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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE GEOTECNIA – SGS-404: FUNDAÇÕES

Professores: Nelson AOKI e José Carlos A. CINTRA

NOTAS DE AULA

Compilação: Cristina de Hollanda Cavalcanti Tsuha


Revisão: Prof. Aoki e Cintra

AULA N.º 05: Recalques de fundações isoladas.


26/03/2003

Objetivo: Habilitar o aluno a determinar recalques de fundações isoladas, rasas e profundas.

1. TIPOS DE RECALQUE

a) Recalque imediato elástico: é proveniente de deformações a volume constante (sem


alteração do índice de vazios, apenas mudança de forma) e ocorre simultaneamente com a
aplicação das solicitações. A principal característica é o fato das deformações dos materiais
serem reversíveis. Neste caso o sistema retorna á configuração inicial antes da aplicação do
carregamento.

b) Recalque imediato permanente, ocorre devido à:


– compactação provocada por vibração (cravação de estacas em solo arenoso);
– deformações plásticas.
Neste caso as deformações dos materiais são permanentes ou seja, irreversíveis.

c) Recalque imediato provocado por desconfinamento: ocorre devido à escavações, túneis ou


minas.

d) Recalque ao longo do tempo, permanente, em argilas moles: ocorre devido ao adensamento


primário e secundário. O recalque de adensamento primário resulta da expulsão gradual de
água e de ar dos vazios do solo e ocorre lentamente com o decorrer do tempo. Já o recalque
de adensamento secundário resulta da compressão da própria estrutura do solo e é
aproximadamente 20% do adensamento primário. A velocidade de recalques nesta fase é da
ordem de 20 a 30 milésimos de milímetro por dia.
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e) Recalque/ levantamento devido à variação do teor de umidade do solo:
– solos expansivos: quando o teor de umidade é diminuído ocorrem recalques e, ao
contrário, quando o teor de umidade é aumentado o solo apresenta uma pressão de
expansão que pode ocasionar um levantamento da estrutura;
– solos colapsíveis: estando o solo não saturado, um aumento do teor de umidade
associado a uma tensão mínima aplicada causa uma diminuição da resistência ao
cisalhamento do solo e, consequentemente, o recalque que é permanente;
– rebaixamento do nível d’água: neste caso, o peso específico do solo é aumentado e,
consequentemente, ocorre um aumento na tensão efetiva gerando deformações
permanentes das camadas de solo abaixo do nível d’água inicial.

Em geral, os recalques de fundações (ρ) apresentam as componentes de recalque imediato


ρi, recalque de adensamento primário ρc, e secundário ρs. Assim:

ρ = ρi + ρc + ρs

Nos solos arenosos, devido a alta permeabilidade, a água flui tão rapidamente que a
expulsão de água dos poros é praticamente instantânea. Portanto, as fundações em areias
recalcam quase imediatamente à aplicação da carga.
Nos solos argilosos, submetidos a carregamentos permanentes, são particularmente
importantes os recalques de adensamento, que se processam lentamente face à baixa
permeabilidade destes solos.

2. SAPATA ISOLADA.

Ao aplicar carga em uma fundação direta, é inevitável a ocorrência de recalques que,


normalmente, são da ordem de poucas dezenas de milímetros, mas que podem chegar a
centenas e até, excepcionalmente, milhares de milímetros. Assim, hipótese de apoio fixo para
pilares, geralmente feita no cálculo estrutural, é mera ficção.
Define-se recalque, de uma sapata por exemplo, como sendo o deslocamento vertical,
para baixo, da base da sapata, em relação ao indeformável. Esse deslocamento é resultante da
deformação do solo (diminuição de volume e/ou mudança de forma). No caso de tubulões, ao
recalque da base deve-se acrescentar a compressão elástica do fuste para se obter o recalque da
cabeça do tubulão.
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Os recalques podem ser classificados em: recalque total ou absoluto (ρ) da sapata ou
tubulão isolado e recalque diferencial ou relativo (δ) entre duas sapatas ou tubulões vizinhos,
além da distorção angular ou rotação relativa (δ/l), em que l é a distância entre sapatas ou
tubulões. Em decorrência dos recalques, o edifício pode sofrer movimentos verticais
(translação), acompanhados ou não de inclinação (rotação).
Se o subsolo fosse homogêneo e todas as sapatas ou tubulões de mesmas dimensões, os
recalques seriam praticamente uniformes. Mas a variabilidade do solo, em termos de
compressibilidade, gera recalques desiguais. Além disso, o tamanho das sapatas ou da base dos
tubulões em um edifício pode variar muito, porque as cargas nos pilares são diferentes, o que,
em argilas principalmente, é uma fonte adicional de recalque diferencial.
São os recalques diferenciais que preocupam pois grandes recalques absolutos
geralmente podem ser tolerados, se forem de magnitude próxima em todas as partes da
fundação. Entretanto, os recalques diferenciais normalmente são maiores para recalques
absolutos maiores. Por isso, a magnitude do recalque absoluta pode ser aceita como uma
medida para o recalque diferencial.
O recalque absoluto (ρ), que dá origem ao recalque diferencial e aos movimentos do
edifício, pode ser decomposto em duas parcelas:

ρ = ρc + ρi

onde ρc é o recalque de adensamento e ρi é o recalque imediato.


Em Mecânica dos Solos, estuda-se o recalque de adensamento, típico das argilas
saturadas sob carregamentos permanentes, o qual resulta de deformações volumétricas
(diminuição do índice de vazios). O adensamento se processa com a dissipação das pressões
neutras, lentamente com o decorrer do tempo, pois a baixa permeabilidade das argilas dificulta
a expulsão da água intersticial. Aprende-se a fórmula teórica de Terzaghi para o cálculo do
recalque final de adensamento, teoricamente a tempo infinito, bem como os procedimentos para
cálculo do recalque parcial de adensamento, para um dado tempo t.
Não é objetivo deste livro exemplificar o cálculo de recalque de adensamento, mas ele
não pode ser ignorado no caso de fundações diretas em argilas saturadas. Como regra geral, as
sapatas e os tubulões podem ser apoiados em argilas desde que sejam argilas pré-adensadas.
Sempre que possível, deve-se limitar a tensão admissível de fundações diretas em argila ao
valor da tensão de pré-adensamento.
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Nas fundações diretas também ocorre uma parcela de recalque proveniente de
deformações a volume constante (sem redução do índice de vazios). Contrariamente ao
adensamento, processa-se em tempo muito curto, quase simultaneamente à aplicação do
carregamento, em condições não-drenadas em argilas e condições drenadas em areias. Essa
parcela de recalque é chamada de recalque imediato, por razões óbvias.
Considerando um elemento de solo sob a base da sapata ou tubulão, o recalque imediato
corresponde a uma distorção desse elemento, uma vez que não há diminuição de volume (nem
de vazios). Por isso, muitos autores preferem a designação de recalque de distorção.
Por ser calculado pela Teoria da Elasticidade, o recalque imediato também é chamado
de recalque elástico. Entretanto, os solos não são materiais elásticos e, em conseqüência, os
recalques imediatos geralmente não são recuperáveis com o descarregamento, ou são
reversíveis apenas parcialmente. Por isso, a denominação recalque elástico é inadequada.
Mas o uso da Teoria da Elasticidade Linear se justifica porque é bem razoável a
hipótese de comportamento tensão-deformação linear até níveis de tensão inferiores à tensão
admissível de fundações diretas. No emprego da Teoria da Elasticidade para cálculo de
recalques, é preferível substituir a denominação Módulo de Elasticidade por Módulo de
Deformabilidade, de acordo com Vargas (1978).
Como há muita confusão entre elasticidade e linearidade, é importante entender que um
material pode ser elástico-linear, elástico não-linear, e linear não-elástico, como mostra a
Figura 1, mediante a comparação das curvas de carregamento e de descarregamento.

σ σ σ

ε ε ε
a) b) c)
Figura 1 – Comportamentos tensão x deformação: a) elástico-linear;
b) elástico não-linear; c) linear não-elástico
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2.1. RECALQUES IMEDIATOS EM ARGILA

2.1.1. Teoria da Elasticidade

Considere uma sapata de largura B, apoiada numa camada argilosa semi-infinita,


homogênea, com módulo de deformabilidade Es constante com a profundidade (caso típico de
argilas pré-adensadas).
Se σ é a tensão média, na superfície de contato da base da sapata com o topo da argila, o
recalque imediato ρi é dado pela seguinte expressão, oriunda da Teoria da Elasticidade:

1 − ν 2 
ρi = σ B   Iρ (1)
 E s 

onde ν = coeficiente de Poisson do solo


Iρ = fator de influência, que depende da forma e da rigidez da sapata

Considerando um corpo de prova cilíndrico, de material elástico, submetido a


um estado de compressão triaxial, o coeficiente de Poisson é definido pela relação entre as
deformações radiais (εr) de expansão e as deformações verticais (εz) de compressão:

ν = - εr / εz

Pela elasticidade linear, pode-se demonstrar que se não houver variação de volume, mas
apenas distorção do corpo de prova em que o aumento a expansão radial compensa exatamente
a redução na sua altura (caso de material incompressível), tem-se ν = ½. Em outro extremo, se
as deformações radiais forem nulas (apenas redução da altura do corpo de prova), tem-se ν = 0.
No primeiro caso, há mudança de forma sem diminuição do índice de vazios, enquanto que, no
segundo, há redução do índice de vazios (e, em consequência, do volume), sem mudança de
forma como ocorre, por exemplo, no ensaio de adensamento em que o anel impede a expansão
lateral do corpo de prova.
De acordo com os valores de Iρ apresentados na Tabela 1, observa-se que o recalque
imediato do centro de uma sapata quadrada flexível é o dobro do recalque que ocorre nos
cantos. Já o recalque da sapata quadrada rígida, uniforme em todos os pontos da base da sapata,
é 14% inferior ao recalque médio da sapata quadrada flexível.
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Tabela 1 - Fator de influência Iρ (adaptado de Perloff e Baron, 1976)


SAPATA FLEXÍVEL RÍGIDA
FORMA CENTRO CANTO MÉDIO
CIRCULAR 1,00 0,64* 0,85 0,79
QUADRADA 1,12 0,56 0,95 0,99
RETANGULAR
L/B = 1,5 1,36 0,67 1,15
2 1,52 0,76 1,30
3 1,78 0,88 1,52
5 2,10 1,05 1,83
10 2,53 1,26 2,25
100 4,00 2,00 3,70
* borda

Então, para passar de sapata flexível (que aplica tensões uniformes à argila) para sapata
rígida (recalques uniformes), as tensões de contato na base da sapata devem se acentuar nas
bordas e se aliviar na região central, de acordo com o esquema da Figura 2.

