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TRABALHO DE GRADUAÇÃO - ENGENHARIAS

RECUPERAÇÃO DE TINTAS FLEXOGRÁFICAS CONTAMINADAS E


SOLIDIFICADAS

Danilo Heneberthe dos Anjos1, Diego Hueberthe dos Anjos1, Joaquim Augusto Aguelera1
Dr. Mario Eusébio Torres Alvarez2
Universidade São Francisco
danilo.heneberthe@yahoo.com.br
1
Alunos do Curso de Engenharia Química, Universidade São Francisco; Campus Swift
2
Professor Orientador do Curso de Engenharia Química, Universidade São Francisco;
Campus Swift, Campinas - SP

Resumo. Na área de impressão de embalagens, a tinta flexográfica representa um dos


custos mais altos na produção do produto. No processo de fabricação de embalagens, grandes
quantidades de tinta acabam não sendo utilizadas e voltam a serem armazenadas no estoque.
O objetivo deste trabalho foi estudar e analisar através de planejamento experimental as
variáveis que afetam o processo de recuperação de tintas, a fim de recuperar as tintas
contaminadas e solidificadas transformando-as em tinta flexográfica preta e avaliar o
desempenho da mesma após a recuperação. O planejamento experimental possibilita a
identificação das variáveis manipuladas e a avaliação do efeito de cada uma destas no
resultado das amostras. A partir deste material, foi possível produzir tinta flexográfica preta,
realizar as análises de qualidade, verificando os níveis de viscosidade, pH, luminosidade e
compara-los aos parâmetros de tinta flexográfica padrão.

Palavras-chave: Tinta flexográfica, recuperação, planejamento experimental.

Introdução

Segundo a consultoria RISI, em 2010, o papelão ondulado respondeu por 35% do


consumo aparente global de todos os tipos de papéis, tornando o papel mais consumido do
mundo. Acompanhando ao crescente consumo do papelão ondulado, cresce o consumo de
tinta nas fábricas de embalagens de papelão ondulado.
Na área de impressão de embalagens, a tinta flexográfica representa um dos custos
mais altos na produção.
Tinta flexográfica é classificada uma mistura líquida, podendo ser viscosa, composta
por um ou mais pigmentos dispersos em um aglomerante líquido que, quando aplicada em
película fina e curada, forma um filme opaco e aderente ao substrato. Esse filme tem a
finalidade de proteger as superfícies e agregar valor às embalagens. (FAZENDA, 2009).
Em geral, tintas são constituídas por alguns componentes básicos, são eles a resina,
pigmento, solvente e os aditivos.
As resinas são compostos poliméricos sintéticos ou naturais, sólidos de estrutura
complexa que possui a função de na tinta dispersar os pigmentos e formar uma fina película
aplicada sobre um substrato. As resinas utilizadas nas tintas possuem características como
resistência química e física, brilho do filme, flexibilidade, dureza (ponto de fusão), adesão e
fixação da película de tinta sobre o substrato. (ABTG, 2016)
A resina é classificada como principal componente de uma tinta ou verniz, pois é
responsável por promover características particularmente desejáveis na aplicação final dos
produtos, a mesma responde pela maioria das propriedades físico-químicas da formulação do
produto. (GENTIL, 1996).
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Os pigmentos são substâncias sólidas, finamente divididas, partículas entre 0,05 µm e
5µm, não voláteis e insolúveis (com exceção do corante) em solução. Material utilizado com a
finalidade de promover cor, opacidade, consistência, durabilidade e resistência à tinta
podendo ser orgânicos ou inorgânicos.
Na composição da tinta, o solvente é o componente mais volátil, incolor e neutro. É
capaz de solubilizar as resinas formando mistura homogênea, melhorando a viscosidade da
tinta, facilitando a aplicabilidade das tintas e aumentando a aderência ao substrato. Após a
aplicação da mesma, a fração líquida do solvente evapora gradualmente, evitando que a tinta
escorra, formando uma película de pigmentos estruturada com a resina. (ANGHINETTI,
2012).
São classificados como aditivos uma enorme quantidade de componentes, que quando
adicionados às tintas em pequenas proporções, normalmente menores que 5%, conferem-lhe
importantes propriedades, por exemplo, a alteração de tempo de secagem.
Segundo levantamento junto a empresas, 10% da tinta que é solicitada para utilização
no processo, acabam não sendo utilizadas, voltando para os estoques. Parte dessa sobra é
reaproveitada em outros processos, mas a maior parte acaba sendo não utilizada ou destinada
a permanecer armazenada no estoque. (CECHINEL, 2000).
As tintas utilizadas na produção de embalagens, são manuseadas por operadores de
impressoras e a geração de resíduo de tinta flexográfica pode variar de acordo com os
métodos de processos e conservação de cada empresa e funcionário. Existem também casos
onde layout de embalagens sofrem alterações, logo estoques de tintas que são utilizadas
nessas embalagens passam a ser descontinuadas e ou obsoletas. Com o passar do tempo a
quantidade desta tinta aumentam e as empresas de embalagens transferem o resíduo para
disposição através de prestadora de serviço, gerando custo para a empresa.
Este trabalho tem finalidade de estudar e analisar via planejamento experimental as
variáveis que afetam o processo de recuperação de tintas; recuperar e transformar as tintas
contaminadas e solidificadas em tinta flexográfica preta; avaliar o desempenho da mesma
após a recuperação.

