fora mesmo –
não importa como esteja o clima. Quer você esteja no ensolarado sul
da Califórnia ou em meio a uma nevasca em Dakota do Norte, diga ao
visitante: “Eu vou aí fora e nós podemos conversar por alguns minutos.”
Se possível, retire seus filhos do campo de visão do funcionário. Você se
surpreenderia com o modo como um assistente social consegue transfor-
mar um item sem importância, como uma criança descalça, em evidência
de negligência parental.

Do lado de fora
Uma vez do lado de fora de casa, você não deve responder nenhuma
pergunta que não queira. Mesmo que o funcionário pergunte algo que talvez
seja de sua alçada saber, pergunte-lhe educadamente qual lei lhe dá permis-
são de inquirir sobre as notas de seus filhos em testes oficiais, ou sobre suas
credenciais de professor, ou o que seja. Peça inclusive para que ele cite a lei,
para que você ou um advogado possam pesquisar sobre. Diga que você quer
anotar o número da lei estadual para que possa pesquisar mais tarde. E de-
pois de fato pesquise.
Talvez você já conheça a lei, às vezes até melhor do que o funcionário.
Nesse caso, você precisa decidir se deixará transparecer que você conhece a
lei, ou se simplesmente deixará a pessoa falar, sem fazer comentários.
Caso você conheça a legislação do seu estado sobre o homeschooling,
você pode ou não citá-la para o funcionário. Caso ele diga: “É a lei da edu-
cação compulsória”, você pode responder: “Mas não é verdade, segundo a
seção tal e tal do código educacional, que eu não preciso ser um professor
certificado? E também não é verdade que não tenho a obrigação de submeter
meus filhos a um teste de desempenho?” No entanto, esse tipo de discussão
não costuma ser produtivo. Os funcionários do governo não gostam de ser
instruídos pela pessoa que deveriam instruir.
Alguns pais sentem-se “chamados” a ter essa discussão com o represen-
tante do governo. Se for o seu caso, tenha em mente que Deus estará com
você, faça uma oração e confie que Deus o ajudará a seguir adiante e respon-
der da melhor forma possível, de modo a convencer a pessoa, não apenas de

365
MARY KAY CLARK

que você está agindo certo, mas de que os demais homeschoolers também
estão. Da próxima vez que esse funcionário receber uma denúncia sobre
homeschooling, ele já compreenderá melhor a prática, saberá que tipo de
pessoas aderem a ela e considerará reais e legítimas as preocupações desses
pais com seus filhos.
Caso você tenha uma cópia da legislação, pode ser uma boa ideia deixá-
-la sempre à mão, para que em uma situação como essa você possa recorrer
a ela: “É isto o que diz a lei; eu tenho uma cópia.” Em geral, afirmar algo
que está escrito em algum lugar é mais convincente do que citá-lo oralmente.

Dicas para evitar problemas


Há muitas dicas práticas para evitar problemas jurídicos. Algumas são
mais importantes do que outras, e eu tentarei enfatizar aquelas que me pa-
recem fundamentais, em oposição às que ofereço como meras sugestões a
serem consideradas.
A primeira dica é uma que faço questão de enfatizar fortemente. Falo nela
antes de tudo por considerá-la de extrema importância. Trata-se de guardar
todos os arquivos de atividades. Muitos estados exigem que você mantenha
um arquivo com notas em provas e atividades e registros de frequência às
aulas. Algumas escolas de ensino fundamental e todas as de ensino médio
exigem um histórico dessas informações, caso seus filhos venham a matricu-
lar-se nelas. Devem-se guardar registros dos últimos dois ou três anos, ou até
que seu filho conclua o ensino médio. O histórico de todos os quatro anos
do ensino médio deve ser guardado por alguns anos. Esses documentos de-
vem estar em local acessível e sempre à mão. Mesmo que seus filhos estejam
matriculados em um programa de homeschooling, mantenha uma cópia do
histórico escolar de cada um com você.
Se você tiver a intenção de mandar seu filho à universidade, esses re-
gistros serão necessários, especialmente o histórico escolar e o diploma do
ensino médio. Todas as faculdades do país exigem o histórico escolar do
aluno ingressante.
Registros de frequência são muito importantes, e a maioria dos estados
considera-os como o mais importante documento escolar. A legislação torna
compulsória a frequência, não a educação. Registros de frequência provam
ao estado ou ao distrito escolar em quais dias seus filhos receberam instru-
ção escolar e por quantos dias. Mesmo que você pense que jamais terá neces-
sidade deles, mantenha os registros de frequência de seus filhos.

366
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Boletins de notas são exigidos pelas escolas, caso você queira rema-
tricular seus filhos. Embora apenas alguns estados os considerem obri-
gatórios, mantê-los é uma proteção contra futuros problemas. As notas
devem ser lançadas trimestralmente. Não precisam necessariamente ser
notas numéricas.
Cerca de metade dos estados, hoje, exigem testes nacionais padroniza-
dos, como SRA, Iowa, CAT ou Stanford. Normalmente, a exigência é que os
alunos homeschoolers os façam a cada ano. As notas do teste padronizado
mostram, de forma objetiva, que a educação está acontecendo. Se você puder
mostrar que seu filho, nos últimos quatro anos, tirou notas altas em testes
padronizados, será muito difícil alguém ousar dizer que ele não está apren-
dendo nada, ou que está sendo privado de educação.

Guarde amostras de atividades


Os registros que discutimos até aqui consistem em apenas uma página
cada, porém eu também recomendo que você guarde amostras de ativida-
des realizadas durante o homeschooling. Alguns estados chamam isto de
“portfólio”, o que incluiria amostras de redações escritas pelas crianças, de
questionários respondidos, de livros de atividades e outros materiais do tipo.
Idealmente, todos os trabalhos produzidos pelas crianças durante um ano
devem ser guardados em uma caixa por um ou dois anos. Não há necessida-
de de guardar esse material por tanto tempo quanto os históricos escolares.
É algo de que você provavelmente nunca precisará e que pode ser guardado
no sótão. Contudo, será importante caso ocorra um problema. E também
é uma boa lembrança para quando seus filhos estiverem maiores, pois eles
costumam gostar de relembrar o que faziam quando eram pequenos e de
mostrar seus trabalhos escolares aos seus próprios filhos.
Guardar históricos e amostras de atividades é importante porque prova,
sem chance de dúvidas, que as crianças estão sendo educadas. Quando uma
família homeschooler tem problemas, normalmente é porque não consegue
provar que está de fato educando seus filhos. Não há evidência mais elo-
quente a ser apresentada diante um juiz do que amostras de livros e papéis
escritos com a caligrafia de seus filhos.
Caso você siga um programa de homeschooling que dê notas às ativida-
des, guarde cópias dos trabalhos corrigidos. Isso mostra, não apenas que a
criança fez a atividade, mas que um avaliador externo a corrigiu.

367
MARY KAY CLARK

Seja organizado
Mantenha sua rotina de homeschooling em ordem e faça com que exte-
riormente essa ordem transpareça. Você deve manter um cronograma de au-
las. Mesmo que não o siga exatamente todos os dias, é importante que você
possa demonstrar como funciona um dia típico na sua casa. Houve um caso
em que os pais perderam no tribunal por não terem conseguido demonstrar
que tinham um plano diário para os estudos. No início de cada ano, monte
um cronograma de aulas.
Há muita discussão entre os homeschoolers sobre seguir um currículo
estruturado ou não estruturado. Legalmente falando, quando ocorre de os
pais terem de prestar contas às autoridades, eles precisam apresentar algum
tipo de plano organizado mostrando que certos momentos do dia são reser-
vados às aulas. Não é incomum que se peça aos pais para explicarem como
transcorre um dia típico de homeschooling em suas casas.

Conheça a legislação
Leia, estude e conheça bem as leis do seu estado sobre homeschooling.
Tenha sempre à mão uma cópia da legislação. Conhecimento é poder. Se al-
guém for à sua casa afirmando que a lei diz uma coisa e você souber que não
é verdade, isso lhe dará confiança e uma paz reconfortante. É impressionante
com que frequência os superintendentes ou seus representantes enganam os
homeschoolers, seja por ignorância da lei ou apenas para tentar obter algu-
ma vantagem. Qualquer que seja o motivo, se você conhecer a lei, poderá
responder sem medo, no tom que lhe parecer melhor.
Você pode ter acesso a uma cópia da Constituição Estadual ou das leis
estaduais em uma biblioteca ou pela Internet. Na Constituição, na seção
sobre “Educação”, você encontrará todas as leis educacionais de seu estado,
bem como referências a casos legais. As associações estaduais de homeschoo-
ling disponibilizam um pequeno volume com todas as leis estaduais vigentes
sobre homeschooling. Todos os advogados têm uma cópia das leis estaduais.
E na Seton há cópias das leis sobre homeschooling de cada estado. O modo
mais rápido de conhecer as leis do seu estado é acessar o site da HSLDA,
www.hslda.org, onde estão disponíveis todas as leis estaduais, e em um qua-
dro de fácil compreensão elaborado pelos advogados.
Sempre verifique tudo o que você ouvir sobre a lei e que não lhe parecer
correto. Lembre-se de que a Suprema Corte americana determinou que ne-

368
HOMESCHOOLING CATÓLICO

nhum estado pode tornar o homeschooling ilegal, tampouco impor regula-


mentos que, na prática, impossibilitem-no. As leis sobre homeschooling, em-
bora complicadas em alguns estados, sempre contêm lacunas que permitem
que os pais eduquem seus filhos em casa. Nunca, durante minha experiência,
ouvi falar de uma família que realmente desejasse praticar o homeschooling
e tenha sido impedida pelas leis estaduais. É claro, no entanto, que as leis e
regulamentos mudam o tempo todo.

Filie-se à associação estadual


Filie-se à associação de homeschooling do seu estado. Essas associações
não são católicas, mas pelo motivo de que cerca de 90% dos homeschoolers
do país são protestantes. A maioria das associações estaduais são evangélicas
fundamentalistas.
As famílias homeschoolers protestantes concordam conosco acerca das
questões morais. São pessoas boas, pró-vida e pró-família.
A associação estadual pode dar apoio e informação à sua família. Todas
elas publicam um boletim de notícias mensal ou trimestral, que manterá
você informado sobre as propostas legislativas do estado. Elas monitoram
a legislação estadual e pressionam os políticos para que sejam aprovadas
leis melhores para o homeschooling. Os católicos devem ajudar as associa-
ções estaduais na batalha por uma legislação mais justa para as famílias
homeschoolers.
O objetivo não é apenas manter as vitórias que já conseguimos, mas tam-
bém aumentar a liberdade e diminuir os regulamentos. São as associações
estaduais que ocupam a vanguarda desta batalha tão importante.

Conheça seu distrito escolar


Conheça a posição do seu distrito escolar a respeito do homeschooling.
Embora o superintendente não tenha qualquer autoridade legislativa para
impor regulamentos, ele pode fazer declarações. Conhecer a “política” do
seu distrito escolar é muito benéfico, pois pode indicar o modo correto de
proceder quando e se você for notificado pelo superintendente.
Você pode conhecer a posição do distrito escolar acerca do homeschoo-
ling contatando o grupo de apoio de seu estado ou região. Essas organiza-
ções têm um bom conhecimento sobre políticas locais, pois lidam o tempo
todo com elas e provavelmente já têm a experiência de dialogar com o supe-

369
MARY KAY CLARK

rintendente. Elas estão a par dos acontecimentos recentes e podem dar bons
conselhos sobre como proceder.
Se você tiver essa inclinação, considere a possibilidade de participar da
política local e incentive outros homeschoolers a fazê-lo. É muito mais difícil
para os políticos de uma localidade perseguir os homeschoolers quando es-
tes têm influência política na região. Não é difícil concorrer à administração
da escola, ao conselho municipal ou mesmo a posições menores, ou filiar-se
a alguma organização política do município.

