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Aterros Sobre Solos Moles

Prof Alfran S. Moura, D. Sc.


1. Problemas envolvidos (ponto de vista técnico)

- Estabilidade dos aterros logo após a construção


- Recalques dos aterros ao longo do tempo

Condições iniciais

Condição não-drenada

recalque
Após adensamento

Obs: Em encontro de pontes e viadutos, há problemas de fundações nas obras


d’arte, recalques diferenciais nos encontros e empuxo e atrito negativo em
estacas
Problemas do ponto de vista construtivo:

- Tráfego dos equipamentos de construção;

- Amolgamento da superfície terreno, pelo lançamento do


aterro;

- Riscos de ruptura durante a construção (riscos p/


pessoas e equipamentos)
1. Características dos solos moles

Solo Mole: Sedimentos (argilas ou areias argilosas) com


baixo NSPT (≤4), cuja fração argila imprime
características de solo coesivo e compressível.

Ambiente de deposição:

- Bastante variados (fluvial, lacustre e costeiro);


- Presença comum de matéria orgânica, cor escura e
cheiro característico.

Ocorrência frequente: depósitos soterrados de argilas


orgânicas turfosas e pretas.
Solos de origem fluvial (aluviões):

Formados por deposição de sedimentos nas planícies de


inundação ou várzeas dos rios e apresenta acentuada
heterogeneidade vertical e horizontal
Solos moles de origem marinha

Formados em 2 ciclos distintos de sedimentação


entremeados por um processo erosivo muito intenso.
Abaixo de 18m
NSPT = 5 A 10
σpré = 300 a 600 kPa
(15 a 30m de solo?)
Ocorreu por
rebaixamento do NA
2. Algumas propriedades geotécnicas

Espessuras frequentes: 1 a 7m (aluviões fluviais)


mais de 70m (solos marinhos)

Propriedades com grande dispersão

Resistência ao cisalhamento apenas p/ coesão:


envoltória praticamente horizontal
τ

Solos em geral:
φ τ = c + σtgφ resist. por atrito e
envoltória de ruptura
coesão

Solos moles:
τ =c resist. apenas por
coesão
c

σ
Propostas:

τ =c

τ = 0,15.σ pre (argilas de várzeas de rios de SP)

τ = c = co + c1.z (argilas moles da baixada santista)

= 0,4.γsub
2,5 a 35 kPa
3. Parâmetros de projeto

c: usualmente obtida de ensaio de compressão simples


(lab) ou Vane test (campo)

Rc = cvane

Segundo Bjerrum (1973):

c projeto = µ .cvane
= f (IP) = 0,6 a 1,0

Segundo Mesri (1975):


c projeto = 0,22.σ pre
4. Estabilidade de aterros após a construção

Análises realizadas por métodos de equilíbrio limite

Análises de resistência em termos de tensões totais

Solução de Fellenius

Caso: carregamento uniformemente distribuído na


superfície de solo mole c/ c=const e elevada espessura
Foi admitido superfície de ruptura circular
Foram igualados os momentos atuante e resistente

Conclusões:

Centro do círculo crítico na


vertical e passando pela borda
da área carregada

Ângulo central (2α) = 133,5º


A carga que leva o terreno à ruptura é:

qr = 5,5.c
Obs:

1. Altura crítica de aterros (Hc) que podem ser lançados


sem que haja ruptura é:
5,5.c
γ at .H c = 5,5.c Hc =
γ at

2. A espessura máxima de camada de solo mole (D) é:

b
D<
0,758
Bermas de equilíbrio

Caso haja a necessidade de aterros de altura maiores


pode-se usar bermas (aterros laterais como contrapeso)