Utilização da tinta flexográfica

Por ser constituído de maneira simples, altamente sustentável e reciclável, o papelão


ondulado é um dos mais usados na fabricação de embalagens no mundo atual. A embalagem
de papelão ondulado permite proteção aos produtos sensíveis, tais como os alimentos,
perfumaria, eletrônicos entre outros. Garante também às caixas de transporte a resistência
necessária para proteção interna, manuseio, estocagem que um produto está exposto até sua
chegada no consumidor final. (VIDAL, 2012).
A embalagem de papelão ondulado pode ser pintada ou decorada, tornando a mesma
mais atrativa aos olhos do consumidor consequentemente agregando valor ao produto. Grande
parte das tintas e vernizes são base d’água para permitir uma reciclagem com menor impacto
ambiental (OLIVEIRA, 2010).
De acordo com Mestriner (2003) a embalagem de um produto deve passar ao
consumidor que desde a confecção do produto até a concepção final da embalagem foi
pensado nele. Sendo assim a embalagem além de ter funções simples como proteger,
conservar e passar a impressão ao consumidor de que tudo foi feito para ele, ganha outras
funções, tais como chamar a atenção do consumidor nos pontos de vendas. A interação entre
cliente e o produto é realizado também através de embalagens.
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Percepção das cores

Apesar de existir diversos fundamentos quando se trata de visão das cores, a que é
mais aceita defende que existem três tipos de receptores, sensíveis à luz vermelha, luz verde e
luz azul. Ao refletir luz branca sobre o olho humano, a mesma estimula igualmente os três
receptores. A luz vermelha (R) quando refletida sobre o olho, apenas estimularia os receptores
sensíveis àquela radiação, estimulando a percepção da cor vermelha. Quando é vista a cor
ciano , a sensação é resultante da estimulação dos receptores sensíveis ao verde e ao azul, na
mesma intensidade.
Conforme demonstrado na Figura 1, Isaac Newton provou com um experimento que a
sensação de luz branca era o resultado da existência simultânea de “luzes” de vários matizes,
onde o experimento foi constituído em incidir um feixe de luz branca sobre um prisma. A luz
resultante do prisma projetada em uma superfície branca resultou numa incidência de
diferentes matizes próximas às observadas em um arco-íris. O fato do prisma fragmentar a luz
branca comprova o comportamento ondulatório da radiação, visto que este se deve a variação
do índice de refração do prisma nos diferentes comprimentos de onda. As matizes
decompostas estão dessa forma associadas a uma determinada frequência de radiação ou
comprimento de onda.