(a)
(b)

Figura 2- Tensão de contato entre sapata e argila: a) sapata flexível;


b) sapata rígida (Sowers, 1962)

Nas areias, ao contrário, os recalques de uma sapata flexível são menores no centro,
pelo efeito do confinamento. Então as tensões de contato na base da sapata rígida devem ser
acentuadas no centro e reduzidas nas bordas (Figura 3).

(a)
(b)

Figura 3 – Tensões de contato entre sapata e areia: a) sapata flexível;


b) sapata rígida (Sowers, 1962)

Portanto, a forma da distribuição das tensões desenvolvidas entre uma placa


uniformemente carregada e o solo de apoio depende da rigidez da placa e do tipo de solo.
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No caso de sapata apoiadas em rocha, por exemplo, a NBR 6122/96 preconiza o seu
cálculo estrutural como peças rígidas, adotando-se o diagrama de tensões mostrado na Figura 4,
onde σmax é igual a duas vezes a tensão média.

σmax

Figura 4 – Distribuição de tensões de sapatas apoiadas em rocha (NBR 6122/96)

O uso desse diagrama é justificado pela Figura 2.b, pois a rocha é uma material coesivo
por excelência. A Figura 2.b também explica o fato de que, em edifícios na orla litorânea da
cidade de Santos – SP, com fundações diretas do tipo radiê, as cargas nos pilares de periferia
chegam até a dobrar de valor com o desenvolvimento dos recalques de adensamento.

Exercício resolvido 1

Calcular o recalque imediato médio, no centro e no canto, de uma sapata retangular, de


10m x 40m, aplicando uma tensão de 50 kPa numa camada semi-infinita de argila homogênea,
saturada, com módulo de deformabilidade de 30 MPa.

solução:

Considerando ν = 0,5 (argila saturada), tem-se:

 1 − 0 ,5 2 
ρ i = 0,05 ⋅ 10 .000   Iρ = 12,5 Iρ (mm)
 30 

Para L/B = 40/10 = 4, interpolando da Tabela 1, obtém-se:

Centro: Iρ = 1,94 → ρi = 24,2 mm


Canto: Iρ = 0,96 → ρi = 12,0 mm
Médio: Iρ = 1,67 → ρi = 20,9 mm
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2.1.2. Camada Finita

Em muitos casos, a camada argilosa deformável é de espessura finita, sobreposta a


material que pode ser considerado rígido ou indeformável (rocha, por exemplo), o que exige
uma adaptação da equação (1).
Considere, por exemplo, uma sapata retangular (largura B e comprimento L) ou circular
(diâmetro B), apoiada a uma profundidade h da superfície do terreno, e que a camada de solo
compressível tem espessura H, contada a partir da base da sapata (esquema da Figura 5).
Esse problema foi resolvido por Janbu et al. (1956), apud Simons e Menzies (1981),
para o caso particular de deformações a volume constante (ν = 0,5), representativo de argilas
saturadas em condições não-drenadas. Assim, o recalque médio de sapatas flexíveis é dado por

σB
ρi = Iu
Es
ou
σB
ρ i = µ 0 µ1
Es

onde Iu = fator de influência dado pelo produto de µ0 por µ1.


Os valores de µ0 e µ1 são apresentados na Figura 5, em curvas adequadas da relação L/B
e em função, respectivamente, de h/B e H/B.
Observa-se que, numa sapata quadrada, por exemplo, o maior embutimento no solo tem
um efeito redutor de até 50% no recalque, o que ocorre para h/B = 20, enquanto que a maior
espessura relativa da camada compressível deixa de majorar o recalque para H/B ≥ 10.
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3,0
100
L = comprimento
2,5 σ 50
h L=∞
20
2,0
H B 10
Fator µ1

1,5 5

L/B
1,0 2
quadrado
0,5 círculo

0,0
0,0 0,2 0,5 1 2 5 10 20 50 100 1000
H/B
1,0
0,9
Fator µ0

0,8
0,7
L/B
0,6
0,5
0,0 0,2 0,5 1 2 5 10 20 50 100 1000
h/B

Figura 5 - Fatores µ0 e µ1 para o cálculo de recalque imediato de sapata em camada


compressível finita (Janbu et al., 1956, apud Simons e Menzies, 1981)

Exercício resolvido 2

Calcular o recalque imediato da sapata do exercício 2, suposta apoiada a 3 m da


superfície do terreno, considerando que a camada de argila se estende somente até a cota -28m,
onde se encontra uma base rígida.

solução:

σ = 50 kPa = 0,05 MPa


B = 10 m = 10.000 mm

L/B = 40/10 = 4
h/B = 3/10 = 0,3 → µ0 = 0,96
10
L/B = 4
H/B = 25/10 = 2,5 → µ1 = 0,88

ρi = 0,96 . 0,88 . (0,05 . 10.000) / 30 = 14,1 mm

Obs.: esse recalque representa 67% do valor obtido no exemplo 1, em que a camada argilosa é
semi-infinita.

2.1.3. Subcamadas Argilosas

A camada argilosa compressível pode se apresentar com subcamadas de diferentes


valores de módulo de deformabilidade.
Nesse caso, Simons e Menzies (1981) utilizam a Figura 1, com o artifício de substituir o
sistema constituído por várias subcamadas por uma camada hipotética apoiada numa base
rígida. A profundidade dessa camada hipotética é sucessivamente aumentada para incorporar
cada subcamada seguinte com os valores correspondentes de Es, calculando-se em seguida os
recalques. Subtraindo-se o efeito da camada hipotética, situada acima da subcamada real,
obtém-se o valor do recalque de cada subcamada. Somando-se os valores individuais, encontra-
se o recalque total, conforme o exercício 3.
Por extensão, os autores utilizam essa metodologia também ao caso em que as
subcamadas têm Es crescente com a profundidade, tomando o valor médio em cada subcamada.
Dessa forma, a metodologia pode ser aplicada mesmo que as subcamadas não sejam argilosas.

Exercício resolvido 3

Considere o exercício 2, mas substitua a camada argilosa por três sub-camadas, com
diferentes valores para o módulo de deformabilidade, de acordo com a Figura 6.
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10m

3m

10m camada 1 E1 = 20 MPa

5m camada 2 E2 = 30 MPa

Eu
10m camada 3 E3 = 40 MPa

Base rígida
Figura 6 – Perfil constituído por subcamadas (Simons e Menzies, 1981)

solução:

Serão apresentadas três maneiras de resolver esse problema:

a)Reprodução da solução de Simons e Menzies (1981)

L/B = 40/10 = 4
h/B = 3/10 = 0,3 → µ0 = 0,96

camada 1 com base rígida:

L/B = 4
H/B = 10/10 = 1 → µ1 = 0,55

0,05 ⋅ 10.000
ρ1 = 0,96 . 0,55 . = 13,2 mm
20

camada 2 estendida até a superfície e com base rígida:

L/B = 4
12
H/B = 15/10 = 1,5 → µ1 = 0,67

0,05 ⋅ 10.000
ρ (1,2) 30 = 0,96 . 0,67 . = 10,7mm
30

descontando o recalque da camada 2 com Es = 30 MPa

0,05 ⋅ 10.000
ρ (1) 30 = 0,96 . 0,55 . = 8,8 mm
30

tem-se:

ρ2 = ρ (1,2) 30 - ρ (1) 30 = 10,7 - 8,8 = 1,9 mm

camada 3 estendida até a superfície e com base rígida:

L/B = 4
H/B = 25/10 = 2,5 → µ1 = 0,88

0,05 ⋅ 10.000
ρ (1,2,3) 40 = 0,96 . 0,88 . = 10,6 mm
40

descontando o recalque das camada 1 e 2 com Es = 40 MPa

0,05 ⋅ 10.000
ρ (1,2) 40 = 0,96 . 0,67 . = 8,0 mm
40

tem-se:

ρ3 = ρ (1,2,3) 40 - ρ (1,2) 40 = 10,6 - 8,0 = 2,6 mm

recalque total:

ρi = ρ1 + ρ2 + ρ3 = 13,2 + 1,9 + 2,6 = 17,7 mm


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b)calculando o valor médio de Es como a média ponderada nas três camadas:

10 ⋅ 20 + 5 ⋅ 30 + 10 ⋅ 40
Es = = 30 MPa
25

Mas esse é o valor de Es utilizado no exercício 2, com camada única de 25 m, em que se


obteve um recalque de 14,1 mm (20% inferior ao recalque de 17,7 mm). Em outros casos, a
diferença pode ser ainda maior, o que invalida esse cálculo aproximado pela média ponderada
de Es, a não ser para uma estimativa grosseira. A média ponderada não considera a ordem das
camadas com seus respectivos valores de Es, o que pode acentuar o erro.

c)Mediante a propagação de tensões 2:1

camada 1 com base rígida:

L/B = 40/10 = 4
h/B = 3/10 = 0,3 → µ0 = 0,96

L/B = 4
H/B = 10/10 = 1 → µ1 = 0,55

0,05 ⋅ 10.000
ρ1 = 0,96 . 0,55 . = 13,2 mm
20

camada 2 com base rígida e sapata fictícia apoiada no seu topo (cota -13 m):

sapata fictícia com

B = 10 + 10 = 20 m
L = 40 + 10 = 50 m

0,05 ⋅10 ⋅ 40
∆σ = = 0,02 MPa
20 ⋅ 50

L/B = 50/20 = 2,5


14
h/B = 13/20 = 0,65 → µ0 = 0,88
H/B = 5/20 = 0,25 → µ1 = 0,19

0,02 ⋅ 20.000
ρ2 = 0,88 . 0,19 . = 2,2 mm
30

camada 3 com base rígida e sapata fictícia apoiada no seu topo (cota -18 m):

sapata fictícia com

B = 10 + 15 = 25 m
L = 40 + 15 = 55 m

0,05 ⋅ 10 ⋅ 40
∆σ = = 0,014 MPa
25 ⋅ 55

L/B = 55/25 = 2,2


h/B = 18/25 = 0,72 → µ0 = 0,86
H/B = 10/25 = 0,4 → µ1 = 0,25

0,014 ⋅ 25.000
ρ3 = 0,86 . 0,25 . = 1,9 mm
40

recalque total:

ρi = ρ1 + ρ2 + ρ3 = 13,2 + 2,2 + 1,9 = 17,3 mm

Esse resultado é praticamente igual ao encontrado no item a (ρi = 17,7 mm).

