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Pigmentação de próteses bucomaxilofaciais

REVISÃO DE LITERATURA

Pigmentação de próteses bucomaxilofaciais

Pigmentation of maxillofacial prostheses

Marcelo Coelho GOIATO*


Ana Cristina MURAKAWA**
Daniela Nardi MANCUSO***

RESUMO
Esta revisão de literatura traz informações a respeito do uso de diversos tipos de pigmentos que podem ser usados em
próteses bucomaxilofaciais, assim como sua relação com os materiais empregados na confecção da prótese. Estas
informações incluem alguns tipos de pigmentos (óxidos minerais, incorporados a componentes acrílicos, porcelanizados,
oleosos, e outros) assim como os materiais que podem ser pigmentados, como silicone e resina acrílica, técnicas e
características de cada material e tipo de pigmento. Em busca de melhores resultados não apenas na estética e longevidade
das próteses, como também na manutenção das propriedades dos materiais e pigmentos, são estudados os fatores que podem
causar a deterioração das mesmas, destacando a exposição à luz ultravioleta e as mudanças de condição ambiental, além da
utilização de escalas de cores pré-fabricadas que facilitariam a confecção dessas próteses, permitindo economia de tempo
e de material no momento da seleção da cor. Contudo, foi observado que as propriedades físicas e mecânicas do material
utilizado podem variar de acordo com a adição dos pigmentos, sendo que a pigmentação extrínseca pode resultar em menor
descoloração em relação à pigmentação intrínseca. Além disso, a instabilidade de cor dos materiais podem estar relacionados
com vários fatores, tendo destaque a exposição à luz ultravioleta e as mudanças de condição ambiental.
Palavras-chave: prótese maxilofacial, pigmentação, resinas acrílicas, silicones.

ABSTRACT
This literature revision brings information regarding the use of several types of pigments that can be used in maxillofacial
prostheses, as well as your relationship with the employed materials in the making of the prosthesis. This information
include some types of pigments (mineral oxides, incorporate to acrylic components, porcelain, oily, and other) as well as
the materials that can be pigmented, as silicon and acrylic resin, techniques and characteristics of each material and pigment
type. In search of better results not just in the aesthetics and longevity of the prostheses, as well as in the maintenance of
the properties of the materials and pigments, they are studied the factors that can cause to deterioration of the same ones,
emphasizing the exhibition to the ultraviolet light and the changes of environmental condition, besides the use of scales
of prefabricated colors that would facilitate the making of those prostheses, allowing economy of time and of material in
the moment of the selection of the color. However, it was observed that the physical and mechanical properties of the used
material can vary in agreement with the addition of the pigments, and the extrinsic pigmentation can result in smaller fading
in relation to the intrinsic pigmentation. Besides, the instability of color of the materials can be related with several factors,
tends prominence the exhibition to the ultraviolet light and the changes of environmental condition.
Keywords: maxillofacial prostheses, pigmentation, acrylic resin, silicon.

* Professor Assistente Doutor da Disciplina de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - Unesp.
** Cirurgiã-dentista pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba -Unesp; estagiária do Departamento de Materiais Odontológicos e
Prótese.
*** Mestranda do curso de Prótese Dentária da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - Unesp.

92 • Revista Odonto • Ano 16, n. 31, jan. jun. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista
GOIATO, M. C.; MURAKAWA, A. C.; MANCUSO, D. N.

fotos: Daniela Nardi Mancuso


INTRODUÇÃO

A reabilitação de pacientes com mutilações


faciais sempre foi um grande problema, especial-
mente para aqueles em que a substituição da per-
da de substância tecidual não pode ser feita por
meio de cirurgia plástica. O reabilitador sempre
tem o intuito de devolver função e estética ao
paciente, mas, para este, na maioria dos casos,
apenas a estética tem importância, principalmente
se a deformação for visível a ponto de haver a
segregação do indivíduo da sociedade. A estética
da prótese inclui aspectos como escultura, que
deve aproximar-se tanto quanto possível da
morfologia facial do paciente, e coloração, tam-
bém uma característica individual do paciente.
O sucesso da reconstrução depende do co-
nhecimento completo dos princípios de harmonia
facial, mistura de cores, ancoragem, retenção, peso
da prótese, da durabilidade, da tolerância e da com-
pressão tecidual e, principalmente, da fácil aquisição FIGURA 1 – paciente após procedimento cirúrgico.
do material (NITCHAUSER & SÁ-LIMA15, 1996).
Portanto, para a confecção de próteses
maxilofaciais, o material deve ser o primeiro a ser
escolhido, verificar suas propriedades físicas e
mecânicas, seguido pelos pigmentos, avaliar a capa-
cidade de coloração pela incorporação ao silicone
e principalmente, analisar a alteração de cor da
prótese, permitindo que ela seja o mais estável
possível para o conforto do paciente (figura 1 e 2).

