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ROTEIRO PARA ENSAIO DE CINÉTICA DE FLOTAÇÃO EM BANCADA


Prof. José Aurélio M. Luz
Processamento de Minerais III – Demin/Em/Ufop
– setembro de 2009 –

1. Uma rápida campanha experimental de flotação deverá ser feita com intuito de se
determinar os parâmetros cinéticos de flotação de um minério (sintético) binário
contendo pirita e quartzo. O depressor de silicatos é silicato alcalino (com
concentração de recepção de 61,5 % em massa) e um xantato de sódio (granulado a
100 %).
2. PROCEDIMENTO:
2.1. Aferição do volume efetivo da cuba:
i. Abaixar o sistema de agitação e aeração,
ii. Com o sistema de aeração obturado e sem agitação, preencher a cuba com
água, usando proveta adequada, até o nível desejado de operação (em geral
10 mm abaixo do transbordo) e registrar o valor do volume efetivo;
iii. Esvaziar a célula para início do ensaio;
2.2. Cálculo da massa de sólido (ms): de posse do volume efetivo da cuba, calcular a
massa de sólidos a ser adicionado para resultar a concentração mássica de
flotação (cmf = 35 %);
2.3. Cálculo inicial dos reagentes:
i. Cálculo da quantidade de depressor a ser usado na dosagem especificada:
Ddep = 500 g/t:
 Massa a 100 %: mdep100% = ms x Ddep;
 Na concentração mássica inicial C0dep: mdep = mdep100%/C0;
 Volume de dosagem: Vdep = mdep/dep (dep: massa específica da solução
do depressor).
ii. Cálculo da quantidade de coletor a ser usado na dosagem especificada: Dcol =
110 g/t:
 Massa a 100 %: mcol100% = ms x Dcol;
 Na concentração mássica inicial C0col: mcol = mcol100%/C0;
 Volume de dosagem: Vcol = mcol/col (col: massa específica da solução
do coletor).

2.4. Cálculo da água de repolpagem para condicionamento (maco) à concentração


mássica cmc = 60 %:
 maco = ms/ cmc – ms.
2.5. Cálculo da água diluição para flotação à concentração mássica cmf ;
 madi = (ms/ cmf – ms) - maco (água total menos água de condicionamento).
2.6. Preparo das bandejas: preparar 4 bandejas com os rótulos de produto: “30 s”;
“60 s”; “final”; e “afundado”.
2.7. Repolpagem do sólido (umectação):
 Adicionar a água de condicionamento na cuba e abaixar o sistema de
agitação/aeração;
 Acionar o impelidor da célula, mantendo a aeração fechada;
 Adicionar o sólido para repolpagem inicial durante aproximadamente 5
minutos (registrar o pH da polpa);
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 Durante o tempo de repolpagem aproveitar para preparar a água de


diluição, adicionando 3 gotas de espumante (MIBCOL) e colocando-a de
lado para vir a ser adicionada somente após o condicionamento.
 Preparar as alíquotas de depressor e de coletor antes do fim do tempo de
repolpagem;

2.8. Condicionamento:
 Adicionar a alíquota de depressor e disparar o cronômetro e;
 Condicionar com depressor por 4 minutos (contando desde a adição do
reagente);
 Adicionar a alíquotas de coletor reajustar o pH para o valor do ensaio
(entre pH 8,0 e pH 8,5);
 Condicionar com coletor por 2 minutos (contando desde a adição do
reagente);
 Posicionar a bandeja de 30 segundos sob o vertedouro da cuba;

2.9. Flotação:
 Manter recipientes extras com água para reposição de nível de célula (na
medida em que for necessitando).
 Findo o tempo de condicionamento, imediatamente adicionar a alíquota
de água de diluição (já com espumante), abrir a válvula de aeração e
atentar para os tempos de coleta (medir o pH inicial da flotação);
 Extrair a espuma com espátula de maneira contínua e uniforme (ou usar
extrator de espuma automático nas células que disponham desse
implemento);
 Após 30 segundos trocar a bandeja, colocando a bandeja de 60
segundos, continuando a extração da espuma (e repondo o nível da polpa
com água, quando necessário);
 Após 60 segundos trocar a bandeja, colocando a bandeja final,
continuando a extração da espuma (e repondo o nível da polpa com água,
quando necessário) até que por verificação visual, se perceba o término
da mineralização da espuma;
 Fechar a válvula de aeração, medir o pH final, retirar o material residual
na cuba, pondo-o na bandeja de afundado.
2.10. Filtragem/secagem e pesagem dos produtos:
2.11. Determinação dos teores via picnometria ou método mais adequado.