2.1.4. Pesquisa do Indeformável

Estendendo-se o caso do item anterior, considere que a base rígida se encontre mais
profunda, existindo outras sub-camadas compressíveis com módulo de deformabilidade sempre
crescente com a profundidade.
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Para efeitos práticos, não há necessidade de se calcular a contribuição de todas as
camadas, porque será cada vez menos significativa a contribuição das sub-camadas mais
profundas. Pode-se considerar como última sub-camada de interesse a que apresentar um
recalque inferior a 10% do recalque total (até essa camada, inclusive). Portanto, para cálculos
práticos, pode-se usar um significado relativo para o indeformável, em vez do significado
absoluto. Assim, dado um perfil, com as características de deformabilidade das várias camadas,
a posição do “indeformável” pode estar mais ou menos profunda, dependendo das dimensões
das sapatas, principalmente. A pesquisa do indeformável, caso a caso, pode inclusive apontar a
sua posição como sendo o topo de uma camada ainda deformável.

Exercício resolvido 4

No exercício anterior, considere que existam outras duas sub-camadas de 10 m cada,


antes de atingir a base rígida, com módulos de 50 MPa e 60 MPa, respectivamente, totalizando
cinco subcamadas compressíveis. Pelo método utilizado no item c, do exercício anterior,
pesquise a posição do “indeformável”.

solução:

Inicialmente, verifica-se a contribuição da 3a. camada, que é 1,9 mm ou 11% do


recalque das 3 camadas (17,3 mm). Então é preciso calcular o recalque da camada seguinte.

camada 4 com base rígida e sapata fictícia apoiada no seu topo (cota -28 m):

sapata fictícia com

B = 10 + 25 = 35 m
L = 40 + 25 = 65 m

0,05 . 10 . 40
∆σ = = 0,009 MPa
35 . 65

L/B = 65/35 = 1,9


h/B = 28/35 = 0,80 → µ0 = 0,83
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H/B = 10/35 = 0,29 → µ1 = 0,20

0,009 ⋅ 35.000
ρ3 = 0,83 . 0,20 . = 1,0 mm
50

recalque total:

ρi = ρ1 + ρ2 + ρ3 + ρ4 = 13,2 + 2,2 + 1,9 + 1,0 = 18,3 mm

verificação:

(1,3 / 18,3) . 100 = 7% < 10% → não haverá necessidade do cálculo da contribuição da 5ª
camada.
Esse critério é válido desde que as sub-camadas tenham a mesma ordem de grandeza na
espessura e os módulos de deformabilidade sejam crescentes com a profundidade. Uma camada
bem mais deformável logo abaixo, por exemplo, exige a continuidade do cálculo.

2.2. RECALQUES IMEDIATOS EM AREIA

Para a estimativa de recalque imediato, a Teoria da Elasticidade é originalmente


aplicável apenas aos materiais que apresentam Es constante com a profundidade, que é o caso
das argilas pré-adensadas mas não é o caso das areias.
Entretanto, com a introdução dos fatores µ0 e µ1 de Janbu et al. (1956), apud Simons e
Menzies (1985), também é possível aplicar a teoria da elasticidade a solos arenosos,
subdividindo-os em camadas e considerando o valor médio de Es para cada camada,
semelhantemente ao que foi feito no exercício 3. Segundo D’Appolonia et al. (1970), o
resultado será razoavelmente satisfatório se o valor médio for bem escolhido.
Mas na sua utilização em areias, deve-se introduzir um fator de majoração de 1,21 para
corrigir os fatores µo e µ1, desenvolvidos para ν = 0,5 (argilas saturadas):

σ ⋅B
ρ i = 1,21 ⋅ µ 0 ⋅ µ1 ⋅
Es
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A constante 1,21 é obtida da relação

1 − 0,3 2
= 1,21
1 − 0,5 2

onde 0,3 representa o coeficiente de Poisson adotado para a areia.


Outro método para a estimativa de recalque de sapatas em areias, também adaptado da
teoria da elasticidade, foi proposto por Schmertmann, em 1970, e aprimorado em 1978.
Além disso, na literatura há uma variedade de métodos empíricos, alguns deles usando
correlações com N, mas com resultados geralmente insatisfatórios.

2.2.1. Método de Schmertmann (1970)

Dado um carregamento uniforme σ , atuando na superfície de um semi-espaço elástico,


isotrópico e homogêneo, com módulo de elasticidade Es, a deformação vertical ε z à
profundidade z, sob o centro do carregamento, pode ser expressa por:

σ
εz = Iz
Es

onde Iz = fator de influência na deformação.

Por meio de análises teóricas, estudos em modelos, e simulações pelo método dos
elementos finitos, o autor pesquisou a variação da deformação vertical, ao longo da
profundidade, em solos arenosos homogêneos, sob sapatas rígidas.
Observou que a deformação máxima não ocorre no contato com base da sapata, mas a
uma certa profundidade, em torno de z = B/2, onde B é a largura da sapata. A partir dessa
profundidade, as deformações diminuem gradualmente e podem ser desprezadas depois de z =
2B.
Em conseqüência, o autor propõe uma distribuição aproximada do fator de influência na
deformação, para o cálculo de recalque de sapatas rígidas em areia. Trata-se da distribuição
triangular apresentada na Figura 5.
18
IZ
0 0,2 0,4 0,6
0

a partir da base da sapata


B/2

Profundidade z
B

2B

Figura 3 – Fator de influência na deformação vertical (Schmertmann, 1970)

a)Embutimento da sapata

Considerando que um maior embutimento da sapata no solo pode reduzir o recalque em até
50%, o autor define um fator de correção do recalque C1, dado por:

 q 
C1 = 1 − 0,5   ≥ 0,5
σ*

onde q = tensão vertical efetiva à cota de apoio da fundação (sobrecarga);


σ* = tensão “líquida” aplicada pela sapata (σ* = σ - q).

Portanto, essa redução é inexistente quando a sapata se encontra à superfície do terreno


(q = 0) e é máxima quando a profundidade de embutimento resulta em q = σ/2 (ou q = σ*).

b)Efeito do tempo

O monitoramento de sapatas em areia mostra que além do recalque imediato, outra parcela
de recalque se desenvolve com o tempo, como um fenômeno de creep, ou à semelhança da
compressão secundária em argila. Por isso, o autor adota um fator de correção C2 dado por:
19
 t 
C 2 = 1 + 0,2 log  
 0,1 

onde t = tempo, expresso em anos.

No caso de interesse apenas pelo recalque imediato, sem o acréscimo com o tempo,
basta considerar C2 = 1.

c)Formulação

Finalmente, o recalque de sapatas rígidas em areia é dado pela integração das


deformações:


ρi = ∫ ε z dz
z =0

que pode ser aproximado por

2B Iz
ρi = σ ∗ ∫ dz
0 Es

Substituindo essa integral por um somatório de recalques de n camadas consideradas


homogêneas, na profundidade de 0 a 2B, e incluindo os efeitos do embutimento e do tempo
tem-se:

n
I 
ρ i = C1 C 2 σ * ∑  z ∆z 
i =1  E s i

onde: Iz = fator de influência na deformação à meia altura da i-ésima camada (com no máximo
duas decimais);
Es = módulo de deformabilidade da i-ésima camada;
∆z = espessura da i-ésima camada.

O uso da tensão líquida é justificável porque a parcela correspondente à sobrecarga q


representa a reposição do alívio de tensões provocado pela escavação e, portanto, não deve
20
gerar recalque. Em fundações rasas, usar ou não a tensão líquida pouco altera o valor do
recalque. Mas, em fundações profundas, a diferença é considerável, como pode ser visto no
Cap. VI.4.2.
O valor médio de Iz, em cada camada, pode ser facilmente obtido por semelhança de
triângulos ou, se preferir, pelas equações:

Iz = 1,2 z/B para z ≤ B/2

Iz = 0,4 (2 – z/B) para B/2 ≤ z ≤ 2B

onde z é a profundidade contada a partir da base da sapata.

d)Módulo de deformabilidade

Para a estimativa do módulo de deformabilidade de cada camada, o autor desenvolveu


uma correlação para as areias da região de Gainsville, Flórida – EUA, pela qual:

Es = 2 qc

onde qc = resistência de ponta do ensaio de cone.


Apesar de preferir a obtenção do módulo de deformabilidade diretamente do ensaio de
cone, no caso de haver apenas resultados de SPT o autor aceita o uso de correlações do tipo:

K = qc / N

onde N = NSPT (número de golpes / 30cm).

Em função do tipo de solo, o autor propõe os valores de K apresentados na Tabela 2,


considerados conservadores.

