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MICA
(05/2023)
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Resumo
Abstract
iii
Índice
Resumo e Abstract…………………………………………………………………….iii
Índice de figuras………………………………………………………………………...v
Introdução………………………………………………………………………………1
Capítulo I………………………………………………………………………..………2
2 – A música improvisada……………………………………………………………….5
3 – Hibridismo musical…………………………………………………….……………6
Capítulo II……………………………..………………………………..………………8
1 – Os casos de hibridismo………………………………………………………………8
Conclusão……………………………………………………………………………...14
Capítulo III…………………………………………………………………………….15
1.2 – Recursos…………………………………………………………………………..15
Anexo…………………………………………………………………………………..16
Cronograma…………………………………………………………………………….16
Orçamento……………………………………………………………………………...16
Resultados Esperados…………………………………………………………………18
Bibliografia…………………………………………………………………………….19
iv
Índice de figuras
v
Introdução
Neste projeto vai ser investigado a possibilidade de haver um hibridismo musical entre a
música improvisada e o cante alentejano. Com vista a criar um festival em que se
possam encontrar estas duas vertentes, é importante fazer-se um estudo sobre as razões
que levam a este acontecimento, uma vez que no seu surgimento podem estar
características específicas para tais situações. Uma vez que é ainda muito rarefeito as
provas da existência de uma prática que junta música improvisada e cante alentejano, a
abordagem a esta temática terá de ser realizada de várias formas, sendo, por exemplo, a
audição de registos musicais, uma peça fundamental para o trabalho. Serão feitas breves
contextualizações sobre o cante alentejano e a música improvisada, através de:
documentos que expõem uma ideia do que é o jazz ou o cante alentejano e de algumas
teses que exploram o facto de haver um surgimento de elementos da música tradicional
portuguesa em composições e arranjos de músicos que que vêm a sua formação passar
por uma área musical que visa a improvisação. É certo que não existe concretamente a
ideia de uma fusão entre os dois, mas tanto como num tema do CD (Respeitosa Mente)
de Ricardo Ribeiro, As Mondadeiras, como no espetáculo Mar-Planície, integrado no
festival Artes à Rua realizado em Évora a 15 de agosto de 2019, os músicos que
integram estes dois acontecimentos, têm na sua formação ou o cante alentejano, ou a
improvisação. Nos dois casos o pianista convidado a participar João Paulo Esteves da
Silva, nome incontornável do jazz em Portugal. No caso de Amílcar Vasques-Dias,
apesar de não ter formação em improvisação, passou por uma formação que lhe permite
realizar um CD que junta música improvisada e cante alentejano. Com a possibilidade
de se poder fazer uma ponte de ligação entre os dois estilos, surge também a
possibilidade de se poder criar uma música que poderá levar o melhor dos dois mundos
aos ouvidos mais remotos a partir de composições que envolvam os dois.Este trabalho
encontrar-se-á dividido em três capítulos. Um primeiro em que se abordará uma
perspetiva do que se pode encontrar como definições base de música improvisada, cante
alentejano e hibridismo musical. Como forma de fundamentar esta temática, num
segundo capítulo será apresentado a verificação deste cruzamento em três casos. E por
fim um terceiro em que se explorará a possibilidade de fazer acontecer um festival que
possibilite acontecer uma junção destas duas práticas musicais, para a criação de uma
nova abordagem musical.
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Capítulo I
1- O que se entende por cante alentejano
É certo que não é fácil encontrar uma definição absoluta para uma prática musical tão
enraizada na nossa cultura, já esta, no dia 27 de novembro de 2014, no decurso da nona
reunião do Comité Internacional da UNESCO para a Salvaguarda do Património
Cultural Imaterial, a decorrer em Paris, o Cante Alentejano foi declarado Património
Cultural Imaterial da Humanidade (Simão, 2015). Ainda assim alguns autores procuram
deixar uma que possa dar um entendimento facilitado a esta prática musical. Um deles é
António Marvão, que no seu livro, ESTUDOS SOBRE O CANTE ALENTEJANO, nos
elucida do que se entende por cante alentejano:
(…) é uma polifonia simples, a duas vozes paralelas, à terceira superior. Como
polifonia, situamo-la na época em que esta tinha o principal lugar na música, toda ela
vocal, a que se deu o nome de Milénio vocal, uma polifonia sem instrumentos. O cante
alentejano é composto de modas, nas quais sobressaem, em algumas delas dois sistemas
musicais, inteiramente distintos: sistema modal, (…), e o sistema tonal (…). O sistema
modal grego, adaptado e modificado (…), era composto dos modos Dórico, Frígio,
Lídio, Mixolídio e Eólio. Os modos gregos tinham também sete notas, cujos tons
variavam na escala, ao contrário das nossas escalas, cujas melodias giram em volta da
tónica ou da superdominante, segundo o tom é maior ou menor. Os vestígios dos modos
que nos aparecem nalgumas modas alentejanas são do Mixolídio, (…), do Lídio (…).