Uma carta
No estado da Virginia, os pais gozam de uma dispensa religiosa da obri-
gatoriedade de matricular seus filhos na escola e de seguir regulamentos so-
bre homeschooling. Os detalhes da carta a seguir podem não ser perfeita-
mente compatíveis com as leis do seu estado, porém, trata-se de um exemplo
eficaz de como escrever ao superintendente regional declarando que você
não cumprirá um certo regulamento.
Além disso, é uma boa carta para o caso de você decidir seguir certos regu-
lamentos por uma questão de prudência, mas filosoficamente estiver convicto
de que seria um direito seu não os seguir. Sua carta pode começar deste modo:
“Como um gesto de cortesia, segue anexo o formulário preenchido (ou as notas
dos testes, ou o que seja). No entanto, nós (nome da mãe e nome do pai) estamos
educando nossos filhos em casa, de acordo com nossas convicções religiosas.”
A Dra. Clark enviou a carta abaixo, devidamente autenticada, ao supe-
rintendente regional e a todos os membros do conselho escolar, via correio
registrado. Ela o fez porque seu nome foi tantas vezes exposto no jornal,
por conta de sua militância a favor do homeschooling na capital do estado,
que ela acabou recebendo um telefonema do distrito escolar. Do contrário,
ela jamais teria feito qualquer tipo de contato com eles. Muitos advogados
especialistas em homeschooling recomendam que você não entre em contato
com quaisquer autoridades do distrito escolar até que e a não ser que você
seja contatado. Isso só não será possível se seus filhos tiverem frequentado
a escola pública. Obviamente, uma decisão como a de não notificar a escola
quando seu filho deixar de frequentá-la, contrariando assim a lei, deve ser
tomada após muita reflexão, oração e prudência.
Eis a carta da Dra. Clark:

370
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Prezado Dr. D.,


De acordo com a Constituição da Virginia, 22.1-256-A: As provisões des-
te artigo (22.1-254, Frequência Escolar Compulsória) não se aplicam a: 4.
Crianças dispensadas segundo 22.1-256 deste artigo.
A seção 22.1-256 lista os grupos de crianças dispensadas de frequentar a es-
cola. Ela afirma que “A. Um conselho escolar: ...2. Deve dispensar de frequen-
tar a escola qualquer aluno que, conjuntamente com seus pais, por motivos
de educação ou crença religiosa bona fide, oponha-se conscientemente a ir à
escola.”
Mais adiante, a seção afirma que “C. Da forma como empregado no pará-
grafo A 2 desta seção, o termo “educação ou crença religiosa bona fide” não
consiste em um código moral pessoal ou opiniões essencialmente políticas,
sociológicas ou filosóficas.”
A Constituição não se aprofunda quanto ao processo pelo qual os pais de-
vem notificar os membros do conselho escolar a respeito de suas convicções
religiosas.
Portanto, queremos por meio desta carta autenticada informar o seguinte a
todos os membros do Conselho Escolar do Município de Warren: nós, Bruce
e Mary Kay Clark, educamos nossos filhos em casa, atendendo às nossas
convicções religiosas ou crenças religiosas bona fide. Estas não são opiniões
essencialmente políticas, sociológicas ou filosóficas, tampouco apenas um có-
digo moral pessoal. Embora saibamos que este é um direito natural de todos
os pais, estamos também seguindo os princípios de nossa Igreja, segundo ex-
postos na Carta dos Direitos da Família. O Papa João Paulo II afirma que:
a) Os pais têm o direito de educar seus filhos de acordo com suas convicções
religiosas e morais; b) Os pais têm o direito de escolher livremente as escolas
ou outros meios necessários para que a educação de seus filhos se dê de acor-
do com suas convicções; c) Os pais têm o direito de assegurar que seus filhos
não sejam obrigados a frequentar aulas que não estejam de acordo com suas
convicções religiosas e morais.
Para concluir, observamos que nossa dispensa garantida pelo artigo 22.1-254
também cumpre os regulamentos específicos do homeschooling, como pos-
suir qualificação de excelência e um currículo aprovado e submeter os alunos
a avaliações anuais.
Atenciosamente,

(Nota: Esta carta usa os termos adequados à legislação sobre homeschooling


do estado da Virginia. Contudo, trata-se de uma legislação inconstitucional. Na
verdade, é tão gritantemente inconstitucional que um advogado especialista em
homeschooling certa vez disse a seu respeito: “Daria para passar com um cami-
nhão constitucional sobre essa aqui!” Segundo a Suprema Corte americana, os
pais têm o direito de ensinar seus filhos em casa por qualquer motivo!)

371
MARY KAY CLARK

Não tenha medo


Cada um de nós deve decidir exatamente qual será nosso posicionamento
e quais leis nós nos cremos capazes de obedecer. Tomar essa decisão é algo
entre você e Deus. Nenhum de nós, pais homeschoolers, deve sentir-se no
direito de julgar as decisões dos outros. Cada um de nós deve seguir as gra-
ças que Deus nos dá para tomarmos as decisões que afetam nossas famílias.
Não tenha medo de ensinar seus filhos em casa, mas seja prudente em
seu modo de proceder. O homeschooling é legalizado e você não precisa
esconder-se ou esconder seus filhos do mundo, porém, seja prudente. Não
eduque seus filhos em segredo. São maiores as chances de você ter problemas
se tiver um comportamento estranho. Se você agir como se estivesse fazendo
algo errado, seus filhos terão a impressão de que o que estão fazendo é erra-
do. Não queremos que eles acreditem que seus pais estão agindo de forma
desonesta ou fazendo algo ilegal, pois assim serão crianças assustadas, o que
certamente não é o objetivo do homeschooling.

Um breve comentário para os católicos


Outros capítulos deste livro mostram que nosso direito de educar nossos
filhos emana de Deus. Isto é afirmado claramente pela Bíblia e documentos
da Igreja Católica. Se, por um lado, precisamos estar cientes das leis dos
Estado, na verdade elas têm pouca relação com a realidade de que Deus dá
aos pais o direito de educar seus próprios filhos. Assim, qualquer que seja
o modo como você escolha lidar com as autoridades, permaneça firme em
suas crenças e convicções, que têm por base a Bíblia e a Igreja Católica. Ne-
nhuma lei ou regulamento inventado por homens pode privar você de um
direito que lhe foi dado por Deus. E nem deve, pois trata-se também de uma
responsabilidade que lhe foi confiada.
Os católicos somos cidadãos obedientes à lei, e nos é difícil inclusive
infringir uma “lei” que muitas vezes nem sequer é legal ou constitucional ou
moralmente correta. Precisamos nos inspirar nos afro-americanos, que eram
obrigados a sentar-se na parte da frente dos ônibus, no início de sua a bata-
lha por direitos civis. No futuro, é possível que haja leis e regulamentos li-
mitando nosso direito de ter filhos e de escolher como educá-los. Precisamos
pensar desde já, antes de tais leis serem criadas, no modo como pretendemos
lidar com elas, tanto espiritual quanto juridicamente.

372
Capítulo 16
Homeschooling e catequese
Nota da editora: O artigo a seguir é parcialmente baseado no panfleto

“Responsabilidades e Direitos dos Pais na Educação Religiosa”,


publicado pela Associação Católica de Ensino Domiciliar da América
(Catholic Home School Network of America).

A
afirmação de que a educação dos filhos é um direito e um dever
dos pais é fundamentada em diversos documentos da Igreja. Existe,
contudo, uma controvérsia a respeito da diferenciação entre o direito
dos pais e o direito da Igreja de preparar as crianças para a recepção sacra-
mental. Dito de outro modo, é preciso decidir se quem deve dar instrução
sistemática sobre os conteúdos da Fé são os pais ou a Igreja.
Logo após o nascimento de uma criança, os pais buscam a Igreja para
batizá-la. Esta é talvez a primeira catequese das crianças, uma importante
obra da graça para a qual cooperam os pais e a Igreja.
Após o batismo, quando a criança é pequena, cabe primeiramente aos
pais ensinar as práticas religiosas básicas, como fazer o sinal da cruz, rezar
orações simples e pedir a ajuda do anjo da guarda. O bom comportamento
também é responsabilidade dos pais, que devem instruir por meio de pala-
vras e de seu exemplo pessoal.
Ao mesmo tempo em que se dá a catequese familiar, os pais tornam pos-
sível uma segunda forma de catequese, que transcende a família e chega à
MARY KAY CLARK

paróquia. Esta segunda catequese consiste em os pais permitirem que os


filhos vivenciem a liturgia da Igreja na paróquia, ao lado de seus familiares e
das pessoas da comunidade.
As crianças aprendem através da leitura, durante a Missa, das histórias
dos patriarcas, profetas e reis do Antigo Testamento, e da história de Jesus
e dos apóstolos no Novo Testamento. Elas também são instruídas pelas ex-
plicações e exortações do padre ou do diácono durante a homilia e por suas
reflexões ao celebrar a liturgia; e através da arquitetura, da decoração, dos
ornamentos, vestimentas e utensílios da liturgia. Por fim, as crianças são
“instruídas” pelas realidades sobrenaturais da Missa: a Presença Real de
Jesus, o Sacrifício do Calvário e a Santa Eucaristia.
No entanto, quando as crianças chegam à idade escolar, é normal inicia-
rem uma série de aulas sistemáticas de catecismo, nas quais as verdades da
igreja são explicadas e formalmente apresentadas. Do mesmo modo como
os pais têm o antigo costume de confiar nas escolas para ensinar História e
Ciências aos seus filhos, também costumam confiar nas escolas católicas ou
nas aulas do programa de Confraternidade da Doutrina Cristã para fazer
esta apresentação sistemática da Fé às crianças.
Os pais que decidem assumir a tarefa de ensinar História e Ciências aos
seus filhos, naturalmente, também tomam para si a obrigação de catequizá-
-los. Isto vem criando, se não conflito, ao menos uma área de tensão entre os
pais as autoridades eclesiásticas.
Os pais podem preparar seus filhos para a primeira comunhão e para a
confissão, mas os sacramentos em si, obviamente, são celebrados na igreja.
Assim, quando os pais levam as crianças à igreja e pedem que lhes sejam
administrados os sacramentos, muitos párocos fazem perguntas. E, com a
repetição sistemática desse tipo de situação, às vezes o problema chega ao
alto escalão do comando eclesiástico e é criado algum regulamento dioce-
sano para lidar com a questão da recepção dos sacramentos por crianças
educadas em casa.
Em capítulos anteriores, analisamos diversos documentos da Igreja, que
tinham por objetivo fazer com que pais, párocos e outras autoridades enten-
dessem que os pais católicos têm o direito e o dever de educar seus filhos,
direito este que se sobrepõe ao das autoridades seculares que supervisionam
as escolas públicas e privadas. Contudo, esses são princípios aplicáveis tam-
bém ao direito dos pais de evangelizar, catequizar e preparar seus filhos para
os sacramentos, em detrimento das autoridades eclesiásticas que oferecem
a catequese sistemática e a administração dos sacramentos nas paróquias.

374
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Como consequência, bispos, padres e seus representantes devem aceitar e


respeitar a verdade das afirmações a seguir, assim como o fazem as autoridades
civis: os pais têm, de forma inalienável e primordial e, portanto, prevalente, o
direito e o dever de educar seus filhos, especialmente em matérias religiosas; os
pais gozam de uma competência fundamental para educar seus filhos, pelo fato
de serem pais; e têm liberdade para escolher os meios e as instituições pelos quais
educarão seus filhos, tanto em assuntos gerais quanto na catequese sistemática
anterior aos sacramentos, desde que de acordo com os ensinamentos da Igreja.
É verdade que não há uma correlação exata entre o modo como os fiéis
devem se relacionar com a hierarquia da Igreja e o relacionamento que se dá
entre os cidadãos e o Estado. A “liberdade” e os “direitos” que organizam a
relação entre os fiéis e os sacerdotes da Igreja não são os mesmos “direitos” e
“liberdade” que organizam a relação entre os cidadãos e seu governo, no que
tange a questões de educação e religião. Por exemplo, os fiéis não têm a “liber-
dade” e o “direito” de discordar da doutrina afirmada pelo Magistério da Igreja.
Além disso, os fiéis não têm a “liberdade” e o “direito” de tomar suas opiniões
por ensinamentos da Igreja a respeito de questões que ainda estejam abertas a
discussão (para ambos os pontos, ver Código de Direito Canônico, 227).
Porém, o Código de Direito Canônico de 1983 afirma que os fiéis têm,
sim, uma certa liberdade e certos direitos dentro da Igreja, não apenas dentro
do Estado (ver CDC 208-231). É na seção sobre “As Obrigações e Deveres
dos Leigos Fiéis” que o Código de 1983 faz a primeira menção ao direito
dos pais de educar seus filhos, como vimos anteriormente (CDC 226, art. 2).
O fato de o Código de 1983 falar em “liberdade” e “direitos” é resul-
tado dos esforços do Concílio Vaticano II para atualizar a Igreja. A ênfase
deixou de ser em obrigações e deveres para concentrar-se, de forma mais
equilibrada, em obrigações e liberdade e em deveres e direitos. Isto foi
parte do esforço do Concílio para que os fiéis leigos assumam uma maior
responsabilidade pessoal por sua fé e não dependam tanto de que padres
lhes expliquem todas as obrigações da doutrina e da disciplina da Igreja.
Assim, é indisputável que padres e catequistas têm o dever de respeitar a
liberdade e o direito dos pais de catequizar seus filhos, mesmo quando se
tratar da preparação para a primeira recepção dos sacramentos – e isto à
luz dos ensinamentos e ênfases dos supracitados documentos do Concílio
Vaticano II, do Código e do Catecismo, segundo os quais os pais são os
principais educadores de seus filhos.
Todas as três autoridades – os documentos do Concílio, de 1965, o Códi-
go, de 1983 e o Catecismo, de 1992 – fazem questão de ressaltar que, quando

