Você está na página 1de 36

RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Os Recursos Hídricos no Brasil

Como funciona a gestão de recursos hídricos no brasil?

Constituição

Existem diversos dispositivos sobre recursos hídricos na atual Constituição brasileira. Há também dis-
posições sobre o domínio das águas, seu aproveitamento e competências legislativas e administrativas
das três esferas do poder.

Pela lei, não existem águas particulares ou privadas com domínio ligado à propriedade da terra. E
também não existem recursos hídricos de domínio dos municípios. Todas as águas pertencem à União
e aos estados.

Dessa mesma forma, é estabelecido que os potenciais de energia hidráulica são de posse da União.
Visto que eles constituem propriedade distinta da do solo para efeitos de exploração ou aproveitamento.

Código de Águas

O código de águas foi promulgado em 10 de julho de 1934 na forma do Decreto nº 10.643. Ele está
estruturado em três livros:

• Águas em Geral e sua Propriedade;

• Aproveitamento das Águas;

• Forças Hidráulicas e Regulamentação da Indústria Hidroelétrica.

Esse código foi pioneiro e serviu de base para diversas legislações, inclusive de outros países. Ele
prevê a cobrança do uso dos recursos hídricos públicos e enuncia o princípio poluidor-pagador. Dessa
maneira, aquele que causar danos ou perdas às águas responde criminalmente de acordo com as
legislações vigentes.

O decreto possui grande relevância para as leis brasileiras. Ainda em vigor, o código visa sobretudo,
garantir a preservação e a qualidade das águas do Brasil.

Lei das Águas

A Lei nº 9.433 de 08 de janeiro de 1997 ficou conhecida como “Lei das águas”. Ela institui a Política
Nacional dos Recursos Hídricos, define infrações e penalidades e cria o Singerh – Sistema Nacional
dos Recursos Hídricos.

Tem-se como diretrizes a gestão sistemática desses recursos, levando em consideração a qualidade,
quantidade disponível e às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais
do país. A lei também prevê a integração da gestão com os setores usuários e os planejamentos regi-
onais, estaduais e nacionais.

Essa legislação determina também que a gestão dos recursos hídricos deve ser baseada em usos
múltiplos e descentralizada. Ou seja, considera os diversos usos da água e a participação da sociedade
e governo nas decisões sobre os recursos.

Ressalta-se que o Plano Nacional dos Recursos Hídricos é um instrumento de gestão. Ele objetiva
estabelecer diretrizes e políticas públicas para melhoria de oferta de água de acordo com as demandas
exigidas.

Lei nº 9.984, de 17 de Julho de 2000

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 1
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Essa lei cria e regulamenta a Agência Nacional das Águas (ANA). Ela é a entidade responsável pela
implementação da Política Nacional dos Recursos Hídricos e pelo gerenciamento do Singerh.

À ANA compete atuar na elaboração e implementação de planos de recursos hídricos em bacias hidro-
gráficas de domínio federal e oferecer apoio técnico para elaboração desses planos em outras esferas.

Para explicar melhor, funciona assim: existem agências de bacias que são responsáveis pela elabora-
ção dos planos de sua respectiva bacia hidrográfica e que podem pedir apoio da ANA na elaboração.
Quando essas agências não existem, é de responsabilidade da ANA elaborar o plano.

Atualmente, existem oito planos de bacias elaborados: Margem Direita do Amazonas, Tocantins-Ara-
guaia, São Francisco, Paranaíba, Verde Grande, Doce, PCJ e Paraíba do Sul. Essas bacias corres-
pondem a 51% do território nacional.

Além disso, cabe à Agência Nacional das Águas enquadrar os corpos hídricos em classes. Ela estabe-
lece o nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou mantido em determinado trecho de corpo d’água
ao longo do tempo. Essa classificação objetiva assegurar a qualidade da água com seu respectivo uso
e diminuir os custos direcionados ao combate à poluição.

Mas como tudo isso é aplicado?

No geral, as legislações apresentadas acima são as mais relevantes e as que tratam especificamente
das águas e recursos hídricos brasileiros. O quadro abaixo apresenta todos os órgãos responsáveis
pela gestão dos recursos hídricos do país.

O quadro mostra os organismos em âmbito nacional e estadual, os colegiados, os responsáveis pela


administração, o poder outorgante e a entidade da bacia.

Assim, existe o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), instância mais elevada do Singerh,
no qual compete analisar propostas, deliberar projetos, arbitrar conflitos e articular para a promoção
dos recursos hídricos em todos os âmbitos federais.

Paralelamente, existe a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU), órgão do Minis-
tério do Meio Ambiente (MMA), que gerencia os recursos hídricos conforme a estrutura regimental es-
tabelecida pelo Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007.

Por fim, tem-se a ANA, agência reguladora das águas brasileiras, seguida dos comitês e agências de
bacia, já apresentados anteriormente.

Da mesma forma ocorre no eixo estadual. Há o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH),
órgão deliberativo, seguido da Secretaria e Entidades Estaduais, responsáveis pelo gerenciamento das
bacias e recursos hídricos dos estados da União.

Recursos Hídricos x Saneamento Básico

Um conceito bastante importante e que não deve ser confundido é o de recursos hídricos e saneamento
básico. A gestão dos recursos hídricos objetiva garantir a disponibilidade e qualidade da água para
seus mais diversos usos, incluindo o abastecimento público e a preservação do meio ambiente.

Para isso, exigem diversas ações como preservação e reconstituição de matas ciliares, preservação
de nascentes, técnicas de manejo dos solos agrícolas e pastagens, implementação de redes coletoras
e estações de tratamento de esgotos sanitários, coleta e tratamento do lixo urbano e efluentes indus-
triais, dentre muitas outras.

Como já discutimos aqui no blog, o saneamento básico se refere ao conjunto de quatro serviços (abas-
tecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e a drenagem

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 2
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

e manejo dos resíduos industriais). Assim, o saneamento se insere dentro do contexto da gestão dos
recursos hídricos.

Outro ponto importante é que os serviços de saneamento geralmente são prestados por empresas
(estaduais ou privadas), enquanto a gestão dos recursos hídricos é competência do governo dos esta-
dos e da União, dependendo do domínio.

De acordo com a consultoria legislativa, na grande maioria das regiões brasileiras, não há correlação
entre a baixa disponibilidade de recursos hídricos e a situação dos serviços de saneamento. O que
ocorre no geral, são deficiências no planejamento, na operação e nos investimentos desses sistemas.

No que cerne ao saneamento básico no Brasil ainda há muito o que se evoluir para a universalização
dos serviços. Em questões de gestão, as políticas dos recursos hídricos brasileiras e o modelo de
gerenciamento atual são bastante consolidados e chama a atenção de governos de outros países.

Ainda existem deficiências e pontos a serem melhorados. Porém, não se deve deixar de ressaltar que
o Brasil está bem encaminhado quando se trata de legislação para preservação de sua abundância de
águas.

Recursos Hídricos no Brasil

Brasil

Aspectos gerais, demográficos, econômicos, físicos e ambientais

2. Arcabouço legal do meio ambiente e dos recursos hídricos

Política nacional do meio ambiente; política nacional de recursos hídricos e sistema nacional de geren-
ciamento; legislação em nível estadual e política nacional de saneamento.

3. Avaliação dos recursos hídricos

Rede nacional de quantidade e de qualidade de água; Programa monitore e macromonitoramento am-


biental.

4. Uso múltiplo da água

Saneamento básico; agricultura e irrigação; energia elétrica; transporte hidroviário; uso industrial; pesca
e aquicultura.

5. Programas e projetos

Principais iniciativas do governo federal

6. Experiências brasileiras em gestão de bacias

Os comitês de bacias; gestão em regiões metropolitanas.

7. Participação social

8. Cooperação internacional

Investimento multilaterais e bilaterais em projetos de saneamento e recursos hídricos; Tratado da Bacia


do Prata; Tratado de Cooperação diversos acordos bilaterais.

Brasil: Aspectos Gerais

Demografia E Economia

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 3
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

A população brasileira em 1995 registrou cerca de 156 milhões de habitantes. No ano 2000 chegará a
166, 7 milhões e em 2020 a 202, 1 milhões de habitantes. Em 1991 75% da população foi registrada
em áreas urbanas.

O padrão de crescimento econômico adotado ao longo das últimas décadas, baseado no desenvolvi-
mento industrial, propiciou o surgimento de uma economia urbano-industrial diversificada e complexa
de consumo de massa. Esse padrão de crescimento não foi capaz de eliminar a pobreza, muito embora
tenha contribuído para reduzi-Ia nos momentos mais dinâmicos de seu ciclo. O esgotamento desse
padrão acentuou-se ao longo dos anos 80, período marcado: pela crise fiscal e da dívida externa; pela
perda de dinamismo nas atividades produtivas; pelo elevado déficit público; pela inflação recorrente e
pelas tentativas mal sucedidas de estabilização. Naquele período agravaram-se os problemas sociais
no País.

A experiência bem sucedida de estabilização econômica - o Plano Real - iniciado em 1994, vem apre-
sentando efeitos positivos, especialmente para os segmentos mais pobres da população, acarretando
uma significativa redistribuição de renda. Além disso, o profundo processo de reestruturação da eco-
nomia brasileira, caracterizado pela modernização tecnológica e gerencial, abertura comercial, compe-
tição mais acirrada, e diminuição da presença do Estado na economia, entre outros, vem afetando
alguns segmentos ocupacionais.

Têm importância decisiva no plano econômico os recursos naturais de que dispõe o país. O setor da
agroindústria responde por cerca de 40% do Produto Interno Bruto brasileiro -PIB. O setor florestal, por
4% do PIB. E o setor pesqueiro, por 1 %. Produtos da biodiversidade - principalmente café, soja e
laranja - respondem por 31% das exportações brasileiras. O extrativismo vegetal e a pesca empregam
mais de 3 milhões de pessoas. A biomassa vegetal -aí incluídos o álcool da cana-de-açúcar, a lenha e
o carvão derivados de florestas plantadas e nativas -participam com 17% na matriz energética nacional,
sobretudo na região nordeste. Atualmente 92% da energia elétrica consumida provêm da geração hí-
drica.

Aspectos Físicos E Ambientais

O Brasil é um país de dimensões continentais com uma área de mais de 8.5 milhões de Km2 , com
uma costa de cerca de 8.500 Km de extensão, onde se concentra a maior parte da população. O país
possui uma diversidade biológica rica nos três seguintes aspectos: genético, variedade de espécies e
de ecossistemas - como consequência de uma grande variedade climática e geomorfológica.

O relevo brasileiro apresenta grande variedade de aspectos geomorfológicos, decorrentes de sucessi-


vas mudanças climáticas, das características litológicas e estruturais e dos fatores biológicos, que ori-
ginaram sua compartimentação geomorfológica atual. O território possui uma diversificação climática
muito ampla.

O País é dotado de uma vasta e densa rede hidrográfica, sendo que muitos de seus rios destacam-se
pela extensão, largura e profundidade. Em decorrência da natureza do relevo, predominam os rios de
planalto, que possuem um alto potencial para a geração de energia elétrica. Dentre os grandes rios em
território nacional, o Amazonas e o Paraguai são os principais rios de planície enquanto que o São
Francisco e o Paraná são os principais rios de planalto.

A vegetação está compreendida quase que inteiramente dentro da Zona Neotropical, e para fins geo-
gráficos pode ser dividida em dois territórios: o amazônico e o extra-amazônico.

A fauna brasileira é bastante rica em espécies, que comportam um número de indivíduos relativamente
pequeno, sendo muitas delas endêmicos. Esses fatos indicam que se trata de uma fauna frágil. Se-
gundo pesquisadores, ocorrem no Brasil 524 espécies de mamíferos entre as quais 77 primatas, 27%
do total mundial; 1622 espécies de aves, 400 espécies de répteis; das 3.131 espécies de vertebrados,
excluindo peixes, há 259 ameaçadas e vulneráveis: mais de 3.000 espécies de peixes de água doce.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 4
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Estima-se que existam pelo menos 5 a 10 milhões de insetos (a maior parte ainda não descrita pela
ciência).

O país possui uma flora bastante diversa, com 50 a 56 mil espécies descritas de plantas superiores, 20
a 22% do total mundial. O grupo das angiospermas (plantas com flores) é o principal e economicamente
mais importante grupo de planta terrestres. O número de angiospermas está próximo de 250 mil espé-
cies no mundo, e no Brasil estima-se entre 40 a 70 mil espécies, sobretudo nas regiões da Mata Ama-
zônica, Bacia Amazônica e Cerrado. As coletas mais recentes da flora brasileiras estão depositadas
em cerca de 70 herbários no país.

Os Biomas

São nove os biomas brasileiro, segundo condições ecológicas refletidas pela vegetação original pre-
ponderante e a posição geográfica que ocupam.

O Bioma Amazônico, dominado pela floresta tropical perenifolia ou pluvial, onde a porção brasileira
representa o maior corpo florestal do planeta. Este se encontra condicionado ao clima equatorial quente
superúmido e úmido, onde a precipitação pluviométrica é bem superior à evapotranspiração potencial.
O Ecossistema Amazônico ocupa uma superfície de 4.005.082 Km2 . As águas e a vegetação nativa
recobrem aproximadamente 92% de sua área. O uso e a ocupação das terras são caracterizados pre-
ponderantemente polo extrativismo animal e vegetal.

O Bioma de Cerrado ocupa uma superfície de 1.890.278 Km2 , com vegetação de fisionomia variada.
O Cerradão é uma formação arbórea densa, sendo Cerrado constituído por árvores tortuosas, relativa-
mente baixas, entremeadas por arbustos. Os Campos Cerrados, são constituídos de árvores e arbustos
que encontra-se espaçados, predominando na fisionomia o extrato gramíneo. O uso e a ocupação das
terras são determinadas pela agropecuária.

O Bioma do Pantanal ocupa uma superfície de 154.884 km2, em território brasileiro. A vegetação nativa
recobre 97% da área, alterada em parte pelo pastoreio e pelos tratos agronômicos que visam à melhoria
das condições das pastagens nativas. A Depressão Pantaneira é uma extensa superfície de acumula-
ção de águas e sedimentos, com terrenos predominantemente planos e suavemente ondulados, ala-
gados periodicamente.

O Bioma de Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste caracteriza-se pela paisagem cálida, espi-
nhosa e seca. As temperaturas são muito elevadas, a umidade do ar é baixa. Esses biomas ocupam
uma superfície de 939.391 km2. As caatingas são classificadas em Caatinga Arbórea, Caatinga Arbus-
tivo Arbórea e Caatinga Arbustiva. São compostas por arvoretas e arbustos, muito ramificados e fre-
quentemente armados de espinhos. O "sertão", como é dominando, constitui a vegetação mais rala do
semi-árido. O uso e a ocupação das terras são essencialmente agrícolas de ciclo curto e precário.

No Bioma do Meio Norte, a interpenetração das floras amazônica, central e da caatinga, dá lugar a um
complexo ecossistema de transição. O clima varia entre tropical quente subúmido, característico dos
limites do cerrado com a pré-amazônia, e o semi-árido, característico das caatingas. A estação seca
varia entre 4 e 7 meses. O bioma do Meio Norte ocupa uma superfície de164.205 Km2 . O uso e a
ocupação das terras são definidos pelo extrativismo, pelo pastoreio e pela agricultura de curto e médio
ciclo.

O Bioma de Florestas Estacionais Semideciduais é eminentemente complexo e de ocupação antiga,


onde o urbano-industrial, o agrícola e o pecuário se mesclam.

Compreende uma grande faixa que corre de nordeste a sudeste entre a Floresta Atlântica, Pinheirais e
os Cerrados. O clima, que de uma maneira geral caracteriza essas áreas, é tropical quente e subquente

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 5
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

subúmido com 4 a 5 meses de estação seca. Ocupa uma superfície de 518.834 km2. As áreas flores-
tadas remanescentes representam cerca de 4% da cobertura natural original. A atividade mineradora
é intensa.

O Bioma dos Pinheirais coincide com o Planalto Meridional Brasileiro e nesta área coexistem represen-
tantes da flora tropical, afro-brasileira, temperada e austro-brasileira. É a área de dispersão do pinheiro-
doparaná, espécie de alto valor econômico e paisagístico, encontrando-se hoje praticamente erradi-
cada de seu local de origem. A vegetação natural era dominada pela Floresta de Araucária, que hoje
não atinge os 10% da área originalmente

coberta por ela. O uso e a ocupação das terras são principalmente agrícolas. O Bioma da Região dos
Pinheirais ocupa uma superfície de 220.363 km2 .