Figura 1 – Espectro dos comprimentos de onda da luz visível.


Fonte: Souto (2000)

A luz visível, ou seja, as cores enxergadas pelos seres humanos, representa uma
pequena fatia do espectro eletromagnético, que contempla aproximadamente de 400 nm a 700
nm, assim como visto na Figura 2. Desde o ano de 1931, os valores 435,8 nm, 546,1 nm e 700
nm representam espectralmente as três cores primárias aditivas, como azul, verde e vermelho
respectivamente, de acordo com a CIE (Commission Internationale de l’Eclairage) (SOUTO,
2000).

Figura 2 – Espectro dos comprimentos de onda da luz visível.


Fonte: Souto (2000)
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Princípio aditivo

As combinações diferentes e proporções variadas de intensidade da mistura das cores


primarias aditivas, pode simular diversas cores.
Se a luz refletida contendo grande intensidade das luzes vermelha, verde e azul, o olho
humano visualiza a cor branca, e na ausência de luz, é visualizada a cor preta.
Adicionando duas cores aditivas primárias puras, é criada uma cor primária subtrativa
conforme visto na Figura 3.
Os fabricantes de monitores, impressoras e televisores estão pesquisando e copiando o
princípio de percepção de cores pelo sistema visual humano. O método adotado pelos
dispositivos para interpretação das cores é baseado diretamente na resposta humana aos
estímulos à luz vermelha, verde e azul.

Figura 3 – Cores primárias aditivas.


Fonte: Souto (2000)

Princípio subtrativo

Cores primárias pigmento são conhecidas também como cores subtrativas onde suas
cores são classificadas por amarelo, magenta e ciano. Cores primárias subtrativas são
basicamente as cores utilizadas em processo de impressão, com aplicação em variadas
proporções das tintas, resultando nas cores percebidas pelo observador.
Uma tinta pode absorver ou omitir da luz visível, todos as cores, com exceção a sua
cor própria. O ciano omite o comprimento de onda vermelho, o amarelo omite o comprimento
de onda azul e o magenta omite o comprimento de onda verde, originário da luz branca. Na
teoria a combinação destas cores perfeitamente puras, absorvem todos os comprimentos de
onda da luz, resultando assim no preto conforme representada na Figura 4.
Como as proporções podem ter alterações e os pigmentos não são totalmente puros,
alguns comprimentos de onda são refletidos ao invés de serem absorvidos, tendo como
resultado cor castanho turvo. Para corrigir este efeito, adiciona-se a cor preta.

Figura 4 – Cores primárias pigmento


Fonte: Souto (2000)
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Sistema CIE

O sistema CIE (Comission International de L’Eclairage ou ComissãoInternacional de


Iluminantes) é um método que define a sensação da cor baseado em três elementos: a
luminosidade ou claridade, a tonalidade ou matiz e a saturação ou cromaticidade. Estes três
elementos (claridade, saturação e tonalidade) definem o sistema conhecido como CIEL a*b*,
atualmente utilizado na colorimetria (GONÇALEZ, 2001).
A luminosidade define a escala cinza entre o branco e o preto. Pode ser representada,
graficamente, por uma reta perpendicular a um círculo, passando pelo seu centro. É expressa
por uma variável denominada “L” e tem valor definido de 0 para o preto absoluto e 100 para o
branco total.
Sendo assim é possível comparar através do “L” a luminosidade de uma tinta preta,
quanto menor o resultado de L é necessária menos dispersão de pigmento preto para obtenção
da cor desejada.