Tabela 2 – Valores de K em função do tipo de solo (Schmertmann, 1970)


Tipo de solo K (MPa)
Siltes e siltes arenosos 0,20
Areias finas a médias e areias pouco siltosas 0,35
Areias grossas e areais pouco pedregulhosas 0,50
Pedregulhos arenosos e pedregulhos 0,60
21

e)Roteiro de cálculo

1.Calcular os valores de q, σ*, C1 e C2;


2.A partir da base da sapata, desenhar o triângulo 2B-0,6 para o fator de influência;
3.No intervalo de 0 a 2B abaixo da sapata, dividir o perfil qc (ou NSPT) num número
conveniente de camadas, cada uma com Es constante (uma divisão que passe por B/2 é
aconselhável);
4.Preparar uma tabela com seis colunas: número da camada, ∆z, Iz, qc (ou NSPT), Es, Iz, e
Iz∆z/Es.
5.Encontrar o somatório dos valores da última coluna e multiplicá-lo por C1, C2, e σ*
(aconselha-se o uso das unidades em MPa para q, σ* e Es, e em mm para ∆z, resultando o
recalque final em mm, com no máximo uma decimal).

Exercício resolvido 5

Reproduzindo o caso real resolvido por Schmertmann (1970), calcular o recalque após 5
anos de uma sapata de 2,6 m por 23,0 m, apoiada a 2,0 m da superfície do terreno, aplicando
uma tensão de 182 kPa. Trata-se de uma areia média, compacta, com peso específico de 16
kN/m3 (saturado de 20 kN/m3); o NA encontra-se a 2,05 m de profundidade. Os valores de qc a
partir da profundidade de 2,0 m são apresentados na Figura 7.
22
qc (MPa)
5 10 15 20
-2

-3

-4

-5

-6

-7
cota (m)

-8

-9

-10

-11

-12

-13

-14

-15

-16

Figura 7 - Resistência de ponta do cone com a profundidade (Schmertmann, 1970)

solução:

1.Cálculos iniciais

q = 2 . 16 = 32 kPa
σ* = 182 – 32 = 150 kPa
C1 = 1 – 0,5 (32/150) = 0,89

C1 = 1 + 0,2 log (5/0,1) = 1,34


23
2.Diagrama triangular e divisão em camadas

qc (MPa) Iz
5 10 15 20 0,2 0,4 0,6
-2
1
-3 2
1,3
-4 2,0 3
-5 3,0
4
-6 4,0 5

-7 6
5,2
-8

-9
cota (m)

-10

-11

-12

-13

-14

-15

-16

Obs.: desnecessário subdividir a camada 6 para considerar o aumento de qc nos últimos 20 cm.

3.Tabela

camada ∆z (mm) Iz qc (MPa) Es (MPa) Iz∆z/Es


1 1.000 0,23 2,5 5 46,00
2 300 0,53 3,5 7 22,71
3 1.700 0,47 3,5 7 114,14
4 500 0,30 7,0 14 10,71
5 1.000 0,18 3,0 6 30,00
6 700 0,05 8,5 17 2,06
∑ = 5,2m ∑ = 225,62
24
4.Recalque

ρi = 0,89 . 1,34 . 0,15 . 225,62 = 40,4 mm

2.2.2. Método de Schmertmann (1978)

Em 1978, Schmertmann introduziu modificações para aperfeiçoar o método de 1970.


Essas modificações, confirmadas por Schmertmann et al. (1978), têm como objetivo principal
separar os casos de sapata corrida (deformação plana) e de sapata quadrada (assimetria).
Para isso, dois novos diagramas para a distribuição do fator de influência na deformação
são propostos (Figura 8). Para sapatas retangulares intermediárias (1 < L/B < 10), o autor
recomenda resolver pelos dois casos e fazer a interpolação.

Fator de Influência IZ
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
0

B/2
σ*
Profundidade z a partir da base da sapata

Iz max = 0,5 + 0,1


σv
B

= 1
L/B

2B
10
>
B
L/

3B

4B

Figura 8 – Fator de influência na deformação vertical (Schmertmann, 1978)


25
O valor máximo de Iz ocorre em profundidades diferentes, dependendo do caso (z =
B/2 para sapata quadrada e z = B para sapata corrida), e deixa de ser constante e igual a 0,6,
passando a ser calculado por:

σ*
Iz max = 0,5 + 0,1
σv

onde σv = tensão vertical efetiva na profundidade correspondente a Iz max.


Portanto, o valor de Iz max aumenta com a tensão líquida aplicada pela sapata. Para a
relação σ* / σv aumentando de 1 para 10, por exemplo, o valor de Iz max passa de 0,60 para 0,82.
Também se observa que o diagrama vai até 4B para sapata corrida (L/B > 10) e que na
profundidade z = 0, correspondente à base da sapata, o valor de Iz não é nulo, mas igual a 0,1
para sapata quadrada e 0,2 para sapata corrida. Assim, o diagrama deixa de ser triangular.
O valor médio de Iz, em cada camada, pode ser obtido por semelhança de triângulos ou,
se preferir, pelas seguintes equações na variável z (profundidade contada a partir da base da
sapata):

a)sapata quadrada

Iz = 0,1 + 2 (Iz max – 0,1) z/B para z ≤ B/2

Iz = (2/3) Iz max (2 – z/B) para B/2 ≤ z ≤ 2B

b)sapata corrida

Iz = 0,2 + (Iz max – 0,2) z/B para z ≤ B

Iz = (1/3) Iz max (4 – z/B) para B ≤ z ≤ 4B

Além disso, Schmertmann (1978) recomenda novas correlações para Es em função de


qc:

Es = 2,5 qc para sapata quadrada


e
26
Es = 3,5 qc para sapata corrida

Exercício resolvido 6

Refazer o exercício 5, considerando sapata corrida.

solução de Schmertmann (1978):

1.Cálculos iniciais

L/B = 23,0 / 2,6 ≅ 8,8 → admite-se L/B = 10

à profundidade z = B = 2,6 m, contada a partir da base da sapata, tem-se:

σv = 2 . 16 + 2,6 . 10 = 58 kPa

150
Iz max = 0,5 + 0,1 = 0,66
58
27
2. Diagrama

qc (MPa) Iz
5 10 15 20 0,2 0,4 0,66
-2
1
-3 1,0

-4 2
2,6
-5 3
4
-6 4,0 5

-7 5,0 6
cota (m)

-8 6,0 7

-9 7,0 8

-10 8,0 9

-11 9,0
10
-12
10,4
-13

-14

-15

-16

Obs.: desnecessário subdividir a camada 10 para considerar a variação de Es nos últimos 40 cm.

3. Tabela com Es = 3,5 qc

camada ∆z (mm) Iz qc (MPa) Es (MPa) Iz∆z/Es


1 1.000 0,29 2,5 9 33,22
2 1.600 0,52 3,5 12 69,33
3 400 0,64 3,5 12 21,33
4 500 0,60 7,0 24 12,50
5 1.000 0,54 3,0 10 54,00
6 700 0,48 8,5 30 11,20
7 1.300 0,39 17,0 59 8,59
8 1.000 0,29 6,0 21 13,81
9 1.000 0,20 10,0 35 5,71
10 1.900 0,08 4,0 14 10,86
∑ = 10,4m ∑ = 240,55
28
4.Recalque

ρi = 0,89 . 1,34 . 0,15 . 240,55 = 43,3 mm

2.3. PROVA DE CARGA EM PLACA

Além da forma analítica ou teórica para previsão de recalques imediatos de sapatas,


também é possível o método experimental, por meio de provas de carga sobre placa.
Esse tipo de ensaio, regulamentado pela NBR 6489/84, consiste na instalação de uma
placa rígida de aço, com diâmetro de 0,80 m, na mesma cota de projeto das sapatas, e aplicação
de carga, em estágios, até o dobro da provável tensão admissível, com medida simultânea de
recalques.
Como o bulbo de tensões mobilizado pela placa é bem menor (menos profundo) que o
bulbo de tensões das sapatas, geralmente bem maiores que a placa, esse ensaio só é aplicável
para terrenos razoavelmente homogêneos em profundidade.

2.3.1. Argilas

Para argilas puras, é razoável supor que, para uma mesma tensão aplicada, os recalques
imediatos cresçam linearmente com a dimensão da sapata. A própria fórmula da teoria da
elasticidade para cálculo de recalques imediatos exibe essa proporcionalidade.
Assim, obtido o recalque ρp numa placa de diâmetro Bp, para uma dada tensão σ de
interesse, o recalque imediato ρs de uma sapata de diâmetro Bs, sob a mesma tensão σ, será
expresso por:

Bs
ρs = ρp
Bp

Para sapatas retangulares ou de formas irregulares, pode-se considerar a sapata circular


de área equivalente.
29
Exercício resolvido 7

Dada a curva tensão x recalque (Figura 9), obtida em prova de carga sobre placa com
diâmetro de 0,80 m, realizada na argila porosa de São Paulo (Vargas, 1951), estimar o recalque
de uma sapata quadrada com 2,50 m de lado, a ser instalada na mesma cota e no mesmo local
da placa de ensaio, aplicando uma tensão de 0,08 MPa.

Tensão (kPa)
50 100 150 200
0

5
Recalque (mm)

10

15

20
Figura 9 – Curva tensão x recalque (Vargas, 1951)

solução:

A sapata terá um diâmetro equivalente de:

4 ⋅ 2,50 2
Bs = ≅ 2,80 m
π

Para a tensão de 80 kPa, na curva tensão x recalque obtém-se o recalque:

ρp = 3,4 mm

Então o recalque na sapata será:

2,80
ρs = 3,4 = 11,9 mm
0,80
30

2.3.2. Areias

Para areias, mesmo que homogêneas, há dificuldade na análise de recalques por não
serem ainda bem estabelecidas as relações entre a placa (modelo reduzido) e as sapatas
(protótipos).
Com base principalmente em dados empíricos derivados da observação de recalques
diferenciais em estruturas fundadas em sapatas de diferentes tamanhos, Terzaghi e Peck (1948),
apresentam a equação:

2
 2 Bs 
ρs = ρp  
 Bs + 0,30 

para extrapolar recalque (ρp) de placa quadrada de 0,30 m de lado para recalque (ρs) de sapata
quadrada com largura Bs em metros. De acordo com essa equação, reiterada por Terzaghi e
Peck (1967), o recalque de uma sapata, por maior que seja a sua largura, será sempre inferior a
quatro vezes o recalque da placa de 0,30 m, para a mesma tensão de referência.
Da própria equação de Terzaghi-Peck, constata-se que, para aplicá-la a placas com
diâmetro de 0,80 m, o recalque da placa ρp deve ser dividido por 2:

2
 2 ⋅ 0,70 
ρ0,80 = ρ0,30   ≅ 2 ρ0,30
 0,70 + 0,30 

onde 0,70 m é o lado equivalente da placa circular de 0,80 m de lado.