375
MARY KAY CLARK

dizem ou sugerem que os pais são os “principais educadores” de seus filhos,


referem-se especialmente à educação religiosa. É preciso reiterar novamente
esta evidência, dada sua extrema importância. Imediatamente após a afirma-
ção de que os pais têm de ser reconhecidos como os primeiros e principais
educadores de seus filhos, a declaração do Concílio sobre educação diz que
“é sobretudo no seio da família cristã (...) que as crianças devem aprender a
conhecer e a adorar a Deus e a amar seus semelhantes.” (Gravissimus Edu-
cationis 3) O decreto do Concílio sobre o laicato diz que a pessoas casadas
“devem reivindicar vigorosamente o direito e a obrigação que os pais têm de
dar aos seus filhos uma educação cristã.” (Apostolicam Actuositatem 11) O
documento conciliar Constituição Pastoral Sobre a Igreja no Mundo Moder-
no25 diz que os esposos “cumprirão diligentemente o seu dever de educação,
sobretudo religiosa, que a eles cabe em primeiro lugar.” (Gaudium et Spes
48). Após afirmar que “os pais têm a seríssima obrigação, que é também um
seu direito, de educar [seus filhos]”, o Código diz que “portanto, espera-se
dos pais cristãos um cuidado especial com a educação cristã de seus filhos”.
Por fim, o Catecismo ensina que “o direito e o dever dos pais de educar seus
filhos é primordial e inalienável” e “a fecundidade do amor conjugal (...)
deve estender-se à educação moral e espiritual [de seus filhos].” (CIC 2221).
No entanto, nem todos os padres e catequistas reconhecem plenamente
a liberdade e o direito dos pais quanto à catequese sacramental. Isto talvez
se dê, em parte, pelo fato de os padres também terem uma grave obrigação,
assinalada no Código de 1983, de catequizar os fiéis e administrar correta-
mente os sacramentos; ou então por simples desconhecimento desses ensina-
mentos da Igreja. Assim, temos de investigar mais especificamente o que diz
e o que sugere o Código a respeito da relação correta que se deve estabelecer
entre padres e pais por ocasião da catequese sistemática, especialmente aque-
la que antecede a primeira recepção dos Sacramentos.
O Cânon 773, da seção do Código dedicada à instrução catequética, con-
fere aos sacerdotes o dever especial de oferecer a catequese geral aos fiéis: “É
dever próprio e grave, sobretudo dos pastores de almas, cuidar da catequese
do povo cristão...”
E:
“O pároco, em razão do ofício, tem obrigação de procurar a formação cate-
quética dos adultos, dos jovens e das crianças...” (CDC, 776).

25 Versão em português: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/docu-


ments/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html

376
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Contudo, o Código também afirma:


“A solicitude da catequese, sob a orientação da legítima autoridade eclesiásti-
ca, compete a todos os membros da Igreja segundo a parte pertencente a cada
um.” (CDC, 774, artigo 1)

No trecho imediatamente subsequente, o Código declara que os pais são


os principais catequistas de seus filhos: “Antes de todos, os pais têm obriga-
ção de, com a palavra e o exemplo, formar os filhos na fé e na prática da vida
cristã.” (CDC, 774, artigo 2)
E o Cânon 776 afirma: “[Cabe ao pároco] promover e fomentar o papel
dos pais na catequese familiar, a que se refere o cân. 774, § 2.”
A respeito da catequese preparatória para os sacramentos, a seção do
Código sobre instrução catequética diz:
De modo peculiar, e tendo em atenção as normas dadas pelo Bispo diocesano,
o pároco procure:
1.º que se ministre uma catequese apropriada, para a celebração dos sacra-
mentos;
2.° que as crianças, graças à formação catequética ministrada durante o tem-
po conveniente, se preparem devidamente para a primeira recepção dos sa-
cramentos da penitência e da santíssima Eucaristia, e bem assim para o sacra-
mento da confirmação; (CDC, 777)

Na seção sobre os sacramentos, o Código ensina que


Os pastores de almas e os demais fiéis, cada um segundo a sua função eclesial,
têm o dever de procurar que aqueles que pedem os sacramentos se preparem
com a devida evangelização e a formação catequética para os receber, em
conformidade com as normas dadas pela autoridade competente. (CDC, 843)

Na mesma seção, o Código também afirma, quando fala sobre a prepara-


ção para a Primeira Comunhão:
Primeiramente os pais, ou quem fizer as suas vezes, e ainda o pároco têm o
dever de procurar que as crianças, ao atingirem o uso da razão, se preparem
convenientemente e recebam quanto antes este divino alimento. (CDC, 914)

O mesmo Cânon também afirma que:


“compete também ao pároco vigiar por que não se aproximem da sagrada
comunhão as crianças que não tenham atingido o uso da razão ou aquelas
que julgue não estarem suficientemente preparadas.” (CDC, 914)

377
MARY KAY CLARK

Finalmente, a seção sacramental do Código fala sobre a preparação para


o Sacramento da Confirmação:
“procurem os pais, os pastores de almas, especialmente os párocos, que os
fiéis sejam devidamente instruídos para o receberem e dele se aproximem em
tempo oportuno.” (CDC, 890)

Levando em consideração os Cânones que tratam do papel dos padres


na catequese, temos de admitir sem demora que o Código parece apoiar a
situação vigente nos Estados Unidos hoje: os padres oferecem cursos de ca-
tequese nos quais os pais matriculam seus filhos para que recebam instrução
religiosa. Essa situação seria perfeitamente plausível, se se desconsiderasse
tudo o que foi dito anteriormente neste artigo a respeito do fundamento dos
direitos parentais, à luz da nova articulação do Concílio Vaticano II e docu-
mentos subsequentes. Assim, é compreensível, embora lamentável, que seja
pouco reconhecida a liberdade dos pais para catequizar sistematicamente
seus filhos – e eis a origem da controvérsia atual sobre autoridade e liberdade
no ensino catequético.
No entanto, observando com mais cuidado, nada do que se disse acima
sobre o papel dos padres na catequese elimina a autoridade, a autonomia e a
liberdade dos pais enquanto principais educadores religiosos de seus filhos.
O próprio Código é claro neste ponto. Na seção que trata das leis eclesiás-
ticas, lê-se:
“São de interpretação estrita as leis que estabelecem alguma pena, coarctam o
livre exercício dos direitos, ou contêm excepção à lei.” (CDC, 18)

Os pais não apenas têm “a obrigação gravíssima” de educar seus filhos,


como também “gozam do direito de educá-los” (CDC, 226, art. 2) E ainda:
“os pais católicos, além disso, têm o dever e o direito de escolher os meios
e as instituições com que, segundo as circunstâncias dos lugares, possam
providenciar melhor à educação católica dos filhos.” (CDC, 793, art. 1) Fi-
nalmente, na seção que trata dos efeitos do Sacramento do Matrimônio, o
Código diz: “Os pais têm o dever gravíssimo e o direito primário de, na me-
dida das suas forças, darem aos filhos educação tanto física, social e cultural,
como moral e religiosa.” (CDC, 1136)
Assim, o que num primeiro momento pode aparentemente restringir os
direitos dos pais, como a obrigação catequética dos sacerdotes, merece uma
interpretação mais precisa. Os sacerdotes não têm o “direito” de oferecer
catequese do mesmo modo como o têm os pais; esta é simplesmente uma

378
HOMESCHOOLING CATÓLICO

função sua. O Código, nos Cânones acima, está apenas enfatizando que os
sacerdotes devem ajudar os pais a dar uma formação adequada aos seus
filhos. Os sacerdotes têm uma obrigação subsidiária junto à obrigação prin-
cipal dos pais de catequizar seus filhos.
O grave dever dos sacerdotes para com a catequese é enfatizado no Có-
digo, não porque eles devam supervisionar os pais que catequizam sistemati-
camente seus filhos, mas porque o dever do sacerdote é oferecer a catequese
“a todo o povo cristão”, não apenas às crianças. (CDC 773) No caso dos
adultos, o dever do padre de oferecer a catequese é mais direto. A catequese
deve ser oferecida, ou por ele mesmo, ou por catequistas que estejam sob sua
supervisão imediata – e a supervisão aqui se justifica, pois os catequistas não
têm “direito” à tarefa de catequisar do mesmo modo como o têm os pais
quanto à instrução religiosa de seus filhos.
(Seria admirável, tendo em vista a ênfase do Concílio Vaticano II no de-
senvolvimento de uma maior apropriação pessoal e maturidade da fé, se as
paróquias investissem mais tempo e esforços na catequização dos adultos.
Um dos principais objetivos de se catequisar um adulto deve ser exortar os
que forem pais a catequisar seus próprios filhos e oferecer-lhes materiais
que os ajudem nessa tarefa. De fato, os pais homeschoolers relatam o tempo
todo que só vieram a conhecer a fundo a Fé quando precisaram ensiná-la
aos seus filhos. Tendo isso em mente, talvez as paróquias necessitem tanto
de catequese para adultos quanto para crianças.)
Quando o Código fala sobre o dever catequético dos padres, também men-
ciona o dever catequético de outras pessoas, especialmente dos pais. O Cânon
843, artigo 2, diz: “Os pastores de almas e os demais fiéis, cada um segundo a
sua função eclesial, têm o dever de procurar que aqueles que pedem os sacra-
mentos se preparem...” No Cânon 773, o Código diz que os sacerdotes têm a
grave obrigação de oferecer a catequese, porém no cânon seguinte diz que “A
solicitude da catequese, sob a orientação da legítima autoridade eclesiástica,
compete a todos os membros da Igreja segundo a parte pertencente a cada um.”
(CDC, 774, art. 1) Então, no mesmo cânon, afirma-se que “Antes de todos, os
pais têm obrigação de, com a palavra e o exemplo, formar os filhos...” (CCL,
774, art. 2) O Cânon 776 diz que o sacerdote deve “promover e fomentar o
papel dos pais” na catequese. Finalmente, os cânones 890 e 914, sobre a Con-
firmação e a Eucaristia, dizem que os pais, primeiro, e depois os sacerdotes, de-
vem instruir satisfatoriamente as crianças antes da recepção dos sacramentos.
Assim sendo, se por um lado o Código menciona a obrigação que todos
os padres e membros da Igreja têm de oferecer a catequese, nunca diz que

379
MARY KAY CLARK

tenham “direito” a tanto. Todos os padres e todos os membros da Igreja são


obrigados a oferecer a catequese de algum modo (o Código adverte, inclusi-
ve, que os membros da Igreja “não se recusem a prestar de boa vontade a sua
cooperação [catequética], a não ser que estejam legitimamente impedidos.”
[CDC, 776]) Os padres devem ter um papel auxiliar em relação às crianças
e seus pais. O “direito prevalente” (ver a Carta às Famílias, item 16) e, por-
tanto, a liberdade de decisão sobre os meios da catequese, pertence aos pais.
Pode-se dizer que há um certo paralelo ou analogia entre pais e sacerdo-
tes: o que os pais são para as crianças, os sacerdotes são para os sacramentos.
Como os pais são os principais educadores de seus filhos, os sacerdotes (bis-
pos e padres) são os principais administradores dos sacramentos. Quando
da primeira recepção sacramental das crianças, os pais, como seus principais
educadores, têm melhores condições de dizer se elas estão bem preparadas
para dar esse importante passo. Contudo, os sacerdotes, como principais
administradores dos sacramentos, sabem julgar melhor a adequação e a dis-
posição daqueles que querem receber um sacramento, e devem estabelecer o
horário, o local e o modo da recepção sacramental.
A adequação diz respeito a quem pode aproximar-se do sacramento para
recebê-lo. Questões como a idade da criança, a recepção prévia de outros
sacramentos, a prática cristã dos pais e a presença de condições extraordi-
nárias devem ser consideradas pelo padre ao fazer seu julgamento. Para dar
um exemplo óbvio, alguém que não tenha sido batizado não pode receber
nenhum dos outros sacramentos, pois consta no Código que “Quem não
tiver recebido o baptismo não pode ser admitido validamente aos demais sa-
cramentos.” (CDC, 842, art. 1) Caso uma pessoa não batizada deseje receber
algum sacramento além do Batismo, o sacerdote deve recusar o pedido. Tal
pessoa não atende aos critérios necessários à recepção sacramental. Outro
exemplo é que crianças batizadas, que ainda não tiverem chegado à idade
da razão, não devem receber a Confirmação e a Primeira Eucaristia no Rito
Romano (cf. CDC 891 e 914). (Os padres dos Ritos Orientais têm permissão
para dar a Santa Eucaristia a crianças, ao contrário dos do Rito Romano.)
Os sacerdotes também devem determinar se a criança está pronta e com
a correta disposição para receber o sacramento, como no caso da Eucaris-
tia e da Confirmação. A disposição diz respeito à criança possuir suficiente
compreensão do sacramento e estar disposta a respeitá-lo e recebê-lo com
a reverência apropriada à sua idade. Tais pré-requisitos demandam que a
criança seja bem instruída na fé em geral e sobre o sacramento em particular,
antes de recebê-lo.