Metodologia

Neste trabalho foram utilizados os materiais e equipamentos abaixo:

Materiais

- Tinta flexográfica;
- Hidróxido de Amônio (NH4OH);
- Dispersão de pigmento preto;
- Esfera de vidro (0,5 mm);
- Leneta para aplicação de tinta;
- Papel carta branco 75g/m²;
- Espátula;
- Tecido algodão;
- Béquer;
- Detergente;
- Papel Kraft (160 g/m²);
- Peneira de malha fina

Equipamentos

- pHmetro de bancada;
- Viscosímetro Copo Zahn2;
- Espectrofotômetro portátil X-rite;
- Moinho de esfera de bancada Netzsch;
- Balança semi-analítica;
- Aplicador automático Precision Proofer;
- Aplicador Hand Proofer;
- Prufbau Quartant.
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Procedimento

Foram coletadas amostras de resíduos de tintas flexográficas com tonalidades fora de


padrão e solidificadas de uma empresa de embalagens de papelão ondulado. As mesmas
foram armazenadas para preparo e estudo para definição de melhor método de recuperação.
O trabalho experimental foi separado em três fases. A primeira fase foi constituída
apenas para preparação das tintas fora de padrão de tonalidade e solidificadas para realização
da segunda fase que consistiu na verificação e estudo de melhores condições do processo para
recuperação das amostras de tintas. A terceira fase foi a produção da tinta em escala
laboratorial à partir da amostra obtida do ensaio definido com melhores resultados.

Fase I – Preparo da amostra

Em um tanque de inox, foram adicionados 20 kg de tinta flexográfica solidificada e


fora de padrão de tonalidade, mais 0,08 kg de hidróxido de amônio 24%. Em seguida para
diluição e homogeneização dos resíduos, foi utilizado um agitador de bancada a 500 rpm por
15 minutos até a dissolução das partículas solidificadas.
Após a dissolução da amostra, foi utilizado uma peneira de malha fina para retirada de
partículas que não foram dissolvidas.

Fase II – Análise de melhor método de recuperação através de planejamento


experimental fatorial

Para otimização de um processo, desenvolvimento de um produto ou método onde se


possui variáveis, aplica-se estatística para obtenção de respostas.
Um experimento é um planejamento no qual alterações propositais são feitas nas
variáveis de entrada de um processo ou sistema, de modo que se possa avaliar as possíveis
alterações sofridas pelas variáveis respostas, como também as razões de suas alterações.
Um planejamento experimental fatorial, com k fatores, e em cada um deles dois níveis,
é chamado de planejamento fatorial 2k. Essa técnica permite realizar experimentos com cada
uma das combinações do planejamento experimental, e após análise dos resultados,
determinar fatores que tenham influência sobre os resultados.
Para análise do melhor método de recuperação de tintas, foi elaborado um
planejamento experimental fatorial 2³, considerando três fatores importantes no processo,
sendo eles rpm de agitação, percentual de hidróxido de amônio e tempo de moagem. Para
cada um dos fatores foram estipulados um nível mínimo e máximo, conforme Tabela 1.
(GALDAMEZ, 2002).

Tabela 1 – Fatores e níveis do planejamento experimental fatorial

FATORES − +

I Agitação rpm 600 1000


II NH4OH % 0,4 1,6
III Tempo de Moagem min 15 60
Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir da amostra preparada na fase I, em laboratório foram preparadas 8


experimentos com exatamente 500 gramas de amostra para cada experimento.
Os experimentos foram realizados seguindo os fatores definidas no planejamento
fatorial conforme Tabela 2.
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Tabela 2 – Planejamento fatorial.
I II III
Ensaio
(rpm) (%) (min)
1 600 0,4 15
2 1000 0,4 15
3 600 1,6 15
4 1000 1,6 15
5 600 0,4 60
6 1000 0,4 60
7 600 1,6 60
8 1000 1,6 60
Fonte: Elaborado pelo autor.