Assim, para placa com 0,80 m de diâmetro, a extrapolação de Terzaghi-Peck para sapata
quadrada de lado Bs seria pela expressão:

2
ρ p  2 Bs 
ρs =  
2  Bs + 0,30 

A equação de Terzaghi-Peck foi generalizada por Sowers (1962) para extrapolar o


recalque obtido em placa de qualquer dimensão Bp para uma sapata de lado Bs:
31
 Bs (B p + 0,30) 
2

ρs = ρp  
 B p (Bs + 0,30 )

que, para o caso particular da placa adotada pela norma brasileira (Bp = 0,80 m), transforma-se
em:

2
 Bs 
ρs = ρp  
 0,70 (Bs + 0,30 ) 

com Bs em metros.
Para demonstrar que a equação de Sowers (1962) representa o caso geral da equação de
Terzaghi e Peck (1948), considere uma placa quadrada com lado Bp e uma sapata quadrada
com lado Bs, de tal modo que:

0,30 < Bp < Bs

Para uma mesma tensão aplicada, têm-se os recalques ρ0,30 (da placa de 0,30), ρp (da
placa de lado Bp) e ρs (da sapata de lado Bs), tais que:

ρ0,30 < ρp < ρs

Mas, da equação de Terzaghi e Peck (1948), pode-se obter:

2
 2 Bp 
ρp = ρ0,30  
 B + 0,30 
 p 
e
2
 2 Bs 
ρs = ρ0,30  
 B s + 0,30 

Finalmente, dividindo essa última equação pela penúltima, encontra-se a equação geral
de Sowers (1962), cqd.
Entretanto, estudos de casos apresentados por Bjerrum e Eggestad (1963), apud Perloff
e Baron (1976), mostram uma grande dispersão na correlação entre o recalque da sapata e o da
32
placa de 0,30 m, afetada pela compacidade e granulometria da areia, de acordo com a Figura
10. Para Bs ≤ 3 m, pode-se observar que o recalque da sapata pode ser tanto superior ao
encontrado pela relação direta:

ρs = (Bs / 0,30) ρp

como um pouco inferior ao obtido da equação de Terzaghi-Peck.

50

ρs / ρ p compacta
média
fofa
orgânica
20

limite superior de
Bjerrum - Eggestad
10

5
Terzaghi - Peck

2
limite inferior de Bjerrum - Eggestad

1
1 2 5 10 20 100
Bs / Bp
Figura 10 – Extrapolação de recalque de placa para sapata, em areias (Perloff e Baron (1976)

Ensaios realizados por D´Appolonia et al. (1968), em sapatas quadradas com largura de
3,0 a 4,2 m, mostram que o recalque da sapata aumenta praticamente na proporção direta com a
sua largura. A sapata de 3,6 m, por exemplo, que é 12 vezes maior que a placa de 0,30 m,
recalcou 11 vezes o recalque da placa. A equação de Terzaghi e Peck subestimou seriamente o
recalque da sapata, nesse caso, ao fornecer um resultado extrapolado, a partir da placa, de
apenas 30% do valor real.
33
Mais recentemente, Briaud e Gibbens (1996) apresentam resultados de provas de
carga em cinco sapatas quadradas, com largura de 1 a 3 m, em areia medianamente compacta.
Quando os autores dividem os recalques pela largura da sapata e, portanto, adimensionalizam o
eixo dos recalques, as cinco curvas tensão recalque praticamente coincidem. Isso demonstra
que, também nesse caso, o recalque cresce em proporção direta com o lado da sapata.
Portanto, as equações de Terzaghi-Peck e de Sowers para extrapolação de recalques de
placas para sapatas, em areia, podem subestimar em muito os recalques das sapatas. Continua
atual a afirmação de D`Appolonia et al. (1968) de que ainda não há uma equação geral
aplicável à extrapolação de recalque de uma placa de tamanho padrão para o recalque de uma
sapata-protótipo. Tal equação deverá, segundo esses autores, considerar a compacidade da
areia, o tamanho das partículas e a degradação, em adição à geometria da sapata.

2.3.3. Efeito da dimensão

Para estudar o efeito da dimensão da sapata nos recalques, será feita uma comparação
entre duas provas de carga, uma em placa (pequena dimensão) e outra em sapata (grande
dimensão), apoiadas à superfície de um terreno homogêneo.

a) argila

Em solo puramente coesivo, a capacidade de carga independe da dimensão e portanto


será a mesma em ambos os ensaios. Entretanto, os recalques serão proporcionais à dimensão
porque o módulo de deformabilidade é constante com a profundidade e os bulbos são
proporcionais à largura da placa e da sapata:

Bs
ρs = ρp
Bp

Numa sapata três vezes maior que a placa, por exemplo, os recalques da sapata serão o triplo
dos da placa, para uma mesma tensão aplicada. A Figura 11 ilustra qualitativamente as hipótese
de comportamento das argilas, enquanto a Figura 12 apresenta a comparação de provas de
carga em placa e sapata, em argilas.
34
Es
σr

z
B
a) b)
Figura 11 – Comportamento em função de B em argila: a) capacidade de carga;
b) módulo de deformabilidade

placa

ρ sapata

Figura 12 - Provas de carga em placa e sapata, em argila (Taylor, 1946)

b) areia

Em solos não-coesivos, a capacidade de carga é proporcional à dimensão. Mas os


recalques não aumentam na proporção direta com a dimensão pois o módulo de
deformabilidade cresce com a profundidade. Assim, bulbos maiores atingem solos menos
deformáveis, fazendo com o que recalque não aumente diretamente com o bulbo.
No caso hipotético do módulo de deformabilidade aumentar diretamente com a
profundidade z, da forma

Es = k z

onde k é dado em MPa/m e z em metros, os recalques da placa e da sapata serão absolutamente


iguais, para uma mesma tensão aplicada, pois o aumento do bulbo de tensões é compensado
pelo aumento de Es, ao passar da placa para a sapata.
35
Na realidade, a deformabilidade da areia se situa entre esse extremo (módulo de
deformabilidade aumentando diretamente com profundidade) e o outro extremo do módulo
constante com a profundidade (caso das argilas):

Es = Eo + k z

o chamado modelo de Gibson. Então, para uma mesma tensão, os recalques da sapata serão
maiores do que os da placa mas menores do que os valores obtidos com a proporção direta do
aumento da dimensão. Numa sapata três vezes maiores que a placa, por exemplo, o recalque da
sapata estará compreendido entre uma e três vezes o recalque da placa, dependendo da variação
do módulo de deformabilidade (caso a caso) se aproximar mais do valor constante com a
profundidade ou da variação diretamente proporcional com a profundidade:

Bs
ρs = ρp ↔ ρs = ρp
Bp

ou
ρs = β ρp
onde
Bs
k → 0: β→
Bp

Eo→ 0: β→1

A Figura 13 ilustra qualitativamente as hipótese de comportamento das areias, enquanto


a Figura 14 apresenta a comparação de provas de carga em placa e sapata, em areias.

Es
σr

z
B
a) b)
Figura 13 – Comportamento em função de B, em areia: a) capacidade de carga;
36
b) módulo de deformabilidade;

σ σ

placa placa

ρ sapata ρ sapata

a) b)
Figura 14 - Provas de carga em placa e sapata, em areia (modificado de Taylor, 1946):
a) curvas tensão x deformação típicas; b) caso hipotético com módulo
de deformabilidade aumentando na proporção direta com a profundidade

Pode-se demonstrar pelo método de Schmertmann de 1970, por simplicidade de cálculo,


que dada uma sapata quadrada de largura B, à superfície do terreno, o recalque é proporcional a
B na hipótese de Es constante com a profundidade (Es = Eo) e independe de B quando Es
aumenta diretamente com z (Es = k z). Para ambos os casos, o diagrama de Iz resulta:

Iz 0,6

1
B/2

2B

Para Es = Eo

camada ∆z Iz Es med Iz ∆z / Es
1 0,5 B 0,3 Eo 0,15 B / Eo
2 1,5 B 0,3 Eo 0,45 B / Eo
∑ = 0,60 B / Eo
37

Portanto, o recalque é proporcional a B.

Para Es = k z

camada ∆z Iz Es med Iz ∆z / Es
1 0,5 B 0,3 0,25 k B 0,60 / k
2 1,5 B 0,3 1,25 k B 0,36 / k
∑ = 0,96 / k

Portanto, o recalque independe de B.


Para comparação de recalques entre a placa e a sapata, para uma mesma tensão, em
areias há a complicação adicional pelo fato de no ensaio da sapata atingem-se tensões
superiores à máxima tensão do ensaio da placa. Por isso, talvez se deva estudar uma forma de
extrapolação de recalques em que as tensões não sejam as mesmas na placa e na sapata, mas de
tal forma que seja compensado o acréscimo de capacidade de carga da placa para a sapata.

