NEUROTEOLOGIA E

FENÔMENO RELIGIOSO
Érico João Hammes e Daniel D’Agnoluzzo

Espiritualidade não é um encontrar, mas é um

sempre buscar. É um sempre estar a caminho.

Rogerio Ferraz de Andrade

 Conheça
c o livro da disciplina
-
CONHEÇA SEUS PROFESSORES 3

Conheça os professores da disciplina.​

EMENTA DA DISCIPLINA 4

Veja a descrição da ementa da disciplina. ​

BIBLIOGRAFIA DA DISCIPLINA 5

Veja as referências principais de leitura da disciplina.​

O QUE COMPÕE O MAPA DA AULA? 6

Confira como funciona o mapa da aula.

MAPA DA AULA 7

Veja as principais ideias e ensinamentos vistos ao longo da aula.

RESUMO DA DISCIPLINA 31

Relembre os principais conceitos da disciplina.​

AVALIAÇÃO 32

Veja as informações sobre o teste da disciplina.​

2
 Conheça
c seus professores
-
ÉRICO JOÃO HAMMES
Professor Convidado

Possui graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul (1979) e em Filosofia pela
Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição
(1978). Realizou seu mestrado em Teologia Sistemática pela
Pontificia Università Gregoriana (1987) e seu doutorado na
mesma área e na mesma instituição (1995). Atualmente, é
professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase
em Cristologia, atuando principalmente nos seguintes temas:
Teologia e Ciências Naturais e Teologia Trinitária.

DANIEL D’AGNOLUZZO
Professor PUCRS

Possui graduação em Engenharia Química pela Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (2010) e dupla titulação em Teologia
e Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul e pela Pontificia Università Lateranense (2016). Atualmente,
é aluno de mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Desde 2016, atua como sacerdote
na Diocese de Caxias do Sul. Tem experiência na área da Teologia,
com ênfase em Teologia Sistemática.

3
 Ementa da Disciplina
Processos neurobiológicos e experiências subjetivas. Neurociências, crenças
e experiências religiosas ou espirituais. Bases neurológicas das experiências
espirituais ou místicas. Teologia e neurociências. Tecnociência, pós-humanismo e
transcendência. Neuroteologia e natureza da experiência religiosa.

4
 Bibliografia da Disciplina
Bibliografia básica

HAMMES, E. J. Transumanismo e pós-humanismo: uma aproximação ético-teológica.

Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 50, n. 3, p. 431-452, Set./Dez. 2018.

HAUGHT, J. F. Cristianismo e ciência: para uma teologia da natureza. São Paulo:

Paulinas, 2009.

MONTOYA, J. C. M. Neuroteología y la naturaleza de la experiencia religiosa.

Theologica Xaveriana, Bogotá, n. 187, Jan./Jun. 2019.

Bibliografia complementar

BARBOUR, I. G. Quando a ciência encontra a religião. São Paulo: Cultrix, 2004.

BRAKEMEIER, G. Ciência ou religião: quem vai conduzir a história? A urgência de um

novo pacto. São Leopoldo: Sinodal, 2006.

CRUZ, E. R. (Org.). Teologia e ciências naturais: teologia da criação, ciências e

tecnologia em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2011.

MOLTMANN, J. Ciência e sabedoria: um diálogo entre ciência natural e teologia. São

Paulo: Loyola, 2007.

PLANTINGA, A. Ciência, religião e naturalismo: onde está o conflito? São Paulo: Vida
Nova, 2018.

5
 O que compõe
o o

s
Mapa da Aula?
MAPA DA AULA
São os capítulos da aula, demarcam
momentos importantes da disciplina,
servindo como o norte para o seu FUNDAMENTOS
aprendizado.
Conteúdos essenciais sem os quais você
pode ter dificuldade em compreender a
matéria. Especialmente importante para
alunos de outras áreas, ou que precisam
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
relembrar assuntos e conceitos. Se você
estiver por dentro dos conceitos básicos
Questões objetivas que buscam
dessa disciplina, pode tranquilamente
reforçar pontos centrais da disciplina,
pular os fundamentos.
aproximando você do conteúdo de
forma prática e exercitando a reflexão
sobre os temas discutidos.​Na versão CURIOSIDADES
online, você pode clicar nas alternativas.
Fatos e informações que dizem
respeito a conteúdos da disciplina.
PALAVRAS-CHAVE
Conceituação de termos técnicos,
expressões, siglas e palavras específicas
do campo da disciplina citados durante DESTAQUES
a videoaula.
Frases dos professores que resumem
sua visão sobre um assunto ou situação.​
VÍDEOS
Assista novamente aos conteúdos
expostos pelos professores em vídeo.
Aqui você também poderá encontrar ENTRETENIMENTO
vídeos mencionados em sala de aula.
Inserções de conteúdos para tornar
a sua experiência mais agradável e
PERSONALIDADES significar o conhecimento da aula.​

