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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES


CURSO: JORNALISMO
DISCENTES: ANGÉLICA GOUVEIA, LETICIA SILVA E MARIA CLARA
RODRIGUES.
DISCIPLINA: HISTÓRIA DO JORNALISMO
DOCENTE: MARCELO RODRIGO DA SILVA

História do Jornalismo
O caso da TV Cabo Branco na Paraíba

A TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo, foi a primeira emissora de televisão da


Paraíba, onde o primeiro jornal da TV Cabo Branco foi ao ar em outubro de 1986. Ele foi
apresentado por Geraldo Oliveira e Bertrand Freire, no entanto, até dezembro ela estava em
fase experimental e retransmitia o sinal da TV Jornal, de Recife, que na época era afiliada à
Bandeirantes. Somente em 01 de janeiro de 1987 foi que a TV Cabo Branco entrou em
caráter definitivo.
Nessa época a televisão era uma novidade e por isso muitos profissionais estavam
trabalhando com o veículo pela primeira vez e passaram por um treinamento que durou
alguns meses, além da fase de teste inicial antes que a TV passasse a funcionar como afiliada
da TV Globo. Vale lembrar que Campina Grande, no interior da Paraíba, em 1963 já tinha a
própria emissora de televisão, a TV Borborema. É importante ressaltar também que em 01 de
janeiro de 1987 a TV Globo também inaugurou sua afiliada em Campina Grande, a TV
Paraíba.
Diante disso é possível concluir que a população de João Pessoa estava ansiosa para
ter o seu primeiro canal e acompanhar as notícias de sua cidade, pois até o momento o que
havia era o aproveitamento de material que as repetidoras forneciam. A maioria era o
conteúdo produzido em Recife e nas emissoras tidas como nacionais.
O primeiro telejornal da TV Cabo Branco foi o Câmera 7. O 7 remetia ao horário em
que o telejornal ia ao ar e ao canal da emissora na cidade. Contudo, o telejornal tinha diversas
limitações. Segundo o jornalista Silvio Osias em testemunho ao Jornal da Paraíba, a equipe
da TV Cabo Branco naquela época usava “(...) máquinas de datilografia e um tele-prompter
doméstico. Além de grandes fitas U-matic. As equipes que acompanhavam os repórteres
tinham um cinegrafista, um operador de VT e um iluminador”.

Imagem 2 - Silvio Osias na antiga redação da TV Cabo Branco nos anos 1980.

Fonte: Reprodução/TV Cabo Branco

O lançamento da TV Cabo Branco ocorreu com muitas emoções. Visto que o


programa foi ao ar somente com parte dele gravado. A outra parte teve que ser ao vivo devido
a um problema no material anteriormente gravado. A apresentadora Edilane Araújo que era
âncora do telejornal da hora do almoço na época relatou em entrevista como foi esse desafio.
Em depoimento ao site1 da própria TV, ela disse:

Tivemos um problema com o material gravado e, instantes antes da hora do


telejornal, ficamos sabendo que iríamos entrar ao vivo. A equipe toda era nova,
aprendemos tudo fazendo. Fiquei tão nervosa, que mal consegui levantar da cadeira
quando acabou. No final, deu tudo certo. Choramos e nos abraçamos bastante.

Tal fato modificou o plano da emissora e as edições seguintes do programa que seriam
gravadas continuaram a ser ao vivo. Após dois anos do lançamento da TV, Edilane passou a
comandar a apresentação do JPB 2ª Edição, um marco para a TV na Paraíba e uma novidade
diante do padrão estabelecido pela Globo.
Segundo a jornalista, em depoimento na mesma entrevista, a presença dela foi um
marco para o jornalismo, isso porque, segundo ela, “Por tradição, os telejornais da noite só

1
Disponível em:
http://redeglobo.globo.com/tvcabobranco/noticia/2015/04/tvs-cabo-branco-e-paraiba-fazem-parte-da-historia-de-sucesso-da-
globo.html Acesso em 03 de out. de 2023 às 15h.
Imagem 2 - Edilane Araújo apresentando o JPB, na TV Cabo Branco na década de 80.

Fonte: Reprodução/TV Cabo Branco

eram apresentados por homens, seguindo o modelo do Jornal Nacional. No começo, eu iria
ser âncora temporariamente, substituindo Geraldo Oliveira. Mas decidimos quebrar as regras
e continuei”. E assim foram 30 anos comandando a mesma banca no mesmo telejornal, o que
torna Edilane uma referência no Brasil como a única jornalista a ter conseguido este feito.

Imagem 3 - Sala de controle operacional (switch) da TV Cabo Branco, no final dos anos 80.