REVISÃO DE LITERATURA

Conhecendo os pigmentos
Têm sido destacados muitos tipos de pigmen-
tos no mercado, disponíveis tanto para pigmenta-
ções intrínsecas quanto extrínsecas dos diversos
tipos de materiais utilizados para confecção das
próteses faciais, mas se quisermos entender o
processo da coloração das próteses, devemos
observar atentamente o que nos sugere OLIVEI-
RA 16 (1982) sobre a aplicação da teoria da cor:
“Todas as cores que nos impressionam advêm da FIGURA 2 – paciente reabilitad com prótese facial.

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Pigmentação de próteses bucomaxilofaciais

mistura entre as chamadas cores primárias: verme- Coloração das próteses faciais
lho, amarelo e azul”. Segundo ele, a mistura delas Concordando com outros autores, TASHMA21
em quantidades iguais origina as secundárias: la- (1967) afirmou que o problema de se obter as
ranja (vermelho + amarelo); verde (amarelo + cores de uma prótese facial é tão difícil quanto a
azul); e violeta (vermelho + azul). Se forem mis- sua confecção propriamente dita. Ao invés de usar
turadas as primárias com as secundárias haverá os pigmentos ou corantes diretamente sobre o
novas cores, com maior ou menor predominância material da prótese, ele preconizou uma “diluição”
de uma das cores primárias para a cor obtida. destes corantes. Foi feita uma dispersão uniforme
Misturando-se as secundárias com as terciárias dos corantes em uma grande quantidade de massa
haverá nova gama de cores, chamadas cores com- de pó seca e inerte, acreditando-se que o melhor
plementares. Ele afirma ainda que as tonalidades veículo para esta dispersão fosse o pó da resina
das cores se obtêm de três maneiras, com as cores acrílica. Desse modo, a quantidade de corante
chamadas acromáticas: preto, branco ou misturas concentrado utilizado para a prótese era bem pe-
e os cinza. Portanto, quando se acrescenta o bran- quena, permitindo uma boa coloração, satisfazen-
co, está se matizando uma cor; por outro lado, do bem as necessidades de tonalidades diferentes
quando se acrescenta o preto, obtêm-se o e diminuindo muito o risco de possível toxicidade.
sombreamento da cor. Já para a coloração do PVC, RODE20 (1974)
Um pigmento pode ser definido, segundo preconizou a coloração intrínseca com as tintas
MAYER13 (1991) como uma substância colorida e oleosas Realastic e Marshall, afirmando que deve-
finamente dividida, que passa seu efeito de cor a riam ser acrescentados pigmentos brancos e fios
outro material quer quando bem misturado a ele, de náilon azul e vermelho a todas as soluções para
quer quando aplicado sobre sua superfície em que fosse atingida a translucidez da pele humana.
uma camada fina. Quando um pigmento é mistu- Em 1977, DRANE1 afirmou que a coloração
rado ou moído em um veículo líquido para for- intrínseca é a melhor maneira de se aplicar cor a
mar uma tinta, ele não se dissolve, mas permanece uma prótese. No entanto, por esse método a pre-
disperso ou suspenso no líquido. A pureza quími- cisão na combinação de cores deixa muito a dese-
ca dos pigmentos varia muito; alguns são compos- jar. Portanto, ele sugeriu processar a prótese numa
tos simples, quase puros; outros, também de alta tonalidade ligeiramente mais clara que a normal e,
qualidade, contêm componentes menores, como em seguida, fazer uma caracterização extrínseca
impurezas naturais, quer como resultado de ingre- com pigmentos corantes diluídos em xilol. Para
dientes adicionados durante a fabricação para retirar o brilho da prótese deve-se aplicar um spray
modificar a cor ou as propriedades do pigmento. fosco à base de 100 cc de xilol, 3 gramas de selante
Ainda segundo este autor os pigmentos po- para silicona e 1 grama de carbonato de magnésio.
dem ser classificados de acordo com a cor, seu No mesmo ano, LEVY10 comparou a coloração
uso, sua permanência, etc. Costuma-se, entretanto, intrínseca com a extrínseca em próteses em PVC.
classifica-los de acordo com sua origem, em pig- Ele afirmou que deveria ser feita a coloração intrín-
mentos orgânicos e inorgânicos. O termo orgâni- seca utilizando flocos de raiom vermelho, azul e
co pode ser aplicado a pigmentos animais, vegetais corante oleoso transparente para fotografia, tipo
ou pigmentos orgânicos sintéticos, sendo deriva- Marshall. No entanto, para a coloração extrínseca,
dos de átomos de hidrogênio e carbono. Os pig- deveriam ser utilizados corantes oleosos para PVC,
mentos inorgânicos podem ser de terras naturais, ou ainda a própria tinta Marshall diluída em acetona.
terras naturais calcinadas ou ainda origem sintéti- Mas apesar da coloração intrínseca ser consi-
ca, contendo átomos de metal. derada como a melhor maneira de se aplicar cor a