380
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Para se julgar a disposição de uma criança que já alcançou a idade da


razão, os pais devem inculcar nela o conhecimento básico da Fé como um
todo e do sacramento a ser recebido. Assim, o sacerdote, como consequ-
ência de sua responsabilidade pela correta administração sacramental, tem
o direito de promulgar um padrão razoável mínimo, estabelecendo quais
conhecimentos a criança tem de possuir para ser considerada corretamen-
te disposta para a primeira recepção de um sacramento. Além disso, o
sacerdote tem o direito de avaliar ou entrevistar a criança para determi-
nar se ela detém o conhecimento necessário a uma disposição adequada.
Tais pré-requisitos devem estar de acordo com o ensinamento da Igreja,
adequando-se à idade da criança, e os pais ou cursos de catequese devem
estar aptos a cumpri-los de diversas formas. “Os pais não devem sujeitar-
-se direta ou indiretamente a fardos injustos por conta de seu direito de
escolha.” (Dignitatis Humanae, 5)
Contudo, a necessidade de adequação e de uma correta disposição
da criança que deseja receber um sacramento não implica a obrigação
dos pais de matriculá-la em um curso formal de catecismo preparatório
oferecido pela paróquia. Tal necessidade também não deve servir como
justificativa para a exigência de que os pais sejam certificados pela dioce-
se, sigam os mesmos regulamentos que os outros catequistas ou utilizem
os mesmos materiais que os cursos de catecismo formal ou materiais que
estejam na lista aprovada pela diocese. Para que o sacerdote tenha cer-
teza quanto à adequação de uma criança à recepção de um sacramento,
deve ser suficiente que os pais lhe deem informações relevantes sobre si
próprios e sobre a criança por meio de uma entrevista ou de um comuni-
cado por escrito.
Para possibilitar que o sacerdote determine a disposição de uma crian-
ça, isto é, sua compreensão e boa vontade, deve ser suficiente, a ele ou seu
representante, inteirar os pais de como a criança será avaliada. Para que a
catequese feita pelos pais seja completa, visando a preencher os requisitos
do sacerdote, os pais devem permitir que este, ou alguém que o represente,
entreviste a criança para determinar se ela está com a correta disposição
para receber o sacramento.
O sacerdote pode oferecer aulas de catequese na paróquia, como um
modo de auxiliar os pais que queiram se valer delas, porém isto não é obri-
gatório. Os pais podem escolher ministrar a catequese sistemática aos seus
filhos, pois detêm o direito primário de educá-los. Enquanto primeiros e
principais educadores de seus filhos, os pais podem escolher ministrar por

381
MARY KAY CLARK

conta própria a catequese ou escolher outros modos de lhes dar instrução


religiosa sistemática, desde que tal ministério e tais meios estejam de acordo
com o ensinamento da Igreja.
O fato de ser um dever do sacerdote oferecer a catequese a todos não
obriga os pais a aceitar essa assistência. O Papa João Paulo II diz em sua
Carta às Famílias26:
Um dos campos onde a família é insubstituível, é certamente o da educação
religiosa, graças à qual a família cresce como «igreja doméstica». A educação
religiosa e a catequese dos filhos colocam a família no âmbito da Igreja como
um verdadeiro sujeito de evangelização e de apostolado. Trata-se de um di-
reito intimamente conexo com o princípio da liberdade religiosa. As famílias
e, mais em concreto, os pais têm a faculdade de livremente escolherem para
os seus filhos um determinado modelo de educação religiosa e moral segundo
as próprias convicções. Mas ainda quando eles confiam tais obrigações a ins-
tituições eclesiásticas ou a escolas geridas por pessoal religioso, é necessário
que a sua presença educativa continue a ser constante e activa. (Carta às
Famílias, item 16; ênfases no original)

Esse ensinamento recente do Papa João Paulo explicita o que já estava


implícito no Cânon 797 (“Importa que os pais, na escolha das escolas, go-
zem de verdadeira liberdade”) e na Carta dos Direitos da Família (“Os pais
têm o direito de escolher livremente as escolas ou outros meios necessários
para educar seus filhos, em conformidade com as suas convicções.”): os pais
gozam de verdadeira liberdade, não apenas para escolher escolas para a edu-
cação geral de seus filhos, como também para escolher os meios de lhes ofe-
recer uma educação religiosa, desde que tais meios estejam de acordo com os
ensinamentos da Igreja (cf. CDC, 226, art. 2).
Portanto, os sacerdotes devem aceitar a decisão dos pais que optam por
preparar seus filhos para a recepção de um sacramento. O sacerdote que
tornar obrigatória a frequência ao curso de catequese da paróquia, tornan-
do esta uma condição para que a criança seja considerada preparada para a
recepção sacramental, está desrespeitando a responsabilidade, atribuída aos
pais, de ministrar a catequese aos seus filhos, papel que lhes pertence pelas
leis natural e canônica e reafirmado por um ensinamento papal recente. As-
sim, ao tornar obrigatória a participação das crianças no curso de catequese
da paróquia, sob pena de elas não receberem os sacramentos, o sacerdote
está violando a liberdade religiosa dos pais.

26 Versão em português: https://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1994/documents/


hf_jp-ii_let_02021994_families.html

382
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Em meados da década de 1990, diversas dioceses do país começaram a


promulgar regras a respeito da recepção dos sacramentos por crianças edu-
cadas em casa. Entre tais dioceses estavam as de Monterey, Chicago, Peoria,
Los Angeles, Atlanta, Pittsburg e Cincinnati.
A criação dessas regras tinha diversos motivos, desde o desejo de con-
trolar os homeschoolers até o desejo de verdadeiramente ajudá-los. Às vezes
as regras eram criadas após diálogos com grupos de homeschooling locais.
Quando era este o caso, como em Pittsburg, as orientações tendiam a afirmar
enfaticamente os direitos e responsabilidades dos pais e lhes eram favoráveis
caso houvesse algum questionamento sobre seu direito de assumir a cateque-
se sistemática de seus filhos.
No entanto, em outras dioceses, essas orientações tendiam a considerar
o programa paroquial de Confraternidade da Doutrina Cristã como a prin-
cipal fonte de educação religiosa para crianças, reduzindo os pais a meros
agentes do programa. Por exemplo, muitas regras afirmavam que os pais
só poderiam utilizar materiais aprovados pela diocese. Era o caso de Los
Angeles: “Em todas as aulas, devem ser utilizados livros didáticos e outros
materiais que possuam a devida aprovação.” Outra afirmação comum era
que os alunos deviam frequentar as aulas da CDC para receber a Primeira
Comunhão e a Confirmação.
Como evidenciam os documentos da Igreja previamente citados, regu-
lamentos que restrinjam severamente as escolhas dos pais com relação à
educação de seus filhos são contrários aos ensinamentos e às regras da Igre-
ja. Embora as orientações diocesanas costumassem citar alguns cânones em
suas formulações, era evidente que as dioceses não tinham verdadeira auto-
ridade para promulgar a maioria daquelas regras.
Além da falta de autoridade, muitas regras eram simplesmente absurdas.
Por exemplo, afirmava-se que somente materiais didáticos aprovados po-
deriam ser utilizados, porém as crianças e pais continuavam livres para ler
livros não aprovados. O máximo que uma paróquia ou diocese poderia fazer
nesse sentido seria ceder materiais aprovados aos pais. Outras afirmações
restritivas, como as que estipulavam visitas de supervisão às casas da famí-
lias, foram mal recebidas por padres e pais.
Ao que tudo indica, muitos desses regulamentos diocesanos, ou foram ig-
norados, ou foram anulados, ou acabaram tornando-se meras sugestões. Por
exemplo, Lesley Payne escreveu no San Diego News Notes: “Os regulamen-
tos de Monterey nunca foram colocados em prática. Ano passado [1997],
foi publicada uma fala da diretora de educação religiosa de Monterey, Irmã

383
MARY KAY CLARK

Dolores Fenzel, dizendo que os regulamentos foram um erro e que a inten-


ção havia sido ajudar os pais, não os impedir de ensinar seus filhos como
melhor lhes aprouvesse.”
A respeito dos regulamentos de Los Angeles, Sandra Guzman relata,
no San Francisco Faith: “A Irmã Edith Prendergrast, diretora de educação
religiosa da Arquidiocese de Los Angeles, admitiu que são simplesmente
orientações. Quando lhe perguntaram como a arquidiocese garantiria seu
cumprimento, Prendergrast admitiu que não era possível garantir nada. E
disse que a intenção da arquidiocese é simplesmente dizer: ‘eis aqui alguns
modos como vocês podem estar em contato com a paróquia. As crianças
estão iniciando sua vivência na comunidade paroquial. Queremos que vo-
cês saibam que há modos de manter contato. (...) Compareçam aos encon-
tros de pais.’”
Se há ou não regulamentos sendo cumpridos, depende tanto do pároco
quanto do conteúdo desses regulamentos. Em paróquias cujo pároco tem uma
posição bem definida sobre o homeschooling, seja contra ou a favor, a existên-
cia de regulamentos não faz diferença. Em paróquias cujo pároco é neutro, ou
simplesmente não tem experiência com o homeschooling, ele pode recorrer à
ajuda dos regulamentos. A ironia é que, ao mesmo tempo em que esse tipo de
regulamento foi criado para dar mais clareza às regras da diocese, na maioria
das vezes eles suscitaram mais perguntas do que respostas.
Há a questão, no entanto, de os pais serem ou não obrigados a seguir as
regras diocesanas, quando estas existem. É uma questão complexa. A pri-
meira resposta é que, se uma diocese apresenta um grupo de regras, mas não
incentiva seu cumprimento, então provavelmente são meras sugestões e não
ordens, de modo que não há a obrigação moral de segui-las.
Caso a diocese tente garantir que as regras sejam cumpridas, então os
pais têm de considerar o que dizem essas regras. Algumas delas, como a
exigência de que as crianças frequentem as aulas da paróquia ou usem ape-
nas certos materiais didáticos, são evidentemente contrárias à lei canônica
e mesmo à lei natural, sendo de fato inócuas. Nesse caso, os pais não são
obrigados a seguir o regulamento, embora possam optar por fazê-lo. Os pais
só não têm essa opção quando acreditarem ser moralmente errado cumprir
o regulamento.
Em outros casos, a paróquia ou diocese tem claramente autoridade para
promulgar regras. Por exemplo, um pároco tem inegável autoridade para de-
terminar se uma criança está ou não preparada para receber os sacramentos.
Portanto, caso seja uma regra da diocese que as crianças educadas em casa

384
HOMESCHOOLING CATÓLICO

devem ter sua formação avaliada pelo pároco antes da recepção sacramen-
tal, os pais são obrigados a obedecer.
Alguns pontos dos regulamentos são simplesmente boas ideias que todas
as famílias devem seguir. Por exemplo, muitos afirmam que as famílias de-
vem ser ativas no cotidiano de sua paróquia. Esta é, obviamente, uma boa
recomendação, e em particular às famílias homeschoolers, pois manter um
bom relacionamento com o pároco é especialmente importante quando che-
ga a hora de seus filhos receberem os sacramentos.

385
Capítulo 17
O homeschooling católico em nossa
democracia americana

T
odos os defensores da liberdade de escolha educacional já foram, em
um momento ou outro, acusados de antiamericanismo. No entanto,
as escolas públicas americanas, desde o princípio, não tinham como
objetivo oferecer às crianças uma boa educação básica, mas preparar um
certo tipo de cidadãos para este país. Desde o estabelecimento do sistema pú-
blico de educação, qualquer pessoa que questionasse o valor destes templos
da democracia era repudiada pelos burocratas da educação. Horace Mann,
o pai das escolas públicas, há muitos anos declarou sua opinião sobre os
detratores do sistema público de ensino:
Tudo aquilo que subestimar o valor de nossas escolas gratuitas vai contra os
desígnios de nossos piedosos ancestrais. Nenhum homem, que por força de
orgulho ou parcimônia permita o declínio dessas escolas, pode ser considerado
um amigo deste país. Falo sem rodeios, pois estou advogando pela causa da
humanidade e de Deus. E afirmo que qualquer homem que deseje a destruição
de nossas escolas gratuitas é um traidor da causa da liberdade e da igualdade e,
sem dúvida, se tal estivesse em seu poder, nos reduziria à vassalagem.

