Resenha do Artigo: GOVERNABILIDADE E GOVERNANÇA DAS ÁGUAS NO
BRASIL, de autoria de Bruno Pagnoccheschi, para a disciplina de Governança e
Regulação das Águas, do Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos – ProfÁgua, UNIR, Campus Ji- Paraná.
Discente: Vinicios José Dias.
Devido à quantidade e magnitude dos rios brasileiros, a governa e a
governabilidade dos recursos hídricos no Brasil ganham importância estratégica. Isso é ainda mais evidente quando se considera que os recursos hídricos são mal distribuídos no país, de economia de base primária, com grande concentração populacional e poucas regiões e dependente da energia de matriz hidrelétrica, potencializando conflitos. O principal indicar que norteiam as políticas hídricas no país é a disponibilidade hídrica, que compreende parâmetros ligados à quantidade e à qualidade das águas. A legislação dos recursos hídricos no Brasil se equilibrou entre a importâncias ecossistêmica das águas, ou seja, seu valor intrínseco ambiental e a importância das águas enquanto insumo produtivo fundamental para as diversas atividades econômicas. Assim, sua administração cabe não apenas manter sua disponibilidade visando a importância da água para os sistemas naturais, mas torna-la e mantê-la disponível para as demandas econômicas. A legislação também leva em conta as questões inerentes às responsabilidades dos diversos entes federados, ou seja, qual o papel da União, dos Estados e dos Municípios, no que diz respeito às águas superficiais e subterrâneas. O autor diferencia governabilidade de governança: sendo o primeiro dotado de uma dimensão político-institucional, exclusiva do poder público; enquanto que a segunda engloba todo o conjunto da sociedade. A seguir, o texto narra a evolução histórica da institucionalidade das políticas de recursos hídricos no Brasil. Durante todo o período colonial, o Estado foi praticamente ausente, cabendo aos indivíduos as soluções para o abastecimento de água e saneamento. Os conflitos que por ventura eclodissem eram resolvidos à luz do direito de vizinhança e pelo advento dos “pipeiros”, que coletavam, transportavam e comercializavam a água, iniciando o envolvimento do setor privado nas questões relativas à água no país. Com a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, as primeiras medidas de controle sanitário e macrodrenagem foram tomadas. Apenas no Império, o problema das secas no nordeste começa a ganhar o debate nacional, ocasionando as primeiras obras de abastecimento de água para o consumo humano e animal e para a agricultura de subsistência na região, ao mesmo tempo em que o processo de europeus para o sul do país ocasionou a ocupação de locais que ocasionaram enchentes. Na Velha República, o agravamento dos problemas ligados ao saneamento e à saúde da população em razão do fluxo migratório e crescimento urbano geraram suficiente pressão para que houvesse a participação da iniciativa privada, inclusive com empresas estrangeiras e dos primeiros serviços públicos de saneamento. Com a industrialização do país, a pressão por geração de energia elétrica aumento significativamente, inserindo mais um componente para disputar esse recurso. A Constituição republicana de 1891, no entanto, era praticamente omissa ao tema das águas, fazendo menção apenas à navegação de rio compartilhados por mais de um estado ou com outros países. Em 1906 foi criado o órgão que daria origem ao Departamento Nacional de Obras Contra Secas (DNOCS), com foco no semiárido nordestino. Em 1907 o projeto de um código sobre os recursos hídricos começou a ser escrito. Todavia, ele ficaria parado no legislativo até 1931, quando foi retomado para ser aprovado em 1934, o chamado “Código das Águas”. Legislação que inovou muito, tendo consagrado termos utilizados corriqueiramente no ordenamento atual, como por exemplo, as outorgas (então destinadas a todas as derivações que não tivessem o objetivo de gerar energia hidroelétrica), e os conceitos de usuário-pagador e poluidor-pagador, esboçando a preocupação com a quantidade e a qualidade da água. Ainda conforme este código, o domínio privado da água permaneceu, porém foi restringido. Na década de 1940 foram criadas a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) e a Comissão do Vale do São Francisco, que daria origem à Companhia de Desenvolvimento do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), comissão que deu uso no país do conceito de uso múltiplo. Em 1959, foi criada a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Na década de 1960, houve a consolidação do setor elétrico brasileiro, com a criação do Ministério de Minas e Energia (MME), da Eletrobrás e do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), que era responsável pelas concessões e autorizações para geração de energia elétrica. O serviço de águas do DNPM deu origem ao Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), que acumulou funções ligadas à gestão do uso das águas e da energia elétrica, comprometendo o entendimento sobre os usos múltiplos dos recursos hídricos. Ainda assim, este órgão, por maio da Divisão de Controle de Recursos Hídricos (DCRH), iniciou a implementação dos primeiros comitês de bacia hidrográficas. O debate para a criação de uma nova lei de águas no Brasil se iniciaram em 1991, sendo impulsionados pela criação, em 1995, da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em 1997 foi promulgada a Lei n°9.433, que criou a Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) e instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídrico (SINGREH). Em 2000, é criada a Agência Nacional de Águas (ANA), avançando-se então na estruturação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), dos comitês de bacia dos rios sob dominialidade da União, na implementação dos instrumentos de gestão, na elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e dos planos das bacias. A seguir, o texto fala do contexto atual da gestão e governança dos recursos hídricos, sob os seguintes pontos: - Há um esforço para que haja a criação, manutenção, estruturação e efetividades das ações dos comitês de bacia nos estados, além dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, havendo cerca de 150 comitês de bacias estaduais e interestaduais no país; - Há necessidade de aperfeiçoar a capacidade técnica e de gestão nos estados; - O financiamento dos fundos se dá por compensações do setor elétrico, multas, cobranças pelos usos e orçamento dos estados; Os principais desafios à gestão integradas dos recursos hídricos são: - a integração da gestão de águas com a gestão ambiental, como por exemplo, não há definição sobre a cronologia de processos como licenciamento ambiental e outorga de uso dos recursos hídricos; - a integração dos aspectos de quantidade e qualidade, faltando articulação e sistematização do monitoramento entre os inúmeros atores; - a integração da gestão dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, pois, no contexto do ciclo hidrológico, um afeto o outro e há um aparente descontrole sobre a utilização dos recursos subterrâneos; - a Integração da política de recursos hídricos com as políticas setoriais, sendo que no Nordeste, a aplicação do conceito de bacia hidrográfica, para gestão faz menos sentido devido à grande quantidade de rios intermitentes, enquanto que na Amazônia, a grandiosidade das áreas das bacias e as condições dos sistemas de transporte, dificultam a participação nos comitês de bacia, gerando pouca sinergia entre setores, como por exemplo, o de energia elétrica e navegação, com projetos excludentes entre si. Por fim, o texto se utiliza de exemplos de iniciativas de governabilidade e governança, como o Plano Plurianual (PPA); o Programa de Desenvolvimento Sustentável de Recursos Hídricos do Semiárido Brasileiro; e o Pacto Nacional pela Gestão das Águas, todos pensados para apontar caminhos para a superação dos desafios que a governabilidade e a governança dos recursos hídricos ainda precisam enfrentar.