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uma prótese, LEWIS & CASTLEBERRY11 (1980) uma vez que não depende de memória e sim da
declararam que as propriedades de cor ideais fórmula já existente. No entanto, a única desvan-
exigidas em um material protético para prótese tagem vista pelos autores era o tempo gasto na
bucomaxilofacial teriam que aceitar e reter tanto a composição das fórmulas e guias de coloração.
coloração intrínseca, quanto a extrínseca. Além Mas, apesar de bastante trabalhoso, ainda assim
disso, a aparência e a força mecânica da prótese era compensatório.
não deveriam ser mudadas por luz solar ou outros Para a incorporação de pigmentos,
fatores ambientais. REZENDE et al. 19 (1986) sugeriram como
Dentro deste contexto, NITCHAUSER & SÁ- corantes para próteses faciais os de fabricação da
LIMA 15 (1996) afirmam que o maior problema Indústria Odontológica Clássico, por já virem in-
enfrentado pelo reabilitador facial é conseguir corporados ao polímero e serem de largo empre-
reproduzir a cor exata da pele do paciente, sem a go na Odontologia brasileira, para caracterização
qual dificilmente se consegue uma estética aceitá- de próteses bucomaxilofaciais. Já FONSECA 3
vel. O problema torna-se mais grave, uma vez que (1987) sugeriu a combinação de resina acrílica
a resina acrílica termopolimerizável pigmentada rósea e transparente além da adição de corantes
sofre alteração de cor após sua polimerização a minerais e fios de náilon azul e vermelho, em
quente, o que pode inutilizar por completo um proporções variadas, até se obter dez cores bási-
trabalho protético, gerando desperdício de mate- cas, para que se escolha a de maior semelhança à
rial e de tempo, além da frustração do paciente e pele do paciente. Segundo o autor, essas cores
do reabilitador. Segundo os autores, nos países serviriam como uma escala básica.
desenvolvidos existe uma preferência pela utiliza- A fim de buscar um melhor padrão estético da
ção do silicone como material reabilitador, porém prótese, MA et al.12 (1988) realizaram um estudo no
este material possui certas desvantagens como alto qual um retângulo de cera com diferentes texturas
custo e pouca durabilidade. e espessuras foi esculpido e incluído em mufla e
contramufla. Depois de eliminada a cera, o material
Escala de cores colorido era inserido e polimerizado; e o material-
WAGHORN24 (1969) preconizou a confecção teste era então comparado com a tonalidade de
de peças de amostra em resina acrílica termo pele do paciente. Assim, qualquer correção poderia
ativada, em presença do paciente. Uma vez obtida ser feita antes da prensagem final da prótese.
a cor desejada as amostras eram comparadas com Em 1998, NEVES & VILELLA14 desenvolve-
a pele do paciente e cuidadosamente catalogadas, ram em silicone uma escala de tonalidades de pele
evitando-se assim as repetições. humana. Foram confeccionados vinte e sete cor-
Posteriormente FINE et al.2 (1978) apresen- pos-de-prova em silicone acético (Silastic 732 RTV),
taram várias vantagens de se utilizar escalas de pigmentados com óxidos de ferro e dióxido de
cores pré-fabricadas: diminuição do tempo gasto titânio. A quantidade de silicone acética manteve-se
na seleção de uma cor aceitável; menor desperdí- constante (dois gramas) em todos os corpos-de-
cio de material, uma vez que a seleção e a mistura prova, e os pigmentos foram misturados a ela em
são mais disciplinadas e controladas do que pelo várias proporções até a obtenção de vinte e sete
método de tentativa e erro; a coloração extrínseca diferentes tonalidades. Através da comparação da
é usada apenas para modificações mínimas e não cor dos corpos-de-prova com a cor da pele de
para correção do tom de pele, e, conseqüentemen- quarenta e um indivíduos, foram selecionados os
te, a aparência é mais natural; a reprodução de cinco corpos-de-prova com as tonalidades que mais
qualquer cor selecionada é facilmente repetida, se igualavam à cor da pele dos pacientes, compon-