Mesmo que hoje os burocratas da educação já não afirmem advogar pela


causa de Deus, ainda consideram fundamental o papel das escolas públicas
MARY KAY CLARK

para a manutenção da democracia nacional. Nas palavras de Albert Shanker,


ex-presidente da Federação Americana de Professores (American Federation
of Teachers):
O objetivo da educação em nossas escolas é fazer com que todas as crianças
do país aprendam a viver com os demais e respeitá-los. (...) [Apoiar as escolas
privadas é] destruir aquilo que unifica os Estados Unidos da América.

Mais extrema é a fala do presidente da Associação de Professores da Ca-


lifórnia [California Teachers Association], Del Weber, que escreveu a respeito
de uma iniciativa em apoio da liberdade de escolha educacional, encabeçada
por uma escola privada da Califórnia: “Algumas propostas são tão malignas,
que sequer deveriam ter sido trazidas à votação.”
A visão da escola pública como o templo da democracia remonta ao tem-
po dos Puritanos, que vieram a este país 400 anos atrás. Eles viam os Estados
Unidos como a terra prometida na qual poderiam construir a “cidade situa-
da sobre uma montanha”, mencionada na Bíblia. Os EUA seriam a reflexão
terrena da existência vindoura no Paraíso.
De fato, esta ideia de os Estados Unidos serem um lugar radicalmente
diferente e singularmente especial não desapareceu, malgrado o ateísmo de
muitos americanos. Em 1992, um projeto de plataforma do Partido Repu-
blicano refletia esta ideia, ao chamar o país de “a última e melhor esperança
disponível à humanidade”. Ironicamente, foram os cristãos que, apartando-
-se da tradição puritana, se opuseram a essa linguagem no comitê da plata-
forma, dizendo que apenas Jesus Cristo é a última e melhor esperança da
humanidade.
Infelizmente, os católicos não ficaram incólumes diante da ideia de que
a democracia americana é de algum modo divina. E, além disso, passaram
a acreditar na ideia democrática central de que toda autoridade, bem como
os conceitos de certo e errado, são determinados pela maioria dos votos
do povo.
É interessante notar que o primeiro bispo dos Estados Unidos, John Car-
roll, não foi nomeado pelo Papa, mas foi eleito pelo clero americano. O Papa
relutantemente concordou com a eleição, depois de ser advertido por Carroll
de que uma nomeação feita pelo bispo de Roma “chocaria os preconceitos
políticos deste país”. A relutância dos principais colonos católicos dos Es-
tados Unidos a submeter-se à autoridade de Roma mostra quão profunda-
mente aceitavam o princípio do poder democrático, mesmo em questões de
liderança dentro da Igreja.

388
HOMESCHOOLING CATÓLICO

O Santo Padre, Papa Leão XIII, escreveu uma carta apostólica ao Cardeal
Gibbons, em 1899, intitulada Testem Benevolentiae, com o objetivo especí-
fico de advertir contra a heresia comumente chamada de “americanismo”.
O princípio básico do americanismo, segundo definido pelo Papa, é que a
Igreja Católica deve “adaptar-se” e “abrandar seu antigo rigor, mostrando
alguma indulgência às teorias populares modernas”. Isto se aplicaria não
apenas às regras da vida, mas também a doutrinas. O Papa explica que as
doutrinas da Igreja não são teorias, mas um depósito divino que deve ser
cuidadosamente protegido e infalivelmente declarado.
Se é verdade que algumas regras de comportamento – diz o Papa – podem
ser modificadas de acordo com a diversidade do tempo e do espaço, cabe à
Igreja e não aos indivíduos julgar como adaptar-se. O Papa Leão XII explica,
mais ainda, que a Igreja detém direitos divinos, enquanto outras associações
existem em decorrência do livre arbítrio dos homens. A prosperidade pública
“deve ocorrer sem deixar de lado a autoridade e a sabedoria da Igreja”. A lei
natural e as virtudes naturais necessitam de auxílio divino e sobrenatural. Os
homens santos do passado, “por humildade de espírito, por meio da obediência
e da abstinência, tinham o dom da palavra e eram bem sucedidos em suas obras,
e prestaram grande auxílio, não apenas à religião, mas ao Estado e à sociedade.”
O próprio conceito de separação entre Igreja e Estado, segundo o com-
preendemos nos Estados Unidos, implica que verdades eternas não podem
ser tomadas como base de leis públicas. Neste país, o aborto não é conside-
rado maligno por ser um crime terrível condenado por Deus; será maligno
apenas se 51% dos eleitores assim o considerarem. Tal situação implica que
não há qualquer lei moral verdadeira e que qualquer princípio pode ser mo-
dificado por uma nova eleição. O conceito de separação entre Deus e o Esta-
do adquiriu o significado de “separação entre a Verdade e o Estado”. Como
é possível que um princípio tão fundamentalmente equivocado seja o dogma
central de uma grande e poderosa nação?
Para se compreender por que os princípios morais baseados nas leis de
Deus são tão repudiados pelo governo americano, temos de retornar aos
primórdios da história deste país. Nos primeiros dias da República, quando
todos os documentos que garantiam a liberdade religiosa foram escritos, a
separação entre a Igreja e o Estado tinha realmente o propósito de garantir
que os católicos não controlassem o governo. Não havia uma religião nacio-
nal estabelecida, nos moldes das religiões nacionais da Inglaterra e dos países
europeus; e tampouco havia leis constitucionais a ser ditadas por qualquer
poder além do próprio povo governado.

389
MARY KAY CLARK

No entanto, o protestantismo era a fé secreta dos novos líderes do país,


e havia apenas uma tênue separação entre o protestantismo e o governo.
Mesmo se os protestantes fossem sinceros ao falar sobre a separação entre
a Igreja e o Estado, este conceito ainda seria radicalmente não católico. A
Igreja Católica sempre ensinou que o Estado é obrigado a reconhecer que
sua autoridade emana de Deus, através da Igreja de Jesus Cristo. O Papa Bo-
nifácio VIII, na bula papal Unam Sanctam, de 1302, tornou clara a posição
da Igreja quanto à relação entre Igreja e Estado:
Aprendemos com o Evangelho que em poder desta Igreja estão duas espadas,
a espiritual e a temporal. (...) Ambas, isto é, as espadas espiritual e temporal,
estão sob o controle da Igreja. A primeira é empunhada pela Igreja; a segunda,
em seu nome. A primeira é brandida pelas mãos dos padres, a segunda, pelas
mãos dos reis e soldados, porém com a permissão e segundo a vontade dos
padres. Uma espada deve subordinar-se à outra, com a autoridade temporal
devidamente sujeita à temporal.

Como sabemos, o Rei Saul foi severamente criticado pelos padres por
ir à guerra antes de consultá-los e fazer sacrifícios ao pé do altar. Ao longo
da história cristã, até a Revolta Protestante, os reis e nações submetiam-se
à autoridade do Papa, reconhecendo-o como o Vigário de Cristo. Henrique
VIII, desafiando as leis eclesiásticas que regem o casamento, pôs sua nação
inteira em conflito com a Igreja.
É, portanto, fácil compreender por que os primeiros católicos da Améri-
ca Colonial apoiaram com satisfação a separação entre Igreja e Estado. As
colônias, à época, haviam estabelecido igrejas estatais, que eram, é claro,
protestantes. Muitas das colônias, mesmo após a Revolução, perseguiam
ativamente os católicos. Estes, por sua vez, perceberam que, se alguma
igreja fosse reconhecida como a igreja oficial do país, não seria a Igreja
Católica.
Grande parte dos católicos das colônias americanas eram irlandeses, a
maioria dos quais sequer sabia, em princípio, da terrível perseguição aos
católicos que estava em curso na Irlanda de então. A maioria dos america-
nos de hoje, mesmo aqueles de ascendência irlandesa, sabem pouco sobre
as dimensões da perseguição sofrida pelos católicos na Irlanda. Era, contu-
do, uma perseguição implacável e brutal. Legalmente, os católicos irlande-
ses não tinham permissão para comprar terras, herdar propriedades, educar
seus filhos na Fé católica ou mandá-los a escolas católicas d’além mar, nem
construir igrejas católicas, e alguns sequer podiam viver em certas cidades. O
grande legislador Edmund Burke disse que as leis penais na Irlanda “serviam

390
HOMESCHOOLING CATÓLICO

à opressão, ao empobrecimento e à degradação das pessoas mais fracas (...)


como sói produzir a ingenuidade pervertida dos homens.”
De modo geral, a perseguição oficial aos católicos nas colônias america-
nas sequer se aproximou do ocorrido na Irlanda e na Inglaterra. Felizmente,
algumas das leis anticatólicas coloniais foram ignoradas. O anticatolicismo
existente na época manifesta-se sobretudo na proibição do voto aos católi-
cos. No entanto, na Filadélfia, à época da conversão de Elizabeth Ann Seton,
o anticatolicismo era tão forte, que ela precisava viver cercada pela proteção
de homens católicos, para defender-se de vizinhos protestantes que investiam
contra ela física e verbalmente.
Malgrado a recusa nominal a se estabelecer uma religião oficial, as es-
colas públicas do país, desde sua criação, eram instituições completamen-
te protestantes. De fato, quando se instituiu o sistema público de escolas,
tratava-se meramente de escolas protestantes pagas com dinheiro público.
A imigração em massa dos irlandeses começou na década de 1840, coinci-
dindo com a época em que a educação compulsória foi instituída. Isto trouxe
o problema de as crianças católicas serem forçadas a frequentar escolas cria-
das para combater a religião católica. Por este motivo, os bispos dos Estados
Unidos criaram, por sua vez, o sistema escolar católico, que existe até hoje.
Embora a separação estrita entre moral e Estado não estivesse entre os
objetivos dos fundadores protestantes, a linguagem da Constituição passou
a ser usada para endossar essa separação a partir da década de 1950, quando
pela primeira vez foram banidas as orações das escolas públicas. A partir
desta infeliz decisão, vieram outras, como a de que o Natal não pode ser lem-
brado com a montagem de presépios em propriedades do governo, de que
o aborto deve ser permitido e de que a contracepção e o homossexualismo
são direitos humanos básicos. Deus foi expulso da praça pública e os servos
de Satã apressaram-se a erigir santuários ao dragão em lugar do cordeiro.
Vemos hoje que a indiferença, e às vezes a franca hostilidade à verdade
eterna não se encastelou apenas nos salões legislativos, mas também nas
escolas públicas. No estado de Nova York, um novo currículo determina
que crianças da primeira série aprendam a ver de modo favorável as “famí-
lias” homossexuais. O objetivo é que as escolas ensinem a “tolerância” e o
“respeito” pelos homossexuais, da mesma forma como devemos respeitar as
minorias raciais, dizem os pedagogos. Mas o que realmente é ensinado é que
o homossexualismo e as “famílias” homossexuais são bons, que aqueles que
os opõem são antiamericanos e que é antiamericanismo não tolerar o mal
em nossa plural e diversificada sociedade americana.

391
MARY KAY CLARK

A Igreja Católica dos Estados Unidos não é imune a ideias errôneas,


como a suposta possibilidade se chegar à verdade por meio da democracia.
Quantas vezes já não ouvimos que a Igreja deve mudar seu ensinamento a
respeito do controle de natalidade porque pesquisas mostram que os cató-
licos discordam dele? A própria ideia de que pesquisas de opinião pública
devam determinar o ensinamento da Igreja é ridícula e insana; ainda assim,
é muito popular entre alguns teólogos e “líderes” da Igreja.
Em certo sentido, é verdade que o catolicismo é antiamericano, se ser
americano é acreditar que a vontade da maioria, ou uma decisão da Suprema
Corte, determina a verdade. Porém, num sentido mais amplo, a verdade é
que viver como um bom católico é ser profundamente patriota. Fazer o que
é bom e correto será sempre o melhor caminho, tanto para a vida pessoal
de um indivíduo quanto para a vida das nações. John F. Kennedy certa vez
afirmou que, se sentisse que os interesses da nação conflitavam com sua fé
católica, ele renunciaria à Presidência. No entanto, tal situação, estritamente
falando, seria impossível, pois um ato incorreto jamais é o melhor caminho.
Se chegamos ao ponto em que o povo de nosso país considera aceitável
assassinar bebês, restas-nos ser patriotas e lembrar-lhes que os bebês são o
futuro da nação. Se nosso povo já considera que o homossexualismo é algo
bom, restas-nos ser patriotas e dizer-lhes que o homossexualismo estimula
o desprezo pelas famílias e incentiva o uso dos outros, inclusive de crianças,
para o prazer pessoal. Se o povo de nosso país nos diz que os velhos e doen-
tes devem ser descartados, restas-nos ser patriotas e dizer-lhes que, sem res-
peito pela vida de cada ser humano, ninguém estará a salvo em nossa nação.
O homeschooling é bom para os Estados Unidos porque é sem dúvida
positiva a criação de uma nova geração comprometida com uma vida em
harmonia com a vontade de Deus. O homeschooling é intensamente patrio-
ta, pois educa futuros líderes para este país, que não temerão proclamar que
as leis eternas do universo devem também guiar as leis de nossa terra. No fim
das contas, aquilo que unifica nosso país não são as escolas públicas, mas a
virtude cívica que leva cada cidadão a cuidar de seu semelhante. Nossos pro-
blemas sociais, sejam notas baixas em avaliações escolares, ou o aborto, ou
pessoas sem teto, jamais serão resolvidos até que o povo deste país cumpra
o mandamento cristão:
Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com to-
das as tuas forças e com todo o teu pensamento. Eis o primeiro mandamento.
E o segundo se lhe assemelha: amarás a teu próximo como a ti mesmo. Não
há mandamento maior do que estes.