O Bioma do Extremo Sul compreende o Sul do Planalto Meridional, outrora recoberta pelos campos e
algumas florestas, sendo limitado a leste pelas áreas costeiras da Planície Gaúcha. O clima é tempe-
rado mesotérmico brando, superúmido sem estação seca. Ocupa uma superfície de 203.875 km2. O
uso e a ocupação das terras são de natureza agrícola e pecuária. A vegetação pioneira e as florestas
foram erradicadas e devido ao pastoreio os campos naturais encontram-se substancialmente alterados.
A infra-estrutura em torno dos maiores centros urbanos, ocupa uma área significativa.

No Bioma Costeiro e da Floresta Atlântica, as correntes marinhas, a temperatura das águas e do ar


sobre o oceano, o efeito orográfico das cadeias de montanhas, a latitude e a altitude originam tipologias
climáticas variáveis que, atuando sobre as diversas estruturas geológicas, deram lugar a morfogêneses
específicas, que por sua vez viabilizaram adaptações biológicas com estratificação vertical e comparti-
mentação horizontal. Ocupa um superfície de 415.088 km2. O uso e a ocupação das terras são carac-
terizados, de uma maneira geral, pelo extrativismo animal e vegetal, pela infra-estrutura urbana portu-
ária, de turismo e lazer e, de forma localizada, pela agricultura pelas pastagens e pela silvicultura.

As Grandes Bacias Hidrográficas

O território brasileiro é constituído de três grandes bacias e de dois complexos de bacias hidrográficas.
As três bacias são: a do rio Amazonas, a do rio Tocantins e a do São Francisco, e os dois complexos
de Bacias são o do Prata e do Atlântico. O complexo da Bacia do Prata é constituído de três bacias:
Alto Paraguai, Paraná e Uruguai e o complexo atlântico é subdividido nos seguintes conplexos: Atlân-
tico Norte, Atlântico Nordeste, Atlântico Leste 1, Atlântico Leste 2 e Sudeste.

A produção hídrica, entendida como o escoamento anual afluente ao Oceano Atlântico, é, em território
brasileiro, de 168.790 m3/s. Levando-se em consideração também a vazão produzida na área da bacia
Amazônica que se encontra em território estrangeiro, estimada em 89.000 m3/s. A disponibilidade hí-
drica total do País atinge 257.790 m3/s.

Os dados do balanço hídrico mostram a grande variação hidrológica do território brasileiro. De fato, os
escoamentos superficiais específicos variam desde 48,2 l/s/km2 no Atlântico Norte e 34,2 I/s/ km2 na
bacia Amazônica até 2,8 l/s/km2 na região semi-árida do Atlântico Leste 1 e 4,5 l/s/km2 na bacia do rio
São Francisco.

As informações básicas sobre essas bacias hidrográficas constam do quadro a seguir, em especial a
disponibilidade hídrica "per capita", em m3/ano/habitante, parâmetro que permite avaliação da abun-
dância e da escassez hídrica em bacias, Observe-se que há abundância de água no Brasil se conside-
rarmos o valor médio de 36.317 m3/ano/hab. , mas há bacias no limiar da escassez hídrica como as
do Atlântico Leste (5 A)

Os Problemas De Poluição E De Qualidade Das Águas

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 6
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

A concentração da população em determinadas regiões, cidades e áreas metropolitanas é um dos


principais aspectos a ser considerado na gestão integrada de recursos hídricos, uma vez que implica
em demanda tanto por disponibilidade de água para o abastecimento público quanto para dissolução
de cargas poluidoras urbanas.

A situação de poluição hídrica tem-se agravado no País, considerando-se o aumento das cargas polui-
doras urbana e industrial, uso inadequado do solo, erosão, desmatamento, uso inadequado de insumos
agrícolas e mineração.

Estes fatores, associados à distribuição anual de chuvas e às características climáticas, levam a danos
ambientais dos recursos hídricos, dentre os quais se destacam o aumento do transporte de sedimento
e a contaminação orgânica e química das águas. Os impactos ambientais decorrentes da poluição de
águas fluviais provocada pelos pólos agro-industriais (principalmente suinocultura e avicultura), no sul
do Brasil, e os relacionados à agroindústria sucroalcooleira do Nordeste e do Estado de São Paulo,
exemplificam alterações significativas dos recursos hídricos no Brasil.

Destaca-se, ainda, o alto grau de comprometimento ambiental dos recursos hídricos da região carbo-
nífera no sul do país e da região de garimpo e de mineração no norte do pais onde não há tecnologia
ambientalmente adequada para a explotação e o processamento desses recursos minerais.

Outras atividades causadoras de poluição das águas são as termelétricas e os complexos siderúrgicos
que ainda operam com processos industriais mais antigos e não contam com a instalação de equipa-
mentos de controle da poluição ambiental adequados. Os conflitos de interesses com relação ao uso
da água representados pelo setor hidrelétrico, pelos complexos industriais, pelas necessidades de
abastecimento urbano, irrigação e adensamento urbano industrial, evidenciam a necessidade de arti-
culação interinstitucional para a adoção de política de gestão integrada de recursos hídricos.

A Água Subterrânea

A explotação da água subterrânea vem, atualmente, registrando um expressivo incremento. Vários nú-
cleos urbanos abastecem-se de água subterrânea de forma exclusiva ou complementar. Indústrias,
propriedades rurais, escolas, hospitais e outros estabelecimentos utilizam água de poços artesianos.

No Brasil, o volume de água subterrânea amenos de 1.000m de profundidade e de boa qualidade para
o consumo humano, está estimado em 112.000 km3. Há cerca de 200.000 poços tubulares em explo-
tação, sendo perfurados cerca de 10.000 poços por ano. Cerca de 61% da população brasileira se
abastece de mananciais de subsuperfície, tais como poços rasos (6%), nascentes/fontes (12%) e poços
profundos (43%).

A despeito dessa expressiva utilização, na região Nordeste, onde a escassez hídrica é pronunciada, a
potencialidade da água subterrânea permite uma explotação 40 vezes maior do que o volume total
explotado atualmente. No Estado do Maranhão, 76,6% das cidades são abastecidas por água subter-
rânea, e no Estado do Piauí, 84,3% das cidades consomem águas de subsuperfície. A região metro-
politana de Recife consome o correspondente a 20% do volume total fornecido à população. No Estado
de São Paulo 50% das indústrias usam água subterrânea.

Arcabouço Legal E Institucional Do Meio Ambiente Dos Recursos Hídricos No País

A Política Nacional Do Meio Ambiente

Entre os princípios adotados pela citada lei podem ser destacados: a consideração do meio ambiente
como patrimônio público, a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo
e sustentável da água, assim como de outros recursos ambientais; o planejamento e a fiscalização do
uso de recursos ambientais; o controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente polui-

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 7
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

doras; os incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso sustentável e à pro-
teção dos recursos ambientais; o acompanhamento do estado da qualidade ambiental; a recuperação
de áreas degradadas; a proteção de áreas ameaçadas de degradação; e a educação ambiental em
todos os níveis de ensino. inclusive a educação da comunidade.

Quanto aos objetivos, vale mencionar: a compatibilização do desenvolvimento econômico e social com
a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; a definição de áreas prioritárias
de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; o estabelecimento de critérios e padrões de
qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo dos recursos ambientais; o desenvolvi-
mento de pesquisas e tecnologias nacionais orientadas para o uso sustentável dos recursos ambien-
tais; a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente e a divulgação de dados e informações
ambientais; e a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar ou indenizar os danos
causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

O Sistema Nacional Do Meio Ambiente –SISNAMA

O Sistema Nacional do Meio Ambiente -SISNAMA, foi regulamentado pelo Decreto n.º 99.274, de 06
de junho de 1990, e é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e me-
lhoria da qualidade ambiental.

O Conselho Nacional Do Meio Ambiente –CONAMA

O Conselho Nacional do Meio Ambiente -CONAMA, é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema


Nacional do Meio Ambiente SISNAMA. É presidido pelo Ministro de Meio Ambiente e sua Secretaria
Executiva é o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. O CO-
NAMA, composto pelo Plenário e por Câmaras Técnicas, é um colegiado. A plenária é composta por
representes dos mais diversos setores do governo e da sociedade civil que lidam direta ou indireta-
mente com o meio ambiente. São membros do plenário: um representante de cada Ministério e das
demais Secretarias da Presidência da República e do IBAMA; um representante de cada um dos Go-
vernos Estaduais e do Distrito Federal, e representantes das seguintes entidades; Confederações Na-
cionais da Indústria, do Comércio e da Agricultura; Instituto Brasileiro de Siderurgia; Associação Brasi-
leira de Engenharia Sanitária -ABES; Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza -FBCN; e
Associação Nacional dos Municípios e Meio Ambiente -ANAMMA; além de representantes de associa-
ções legalmente constituídas para a defesa dos recursos naturais e do combate à poluição, de livre
escolha do Presidente da República; e representantes de sociedades civis, legalmente constituídas, de
cada região geográfica do País, cuja atuação esteja diretamente ligada à preservação da qualidade
ambiental e cadastradas no Cadastro Nacional das Entidades Ambientalistas – CNEA.

O CONAMA é composto ainda de dez Câmaras Técnicas permanentes e oito Câmaras Técnicas Tem-
porárias. Cada Câmara Técnica é composta de sete Conselheiros, que elegem um Presidente e um
Relator. As Câmaras Técnicas Temporárias são criadas por determinação do Plenário por prazo defi-
nido, para cumprir objetivo predeterminado.

Os Preceitos Constitucionais

A Constituição Federal de 1988 estabelece que "são bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes
em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado da federação, sirvam de limite com
outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos mar-
ginais e as praias fluviais". Estabelece, ainda, como "bens dos Estados, as águas superficiais ou sub-
terrâneas, fluentes, emergentes ou em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decor-
rentes de obras da União.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 8
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Compete privativamente à União legislar sobre águas. É de competência da União explorar, direta-
mente ou mediante autorização, concessão ou permissão, o aproveitamento energético dos cursos de
água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; os serviços de
transporte aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais ou que transponham os limites de
Estado ou Território; e definir critérios de outorga de direito de uso das águas.

Constituem competência comum da União, dos Estados e dos Municípios proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas; promover a melhoria das condições e fiscalizar as
concessões de direitos de exploração de recursos hídricos em seus territórios; e legislar concorrente-
mente sobre defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição,
responsabilidade por dano ao meio ambiente e proteção e defesa da saúde.

Para fins administrativos, a União poderá articular ações em um mesmo complexo geoeconômico e
social, visando ao desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais, através da priorização
do aproveitamento econômico e social dos rios e das massas representadas ou represáveis nas regiões
de baixa renda, sujeitas a secas periódicas.

O Código De Águas

A Política Nacional De Recursos Hídricos

O referido Código assegura o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente de água para as primeiras
necessidades da vida e permite a todos usar as águas públicas, conformando-se com os regulamentos
administrativos. Impede a derivação das águas públicas para aplicação na agricultura, indústria e higi-
ene, sem a existência de concessão, no caso de utilidade pública, e de autorização nos outros casos;
em qualquer hipótese, dá preferência à derivação para abastecimento das populações.

O Código de Águas estabelece que a concessão ou a autorização deve ser feita sem prejuízo da na-
vegação, salvo nos casos de uso para as primeiras necessidades da vida ou previstos em lei especial.
Estabelece, também, que a ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome,
com prejuízo a terceiros.

Ressalta ainda, que os trabalhos para a salubridade das águas serão realizados à custa dos infratores
que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem
e por multas que Ihes forem impostas pelos regulamentos administrativos. Também esse dispositivo é
visto como precursor do princípio usuáriopagador, no que diz respeito ao uso para assimilação e trans-
porte de poluentes.

O Código de Águas, estabelecido pelo Decreto Federal n.º 24.643, de 10/7/34, consubstancia a legis-
lação básica brasileira de águas. Considerando avançado pelos juristas, haja vista a época em que foi
promulgado, necessita de atualização, principalmente para ser ajustado à Constituição Federal de
1988, à Lei n.º 9.433, de 8/1/97, e de regulamentação de muitos de seus aspectos.

A Lei Federal n.º 9.433, de 8/1/97, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
Federal. Essa Lei estabelece que a Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes
fundamentos: a água é um bem de domínio público; a água é um recurso natural limitado, dotado de
valor econômico; em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é para o consumo
humano e de animais; a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas; a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos
Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; a gestão dos recur-
sos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e
das comunidades.

O Conselho Nacional De Recursos Hídricos

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 9
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Estabelece ainda as seguintes diretrizes gerais: a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dis-
sociação dos aspectos de quantidade e qualidade; a adequação da gestão de recursos hídricos às
diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do
País; a Integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental; a articulação do planeja-
mento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e
nacional; a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; a integração da gestão
das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

Essa Lei define o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos que tem como objetivos
assegurar o controle quantitativo e qualitativo do uso da água e o efetivo exercício dos direitos de
acesso à água, estando sujeitos à outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recur-
sos hídricos: derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo
final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; extração de água de aquífero
subterrâneo para final ou insumo de processo produtivo; lançamento em corpo de água de esgotos e
demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou dispo-
sição final; aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; e outros usos que alterem o regime, a quanti-
dade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.

Estabelece a Lei, ainda, que a outorga efetivar-se-á por ato da autoridade competente do Poder Exe-
cutivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal, e o Poder Executivo Federal poderá delegar aos
Estados e ao Distrito Federal competência para conceder outorga de direito de uso de recurso hídrico
de domínio da União.

Além disso determina que o Poder Executivo Federal se articula previamente com o dos Estados e o
do Distrito Federal para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos em bacias hidrográficas com
águas de domínio federal e estadual.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem os seguintes objetivos: coordenar a


gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos
hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a
preservação e a recuperação dos recursos hídricos; e promover a cobrança pelo uso de recursos hí-
dricos. Integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos; os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os Comitês
de Bacia Hidrográfica; os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais cujas compe-
tências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e as Agências de Água.

Os Comitês De Bacias Hidrográficas

Comporão os Comitês: representantes públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Muni-
cípios e representantes da sociedade, tais como, usuários das águas de sua área de atuação, e das
entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia. A representação dos poderes
executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios está limitada à metade do total de membros
de cada Comitê de rios federais.

Cada Estado deverá fazer a respectiva regulamentação. O Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre
recursos hídricos, bem como sobre fatores intervenientes em sua gestão, com dados gerados pelos
órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos -SINGREH. São prin-
cípios básicos para a sua organização: descentralização da obtenção e produção de dados e informa-
ções; coordenação unificada do sistema; acesso garantido a toda a sociedade aos dados e informa-
ções. Seus objetivos estão assim definidos: reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações
sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente
as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo território nacional, e
fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 10
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Nos Comitês de Bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços a representação da União deverá incluir
o Ministério das Relações Exteriores e naqueles cujos territórios abranjam terras indígenas, represen-
tantes da Fundação Nacional do Índio – FUNAI e das respectivas comunidades indígenas.

A Agência De Água E Sua Criação

As principais competências da Agência de Água são: manter balanço hídrico da bacia atualizado; man-
ter o cadastro de usuários e efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recur-
sos hídricos; analisar e emitir pareceres sobre os projetos e as obras a serem financiados com recursos
gerados pela cobrança pelo uso dos recursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira respon-
sável pela administração desses recursos; acompanhar a administração financeira dos recursos arre-
cadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos em sua área de atuação; gerir o Sistema de
Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação; celebrar convênios e contratar financi-
amentos e serviços para a execução de suas competências; promover os estudos necessários para a
gestão de recursos hídricos em sua área de atuação; elaborar o Plano de Recursos Hídricos para
apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidro-
gráfica o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, os valores a serem cobrados pelo
uso dos recursos hídricos, o plano de aplicação de recursos, e o rateio de custos das obras de uso
múltiplo.

Os Instrumentos De Gerenciamento De Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional


de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos, de longo prazo, com horizonte de pla-
nejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos. O seu conteúdo
deve incluir o diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos, análises e estudos prospectivos da
dinâmica sócio-econômica, identificação de conflitos potenciais, metas de racionalização de uso, pro-
jetos a serem implantados, diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, entre
outras, além de medidas que visem à proteção dos recursos hídricos. Serão elaborados por bacia hi-
drográfica, por Estado e para o País e se constituirão em elementos do Plano Nacional de Recursos
Hídricos, a ser regulamentado.