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do, assim, um guia de tonalidades. Com a ra secos e tinta a óleo mostraram-se similares na es-
metodologia empregada, foi possível desenvolver tabilidade de cor e foram recomendados para uso em
uma escala de tonalidades de pele com a finalidade clínica. O Kaolin teve a maior alteração de cor e o
de facilitar a definição do tom da pele do paciente Daro embora tenha tido a menor alteração de cor,
quando da confecção de próteses faciais em teve o maior decréscimo em resistência após o enve-
silicone, permitindo economia de tempo e de ma- lhecimento.
terial no momento da seleção da cor. Segundo OLIVEIRA 17 (1993) as caracteriza-
ções externas para silicone e PVC devem ser fei-
Pigmentação e alterações de cor tas com materiais de retoques fotográficos, como
Os pigmentos corantes inorgânicos concen- o Realastic e corantes cosméticos. Através da li-
trados foram os preferidos e empregados desde a teratura, pode-se verificar que existe sempre uma
década de 1960 por RAHN & BOUCHER18, para grande dificuldade em se colorir os materiais para
a coloração do silicone 399. Dentre eles os mais prótese facial usualmente empregados. Entretan-
usados foram o Vermelho V-2876, Branco V-52, to, silicone e resina acrílica são coloridos com os
Azul V-1232, Amarelo V-1105, Marrom mesmos pigmentos, embora se comportem dife-
Avermelhado V-1106, Preto V-1747. Segundo os rentemente na polimerização ou vulcanização dos
autores, não se verificou grande descoloração materiais e no decorrer do uso das próteses. En-
durante os primeiros 12 meses de uso das quanto os corantes óxidos se diluem em mistura
próteses, exceção feita para a cor amarelada. monômero-polímero, eles apenas se incorporam
No entanto, a observação de HANSON & aos silicones. Quanto à coloração extrínseca, os
SHIPMAN 6 (1983) de que a compleição natural pigmentos corantes oleosos Realastic e Marshall
da pele pode ser alterada pelo uso de cosméticos são os mais citados e empregados para o silicone.
e substâncias matizantes, levou-os a empregar Através de seu estudo, o autor procurou analisar
esses cosméticos para a coloração intrínseca das os resultados da coloração de resina acrílica e
próteses, com excelentes resultados quando se silicone, quando a eles se juntam pigmentos
empregavam alguns tipos de cosméticos, como os corantes à base de óxidos minerais puros, incor-
fabricados por Elizabeth Arden Inc. Outros, de porados à porcelana ou não. Após os testes e
outras fórmulas e procedências, já não apresenta- feita a comparação entre os corpos de prova, ve-
vam resultados excelentes por conterem veículos rificou-se que os que sofreram menor alteração
diluentes que se alteravam em contato com o de cor foram os coloridos com pigmentos
silicone MDX-4-4210, empregado na confecção porcelanizados, seguidos pelos coloridos com
das próteses. Entretanto, o uso de cosméticos à óxidos minerais puros e, finalmente, os coloridos
base de pigmentos óxidos provou ser eficiente e com corantes previamente incorporados ao
prático, eliminando a necessidade de um estoque polímero, tanto para a resina acrílica como para
grande de cores para silicones. o silicone. OLIVEIRA 17 (1993) ainda concluiu
TURNER et al.23 (1984) avaliaram o poliuretano que os pigmentos porcelanizados possuem maior
com 4 sistemas de coloração: pigmentos de terra estabilidade de cor, fácil manuseio, quantidade
seca, Kaolin, pigmentos da Daro e tinta óleo. As necessária reduzida em comparação com outros
amostras foram submetidas à câmara de envelheci- pigmentos, baixo custo e que não apresenta pro-
mento acelerado Weather Ometer por 900h e a aná- blemas na sua aquisição no mercado.
lise foi feita pelo método visual de comparação e Portanto, a partir da revisão destes e de outros
por comparação através do espectrofotômetro de trabalhos, GARY & o SMITH 5, 1998 deduziram
reflexão. Os sistemas de coloração pigmentos de ter- que o silicone RTV e os pigmentos exibem uma
mudança de cor esperada. Além disso, pigmentos