392
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Alexis de Tocqueville, em sua obra Democracia na América, escreveu,


muitos anos atrás: “A América é grande porque é um bom país. Se deixar de
ser boa, deixará de ser grande.”

393
Capítulo 18
O futuro do homeschooling católico

N
ós, que fazemos o apostolado do homeschooling, sabemos que é neces-
sário estarmos atentos ao que se passa nas escolas, fazer o possível para
influenciar os legisladores e rezar para que Deus proteja os direitos das
famílias homeschoolers. Ao rezarmos, devemos confiar a Ele o futuro do homes-
chooling católico, pois Ele age de maneiras que nos são imprevisíveis. Pelo pou-
co que divisamos no horizonte, acreditamos que o homeschooling continuará
a ser uma opção educacional para as famílias católicas por ainda muitos anos.
É fato que o homeschooling está ganhando cada vez mais aceitação na
sociedade. Em discussões sobre alternativas educacionais, é raro ele não ser
mencionado. Em muitos sentidos, o homeschooling deixou de ser revolu-
cionário. Agora que todos têm um amigo ou parente que educa os filhos em
casa, esta já não é tanto uma ruptura radical, mas uma opção entre outras.
O homeschooling cresce em um ritmo satisfatório. Em agosto de 2004,
o Departamento de Educação dos EUA publicou um estudo relatando que o
número de crianças educadas em casa no país era de 1,1 milhão. O pesqui-
sador sobre homeschooling, Dr. Brian Ray, estima que o número atual esteja
entre 1,7 e 2,1 milhões. Estudos indicam que a população homeschooler vem
crescendo cerca de 7% ao ano.
Embora não possamos prever o futuro, certos fatores em desenvolvi-
mento no país têm afetado de forma positiva o homeschooling católico, ga-
MARY KAY CLARK

rantindo que este continue ganhando espaço. Tais fatores incluem avanços
tecnológicos, problemas crescentes com o sistema público de ensino, a qua-
lidade dos alunos egressos do homeschooling e o apoio do clero católico.

Avanços tecnológicos

A internet tornou-se um utensílio doméstico e sem dúvida tem tido um


impacto incrível sobre a educação domiciliar. É possível encontrar infor-
mações sobre quase qualquer tópico na internet, e os benefícios que as fa-
mílias homeschoolers podem obter a partir disso são notáveis. O “Google”
possibilita que os alunos pesquisem informações sobre qualquer tema com
extrema facilidade. Antigamente, os alunos homeschoolers eram obrigados a
ir frequentemente a bibliotecas em busca de materiais. Hoje, o computador
lhes dá acesso a mais informações do que caberia em muitas bibliotecas. O
Google tem feito parcerias com várias bibliotecas, como a Harvard Univer-
sity Library, a New York Public Library e a University of Michigan, digitali-
zando seus livros e disponibilizando-os online. Um dia ainda teremos todo o
conteúdo da Biblioteca do Congresso disponível online.
Há muitos websites de interesse aos alunos católicos. Contrariando as
expectativas para uma instituição conhecida por mover-se lentamente, o
Vaticano tem um site muito bom, o www.vatican.va. A EWTN possui uma
biblioteca pesquisável em seu site, onde disponibilizam-se artigos religiosos
e documentos eclesiásticos. Há também sites que oferecem de tudo, desde o
conteúdo integral da The Catholic Encyclopedia até o “Santo do dia”.
Uma importante modificação em curso na internet é a mudança para a
tecnologia de banda larga. Essas tecnologias, como DSL e cabo, permitem
uma transmissão em altíssima velocidade. A banda larga costuma possibi-
litar transmissões de internet ao menos dez vezes mais velozes do que o
antigo acesso discado. Em meados de 2004, mais de metade dos usuários
domésticos da internet possuíam acesso banda larga. Em dezembro de 2005,
o número havia crescido para quase dois terços dos usuários domésticos.
A velocidade muito mais rápida da banda larga significa que praticamente
qualquer fonte de dados, inclusive vídeos, podem ser baixados da internet.
O único limite para as possibilidades de aplicação da internet à educação é
a nossa imaginação.
Os telefones celulares também têm tido um impacto extraordinário sobre
o mundo e têm potencial para afetar o movimento homeschooler. Segundo
o grupo de marketing industrial, Cellular Telecommunications and Internet

396
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Association (CTIA – Associação de Internet e Telecomunicações Celulares),


em 2005, havia mais de 194 milhões de usuários de telefones celulares nos
Estados Unidos. No passado, os funcionários tinham de estar em suas me-
sas para atender seus telefones, porém cada vez mais pessoas têm utilizado
o telefone celular como seu principal telefone, o que significa que elas não
precisam “ficar no escritório”. Com telefones celulares e acesso à internet, o
“escritório” pode estar em qualquer lugar.
Historicamente, sempre foi comum que os membros de uma família vi-
vessem e trabalhassem juntos. As crianças aprendiam ofícios com seus pais.
Com a Revolução Industrial e a ascensão das grandes cidades, os pais co-
meçaram a deixar suas famílias para ir trabalhar. Nos últimos quarenta
anos, as mães também têm deixado suas famílias para ir ao trabalho. Com
a ausência do pai e da mãe, as crianças já praticamente não ficam em casa.
No entanto, com essas novas tecnologias, volta a ser possível que os pais
trabalhem de casa, no computador, e enviem seus trabalhos ao escritório via
internet. Cada vez mais pessoas têm trabalhado de casa ou utilizado suas
casas como escritório-base. Muitos pais homeschoolers montam empreen-
dimentos administrados a partir de casa, para que possam dedicar-se mais
à criação de seus filhos e ajudar a educá-los. Quanto maior a quantidade de
pais trabalhando de casa, mais famílias considerarão a ideia de praticar o
homeschooling.

Problemas crescentes com o sistema público de ensino

Obviamente, aqueles que promovem a atual cultura humanista secular


não gostam do homeschooling e não querem que os pais influenciem seus
próprios filhos. Eles querem manter o controle que as escolas têm sobre as
crianças, para continuar lhes impondo a mentalidade contraceptiva e ho-
mossexual. As escolas têm nivelado por baixo os conhecimentos das crianças
em arte, música e entretenimento e prejudicado seu desempenho educacional
e suas relações sociais. Recentemente, em nome da “separação entre Igreja
e Estado”, os sistemas públicos de ensino proibiram os alunos de rezar em
público ou falar sobre sua fé. Os cristãos têm sido perseguidos nas escolas
públicas, o que, é claro, pode prejudicar a formação de nossos filhos. A guer-
ra cultural mostra sua face mais violenta nas escolas públicas.
Como se a quantidade de dinheiro gasto com a educação pública já não
fosse exorbitante, grupos militantes vêm tentando usar os tribunais para au-
mentar drasticamente o financiamento à educação. Esses grupos têm se vali-

397
MARY KAY CLARK

do de declarações das constituições estaduais, que tratam do financiamento


público da educação, para exigir que os estados aumentem seus gastos nesse
campo. Os requerentes costumam argumentar que a educação pública que
tem sido oferecida não é “adequada” segundo a constituição estadual. E
então demandam dos tribunais que obriguem as legislaturas a aumentar o
financiamento. Nunca se considera a possibilidade de o sistema de educação
pública como um todo ser fundamentalmente falho e de que aumentar o
dinheiro pode não fazer qualquer diferença.
Talvez a maior ameaça à educação nos Estados Unidos seja a Associação
Educacional Nacional (AEN). A AEN está há muito tempo na vanguarda da
militância para que as escolas gastem mais dinheiro por um menor retorno
educacional, e há muitos anos opõe-se à educação domiciliar. Ela também
faz oposição a qualquer verdadeira reforma na educação e a todo regime
sério de prestação de contas. Malgrado o histórico duvidoso, a influência da
AEN na arena política é enorme. Reporta-se que ao menos 1/3 dos delega-
dos da Convenção Nacional do Partido Democrata, no ano 2000, ou eram
membros da AEN ou cônjuges de um membro.
Entre as tendências na arena do ensino púbico que têm repercutido no
homeschooling, a mais importante são as escolas cooperativas. Trata-se de
escolas públicas que são administradas fora do sistema de controle estatal
habitual. E, por fugirem ao controle dos burocratas, elas têm mais liberdade
para tentar novas ideias do que as escolas tradicionais. O Centro para a Re-
forma Educacional (Center for Education Reform) relata que, em outubro
de 2005, havia 3.617 escolas cooperativas em operação nos 40 estados e no
Distrito de Columbia. Essas escolas atendiam a mais de um milhão de alu-
nos, com mais de 200.000 apenas na Califórnia.
Para as famílias homeschoolers, as escolas cooperativas são uma espécie
de bênção dúbia. Por um lado, é sempre benéfico ao homeschooling quando
a gama de opções educacionais é expandida. Com mais opções disponíveis,
torna-se mais aceitável a ideia de que as famílias podem escolher entre vá-
rias alternativas, ao invés de simplesmente recorrer à escola pública mais
próxima. Além disso, a necessidade de escolher uma entre várias alternativas
faz com que os pais participem ativamente da educação de seus filhos. E,
entre uma escola pública tradicional e uma escola cooperativa, que trabalha
ativamente para satisfazer as necessidades de pais e alunos, esta última é
provavelmente a melhor alternativa.
No entanto, algumas escolas cooperativas têm tentado atrair o público
homeschooler, e é aqui que as dificuldades começam. As escolas cooperativas

398
HOMESCHOOLING CATÓLICO

de homeschooling, às vezes chamadas de “academias virtuais”, são escolas


públicas e, portanto, oferecem ensino gratuito. Mas os estímulos em geral não
param por aí. Como as escolas públicas recebem por criança grandes quantias
em dinheiro dos governos estadual e federal, e como o homeschooling prati-
camente não gera custos, as escolas cooperativas podem oferecer toda sorte de
extras “gratuitos” às famílias matriculadas. Os distritos escolares costumam
receber $5.000 ou mais por criança/ano. Se pagarem $1.000 por criança ho-
meschooler/ano, obtêm um lucro de $4.000 por criança. Mesmo se utilizarem
parte desse lucro em captação de novos alunos, ainda saem ganhando.
Um incentivo que normalmente é oferecido aos novos alunos é um com-
putador doméstico e acesso à internet, ambos gratuitos – mas há incentivos
bem maiores do que esse. Uma mãe da Califórnia relata que, no primeiro
encontro com o pessoal da escola cooperativa, lhe disseram que sua família
receberia $100 por mês por criança. Mais tarde ela soube que essa quantia
não seria recebida em dinheiro, mas em bens e serviços relativos à educação.
Ainda assim, o valor de $100 por mês por criança investido em livros, pro-
gramas de computador, vídeos, tecnologias etc não é pouca coisa. Para uma
família com cinco filhos, seriam $500 por mês, ou $6.000 por ano. Ao invés
de pagar materiais educativos com seu próprio dinheiro, a família receberia
uma excelente mesada.
Vários distritos escolares do Alasca iniciaram programas voltados aos
homeschoolers. Estes distritos hoje detêm a matrícula de ao menos 70% dos
homeschoolers do estado, sobretudo porque oferecem $1400 por criança/
ano em incentivos financeiros.
O problema com as escolas cooperativas é que são escolas públicas ad-
ministradas por autoridades públicas. Elas são bem diferentes do homescho-
oling tradicional, controlado pelos pais. Se as alternativas disponíveis forem
matricular a criança em tempo integral em uma escola pública tradicional e
mantê-la em casa, sendo educada pelos pais, com um vínculo com a acade-
mia virtual, é claro que apoiamos a opção em que os pais têm maior parti-
cipação. Porém, as escolas cooperativas parecem ter como público alvo os
pais que já educam em casa, e então a escolha é entre a verdadeira educação
domiciliar católica e a educação pública ministrada em casa pelos pais. Há
um adágio governamental: “Com dinheiro tudo se controla”. Em outras pa-
lavras, se você recebe dinheiro do governo para educar seus filhos, o governo
se sentirá no direito de dizer a você como fazê-lo. Esse é um fato evidente
no Alaska. Inicialmente, as famílias podiam utilizar o dinheiro para comprar
quaisquer materiais ou serviços relativos à educação. Hoje, entre outras mui-