Pesou-se 500 gramas de amostra de tinta contaminada e foi adicionado sobre esta o
percentual de hidróxido de amônio conforme Tabela 2 e 450 gramas de esfera de vidro para a
realização das moagens com esfera de vidro.
A moagem possui ampla utilização na produção de tintas. Na processo de moagem
com esferas de vidro, as partículas de pigmentos não sofrem esmagamento, mas sim um
processo de desaglomeração e consequente separação. A separação resulta na melhor
distribuição do pigmento na resina da tinta gerando uniformidade no filme depois de aplicada.
Os ensaios foram realizados no moinho de bancada Netzsch e os fatores de rpm e
tempo de moagem foram seguidos conforme planejamento fatorial. Para cada ensaio foram
realizados três experimentos (triplicata).
Com auxílio de uma peneira de malha fina, a tinta foi peneirada para separação das
esferas de vidro da tinta e transferida para um béquer para sequência dos experimentos.
Com auxílio de uma espátula metálica, foi coletada uma amostra de tinta para
aplicação em leneta. A leneta é um substrato onde são feitas as aplicações de tintas, usada
para testes de luminosidades e controle de qualidade das mesmas.
Para aplicação da amostra nas lenetas, foi usado o equipamento automático Precisison
Proofer com pressão de 0,7 MPa e velocidade de 0,3m/s, como mostra a Figura 6. Todas as
aplicações de tintas dos provenientes ensaios foram realizadas seguindo a mesma pressão e
velocidade de aplicação para que não houvesse nenhuma interferência na aplicação do fluido.

Figura 6 – Foto do equipamento Precision Proofer preparado para aplicação da amostra de tinta.
(Fonte: Elaborado pelo autor).
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Após aplicações das tintas nas lenetas conforme Figura 7, foram realizadas através do
espectrofotômetro portátil conforme Figura 8, as análises de luminosidade (ΔL),
comparando-as com uma tinta flexográfica preta padrão. Os resultados são mostrados na
Tabela 3.

Figura 7 – Foto Leneta com aplicação de amostra. Figura 8 – Foto espectrofotômetro portátil X-rite.
(Fonte: Elaborado pelo autor). (Fonte: Elaborado pelo autor).

Resultados

Para identificar o melhor método utilizado durante os experimentos avaliou-se o quão


perto de “zero” estavam os resultados, pois quanto mais próximo de zero fosse o ΔL, mais
adequada seria a tinta, ou seja, estaria atendendo aos requisitos de uma tinta padrão.
A Tabela 3 representou os resultados das triplicatas, um resultado muito positivo
significava que o método requeria mais pigmento, e por outro lado, um resultado muito
negativo significava que o método utilizou mais pigmento do que o necessário.

Tabela 3 – Resultados de luminosidade (ΔL) das amostras.


Resposta (ΔL)
I II III
Ensaio
(rpm) (%) (min) Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3

1 600 0,4 15 3 3,1 2,7


2 1000 0,4 15 1,9 1,8 2,1
3 600 1,6 15 3,6 4 3,8
4 1000 1,6 15 1,6 1,9 1,9
5 600 0,4 60 0,6 0,7 0,5
6 1000 0,4 60 0,1 0,2 0,2
7 600 1,6 60 0,9 1 1,1
8 1000 1,6 60 0,5 0,3 0,4
Fonte: Elaborado pelo autor.
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Com base na análise dos resultados como mostra na Tabela 3, foi possível concluir
que os parâmetros adotados no ensaio 6 foi o mais adequado para este tipo de recuperação,
pois o seu resultado esteve mais próximo de zero. Sendo a amostra obtida por meio deste
ensaio a mais apropriada para continuação do experimento.
Com os resultados obtidos na Tabela 3, foi feito o cálculo da média, variância e do
desvio padrão, conforme Tabela 4.
Como foi analisado um conjunto de dados, é importante demonstrar a dispersão destes
resultados, visto que existem variáveis externas as quais podem influenciar no resultado das
amostras, gerando assim um erro experimental. Este erro pode ser calculado pela variância e
pelo desvio padrão, os quais demonstram a variação dos resultados obtidos em relação à
média calculada.
A média (m), foi calculado pela equação 1.

(1)

Onde “x” representa o resultado das amostras e “n” o número de amostras


consideradas.
A variância (v), é determinado pela equação 2.

(2)

Onde “x” representa o resultado das amostras, “m” representa a média calculada e “n”
o número de amostras consideradas.
Para o cálculo do desvio padrão (dp), foi utilizado a equação 3, que representa a raiz
quadrada da variância. (CORREA, 2003).