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internos poderiam resultar em menos perda de tempo do que os corantes orgânicos (fibras de
cor, porque haveria menos chance dos pigmentos raiom).
serem dissolvidos durante a limpeza da prótese. GARY, HUGET e POWELL4 (2001) fizeram
Eles sugeriram instruir o paciente no cuidado das um estudo com um elastômero RTV e dois pig-
próteses faciais, prolongando assim a longevidade mentos orgânicos sintéticos. Os grupos foram
da prótese. Os pacientes deveriam ainda ser enco- expostos à luz solar em diferentes lugares como
rajados, segundo eles a evitar exposição prolonga- Flórida e Arizona. Antes e depois da exposição
da a luz solar, usar chapéus e óculos de sol. Eles o parâmetro de cor de cada espécime foi deter-
deveriam evitar usar cosméticos na prótese; até minado espectrofotometricamente. Tanto os gru-
mesmo se fosse maquilagem à base de água, pois pos pigmentados quanto os não pigmentados
a lavagem repetida poderia dissolver e remover ofereceram resultados diferentes e com
alguns pigmentos da superfície externa. Os paci- significância na alteração de cor. Além disso, os
entes não deveriam usar nenhum solvente como autores afir maram que a partir desse estudo
álcool de isopropil para limpar a prótese porque abriu-se um leque de opções e uma válida linha
poderia causar dissolução dos pigmentos e ainda de pesquisa para futuros estudos em alteração de
deveriam evitar fumar porque poderiam manchar cor de próteses bucomaxilofaciais e concluíram
a prótese nasal, por exemplo. afirmando que a aceleração da alteração de cor
HAUG et al.7, em 1999, avaliou a estabilidade ocorre pela radiação solar associada com fatores
de cor de elastômeros pigmentados, com exposi- como temperatura ambiente, umidade relativa do
ção ao tempo. Foram fabricados 15 espécimes ar, umedecimento causado por precipitações
para cada um dos elastômeros (Silastic Adesivo meterológicas e possíveis poluentes do ar.
Médico tipo A, Silastic 4-4210, e Silicone A-2186) No experimento de LEOW et al.9 (2002), sete
e 6 pigmentos (pigmentos de terra seca, fibras de cores de pigmentos, consideradas essenciais para
raiom, tintas a óleo, kaolin, cosméticos líquidos e alcançar uma coloração satisfatória em próteses
sem pigmentação), formando um total de 270 es- bucomaxilofaciais, foram comparadas pela sua fir-
pécimes (18 grupos de 15 espécimes cada). Os 15 meza de cor, por três formulações selecionadas.
espécimes de cada combinação elastômero-pig- No total, 21 pigmentos foram testados. Os pig-
mento foi separado em 3 subgrupos (controle, mentos, presentes em suspensões, pastas ou pig-
envelhecimento e exposição natural), tendo cada mentos secos, foram expostos, por 9 meses, à luz
um desses subgrupos, 5 espécimes. Notaram alte- ultravioleta, temperaturas elevadas e várias con-
rações na cor, como resultado do envelhecimento, centrações de salinidade. Como resultado, obteve-
em muitos dos elastômeros pigmentados, assim se que a descoloração dos pigmentos foi atribuída
como nos materiais elastoméricos sem pigmenta- à luz ultravioleta; amostras de silicone pigmentado
ção e sem exposição natural. Concluíram que a e sem pigmentação mostraram um “amarela-
adição de corantes nos silicones alteraram o efeito mento” e os pigmentos claros tornaram-se mais
do tempo tanto na coloração como nas proprieda- escuros. As amostras que foram expostas a uma
des do material, pois os pigmentos tendem a temperatura elevada de 50ºC mostraram-se
“proteger” os silicones da ação do tempo, possi- significante, porém com uma pequena alteração de
velmente por bloquear a radiação de luz no cor. Há uma temperatura moderada de 35ºC,
elastômero; e que os pigmentos inorgânicos (pig- ambas amostras (pigmentadas e sem pigmentação)
mentos de terra secos, kaolin, tintas óleo e cosmé- permaneceram com uma relativa firmeza na colo-
ticos líquidos) são mais estáveis com a ação do ração. Os pigmentos continuaram firmes quando
colocados em soluções salinas de concentrações