O enquadramento dos cursos d'água em objetivos de qualidade visa a: assegurar às águas qualidade
compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas; diminuir os custos de combate à po-
luição das águas, mediante ações preventivas permanentes. As classes de corpos de água estão defi-
nidas pela legislação ambiental. Os objetivos da outorga são: assegurar o controle quantitativo e qua-
litativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Estão sujeitos a outorga
as diferentes derivações, captações, lançamentos, aproveitamentos e outros usos que alterem o regime
das águas superficiais e subterrâneas. A outorga para fins hidrelétricos estará subordinada ao Plano
Nacional de Recursos Hídricos, e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver enquadrado
e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso. A outorga de
uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes.

Os objetivos da cobrança são: reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação
de seu real valor; incentivar o uso sustentável da água; obter recursos financeiros para o financiamento
dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos. Serão cobrados os usos
de recursos hídricos sujeitos a outorga. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos
hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados.

Os principais instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos são: os Planos de Recursos Hídri-


cos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a
outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compen-
sação a Municípios; e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.A Agência de Água cuja

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 11
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

criação dependerá da autorização do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, ou dos Conselhos Es-
taduais de Recursos Hídricos, mediante solicitação de um ou mais Comitê de Bacia Hidrográfica, po-
derá atuar na área do Comitê solicitante, ou mais e outros Comitês que assim o desejarem.

As Agências de Água deverão ser responsáveis pela cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua
jurisdição e exercerão a função de Secretaria Executiva do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica. A
criação das Agências está condicionada, em cada bacia, à prévia existência do respectivo Comitê de
Bacia Hidrográfica e à viabilidade financeira, que poderá ser assegurada pela cobrança pelo uso de
recursos hídricos.Os Comitês de Bacias Hidrográficas têm, dentre outras, as atribuições de: promover
o debate das questões relacionadas aos recursos hídricos da bacia e articular a atuação das entidades
intervenientes; arbitrar, em primeira instância, os conflitos relacionados a recursos hídricos; aprovar e
acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia; estabelecer os mecanismos de co-
brança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; estabelecer critérios e
promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.O Conselho
Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, a ser oportunamente criado, será o órgão máximo normativo
e deliberativo com atribuições de promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os
planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários; deliberar sobre os projetos de
aproveitamentos de recursos; acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos; esta-
belecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos e para cobrança pelo
seu uso.

A Legislação Em Nível Estadual Projeto Macromonitoramento Ambiental

Por ser estrita competência da União legislar sobre água, os Estados deverão estabelecer disposições
sobre a administração de águas de seu domínio, subordinadas à legislação federal sobre águas e meio
ambiente. Atualmente, 14 Estados dispõem de leis estaduais sobre gerenciamento de recursos, com
fundamentos semelhantes à lei nacional.

Todas essas leis prevêem Comitês de Bacia Hidrográfica, com composição variável, sendo a participa-
ção dos usuários denominador comum a todas. Somente em seis Estados prevêse a constituição de
Agências de Bacias. A articulação entre a estrutura federal e as estaduais segue as seguintes diretrizes:
a) articulação entre o Comitê de Bacia de rio de domínio federal com os Comitês estaduais da mesma
bacia será feita caso a caso; b) articulação entre a Agência de Água, prevista na Lei n.º 9.433/97, e as
Agências de Bacias previstas nas leis estaduais, também a ser definida caso a caso mediante negoci-
ação entre a União e os Estados intervenientes; e c) articulação entre a Secretaria Executiva do SIN-
GREH e os órgãos gestores estaduais.

As soluções institucionais adotadas pelos Estados para o gerenciamento de recursos hídricos são ex-
tremamente variadas, principalmente no que se refere à existência de órgão ou entidades específicas
de recursos hídricos, responsáveis pela outorga de direitos de uso dos recursos hídricos.

Avaliação Dos Recursos Hídricos

Rede Nacional De Quantidade E De Qualidade De Água

Com o intuito de ampliar o conhecimento sobre a disponibilidade e a natureza dos recursos hídricos, a
Secretaria de Recursos Hídricos do MMA está-se engajando no processo de recuperação, adensa-
mento e modernização da rede nacional de hidrometeorologia e de qualidade de água.

A rede hidrometeorológica nacional, atualmente é composta por 5.138 estações, das quais 2.234 plu-
viométricas, 1.874 fluviométricas e 1.030 de outros tipos: sedimentométricas, telemétricas, de quali-
dade das águas, evaporimétricas e climatológicas. Além da rede hidrométrica nacional básica, outras
instituições operam rede de interesse específico. Todos os dados destas redes, entretanto, são inseri-
dos em um banco nacional. Atualmente este banco de dados está sendo avaliado para definir sua
modernização.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 12
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Programa Nacional De Monitoramento E Avaliação Ambiental – MONITORE

Está em estágio de implementação o Programa Nacional de Monitoramento e avaliação Ambiental -


MONITORE que tem como objetivo principal a implementação de um sistema de monitoramento que
gere e disponibilize, de forma permanente, a informação sobre a situação ambiental brasileira em áreas
consideradas prioritárias, viabilizando a avaliação tanto das diferentes políticas setoriais do governo
quanto do processo de ocupação e exploração do território.

O Programa, que não substituirá nem pretende suplantar outros programas de monitoramento existen-
tes em níveis federal, estaduais e municipais, buscará integrar e agregar as diversas iniciativas exis-
tentes, otimizando recursos, evitando a duplicação de esforços e melhorando e complementando a
qualidade da informação gerada. O Programa está estruturado com base em cinco componentes que
formam o quadro ambiental brasileiro: ambiente costeiro e marinho, aquático continental, terrestre, at-
mosférico e urbano. Para avaliar o estado ou a qualidade ambiental estão sendo selecionados indica-
dores que permitirão uma visão geral da condição do ambiente analisado.

A metodologia a ser adotada pelo Programa está baseada no modelo Pressão-Estado- Resposta (PER)
adotado pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável -CDS das Nações Unidas -ONU. Esse mo-
delo sugere a utilização de indicadores das atividades humanas que causam pressão ao meio ambi-
ente, indicadores do estado do meio ambiente e recursos naturais e indicadores das respostas em
termos de políticas, programas e ações para proteção ambiental ou uso sustentável dos recursos na-
turais.

Agricultura E Irrigação

Atualmente 2,8 milhões de ha estão sendo utilizados com agricultura irrigada, dos 145 milhões de ha
de área potencial a ser utilizada para agricultura, dos quais 45 milhões são potencialmente utilizáveis
para agricultura irrigável. 16% da colheita de 1996/1997 são provenientes de áreas irrigadas. No âmbito
do Programa Brasil em Ação pretende-se incorporar, nos próximos 4 anos, mais 490 mil ha à área de
produção irrigável. No âmbito do programa "Novo Modelo de Irrigação".

Energia Hidrelétrica

A energia elétrica atende acerca de 92% dos domicílios no País. O consumo em 1996 atingiu cerca de
258 TWh, comparável ao da Itália. A capacidade de geração instalada é de 57.640 MW, sendo 53.029
MW (92%) em usinas hidroelétricas e 4.611 MW (8%) em usinas termoelétricas. A contribuição percen-
tual das usinas hidroelétricas para geração de energia (97%) é maior do que o percentual da potência
instalada (92%) porque as usinas termoeléctricas ficam por muito tempo sem operar, só sendo aciona-
das em períodos secos, quando os reservatórios ficam perigosamente vazios.

Novas usinas hidroelétricas podem ser construídas nas próximas décadas, em diversos locais já inven-
tariados, perfazendo um total de 107.307 MW de parque gerador instalado. O potencial hidroelétrico
brasileiro é de cerca de 258.686 MW, dos quais apenas 20% já foram explorados.

Outro projeto em execução pelo IBAMA, intitulado “Macromonitoramento Ambiental”, foi elaborado vi-
sando dar suporte técnico e operacional ao órgão na atuação em quatro temas considerados prioritários
para a gestão ambiental no país: recursos atmosféricos, recursos hídricos, energia e licenciamento
ambiental. Prevê-se que as informações contidas nas bases de dados a serem desenvolvidas subsi-
diem os processos de licenciamento, controle e fiscalização ambiental, além da outorga de direito de
uso e do enquadramento dos corpos hídricos. A utilização dessas informações permitirá que esses
processos sejam interligados de forma mais eficiente. Uma vez consolidado o Projeto, a elaboração de
relatórios de qualidade do meio ambiente poderá processar-se de forma automática e contínua. forta-
lecendo as atividades de licenciamento ambiental.

Uso Múltiplo Da Água

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 13
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

São inúmeros os setores que se utilizam dos recursos hídricos como insumo básico para suas ativida-
des. Há, no entanto, empenho governamental para que os critérios e normas setoriais sejam consis-
tentes com a legislação de recursos hídricos, de forma a permitir o disciplinamento desses diferentes
usos. Dentre esses usos, destacam-se os seguintes:

Saneamento Básico

A análise da evolução dos níveis de cobertura dos serviços de saneamento no Brasil revela que houve
melhorias sensíveis no atendimento à população, sobretudo urbana (IBGE, 1996). Por outro lado, cons-
tatam-se, ainda, déficits significativos, que refletem o padrão desigual de crescimento do País nas últi-
mas décadas.

É notável, por exemplo, que um país cuja população urbana tenha aumentado 137% em 26 anos,
passando de 52 milhões de pessoas em 1970 para 123 milhões em 1996, tenha conseguido elevar,
nesse período, o nível de abastecimento de água dos domicílios ligados à rede geral, de 60% para 91,1
%. Por outro lado mais de 11 milhões de pessoas que residem em cidades ainda não têm acesso à
água através de rede canalizada.

Atualmente, o principal déficit do Setor Saneamento está na área de esgotamento sanitário, mais es-
pecificamente no que tange ao tratamento de esgotos sanitários. Segundo dados do PNAD/96, 48,9%
do esgoto gerado no Brasil é coletado em rede pública, sendo que apenas 32% é tratado, ou seja,
somente 15,6 do total de esgoto gerado no Brasil é tratado.

Outro aspecto a ser considerado refere-se ao desperdício de água nos sistemas públicos de abasteci-
mento. Estima-se que no Brasil esse desperdício (perdas físicas acrescidas das perdas de faturamento)
pode chegar a 45% do volume ofertado à população, o que representa cerca de 4,68 bilhões de m3 de
água produzidos por ano. Adotando-se uma meta de 25% de perdas que representaria cerca de 2,08
bilhões de m3 de água ao ano, poder-se-ia economizar algo em torno de R$ 1 ,02 bilhão por ano.

Agricultura E Irrigação

Atualmente 2,8 milhões de ha estão sendo utilizados com agricultura irrigada, dos 145 milhões de ha
de área potencial a ser utilizada para agricultura, dos quais 45 milhões são potencialmente utilizáveis
para agricultura irrigável.

16% da colheita de 1996/1997 são provenientes de áreas irrigadas. No âmbito do Programa Brasil em
Ação pretende-se incorporar, nos próximos 4 anos, mais 490 mil ha à área de produção irrigável. no
âmbito do programa "Novo Modelo de Irrigação".

Energia Hidrelétrica

A energia elétrica atende acerca de 92% dos domicílios no País. O consumo em 1996 atingiu cerca de
258 TWh, comparável ao da Itália. A capacidade de geração instalada é de 57.640 MW, sendo 53.029
MW (92%) em usinas hidroelétricas e 4.611 MW (8%) em usinas termoelétricas. A contribuição percen-
tual das usinas hidroelétricas para geração de energia (97%) é maior do que o percentual da potência
instalada (92%) porque as usinas termoeléctricas ficam por muito tempo sem operar, só sendo aciona-
das em períodos secos, quando os reservatórios ficam perigosamente vazios.

Novas usinas hidroelétricas podem ser construídas nas próximas décadas, em diversos locais já inven-
tariados, perfazendo um total de 107.307 MW de parque gerador instalado. O potencial hidroelétrico
brasileiro é de cerca de 258.686 MW, dos quais apenas 20% já foram explorados.

Transporte Hidroviário

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 14
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

O Brasil conta com cerca de 40.000 km de rede hidroviária, da qual 26.000 km é precariamente nave-
gável. As principais hidrovias encontram-se nas bacias: Amazônica (18.300 km), Nordeste (3.000km),
Tocantins/Araguaia (3.500 km), São Francisco (4.100 km) Leste (1.000 km), Tietê/Paraná (4.800 km),
Paraguai (2.800 km) Sudeste (1.300 km) e Uruguai (1.200 km).

Uma singularidade natural condicionou o desenvolvimento do transporte aquaviário interno no Brasil:


as regiões mais desenvolvidas não são servidas por rios que possam levar a navegação diretamente
aos portos marítimos. É o que ocorre, por exemplo, nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e Belo
Horizonte, dentre outras. Essa situação inibiu o desenvolvimento da navegação interior e, de certa
forma, contribuiu para a implantação da política rodoviária, que tem prevalecido nas últimas décadas.

Por outro lado, na Bacia Amazônica, é essencial o papel exercido pela navegação, que é assegurada
naturalmente pelas condições hidrográficas peculiares da região, onde se encontram cerca de 18.300
km de hidrovias, destacando-se os rios Amazonas, Solimões, Negro, Branco, Madeira, Purus, Juruá e
Tapajós. Dados do Ministério do Transporte, referentes a 1996, mostram que do total de 1,2 bilhões de
toneladas de cargas transportadas naquele ano no Brasil, apenas 14 milhões de 20 toneladas/ano
(cerca de 1,5% do total) foram transportados pela navegação fluvial, o que comprova, em termos glo-
bais, uma participação pouco expressiva no contexto do transporte de cargas do País.

O Programa Brasil em Ação, do Governo Federal, prioriza desenvolver quatro hidrovias no biênio 98/99,
a saber: Madeira, Araguaia-Tocantins, São Francisco e Tietê-Paraná. No contexto do Programa Brasi-
leiro de Desestatização, abrem-se possibilidades de participação da iniciativa privada no desenvolvi-
mento do setor hidroviário brasileiro.

Uso Industrial

Uma iniciativa para quantificar as demandas dos usos consuntivos (saneamento, indústrias e irrigação)
foi realizada em 1980, partindo-se de critérios indiretos. Naquele trabalho, a estimativa de demanda
industrial em 1980 foi de 247 m3/s, o que correspondeu a 23% da demanda consuntiva total no Brasil,
estimada em 1.065 m3/s. Para 1990 a estimativa do consumo foi calculada em 1.156 m3/s para o Brasil
e de 139 m3/s para a indústria, o que demonstra possível redução sensível no consumo industrial,
inclusive na participação da indústria no consumo total no País (que passou de 23% para 12%).

Acredita-se que esta redução foi motivada por: i) internalização das exigências ambientais para as
indústrias que de alguma forma participam do mercado externo com seus produtos ou pelo controle
acionário ii) aumento dos custos da água nas áreas metropolitanas onde se situa a maioria das indús-
trias iii) aumento nos custos de energia para captação, tratamento e bombeamento de água iv) intro-
dução de programas de redução de custos, melhoria operacional e controle interno dos processos com
vistas à redução de consumo de energia e insumos.

Pesca E Aquicultura

A captura comercial de pescado no Brasil é estimada em 700 mi toneladas anuais. Desse total, cerca
de 220 mil toneladas são provenientes das pescarias em águas continentais (IBAMA, 1996). A pesca
de água doce tem contribuído significativamente para a economia informal, constituindo para muitos a
principal fonte de renda. É também a partir da venda do pescado excedente que os ribeirinhos, que se
dedicam à pesca e à agricultura de subsistência, adquirem seus bens de consumo. Em algumas regi-
ões, o pescado representa a principal fonte de proteínas para as populações ribeirinhas. Na Amazônia,
por exemplo, 70% do pescado capturado é proveniente da pesca de subsistência.

Além das espécies comerciais importantes para o abastecimento do público, o Brasil possui uma
grande diversidade de peixes ornamentais que sustenta uma atividade voltada principalmente para o
mercado externo. Estima-se que existam 1.200 espécies de peixes ornamentais na Amazônia, das
quais o IBAMA permite que 180 sejam comercializadas e exportadas. O estado do Amazonas exporta
de 12 a 15 milhões de unidades por ano, número que pode chegar a 43 milhões/ano.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 15
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

O Brasil também apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento da aquicultura, devido, ao grande


potencial hídrico (rios, lagos e reservatórios), à diversidade de espécies de peixes nativas e espécies
exóticas aclimatadas, às condições ambientais do país, ao mercado com demanda interna e externa
insatisfeita e à infra-estrutura de apoio disponível (centros de pesquisa e estações de aquicultura).

