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Trabalho apresentado ao GT de Mídia Áudio-Visual, no VI Congresso Nacional de História da Mídia.
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Paulo já começaram a usar efetivamente o vídeoteipe, diminuindo as probabilidades de
erros das gravações ao vivo, tanto dos programas, quanto das propagandas. Porém, nas
emissoras do interior, os entraves técnicos ainda impediam que fossem feitas externas
com freqüência, assim como limitavam os recursos de pós-produção e cerceavam a
possibilidade de edição dos programas. Sem contar com equipamentos como
microondas, câmeras portáteis e videoteipes, a programação era gerada, basicamente, ao
vivo, dos próprios estúdios.
Ainda na década de 60 o censo demográfico nacional registrava que havia mais
de trinta e quatro estações de televisão no país e cerca de um milhão e 600 mil aparelhos
receptores de TV. No final da década esse número já ultrapassava os quatro milhões 2. O
golpe militar de 64 caracterizou o advento da televisão como o símbolo do
desenvolvimento, do progresso e, portanto, muitos empresários por todo o Brasil foram
premiados com a concessão de um canal de televisão. A TV Industrial, entretanto, foi
anterior a este contexto. Em 1963, o então presidente João Goulart assinava a concessão
da TV Industrial para o empresário Sérgio Vieira Mendes. A cidade de Juiz de Fora -
Minas Gerais, em 29 de julho de 1964, ganhava a primeira emissora geradora autorizada
a funcionar no interior do país.
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época do surgimento da TV, que ainda era um luxo para poucos. O televizinho era
aquele que não tinha o aparelho em casa e ia acompanhar os programas na casa do
vizinho.
Em Juiz de Fora a presença da rádio havia sido marcadamente forte. Desde a
década de 40, o rádio já estava presente e transmitindo programas que se espelhavam
naqueles produzidos no Rio de Janeiro. Mais tarde, com a chegada da TV foi inevitável
que as características do rádio perdurassem nas produções televisivas. Assim, muitos
programas da TV Industrial eram baseados nos sucessos das televisões cariocas.
A TV Industrial
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falar muita coisa. Logo depois o senhor deve dar a palavra ao
doutor Sérgio. (BASTOS, 2007)
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uma atmosfera de ‘praça’ popular, com suas encenações
melodramáticas (radionovelas, telenovelas, casos especiais),
jogos de feira ou de festa de largo (competições, sorteios,
brincadeiras coletivas), variedades (programas de auditório,
shows musicais, atrações circenses), etc.
(SODRÉ e PAIVA, 2002, p.110)
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programa da Industrial, chamado “Panorama Social”, apresentado por Rafael Jorge.
Segundo ele, este teria sido o primeiro programa de talk-show da TV brasileira. Jorge
levava cantores, declamadores e artistas aos palcos da TV Industrial. Era um programa
de variedades, em que muitas atrações eram apresentadas.
Souza (2004) afirma ainda que a linguagem do programa de auditório tem outra
característica especial.
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Com sua voz e estilo cativantes, foi campeão de audiência no rádio por mais de 15 anos. Era ator,
cantor, locutor e radialista. Atuou na TV logo nos primeiros momentos da TV Tupi (1950), embora nunca
conseguisse alcançar o sucesso de seus programas de rádio. Era um dos profissionais cariocas que vinham
atuar em Juiz de Fora aos finais de semana ou nas folgas. Sua imagem histórica ficou inteiramente
desgastada após o Golpe Militar (1964), quando foi acusado de delatar colegas de profissão que se
opunham ao novo governo ditador. Morreu no Rio de Janeiro em 1990.
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O radialista Geraldo Magela conta que o programa esportivo que ele apresentava
- “Camisa 10”, da TV Industrial – levava uma grande quantidade de pessoas ao estúdio.
O programa reunia em uma mesa redonda, nos dias de jogos no Rio de Janeiro, os
principais desportistas de Juiz de Fora (cada um representando um time carioca) que,
após as transmissões, faziam comentários sobre o jogo, a atuação dos jogadores, os
bastidores, a torcida, etc. O “Camisa 10” não era um programa de auditório, porém,
usava do aspecto presencial do público como fator de atração de audiência. Este modelo
de programa, surgido na Industrial, é hoje uma prática comum nas narrações esportivas
na TV.
Souza (2004) afirma ainda que o gênero auditório permite que sejam explorados
vários tipos de formatos em um mesmo programa. Segundo ele, essa diversidade de
atrações tem, assim como a linguagem, a função de dar ritmo e fluidez ao programa, de
forma a prender a atenção do telespectador. Para o autor, o programa de auditório é um
gênero que se encaixa na categoria de entretenimento.
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comandava o programa “O casamento na TV” (que também era exibido na TV Rio), em
que a única condição para participar era não ter receio de passar por alguns
constrangimentos. No programa, Longras fazia questão de que o casal se conhecesse ao
vivo e dava um prazo de cerca de três meses desde o primeiro encontro até o casamento.
Este contexto seria caracterizado por Muniz Sodré (1972) como “grotesco”. Para
o autor, esse recurso estético funciona como uma das “estratégias mais agressivas pela
hegemonia da audiência”. Na medida em que era se apresenta a atração “como signo do
excepcional, como um fenômeno desligado da estrutura de nossa sociedade – é visto
como o signo do outro”. Nesse contexto, o apresentador coloca-se diante de algum fato
que está próximo do público, mas que ao mesmo tempo funciona como excepcional,
como algo diferente e, portanto, como algo que chame a atenção. É o caso do programa
de Longras, em que havia a fiscalização para saber se o participante era mesmo solteiro.
Esse contexto, apesar de comum na vida de muitos telespectadores, tomava ares de
grotesco na medida em que tornava-se público e, portanto, distante.
Muniz Sodré (1972) confirma que os programas de auditório, por meio do
recurso do grotesco, cumpriam com a função de sedução do público, na medida em que
recriavam o ambiente em que o público se manifestava instintamente, sem se preocupar
com o contexto ao qual se submetia.
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durou 16 anos. Era significativa a influência dos programas na vida e cotidiano do
público. Segundo Geraldo Magela Tavares (2007), os profissionais da frente das
câmeras desfrutavam de “notável popularidade”: “Eu não descia a Rua Halfeld sem ser
parado por oito, dez pessoas. (...) É como se fossem esses atores de hoje que as pessoas
querem pegar, querem conversar”.
O desfecho
A TV Industrial foi vendida para a Rede Globo em 1980, depois de várias
tentativas de compra, tanto da própria Globo, como de outras emissoras. Até hoje as
opiniões se dividem sobre as razões da negociação. Entre algumas questões levantadas
que justifiquem a venda está uma crise vivida pela TV na época. Essa crise poderia ter
sido causada pelo fato de que os gastos para manter a TV eram muito altos não havia
nenhum vínculo entre a TV e uma agência publicitária, ou ainda porque a Industrial não
contava com apoio do regime militar, por ser independente. De qualquer maneira,
sozinho, depois do falecimento do pai e do irmão, Geraldo Mendes, não teria resistido à
turbulência financeira na emissora e teria cedido espaço para a Globo em Juiz de Fora.
Luciano Cabral (1985) fala dos bastidores da crise na TV Industrial.
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no Rio ou em São Paulo. E nós perdemos uma geradora. Não foi bom para a cidade.
Definitivamente”.
4. Referências bibliográficas
SOUZA, José Carlos Aronchi de. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São
Paulo: Summus, 2004.
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