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Trata-se de um material complementar, o estudo do conteúdo deve ser realizado por meio da bibliografia sugerida.

Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Operações Unitárias A
Professora: Fernanda Lini Seixas

SEDIMENTAÇÃO GRAVITACIONAL

A sedimentação é uma operação de separação sólido-líquido baseada na diferença


entre as concentrações das fases presentes na suspensão a ser separada, sujeitas à ação do
campo gravitacional. A decantação (ou sedimentação ou espessamento) da fase
particulada ocorre normalmente em tanques cilíndricos, conhecidos como
sedimentadores (CREMASCO, 2012).
Existem diversas aplicações da operação de sedimentação, entre elas: tratamento
de água potável; recuperação de água para reciclo industrial; recuperação de partículas de
operações de lixiviação; obtenção de polpas com concentrações adequadas a um processo
subsequente (CREMASCO, 2012).

1. FATORES QUE AFETAM A SEDIMENTAÇÃO

A operação unitária de sedimentação é afetada pela concentração da fase


particulada, pela natureza morfológica e granulométrica das partículas, bem como as
características do tanque de sedimentação (CREMASCO, 2012).
A forma e o tamanho das partículas podem ser alteradas pelos processos de
coagulação/floculação. Estes processos objetivam aumentar o tamanho da partícula e com
isto facilitar a decantação da fase particulada (maior Dp causa aumento da velocidade
terminal de queda).
A coagulação/floculação se refere à neutralização de cargas negativas das
partículas permitindo a aproximação entre elas (Figura 1). Utilizam-se agentes como
sulfato de alumínio e o cloreto férrico. Existem também a aplicação de coagulantes
naturais como o tanino, extraído de extratos vegetais da acácia negra. Os coagulantes
naturais possuem o objetivo de gerar um material espessado menos poluente ao final do
processo.

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Figura 1- Ilustração da coagulação/floculação.


Fonte: CREMASCO, 2012.

A etapa de coagulação é realizada em um tanque dotado de agitação intensa para


facilitar a mistura entre os agentes coagulantes e as partículas. A coagulação está
associada à redução do potencial zeta (medida do potencial elétrico entre a superfície
externa da camada compacta formada ao redor da partícula e o meio líquido em que
ela está inserida) a valores que permitam a posterior aglutinação das partículas (etapa
de floculação). A etapa de floculação é conduzida com agitação lenta para que, no
tempo em que promova a aglutinação, não ocorra a eclosão dos aglomerados
(CREMASCO, 2012).

Figura 2 – Sistema de sedimentação contendo tanques separados de coagulação e


floculação.
Fonte: CREMASCO, 2012.

2. TIPOS DE SEDIMENTADORES

O tanque de sedimentação clássico (Figura 3), dispõe de dutos de alimentação da


suspensão, de retirada tanto do clarificado (overflow) quanto do espessado (underflow).
Este tipo de decantador é dotado de raspadores que auxiliam no descarte do espessado.

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Figura 3- Sedimentador contínuo convencional.


Fonte: CREMASCO, 2012.

Sedimentadores de alta capacidade podem ser obtidos pela inclusão de lamelas no


equipamento. O sedimentador lamelar é ilustrado na Figura 4. Este equipamento é
caracterizado por apresentar um conjunto de placas inclinadas trazendo um pequeno
espaçamento entre si de modo a formar canais preferenciais para o escoamento da
suspensão. Essa suspensão pode ser alimentada na diretamente no compartimento de
alimentação ou na câmara de mistura e floculação. As partículas sedimentam sobre as
lamelas e deslizam até o fundo do equipamento, e resultam na lama que em seguida é
bombeada (FRANÇA e MASSARANI, 2004, CREMASCO, 2012).

Figura 4- Sedimentador lamelado.


Fonte: CREMASCO, 2012.

Para a sedimentação de suspensões contendo sólidos grossos são utilizados os


decantadores de rastelos (Figura 5) ou decantadores helicoidais (Figura 6).

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Figura 5 – Decantador helicoidal.


Fonte: GOMIDE, 1985.

Figura 6 – Decantadores de rastelos.


Fonte: GOMIDE, 1985.

3. PROJETO DE UM SEDIMENTADOR CONVENCIONAL CONTÍNUO

O projeto de sedimentadores consiste em determinar a área da seção transversal e a


altura dos equipamentos.
O projeto se baseia no teste de proveta, o qual consiste no acompanhamento do
deslocamento axial da interface superior da suspensão em função do tempo. No início a
suspensão apresenta-se homogênea e a concentração da fase particulada é constante em
todos os pontos ao longo da altura da proveta. Instantes depois, as partículas maiores
(mais densas) começam a sedimentar e a formar uma fina camada de partículas no fundo
da proveta, que é a região de compactação. Aglomerados mais finos sedimentam mais
lentamente, originando uma região intermediária, que é a região de sedimentação livre.
Ao tempo de as partículas começarem a sedimentar, inicia-se a formação de uma região
de líquido clarificado. A Figura 7 ilustra o teste da proveta. Com o decorrer do teste são
observadas variações na altura das regiões: as regiões de liquido clarificado e de

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compactação se tornam maiores em virtude do desaparecimento da região de


sedimentação livre. Atinge-se, em seguida, uma situação na qual existe apenas a região
de compactação e líquido clarificado. A partir de então a sedimentação consiste em uma
compressão lenta da fase particulada, que expulsa o líquido existente entre as partículas
para a região de líquido clarificado (ponto crítico de compactação) (CREMASCO, 2012).