De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq, em 1995 a


produção brasileira de pescado proveniente da aquicultura foi de cerca de 40.000 t. distribuídas na
Região Norte (2.000 t.); Região Nordeste (6.000 t.); Centro-Oeste (6.000 t.); Região Sudeste (11.000
t.); e Região Sul (15.000 t.). Esta produção é responsável por 10% da produção de pescado proveniente
da aquicultura na América Latina e 5% da produção total de pescado no Brasil.

Turismo E Lazer

Destaca-se também o crescimento acelerado da atividade de turismo e lazer vinculada a recursos hí-
dricos. O setor privado vem fazendo investimentos significativos. Destaca-se o setor agropecuário que,
para aumentar a renda e diversificar suas atividades, explora a riqueza paisagística, implementando o
turismo rural. Os reservatórios construídos também se constituem em um importante potencial para o
lazer da população.

Programas E Projetos

Principais Iniciativas Do Governo Federal

Presentemente vários programas/projetos já estão implementados, outros em implementação ou em


formulação, na área de gestão dos recursos hídricos no Brasil. Boa parte se desenvolve sob coorde-
nação dos Estados interessados. Neste documento será dada ênfase à apresentação dos programas
e projetos mais importantes, desenvolvidos sob coordenação do Governo Federal que, por princípio,
são as intervenções de natureza mais abrangente. Destaca-se, também, a apresentação das interven-
ções financiadas pelos organismos multilaterais de cooperação.

Sob à coordenação da Secretaria de Recursos Hídricos seguintes os programas atualmente em de-


senvolvimento:

O Programa PROÁGUA SEMI-ÁRIDO, visa a ampliação da oferta de água de boa qualidade para o
abastecimento humano no semi-árido brasileiro. Em 1997, concluíram-se as atividades de estruturação
do Programa, bem como sua viabilização junto a alguns organismos financeiros. Ainda em 1998, esta-
rão concluídas as negociações com o Banco Mundial, o que permitirá a assinatura de acordos com os
governos estaduais para o início da operacionalização do Programa. No momento procede-se à con-
solidação dos instrumentos de implementação e à preparação de projetos para a implantação de oito
obras prioritárias.

O Programa PROÁGUA NACIONAL tem características semelhantes, porém com áreas de atuação
distinta. O Programa começou a ser formulado em 1996 e hoje se encontra inserido no conjunto de
programas do Brasil em Ação. Sua programação inclui trabalhos na área de prevenção e controle de
enchentes. Ao longo de 1997, foram realizados investimentos que deverão beneficiar cerca de 3 mi-
lhões de pessoas nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Santa Catarina. O
programa inclui também obras de dragagem e retificação e canalização de cursos d’água.

O Projeto Água Boa, que busca aumentar a disponibilidade de água potável, principalmente, para o
atendimento das comunidades da Região Semi-Árida do Brasil, tem por base técnica a dessalinização
de águas salobras dos poços profundos com a utilização do processo de osmose inversa.

O Programa de Conservação e revitalização dos Recursos Hídricos, visa contribuir para com o controle
da poluição dos recursos hídricos e, consequentemente, aumentar a disponibilidade de água em quan-
tidade e qualidade em várias bacias no Brasil. O objetivo geral desse Programa é de proporcionar a

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 16
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

revitalização, onde se fizer necessária, e à conservação onde ainda for possível, dos recursos hídricos
como um todo, sob a ótica do ciclo hidrológico, através do manejo dos elementos do meio físico e
biótico, tendo a bacia hidrográfica, prioritariamente as áreas de nascentes, como unidade de planeja-
mento e trabalho.

O Programa Fortalecimento Institucional: este programa tem por objetivo principal o fortalecimento da
Secretaria de Recursos Hídricos e das Secretarias Estaduais de Recursos Hídricos. No âmbito deste
programa, que tem o apoio direto do Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola - IICA, está sendo
desenvolvido a maioria das atividades da Secretaria.

O Programa Rede Universitária de Cooperação em Recursos Hídricos, tem por objetivo estabelecer
um elo entre os professores e estudantes de Universidades, facilitando o intercâmbio de conhecimento
e promovendo a gestão descentralizada dos Recursos Hídricos. Atualmente cerca de trinta instituições
com aproximadamente 180 projetos participam da rede.

Planos Municipais de Recursos Hídricos, têm por objetivo dar apoio a prefeituras para prepararem seus
planos de gerenciamento de recursos hídricos, de acordo com a legislação vigente. Este programa tem
um forte envolvimento da sociedade. Atualmente cerca de 50 municípios estão envolvidos nesta ativi-
dade.

Estudos Básicos de Recursos Hídricos: este programa tem por objetivo tornar disponíveis metodologi-
camente e tecnologias, dando e informações cartográficas georeferenciadas, programas de computa-
ção e outros instrumentos para o apoio ao gerenciamento de Recursos Hídricos.

Gestão Integrada das Bacias do Alto Paraguai e do São Francisco: O Fundo para o Meio Ambiente
Mundial -GEF está analisando ambas as propostas, que já foram aprovadas nas instâncias nacionais
e no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA. Ambos os projetos visam imple-
mentar um sistema de gestão integrada dos recursos hídricos. visando a inserção econômica no pro-
cesso.

Processamento de dados hidrometeorológicos: a consistência de dados é fundamental para a implan-


tação de um sistema de informação hidrometeorológica e de qualidade de água. Por este motivo estão
sendo concluídas as negociações para que se tenha um sistema centralizado, coordenado pela Secre-
taria e disponível a todos os usuários.

Programa de Qualidade de Água - PRONAGUA: visa implementar um modelo de gestão e monitora-


mento da qualidade de água. Este programa baseia-se numa rede de laboratórios de referência em
todo o País para apoio ao processo de decisão das autoridades locais e dos Comitês de Bacia. Com
os dados a serem obtidos serão desenvolvidos programas de simulação. Outros instrumentos como
Sistema de Informação Geográfica - SIG serão usados para apoio a este projeto. Assim sendo, as
informações sobre qualidade de água deverão ser disponibilizados para o público, facultando sua par-
ticipação no processo de gestão.

No Âmbito da Secretaria de Política Urbana, do Ministério do Planejamento e Orçamento, destacam-


se:

O PRO-SANEAMENTO tem como objetivo o aumento da cobertura de serviços de abastecimento de


água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos urbanos, além da ampliação dos
níveis de eficiência dos prestadores de serviço. Dentro desse programa, a modalidade Esgotamento
Sanitário destina-se ao aumento da cobertura ou ao tratamento e destinação final adequados dos eflu-
entes. A modalidade Resíduos Sólidos destina-se ao financiamento de obras para aumento da cober-
tura dos serviços de tratamento e disposição final adequada de resíduos sólidos urbanos. Ainda dentro
deste programa, existe uma medida de incentivo à modalidade Esgotamento Sanitário, onde a taxa de
juro é inferior às das demais modalidades do programa.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 17
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

O PQA – Projeto Qualidade das Águas e Controle da Poluição Hídrica – tem por objetivo geral apoiar
técnica e financeiramente a preparação de programas de investimento destinados ao saneamento am-
biental em bacias hidrográficas que apresentem elevado nível de comprometimento, destacadamente
em áreas de grande densidade urbana e intensa dinâmica produtiva. Trata-se de uma iniciativa de
caráter inovador, pautada pela conjugação de esforços simultâneos, na busca de soluções que levam
em consideração: intervenções físicas, desenhadas sob uma perspectiva sistêmica e multidisciplinar,
capazes de promover a recuperação e a proteção da qualidade do meio ambiente e, consequente-
mente, a melhoria da qualidade de vida das populações que habitam regiões metropolitanas ou aglo-
merações urbanas importantes no contexto nacional, segundo equações de menor custo e máximo
benefício ambiental; e ii) arranjos institucionais, capazes de propiciar uma gestão sustentável nas ba-
cias hidrográficas, inclusive mediante o desenvolvimento de instrumentos econômicos de gestão do
meio ambiente e dos recursos naturais.

O PROGEST -Programa de Apoio à Gestão dos Sistemas de Coleta e Disposição de Resíduos Sólidos
-objetiva apoiar a implantação de uma política de âmbito nacional para o setor de resíduos sólidos
urbanos, voltada ao equacionamento dos problemas de coleta e disposição final. Suas ações benefi-
ciam, entre outros, os municípios situados nas áreas de proteção de mananciais, contribuindo, dessa
forma, na prevenção da poluição ambiental e,portanto, indiretamente, auxiliam na conservação dos
corpos d'água e no aumento da oferta de água em qualidade e quantidade adequadas à utilização.

O PMSS -Projeto de Modernização do Setor Saneamento –constitui-se em um instrumento da Política


Nacional de Saneamento visando ao reordenamento, à eficiência e à eficácia dos serviços de sanea-
mento, adotando uma estratégia que consiste sobretudo em induzir a eficiência dos operadores públi-
cos, e estabelecer e induzir a participação de empreendedores e operadores privados. Essas ações de
reordenamento seriam basicamente representadas pela assistência técnica do Governo Federal vi-
sando à criação de marcos regulatórios, modelos de gestão e para a melhoria da eficiência da presta-
ção de serviços. Os marcos regulatórios vão estabelecer padrões de qualidade para a prestação de
serviços englobando a adequada utilização dos recursos hídricos para o abastecimento de água, assim
como a qualidade dos efluentes lançados nos corpos receptores. O componente Investimento atua
através de ações diretas de reabilitação, otimização e ampliação de sistemas de coleta e tratamento
de esgotos sanitários.

O PASS -Programa de Ação Social em Saneamento -está voltado para a implementação de projetos
de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta e destinação de resíduos sólidos nas áreas
de maior concentração de pobreza nas grandes cidades e nos municípios de pequeno e médio portes
visando à melhoria da saúde e das condições de vida da população. Através das ações de esgotamento
sanitário e coleta e destinação de resíduos sólidos, o programa atua diretamente no controle da polui-
ção hídrica e indiretamente, na conservação dos corpos d'água.

O PROSEGE -Programa de Ação Social em Saneamento foi concebido e estruturado para gerar duplo
benefício aos segmentos mais vulneráveis da população dos grandes e médios centros urbanos do
país. Ao mesmo tempo em que viabilizou soluções temporárias de problemas críticos de desemprego,
especialmente no setor de construção civil, com a execução de projetos de implantação/ampliação de
sistemas de esgotamento sanitário, incrementou a cobertura de serviços de saneamento, com os con-
sequentes efeitos favoráveis à saúde e à qualidade de vida das populações beneficiárias. O programa
se desenvolveu no sentido de proporcionar a melhoria das condições de vida de populações de baixa
renda, mediante investimentos em saneamento básico, preferencialmente em projetos com garantidas
viabilidade ambiental e viabilidade técnica, financeira e sócio-econômica.

O Programa PROSANEAR prevê ações integradas em saneamento, envolvendo, entre outras, implan-
tação e melhoria dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, afastamento de resí-
duos sólidos e microdrenagem, em áreas urbanas degradadas ocupadas por população de baixa renda,

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 18
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

em cidades com mais de 50.000 habitantes. A prevenção da poluição, e, consequentemente, a conser-


vação e aumento da oferta de água nos mananciais da região, é um dos efeitos do programa ao se dar
um destino final apropriado tanto para os esgotos como para os resíduos sólidos.

O Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, tem como objetivo geral promover o uso
racional da água para abastecimento público, em benefício da saúde pública, do saneamento ambiental
e da eficiência dos serviços. A estratégia do programa consiste em identificar e implantar um conjunto
de medidas que revertam o quadro de desperdício identificado, a partir de ações e instrumentos tecno-
lógicos, normativos, econômicos e institucionais, concorrentes para uma efetiva economia de água.

Experiências Brasileiras Em Gestão De Bacias

As primeiras experiências brasileiras de gestão de bacia hidrográfica datam dos anos 30, com a imple-
mentação, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, de sistemas que propiciavam, além da
produção de energia outros usos da água, a regularização da vazão de cursos de água e o controle de
inundações. Essas experiências se intensificaram a partir do fim da década de 70, com a criação do já
extinto CEEIBH (Comitê Especial de Estudos integrados de Bacias Hidrográficas), de abrangência na-
cional, e de vários comitês de rios federais.

Em face da demora na regulamentação do processo de gerenciamento das águas no País, várias ini-
ciativas de gestão foram iniciadas desde então, o que permite dispor, hoje, de uma variada gama de
sistemas implantados, o que certamente irá contribuir para auxiliar um processo mais estruturado e
formalizado na implementação do gerenciamento integrado dos recursos hídricos. Destacam-se a se-
guir, dentre várias, algumas dessas experiências em curso.

Comitês De Bacias

No âmbito de um Acordo de Cooperação Técnica Brasil-França estabeleceram-se dois projetos para o


gerenciamento integrado de bacia hidrográfica, que vêm sendo desenvolvidos nas bacias do rio Para-
íba do Sul e do rio Doce. Respectivamente.

O Projeto Rio Doce, iniciado em maio de 1989, teve sua primeira etapa concluída em maio de 1992.
Foi a primeira simulação no Brasil da implantação de um sistema baseado na gestão integrada por
bacia, como base concreta de desenvolvimento sustentável. A partir do diagnóstico da bacia, foi elabo-
rado um primeiro plano de ação e simulado um sistema de cobrança pelos usos da água (quantidade,
qualidade), usos dos solos e financiamento de obras por um sistema de Agência e Comitê de Bacia.

O termo de referência do Projeto Paraíba do Sul definia, como objetivo, adquirir experiência sobre o
sistema de Gestão Integrada de Bacia Hidrográfica, baseado nos princípios usuário-pagador e "polui-
dor-pagador". Desde 1992, o Projeto Paraíba do Sul vem reunindo um importante acervo de estudos
sobre a bacia, operando redes de medição de campo permanentes. A primeira meta técnica do projeto
foi atingida, em novembro de 1993, com a implantação, no Rio de Janeiro, de um Centro de Gestão
Integrada da Bacia.

Ainda com relação a essa bacia, deve-se ressaltar que, em 1996, após intensas discussões entre es-
tados que integram a Bacia e os ministérios envolvidos na Bacia, chegou-se a um consenso sobre a
reformulação do Comitê de Bacia. Por decreto presidencial foi criado o atual Comitê para Integração
da Bacia do Rio Paraíba do Sul, CEIVAP que substitui o antigo CEEIVAP (Comitê Executivo de Estudos
Integrados da Bacia do Rio Paraíba do Sul).

No que se refere ao Rio São Francisco, foi criado no final da década de 70, o Comitê Executivo de
Estudos Integrados da Bacia do Rio São Francisco (CEEIVASF), composto por órgãos federais e es-
taduais envolvidos com a bacia. Na década de 80, esse Comitê promoveu diversos estudos como o
Projeto Gerencial do São Francisco no qual foi proposto o enquadramento dos rios federais da referida
bacia hidrográfica. Essa proposta foi a base de resolução do CONAMA que enquadra os referidos rios.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 19
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Em 1997, o Comitê ampliou a participação à associação de irrigantes e a organizações não-governa-


mentais.

A criação dos Comitês dos rios Gravataí e dos Sinos, no Rio Grande do Sul, constitui um exemplo de
experiência de um sistema estadual de gestão. Ambos os comitês surgiram em meados da década de
80, a partir da confluência dos esforços de técnicos de órgãos públicos com movimentos sociais locais.
As bacias dos rios Gravataí e dos Sinos abrangem áreas de grande população e desenvolvimento
industrial, integrantes da Região Metropolitana de Porto Alegre. Os dois rios, altamente poluídos em
seus trechos inferiores, são importantes para vários usos, a começar pelo abastecimento das popula-
ções. Tanto o COMITESINOS quanto o Comitê Gravataí mantiveram, ao longo de quase 10 anos, uma
atuação sem interrupções, com reuniões mensais e discussão de várias questões relativas aos usos e
à proteção desses mananciais.