Estes restos do sistema modal encontram-se, especialmente, nas frases finais das modas
alentejanas.
g) serem uma polifonia a duas vozes paralelas, à terceira superior. (p. 412-413)
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formais, mistos, masculinos ou femininos. Requer três papeis - o ponto (solista), que
normalmente inicia o canto; o alto (solista, que entra depois do ponto e canta uma 3ª
acima, fazendo por vezes a quinta, ou a 10ª acima do coro, frequentemente
ornamentando a melodia, e destacando-se deste); e os baixos ou segundas que entram
após o alto (Castelo-Branco 2014; Castelo-Branco 2008).
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Fig. 2 – Grupo Coral ‘’Amigos do Cante’’ (Alvito)
Com esta amostra, é assim possível termos um entendimento sobre o cante alentejano
que nos possibilita a interação com a sua estrutura musical. No espetáculo Mar-Planície
do festival Artes à Rua, no tema As Mondadeiras e no CD de Amílcar Vasques-Dias, é
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verificado que estas componentes estão presentes. Estando as características principais
do cante alentejano nestes três acontecimentos, podemos afirmar que este cruzamento
de facto existe, não comprometendo a integridade do cante.
2 – A música improvisada
Portanto, a música improvisada não é obrigatoriamente jazz, mas sim uma complexa
destreza de composição em tempo real realizada pelo executante.
Visto que em dois dos casos os músicos integrantes dos projectos são músicos de jazz, é
importante termos uma breve definição do que se entende por música improvisada em
contexto jazzístico. Uma vez que o próprio jazz não existe sem improvisação, a parte
que toca a mesma, fica definida em cima, passando apenas a uma ideia do quse pode
chamar jazz. Ao nível do jazz, a improvisação não se distancia em muito do texto acima
referido, mas tem, obviamente, as suas diferenças. Para Clark (2001), não existe bem
uma definição de jazz. Mas é certo que cinco característica não podem faltar:
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1. O jazz tem certas peculiaridades (e.g. “blue” e escalas maiores comuns). (…) 2. O
Jazz apoia-se fortemente e provavelmente fundamentalmente num outro elemento, o
ritmo (e.g. “beat” e sincopação) (…) essencial para o jazz (…) o elemento organizador
da música (…). 3. Jazz emprega cores instrumentais e vocais peculiares (ou “tom” e
“vozes”). (…) 4. Jazz desenvolveu certas formas musicais e reportório específico (e0.g.
blues e ‘’ballad’’). (…) 5. Jazz é a música de um músico (e.g. improvisação individual e
coletiva) (Clark 2001: 19).
Encontramos assim uma forma de poder ligar a improvisação aos outros estilos
musicais, possibilitando assim uma nova música, com uma prespectiva mais abrangente
do que uma estando escrita, permitindo ao seu executante, colocar a sua própria marca
naquilo que estão a fazer, pensar, tocar, não colocando a composição em si em causa.
3 – Hibridismo musical
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Esta observação feita pelo autor podemos verificar que na configuração cultural do
México, acontece uma mistura de indígenas, colonizadores europeus, crioulo,
mexicanos nativos e mexicanos emigrantes, que convivem interagindo as suas formas
culturais e como consequência concede ao México características culturais únicas e
híbridas. (Cassão, Ferreira e Prandi).
Este conceito musical implica uma junção de dois ou mais contextos diferentes, em que
se juntam para formar um novo contexto, sem que nenhum dos núcleos de cada prática
das partes seja posta em questão (Piedade, A). Segundo este autor, podemos identificar
dois tipos de hibridismo: um que pressupõe uma real fusão entre os ‘’dois corpos’’, ou
seja, ‘’A’’ e ‘’B’’ deixam de ser enquanto tais, e passa a ser um novo corpo estável
‘’C’’, o híbrido. Chama a este, hibridismo homeostático. Num outro caso, pode
acontecer um hibridismo contrastivo, que leva a que ‘’A’’ e ‘’B’’ não se fundam, não
criando um corpo ‘’C’’, mas um ‘’AB’’.