Figura 7- Regiões características do teste de proveta.


Fonte: CREMASCO, 2012.

A curva de decantação obtida a partir o teste de proveta, que será usada para o
dimensionamento do sedimentador, consiste na medida da altura da interface de
suspensão (z) em função do tempo (ϴ) do ensaio (Figura 8).

Figura 8- Representação de curva de decantação (ϴ = tempo).

Contudo, o comportamento da suspensão pode variar do teste em batelada para a


condição do sedimentador contínuo. Na realidade, o projeto é uma extrapolação, e com
isso, há a necessidade da inclusão de parâmetros de correção do projeto. Gomide, 1985,

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sugere em seus exemplos a utilização de um fator de segurança de 100%, ou seja, após a


determinação do valor da área da seção transversal do sedimentador, convém dobrar o
valor encontrado para a construção do equipamento.

3.1 Cálculo da área do sedimentador

Considere um sedimentador contínuo em operação, com a região de clarificado


isento de sólidos (Figura 9).
Considerando:
QA = vazão da suspensão (m3/h)
CA = concentração da suspensão (toneladas sólidos/ m3)
QC = vazão volumétrica de líquido clarificado (m3/h)
CC = concentração do líquido clarificado (toneladas sólidos/ m3)
QE = vazão volumétrica de lama espessada (m3/h)
CE = concentração da lama espessada (toneladas sólidos/ m3)

Figura 9- Representação de um sedimentador contínuo.

Considerando ainda que:

 Para que não haja arraste de partículas sólidas na direção do vertedor de líquido
clarificado (u= velocidade):
𝑢 ã í <𝑢 çã í

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 Não havendo arraste de partículas para cima, todo o sólido que chega à
zona limite sairá necessariamente pelo fundo do decantador quando este
opera em regime permanente.

Assim, o balanço de massa no sistema fica:

𝑄 =𝑄−𝑄

A velocidade de decantação de decantação das partículas (u) será dada por:

𝑄
𝑢=
𝑆
Em que 𝑆 representa a área da seção transversal do sedimentador.

A velocidade de ascensão do líquido (𝑢 ã í ) será:

𝑄𝐶 𝑄 − 𝑄𝐸
𝑢 ã í = =
𝑆 𝑆

Na condição limite para que haja a separação:

𝑢 ã í =𝑢 çã í

𝑄 − 𝑄𝐸
𝑢 ã í = =𝑢 çã í
𝑆

Isolando S:

𝑄−𝑄
𝑆=
𝑢𝑑𝑒𝑐𝑎𝑛𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎𝑠

Fazendo um balanço de massa para a fase particulada (sólido):

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𝑄 𝐶 = 𝑄𝐶 = 𝑄 𝐶

Em que:
𝑄 𝐶
𝑄=
𝐶

𝑄 𝐶
𝑄 =
𝐶

Substituindo na expressão de S, temos que:

1 1
𝑄 𝐶 𝐶−𝐶
𝑆= (1)
𝑢𝑑𝑒𝑐𝑎𝑛𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎𝑠

Observe que os valores de C e u são desconhecidos e devem ser determinados por


meio do teste de proveta (curva de decantação). Existem três principais métodos para a
determinação da área do sedimentador:
 Método de Coe e Clevenger
 Método de Kynch
 Método de Talmadge e Fitch

3.1.1 Método de Coe e Clevenger


O método de Coe e Clevenger (1916) foi o primeiro procedimento proposto.
1) Realizam-se testes em batelada a diversas concentrações. Começando com a
concentração inicial da suspensão até a concentração final desejada, ambas definidas
conforme o projeto.
2) O valor da velocidade de decantação (u) é obtido da inclinação da curva de
sedimentação em z=z0. Para cada concentração inicial do teste em batelada obtém-se uma
curva de decantação e calcula-se um valor de u.
3) Os pares de u e C são utilizados na Equação 1 para o cálculo da área do
sedimentador.

4) Escolha o maior valor de área obtido que representará a área mínima do decantador.

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5) Multiplique por um fator de segurança (100%).

Exercício 1- Deseja-se calcular o diâmetro de um decantador com capacidade para


processar 8t/h de CaCO3 seco, alimentado ao decantador em suspensão contendo 263
Kg/m3. A lama espessada deverá encerrar 550 Kg CaCo3/m3.

Tabela 1- Dados de C e u.