Paralelamente à criação dos Comitês, o Governo Federal tem incentivado iniciativas locais, tais como
a formação de Consórcios Intermunicipais de Bacias Hidrográficas. Estas são iniciativas onde os go-
vernos locais e os usuários estabelecem prioridades para o desenvolvimento da bacia com base nos
princípios do desenvolvimento sustentável. A seguir são descritos alguns exemplos de Consórcios:

O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, no Estado de São Paulo, cons-
titui um exemplo de experiência de gestão intermunicipal de recursos hídricos. As bacias dos rios Pira-
cicaba e Capivari ocupam uma área de 14.400 km2, abrangendo total ou parcialmente 51 municípios
no Estado de São Paulo e 4 municípios no Estado de Minas Gerais. A população é de cerca de 3
milhões de habitantes, incluindo as cidades de Campinas, Piracicaba, Limeira, Americana, Rio Claro,
Bragança Paulista e outras. Estima-se que 6% do PIB brasileiro são produzidos nessa região, que sedia
o maior distrito petroquímico do Brasil (Paulínia), um grande parque sucro-alcooleiro e uma agricultura
moderna. No que concerne ao abastecimento público, estima-se que a produção de água, em 1997,
atingiu o patamar de cerca de 14 m3/s. Adicionalmente a esse valor, há a expressiva transferência de
31 m3/s, revertidos pelo Sistema Cantareira (parcela de água para abastecimento), em favor do aten-
dimento de aproximadamente 57% da população consumidora da região metropolitana da cidade São
Paulo. Em 1989, 12 prefeitos reuniramse e criaram o referido Consórcio Intermunicipal, com objetivo
de promover a recuperação e proteção dos mananciais. Essa organização, na forma jurídica de asso-
ciação civil de direito privado, reúne, hoje, 38 municípios e 20 empresas privadas, sendo a mais bem
estruturada associação de usuários de bacias hidrográficas no Brasil.

O Consórcio Santa Maria/Jucú é outro exemplo de gestão intermunicipal dos recursos hídricos no Es-
tado do Espírito Santo. Trata-se de uma associação de direito civil e jurídico sem fins lucrativos, criada
em 1987, ano em que o Estado passou por uma longa estiagem, que provocou o acirramento dos
conflitos de uso das águas. O Consórcio é formado por a) um Conselho de prefeitos e sócios instância
máxima de decisão; b) um Conselho Fiscal composto por um vereador de cada município associado
incumbido de fiscalizar as contas da associação; c) um Grupo Municipal de Trabalho (GMT) por muni-
cípio composto por lideranças comunitárias, técnicos do município ou representantes de instituições
presentes nos municípios ligados às áreas de interesse, e d) um corpo técnico coordenado pela Secre-
taria Executiva, situado na sede do Consórcio, com a responsabilidade de apontar as soluções dos
problemas levantados pelos GMTs. assim como discutir critérios de priorização e elegibilidade.

Experiências De Gestão Em Regiões Metropolitanas

No que se refere a programas de gestão de recursos hídricos em bacias de regiões metropolitanas,


destacam-se quatro, a saber: o Pró-Guaíba, no Rio Grande do Sul, o Programa de Despoluição das
Águas da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, em São Paulo, o Programa de Despoluição da Baía da
Guanabara, no Rio de Janeiro e o Programa Bahia Azul. na Bahia.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 20
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

O programa PRÓ-GUAíBA, desenvolvido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da
Secretaria de Coordenação e Planejamento, visa a melhorar as condições ambientais da Bacia Hidro-
gráfica do Guaíba, a mais importante das três regiões hidrográficas do Estado. Sua área de abrangên-
cia é de 85.950 km2 e está dividida em oito sub-bacias, Alto, Médio e Baixo Jacuí, Vacacaí, Caí, Sinos,
Gravataí e Guaíba, equivalendo a 30% da área total do Estado. O PRÓ-GUAíBA alcançará mais de
251 municípios responsáveis pela geração de 86% do PIB gaúcho e onde vivem 2/3 da população do
Rio Grande do Sul. O objetivo geral do Programa é criar as condições necessárias para o desenvolvi-
mento racional dos recursos naturais, recuperação da qualidade ambiental nas áreas urbanas e rurais,
bem como executar o manejo ambiental sustentável da produção agrícola, pecuária, florestal e indus-
trial. O PRÓ-GUAíBA levará de 15 a 20 anos para atingir suas metas, processo esse orientado por um
Plano Diretor de Controle e Administração da Bacia, com finalidade de apoiar as estratégias de manejo
estabelecidas conforme diagnóstico apresentado pelos técnicos responsáveis pelos estudos iniciais. O
investimento estimado para intervenção em toda bacia é de US$ 1 bilhão. O primeiro módulo, com
previsão de término em julho de 1998, perfaz o montante de US$ 220,50 milhões, contando com o
financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID (60% do total dos custos) com con-
trapartida do Governo do Estado e de Governos Municipais (40%).

No primeiro módulo estão sendo executados os seguintes projetos: Informatização do Pró- Guaíba -
Sistematização de Geoinformações; Treinamento de Recursos Humanos; Plano de Comunicação;
Plano Diretor de Controle e Administração da Bacia Hidrográfica do Guaíba; Rede de Monitoramento
Ambiental; Plano de Ações para Controle da Poluição Industrial da Bacia do Guaíba; Coleta e Trata-
mento de Esgotos Domésticos em Cachoeirinha, Gravataí e Porto Alegre; Plano Diretor de Resíduos
Sólidos para a Região Metropolitana de Porto Alegre; Sistema de Resíduos Sólidos em Porto Alegre;
Sistema de Manejo do Solo e Controle da Contaminação por Agrotóxicos; Sistema de Parques e Re-
servas Naturais; Estudos para Consolidação do Sistema de Parques e Reservas;

Educação Ambiental.

O Programa de Despoluição das Águas da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê constituiu a primeira etapa
do Programa de Despoluição Industrial, desenvolvido pela CETESB, em São Paulo. Remonta ao início
da década de 90, quando a CETESB efetuou o diagnóstico das fontes de poluição das águas do Alto
Tietê, tendo sido estimado que os rios da bacia recebiam, aproximadamente, uma carga orgânica de
1.100 toneladas de DBO/dia e 5 toneladas/ dia de carga inorgânica, sendo esta responsável pela polu-
ição por metais, cianetos e fluoretos. As indústrias são responsáveis pelo lançamento da carga inorgâ-
nica, e de um terço da carga orgânica nos rios da bacia, sendo os dois terços restante da carga orgâ-
nica, originada pelos esgotos domésticos lançados pelos 34 municípios da Região Metropolitana de
São Paulo. O programa, com previsão de término para dezembro/98, perfaz o montante de US$ 900,00
milhões, sendo 50% financiados pelo BID e 50% pelo Governo do Brasil.

O Programa de Despoluição da Baía da Guanabara (PDBG) foi estabelecido pelo Governo do Estado
do Rio de Janeiro, com o apoio financeiro do BID e da agência japonesa The Overseas Economic
Cooperation Fund -OECF, com o objetivo principal de atender necessidades prioritárias nas áreas de
saneamento básico, abastecimento de água, coleta e destinação final de resíduos sólidos, drenagem
e controle e monitoramento do meio ambiente. A filosofia básica do Programa é dar início a um pro-
cesso de recuperação do meio ambiente da região. O Programa é constituído por um conjunto de ações
multidisciplinares compreendendo obras, bens e serviços, que abrangem os seguintes componentes e
órgãos envolvidos: a) Saneamento; b) Macrodrenagem; c) Resíduos Sólidos; d) Programas Ambientais
Complementares e e) Mapeamento Digital.

O custo total previsto para o Programa é de US$ 933 milhões, dos quais US$ 350 milhões financiados
pelo BID, e US$ 237 milhões pela agencia japonesa -The Overseas Economic Cooperation Fund -
OECF e US$ 306 milhões como contrapartida nacional.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 21
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Com sua implantação, espera-se uma significativa recuperação da pesca comercial, melhoria dos pa-
drões de balneabilidade em praias do interior da Baía, atenuação da interrupção das atividades socio-
econômicas decorrentes da incidência de enchentes, redução da ocorrência dos casos de doenças de
veiculação hídrica e diminuição do processo de assoreamento das calhas dos rios e do fundo da Baía.
Propiciará, entre outros benefícios, a coleta e tratamento de 6,9 m3/s de efluentes sanitários, com a
construção de cinco novas estações de tratamento de esgotos e assentamento de cerca de 1.200 km
de redes coletoras, além de 6,8 km de emissários terrestres e submarinos, 28 estações elevatórias e
139.000 ligações domiciliares.

Será melhorada a oferta de água na Baixada Fluminense e São Gonçalo, com a construção de 10
reservatórios, 452 km de redes distribuidoras, 16 km de adutoras e 45.900 ligações domiciliares, além
da aquisição de 525.000 hidrômetros. Além disso, sete municípios serão contemplados com melhorias
nos sistemas de coleta e destinação final para 700 t/dia de lixo, através da implantação de usinas de
reciclagem e compostagem, aquisição de veículos e equipamentos de coleta, além do controle e trata-
mento de chorume através da recuperação de aterros sanitários existentes. Prevê-se, ainda, a atenu-
ação de enchentes. através de obras de drenagem e retificação de cursos d'água. No que se refere
aos programas ambientais associados, ressalta-se a recuperação e aprimoramento da qualidade am-
biental da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, através de vários projetos de controle de poluição
industrial, monitoramento da qualidade ambiental, programa de educação ambiental e melhoria da ca-
pacitação das instituições envolvidas, reduzindo a carga poluidora gerada pelas indústrias em 90%
(carga orgânica), 97% (carga tóxica) e 70% (óleos e graxas de terminais petrolíferos e postos de ser-
viço).

O Programa Bahia Azul beneficia diretamente a cidade de Salvador, na Bahia, e onze municípios que
se encontram em seu entorno, ao longo da Baía de Todos os Santos. Envolve cinco componentes a
saber: a) abastecimento de água; b) esgotamento sanitário; c) resíduos sólidos; d) desenvolvimento
institucional e e) educação ambiental. Envolve projetos de engenharia e de articulação institucional nas
áreas referidas e terá benefícios que atingirão uma população superior a 2 milhões de habitantes. Entre
esses benefícios destacam-se: geração de emprego e renda; aumento da arrecadação tributária; me-
lhoria das condições sanitárias; redução do número de doenças de veiculação hídrica; melhoria das
condições de vida da população etc. , além dos seguintes benefícios ambientais: recuperação ambien-
tal dos corpos d'água receptores, incluindo rios e praias urbanas; coleta e disposição adequada dos
resíduos sólidos; fortalecimento institucional do órgão ambiental estadual; ampliação de estação de
redução de carga orgânica de esgotos; complementação do interceptor de Camurugipe, entre outros.
O Programa envolve, no período 1996/2000, recursos da ordem de US$600 milhões, financiados pelo
Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Overseas Economic Cooperation
Fund. Acontrapartida nacional é garantida por recursos provenientes do Governo do Estado daBahia,
da Caixa Econômica Federal, por meio de três outros programas, alguns deles já referidos anterior-
mente: Programa de Saneamento Ambiental da Baía de Todos os Santos; Programa de Modernização
do Setor de Saneamento; e Projeto Metropolitano de Resíduos Sólidos.

Participação Social

Apesar da existência de instrumentos legais e órgãos governamentais fortalecidos para coordenar a


gestão dos recursos hídricos, estes não são suficientes para solucionar os problemas que ocorrem
nessa área hoje no Brasil. A sociedade, ao buscar alternativas para resolução de suas próprias ques-
tões, exerce um papel fundamental no gerenciamento dos recursos hídricos, compartilhando, com o
governo, o mesmo objetivo: garantir, para as gerações presentes e futuras, a disponibilidade para todos
os tipos de uso. O conceito preconizado pela Lei 9433/97, a "Lei das Águas", é o envolvimento dos
cidadãos nos trabalhos de gestão de recursos hídricos como uma necessidade, tendo em vista as
dimensões continentais do Brasil e as próprias características do setor, que impossibilitam qualquer
iniciativa centralizada ou apenas governamental para o trato com a água. Não só no gerenciamento
das águas, como também em outras iniciativas de conservação e proteção ambiental, os movimentos
sociais brasileiros têm sido responsáveis por boa parte dos avanços observados, embora falte uma

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 22
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

maior articulação e o reconhecimento de uma série de fatores que venham a contribuir para aumentar
a eficácia e a abrangência desses movimentos.

Para dar visibilidade às ações em prol da água, a Secretaria de Recursos Hídricos lançou o Movimento
de Cidadania pelas Águas, no Dia Mundial da Água (22 de março) de 1996. O Movimento tem por
objetivo convidar os cidadãos para agir em torno da preservação e recuperação dos recursos hídricos.
O Movimento organiza-se de forma descentralizada, por intermédio dos Centros de Referência instala-
dos em estados e municípios do Brasil. O que diferencia o Movimento de Cidadania pelas Águas dos
demais já criados por todo Brasil é que, apesar de ter sido concebido por um órgão de governo, ele
não dita normas ou regras para os seus integrantes. Cada pessoa, em seu espaço e de forma voluntá-
ria, define qual é a melhor maneira de solucionar os problemas hídricos da sua localidade, buscando
parcerias e mobilizando outros cidadãos para o trabalho em defesa da água. Nesses dois anos de
existência, o Movimento já instalou oito Centros de Referência estaduais e inúmeros municipais. Além
desses, o Movimento também criou o Centro de Referência Nacional, sediado na Secretaria de Recur-
sos Hídricos, que é responsável por distribuir as publicações do Movimento para todos os Centros já
instalados, além de divulgar e participar das ações realizadas em todo País. Para o ano de 1998, a
previsão é de que o número de Centros de Referência em nível estadual ultrapasse a marca dos 16 e
o municipal a dos 50 em todo Brasil.

Cooperação Internacional

No plano mais amplo da cooperação internacional, o Brasil desenvolve com outros parceiros bilaterais
e multilaterais um grande número de iniciativas através da elaboração e implementação de diversos
projetos. Do ponto de vista bilateral, as ações mais relevantes no contexto dos recursos hídricos são
levadas a efeito sobretudo com a colaboração da Alemanha, França e Japão, envolvendo, de nosso
lado, não apenas o Governo Federal, mas também governos estaduais e municipais.

Dentre os projetos bilaterais ora em andamento podem ser citados: Irrigação Jaíba II; Despoluição da
Bacia do Tietê; Programas de Saneamento de Salvador e seu entorno; Saneamento Ambiental do Pa-
raná; Plano de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro; Gerenciamento de Bacias Hidrográficas; Planeja-
mento e Gerenciamento Ambiental da Bacia do Rio Pirapama; Plano de Recursos Hídricos do Paraná;
Abastecimento de Água em Santa Catarina, e Saneamento Básico em Pernambuco.

De um modo geral, as iniciativas processam-se através das agências de cooperação das citadas fontes,
sendo que o objetivo básico se refere à cooperação técnica. Alguns problemas são detectados nesse
segmento da colaboração externa. Em determinados casos, algumas mudanças no cenário institucional
brasileiro têm apresentado impacto negativo com reflexos no andamento dos projetos. De outro lado,
igualmente têm sido observados, em algumas dessas fontes externas, uma certa deficiência nas tarefas
de acompanhamento, o que traz inconvenientes ao bom andamento dos projetos. O balanço, de todo
modo, tem sido positivo, e o Brasil tem interesse em ampliar os vínculos de cooperação externa com
parceiros tradicionais e não tradicionais.

A vertente multilateral da cooperação externa é significativa se levarmos em conta instituições de


grande porte como entidades de financiamento, a exemplo do BID e do BIRD. Esses dois bancos res-
pondem por uma grande carteira de empréstimos ao Brasil na área dos recursos hídricos. O GEF tem,
também, emprestado sua colaboração nesse contexto embora através de financiamentos para peque-
nos projetos -"small grants" de até 25 mil dólares. A OEA, IICA e o PNUD desenvolvem ainda iniciativas
com fundos não reembolsáveis.

Dentre os projetos financiados pelo BID e BIRD podem ser ressaltados: Despoluição do Rio Tietê;
Despoluição da Baía de Guanabara; Microdrenagem etapa II; Modernização das Companhias de Sa-
neamento; Controle de Qualidade de Águas; Controle de Qualidade das Águas/SP; Saneamento Bá-
sico de Fortaleza; Saneamento da Baía de Todos os Santos/Ba e Despoluição dos Ecossistemas Lito-
râneos/ES.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 23
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Os volumes de recursos envolvidos nestes projetos multilaterais indicam empréstimos num total de
US$ 3,6 bilhões, os empréstimos bilaterais da ordem de US$ 1 bilhão, totalizando US$ 4, 7 bilhões de
financiamentos externos e US$ 3,6 bilhões de contrapartida nacional para saneamento e recursos hí-
dricos, que somados totalizam US$ 8,3 bilhões.