5,5.c
H1 − H 2 =
F .γ at
fator de segurança
5. Recalques

Estabilidade: problema do período construtivo

Recalque: problema da fase operacional (ao longo do


tempo)
Estimativa dos recalques finais

Por ensaios de adensamento


Melhores resultados p/ solos confinados
O recalque final é:

ww = w p + ws + w

H σ ' H σ '+ ∆σ Adensamento


wa = Cr . log vm + Cc . log vo
1 + eo σ vo ' 1 + eo σ vm ' primário

t2 Compressão
ws = H .Cα '.log secundária
t1

Recalque imediato
6. Processos construtivos

- Lançamento de aterros em pontas;

- Remoção do solo mole (total ou parcial);

- Lançamento de aterros em pontas após tratamento


de melhoramento de solo
Lançamento de aterros em ponta

1ª dificuldade: tráfego de equip. de terraplenagem


(deve-se permanecer c/ vegetação natural)

Etapas de preparo do terreno:


- Lançamento de lastro inicial (1ª camada de 0,5 a 1m)
sem compactação;
- Execução de lastro de aterro hidráulico (areia + água) c/
tubulações (função drenante);
- Colocação de manta geotêxtil ao longo do eixo (funções
de drenagem, estabilidade e evitar contaminação);
- Lançamento da 1ª camada do aterro c/ equipamentos
leves (esteiras largas).
Remoção de solos moles

Possível p/ pequenas espessuras: 4 a 5m

Por escavação mecânica (drag-lines) ou explosivos

Explosivos:

- Requer lançamento prévio de um aterro;


- Colocação de dinamite (sob ele ou na frente de avanço)

Idéia: liquefação do solo mole e expulsão pelo solo do


aterro (ocupará seu lugar até o terreno firme)
Na prática: expulsão pode não ser completa com
permanência de bolsões (ocorrência de ondulações no
tempo)
Escavação mecânica:

- Requer lançamento prévio de um aterro;


- Escavação lateral e em linha (abertura de vala e
remoção de solo mole);
- Desconfinamento lateral promove expulsão de solo
mole para a vala;
- Remoção do solo mole na vala e alteamento do aterro.
A C

B
Remoção parcial de solo mole:

- Colchão flutuante de areia


- Remoção parcial de solo (3 a 5m)
- Substituição por areia (bem graduada) lançada
hidraulicamente
- Construção do aterro propriamente dito (trânsito sobre o
colchão)
Tratamento do solo mole

Conjunto de procedimentos visando melhorar as


propriedades geotécnicas (resistência e deformabilidade)

Técnicas de melhoramento:

- Construção por etapas;


- Sobrecargas temporárias;
- Drenos verticais para aceleração de recalques;
- Colunas de pedra e estacas de distribuição.
Construção por etapas:

Consiste em construir o aterro por partes e usado em


situações em que a altura final do aterro (H) é maior que
a altura crítica (Hc).

Etapas:

- Deixa-se o solo adensar sob o


peso de um aterro parcial de
altura (H1);
- Com o enrijecimento do solo
constrói-se uma nova altura de
aterro (H2);
- Repetição até a altura final
(H).
Drenos verticais:

Usado quando o coeficiente de adensamento é muito


baixo

Encurtamento das distâncias de drenagem e aceleração


do adensamento
Tipo comum: dreno vertical de areia

Execução:

- Instalação de tubos metálicos de ponta aberta;


- Limpeza do tubo (jato d’água);
- Despejo de areia dentro do tubo à medida que o tubo é
sacado;
- Lançamento de uma camada de areia (ou manta
geotêxtil) no topo para drenagem (caso do aterro não ser
drenante).
Drenos fibro-químicos (geodreno, plástico)

Forma de tiras com seção retangular


No interior há canais p/ escoamento (70% da área total)

Instalação c/ equipamentos de elevada produtividade


Dreno geotêxtil ≈ dreno de areia de 18 cm

Dimensionamento a partir da escolha de um diâmetro


(dw) e de um espaçamento entre eles (de)
Leitura Recomendada:

Faiçal, Massad (2003). Obras de Terra: curso básico de


geotecnia. Oficina de textos.

Almeida, M. de S. S. e Marques, M. E. S. (2010).


Aterros Sobre Solos Moles: projeto e desempenho.
Oficina de textos.

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