Apresentação de figuras públicas

e profissionais de referência
mencionados pelo(a) professor(a).
CASE
Neste item, você relembra o case
analisado em aula pelo professor.​
LEITURAS INDICADAS
A jornada de aprendizagem não
termina ao fim de uma disciplina. Ela
segue até onde a sua curiosidade MOMENTO DINÂMICA
alcança. Aqui você encontra uma lista
de indicações de leitura. São artigos e Aqui você encontra a descrição detalhada
livros sobre temas abordados em aula.​ da dinâmica realizada pelo professor.

6
 Mapa da Aula
Os tempos marcam os principais momentos das videoaulas.
AULA 1 • PARTE 1
Introdução
O professor Érico Hammes explica, antes
de mais nada, como será organizada a
disciplina, além dos seus temas centrais.
As suas aulas fundamentalmente girarão
em torno das relações entre neurociência
e teologia: mais especificamente, será feita
uma tentativa de analisar o espiritual como
vinculado à condição concreta do humano
pensante.
Para introduzir este grande tema, nesta aula
o professor tratará sobre aspectos gerais do
ser humano, da espiritualidade e, por fim,
da neurociência. Na sequência, passaremos
ao exame de certos elementos científicos
relevantes do estudo da neurociência para,
então, começarmos a discussão do tema
central da disciplina.
O ser humano e a ideia da
duplicidade de si
Em sua auto-reflexão, o ser humano
eventualmente pode identificar em si mesmo
uma duplicidade; ou seja, entender que
é, por um lado, uma substância imaterial,
fundamentalmente pensante e, por outro,
uma substância composta de matéria.
01:07
O ser humano e a expectativa de
02:35
eternidade
Para iniciar sua exposição, o professor
pontua que não podemos esquecer que
o ser humano é o resultado de processo
de evolução, ao longo do qual ele foi se
diferenciando das outras formas de vida
ao desenvolver a capacidade de, além de
analisar racionalmente a realidade à sua
volta, realizar uma auto-reflexão.
Através de sua auto-reflexão, o ser humano
se envolve com uma série de profundas
reflexões sobre si (como, por exemplo,
“quem sou eu?”, “qual é, afinal, o sentido
da minha existência?”), a partir das quais
05:44 percebe, muitas vezes, certa expectativa de
eternidade.
A noção humana da duração da própria
existência é, como aponta o professor, um
aspecto relevante para o estudo da conexão
entre a neurociência e a espiritualidade,
e pode ser percebida pelos indivíduos de
diferentes formas; muitas vezes, vinculada
à ideia de que estamos lutando contra a
morte. Ao longo da história, esta ideia foi
debatida, rebatida e respondida de diversas
formas.
7
PERSONALIDADE
06:19
René Descartes

08:24 A visão bíblica do ser humano

O professor explica que, em certa camada

redacional deste contexto, o ser humano
Filósofo e matemático francês, é considerado
é visto como um mortal que, após viver e
por muitos o pai da Filosofia Moderna e da
fenecer, vai para a Mansão dos Mortos (o
Geometria Analítica.
Seol), onde, então, desaparece.
A ideia de que nós teríamos, por assim
Estão visão, no entanto, trazia
dizer, duas dimensões, remete à sua teoria
questionamentos para o próprio pensamento
filosófica, de acordo com a qual o ser
bíblico; principalmente pela consciência da
humano seria, em parte, uma res extensa (ou
relacionalidade do ser humano – ou seja, do
seja, uma substância que pode ser medida,
fato de que, embora seja, efetivamente, algo
pesada ou estendida) e, em parte, uma res
mortal, o ser humano é feito por, para (e, em
cogitans (ou seja, uma substância pensante).
alguns entendimentos, à imagem de) um ser
A condição humana essencial seria a sua
que, por outro lado, é divino e imortal.
capacidade de pensar; já a dimensão
material lhe conferiria realidade concreta. Posteriormente, surge a ideia que, depois
da morte, espera-se uma ressurreição; que,
A teoria cartesiana é importante por, entre
como nota o professor, passa a ser uma
outras coisas, sua tentativa de identificar
expectativa de futuro em certas correntes
a localização da substância pensante no
do judaísmo: no Antigo Testamento, há
cérebro (mais especificamente, em uma
um conflito entre os fariseus (aqueles que
determinada glândula). Em razão disso, ele
acreditam na ressurreição) e os saduceus
pode ser considerado como um precursor
(aqueles que negavam esta possibilidade).
de uma prática que podemos chamar de
Curiosamente, o professor pontua que eram
experimentação com o cérebro humano na
os saduceus os responsáveis pelo cuidado
tentativa de descobrir a sede dos nossos
do templo (dos cultos e sacrifícios ali
pensamentos.
realizados, por exemplo).