3. TRATAMENTO DOS DADOS:


3.1. Cálculo das recuperações incrementais e plotagem da recuperação acumulada
em função do tempo de flotação, para cada um dos minerais (pirita e quartzo);
3.2. Análise regressional, utilizando o EasyPlot, ou programa similar, tentando a
aderência pelo modelo cinético mais adequado (sugere-se testar o “modelo de
primeira ordem” ou o “modelo retangular”); com isso se obterão: os parâmetros
cinéticos de flotação e as recuperações limites.

4. ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO:

O relatório poderá ser feito em grupo. Recomenda-se a elaboração de um relatório com


os seguintes itens: resumo; introdução; objetivo; revisão da literatura; metodologia;
3

discussão de resultados; conclusão; referências bibliográficas. As diretrizes estilísticas


para boa redação técnica são:

 Linguagem impessoal (evitar primeira pessoa do singular ou plural);


 Manter coerência nos tempos verbais;
 Privilegiar a ordem gramatical direta: sujeito+ verbo + objetos e/ou
complementos;
 Evitar adjetivação abundante ou linguagem imprecisa (mau exemplo:
“separação boa” – é melhor quantificar o valor ou a faixa);
 Referenciar no corpo do texto a autoria de terceiros, permitindo ao leitor
discriminar o que é do autor do relatório e o que é citação (o que evita
eventual acusação de plágio);
 Descrever as condições operacionais de modo a que um leitor genérico possa
entender e, mesmo repetir, os experimentos.
 Não esquecer de informações adicionais que possam facilitar o entendimento
dos resultados: descrever o que souber de relevante sobre as amostras, seu
preparo e reagentes (por exemplo: grau de liberação – mesmo visual – e
morfologia);
 Usar normas da ABNT para as referências;
 Não ser prolixo.

5. ARCABOUÇO CONCEITUAL DO PROBLEMA

A seguir, apresenta-se o formalismo matemático utilizado para a descrição dos aspectos


cinéticos do processo de flotação, sendo o texto uma súmula de parte da tese de Luz
(1996) e do artigo de Maria e Luz (2010).

É usual a adoção de modelo de primeira ordem (acompanhando a molecularidade


unitária da reação de agregação bolha-partícula). Em processo de primeira ordem,
conduzido em batelada, onde a concentração de um dos reagentes (bolhas) permanece
invariante durante o processo e há depleção do outro reagente (partículas hidrofóbicas),
com taxa de depleção proporcional à concentração residual em dado instante, a cinética
pode ser descrita classicamente pela expressão:
R  1  exp  k  t  (01)

Onde R é a recuperação metalúrgica e k é o parâmetro cinético de flotação. Entretanto,


essa equação pode apresentar problema de aderência estatística, o qual pode se
contornar com algumas modificações (aliás, comuns em sistemas de flotação). A
equação clássica foi primeiramente aventada por García-Zuñiga em 1935 (Yianatos,
2005) e estabelece que a taxa de flotação de uma espécie no instante t é proporcional ao
montante daquela espécie remanescente na célula naquele instante.

Uma abordagem alternativa foi proposta por Kelsall (EMC, 2012) é dividir o sistema
particulado a ser flotado em duas parcelas, uma de flotação “rápida” e outra “lenta”. Ou
seja, a recuperação, até o instante t, torna-se:

 
R  f rap 1  exp  k rap  t   1  f rap   1  exp   klen  t 
(02)
4

Onde krap e klent são, respectivamente, os parâmetros cinéticos da fração de flotação


“rápida” e ”lenta”. O parâmetro frap é a proporção mássica do componente de flotação
“rápida”.

