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Profº.

Emílio Queiroz
Esp. Engenharia de Estruturas
equeiroz.vic@ftc.edu.br

Fundações
Colegiado de Engenharia Civil

Tema: Recalque
Bibliografia
ALBIERO, J. H.; AOKI, N.; CINTRA, J. C. A. Fundações diretas:
projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
Recalque
Recalque é o afundamento (vertical ou inclinado) de uma estrutura
no terreno ocasionado por falha na sondagem, baixa capacidade de
carga do solo ou modificação do projeto original. É preciso garantir
que a estrutura recalque o mínimo possível e dentro dos limites
admissíveis, ou seja, permitir apenas os recalques que a estrutura
possa suportar. Quando há um recalque excessivo, à primeira vista
ocorrem trincas e posteriormente, desabamento. Com relação ao tipo
de solo, as areias estabilizam mais rapidamente em relação ao
recalque, já as argilas ou siltes por se tratarem de solos finos levam
anos para estabilizar.
Recalque
Toda estrutura recalca, e toda estrutura suporta certo
recalque, chamado recalque admissível.

Do ponto de vista da fundação tensão admissível é aquela


tensão no qual eu aplico ao solo e este não irá romper e
também não produz recalques maiores que os admissíveis na
fundação.
Recalque
O recalque pode ser estudado sob a ótica do solo e se classifica
em: imediato, primário (adensamento), secundário e por colapso. E
sob a ótica da estrutura e se classifica em: total, diferencial e
distorcional. Para entendermos o recalque sob a ótica do solo
precisamos saber que o solo é composto de uma parte sólida que são
os grãos (areia, silte ou argila), uma parte líquida (água) e uma parte
gasosa (ar). Quando tenho um recalque há uma aproximação das
partículas, ou seja, aproximação dos grãos do solo, com a expulsão
de água e ar, sem que ocorra uma superfície de ruptura.
Recalque
Quando há um recalque, a causa é o solo e o efeito do
recalque é sentido pela estrutura através de trincas,
empenamento de esquadrias e etc.
Recalque sob a ótica do solo
a) Recalque imediato (Ri) – pode ocorrer de 3 a 10 dias devido ao
ajuste da fundação no solo. Os componentes do recalque imediato
são: saída de ar ou gases, compressão da sujeira (geralmente
causada por máquinas de escavação), recalque elástico (difícil de ser
calculado, pois o solo não apresenta comportamento elástico, o solo
só é elástico quando submetido a pequenas tensões, em geral 1/10
da tensão de ruptura).
Recalque sob a ótica do solo
O comportamento elástico dos materiais é regido pela teoria
da elasticidade, oriunda da lei de hooke, onde:

Quanto maior o módulo de elasticidade (E) menor será a


deformação (𝜀).
Recalque sob a ótica do solo
b) Recalque primário (Rp) – também conhecido como recalque por
adensamento. Pode ocorrer de horas a anos. Corresponde à saída
de água através da percolação quando o solo saturado está sob
compressão, pode levar entre 10 e 20 anos. Quando se tem areia fofa
saturada esse tipo de recalque ocorre imediatamente, pois a
permeabilidade é maior do que em solos finos como argila e silte
moles saturados. É o maior dos recalques e pode levar a ruptura. É
obrigatório ter uma camada mole (apresenta SPT ≤ 10) e saturada
para haver recalque por adensamento. Teoria do adensamento criada
por Terzaghi.
Recalque sob a ótica do solo

Onde:
H: espessura da camada mole (saturada)
Cc: índice de compressão que nos diz o quanto o solo é compressível (tirar amostra
indeformada)
ei: índice de vazios inicial do solo
σi: tensão inicial ou tensão geostática = γ * h
Δσz: acréscimo de tensão vertical
Recalque sob a ótica do solo
Quando o acréscimo de tensões gerado pela edificação for menor
do que 10% da tensão geostática podemos desconsiderar o recalque
por adensamento.

Quanto maior a espessura da camada mole maior o recalque


(podemos identificar uma camada mole quando o SPT ≤ 10 e
presença de nível de água)
Recalque sob a ótica do solo
c) Recalque secundário (Rs) – É mais significativo em solos
orgânicos devido ao escorregamento e/ou reorientação entre as
partículas. Não é tão agressivo quanto o recalque por adensamento.
Também não é tão comum de acontecer no Brasil. Deve-se a
fenômenos viscosos como (creep ou fluência) e ocorre após o
recalque primário.
Recalque sob a ótica do solo
d) Recalque por colapso – presente em solos vermelhos ou
amarelos cujo índice de colapso é obtido fazendo o ensaio de
adensamento primeiro seco depois saturado, este tipo de solo é
conhecido como solo colapsível, pois perde coesão em contato com
a água. Surge por colapso da micro-estrutura do solo por perda das
ligações entre as partículas do solo. Geralmente brusco e
catastrófico.
Recalque sob a ótica do solo
Recalque total (Rt) = Recalque imediato (Ri) + Recalque primário
(Rp) + Recalque secundário (Rs)

Solos em geral (areias, siltes e argilas não saturadas) Rt = Ri


Argilas saturadas Rt = Ri + Rp
Argila muito mole/marinha Rt = Ri + Rp + Rs
Recalque sob a ótica da estrutura
a) Recalque total (ρ ou rt) – também conhecido como recalque absoluto, é a
soma de todos os recalques na data observada (imediato, primário,
secundário e por colapso). Nem sempre ocorrem todos estes.

b) Recalque total uniforme (rtu) – quando a estrutura afunda


uniformemente no solo. Neste tipo de recalque a estrutura praticamente não
sofre danos, há ruptura de redes de água e esgoto. Para que ocorra um
recalque total uniforme a estrutura precisa ser rígida e o solo uniformemente
fraco. Neste caso há um desnivelamento com alteração de calçadas e
passeios.