2.3.4. Módulo de Deformabilidade

É possível estimar o módulo de deformabilidade por meio de uma prova de carga sobre
placa. Ajustando-se por uma reta o trecho inicial da curva tensão x recalque, obtém-se o
“coeficiente de reação do solo” (ks), também chamado de coeficiente de recalque:

σ
ks = (MPa/mm)
ρ

que aplicado à fórmula da teoria da elasticidade

1 − ν 2 
ρi = σ B   Iρ
 Es 

com B = 800 mm (diâmetro da placa), Iw = 0,79 (placa circular rígida) e ν ≅ 0,35 (valor
“médio” para qualquer solo), resulta:
38

Es ≅ 550 ks (MPa)

Evidentemente o fator 550 mm pode ser modificado para cada caso, em função do
coeficiente de Poisson do solo.
Representando por ks placa e ks sapata o coeficiente de reação médio do solo sob a placa e
sob a sapata, respectivamente, e Es placa e Es sapata o módulo de deformabilidade médio do solo
sob a placa e sob a sapata, respectivamente, e, considerando o item 3.3, em particular as
Figuras 12 a 14, pode-se concluir que, em argilas, o coeficiente de reação do solo (ks) é
inversamente proporcional à dimensão:

Bp
ks sapata = ks placa
Bs

mas, como o fator de 550 mm (deduzido para a placa de 0,80 m) aumenta proporcionalmente
com a dimensão, o módulo de deformabilidade não se altera:

Es sapata = Es placa

e, portanto, o módulo de deformabilidade obtido em ensaio de placa pode ser utilizado


diretamente no cálculo de recalque imediato de sapatas em argilas. A não variação de Es com a
dimensão, em argilas, também fica implícita na Figura 11b, pois se Es é constante com a
profundidade ele não é afetado pela dimensão dos bulbos da placa e da sapata.
Já para areias, dependendo da lei de variação de Es com a profundidade, ks pode se
situar entre dois limites:

Bp
ks sapata = ks placa ↔ ks sapata = 1
Bs

e, portanto, o módulo de deformabilidade da areia sempre aumentará com a dimensão, variando


entre os limites:

Bs
Es sapata = Es placa ↔ Es sapata = Es placa
Bp
39

Assim, a utilização direta do módulo de deformabilidade obtido em ensaio de placa, no


cálculo de recalque imediato de sapatas em areia, pode conduzir a resultados exagerados. A
constatação de que Es aumenta com a dimensão, em areias, também pode ser inferida da Figura
13.b, pois se o módulo de deformabilidade cresce com a profundidade, então no bulbo da
sapata o valor médio de Es será maior que no bulbo da placa.

Exercício resolvido 8

Obter o módulo de deformabilidade do solo a partir da prova de carga sobre placa do


exercício 7 (Figura 8).

solução:

A curva é praticamente linear até uma tensão de apenas 0,02 MPa, com o
correspondente recalque de 0,5 mm. Logo:

ks = σ / ρ = 0,02 / 0,5 = 0,04 MPa/mm


e
Es = 550 ks = 550 . 0,04 = 22 MPa

Também se pode considerar um trecho linear secante à secante, até a tensão admissível
de 0,08 MPa (solução do exercício 1 do Cap. IV.2.1), para a qual o recalque na placa é de 3,4
mm. Então:

ks = σ / ρ = 0,08 / 3,4 = 0,024 MPa/mm


e
Es = 550 ks = 550 . 0,024 ≅ 13 MPa

que seria o valor a ser utilizado para previsões de recalque correspondentes à tensão admissível.
Observe que após o trecho linear da curva tensão x recalque, os valores secantes de Es
aumentam com o nível da tensão, o que pode ser levado em conta em análises numéricas por
elementos finitos.
40

2.4. TOLERÂNCIA A RECALQUES

De acordo com a NBR 6122/96, a tensão admissível e a carga admissível dependem da


sensibilidade da construção projetada aos recalques, especialmente os recalques diferenciais
específicos, os quais de ordinário, são os que podem prejudicar sua estabilidade ou
funcionalidade.

2.4.1. Distorção angular

Com base em observações de cerca de uma centena de edifícios, Skempton e


MacDonald, em 1956, associaram a ocorrência de danos com valores limites para a distorção
angular δ/l, onde δ é o recalque diferencial entre dois pilares. Muitas outras publicações
importantes se seguiram, como por exemplo a de Bjerrum (1963), apud Novais Ferreira (1976).
De forma resumida, Burland et al. (1977) destacam os seguintes valores limites de Skempton e
MacDonald:

δ/l = 1:300 – trincas em paredes de edifícios


e
δ/l = 1:150 – danos estruturais em vigas e colunas de edifícios correntes

Mas relações desse tipo devem ser tomadas com cautela, pois a distorção angular deve
depender de vários fatores, tais como: tipo e características do solo, tipo da fundação, tipo,
porte, função e rigidez da superestrutura, e propriedades dos materiais empregados. Além disso,
a ocorrência de recalque provoca a redistribuição de esforços na superestrutura, o que modifica
os recalques e assim interativamente, o que constitui a chamada interação estrutura-solo.
Muitos autores também observam que os edifícios que sofrem danos estruturais têm δ/l
≥ 1:150, mas que o fato de ocorrer δ/l ≥ 1:150 não implica automaticamente o surgimento de
danos estruturais, como na cidade do México, por exemplo (edifícios em funcionamento com
recalques diferenciais de mais de 0,40 m).
Segundo Mello (1975), “essas indicações incluem erro conceitual ao não distinguir
recalques calculados (em função dos quais se toma a decisão de projeto) de recalques
41
observados que terão provocado fissuras e danos. O problema é: que magnitude de distorções
calculadas serão aceitáveis ?”
Mello (1975) também salienta que, “como os avanços tecnológicos irradiam das
sociedades mais evoluídas, ocorre uma pressão forte no sentido de tornarem mais e mais
exigentes os critérios de aceitação. Na importação de avanços tecnológicos é portanto
importante distinguir entre os meios (de cálculo, etc.) que são do nosso interesse importar
quanto mais modernos e aptos melhor, e as metas (decisão) que devemos ter a sabedoria de
rechaçar as demasiado exigentes e caras que onerariam as nossas obras num estágio prematuro
do nosso desenvolvimento. Indiscutivelmente resulta daí um fator de retardamento do próprio
desenvolvimento a que nos propomos. Por exemplo, se um critério de recalque máximo de 25
mm e de recalque diferencial específico máximo de 1:300 é citado em publicações inglesas,
etc., para evitar fissuramento de acabamento, não há motivo nenhum para que não se aceite, na
maioria das nossas obras, critérios muito menos exigentes considerando que os custos de
conserto de fissuras podem ser muitíssimos menores do que os custos de projeto e execução de
fundação para evitá-las; nem na Inglaterra nem nos EUA no seu desenvolvimento básico, há 30
anos ou mais (em estágio comparável ao nosso atual) tiveram sequer a possibilidade de onerar
as suas obras da época com tais critérios de decisão demasiado rígidos.”

2.4.2. Recalques totais limites

De acordo com Teixeira e Godoy (1996), “teoricamente, uma estrutura que sofresse
recalques uniformes não sofreria danos, mesmo para valores exagerados do recalque total. Na
prática, no entanto, a ocorrência de recalque uniforme não acontece, havendo sempre recalques
diferenciais decorrentes de algum tipo de excentricidade de cargas, ou heterogeneidade do solo.
A limitação do recalque total é uma das maneiras de limitar o recalque diferencial.”
Para estruturas usuais de aço ou concreto, Burland et al. (1977) consideram aceitáveis
como valores limites, em casos rotineiros, as seguintes recomendações de Skempton e
MacDonald para valores de recalques diferenciais e de recalques totais limites:

Areias: δmax = 25 mm
ρmax = 40 mm para sapatas isoladas
ρmax = 40 a 65 mm para radiês
Argilas: δmax = 40 mm
ρmax = 65 mm para sapatas isoladas
42
ρmax = 65 a 100 mm para radiês

Teixeira e Godoy (1996) chamam a atenção para o fato de que “esses valores não se
aplicam aos casos de prédios em alvenaria portante, para os quais os critérios devem ser mais
rigorosos”. Acrescentam que “é importante saber distinguir os casos rotineiros daqueles que
requerem uma análise mais criteriosa do problema de recalques (edifícios altos com corpos de
alturas diferentes, vãos grandes, vigas de grande inércia, acabamentos especiais, etc.)”.
Os danos causados por movimentos de fundações são agrupados por Skempton e
MacDonald, apud Teixeira e Godoy (1996), em três categorias principais:

a) danos arquitetônicos, ou à aparência visual da construção. São aqueles visíveis ao


observador comum, causando algum tipo de desconforto: trincas em paredes, recalques
de pisos, desaprumo de edifícios, etc.
b) danos à funcionalidade, ou ao uso da construção. O desaprumo de um edifício pode
causar problemas de desgaste excessivo de elevadores, inverter declividades de pisos e
tubulações. Recalques totais excessivos podem inverter declividade, ou mesmo romper
tubulações, prejudicar o acesso, etc. Recalques diferenciais podem causar o
emperramento de portas e janelas, causar trincas por onde pode passar umidade, etc.
c) danos estruturais. São aqueles causados à estrutura propriamente dita, podendo
comprometer sua estabilidade.