O primeiro aspecto peculiar no sistema em estudo é que a flotação pode demandar um


tempo inicial mínimo de aeração, dito tempo de indução (tin), antes do qual o percentual
recuperado (R) é desprezível. Sob o aspecto puramente de aderência matemática das
curvas de regressão sem considerações heurísticas, esse tipo de fenômeno permite que a
equação de cinética de flotação possa ser mais bem descrita por equações do tipo Rosin-
Rammler (Weibull) do que pela equação de primeira ordem (como o valor do tempo t
como a abscissa). Entretanto, uma mudança de coordenadas c (tempo corrigido), por
translação, pode resolver essa desvantagem. Assim, usando-se análise de regressão não
linear é possível se determinar o tempo de indução.

A segunda modificação comumente vantajosa da equação cinética é o estabelecimento


de um patamar máximo de recuperação abaixo dos 100 % (R  1). Isto significa que
uma parcela da espécie mineral nunca flotará por mais tempo que a operação persista.
Exemplo de fenômeno que pode contribuir (no todo ou parcela) para esse efeito e á
existência de grânulos mistos com ganga majoritária na superfície exposta, ou partículas
acima do chamado tamanho máximo de flotação. Além disso, pode haver também
influência da fração de cobertura superficial insuficiente das moléculas do
coletor/reforçador, dando como resultado um grau de hidrofobicidade insuficiente para
compensar a resultante arquimediana (a qual é função da densidade e do tamanho da
partícula). Assim, para o caso de avaliação de cada uma das espécies mineralógicas
presentes, a recuperação acumulativa (Ri) da espécie i para cinética de 1ª ordem (sem
tempo de indução) é dada por (Luz, 1996):
 
Ri  R i, t   Ri  1  exp   ki  t   Ri  1  e  i  

 k t

(03)

Seguindo o aspecto apontado por Sutherland, de que a flotabilidade não depende


somente da proporção do minério mais flotável, mas de outros minerais presentes,
Runge e colaboradores (2003) estudaram o efeito das diferentes classes mineralógicas
na flotação industrial. Esses pesquisadores estudaram o coeficiente cinético de flotação,
considerando que o mesmo é o produto da flotabilidade do mineral (Pi), pela superfície
total de bolhas na polpa aerada (Sb) e pela recuperação na fase de espuma (Resp). Isto é:

ki  Pi  Sb  Resp
(04)
Deve-se notar que modelo alternativo de cinética que não é infrequente na literatura é o
chamado modelo retangular de Klimpel. Para o caso de avaliação das cinéticas de cada
uma das espécies mineralógicas presentes, a recuperação acumulativa da espécie i para
cinética retangular (Yianatos, 2005; King, 2001; Klimpel, 1980):
  1    ki t  
Ri  R i, t   Ri  1     1  e  (05)

  ki  t  

Para os propósitos deste trabalho, adotar-se-á cinética de primeira ordem com o valor
típico de tempo de indução nula. Assim, mudando-se as condições da equação 03, de
regime em batelada (a rigor, em “semibatelada”), para regime contínuo, com regime de
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misturador ideal em cada cuba ou célula, estando N células em série (banco), tem-se,
para a recuperação no conjunto:

 1 
Ri  R i, t   Ri  1   (06)
 1  ki   
N

Onde  é o tempo médio de residência em cada célula. Explicitando-se esse tempo


médio necessário para uma recuperação especificada, resulta, em um banco de células
mecânicas em série, em segundos:
 R 
N
 R  R  1
  
 (07)
k
Onde N é o número de células de flotação em série, R∞ é a recuperação máxima teórica,
R é a recuperação metalúrgica especificada (ou historicamente praticada) e k é o
parâmetro cinético de flotação da espécie de interesse, com dimensão em s-1.
Naturalmente, para a obtenção de um tempo médio de residência deve-se estipular o
volume dos reatores (células), o que é função das vazões volumétricas de trabalho.