399
MARY KAY CLARK

tas regras, o estado determinou que o dinheiro não pode ser utilizado para
comprar materiais educativos de cunho religioso.
É difícil afirmar que os pais estão errados em aceitar o dinheiro e abrir
mão de parte de sua liberdade e do controle sobre a educação dos filhos.
Afinal, cabe a eles decidir o que é melhor para sua família. Talvez sua ideia
seja substituir os materiais recebidos do governo por materiais católicos. E
dispor de muitos milhares de dólares extras por ano para gastar com edu-
cação pode ser útil para comprar materiais tecnológicos ou pagar aulas de
dança ou várias outras coisas.
No entanto, esse dinheiro não tem custado pouco às famílias. Nos pri-
meiros capítulos deste livro, discutimos como a educação domiciliar católica
diz respeito, primeiramente, à Fé e à família. Trata-se de transmitir a cultu-
ra católica por meio de uma vida familiar centrada em Cristo. Assim, se o
homeschooling tiver de ser amplamente secular para que o financiamento
estatal seja recebido, como é possível colocar em prática a verdadeira educa-
ção domiciliar católica? Quando as famílias têm de gastar várias horas por
dia cumprindo as exigências seculares da autoridade fiscalizadora, quanto
tempo resta para a vida espiritual?
No capítulo sobre como iniciar o homeschooling, também discutimos
a importância de estabelecer objetivos e escrever uma declaração de prin-
cípios, a qual provavelmente incluiria vários propósitos espirituais. Mas é
difícil imaginar que um dos objetivos seria receber dinheiro estatal em troca
do uso de materiais aprovados pelo governo, ou receber em casa, a cada
trimestre, um professor para entrevistar você e seus filhos e determinar se
seu progresso escolar é suficiente (como acontece no Alaska). Também é im-
provável que um dos objetivos de seu homeschooling católico seja utilizar
livros e materiais didáticos exclusivamente seculares. Assim sendo, a decisão
de matricular-se ou não em uma escola cooperativa realmente depende do
motivo pelo qual você optou pelo homeschooling e o que é mais importante
para você e sua família.

Alunos egressos do ensino domiciliar

Na Seton, estamos agora recebendo os filhos de nossa primeira gera-


ção de alunos graduados. Esses jovens pais também optaram pelo homes-
chooling para seus filhos. A cada ano, cada vez mais alunos homeschoolers
graduam-se e se casam. São jovens abertos à vida e que pretendem educar
seus filhos em casa.

400
HOMESCHOOLING CATÓLICO

Além disso, nossos jovens egressos do homeschooling estão vestindo


a camisa para lutar pela Igreja Católica. Os pais têm levado seus adoles-
centes homeschoolers a encontros e conferências, para que possam ver
por conta própria as influências feministas e os “argumentos” em prol
dos valores da Nova Era. Recentemente, uma mãe de Nova York me te-
lefonou para contar que levou sua filha homeschooler de dezesseis anos
a um encontro na paróquia, onde todos os tipos de ideias malucas e an-
ticatólicas estavam sendo promovidas por um grupo feminista. Durante
o encontro, sua filha defendeu a posição da Igreja Católica. “Quando eu
tinha dezesseis anos”, disse-me a mãe, “certamente não era capaz de de-
fender minhas crenças como ela fez. E ela falou em um encontro público,
para pessoas mais velhas.” A mãe estava muito orgulhosa da filha, e com
toda razão.
Os empregadores têm percebido que os formandos egressos do homes-
chooling são trabalhadores sérios, mais educados, mais maduros e capazes
de relacionar-se com pessoas de diversas idades. Os homeschoolers, convi-
vendo com jovens e idosos, com funcionários de escritórios e jardineiros, en-
canadores e eletricistas, pessoas cultas e não cultas, interagindo quase diaria-
mente com os mais diversos membros da comunidade, são mais preparados
para a sociedade em geral do que jovens que se restringem à sala de aula por
tantas horas por dia, ao longo de tantos anos.
Joyce Swann, do Novo México, mãe homeschooler de dez filhos, apare-
ceu na televisão em 1993, em rede nacional, porque duas de suas filhas, aos
17 anos de idade, não apenas graduaram-se na universidade, mas foram con-
tratadas por uma faculdade como professoras! Alexandra Swann tornou-se
mestre aos 16 anos, pelo programa de graduação externa da Universidade
da Califórnia. Ela escreveu um livro sobre sua experiência, intitulado Sem
Arrependimentos (No Regrets).
Embora a família Swann esteja obviamente acima da média, os homes-
choolers graduados têm obtido um alto nível de aceitação pelas faculdades.
Estudos recentes com funcionários dos setores de admissão das universida-
des mostraram que essas instituições têm tido, em geral, uma atitude muito
positiva em relação ao homeschooling. Por exemplo, uma pesquisa com 34
desses funcionários, em Ohio, reportou que cerca de 1/3 deles afirmou que
os homeschoolers têm um desempenho acadêmico acima da média, 1/3 afir-
mou que seu desempenho está compatível com a média e 1/3 não opinaram.
É muito significativo que nenhum tenha dito que os homeschoolers têm um
pior desempenho acadêmico do que a média.

401
MARY KAY CLARK

Também é significativo que os alunos egressos do homeschooling acre-


ditem que a ênfase na automotivação, adquirida durante o homeschooling,
lhes é muito útil quando estão na faculdade. Enquanto a maioria dos alunos
do sistema tradicional precisam aprender a ser automotivados e a adminis-
trar bem seu tempo após o ingresso na universidade, a maioria dos homes-
choolers já chega lá dominando essas habilidades.
Em 2004, o Dr. Brian Ray, do Instituto Nacional de Pesquisa sobre Edu-
cação Domiciliar, publicou um estudo com adultos que haviam sido edu-
cados em casa, detalhando sua educação posterior e suas atitudes atuais. A
pesquisa, intitulada Educados em Casa e Hoje Adultos, chegou a três resul-
tados de importância crucial ao futuro do homeschooling. Primeiro, entre os
alunos egressos do homeschooling, com idades entre 18 e 24 anos, 74,2%
disseram que haviam cursado ao menos algumas disciplinas universitárias.
Da população geral dos EUA, apenas 46,2% das pessoas nessa faixa etária
têm alguma instrução universitária. Segundo, em relação à participação civil,
71% dos alunos egressos do homeschooling disseram ter algum envolvimen-
to com atividades de assistência comunitária, comparados a apenas 39% de
todos os adultos dos EUA. Terceiro, uma porcentagem mínima, apenas 4%,
afirmaram que “política e assuntos do governo são muito difíceis de com-
preender”, comparados com 35% da população adulta geral do país. Então,
enquanto grupo, os homeschoolers são melhor educados e mais participati-
vos na vida comunitária do que a população geral.
Outro fato interessante da pesquisa é que 82% dos participantes disse-
ram que educariam seus filhos em casa. Assim, mesmo que seus filhos não
gostem da educação que estão recebendo em casa, há uma boa chance de que
mudem de ideia quando forem adultos.
O futuro do homeschooling católico é brilhante, com nossos jovens dando
testemunho da verdade em suas comunidades. Esses jovens serão líderes, serão
pensadores independentes e não terão medo de enfrentar autoridades civis e
eclesiásticas e, como Joana D’Arc, libertar uma nação inteira da escravidão.

O clero católico

Um sintoma encorajador para os pais católicos homeschoolers é o núme-


ro crescente de padres que têm começado a reconhecer o valor do homes-
chooling. Muitos padres vêm aceitando ser capelães de grupos católicos de
homeschooling. Outros dão palestras, ou permitem que os homeschoolers
realizem seus encontros no salão paroquial e promovam eventos na igreja.

402
HOMESCHOOLING CATÓLICO

As crianças católicas homeschoolers têm tido uma influência silenciosa sobre


os corações dos padres, nas paróquias onde vão à Missa ou são coroinhas.
Os padres se perguntam: “O que posso fazer para ajudar essas famílias ca-
pazes de fazer tantos sacrifícios pessoais para educar seus próprios filhos?”
A hostilidade do clero católico ao homeschooling tem cedido em uma ve-
locidade que jamais imaginamos. Assim como o número crescente de adep-
tos levou a uma certa “normalização” do homeschooling na sociedade em
geral, um impacto semelhante foi sentido na Igreja. No princípio, o homes-
chooling era uma novidade desconhecida, que muitas vezes era considerada
uma oposição à autoridade dos bispos e padres. Mas, com o crescimento do
número de famílias adeptas da prática, o homeschooling tem sido cada vez
mais visto como apenas mais uma opção entre outras, não como algo a ser
temido e controlado. Por exemplo, no site da Diocese de Colorado Springs,
o item “Homeschooling Católico” é listado na página dedicada a questões
educacionais, junto com a escola diocesana e outras iniciativas educativas.
Quando uma diocese ou paróquia mantém sua própria escola, o homes-
chooling é inevitavelmente considerado um competidor. Quando é com di-
ficuldade que padres e bispos mantêm suas escolas, não podemos esperar
deles um apoio público e efusivo ao homeschooling. Mesmo assim, muitos
bispos têm publicamente apoiado o homeschooling de vários modos – por
exemplo, participando como palestrantes em conferências sobre o tema. O
Cardeal William Keeler, de Baltimore, foi o principal palestrante em diversas
conferências sobre homeschooling na área de Washington-Baltimore. O Car-
deal Edouard Gagnon, ex-presidente do Pontifício Conselho para a Família,
é há muitos anos um ferrenho defensor do homeschooling.
O movimento homeschooler tem sido consistentemente abençoado com o
apoio de muitos padres bons e santos. O falecido pe. Vincent Miceli, um ex-
cepcional teólogo moral e escritor, era capelão da Seton Home Study School
e palestrou em várias conferências sobre homeschooling. O Pe. Robert Fox,
internacionalmente conhecido por suas excursões de jovens ao santuário de
Fátima e seu Apostolado Família de Fátima, tem apoiado o homeschooling
há muitos anos. O Pe. Pablo Straub, que tem programas regulares na EWTN,
é palestrante em conferências sobre homeschooling católico. Ele também
produziu uma série de vídeos sobre catequese especialmente para famílias
homeschoolers. O Pe. George Rutler, após um discurso no Christendom Col-
lege, elogiou o homeschooling em uma fala aos pais. Os padres do Instituto
dos Padres de Misericórdia participam frequentemente de conferências so-
bre o homeschooling.

403
MARY KAY CLARK

O padre mais famoso a defender a causa do homeschooling foi o reno-


mado teólogo, Pe. John Hardon, hoje falecido. Ele era autor de muitos livros,
incluindo O Catecismo Católico [The Catholic Cathecism], Dicionário Ca-
tólico Moderno [Modern Catholic Dictionary], Catecismo Católico – Per-
guntas e Respostas [Question and Answer Catholic Catechism], O Tesouro
da Sabedoria Católica [The Treasury of Catholic Wisdom] e O Plano de
Leitura para a Vida Católica [The Catholic Lifetime Reading Plan]. O pa-
dre visitava o Vaticano várias vezes por ano, trabalhava diretamente com o
Vaticano em vários projetos para os Estados Unidos e foi, por muitos anos,
o suporte religioso por trás das conferências sobre homeschooling católico
organizadas em Washington, D.C.
Não há estatísticas atuais sobre o número de vocações religiosas emer-
gindo das famílias homeschooling, mas na Seton nós ouvimos falar o tempo
todo sobre alunos graduados que estão ingressando no sacerdócio ou na
vida religiosa. Inclusive, uma das leituras da Missa de instalação do ponti-
ficado do Papa Bento XVI foi feita por um seminarista ex-aluno da Seton,
Justin Ferguson. No futuro, poderemos contar não apenas com padres que
apoiam o homeschooling, mas também com padres formados por ele. E, em
algum momento, talvez, teremos até bispos egressos do homeschooling.