2.4.3. Recalque admissível

Com base num estudo de registros disponíveis, Terzaghi e Peck (1967) concluem que,
para sapatas contínuas carregadas uniformemente e sapatas isoladas de aproximadamente
mesmas dimensões, em areias o recalque diferencial geralmente não excede 50% do maior
recalque observado.
Sob condições extremas, envolvendo tamanhos de sapatas e embutimentos no terreno
muito diferentes, o recalque diferencial geralmente não excede 75% do maior recalque.
Normalmente, é bem menor do que isso.
Esses autores também afirmam que a maioria das estruturas comuns, tais como de
edifícios de escritório, residenciais e industriais, pode sofrer um recalque diferencial de cerca
de 20 mm entre pilares adjacentes. Então, esse recalque diferencial não será excedido se a
43
maior sapata recalcar até 25 mm, mesmo que apoiada na parte mais compressível do depósito
de areia.
Concluindo, Terzaghi e Peck (1967) recomendam valores admissíveis para o recalque
diferencial e recalque total para sapatas em areia de, respectivamente:

δa ≅ 20 mm
e
ρa = 25 mmm

2.4.4. Caso histórico

A tolerância a recalques pode ser aumentada nos casos em que a construção ocorre mais
lentamente do que o normal. Vargas (1955) faz um interessante relato sobre isso, envolvendo a
edificação da Catedral da Sé, na cidade de São Paulo.
Um grupo de 12 colunas de 3,3 m de diâmetro e 23 m de altura, instaladas de 1933 a
1946, foi projetado para suportar uma cúpula de 30 m de diâmetro. Em 1951, antes da execução
da cúpula, a carga já era de 110 MN, distribuída em sapatas com área total de 755 m2, a 6 m de
profundidade. Muitas trincas mostravam que o recalque já devia ser de magnitude considerável
(até 70 mm de recalque diferencial).
Mas a velocidade de carregamento durante a construção fora muito baixa, cerca de 11
MN/ano. Essa foi a razão pela qual a estrutura foi capaz de agüentar recalques tão grandes, sem
causar um dano mais grave (aliás a carga aplicada pôde ser cerca do dobro do valor indicado
para o caso).
Em setembro de 1952, um comitê foi designado pelas autoridades eclesiásticas para
terminar a catedral para o 4º Centenário de São Paulo, a ser celebrado em janeiro de 1954. A
cúpula, que havia sido projetada em pedra, pesando quase 60 MN, tinha que ser construída em
um ano, o que certamente provocaria a ruína da construção. Então, mudou-se o projeto para
uma cúpula bem mais leve, em casca de concreto armado, pesando apenas 12 MN.
Previu-se que, se tal estrutura fosse construída em um ano, a velocidade de
carregamento de 11 MN/ano seria mantida e o recalque não aumentaria muito, o que acabou se
confirmando, pois em 1954 a catedral recalcou 6 mm. A taxa de recalque antes da construção
da cúpula era cerca de 3,5 mm/ano.
Se a catedral tivesse sido construída em tempo bem mais curto, certamente teria havido
um grande desastre.
44

2.5. MÓDULO DE DEFORMABILIDADE E COEFICIENTE DE POISSON

2.5.1. Módulo de deformabilidade

Não se dispondo de ensaios de laboratório nem de prova de carga sobre placa, para a
determinação do módulo de deformabilidade do solo (Es) podem ser utilizadas correlações com
a resistência de ponta do cone (qc) ou com o índice de resistência à penetração (N) da
sondagem SPT como, por exemplo, as apresentadas por Teixeira e Godoy (1996):

Es = α qc

e, com qc = K N,

Es = α K N

onde α e K são coeficientes empíricos dados nas Tabelas 3 e 4, em função do tipo de solo. Esse
coeficiente α correlaciona qc com Es e, portanto, não deve ser confundido com o coeficiente α
de Aoki-Velloso (1975), que transforma qc em atrito lateral unitário do próprio cone. Já o
coeficiente K tem o mesmo significado de Aoki-Velloso (1975) e, por isso, os valores da
Tabela 4 têm a mesma ordem de grandeza dos valores de Aoki-Velloso (1975).

Tabela 3 . Coeficiente α
(Teixeira e Godoy, 1996)
solo α
areia 3
silte 5
argila 7

Tabela 4. Coeficiente K
(Teixeira e Godoy, 1996)
solo K (MPa)
areia com pedregulhos 1,1
areia 0,9
areia siltosa 0,7
areia argilosa 0,55
45
silte arenoso 0,45
silte 0,35
argila arenosa 0,3
silte argiloso 0,25
argila siltosa 0,2

Observa-se que para areias (α = 3), a correlação de Es com qc resulta em:

Es = 3 qc

que é comparável às correlações de Schemertmann (1978).


De acordo com D’Appolonia et al. (1970), a presença do lençol freático pode ser
ignorada porque seu efeito no módulo de deformabilidade é refletido na obtenção de N,
ratificando Meyerhof (1965). O recalque aumenta com a saturação da areia de um valor que,
dependendo do autor ,pode ser desde 1/3 (Bolognesi, 1969) até 100% (Terzaghi e Peck, 1948;
Terzaghi ePeck, 1967). Mas há controvérsias sobre o fato do valor de N traduzir a influência da
saturação na areia.

2.5.2. Coeficiente de Poisson

Teixeira e Godoy (1996) também apresentam valores típicos para o coeficiente de


Poisson do solo (ν), reproduzidos na Tabela 5.

Tabela 5. Coeficiente de Poisson (Teixeira e Godoy, 1996)


Solo υ
areia pouco compacta 0,2
areia compacta 0,4
silte 0,3-0,5
argila saturada 0,4-0,5
argila não saturada 0,1-0,3

Simons e Menzies (1981) observam que ν não é constante, variando desde o valor não-
drenado no momento do carregamento (νu = 0,5 para o caso ideal não-drenado) até valores
drenados no fim da dissipação do excesso de pressões neutras.
De acordo com Mayne e Poulos (1999), pesquisas mais recentes mostram que os valores
drenados de ν são bem menores do que se acreditava. Para carregamento drenado em todos
tipos de solo, incluindo areias e argilas, tem-se:
46
ν’ = 0,15 ± 0,05

Esses autores confirmam νu = 0,5 para condições não-drenadas envolvendo


carregamentos rápidos em argilas saturadas.

3. ESTACA ISOLADA.

3.1. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA

A fundação por estaca isolada é um sistema formado pelo elemento estrutural


denominado estaca, de dimensões (B x L) e, pelo maciço de solo de espessura H que o envolve.
O esquema de equilíbrio estático da fundação por estaca isolada, sob ação de uma solicitação
vertical V, encontra-se ilustrado na Figura 15.

V V

Vl
Rl
L

H = B + Vp

A C Rp A

Ra Ra

a) equilíbrio da fundação por b) equilíbrio da estaca c) equilíbrio do maciço de solos


estaca isolada
Figura 15 - Equilíbrio estático da fundação por estaca

A Figura 15a mostra que a solicitação externa V é equilibrada pela resultante Ra das
tensões de reação de apoio, distribuídas ao longo da interface com a superfície do indeslocável,
que se encontra no interior do maciço de solo, a uma certa profundidade C abaixo da base da
estaca. A Figura 15b mostra o equilíbrio da estaca sob ação da solicitação V e das resultantes
Rp e Rl das tensões de reações verticais nas interfaces de contato, respectivamente, sob a base e
ao longo do fuste da estaca, com o maciço de solo. O equilíbrio estático exige que:

Rp + Rl = V

A Figura 15c apresenta o equilíbrio do maciço de solo sob a ação das resultantes Vp e Vl
e da resultante Ra das tensões de reação verticais de apoio, distribuídas ao longo da superfície
do indeslocável. O equilíbrio estático exige que:

Ra = Vp + Vl = Rp + Rl =V
47
Sob ação da solicitação V externa e das forças reativas Rp e Rl a estaca se deforma e o
equilíbrio interno gera o aparecimento de um esforço normal N de compressão, em cada seção
transversal z da mesma. No caso de uma peça de concreto armado, cada seção deve ser
devidamente armada para resistir a este esforço, considerando as dimensões e a resistência dos
materiais componentes: concreto e aço (dimensionamento estrutural). O encurtamento do fuste
ρe depende da área da seção transversal Ac, do comprimento L , do módulo de elasticidade Ec
da estaca e do diagrama de forças normais N(z), podendo ser calculado pela lei de Hooke :

L
N ( z ) dz
ρe = ∫ A cE c
0
ou
1 L
ρe ≅ .∑ N(z) ⋅ ∆ z
A cEc 0

Sob ação das forças ativas Vp e Vl o maciço de solo se deforma e o equilíbrio interno gera
o aparecimento de tensões e deformações, em cada ponto A do meio contínuo (Figura
15c). Devido às deformações verticais do solo sob a base do elemento estrutural, a ponta (ou
base) da estaca se move verticalmente acompanhando o movimento descendente do solo, de um
valor denominado recalque do solo ρs,, atendendo à condição de continuidade do sistema no
contato. Este recalque ρs possui duas componentes (VESIC 1978):
ρs = ρs,l + ρs,p

onde: ρs,l = parcela de deslocamento devido à ação da força ativa Vl ao longo do fuste ;
ρs,p= parcela de deslocamento devido à ação da força ativa Vb sob a base.

O recalque do ponto de aplicação da solicitação V (Figura 15a) é igual à soma do


recalque do solo com o encurtamento do fuste:

ρ = ρs + ρe

A soma R = Rp + Rl não cresce indefinidamente e existe um valor limite Ru que não pode
ser ultrapassado. Considera-se que este limite superior ou carga de ruptura é atingido, quando o
sistema se desloca como um corpo que não se deforma mais, porque as tensões se mantém
constantes (corpo rígido). Ao atingir este estado limite os materiais (da estaca e do solo na
interface) perdem a capacidade de acumular energia de deformação elástica. Pelo teorema do
limite superior, as forças reativas R não são menores do que aquelas correspondentes à
resistência na ruptura Ru, determinadas igualando-se a taxa de variação externa do trabalho das
forças à taxa de variação interna de dissipação de energia de deformação, para um dado campo
de velocidades que satisfaz: (a) as condições de contorno de velocidade e, (b) às condições de
compatibilidade de deformações e de velocidades.

No caso de solicitação estática a resultante das forças reativas é igual à resistência última
do sistema. Portanto, as forças reativas Rl e Rp não crescem indefinidamente, apresentando
valores limites máximos correspondentes ao teorema do limite superior. Assim, a força de
reação resultante máxima Ru denominada capacidade de carga da fundação por estaca isolada
pode ser estimada a partir da geometria do sistema (B, L, H, C) e das propriedades do solo ( Es,
48
c, φ, etc..), considerando-se que, na ruptura V = Ru e o diagrama de forças normais N(z)
torna-se um invariante, onde:

Ru = Rp,u + Rl,u = constante na ruptura

O sistema de fundação por estaca isolada solicitado por uma força vertical V = Ru, que
mobiliza as forças reativas máximas Rp,u e Rl,u, é um exemplo de sistema fundamental
geotecnicamente determinado. Sob ação desta solicitação o recalque é indeterminado e para
uma solicitação V < Ru, onde:

V = Vl + Vp

temos Vl ≤ Rl,u
Vp ≤ Rp,u.