No que tange à flotação colunar, o modelo de dispersão axial, tratado por Levenspiel, é
largamente usado para prever a recuperação na chamada zona de coleta, a qual se situa
acima dos aeradores e abaixo da zona de espuma (Burstein e Filippov, 2010; Satr, 1998;
Zhou e colaboradores, 2003).

 1 
4  a  exp  
 2  Nd 
Ri  R i, t   1 
   
1  a 2   exp  2 aN   1  a 2   exp  2 aN 
 d   d  (08)

Onde Nd é o número de dispersão (o inverso do número de Peclet) e o parâmetro a é


(em função do tempo médio de residência, t) dado por:

a  1  4  k  t  Nd
(09)

A vazão mássica da polpa (em kg/s), Qa, na alimentação do circuito é dada por:
Qsa
Qa  (10)
cma
Onde Qsa é a vazão mássica de sólidos (em kg/s) e cma é a concentração mássica de
sólidos no fluxo.

Por seu turno, a vazão volumétrica de polpa na alimentação, Qva é dada por:
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Qa
Qva  (11)
a
Onde a massa específica da polpa (não aerada), ρa, é calculável por:
1
a 
cma

1  cma  (12)

s f
Onde ρs é a massa específica do sólido e ρf é a massa específica do fluido, ambas em
kg/m3.

Nas células de flotação, a vazão volumétrica efetiva deve considerar a fração de espaço
preenchido pelo ar dinamicamente apreendido na polpa, referida, usualmente, pelo
termo inglês: hold up. A vazão volumétrica da polpa aerada é dada por:
Qva
QVaer 
1 (13)

Onde  é a fração volumétrica do gás (hold up) na polpa aerada.

O volume da polpa na célula aerada (expressa em m3) será, portanto, dado por:
Vp aerada  QVaer  (14)
O volume geométrico efetivo da célula deve levar em conta o espaço ocupado por
dispositivos acessórios (como rotor, etc.) e o espaço ocupado pela camada de espuma no
reator. O volume geométrico da célula pode ser dado por:
VPaerada
VCel 
1  fespuma  1  f acessórios  (15)

Onde fespuma é a fração de nível de espuma (borda livre dividida pela altura da cuba) e
facessórios é a fração de acessórios presentes na célula.

No que concerne ao líquido (água mais reagente), sua grande predominância no


ambiente da cuba de flotação, em relação às espécies minerais, sugere cinética de
“ordem zero”, isto é: taxa de aporte de líquido no transbordo constante durante o tempo,
resultando em linha reta. Tal regime mudará se houver depleção de reagentes
tensoativos no decorrer do ensaio. Para se evitar que tal mudança ocorra por consumo
do espumante em ensaio em batelada, a água de reposição (a ser adicionada de modo a
manter constante a borda livre da célula) deve conter o espumante na mesma
concentração vigente no ensaio.
Contudo, a cinética de ordem zero não se cumpre na maioria dos ensaios. Isso por causa
do próprio poder espumante dos coletores utilizados e das variações de sólidos na
espuma (tendo maior impacto aquelas referentes à fração ultrafina), o que torna
desaconselhável a adição de tais reagentes na água de reposição (isso mascararia o valor
real da constante cinética de flotação dos minerais).
Como explicitado por Kapur, Dey e Mehrotra (1991), o parâmetro de cinética de
flotação usualmente considerado nos modelos é, na realidade, um parâmetro aparente
ou global (kap) que enfeixa taxas específicas elementares, quais sejam, segundo esses
autores:
 ka - taxa específica de ancoragem de partículas em bolhas [s-1];
 kd - taxa específica de destacamento de partículas das bolhas [s-1];
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 kdr - taxa específica de drenagem de partículas da espuma [s-1];


 ktr - taxa específica de transferência de partículas da espuma para a calha de
concentrado [s-1].