Ensaio C (t/m3) u (m/h) S (m2)


1 0,265 0,10
2 0,285 0,08
3 0,325 0,06
4 0,415 0,03
5 0,465 0,02

(Resposta: 20,4 m de diâmetro)

3.1.2 Método de Kynch


 Requer apenas um ensaio de decantação que forneça a
curva de decantação (H ou Z versus t);
 Traçam-se tangentes em diversos pontos da curva e determina-se os valores
de θ, Z e Zi.
 Com os valores de θ, Z e Zi usa-se a expressão 1 para obter as áreas da
seção transversal.
 O valor máximo de área obtida corresponderá a área mínima que o
decantador poderá ter.

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Figura 10 – Curva de decantação exemplificando o método de Kynch.

Usando as expressões abaixo calcula-se os pares C e u para serem usados na Equação 1.


𝑍 −𝑍
𝑢=
𝛳

𝐶𝑍
𝐶=
𝑍

1 1
𝑄 𝐶 𝐶−𝐶
𝑆= (1)
𝑢

Os resultados podem ser expressos como ilustra a Tabela 2.

Tabela 2- Resultados para o método de Kynch.

3.1.1 Método de Talmadge e Fitch

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 Permite calcular diretamente a área mínima do espessador quando se


conhece o ponto crítico de compressão na curva de decantação.

𝑄 𝐶 𝛳
𝑆 =
𝑍 𝐶

 Onde θE é encontrado através do ponto crítico, obtido graficamente (Figura 10).


Z0 e C0 são a altura e a concentração no tempo zero (teste da proveta).

Obs: O ponto crítico (Pc) é o ponto em que só permanecem o líquido clarificado, a


suspensão em compressão e o sedimento grosseiro. A partir do ponto crítico o que ocorre
é compressão lenta dos sólidos com a expulsão do líquido retido para a zona límpida. No
ponto crítico necessitamos da maior área de decantação.
Para encontrar o ponto crítico:
1. Traça-se tangentes aos extremos da curva.
2. Traça-se uma reta passando pela bissetriz do ângulo formado pela união das
retas tangentes.
3. Onde esta reta cruzar a curva de sedimentação será a localização do ponto
crítico.

Fazendo um balanço de massa no sólido:

𝑍 𝑆𝐶 =𝑍 𝑆𝐶

𝑍 𝐶
𝑍 =
𝐶

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Figura 10 – Curva de decantação exemplificando o método de Talmadge e Fitch.

Exemplo 2- Um ensaio de decantação foi realizado em laboratório num cilindro


graduado de 1000 ml, com a finalidade de fornecer dados para o projeto de um
espessador para 30 t/h de uma suspensão contendo 48 g/l de sólido cristalino.
Os resultados são apresentados na tabela a seguir. A concentração de saída do
decantador deverá ser a correspondente a 60 minutos de decantação.

Tempo (min) Z (cm)


0 36,1
1 34,7
4 30,4
6 26,7
10 20,2
15 13,6
20 9,8
25 8,4
30 7,9
40 7,1
60 6,7

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40

35

30

25
z (cm)

20

15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70
Tempo (min)

4. DETERMINAÇÃO DA ALTURA DO SEDIMENTADOR

Pavlov et al. (1981) propuseram o cálculo da altura do sedimentador mediante a soma


das parcelas indicadas na Figura 11. Em que H1 é altura da região de líquido clarificado,
que pode variar entre 0,45 m e 0,75 m, H2 é a altura da região de espessamento e H3 é a
altura do fundo do sedimentador (CREMASCO, 2012).

Figura 11 – Representação da altura do sedimentador.

𝐻 = 𝐻 +𝐻 +𝐻

0,45 𝑚 < 𝐻 < 0,75 𝑚

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𝐻 = 0,073 𝐷

Em que D é o diâmetro do tanque em m.


A altura H2 pode ser obtida por meio da Equação abaixo (Caldas et al. (2011)):

4𝑄 𝐶 𝜌 −𝜌
𝐻 = 𝛳
𝜋𝐷 𝜌 𝜌 −𝜌
Em que:

𝛳 =𝛳 −𝛳

𝛳 é o tempo de residência da fase particulada na região de compactação, o qual


corresponde ao tempo consumido entre o final do período de sedimentação a velocidade
constante e o momento em que o substrato atinge a concentração requerida no projeto.
𝛳 é o tempo para se atingir a concentração de sólidos no espessado.
𝛳 é o tempo no ponto crítico
𝜌 é a massa específica média da zona de compressão
𝜌 é a massa específica do líquido
𝜌 é a massa específica do sólido

5. REFERÊNCIAS

Cremasco, Marco Aurélio. Operações unitárias em sistemas particulados e


fluidomecânicos. São Paulo: Blucher, 2012.
Gomide, Reynaldo. Operações Unitárias. v.3 Separações mecânicas. São Paulo: R.
Gomide, 1980.
Caldas, D. et al. Determinação Experimental das Constantes de Filtração e Ensaio de
Sedimentação em Batelada. Universidade Federal da Bahia. Escola politécnica.
Departamento de Engenharia química, 2011.

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