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Capítulo II
1 – Os casos de hibridismo
Os três momentos estudados para este trabalho, são casos diferentes. Sendo dois em
contexto de gravação de CD e um outro em contexto de espetáculo. Nestes casos é
verificado um hibridismo musical algo incomum e pouco praticado até hoje. Surge
através destes momentos uma nova música que junta o cante alentejano com a música
improvisada.
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Fig. 4 – CD ‘’Respeitosa Mente’’ de Ricardo Ribeiro, nº10 (tema em questão)
Neste caso, podemos verificar já a música improvisada de João Paulo Esteves da Silva e
Jarrod Cagwin e a voz de Ricardo Ribeiro serem fundidas de uma forma em que a moda
alentejana não perde as suas características, e a música improvisada torna-se presente de
uma forma bastante presente. Estes dois músicos de jazz não conseguem deixar passar a
oportunidade de deixar a sua marca neste tema, originando assim um hibridismo
homeostático em que nenhum dos dois perde o seu núcleo, e conseguem assim uma
ponte de entendimento para que os dois, coexistindo, deem surgimento a um novo
produto, neste caso inovador, dando uma nova perspetiva à música portuguesa.
1.2– EM CANTE
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Fig. 5 – CD ‘’EM CANTE’’
Neste caso, este pianista aborda o Piano de uma forma mais livre, permitindo a música
ter o seu espaço para falar através da improvisação. As duas vozes seguem à risca a
forma de cantar do cante alentejano, não deixando a sua identidade para trás. O mesmo
acontece com o piano de Amílcar, apenas a harmonia é coincidente par que a
dissonância não seja tão predominante nos nossos ouvidos. Mas o que é certo é que a
abordagem ao piano é completamente improvisada, não interligando assim de uma
forma direta como as vozes. Como podemos ver na sua entrevista, o pianista faz por
encontrar uma abordagem pianística que se assemelhe de melhor forma à ‘’paisagem
musical’’ que se está a ouvir. Estamos perante um cado de música híbrida, não há
dúvida. Mas neste caso o melhor hibridismo para o definir seria o contrativo. Com a
opinião já referida em cima, mas voltando a citar, podemos verificar que:
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1.3– O Espetáculo Mar-Planície
Este espetáculo, integrado no festival ‘’Artes à Rua’’ juntou de forma pioneira, a música
improvisada e o cante alentejano a 15 de agosto de 2019 em Évora. “Mar-Planície” é
um espetáculo que “junta pela primeira vez de forma sustentada o cante alentejano”,
classificado como Património Imaterial pela UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura), “e a música improvisada, criando uma nova
abordagem conjunta para a qual foi escrita música original”, segundo o comunicado que
divulga o projeto. Para esta “mistura de diferentes sonoridades”, o saxofonista e
compositor Carlos Martins, ligado à área do jazz, convidou os músicos João Paulo
Esteves da Silva, Carlos Barretto, Mário Delgado, Alexandre Frazão, Manuel Linhares,
Joana Guerra e José Conde, além do Grupo Cantares de Évora. (ptjornal.com). Na
entrevista feita pelo ‘’Artes à Rua’’ a Carlos Martins, afirma que: ‘’pude contar com Zé
Luís Peixoto, que fez umas modinhas simples também… ou seja, fizemos uma coisa os
dois que foi respeitar a tradição e criar contemporâneo a partir da tradição (…) o grupo
de cantares de Évora foi dizendo que sim e não… e isso, não há nada melhor para um
artista do que ter alguém que lhe vá dizendo que sim e não. Ou seja, para mim, não há
nada melhor (…) dá a sensação de que a limitação, qualquer que seja, é uma grande
fonte de inspiração’’. Já uma individua portuguesa, de idade mais avançada,
entrevistada durante o espetáculo afirmou que: ‘’ o que tenho visto tenho gostado, e
hoje estava curiosa de ver como é que o cante alentejano se metia com o jazz e vice-
versa, e gostei muito da participação do grupo de cantares com o jazz’’.
Infelizmente para este acontecimento, não existe registo vídeo ou áudio para poder
fundamentar o acontecimento. Mas através de variadas notícias em vários sites, jornais e
com esta reportagem do ‘’Artes à Rua’’, pode-se confirmar este acontecimento. Não
conseguimos de facto entender bem qual será o tipo de hibridismo aqui realizado, mas
podemos ter mais uma prova de que esta nova perspetiva de que o cante alentejano e a
música improvisada estão a ir de mão dadas a novos acontecimentos, com público a
querer conhecer esta nova abordagem.