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Pigmentação de próteses bucomaxilofaciais

0,15M e 5,0M. Além disso, os pigmentos em sus- Os grupos com pigmento vermelho não foram
pensões tiveram menor alteração de cor do que os afetados pelos aditivos. Os autores concluíram que
pigmentos em pastas. UVA e HALS mostraram-se efetivos no retardo
Recentemente, KIAT-AMNUAY et al.8 (2002) de alterações de cor em muitas circunstâncias.
procuraram avaliar o efeito dos opacificadores usa-
dos em diferentes quantidades na estabilidade de CONCLUSÃO
cor do silicone A-2186 antes e depois do envelhe-
cimento. Sessenta grupos experimentais compostos Devido à dificuldade em se obter uma estéti-
de silicone foram usados em várias concentrações ca agradável e maior longevidade das próteses
(5%, 10% e 15%) de 4 opacificadores (pó bucomaxilofaciais, vários autores têm sugerido o
calcinado, branco e pigmento seco de titânio bran- uso de diversos materiais para confecção das
co) com um dos cinco grupos de pigmentos cos- próteses. Dentro deste contexto têm sido desta-
méticos de terras secos (sem pigmentação – con- que as resinas acrílicas e os silicones, amplamente
trole, vermelho, amarelo ocre, siena queimada, e estudados, salientando as qualidades e proprieda-
uma mistura de todos os pigmentos). Todos os des de cada material, assim como o uso de varia-
espécimes foram colocados em uma câmera de dos pigmentos, tanto de origem orgânica quanto
envelhecimento expostos à luz, spray de água, tem- inorgânica, assim como os pigmentos
peraturas flutuantes e umidade. Os autores conclu- porcelanizados e os de uso cosmético, a fim de
íram que a mistura de pigmentos cosméticos de obter sucesso não só na aproximação da cor da
terra secos com opacificadores não protegem o prótese com a da pele do paciente, como também
silicone A-2186 dos efeitos da degradação de cor, na manutenção das propriedades do material e
especialmente no caso de pigmentos vermelhos. durabilidade da prótese.
Neste estudo TRAN et al.22 em 2004 avalia- Muitos autores, ainda, procuram métodos
ram a estabilidade de cor de um elastômero usado para facilitar a pigmentação das próteses faciais,
na confecção de próteses maxilofaciais quando como o uso de escalas de cores, que facilitam a
uma luz ultravioleta absor vente (UVA) e um confecção dessas próteses, permitindo economia
estabilizador de luz (HALS) foram aplicados ao de tempo e de material no momento da seleção
elastômero contendo pigmentos orgânicos e da cor. Além do mais, este assunto tem sido am-
inorgânicos. Os materiais usados foram um plamente estudado atualmente.
silicone RTV, um pigmento inorgânico natural e No entanto, as propriedades físicas e mecâni-
dois pigmentos orgânicos sintéticos, uma luz cas do material utilizado podem variar de acordo
ultravioleta absorvente (UVA) e um estabilizador com a adição dos pigmentos, sendo que a pig-
de luz (HALS). Os espécimes foram fabricados a mentação extrínseca pode resultar em menor des-
partir de um molde, nomeados e expostos ao ar coloração em relação à pigmentação intrínseca.
livre em Miami e Phoenix por aproximadamente Além disso, a instabilidade de cor dos materiais
três meses. Oito grupos (dois de cada um dos podem estar relacionados com vários fatores, ten-
quatro tipos de materiais com ou sem aditivos) do destaque a exposição à luz ultravioleta e às
com 10 espécimes cada foram colocados em cada mudanças de condição ambiental.
cidade. Os elastômeros sem pigmentação serviram
como grupo controle. Os resultados mostraram REFERÊNCIAS
que alterações de cor diminuíram significativamen- 1. DRANE, J. B. Próteses faciais em silicona. I Simpósio Latino-
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te nos espécimes com os aditivos (UVA e HALS)
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e pigmento amarelo e siena queimada em Miami.

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Revista Odonto • Ano 16, n. 31, jan. jun. 2008, São Bernardo do Campo, SP, Metodista • 99

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