De forma feral, o Brasil tem tido experiência positiva no tocante à negociação desses recursos, embora
se observe um certo exagero com respeito às exigências burocráticas tanto do agente financiador,
como do Governo brasileiro. É necessário que estes procedimentos seja revistos, de modo a agilizar
os processos de solicitação de empréstimos. Além das iniciativas de Cooperação Técnica e Financeira,
o Governo brasileiro vem participando de iniciativas internacionais, dentre as quais destacamos a Rede
Interamericana de Recursos Hídricos -IWRN, apoiada pela OEA, a Rede Internacional de Organismos
de Bacia -RIOB, apoiada pelo Governo francês, o Programa Hidrológico Internacional da UNESCO, o
Programa Hidrológico Operacional e o Programa HOMS, ambos coordenados pela OMM e o Programa
GEMS da OMS. O Brasil também tem tido uma participação ativa nos foros internacionais que tratam
da questão de recursos hídricos de forma geral.

O Tratado Da Bacia Do Prata

O Tratado da Bacia do Prata, que entrou em vigor na década de 70, funciona como um canal técnico
político entre os países do cone sul, e foi assinado pela Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Foi o primeiro passo no sentido de transformar os limites divisórios em "fronteira de cooperação". O
avanço no processo de integração regional, que resultou na concretização do MERCOSUL, bem como,
a solução dos litígios pendentes diminuíram o caráter essencialmente político do Tratado e transforma-
ram-no num instrumento de cooperação técnica para a gestão transnacional de recursos hídricos. Den-
tre seus objetivos destacam-se: a utilização racional do recurso água, o desenvolvimento regional com
a preservação da fauna e da flora, a integração física, fluvial e terrestre, além da promoção de maior
conhecimento da bacia, de seus recursos e potenciais.

Para a implementação desses objetivos institucionalizou-se, ao longo dos anos, um sistema, composto
de três órgãos principais: o Comitê Intergovernamental Coordenador da Bacia do Prata (CIC), o Fundo
Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (FONPLATA) e o Comitê Intergovernamental da
Hidrovia Paraguai-Paraná (CIH). Para dar maior agilidade e sentido prático às atividades prioritárias, o
CIC elaborou o Programa de Ações Concretas (PAC) em 1987. Ele abrange 10 projetos, distribuídos
nas seguintes áreas: intercâmbio de dados hidrológicos, controle de qualidade das águas da Bacia,
conservação de solos, navegação e transportes fluvial e terrestre e cooperação fronteiriça. Vários gru-
pos de contrapartes técnicas foram constituídos para tratar dos temas da PAC.

Dentre os resultados obtidos, destacam-se, na área de monitoramento, avaliação e aproveitamento dos


recursos hídricos na Bacia do Prata, os programas de informação sobre qualidade da água e alerta
hidrológico. Estes funcionam basicamente por intermédio da troca de dados coletados pelas partes. O
Brasil é o que conta com o mais sofisticado sistema de monitoramento da bacia, com dados e informa-
ções atualizados diariamente e disponibilizadas via Internet. As negociações estão em estado avan-
çado e o programa conta com recursos do BID.

No que se refere à integração física, registram-se intenso debate e estudos em andamento sobre a
viabilidade de uma grande hidrovia que conectará as principais regiões econômicas dos países envol-
vidos (Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia). Esse projeto seria concretizado pela interligação
das bacias dos rios Tietê, Paraná, Paraguai, Uruguai e, finalmente, do rio da Prata. O objetivo do projeto
é garantir a navegação com confiabilidade e segurança, uma vez que, a hidrovia em si, já é um fato.
Não se trata, portanto, de construir algo propriamente novo, mas de torná-la uma atividade eficiente e
ambientalmente adequada. A esse respeito, cabe mencionar que existe especial preocupação em se
medirem os impactos ambientais do empreendimento, principalmente na região do Pantanal, com vis-
tas ao desenho de ações de mitigação. Espera-se, ainda, que a hidrovia possa harmonizar as regras
de navegação entre os diversos países e permitir a interconexão multimodal dos meios de transporte.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 24
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

O Tratado De Cooperação Amazônica

O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi assinado em 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equa-
dor, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, tendo entrado em vigor, no Brasil, em 1980. Estabelece
como órgão de decisão superior o Conselho de Cooperação Amazônica, e como órgão auxiliar uma
Secretaria Pro- Tempore, atualmente em Caracas.

Recentemente foi decidida sua transformação em Secretaria Permanente, com sede a ser estabelecida
em Brasília O Tratado, verdadeiro embrião de consciência ecológica, surgiu como resposta dos países
da região a uma série de necessidades advindas das peculiares características da região amazônica.
Em todos os países, percebia-se a porção amazônica do território como uma área isolada: os entraves
impostos pela selva às comunicações e aos transportes dificultavam o desenvolvimento econômico
integrado com as demais regiões. As características fisiográficas desfavoráveis impunham severas pro-
vações aos povos da floresta, condenando-os a atividades econômicas primitivas e a viver como mise-
ráveis dentro do ambiente mais rico em vida do planeta.

O escopo central do TCA pode ser assim definido: promover o desenvolvimento harmônico da Amazô-
nia, afim de permitir uma distribuição equitativa dos benefícios desse desenvolvimento entre as partes
contratantes, elevando o nível de vida de seus povos e logrando a plena incorporação de seus territórios
amazônicos às respectivas economias nacionais.

O TCA constitui, nesse cenário, um amplo acordo quadro, o qual estabelece coordenadas gerais ao
mesmo tempo em que permite aos países signatários considerável flexibilidade de ações. Ressalta-se
que, no âmbito do Tratado, as decisões devem ser unânimes e há total igualdade entre os membros.
O financiamento dos projetos no âmbito do TCA provém principalmente da União Européia (que finan-
cia projetos como o de "Planificação e Manejo de Águas Protegidas da Região Amazônica"), do PNUD
(que, com recursos do GEF, custeia o projeto de zoneamento ecológico-econômico da Amazônia), do
Banco Mundial e, em menor grau, do BID ("Projeto de Apoio ao Zoneamento Amazônico"), OEA, Go-
vernos e de outras fontes.

O TCA revelou-se altamente inovador em muitos de seus artigos, dispondo sobre matérias que só
recentemente foram incluídas na agenda internacional. Em seus 28 artigos, estabelece variados ins-
trumentos que permitem a eficiente gestão transfronteiriça do potencial existente nos rios amazônicos.

Outros Acordos

Os países amazônicos e platinos oferecem ampla gama de exemplos em gestão transfronteiriça bila-
teral de recursos hídricos. Dentre esses, destacam-se: a) Acordo de Pesca entre o Brasil e a Argentina;
b) Acordo de Pesca e Preservação de Recursos Vivos entre o Brasil e Uruguai; c) Acordo entre o
Governo do Brasil e o Governo do Paraguai para Conservação da Fauna Aquática nos Cursos dos Rios
Limítrofes; d) Acordo de Cooperação Amazônica entre o Governo da República Federativa do Brasil e
o Governo da República da Colômbia; e) Acordo de Cooperação entre o Governo do Brasil e o Governo
do Uruguai para o Aproveitamento dos Recursos Naturais e o Desenvolvimento da Bacia do Rio Quaraí;
f) Tratado para o Aproveitamento dos Recursos Hídricos Compartilhados dos Trechos Limítrofes do Rio
Uruguai e de seu Afluente, o Rio Pepiri-Guaçu, entre o Brasil e Argentina; g) Tratado para o Desenvol-
vimento das Lagoas Mirim entre Uruguai e Brasil.

Gerenciamento de recursos hídricos no Brasil e no Estado de São Paulo: um novo modelo de política
pública

A temática ambiental se tornou uma preocupação central, por diversas razões. Os principais motivos
são a constatação de que são insustentáveis os padrões correntes de uso dos recursos naturais, a
descoberta da vulnerabilidade do ser humano diante das suas próprias ações e a maior politização em
torno da questão ambiental. Entre as questões ambientais mais polêmicas se destaca a gestão da água
doce, um bem vital para todos os seres vivos e um dos principais recursos para o desenvolvimento dos

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 25
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

países. Entretanto, esse bem é escasso ou está em grande estado de degradação em muitas regiões
do planeta, até mesmo no Brasil, onde sua regulamentação começou no início da década de 1930,
baseada num modelo centralizado e sob forte influência do setor de energia elétrica. Com a atual Cons-
tituição Federal começa a ser criado um novo modelo de gestão dos recursos hídricos, de modo inte-
grado e ao mesmo tempo descentralizado, tendo a bacia hidrográfica como unidade administrativa e
órgãos colegiados, em diferentes níveis, como instâncias decisórias. Esse artigo irá abordar os princi-
pais problemas quanto aos recursos hídricos no Brasil e no estado de São Paulo e, em seguida, mostrar
as principais características dos atuais modelos nacional e paulista de gerenciamento desses recursos,
ressaltando as diferenças em relação ao modelo anterior.

O objetivo deste artigo é discutir esse tema, do ponto de vista das soluções adotadas no estado de São
Paulo, com a implementação da Lei nº 7.663, de 30 de dezembro de 1991, que instituiu a Política
Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SI-
GRH). Inicialmente, será apresentado um resumo da atual situação dos recursos hídricos, no mundo e
no Brasil, e como essa situação é tratada no âmbito global. Depois, serão discutidos os principais as-
pectos da política pública no estado de São Paulo, tendo como foco central o SIGRH. Os principais
componentes desse sistema serão analisados, com destaque para os comitês de bacias hidrográficas.
Finalmente, serão discutidos os conflitos socioambientais na condução desses comitês e os problemas
de interface com o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), instituído pela
Lei nº, de 9.433, de 08 de janeiro de 1997.

Água Doce e Recursos Hídricos

Segundo Rebouças (2002), "água" é o elemento natural desvinculado de qualquer utilização e "recurso
hídrico" a parte da água passível de utilização, portanto, dotada de valor econômico. O planeta Terra
tem dois terços de sua superfície cobertos por água (360 milhões Km2 de um total de 510 milhões
Km2). Contudo, mais de 98% da água disponível é salgada, e dos 2% de água doce - considerada de
baixa salinidade - restantes, mais de 68,9% estão dispostos em geleiras, 29,9% estão em reservatórios
subterrâneos profundos - consequentemente, de difícil acesso - e apenas 1,2% está disponível em rios
e lagos (SENRA, 2001, p.133). No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) classifica
a água em três categorias: a água doce é a que apresenta uma concentração de sal inferior a 0,5%, a
água salobra apresenta uma concentração de sal que varia de 0,5% a 30% e a água salgada apresenta
uma concentração superior a 30% (CONAMA, 1986).

Simultaneamente ao aquecimento terrestre, a escassez de água doce tem sido considerada um dos
problemas ambientais mais graves e complexos. O uso de água cresce continuamente em todo mundo,
em particular na agricultura irrigada (UICN, PNUMA e WWF, 1991, p.148), e no Brasil a idéia de abun-
dância reforçou a cultura do desperdício (REBOUÇAS, 1999, p.201). A maneira como os recursos hí-
dricos são utilizados e a degradação desses recursos vem provocando uma crise de grandes propor-
ções em muitos países, especialmente nos grandes centros urbanos. Esses problemas poderão se
intensificar com a mudança climática decorrente do aumento da concentração de gases de efeito es-
tufa. Particularmente nas regiões áridas e semiáridas, o aumento da temperatura do planeta entre 1ºC
e 2ºC, combinado com uma redução de 10% no índice pluviométrico, poderá reduzir o escoamento
anual em até 70% (UICN, PNUMA, WWF, 1991, p.149).

A água doce é um recurso material limitado e com múltiplas funções; portanto, com diferentes tipos de
usos. Para o abastecimento humano, a água é matéria-prima; para a atividade industrial e de irrigação,
a água pode ser insumo e matéria-prima; para a navegação, a água é leito navegável; para atividades
de recreação e lazer, a água é parte da beleza cênica; para as atividades de pesca, a água é o meio
onde vivem as espécies; para o esgotamento de efluentes urbanos e industriais, a água é corpo diluidor
e para a produção de energia é necessário explorar os movimentos da água transformando energia
cinética em elétrica (GARRIDO, 2000, p.58). Como equacionar os conflitos inerentes aos diversos tipos
de uso dos recursos hídricos, muitas vezes envolvendo interesses contraditórios?

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 26
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

Essa pergunta tem levado à reflexão, governantes, empresários, ativistas de entidades civis e de insti-
tuições supranacionais. Os problemas relacionados com a água doce têm sido objeto de diversas con-
ferências multilaterais, como as que estão citadas no quadro 1. É necessário ressaltar que a Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) considera que para uma vida saudável é necessário um mínimo de
1.500m3 de água por habitante/ano. Isso significa mais 9 trilhões m3/ano apenas para consumo hu-
mano, fora as necessidades de água para as demais espécies e para outros tipos de uso humano como
irrigação, navegação, processos industriais, limpeza pública, geração de energia etc.

De acordo com um diagnóstico apresentado na Conferência Internacional sobre Água Doce, em Bonn,
em 2001, cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem sem acesso à água em quantidade e qualidade neces-
sárias para uma vida saudável e digna; 2,5 bilhões carecem de saneamento adequado e 4 milhões,
principalmente crianças, morrem todos os anos de disenteria, amebíase e outras doenças associadas
à água de má qualidade. Dessa forma, mantido o padrão atual de uso e degradação da água, esse
quadro tende a se agravar, pois, estima-se que por volta de 2030 a Terra contará com 2 bilhões de
pessoas a mais, a maioria vivendo nas grandes cidades situadas em países pobres, principalmente, na
Ásia, na África, no Oriente Médio e na América Latina (PETRELLA, 2002).

Esses fatos colocam a água no centro dos principais conflitos humanos, seja no âmbito internacional -
uma vez que muitas bacias hidrográficas e aquíferos são compartilhados por diversos países - , seja
em níveis nacionais, subnacionais e locais. Segundo Petrella (2002), estudos realizados em 1990 por
Walter H. Corson identificaram 155 bacias compartilhadas por dois países; 36 por três países e 23
bacias por um número de até 12 países. O quadro 2 apresenta uma visão sintetizada de algumas das
principais zonas de conflito envolvendo o uso de recursos hídricos no mundo.

Os recursos hídricos não são as únicas causas dos conflitos listados nesse quadro. Algumas vezes
são a principal causa dos conflitos; em outras, consequência de conflitos que se originam de disputas
quase sempre envolvendo a luta por hegemonia política, econômica ou cultural; quando não estão
relacionados com tensões causadas por uma certa irresponsabilidade de lideranças políticas, econô-
micas e religiosas em buscar a paz de forma consistente, reconhecendo interesses e necessidades
das diversas partes envolvidas.

Como exemplo, pode-se destacar os conflitos entre os países árabes (Síria, Jordânia, Palestina e Lí-
bano) e Israel, envolvendo o rio Jordão. Em grande parte, a principal causa do problema remonta ao
fim da II Guerra Mundial, quando os líderes dos países aliados, vencedores, atenderam a uma justa
reivindicação do povo judeu, criando o estado de Israel, sem, contudo, atender às também justas rei-
vindicações do povo árabe, principalmente dos palestinos (PETRELLA, 2002).

Conflitos internacionais são complexos, especialmente, quando envolvem a apropriação de um recurso


para o qual não existem substitutos. Requerem ações coordenadas no plano internacional, que adotem
o princípio da solidariedade no lugar da competição, estabelecendo um novo padrão de utilização dos
recursos hídricos, baseado no uso justo. Entretanto, também podem existir conflitos no âmbito interno
dos países, principalmente, quando o uso dos recursos hídricos adquire um caráter competitivo e, por-
tanto, mutuamente excludente, tais como: entre uso urbano ou rural, abastecimento humano ou indus-
trial, satisfação das necessidades de regiões altamente desenvolvidas ou das necessidades de desen-
volvimento de regiões periféricas.

Água Doce no Brasil

A oferta de recursos hídricos no Brasil pode ser considerada generosa, embora caracterizada por al-
gumas assimetrias entre a disponibilidade e a necessidade. Segundo Senra (2001, p.133), o Brasil
possui 12% das reservas de água do planeta, enquanto abriga 2,8% da população mundial (167 mi-
lhões de habitantes). A China com 25% da população, possui 10% das reservas de água, e o Japão,
com 2,5% da população mundial, possui o equivalente a 1% das reservas. Essa condição, segundo
Rebouças (1999, p.200), situa o Brasil entre as nações mais ricas em água doce do planeta, com 54%

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 27
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

(5.600km3/ano) do deflúvio total dos rios da América do Sul (10.377km3/ano) ou 14% do mundo
(40.673km3/ano).