(3)

Tabela 4 – Cálculos da média, variância e desvio padrão.


Resposta (ΔL)
I II III
Ensaio Desvio
(rpm) (%) (min) Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Média Variância
Padrão
1 600 0,4 15 3 3,1 2,7 2,93 0,043 0,208
2 1000 0,4 15 1,9 1,8 2,1 1,93 0,023 0,153
3 600 1,6 15 3,6 4 3,8 3,80 0,040 0,200
4 1000 1,6 15 1,6 1,9 1,9 1,80 0,030 0,173
5 600 0,4 60 0,6 0,7 0,5 0,60 0,010 0,100
6 1000 0,4 60 0,1 0,2 0,2 0,17 0,003 0,058
7 600 1,6 60 0,9 1 1,1 1,00 0,010 0,100
8 1000 1,6 60 0,5 0,3 0,4 0,40 0,010 0,100
Fonte: Elaborado pelo autor.

A Tabela 5 representou os sinais do coeficiente de contrate, onde possibilitou fazer as


combinações entre as variáveis e obter os sinais dos efeitos das interações. A definição dos
sinais das interações foi encontrada através da multiplicação matemática dos sinais das
variáveis, ou seja, a multiplicação de sinais iguais resulta em um sinal positivo e a
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multiplicação de sinais diferentes resulta em um sinal negativo. Em outras palavras, por
exemplo, no ensaio 1, a combinação da variável I e II, ambas com sinal negativo, resultou no
interação I-II de sinal positivo. Como existiam três variáveis foi necessário considerar a
combinação de todas elas na interação I-II-III, ou seja, a combinação da variável I e II, ambas
de sinais iguais, resultou em um sinal positivo, combinado com a variável III de sinal
negativo, teve-se um resultado negativo. Por fim foram representados na tabela os valores
médios de cada triplicata

Tabela 5 – Coeficiente de contraste.


Variáveis Interações
Ensaio I II III
I-II I-III II-III I-II-III Média
(rpm) (%) (min)
1 − − − + + + − 2,93
2 + − − − − + + 1,93
3 − + − − + − + 3,80
4 + + − + − − − 1,80
5 − − + + − − + 0,60
6 + − + − + − − 0,17
7 − + + − − + − 1,00
8 + + + + + + + 0,40
Fonte: Elaborado pelo autor.

A Tabela 6 foi elaborada considerando a média calculada de cada ensaio com os sinais
previamente definidos na Tabela 5. Para cálculo do efeito de cada variável e de cada interação
foi feito a soma das colunas e foi dividido por 4.

Tabela 6 – Coeficiente de contraste e efeito.


Variáveis Interações
Ensaio I II III
I-II I-III II-III I-II-III
(rpm) (%) (min)
1 -2,93 -2,93 -2,93 2,93 2,93 2,93 -2,93
2 1,93 -1,93 -1,93 -1,93 -1,93 1,93 1,93
3 -3,8 3,80 -3,8 -3,8 3,80 -3,8 3,80
4 1,80 1,80 -1,8 1,80 -1,8 -1,8 -1,8
5 -0,6 -0,6 0,60 0,60 -0,6 -0,6 0,60
6 0,17 -0,17 0,17 -0,17 0,17 -0,17 -0,17
7 -1 1,0 1,0 -1 -1 1,0 -1
8 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40 0,40

Efeito -1,01 0,34 -2,07 -0,30 0,49 -0,03 0,21


Fonte: Elaborado pelo autor.

Os valores dos efeitos, conforme Tabela 6, foram calculados com o objetivo de


identificar o impacto de cada variável e das interações entre elas, as quais poderiam
influenciar nos resultados encontrados.
A Figura 9 mostra o diagrama de pareto conforme os dados obtidos na Tabela 6.
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Figura 9 – Diagrama de Pareto das interações.


(Fonte: Elaborado pelo autor).