A taxa de ancoragem (ka) é dependente, dentre outros fatores, das condições de


turbulência fluidodinâmica, das distribuições de tamanho de bolhas e de partículas, da
tensão interfacial e das forças de interação de London-van der Waals. Há equações
extensas do chamado tempo de indução e da eficiência de captura de partículas (ligados
a ka), em função dessas variáveis (a título de esclarecimento, o tempo de indução é
aquele necessário ao adelgaçamento e ruptura da película líquida entre a partícula
mineral e a bolha coletora). Fonte importante para o entendimento do impacto do tempo
de indução sobre a eficiência de flotação é King (2001).

As taxas elementares citadas estão relacionadas ao chamado coeficiente de transmissão


da espuma de King (king) pela seguinte equação (Kapur et alii, 1991):

k tr
 King  (16)
k d  k tr

O coeficiente específico aparente (ou global) de flotação pode ser expresso em termos
dos coeficientes elementares, de acordo com a seguinte equação (Kapur et alii, 1991):

k a   b  t p1
k ap    King (17)
k d  t p1

Onde b é esperança matemática de um parâmetro ligado à distribuição de tamanho de


bolha (por exemplo: área superficial total ou volume de população de equilíbrio de
bolhas na polpa) e tp é o tempo médio de residência na polpa aerada.

Por seu turno Flynn, e Woodburn (1987) desenvolveram modelo de flotação com base
no transporte de sólidos em relação ao fluxo de superfície de bolhas na espuma. A
estabilidade da espuma foi descrita pelos parâmetros de coalescência e ruptura das
bolhas, pelo diâmetro de Sauter das bolhas e pelo arraste hidrodinâmico das partículas,
caracterizado pela espessura das lamelas intersticiais. A espessura dessas lamelas foi
derivada da premissa de bolhas esféricas na espuma. Foi adotado também, no modelo de
Luz (1996), um fator de empacotamento das partículas na espuma, admitido como
constante para cada sistema.

Um modelo que considerou o efeito da fase gasosa na polpa aerada  mas não na
espuma  foi desenvolvido por Laplante, Toguri e Smith (Laplante et alii, 1983). Nesse
modelo, validado experimentalmente, ficou estabelecido o efeito da taxa de aeração da
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célula sobre a eficiência de captura (e, portanto, sobre a taxa específica de flotação, k1).
Mostrou um ótimo no qual há o melhor balanço entre colisão e destacamento de bolhas
e partículas, resultado da concentração de bolhas e da turbulência.

Harris foi um dos precursores do modelamento, já que o chamado modelo Harris-


Arbiter foi o primeiro a tratar como entidades distintas  embora interrelacionadas  a
polpa e a espuma. No artigo citado de Harris, foram revistos os modelos nos quais há
uma partição distinta entre “fases” na polpa e na espuma. Na terminologia de Harris,
muito comumente utilizada, “fase” se refere mais uma região com comportamento
fluidodinâmico e reológico distinto do que a fase no sentido usual da palavra. Assim,
modelo bifásico refere-se ao sistema polpa/espuma e trifásico polpa/fase
intermediária/espuma (fase intermediária podendo ser as proximidades do aerador na
polpa, a base da espuma, ou mesmo a região superior da espuma em interação com os
mecanismos de remoção de concentrado).

Harris também advoga o uso de modelos “bifásicos” como o melhor para simular
regimes estacionários de operação, mas não para transientes. Adotou a polpa como um
misturador ideal, já que o número de Reynolds vigente em células fica em torno de 10 5
para cubas de laboratório e 106 para equipamentos industriais. Segundo o mesmo autor
a espuma é bem descrita por regime de fluxo pistonar (plug flow).
É conveniente registrar que para o caso da polpa quando se tem um banco de flotação a
intercomunicação entre as células em série pode ocasionar mudanças de regime: de
misturador ideal para misturadores com reciclo ou retrofluxos (back mixing effect) ou,
mesmo, para misturadores por difusão (em células pneumáticas). Inoue (1984) estudou
o impacto dessas mudanças sobre a taxa de flotação.