Fonte: Reprodução/TV Cabo Branco

Dentro do âmbito tecnológico, a emissora passou por diversas mudanças ao longo de


sua trajetória. Larissa Pereira, apresentadora do JPB2, telejornal noturno da TV Cabo Branco,
contou em entrevista para esta pesquisa, que quando iniciou sua carreira, ainda eram usadas
fitas cassete na gravação de reportagens. A partir daí, partiram para o disco, e do disco para o
cartão, que é o utilizado até hoje.
Ela ainda lembrou do uso do fax, que é uma tecnologia das telecomunicações usada
para a transferência remota de documentos através da rede telefônica e que também foi muito
utilizado para receber sugestões de matérias e assessorias. Larissa também enfatizou que um
grande aliado hoje como meio de transmissão é o celular e que a própria emissora
disponibiliza um celular de qualidade para todos os seus repórteres.
Larissa Pereira comentou em entrevista desenvolvida para esta pesquisa que a
evolução tecnológica e o uso de novos recursos contribuíram para mudanças efetivas no
modo de trabalhar no telejornalismo da TV Cabo Branco e afirmou que

Então a tecnologia mudou muito. Quando muda essa mídia que grava a reportagem,
muda também a forma como a gente salva essa reportagem, né? Porque antes era
um maquinário bem diferente, é tanto que até hoje eu digo "ilha de edição", porque
era um equipamento que girava uns discos numa mesa para ir para frente, ir para
trás, para pausar, para dar play. A gente apertava esse disco. Eu não era editora de
imagem, mas acompanhava. Então a gente saiu desse equipamento e foi para o
computador, e vejam, isso foi ontem, porque 2009 foi ontem.

Imagem 4 - Ilha de corte e texto da TV Cabo Branco, no final dos anos 80.

Fonte: Reprodução/TV Cabo Branco

Dentro dos conteúdos apresentados na TV Cabo Branco, o formato de programação


que passou a ser realizado ao vivo, também seguiu para o caderno de esportes. Junto a TV
Paraíba, em Campina Grande, a emissora transmitiu, pela primeira vez, o Campeonato
Paraibano. Em 1988, diretamente do Estádio Amigão, as equipes passaram ao vivo a partida
decisiva da competição entre Treze e Botafogo-PB, para a capital do estado, João Pessoa.
Por ser ao vivo, a transmissão foi importante para esse marco da televisão paraibana,
pois até então, a única transmissão da área esportiva só havia acontecido na cidade de
Campina Grande. Dessa forma, as duas emissoras corroboraram para a realização desse fato
inédito, conectando as duas cidades. Para levar o conteúdo à população, diferentes pessoas
atuaram na produção, para garantir que todos pudessem acessar o conteúdo transmitido, pois
para isso, havia a necessidade de conectar o Estádio Amigão, a Telpa e a Televisão Cabo
Branco.