Um futuro esperançoso

O homeschooling católico é um movimento iniciado por pais. Ele surgiu


entre famílias católicas e continua a crescer, à medida que os pais rejeitam
as modas recentes e falsas agendas para dedicar-se a educar seus próprios
filhos. Nós devemos rezar constantemente por esses pais heroicos, que cos-
tumam sofrer tantas perseguições de amigos e vizinhos. Deus tem agido de
diversos modos para ajudar os pais católicos. Nós temos uma importante
missão e, como vimos, há vários fatores a nosso favor.
O Pe. John Hardon acreditava que os tempos difíceis em que vivemos no
presente mundo moderno são a perseguição que antecede uma Era de Ouro
da Cristandade. Se ele estiver correto, nós, pais homeschoolers, precisamos
preparar nossos filhos para serem os líderes dessa nova era que está por vir.

404
Apêndice
Carta às Famílias, de João Paulo II
O excerto a seguir é a seção sobre Educação da Carta às
Famílias do Papa João Paulo II, publicada em 199427

16. Em que consiste a educação? Para responder a esta questão, há que


recordar duas verdades fundamentais: a primeira é que o homem é chamado
a viver na verdade e no amor; a segunda é que cada homem realiza-se através
do dom sincero de si. Isto vale tanto para quem educa, como para quem é
educado. Assim, a educação constitui um processo singular, no qual a recí-
proca comunhão das pessoas aparece impregnada de grande significado. O
educador é uma pessoa que “gera” em sentido espiritual. Nesta perspectiva, a
educação pode ser considerada um verdadeiro e próprio apostolado. É uma
comunicação vital, que não só constrói uma relação profunda entre educador
e educando, mas fá-los ambos participar na verdade e no amor, meta final à
qual cada homem é chamado por Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
A paternidade e a maternidade supõem a coexistência e a interacção de
sujeitos autónomos. Isto é particularmente evidente na mãe, quando concebe
um novo ser humano. Os primeiros meses da sua presença no ventre materno
criam um laço especial, que já reveste um seu valor educativo. Já durante o
período pré-natal, a mãe estrutura não apenas o organismo do filho, mas in-
directamente toda a sua humanidade. Mesmo se se trata de um processo que

27 Versão em português: https://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1994/documents/


hf_jp-ii_let_02021994_families.html
MARY KAY CLARK

se orienta da mãe para o filho, não se esqueça a influência específica que o


nascituro exerce sobre a mãe. Nesta influência recíproca, que se manifestará
externamente após o nascimento da criança, o pai não toma parte directa-
mente. Porém, ele deve empenhar-se responsavelmente a prestar a sua solici-
tude e apoio durante a gravidez e, se possível, também no momento do parto.
Para a “civilização do amor”, é essencial que o homem sinta a mater-
nidade da mulher, sua esposa, como um dom: isto, de facto, influi imenso
no processo educativo inteiro. Muito depende da sua disponibilidade para
tomar parte de forma adequada nesta primeira fase do dom da humanidade,
e deixar-se envolver como marido e pai na maternidade da mulher.
A educação é, assim, sobretudo uma “oferta” de humanidade por parte
de ambos os pais: estes comunicam juntos a sua humanidade madura ao
recém-nascido, o qual, por sua vez, lhes dá a novidade e o frescor da hu-
manidade que traz consigo ao mundo. Isto verifica-se também no caso de
crianças afectadas por deficiências psíquicas ou físicas: antes, neste caso a
sua situação pode desenvolver uma força educativa muito particular.
Com razão, pois, pergunta a Igreja durante o rito do matrimónio: “Estais
dispostos a receber amorosamente da mão de Deus os filhos e a educá-los
segundo a lei de Cristo e da Igreja?” (39). O amor conjugal exprime-se na
educação como verdadeiro amor de pais. A “comunhão de pessoas”, que
ao início da família se manifesta como amor conjugal, completa-se e aper-
feiçoa-se quando se estende aos filhos com a educação. A potencial riqueza,
constituída por cada homem que nasce e cresce na família, deve ser respon-
savelmente assumida de modo que não degenere nem se dissipe, mas, ao
contrário, se realize numa humanidade cada vez mais madura. Também este
é um dinamismo de reciprocidade, no qual os pais-educadores são, por sua
vez, em certa medida educados. Mestres de humanidade dos próprios filhos,
também a aprendem deles. Aqui emerge com destaque a estrutura orgânica
da família e revela-se o sentido fundamental do quarto mandamento.
O “nós” dos pais, do marido e da esposa, desenvolve-se, por meio da
educação, no “nós” da família, que se enxerta sobre as gerações precedentes
e se abre a um gradual alargamento. A este respeito, desempenham um papel
singular, por um lado, os pais dos pais e, por outro, os filhos dos filhos.
Se os pais, ao darem a vida, tomam parte na obra criadora de Deus, pela
educação tornam-se participantes da sua pedagogia conjuntamente paterna
e materna. A paternidade divina, segundo S. Paulo, constitui o modelo origi-
nário de toda a paternidade e maternidade no cosmos (cf. Ef 3, 14-15), espe-
cialmente da maternidade e paternidade humana. Sobre a pedagogia divina

406
HOMESCHOOLING CATÓLICO

nos instruiu plenamente o Verbo eterno do Pai que, ao encarnar-se, revelou


ao homem a verdadeira e integral dimensão da sua vocação: a filiação di-
vina. E revelou assim também qual é o verdadeiro significado da educação
do homem. Por meio de Cristo,toda a educação, na família e fora dela, é
inserida na dimensão salvífica da pedagogia divina, que se dirige aos homens
e às famílias e culmina no mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor.
Daqui, do «coração» da nossa redenção parte todo o processo de educação
cristã que, ao mesmo tempo, é sempre educação para a plena humanidade.
Os pais são os primeiros e principais educadores dos próprios filhos e têm
também neste campo uma competência fundamental:são educadores porque
pais. Eles partilham a sua missão educadora com outras pessoas e institui-
ções, tais como a Igreja e o Estado; todavia, isto deve verificar-se sempre na
correcta aplicação do princípio da subsidiariedade. Este implica a legitimida-
de e mesmo o ónus de oferecer uma ajuda aos pais, mas encontra no direito
prevalecente deles e nas suas efectivas possibilidades o seu limite intrínseco
e intransponível. O princípio da subsidiariedade põe-se, assim, ao serviço do
amor dos pais, indo ao encontro do bem do núcleo familiar. Na verdade, os
pais não são capazes de satisfazer por si sós a todas as exigências do pro-
cesso educativo inteiro, especialmente no que toca à instrução e ao amplo
sector da sociabilização. A subsidiariedade completa assim o amor paterno
e materno, confirmando o seu carácter fundamental, porque qualquer outro
participante no processo educativo não pode operar senão em nome dos
pais, com o seu consenso e, em certa medida, até mesmo por seu encargo.
O itinerário educativo conduz à fase da auto-educação, que se atinge
quando, graças a um adequado nível de maturidade psico-física, o ho-
mem começa a “educar-se por si só”. A auto-educação supera, com o
passar do tempo, as metas anteriormente alcançadas no processo educa-
tivo, no qual, todavia, continua a mergulhar as suas raízes. O adolescente
encontra novas pessoas e novos ambientes, em particular os professores e
os companheiros de escola, os quais exercem sobre a sua vida um influxo
que pode revelar-se educador ou o contrário. Nesta etapa, ele distancia-
-se, em certa medida, da educação recebida em família, assumindo por
vezes uma atitude crítica no confronto dos pais. Apesar de tudo, porém, o
processo de auto-educação não pode deixar de estar marcado pelo influ-
xo educativo exercido pela família e pela escola sobre a criança e o ado-
lescente. Mesmo quando se transforma e se encaminha pela sua própria
estrada, o jovem continua a permanecer intimamente ligado com as suas
raízes existenciais.

407
MARY KAY CLARK

Neste horizonte, delineia-se de um modo novo o significado do quarto


mandamento: “Honra o teu pai e a tua mãe” (Êx 20, 12); ele permanece
ligado organicamente com todo o processo de educação. A paternidade e
maternidade, dado primeiro e fundamental no dom da humanidade, abrem
perante os pais e os filhos novas e mais profundas perspectivas. Gerar segun-
do a carne significa dar início a uma posterior “geração”, gradual e com-
plexa, através do inteiro processo educativo. O mandamento do Decálogo
exige ao filho que honre o pai e a mãe. Mas, como atrás se disse, o mesmo
mandamento impõe aos pais um dever, em certo sentido, “simétrico”. Tam-
bém eles devem “honrar” os próprios filhos, tanto pequenos como grandes, e
tal atitude é indispensável ao longo de todo o percurso educativo, inclusiva-
mente o escolar. O “princípio de prestar a honra”, ou seja, o reconhecimento
e o respeito do homem como homem, é a condição fundamental de todo o
autêntico processo educativo.
No âmbito da educação, a Igreja tem um papel específico a desempenhar.
À luz da tradição e do magistério conciliar, pode-se justamente dizer que não
é questão apenas de confiar à Igreja a educação religiosa e moral da pessoa,
mas de promover todo o processo educativo da pessoa “juntamente com” a
Igreja. A família é chamada a cumprir a sua tarefa educativa em Igreja, par-
ticipando assim na vida e missão eclesial. A Igreja deseja educar sobretudo
através da família, para isso habilitada pelo sacramento do matrimónio com
a “graça de estado” que dele se obtém e o específico “carisma” que é próprio
da inteira comunidade familiar.
Um dos campos onde a família é insubstituível, é certamente o da educação
religiosa, graças à qual a família cresce como «igreja doméstica». A educação
religiosa e a catequese dos filhos colocam a família no âmbito da Igreja como
um verdadeiro sujeito de evangelização e de apostolado. Trata-se de um direi-
to intimamente conexo com o princípio da liberdade religiosa. As famílias e,
mais em concreto, os pais têm a faculdade de livremente escolherem para os
seus filhos um determinado modelo de educação religiosa e moral segundo as
próprias convicções. Mas ainda quando eles confiam tais obrigações a institui-
ções eclesiásticas ou a escolas geridas por pessoal religioso, é necessário que a
sua presença educativa continue a ser constante e activa.
Tampouco se há-de descurar, no contexto da educação, a questão essen-
cial da opção vocacional e, nela, particularmente a preparação para a vida
matrimonial. Notáveis são os esforços e as iniciativas realizadas pela Igreja
a favor da preparação para o matrimónio, por exemplo, sob a forma de
cursos organizados para os noivos. Tudo isso é válido e necessário. Mas não

408
HOMESCHOOLING CATÓLICO

se deve esquecer que a preparação para a futura vida de casal é sobretudo


tarefa da família. Certamente, só as famílias espiritualmente maduras podem
enfrentar de modo adequado tal compromisso. E por isso, há que subli-
nhar a exigência de uma particular solidariedade entre as famílias, que se
pode exprimir através de diversas formas organizadas, como as associações
de famílias para bem das famílias. A instituição familiar consolida-se com
tal solidariedade, que aproxima entre si não apenas as várias pessoas, mas
também as comunidades, empenhando-as a rezar juntas e a buscar, com o
contributo de todos, as respostas às perguntas essenciais que a vida põe. Não
é esta uma forma preciosa de apostolado das famílias entre si? É importante
que as famílias procurem construir entre si vínculos de solidariedade. Isto,
para além do mais, consente-lhes de se prestarem uns aos outros um serviço
educativo: os pais são educados através de outros pais, os filhos através dos
filhos. Cria-se assim uma peculiar tradição educadora, cuja força lhe vem do
carácter de «igreja doméstica», que é próprio da família.
O evangelho do amor é a fonte inexaurível de tudo quanto se nutre a
família humana como “comunhão de pessoas”. No amor, encontra apoio
e sentido definitivo todo o processo educativo, como fruto maduro da recí-
proca doação dos pais. Mediante as canseiras, os sofrimentos e as desilusões,
que acompanham a educação da pessoa, o amor não cessa de estar sujeito a
uma contínua avaliação. Para superar este exame, requer-se um manancial
de força espiritual que se encontra apenas n’Aquele que “amou até ao fim”
(Jo 13, 1). Assim, a educação coloca-se plenamente no horizonte da “civili-
zação do amor”;desta depende e, em grande medida, contribui para a sua
construção.
A assídua e confiante oração da Igreja, durante o Ano da Família, é ofe-
recida pela educação do homem, para que as famílias perseverem no com-
promisso educativo com coragem, confiança e esperança, não obstante as
dificuldades às vezes tão graves que parecem insuperáveis. A Igreja reza para
que vençam as forças da “civilização do amor”, que jorram da fonte do
amor de Deus; forças que a Igreja emprega sem descanso em benefício da
inteira família humana.

409
Bibliografia

História da capa
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HOMESCHOOLING CATÓLICO

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