Como a fundação por estaca é um sistema que rompe pelo elo mais fraco, verifica-se
também que a solicitação não pode ser maior do que a resistência estrutural Re da estaca, ou
seja:

V ≤ Re.

Um modelo simples de transferência de carga da estaca isolada para o maciço de solo, no


caso em que o comportamento é comandado pelo solo, encontra-se em Aoki (1989). Neste
modelo consideram-se conhecidos os diagramas de atrito local Q(z), atrito acumulado Rl(z),
força normal N(z) e recalque ρ(z), indicados na Figura 16.

Figura 16 – Diagramas de transferência de carga estaca-solo.

O sistema possui elevado grau de hiperestaticidade uma vez que as reações de apoio são
continuamente distribuídas ao longo do fuste e base da estaca. Neste contexto estas reações são
dependentes do perfil do solo, isto é, da natureza, resistência e rigidez das diferentes camadas
de solo ao longo do fuste e sob a ponta da estaca, até a superfície do indeslocável. A questão é
como determinar o diagrama de transferência de carga Q(z) de atrito local ao longo do fuste e a
reação do solo sob a ponta representada por Rp. Uma vez determinadas estas reações e
49
desprezando-se o peso próprio da estaca, pode-se escrever que o diagrama de atrito total,
acumulado do topo da estaca até (z), vale:

z
R l (z) = ∫ Q(z).dz
L +C

Este diagrama pode ser estimado pela expressão:

z
R l (z) ≅ ∑ Q(z) . ∆z
L+C

O diagrama de força normal na seção (z), vale:

N(z) = V - Rl(z)

Para a seção do pé da estaca (z=C), o atrito lateral total acumulado será igual a:

C
Rl = Rl (C) ≅ ∑ Q(z) . ∆ z
L +C

Por outro lado, como visto no item anterior, o equilíbrio estático exige que:

V = Rl + Rp
Para se estimar a parcela de recalque ρs é necessário recorrer a um modelo matemático para
representar o comportamento do maciço de solo. De acordo com Vésic (1975), pode-se recorrer
aos seguintes modelos: a) funções de transferência de carga (curvas t-z); b) meio homogêneo
elástico semi-infinito, isótropo, com módulo de elasticidade Es e coeficiente de Poisson ν; c)
método de elementos finitos e, d) método dos elementos de contorno. No presente caso
emprega-se o modelo do meio elástico que permite considerar a continuidade do maciço de
solo na avaliação da parcela de recalque ρs sob a ponta da estaca. A Figura 17 mostra a ação da
estaca sobre o solo (equilíbrio do maciço de solos). O diagrama de recalques ao longo do
eixo vertical para pontos abaixo da ponta da estaca cresce a partir da superfície do indeslocável
e atinge o valor ρs sob a ponta da estaca.
50

Figura 17– Ação da estaca sobre o maciço de solo.

As soluções clássicas de Poulos (1972, 1980) e seus seguidores, largamente utilizadas


na prática, lançam mão da solução de Mindlin (1936) e das hipóteses simplificadoras de
Steinbrenner (1934), considerando a continuidade de deslocamento na interface estaca - solo.
Entretanto o diagrama de atrito local Q(z) resultante pode não ser compatível com o atrito local
na ruptura, invalidando estas soluções, uma vez que, atingido este valor, passa a ocorrer
deslizamento entre estaca e solo. Na realidade o atrito local na ruptura é extremamente variável
tornando-se impraticável a aplicação de métodos de cálculo mais refinados.
Conforme explicado uma solução simples para resolver este problema foi apresentado
por Aoki (1979, 1989), que determina os diagramas de atrito Q(z) e a reação Rp, a partir dos
seguintes fatos experimentais: a) o atrito total na ruptura Rl,u, resultante das reações do solo ao
longo do fuste, é quase completamente mobilizado para pequenos deslocamentos do topo da
estaca de 4 mm a 10 mm, aparentemente independentes do tipo ou dimensão da estaca; b) a
resistência pela ponta na ruptura Rp,u, é mobilizada para grandes deslocamentos, sendo
dependente das dimensões da estaca, ou seja, 10% do diâmetro para as estacas cravadas e até
30% do diâmetro para as estacas escavadas. Estes fatos evidenciam que o atrito lateral é
mobilizado antes da ponta, podendo-se admitir, de forma simplificada, que a reação pela ponta
só se inicia após a total mobilização do atrito lateral.
Portanto o sistema fundamental geotecnicamente determinado mostra que a reação do
solo do solo na ruptura Ru corresponde a:

Ru = Rp,u + Rl,u

Considerando a Figura 18, verifica-se que para uma solicitação aplicada V maior que o
atrito total na ruptura Ru,l e menor que a carga na ruptura Ru, ou seja:

Rl,u < V < Ru

Neste caso quase todo o atrito lateral estaria mobilizado e a diferença entre a solicitação
aplicada V e o atrito total na ruptura Rl,u seria suportado pela carga na ponta Rp:

Rp = V - Rl,u
51

Figura 18 – Diagramas simplificados de transferência de carga

Em conseqüência o diagrama de atrito acumulado seria igual ao diagrama de atrito na


ruptura e, portanto:

Rl(z) = Rl,u (z)

O diagrama de força normal seria:

N(z) = V - Rl(z)

Para uma solicitação aplicada V menor que a resistência por atrito Rl,u os recalques
seriam da ordem de alguns milímetros e toda a carga seria suportada pelo fuste. Neste caso a
expressão acima poderia ser usada com a condição:
Rp,u = 0

Alternativamente, supondo que o diagrama de atrito mobilizado ao longo da estaca,


fosse proporcional ao diagrama de atrito na ruptura, poderia ser usada a seguinte expressão:
 R (z) 
N(z) = V1 − l 
 R l, u 
 
Nesta proposição, o diagrama de transferência de carga, ou seja o atrito local Q(z), vai
depender somente do conhecimento do atrito lateral na ruptura nas camadas de solo ao longo
do fuste da estaca. Este diagrama pode ser estimado, por exemplo, por métodos teóricos ou
empíricos, como por exemplo Aoki & Velloso (1975) ou Décourt & Quaresma (1978).
Sob a ação da solicitação Q(z) e da carga Rp, transmitidas pela estaca ao solo, as
camadas situadas entre a ponta da estaca e a superfície do indeslocável, sofrem deformações
que resultam no deslocamento ρs do pé da estaca. O cálculo do recalque ρs pode ser feito, por
exemplo, pelas fórmulas de integração numérica, propostas por Aoki e Lopes (1975), das
equações de Mindlin (1936), com a simplificação de Steinbrenner (1934), para levar em conta a
estratificação das camadas. Este método permite a consideração de um perfil arbitrário de solo
estratificado, sob a ação de um grupo qualquer de estacas cilíndricas ou prismáticas, carregadas
52
de forma arbitrária ao longo dos fustes e pelas pontas. Conhecidas as parcelas ρe e ρs calcula-
se o recalque ρ, correspondente à solicitação aplicada V, pela a expressão:

ρ = ρs + ρe

3.2. ESTIMATIVA DO RECALQUE DA PONTA DA ESTACA (ρs)

A Figura 19 apresenta um esquema de cálculo simplificado do efeito de uma força Fi,


aplicada em uma seção "i" ao longo do fuste ou na ponta da estaca, sobre as várias camadas de
solo de espessura Hi.

Fi

G 1
2
base da estaca
A

∆σ
C
subcamada =
= Hi

G +C G +C
  B  
 2   2 
(B + G + C)

Figura 19 - Esquema de cálculo simplificado para estimativa do recalque da ponta da estaca

A tensão de compressão devido à ação de P = Σ Fi, sobre estas camadas será:


4 ⋅ Fi
∆σ = ∑
π ⋅ (B + G i + C)
2

A deformação da camada de espessura Hi, será:

∆σ ⋅ H i
∆H i =
Es
53
onde: Es – módulo de deformabilidade do solo:

Es = 6 . K . N para estaca cravada


Es = 4 . K . N para estaca hélice contínua
Es = 3 . K . N para estaca escavada

Finalmente, o deslocamento do ponto A (ponta da estaca) é dado por:

1
ρs = ∑ ∆H i
i =1

3.3. PREVISÃO DA CURVA CARGA-RECALQUE

A previsão da curva carga - recalque de uma estaca é particularmente difícil para os


níveis de carregamento que provocam deformações permanentes no maciço de solo. A
experiência adquirida na extrapolação da curva carga - recalque, pelo método de Van der Veen
(1953), mostrou que a curva interpolada coincide bem com os valores medidos, sendo um
método válido quando o valor da carga de ruptura extrapolado é menor que o dobro da carga
máxima aplicada. Deste modo a expressão proposta por este autor pode ser usada para
representar a curva carga-recalque que atenda esta condição. A equação da curva seria:

V = Ru.[ 1- exp (- α.ρ) ]

A metodologia para a determinação da curva carga - recalque compreende: a)


estimativa da carga de ruptura Ru por qualquer método de cálculo; b) o cálculo do recalque ρ
para a solicitação V < Ru/2. O valor α é calculado pela expressão:
V
− ln ( 1 − )
R
α= u
ρ

Na Figura 20 apresenta-se exemplo típico de comparação entre a curva carga-recalque


prevista e a obtida em prova de carga estática. O diagrama de força normal correspondente à
solicitação medida de 250 kN encontra-se na Figura 21.
54

Figura 20 – Curva carga – recalque Figura 21 – Diagrama de força normal.

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