As primeiras fissuras irão aparecer na alvenaria e no gesso.


Recalque sob a ótica da estrutura
c) Recalque diferencial (Δ ou δ) – quando a estrutura afunda mais
um lado do que o outro, de maneira geral em longo prazo e gera
mais dano que o total uniforme, a medida que se acentua o recalque
os danos deixam de ser somente arquitetônicos e podem levar ao
colapso. Para que ocorra um recalque diferencial a estrutura precisa
ser rígida e o solo linearmente fraco.
Recalque sob a ótica da estrutura

∆ = 𝜌2 − 𝜌1

Considerando ρ1 = 5 cm e ρ2 = 12 cm, logo temos um recalque


diferencial de:
∆ = 12 − 5 = 7 𝑐𝑚
Recalque sob a ótica da estrutura
d) Recalque distorcional (β) – quando parte da estrutura não
recalca ou recalca pouco e a outra parte recalca bastante. Isto gera
na estrutura esforços adicionais não previstos. Indica a presença de
solo bastante heterogêneo ao longo do terreno.


𝛽 =
𝐿

Considerando um vão de 8 m, logo temos um recalque distorcional


de:
7 1
𝛽 = =
800 114
Recalque sob a ótica da estrutura
Tem-se verificado na prática de fundações que os recalques distorcionais são muito
mais perigosos a estrutura que os recalques diferenciais. Uma obra admite recalques
distorcionais da ordem de β = 1/800, causando danos que a estrutura pode suportar com
baixo fator de risco.

Limites para o recalque distorcional:


β = 1/1500 - Ideal, sem danos
β = 1/800 - Ideal, micro-fissuras inofensivas
β = 1/600 - Trincas em painéis de alvenaria, sem danos estruturais
β = 1/500 - Flechas toleráveis em vigas e lajes, trincas toleráveis nas alvenarias sobre
vigas e lajes
β = 1/300 - Flechas e trincas acentuadas, com comprometimento estrutural
β = 1/150 - Desabamento eminente
Recalque sob a ótica da estrutura
Deve-se levar em consideração que o aparecimento de fissuras
pode ser originados por diversos fatores. Dentre os mais comuns
temos: Retração térmica, deslocamento na viga, recalque da
fundação.
Recalques limites
Cálculo do recalque imediato
Para determinação do recalque imediato temos os métodos de
análise em meio elástico homogêneo (MEH) como é o caso das argilas
e os métodos de análise em meio elástico não homogêneo como é o
caso das areias.
Para determinação do recalque em argilas utilizamos os casos de
camada semi-infinita, camada finita e multicamadas.
Para determinação do recalque em areias utilizamos o método de
schmertmann (1978).
Cálculo do recalque imediato
Determinação do recalque imediato pelo método da camada semi-
infinita em argilas.

1 − 𝑣2
𝜌𝑖 = 𝜎 ∗ 𝐵 ∗ ∗ 𝐼𝑝
𝐸𝑠
𝜎 = tensão aplicada no solo pela fundação direta
𝐵 = menor dimensão da fundação direta
v = coeficiente de Poisson
Es = módulo de deformação do solo
Ip = fator de influência, que depende da forma e da rigidez da sapata
Cálculo do recalque imediato
Cálculo do recalque imediato
Cálculo do recalque imediato
Sem dispor de ensaios de laboratório para a determinação do
módulo de deformabilidade do solo (Es), podemos utilizar
correlações com a resistência de ponta do cone (qc) ou com o
índice de resistência à penetração (Nspt) da sondagem SPT,
como, por exemplo, as apresentadas por Teixeira e Godoy
(1996):
Cálculo do recalque imediato
Cálculo do recalque imediato
Determinação do recalque em areias utilizamos o método de
schmertmann (1978).

𝐼𝑧 ∗ Δ𝑧
𝜌𝑖 = 𝐶1 ∗ 𝐶2 ∗ 𝜎′ ∗ ෍( )
𝐸𝑠

C1 = fator correspondente ao embutimento da sapata no solo


C2 = fator correspondente ao tempo
𝜎′ = tensão líquida aplicada pela sapata
Iz = fator de influência
Δ𝑧 = profundidade das camadas
𝐸𝑠 = módulo de deformação do solo
Cálculo do recalque imediato
Profº Esp. Emílio Queiroz
equeiroz.vic@ftc.edu.br

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