Imagem 5 - Primeira transmissão de futebol das TVs Cabo Branco e Paraíba em 1988

Fonte: Reprodução/ TV Cabo Branco

Em entrevista, Ramiro Souza, ex-lateral direito do Botafogo-PB, comentou sobre a


notícia da transmissão do jogo ao vivo, para o repórter Pedro Canísio:
"Fico muito feliz de ter feito parte dessa história. Nós já sabíamos que teria a
transmissão da TV Cabo Branco, e isso foi uma motivação a mais. Na concentração, a gente
dizia: 'Não vamos perder num jogo exibido para todo o Brasil'. Nós nos engajamos e fomos
até Campina Grande. Eu lembro como se fosse hoje, a transmissão começou com o pré-jogo,
câmera para tudo o que é lado. Essa motivação foi fundamental para conquistar o título."
Esse marco na rede de comunicação foi um passo importante para um novo cenário da
mídia paraibana, que passa a ter a produção jornalística ao vivo, não só nas notícias do
estado, como também em diferentes áreas do jornalismo segmentado. No ano seguinte, em
1989, a TV Cabo Branco acompanhou a partida entre Iugoslávia e Brasil. A cobertura desse
jogo mostra os avanços na capital dentro dos veículos de comunicação, pois foi a primeira
vez que o time principal da seleção jogou em João Pessoa, no Estádio Almeidão, com
cobertura direta do próprio estado da Paraíba.
Nos últimos anos, as coberturas ao vivo e a cobertura dos eventos evoluíram bastante
com os avanços da tecnologia e o uso de ferramentas que auxiliam na transmissão dessas
notícias, principalmente a Internet, que possibilita a troca de informação de forma rápida e
em diferentes lugares e distâncias. O repórter estando em qualquer lugar, consegue registrar,
se comunicar e transmitir uma informação fora da redação.
Em 2018, por exemplo, mais um evento marcante surge na história do telejornalismo
da TV Cabo Branco, que alcançou o cenário internacional. A emissora esteve presente na
cobertura da Copa do Mundo da Rússia, enviando correspondentes para o país, com destaque
para Pedro Canísio e Michele Wadja. Esse novo ponto dentro da transmissão jornalista da
emissora, diferente da primeira transmissão que necessitava de fios para conectar em antenas
e em outros aparatos tecnológicos, evoluiu com a chegada da Internet e do celular, que
possibilitou a comunicação entre o editor, a empresa e o repórter, em diferentes localidades.
Em 2019, a história da Edilane Araújo como apresentadora do JPB2 se encerrou, onde
ela escolheu passar a trabalhar nos bastidores, atuando como Editora de Qualidade e Projetos
Especiais da TV Cabo Branco e seu lugar na bancada foi assumido por Larissa Pereira, que já
havia estagiado na emissora em 2009, logo depois sendo contratada e trabalhado por alguns
anos antes de ir apresentar o Jornal da Rede Globo Nordeste em Pernambuco.
Essa transição de Edilane para Larissa foi muito significativa tanto para a TV, quanto
para os cidadãos paraibanos que a acompanhavam, por se tratar de uma funcionária tão antiga
e, como citado por Larissa na entrevista, muito querida pelo público. Houveram até mesmo
manifestações em redes sociais, pedindo pela volta de Edilane, mas por se tratar de uma
decisão dela, a mesma sempre explicava que era necessário que o público acolhesse Larissa,
pois ela não pretendia retornar.
E só então, quando Larissa Pereira participou da bancada do Jornal Nacional,
representando não apenas a TV Cabo Branco, como também a Paraíba, que a afeição do
público para com ela se transformou, e até hoje é muito querida por todos. O processo não foi
tão rápido, e foram necessárias algumas mudanças para que essa transição se concretizasse,
como por exemplo, a fala dita por Edilane quando o jornal estava para começar “O JPB está
no ar”, e Larissa passou a usar “O JPB começa agora”. Edilane usava calças, Larissa usa
vestidos. Edilane tinha um passo muito específico e amado pelo público que ela criou para
não dar as costas para a câmera, e embora houvessem pedidos, Larissa preferiu não
reproduzi-lo, entre diversas outras mudanças até mesmo no cenário que foram sendo feitas
aos poucos para transmitir essa mensagem.
Atualmente a TV Cabo Branco possui alguns telejornais, como o “JPB1”, apresentado
por Danilo Alves. O “JPB2”, apresentado por Larissa Pereira. O “Globo Esporte”,
apresentado por Kako Marques, o “Bom Dia Paraíba”, apresentado por Denise Delmiro, e o
“Paraíba Comunidade”, apresentado por Hildebrando Neto, que além disso, apresenta o
quadro de gastronomia “ChefJPB”.
Além das mudanças tecnológicas e dos diversos telejornais que surgiram ao longo da
história da TV Cabo Branco, o papel do repórter também se adaptou às inovações.
Inicialmente, a informação não chegava às redações como hoje, em que o celular é aliado dos
repórteres e facilita essa busca pelos fatos, a pesquisa era em campo, havia o deslocamento
do profissional até o local do ocorrido, registravam os acontecimentos e retornavam a redação
para a produção da matéria, e com o auxílio da Internet e do próprio telefone, a comunicação
do repórter com a redação é mais rápida.
Outro fator, é o público, que torna-se mais participativo, o jornalista e o telespectador
tem um contato mais íntimo, não só interagindo com o apresentador e o repórter, mas também
enviando as sugestões de pautas e comentando o telejornal. Dentro do telejornalismo da TV
Cabo Branco, essa interação tem ganhado cada vez mais espaço, deixando o jornalismo mais
próximo do povo.
Em entrevista a esta pesquisa, Sílvia Torres, repórter da emissora, comenta sobre
essas mudanças dentro das redações e programas, como também nesse novo cenário da mídia

As mudanças que acompanhamos foram a forma de noticiar. Hoje, podemos


demonstrar nossa opinião, nossa emoção. É um jornalismo mais humanizado. [...]
Dentro da minha atuação jornalística, somos repórteres mais participativos do
processo da construção da notícia. E interagimos mais em todos os veículos. E
estamos mais próximos do telespectador.

Dessa forma, a TV Cabo Branco pode ser considerada a pioneira dos veículos de
comunicação na capital paraibana, que até então não tinha um jornal transmitindo as notícias
diretamente do estado. Ao longo dos anos, as mudanças dentro e fora das redações
aconteceram sutilmente, mas que se destacam no decorrer da história do telejornalismo
paraibano por seu compromisso com a verdade e a possibilidade de aproximar os paraibanos
da sua região, e embora foram surgindo diversas outras emissoras e jornais, ela segue com
um número maior de audiência em toda a Paraíba. Diante das novas adaptações que o
jornalismo passou, com o avanço da Internet e de outros meios de comunicação, como o
surgimento do Streaming, a TV Cabo Branco, buscou se adaptar a esse cenário de
transmissão da informação e de manter a audiência constante nos programas, trazendo essas
atualizações para dentro da redação, com o intuito de atrair o telespectador para os conteúdos,
e ainda conservar essa aproximação com o público, mantendo o foco em preservar o
jornalismo sério e com veracidade.

Referências

https://jornaldaparaiba.com.br/noticias/primeiro-jornal-da-tv-cabo-branco-foi-ao-ar-ha-30-an
os/ Acesso em 02 out. 2023 às 10h27.

http://redeglobo.globo.com/tvcabobranco/noticia/2015/04/tvs-cabo-branco-e-paraiba-fazem-p
arte-da-historia-de-sucesso-da-globo.html Acesso em 03 de out. de 2023 às 15h.

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