Mesmo para células de laboratório, somente uma parte da cuba se comporta com um
misturador ideal, conforme estudos o demonstraram (Mehrotra e Saxena, 1983).
Segundo essa referência bibliográfica, a razão o volume efetivo: volume nominal pode
ser expressa por:

1,472
 di   p  N   Qvp   p 
1,962 1,711
Vef  Qvp 
 Cma 
0,32
K **
      (18)
V     di    V  

Onde:
K** - constante de proporcionalidade;
V- volume nominal [m3];
Vef - volume efetivo em regime de misturador ideal [m3];

di - diâmetro do impelidor [m];


p - massa específica da polpa [kg/m3];
 - viscosidade dinâmica da polpa [Pa.s];
N - velocidade angular [rps];
Cma - concentração mássica de sólidos [-];
Qvp - vazão volumétrica de polpa [m3/s].
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A constante de proporcionalidade adotada por Mehrotra e Saxena foi k** = 0,249.


Entretanto esses autores não deixaram claro, na referência, as unidades físicas adotadas.

Com respeito à cinética de flotação, sua taxa específica, k1, expurgada dos efeitos da
espuma, pode ser obtida por um processo “evolutivo” a partir dos ajustes de uma
seqüência histórica de processo, ou em campanha específica em que se obtenham os
valores aparentes (kap) para várias condições de espuma no transbordo (por exemplo:
variando o nível de polpa). Nesse caso, mantendo-se as demais variáveis constantes,
pode-se obter k1 como valor assintótico de kap, quando se aumenta a espessura de
espuma.

O ponto de crucial diferença entre os modelos de flotação anteriores e o desenvolvido


por Luz (1996) é que  no modelo de Luz  houve a junção “mecanística” de dois
sistemas comumente estudados em separado: por um lado, o fenômeno de coleta
seletiva de partículas hidrofóbicas e, por outro, os fenômenos de drenagem gravitacional
e capilar de leitos de espuma. Com isso, o impacto de variações do tempo de residência
na polpa sobre a recuperação, ocasionado por variações na espessura de espuma pode
ser caracterizado, ao contrário dos modelos anteriores.

6. REFERÊNCIAS

FLYINN, S. A. & WOODBURN, E. T. Development of a Froth Model for Fine


Particle Beneficiation by Flotation. Transations of Institution of Mining and
Metallurgy (section C). December, 1987.

INOUE, T. Flotation Process Modelling. In: JONES, M.H. & WOODCOCK, J.T.
(ed.): Principles of Mineral Flotation: The Work Symposium. Victoria: The
Australasian Institute of Mining and Metallurgy, 1984.

KAPUR, P. C. et alii, indentification of feed simulation of industrial flotation circuits.


International Journal of Mineral Processing, vol 31 nº 1/2, April 1991. pp: 11-36.

KING, R. P, Modeling & Simulation of Mineral Processing Systems. Boston:


Butterworth-Heinemann, 2001. 403 p.

KLIMPEL, R. R. Chapter 45: Selection of Chemical Reagents for Flotation. In:


MULAR, A. & BHAPPU, R. B. (Ed.). Mineral Processing Plant Design (2th ed.). New
York: SME-AIME, 1980. pp.: 907-933.

LAPLANTE, A.R., TOGURI, J.M., SMITH, H.W. The effect of air flow rate on the
kinetics of flotation: the transfer of material from the slurry to the froth. International
Journal of Mineral Processing. Amsterdam, v. 11, p. 203-219, 1983.

LUZ, J. A. M. da. Flotação Aniônica de Rejeito Itabirítico: Estudo de Reagentes


Alternativos e Modelamento Polifásico do Processo (tese de doutoramento). Belo
Horizonte: EEUFMG, 1996. 574 p.
MARIA, R. C. Aspectos da avaliação técnico-econômica de circuitos de flotação.
Revista Escola de Minas. V. 63, p. 645-651, 2010.
10

MEHROTRA, S.P., SAXENA, A.K. Effects of process variables on the residence time
distribution of a solid in a continuously operated flotation cell. International
Journal of Mineral Processing, Amsterdam, v. 10, n. 4,p. 255-277, june 1983.

YIANATOS, B.J. Flotación de Minerales.Valparaíso: Universidad Técnica Frederico


Santa María, 2005. 130 p.

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