Através da Figura 9 foi possível identificar o tempo de moagem como a variável de


maior efeito, pois ao analisarmos a Tabela 5 foi possível notar que os ensaios 5, 6, 7 e 8, que
foram executados com maior tempo de moagem, apresentaram os menores resultados de
luminosidade, ou seja, menor a quantidade de dispersão de pigmento será usado para correção
da luminosidade da tinta. Percebeu-se também que a velocidade de agitação foi a segunda que
representou maior efeito nos resultados obtidos.
Quando avaliamos a interação das variáveis, foi possível observar novamente que o
tempo de moagem e a velocidade de rotação foram os fatores com maior efeito. Esta
observação foi demonstrada nos ensaios 6 e 8 da Tabela 5 com os menores resultados de
luminosidade.

Fase III - Fabricação de tinta preta a partir da amostra recuperada

A partir das amostras obtidas através do experimento 6 visando a mínima


luminosidade, foi dado sequência ao experimento para produção em laboratório de tinta
flexográfica preta.
Como os resultados de luminosidade (L) já eram conhecidos, pois foram comparados
com uma tinta de cor preta padrão, com o auxílio de uma balança semi-analítica foi pesado 60
gramas de dispersão de pigmento preto e adicionado sobre a massa de 500g de tinta
trabalhada no experimento 6. Em seguida foram adicionadas no moinho de bancada Netzsch
para agitação e homogeneização da mesma durante 10 minutos a 600 rpm.

Análise de Viscosidade

Após a dispersão da tinta, foram realizadas análises de viscosidades utilizando


viscosímetro copo Zahn 2, comparando a tinta obtida com a tinta preta padrão.
O copo Zahn 2 é utilizado para obter viscosidade cinemática, onde utiliza-se da
gravidade para sua obtenção de medida. Medida por copos, tem como método a determinação,
através de um cronômetro o tempo gasto para o fluido escoar pelo orifício inferior do copo.
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A viscosidade das tintas é um fator importante no processo flexográfico, pois bombas
pneumáticas ou peristálticas são utilizadas na transferência da tinta para bandejas das
impressoras, logo o não atendimento da mesma a especificação de viscosidade estipulada
pelos fabricantes de impressoras, pode atrapalhar a transferência do fluido para as
impressoras, afetando diretamente a impressão das embalagens. Se a viscosidade da tinta
estiver abaixo da especificação mínima, pode haver uma aplicação menor de tinta na
embalagem acarretando uma variação na totalidade da mesma. Os resultados de viscosidade
cinemática são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7 – Resultados análises de viscosidade.


Viscosidade cinemática

Tinta padrão 29 segundos

Tinta Amostra 30 segundos


Fonte: Elaborado pelo autor.

Análise de luminosidade

Após análise de viscosidade e pH, para realização da análise de luminosidade, foi


usado o equipamento automático Precisison Proofer com pressão e velocidade de aplicação
controlada para aplicação da tinta amostra e padrão em folha de papel carta branco 75g/m²
conforme mostra Figura 10. As aplicações de tintas realizadas seguindo a mesma pressão e
velocidade de aplicação para que não houvesse nenhuma interferência na aplicação das
mesmas.

Figura 10 – Foto papel carta com aplicação de tinta amostra e padrão.


(Fonte: Elaborado pelo autor).

A análise de luminosidade foi realizada através do espectrofotômetro portátil X-rite,


comparando-a com a tinta padrão. Os resultados foram tabelados conforme mostrado na
Tabela 8.

Tabela 8 – Resultados análise luminosidade


Análise luminosidade
Padrão Amostra ∆
L* 27,6 27,5 -0,1
Fonte: Elaborado pelo autor.
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Análise de pH

Foram realizadas análises de pH da tinta amostra e também da tinta padrão com


auxílio de um pHmetro de bancada.
O pH de tintas pode interferir em algumas características das tintas. Pois além de ser
um fator ligado a estabilidade e conservação da tinta, existem resinas acrílicas que são
emulsionadas em solução pH alcalinos, portanto para que permaneçam em soluções é
necessário o pH do meio ser básico. Os resultados de pH estão inseridos na Tabela 9.