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Fig. 6 – Grupo de Cantares de Évora no espetáculo
1.4– Entrevistas
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pretende entrevistar seriam: Ricardo Ribeiro; Amílcar Vasques-Dias, Joaquim Soares e
Pedro Calado; João Paulo Esteves da Silva e Carlos Martins.
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Conclusão
Com este trabalho pode-se concluir que existe de fato uma ponte de ligação entre o
cante alentejano e a música improvisada. Estes três momentos justificam esta ideia de
um hibridismo possível entre estas duas práticas musicais. É importante que se faça
mais investigação sobre este tema, já que ele está por se afirmar.
O facto de uma prática musical, dita como tradicional, está sempre em constante
mudança e propicia a encontrar-se com novas ideias. Estes acontecimentos são prova de
que se pode criar algo sem comprometer as tradições de uma musicalidade, dando
origem a uma nova perspetiva do que é a música tradicional e do que é a música
propriamente em si. Deixando nos levar por esta imensa mescla de música, podemos
concluir que a música ultrapassa barreira que muitas vezes são impostas pela sociedade.
Nunca se calhar pensariam os meus antepassados que poderia uma vertente musical
oriunda do Alentejo vir a juntar-se com uma prática que surge num contexto
completamente diferente e com a qual não se lhe acharia grande parecença. É verdade
que a improvisação tem um papel fundamental, já que a partir daí as regras impostas são
bastante mais abrangentes.
O caminho que estes três acontecimentos abriram foi enorme para o cante alentejano,
possibilitando assim uma abertura maior à sua prática, por diferentes perspetivas
musicais, sempre com vista à sua preservação.
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Capítulo III
1.2 – Recursos
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Anexo
Cronograma
5/23 6/23 7/23 8/23 9/23 10/23 11/23 12/23 1/24 2/24 3/24 4/24
a)
b)
c) * * * * *
d) * * * *
e)
f)
g)
h)
Orçamento
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que identifica um orçamento para um evento de três dias, realizado pela associação
‘’PédeXumbo’’ em 2021.
ENCONTRO DE TOCADORES
O Encontro de Tocadores consiste num evento de três dias que pretende juntar
tocadores de instrumentos tradicionais de gerações distintas.
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Resultados esperados
Estima-se que a aderência ao festival irá ser bastante elevado. Sendo que Évora é uma
cidade bastante central na zona sul de Portugal, está perto de várias metrópoles
portuguesas e até espanholas com uma grande abrangência musical das duas práticas. O
interesse pelo cante alentejano tem vindo a subir a cada ano que passa desde a sua
entrada para a UNESCO, pelo que este seria mais um ponto de atração para vários
artistas desta área. Do lado da improvisação, os músicos sempre buscam novas vertentes
que proporcionem a abertura de novos horizontes para explorar. Como se pode verificar
pelos casos anteriormente descritos, a aderência a esta atividade será de alta
participação!
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Bibliografia
Anónimo (s.d.-p), "Diary - Eric Hobsbawm", http://www.lrb.co.uk/v32/n10/eric-
hobsbawm/diary, acedido em 05/2023.
19
Castelo-Branco, S.El-S.(1992). Some Aspects of the “Cante” Tradition of the town
Cuba: Portugal". In Livro de Homenagem a Macario Santiago Kastner, editado por
Maria Fernanda Cidrais Rodrigues; Manuel Morais; Nery, Rui Vieira, 547-561. Lisbon,
Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian - Serviço de Música.
CLARK, Andrew (2001), Riffs and Choruses: a New Jazz Anthology, New York:
Continuum.
Gridley, M; Hoff, R & Maxham, R (1989). Three Approaches to Defining Jazz. THE
MUSIC QUARTERLY, Vol.73 (4), 513-531
Martin, H. & Waters, K. (2008). Essencial Jazz: The First 100 Years (2nd ed.). Boston,
EUA: Schimer
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Porto, S. (2014). Tradição musical português e contemporaneidade.
http://hdl.handle.net/10400.26/5294 (10/2022)
[Portuguese Music Research & Information Centre]. (2020, March 27). NA 1.ª
PESSOA, entrevista com Amílcar Vasques-Dias [Video]. Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=1VY9aMYRaKQ
Quaresma, André Oliveira (2021) A música de Jorge Lima Barreto na década de 1970
(Dissertação de mestrado, Faculdade de Letras das Universidade de Coimbra).
Repositório científico da UC. http://hdl.handle.net/10316/99459 (10/2022)
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