A produção hídrica superficial em território brasileiro é de 168.790m3/s, chegando a 257.790m3/s


quando se considera a vazão da bacia amazônica procedente de território estrangeiro (NOVAES, 2000,
p.59). Contudo, existem grandes disparidades entre a produção hídrica e a concentração demográfica.
A região amazônica, com um adensamento demográfico de 2 a 5 habitantes/km2, responde por 78%
da produção hídrica nacional; a bacia do rio São Francisco (densidade de 5 a 25 habitantes/km2) cor-
responde a apenas 1,7% da descarga hídrica total, enquanto a bacia do rio Paraná (densidade de 25
a mais de 100 habitantes/km2) corresponde a 6% da produção hídrica total (REBOUÇAS, 1999, p.201).

Esses dados mostram que menos de 20% da descarga hídrica nacional abastece cerca de 95% da
população, enquanto 80% dessa produção é originada de regiões ocupadas por apenas 5% da popu-
lação. Isso quer dizer que embora o Brasil tenha uma das maiores reservas de água doce do planeta,
existem regiões situadas abaixo dos padrões mínimos, em decorrência das disparidades entre a pro-
dução hídrica e o adensamento demográfico.

O crescimento demográfico urbano dos últimos 30 anos é um fator importante de pressão sobre os
recursos hídricos. No período 1970-2000, a taxa de urbanização passou de menos de 56% para mais
de 81% (IBGE, 2000). São 25 aglomerados urbanos com população superior a 500 mil habitantes e 12
com mais de 1 milhão. Essa mudança na distribuição espacial da população brasileira se tornou um
fator relevante para a agenda ambiental do país, sobretudo a partir da década de 1990, quando se
pode considerar que o novo padrão de distribuição da população passou a ser mais importante que o
crescimento demográfico em si (NEDER, 2002). A tabela 1 mostra a situação dos recursos hídricos nas
unidades federativas brasileiras, comparativamente aos países europeus. Um índice de disponibilidade
acima de 20.000m3 habitante/ano revela uma situação de abundância e, no outro extremo, é conside-
rado situação crítica de escassez um índice de disponibilidade abaixo de 1.500m3/habitante/ano.

Como mostra a tabela, das 27 unidades federativas brasileiras, 11 apresentam uma oferta de água
abundante, com disponibilidade hídrica oscilando entre 39 mil e 1.747.010m3/habitante/ano. Em com-
paração com os países europeus, os que possuem maior disponibilidade hídrica apresentam uma re-
lação que varia de 21.800m3 a 22.600m3/habitante/ano. No Brasil, quatro unidades federativas apre-
sentam uma situação considerada muito rica, duas ricas e duas em condição de equilíbrio em relação
ao que a OMS considera adequado para a satisfação da vida em comunidade e para o exercício das
atividades humanas e sociais. Seis unidades federativas apresentam situação pobre (disponibilidade
inferior a 2.500m3/habitante/ano) e duas possuem situação crítica de escassez (abaixo de 1.500m3/ha-
bitante/ano). O estado de São Paulo apresenta uma situação de equilíbrio, mas isso apenas quando
se considera a disponibilidade agregada de água.

A Água Doce no Estado de São Paulo

Segundo dados da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, cerca de 86% do território
do estado está localizado na bacia do rio Paraná. A quantidade de água é considerada boa, em grande
parte por causa dos aquíferos situados principalmente na região oeste. A intensa utilização desses
aquíferos, tanto para o abastecimento urbano, quanto para uso industrial, é fonte de grande preocupa-
ção por parte dos órgãos gestores estaduais que buscam disciplinar o seu uso. Quanto ao uso da água,
podem ser constatadas grandes assimetrias entre as diversas bacias hidrográficas. Das 22 bacias exis-
tentes, 12 apresentam um consumo de água inferior a 10% da disponibilidade, três apresentam con-
sumo que varia entre 10% e 30% da disponibilidade, três consomem entre 30% e 50%, e em outras
três, entre 50% e 99%.

Na bacia do Alto Tietê, onde está localizada a Grande São Paulo, já se constata vazão superior à
disponibilidade hídrica. Isso significa que para suprir as necessidades de água da região é necessário

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 28
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

transportá-la por meio de dutos de outras regiões do estado. Nesse caso, a água transportada é cole-
tada na bacia hidrográfica formada pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, captada nas proximidades
de Bragança Paulista e despejada na bacia do Rio Tietê pelo Sistema Cantareira.

Entre as causas da necessidade de captar água em outra bacia estão, entre outras, o elevado índice
demográfico da bacia do Alto Tietê, a poluição das águas da região da Grande São Paulo e também a
baixa disponibilidade hídrica natural da região, uma vez que se trata de uma região formadora de rios.

Thame (2000, p.12) considera que no estado de São Paulo quatro bacias hidrográficas apresentam
uma situação crítica. Na bacia do Alto Tietê, a disponibilidade hídrica é de 200m3/habitante/ano; na
bacia dos rios Piracicaba/Capivari/Jundiaí, é de 400m3/habitante/ano; na bacia do rio Turvo/Grande,
900m3 e na bacia do Mogi-Guaçu, 1.500m3. Contudo, especialistas consideram elevado qualquer ín-
dice de uso que se aproxime dos 50% da disponibilidade.

A coluna "principal uso" indica a atividade que mais consome recursos hídricos na bacia hidrográfica
em questão. Contudo, essa informação não define nem o tipo, nem o perfil da bacia hidrográfica. Em
uma região altamente industrializada, como por exemplo, a Região Metropolitana de São Paulo, o prin-
cipal uso é o abastecimento humano. Em contraste, a região do Vale do Ribeira (bacia de conservação),
muito pouco industrializada, tem como principal consumo, exatamente, a indústria. Isso ocorre porque
a região é pouco habitada e os sistemas públicos de abastecimento são ainda incipientes. Desse modo,
a pouca atividade industrial existente nessa bacia consome mais água que a população servida pelos
sistemas públicos de abastecimento. As bacias de conservação recebem essa designação por estarem
situadas em áreas de proteção ou preservação ambiental. São exemplos as bacias do rio Ribeira de
Iguape, litoral norte, Mantiqueira e Alto Paranapanema. Bacias industriais são aquelas que estão situ-
adas em áreas de elevada industrialização. Bacias em industrialização estão situadas em áreas onde
há um equilíbrio entre o consumo de água em atividades industriais e para o abastecimento humano,
com tendência ao crescimento industrial, como por exemplo, a bacia do Mogi-Guaçu.

A irrigação constitui o principal uso dos recursos hídricos em São Paulo. O que era de se esperar, pois
o estado tem na agricultura irrigada uma das suas principais riquezas. De acordo com cálculos elabo-
rados (a pedido dos autores) por Antônio Carlos Macedo, ex-presidente da Cetesb, hoje fruticultor, uma
área de 200 hectares com um único pivô central de irrigação consome 5 litros de água/m2 ou
10.000m2/dia, correspondendo a uma retirada de 1 milhão de litros de água/dia. Técnicos da Secretaria
do Meio Ambiente do Estado de São Paulo entrevistados apontam a produção de açúcar e de bebidas
como duas outras atividades econômicas responsáveis por elevado consumo de água.

Uma usina de açúcar consome cerca de 3m3 de água/s. Essa água é usada, sobretudo, para lavar o
bagaço da cana e extrair o açúcar que nele fica retido. Desse processo resulta a vinhaça, uma água
altamente tóxica que tem sido usada como um fertilizante, o que minimiza a degradação ambiental em
comparação com a prática anterior de jogar esse resíduo nos corpos d'água próximos às usinas. O
consumo de uma única usina de açúcar, conforme seu porte, pode corresponder ao abastecimento
humano de uma cidade com 100 mil habitantes. Fortaleza, por exemplo, com cerca de 300 mil habitan-
tes, consome 3m3 de água/s.

No setor industrial, ainda segundo técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo,
a indústria de cerveja é a principal responsável pela captação de águas subterrâneas. Do total captado,
apenas 20% seriam utilizados na produção de cerveja e refrigerantes. Os outros 80% dessa água ex-
tremamente pura são utilizados em processos de limpeza.

O consumo previsto para aquele ano corresponde à utilização de 31,8% da disponibilidade hídrica do
estado. Em princípio, a quantidade de água disponível se mantém constante. Porém, os especialistas
apontam riscos de redução do volume de água em circulação em decorrência de diversos fatores,
principalmente relacionados à elevação da temperatura da Terra. A disponibilidade de água é afetada
também pela poluição dos mananciais. A crescente e descontrolada exploração dos aquíferos têm sido

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 29
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

motivo especial de preocupação. A superexploração pode levar à redução da disponibilidade dessas


fontes de água, pois, uma parte desses mananciais são fósseis e levam anos para se renovarem. Tam-
bém há riscos de contaminação dessas reservas, para as quais, atualmente, não se conhece nenhuma
tecnologia de despoluição disponível, principalmente, por causa da ausência de movimento das águas
desses mananciais.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH)

O marco legal que instituiu o gerenciamento integrado dos recursos hídricos foi claramente fixado no
inciso XIX do artigo 21 da Constituição Federal de 1988. A Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), instituída pela Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, que regulamenta o artigo citado, está
baseada nos seguintes fundamentos:

a água é um bem de domínio público;

a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o de atender ao consumo humano
e dessedentar os animais;

a gestão dos recursos hídricos deve sempre garantir o uso múltiplo das águas;

a bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implementação da PNRH e a atuação do SNGRH; e

a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do poder público,
dos usuários e da comunidade (art. 1º).

Para implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos e coordenar a gestão integrada desses
recursos é que foi criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cujos compo-
nentes são mostrados na figura 1. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) faz parte da
estrutura do Ministério do Meio Ambiente (MMA) sendo, no tocante aos recursos hídricos, a sua instân-
cia decisória mais elevada. A presidência do conselho é reservada ao ministro do Meio Ambiente e a
secretaria-executiva à Secretaria de Recursos Hídricos do mesmo ministério. O número de represen-
tantes da União é de, no máximo, metade mais um do total de membros do conselho. As principais
atribuições do CNRH são:

planejar e coordenar o uso de recursos hídricos, considerando os planos estaduais;

arbitrar conflitos como última instância administrativa;

deliberar sobre projetos que geram impacto em mais de um estado;

aprovar a implantação de comitês de bacias em regiões de domínio federal; e

estabelecer diretrizes para outorga e cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Os comitês de bacias hidrográficas em áreas de domínio federal possuem a seguinte composição:


representantes da União, representantes das unidades federativas banhadas pela bacia hidrográfica
(estados, Distrito Federal e municípios localizados na bacia) e representantes de organizações civis de
recursos hídricos com atuação comprovada na bacia hidrográfica em questão.

Em comitês de fronteira com outros países, é incluído, obrigatoriamente, um representante do Ministé-


rio das Relações Exteriores. Em comitês situados em áreas indígenas é obrigatória a inclusão de um
representante da Fundação Nacional do Índio. Nos comitês de bacias em áreas de domínio federal, o
número total de representantes do poder público (União, estados, Distrito Federal e municípios) é de,

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 30
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

no máximo, metade do total. A outra metade é composta por representantes de entidades civis e de
usuários.

Futuramente, cada comitê deverá contar com uma agência de bacia, a qual exercerá as funções de
secretaria executiva e cujas principais atribuições são:

manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos na bacia, contemplando aspectos


quantitativos e qualitativos;

manter cadastro de usuários e, por delegação do órgão outorgante, no caso a Agência Nacional de
Águas (ANA), cobrar pelo uso de recursos hídricos;

analisar e emitir pareceres sobre projetos a serem financiados com recursos oriundos da cobrança;

gerir o sistema nacional de informações sobre recursos hídricos em sua área de atuação;

elaborar e propor ao plenário do comitê de bacia o plano de recursos hídricos da bacia;

enquadrar os corpos de água em classes de uso; e

propor ao plenário do comitê de bacia um plano para aplicação dos recursos arrecadados com a co-
brança pelo uso dos recursos hídricos.

A Agência Nacional de Águas (ANA), criada pela Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, é uma autarquia
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a finalidade de implementar a PNRH em sua
esfera de atribuições (art. 3º). Entre outras atribuições, cabe à ANA:

outorgar o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União;

fiscalizar o uso desses recursos;

elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição (pelo CNRH) dos valores a serem cobradas pelo
uso de recursos hídricos de domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos
pelos comitês de bacias hidrográficas;

arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso de recursos hídri-
cos (art. 3º).

Alguns exemplos mostram como a ANA tem operado com respeito à cobrança pelo uso da água. Na
bacia do rio Jaguaribe, no Ceará, como o volume de água somente poderia atender metade da de-
manda dos agricultores, os produtores do Baixo Jaguaribe passaram a pagar R$0,01 por mil litros de
água, e essa arrecadação foi usada para indenizar os agricultores que ficaram sem água e trocaram
suas culturas tradicionais - arroz e feijão, por exemplo - , que consomem muita água, por outras que
consomem menos.

A Agência Nacional de Águas definiu os valores a serem cobrados pelo uso da água da bacia do rio
Paraíba do Sul (Resolução nº 19, de 2002), considerando os valores propostos pelo Comitê para a
Integração da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul (Deliberação Ceivap nº 8, de 2001). Os recursos
serão aplicados na própria bacia, em projetos de despoluição das águas da bacia do Paraíba do Sul.

Como se vê, trata-se de um modo completamente novo de gerir um recurso natural, rompendo uma
tradição de centralismo burocrático que vem desde as ordenações portuguesas e que continuou, no
caso da água, com o Código de Águas de 1934 (Decreto nº 24.643/34). Com a PNRH, as decisões
sobre os recursos hídricos passam a ser descentralizadas, compartilhadas entre os usuários e os re-
presentantes do poder público, e os recursos gerados serão aplicados prioritariamente na bacia em
que foram gerados (art. 22). Em grande parte, o sistema implantado pela União baseou-se no modelo

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 31
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

paulista. O sistema paulista, por sua vez, baseou-se no modelo francês, que tem nos comitês de bacias
suas instâncias decisórias básicas, ou seja, as principais decisões são tomadas pelos que estão sen-
tindo os problemas e envolvidos em conflitos decorrentes do uso dos recursos da bacia. No modelo
anterior, os conflitos eram resolvidos no âmbito dos órgãos especializados do Executivo federal, como
o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica, atendendo prioridades estabelecidas pelo poder
central, onde a resolução de conflitos se dava conforme as forças locais e regionais e os interesses
políticos em jogo.

O Conselho de Recursos Hídricos (CRH)

Os colegiados de gestão são instâncias políticas, estratégicas e deliberativas, formadas em nível cen-
tral pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) e, regionalmente, pelos comitês de bacias
hidrográficas (CBHs). Os colegiados são compostos de forma paritária por representantes dos órgãos
do governo do estado de São Paulo, governos municipais e representantes da sociedade civil. Nos
comitês, o número de representantes varia segundo as características regionais e as decisões de cada
bacia, também mantendo paridade entre os três segmentos.

O CRH é instância estratégica e deliberativa do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos


Hídricos. Basicamente, sua função é formular e acompanhar a implantação das políticas de recursos
hídricos no estado. É composto por 33 membros com direito à voz e voto - representantes dos órgãos
estaduais, dos municípios e da sociedade civil - , sendo 11 de cada segmento. Também integram o
conselho, sem direito a voz e voto, três representantes das universidades estaduais oficiais (USP,
Unesp e Unicamp), um representante do Ministério Público, sete de entidades e órgãos estaduais e os
presidentes dos comitês de bacias hidrográficas. O quadro 3mostra a composição do CRH. A presi-
dência do conselho é exercida pelo secretário estadual de Recursos Hídricos. A vice-presidência é
ocupada pela secretária de Meio Ambiente. A representação dos municípios é alterada a cada dois
anos. Os representantes da sociedade civil são escolhidos entre os membros das entidades cadastra-
das no conselho. Quando há mais de uma entidade cadastrada em um mesmo segmento, é escolhida
uma para representar o segmento pelo período de um ano, podendo ser reconduzida uma vez.

O Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI)

O Corhi elabora o Plano Estadual de Recursos Hídricos, baseando-se no relatório de situação e nos
planos de bacia, elaborados nas bacias hidrográficas. É constituído pelos órgãos estaduais responsá-
veis pelo gerenciamento de recursos hídricos; sendo que nos aspectos quantitativos, o órgão respon-
sável é o DAEE, e nos aspectos qualitativos, a Cetesb. O comitê é o braço de apoio técnico dos cole-
giados de gestão. No plano descentralizado, ele elabora e propõe anualmente ao plenário do comitê
de bacia o relatório de situação dos recursos hídricos e o plano de bacias - com diretrizes de uso,
recuperação e proteção dos recursos hídricos em cada uma das 22 bacias hidrográficas de São Paulo.

No plano central, o Corhi elabora e propõe ao conselho estadual o Plano Estadual de Recursos Hídri-
cos, a partir da consolidação dos 22 planos de bacias. O plano estadual contém as diretrizes de uso
dos recursos hídricos no estado para um período de quatro anos. O comitê coordenador é composto
por uma secretaria-executiva, que lhe presta apoio administrativo, e grupos técnicos responsáveis pelo
aprofundamento de estudos específicos e de 12 programas de caráter permanente. No âmbito dos
comitês de bacias, técnicos dos municípios podem participar dos grupos técnicos. No plano central,
podem participar os técnicos de outras secretarias de estado e órgãos a elas vinculados, além daquelas
que integram o conselho permanente.

Como uma instância de apoio técnico, as propostas do Corhi são discutidas e decididas pelas instâncias
políticas deliberativas. No plano descentralizado, essa instância política é o plenário do comitê de bacia
e, no plano central, o Conselho de Recursos Hídricos. O processo se desenvolve nas seguintes etapas:

o Corhi elabora o relatório de situação e propõe os planos de bacias nas 22 unidades de planejamento
e gerenciamento;

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 32
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

os plenários dos comitês de bacias deliberam sobre os planos apresentados pelo Corhi;

o Corhi elabora e propõe o Plano Estadual de Recursos Hídricos a partir da consolidação e compati-
bilização dos 22 planos de bacias hidrográficas;

o Conselho Estadual de Recursos Hídricos delibera sobre o plano em primeira instância;

o plano é submetido à aprovação da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo; e, finalmente,

os comitês de bacias hidrográficas, baseados nas diretrizes aprovadas no plano estadual, definem
prioridades regionais.

O Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO)

O Fehidro é a instância que dá suporte financeiro ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos


Hídricos, formado com recursos dos orçamentos dos governos do estado de São Paulo e dos municí-
pios e também pela compensação financeira que a União paga ao estado pelo aproveitamento do po-
tencial energético. Os empréstimos obtidos de instituições nacionais e internacionais podem integrar o
fundo. Futuramente, também receberá os recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos
hídricos no estado. O seu comitê técnico é formado pelo Corhi, constituído pelos órgãos estaduais
responsáveis pelos recursos hídricos nos aspectos quantitativos (DAEE e SRHSO) e qualitativo (Ce-
tesb e SMA). O fundo é supervisionado por um conselho de oito membros, eleitos de forma paritária
entre os representantes do estado e dos municípios que integram o Conselho Estadual de Recursos
Hídricos. O fundo está estruturado em subcontas de forma que cada comitê de bacia pode gerenciar
os seus próprios recursos. Essa é outra inovação importante e radical em termos de administração
pública, pois, rompe com o secular princípio da unicidade do tesouro.

Os Comitês De Bacias Hidrográficas

Os comitês de bacias hidrográficas são colegiados de decisão compostos por representantes do es-
tado, dos municípios e de entidades da sociedade civil sediadas e com atuação comprovada na bacia
hidrográfica. O número de membros de cada comitê é definido pelo seu plenário. Por isso, são obser-
vadas assimetrias entre os diferentes comitês. Bacias com um grande número de municípios e elevada
densidade demográfica podem ter um número menor de membros do que um comitê de bacia com
menor quantidade de municípios e menor densidade populacional. No Comitê da Baixada Santista foi
verificado o menor número de votos por segmento (nove), enquanto no Comitê do Turvo/Grande veri-
ficou-se o maior (18 por segmento). No Comitê do Alto Tietê, onde estão representados os municípios
da Grande São Paulo, são 16 votos por segmento. Qualquer que seja o número de membros, para
determiná-lo deve ser observado o caráter paritário entre os três segmentos: estado, municípios e so-
ciedade civil.

O plenário do comitê de bacia é a mais elevada instância política e decisória, exercendo funções es-
tratégicas e deliberativas. É assessorado por uma secretaria-executiva e duas unidades descendentes,
uma para a formação de comitês de sub-bacias e outra para a formação de grupos técnicos especiali-
zados. Com a aprovação da Lei Estadual nº 10.020/98, que autoriza a criação das agências de bacias
hidrográficas, as atuais secretarias executivas deverão ser substituídas pelas agências. Os comitês de
sub-bacias são formados quando um determinado corpo de água apresenta condições específicas que
requerem tratamento especial, como poluição, assoreamento, enchentes etc.

É o caso do Comitê do Alto Tietê, desmembrado em cinco subcomitês. A atuação dos grupos técnicos
pode ser exemplificada com a elaboração do Projeto de Lei nº 20/1998, posteriormente substituído pelo
Projeto de Lei nº 676/2000 que propõe a instituição de cobrança pelo uso de recursos hídricos. Foram
formados dois grupos técnicos, sendo que um estudou e propôs os critérios para a cobrança, fazendo
simulações nas diferentes bacias hidrográficas; enquanto o outro cuidou da redação do projeto de lei.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 33
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

As secretarias executivas ou agências de bacias têm importância capital para os comitês de bacias. No
âmbito da bacia hidrográfica são elas que gerenciam os 12 programas permanentes de uso, conserva-
ção e proteção dos recursos hídricos estabelecidos no plano estadual quadrienal. Esses são os pro-
gramas:

planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos;

aproveitamento múltiplo e controle dos recursos hídricos;

serviços e obras de conservação, proteção e recuperação da qualidade dos recursos hídricos;

controle da perfuração de poços profundos e da exploração das águas subterrâneas;

conservação e proteção dos mananciais superficiais de abastecimento urbano;

desenvolvimento racional da irrigação;

conservação de recursos hídricos na indústria;

prevenção e defesa contra inundações;

prevenção e defesa contra a erosão do solo e o assoreamento dos corpos de água;

desenvolvimento dos municípios afetados por reservatórios e leis de proteção de mananciais;

articulação interestadual e com a União;

participação do setor privado.

Quando o Projeto de Lei nº 676/00 for aprovado, as secretarias executivas e agências de bacias deve-
rão propor mecanismos e valores de cobrança pelo uso de recursos hídricos na sua área de atuação,
uma atribuição da Lei Federal nº 9.433/1997 (art. 38, inciso VI). No Conselho Estadual algumas funções
são reservadas a determinados membros permanentes. A presidência é reservada à Secretaria de
Recursos Hídricos e a vicepresidência à Secretaria de Meio Ambiente. Diferentemente, nos comitês de
bacias não existem funções reservadas com exclusividade para nenhum segmento. Apesar dessa li-
berdade que permite aos representantes dos três segmentos assumirem qualquer função, existe uma
tendência que se mantém na ampla maioria dos comitês. A presidência do comitê tem sido ocupada
por um representante dos municípios, ou seja, por um prefeito. A vice-presidência tem sido ocupada
por um representante da sociedade civil e a secretaria-executiva, por um representante do estado,
principalmente do DAEE.

Esse critério foi estabelecido como um modelo desde a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, o primeiro a ser instalado em São Paulo. A composição adotada
na eleição desse primeiro comitê procurou estabelecer equidade de espaços para a participação dos
três segmentos no colegiado de gestão. Os prefeitos representantes dos municípios que integram a
bacia indicaram o presidente do colegiado, demarcando o caráter descentralizador da política estadual
de recursos hídricos.

Aos representantes das entidades da sociedade civil coube a indicação do vice-presidente do colegi-
ado, sinalizando participação democrática e transparência nas ações. Já os representantes do poder
público estadual indicaram o secretário executivo do colegiado, por tratar-se da instância política e
administrativa detentora de mais informações e maior capacidade para a mobilização de recursos hu-
manos, materiais e financeiros. Conforme Neder (2002), não é pacífico esse critério de divisão de car-
gos entre segmentos, conhecido como o "critério PCJ". Mesmo assim, esse critério foi seguido pela
maioria dos outros comitês de bacias, embora a sua aplicação seja de caráter voluntário (p.191).

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 34
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

O critério PCJ e a composição dos colegiados de gestão dos comitês de bacias são alvos de diversos
questionamentos críticos. O critério PCJ seria uma manobra sutil dos representantes do estado. Con-
forme depoimento de um membro do Comitê do Alto Tietê concedido a Neder (2002), é uma preocu-
pação dos representantes do estado garantir politicamente os cargos para cada uma das três partes
com assento no colegiado, implicando riscos de se colocar as disputas por cargos acima das discus-
sões sobre políticas e estratégias de ação. Membros do Comitê do Alto Tietê entrevistados por Neder
(2002) revelaram preferir que houvesse a formação de chapas em vez de disputas individuais para
preenchimento dos cargos de presidente, vice e secretário.

Ainda quanto aos comitês de bacias, há diversos questionamentos no que diz respeito não somente à
sua composição, mas também em relação à eficiência e legitimidade. Quanto à composição, a principal
questão que se levanta diz respeito ao caráter tripartite. Os críticos consideram que estado e municípios
são, em essência, poder público governamental e que, assim, o setor público estaria super-represen-
tado em detrimento da sociedade civil, que estaria sub-representada. Esse argumento pode estar con-
dicionado por uma visão dicotômica do tipo nós e eles, que;

enxerga as relações entre os entes públicos (estado e poder local) como necessariamente harmônicas
e

as relações entre estes e a sociedade civil como antagônicas.

Por esse motivo o modelo adotado em Minas Gerais aparece como contraponto ao de São Paulo, na
visão dos críticos do modelo paulista. Em Minas Gerais, o sistema procurou contemplar a paridade
entre o poder público e a sociedade civil. Cada um desses dois segmentos detém 50% dos membros
representantes nos comitês. Por sua vez, o sistema paulista se fundamentou no entendimento de que:

os interesses dos três segmentos representados no colegiado não são necessariamente nem harmô-
nicos, nem conflitantes;

o poder estadual e o poder local nem sempre pensam as mesmas coisas sobre os problemas ambien-
tais, em especial sobre as questões relacionadas ao uso de recursos hídricos; e

o caráter tripartite abriria espaço para se apreciar um mesmo problema sob diferentes pontos de vista,
além de estimular uma discussão baseada em conflitos moderados, estimulando a construção de acor-
dos móveis e provisórios, estabelecendo processos criativos de negociações e composições e evitando
o maniqueísmo e a dicotomização política. Desse modo, a forma e a abrangência da atuação de cada
segmento representado no comitê foram considerados mais importantes do que seu caráter público ou
privado.

No estado de São Paulo, a busca de soluções para os conflitos internos nos comitês de bacias hidro-
gráficas está fundamentada numa estratégia de longo prazo. Essa estratégia apresenta resultados que
podem ser considerados positivos em vários aspectos, principalmente, por instituir um sistema regula-
dor multidimensional, envolvendo critérios de utilidade pública, de mercado, social e de sustentabilidade
ambiental. Embora limitações possam ser apontadas no funcionamento do sistema e na efetiva partici-
pação da sociedade civil, ele ampliou o escopo das decisões sobre recursos hídricos, ao adotar, com
pesos semelhantes, dimensões antes esquecidas ou subordinadas ao interesse econômico, quer do
Estado ou das grandes empresas de algum modo vinculadas ao setor energético.

Essa linha de pensamento está baseada no fato de que o estado detém uma visão macro dos proces-
sos relativos aos recursos hídricos; os municípios, uma visão circunscrita aos interesses locais e regi-
onais; e as entidades da sociedade civil, uma visão pulverizada e fragmentada, por vezes, represen-
tando interesses e necessidades específicos. De certo modo, o histórico da atuação dos comitês mostra
acerto nessa estratégia. Os representantes da sociedade civil agem a partir de acordos - ora com o
poder local, ora, e principalmente, com o poder estadual - , sem estabelecerem alinhamentos automá-
ticos. Um exemplo recente ocorreu na reunião de 10 de dezembro de 2003, do comitê do Piracicaba,

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 35
RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

realizada na cidade de Extrema (MG), quando as entidades da sociedade civil se juntaram aos municí-
pios para derrotar a proposta do estado de reter 25% dos recursos obtidos com a cobrança pelo uso
da água, para promover uma redistribuição entre as bacias com menor possibilidade de arrecadação.
Aliás, o resultado da votação nesse comitê, foi exceção à regra, uma vez que os demais comitês apro-
varam a proposta do estado, a qual, contudo, não deverá ser implementada por falta de consenso.

A eficiência dos comitês é questionada pelas pessoas de fora do sistema e pelas que se opõem a ele.
As críticas têm adotado um viés "produtivista", como se os comitês fossem empresas privadas. Geral-
mente, tomam como referência as bacias onde os problemas e os conflitos envolvendo o uso de recur-
sos hídricos são inexistentes ou de menor dimensão. Nessas bacias, não é raro que, com exceção das
reuniões que ocorrem em torno de uma pauta mais ampla, os encontros dos membros do comitê ad-
quiram um tom menos formal, encaminhando-se para um espaço de convivência social. Entretanto, é
preciso deixar claro que esse não é o clima que marca as reuniões dos comitês de bacias nas quais o
uso dos recursos hídricos está próximo da saturação e a sua degradação em estágio acelerado.

Nesses comitês - caso do Alto Tietê, Baixada Santista, Mogi e Piracicaba - , as controvérsias, as dis-
putas e os conflitos quase sempre elevam a temperatura das discussões, ultrapassando os polidos tons
político e diplomático. Seguramente, esse clima de discussão e conflito é a regra e não a exceção, na
maioria dos comitês de bacias de São Paulo. Como se sabe, para decisões tomadas por grupos com
autonomia não se pode esperar agilidade ou eficiência, como ocorreria nas empresas. Porém, as deci-
sões desses comitês costumam ser mais eficazes, por levaram em conta diferentes pontos de vistas e
por considerarem os interesses das diversas partes envolvidas. Nesse sentido, qualquer medida dos
comitês deve considerar esses aspectos, por serem inerentes ao processo de construção coletiva a
que se propõem.

Alguns críticos (também situados fora do sistema) vêem falta de legitimidade política nos colegiados,
porque seus membros não foram escolhidos em processo eleitoral. De fato, os colegiados que dirigem
os comitês podem assumir diferentes papéis, inclusive o de instância política decisória. Considerando
a experiência do Comitê do Alto Tietê, Neder (2002), identifica duas linhas centrais na atuação dos
comitês: uma, como instância de coordenação técnica, e outra, como colegiado máximo de decisão.
Nessa segunda linha de atuação, as decisões do colegiado são desdobradas para subcomitês que
devem implementá-las.

Por não terem capacidade "governativa", esses comitês têm que buscar a construção, ad hoc, de uma
base de representatividade entre os poderes Executivo e Legislativo. Especialmente entre os membros
do poder local, são constatadas certas resistências para aceitar a corresponsabilidade dos comitês e
subcomitês de bacias, uma vez que determinados dirigentes locais não reconhecem a sua legitimidade
e representatividade. Contudo, é conveniente lembrar que desde a década de 1930 até muito recente-
mente, as políticas de uso dos recursos hídricos eram definidas, fundamentalmente, pelo setor de ge-
ração de energia elétrica, com alguma participação do setor de saneamento básico, o qual também não
tinha legitimidade ou representatividade política.

Finalmente, a capacitação dos técnicos que atuam nos comitês e a falta de estrutura das entidades que
representam a sociedade civil são desafios importantes a serem enfrentados. A transferência de co-
nhecimentos vem sendo estimulada, mas isso é um processo lento, principalmente pela complexidade
envolvida na questão dos recursos hídricos, em face da amplitude de outros temas e interesses agre-
gados. Quanto às entidades civis, por vezes seus representantes não dispõem de condições mínimas
para acompanhar as discussões e as reuniões dos comitês. Além disso, verifica-se que algumas enti-
dades civis ainda não dispõem de estrutura física mínima apropriada e, não raramente, de recurso
financeiro para cobrir as despesas dos seus representantes.

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 36

Você também pode gostar