Tabela 9 – Resultados analises de pH.


pH

Tinta padrão 8,90

Tinta Amostra 9,13


Fonte: Elaborado pelo autor.

Análise de resistência ao atrito seco

Para análise da resistência à atrito seco da tinta em papel kraft, foi utilizado o
equipamento Prufbau Quartant conforme Figura 11. Os testes foram realizados em corpos de
prova com aplicações das tintas amostras e padrão.
O equipamento reproduz condições de abrasão normalmente encontradas durante o
manuseio e transporte de material impresso.
Conforme demonstrado na Figura 12, o teste consiste em sobreposição de amostras, ou
seja amostra com aplicação de tinta e a contra-folha branca sem aplicação, para análise de
soltura da tinta. Na posição de operação, a pressão de contato entre a amostra e a contra folha
é de 0,5 N / cm². A pressão é determinada pelos pesos (prüfbau - padrão industrial).
Durante o teste de abrasão, os suportes e pesos da amostra realizam um movimento
relativo. Enquanto o suporte da amostra permanece imóvel dentro da base do equipamento, os
pesos são movidos alternadamente sobre ele, girando ligeiramente ao mesmo tempo.
Os testes foram realizados com 100 ciclos, sendo que cada ciclo é computado em ida e
volta.

Figura 11 – Foto equipamento Prufbau Quartant. Figura 12 – Peso e amostra com aplicação.
(Fonte: Elaborado pelo autor). (Fonte: Elaborado pelo autor).
TRABALHO DE GRADUAÇÃO - ENGENHARIAS
Após realização dos testes, os resultados de atritos foram avaliados visualmente.
Observou-se que os resultados dos corpos de prova que tiveram aplicação da tinta padrão e
amostra, foram bem próximos.

Conclusões

Neste trabalho, foi estudado através de um planejamento experimental variáveis que


podem ser manipuladas no processo de recuperação de tintas, para definição do melhor
método. Após definição do mesmo, foi produzida amostra de tinta flexografica utilizando os
insumos obtidos através do experimento 6, em seguida foram realizadas análises de qualidade
comparando-a com uma tinta padrão.
Através do ensaio experimental foi possível identificar, que o tempo de moagem, e a
interação entre a agitação e tempo de moagem, representaram maior efeito, ou seja,
conseguindo-se administrar de forma eficaz a agitação e o tempo de moagem, é possível
encontrar resultados confiáveis e eficientes. Portanto foi verificado que as melhores amostras
referem-se à triplicata do experimento 6, pois foi o ensaio que obteve menor ∆l, ou seja, foi
necessário menos dispersão de pigmento preto para obtenção da cor desejada.
Quando foi preparada a tinta com o insumo obtido através do ensaio 6, após realização
de análises de qualidade, observou-se que a mesma apresentou resultados de viscosidade, pH,
luminosidade e atrito próximos aos da tinta padrão, atendendo as características de tinta
flexográfica.
Baseado nos resultados positivos obtidos neste trabalho, é possível sugerir estudo de
viabilidade econômica em escala industrial.

Agradecimentos

Somos gratos a Deus por nos ter dado oportunidade de desenvolver o trabalho, saúde e
muita força para superar todas as dificuldades durante todo o período de curso.
Agradecemos à Universidade São Francisco e todo seu corpo docente, que nos
proporcionaram as condições necessárias para que alcançássemos nossos objetivos.
Ao nosso orientador Dr. Mario Eusébio Torres Alvarez por todo o tempo que dedicou
a nos ajudar durante o processo de elaboração deste trabalho. Aos nossos pais e esposas, por
todo o apoio, incentivo, compreensão e motivação durante todo período de graduação.
E enfim, a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, seja de forma direta ou
indireta, fica registrado aqui, o nosso muito obrigado!

Referências Bibliográficas

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2016.

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TRABALHO DE GRADUAÇÃO - ENGENHARIAS
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