Espiritualidade não tem a 11:31

ver, imediatamente, com
ressurreição, vida eterna ou
duração; mas pode haver uma
espiritualidade sem isso – isto
é, pode haver sacrifício, culto,
adoração, etc. –, na medida
em que se entende a vida
como circunscrita ao tempo e
ao lugar.
13:38 Antropologia filosófica e teológica
Esse tipo de conflito de ideias aponta para
algo importante a respeito de como o ser
humano entende a si mesmo (bem como
das consequências que se seguem desta
concepção): ele pode se reconhecer como
um ser mortal, cuja existência é voltada para
individualidade e materialidade, para o aqui
e o agora, e se justifica, neste sentido, pela
auto-satisfação.

8

Nós vamos tentar fazer aquilo
que historicamente é tido
como problemático: ou seja,
analisar o espiritual como
vinculado à condição concreta
do humano pensante.
Introdução à neurociência
Considerando que a neurociência é um
estudo dedicado ao entendimento do órgão
associado intrinsecamente ao pensamento,
o professor a indica como uma base
interessante para que possamos analisar
em que medida a dimensão humana do
pensamento poderia nos aproximar da
espiritualidade.
Seja como for, antes de mais nada é
necessário compreender melhor em que
consiste esta ciência; e, para isto, o professor
se vale da sua definição de acordo com a
qual ela seria o estudo do sistema nervoso –
composto pelo cérebro, os nervos periféricos
e a medula espinhal – e suas funcionalidades,
como coordenar as atividades voluntárias
e involuntárias, além de analisar o
comportamento e as emoções humanas.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Considere a concepção de
espiritualidade apresentada em aula.
Sobre ela, é correto afirmar:
A espiritualidade restringe-se ao
que transcende a dimensão humana.
A espiritualidade está intimamente
atrelada à ideia de que o corpo seria
Resposta desta página: alternativa 3.
uma espécie de cárcere da alma.
A espiritualidade pode ser
entendida de maneira mais ampla,
contemplando também um modo
de ser e agir no mundo.
Esta maneira de compreender o ser humano
24:04 está relacionada a certas correntes da
antropologia filosófica e da antropologia
teológica: de acordo com a filosofia de
Aristóteles (384 a.C.-322 a.C), por exemplo,
o ser humano pode ser entendido como
um animal racional (ou seja, um animal
cuja diferença específica consiste na sua
racionalidade) e político (ou seja, um
25:08 animal racional que não vive isolado, mas
depende das relações sociais para a sua
sobrevivência).
Cabe notar ainda que, para Aristóteles,
este animal racional seria composto, por
assim dizer, de uma duplicidade – de
uma matéria e de uma forma, que seriam
interdependentes para a sua existência
concreta. Assim, podem ser entendidas
como formando uma unidade concreta.
Esta concepção diverge daquela defendida
anteriormente pelo seu mestre: para Platão
(427 a.C-347 a.C), o ser humano seria uma
espécie de espírito encarcerado pela sua
materialidade. Neste sentido, o ser humano
seria composto por dois tipos de substâncias
que interagem de forma precária.
Já em algumas correntes religiosas, o ser
humano é entendido como uma unidade
cujas duas dimensões (espiritual e corporal)
estariam em conflito.
Ainda do ponto de vista religioso, o
caráter social da definição aristotélica do
ser humano se reflete na ideia do amor ao
próximo; ideia esta que, negativamente, leva
ao preceito de não matar e, positivamente,
de praticar a alteridade (ou outridade).
Na Bíblia (já no Antigo Testamento, mas
de forma mais contundente no Novo
Testamento na tradição juidaico-cristã), essa
concepção toma uma força ainda maior, na
medida em que o ser humano é visto como a
imagem (ou presentificação) de Deus.
9
 AULA 1 • PARTE 2
O encéfalo
Com relação aos aspectos científicos mais
relevantes para a análise da questão central
da disciplina, o professor começa pela
caracterização do encéfalo: trata-se de uma
região do corpo formada pelo cérebro, o
cerebelo e o tronco encefálico que, junto
à medula espinhal e aos nervos, compõe o
sistema nervoso humano.
O cérebro é o seu órgão principal, e é,
por sua vez, composto de duas partes: o
telencéfalo (do qual pertence o cérebro
tal como o conhecemos, com seus dois
hemisférios, que é a parte mais relevante do
sistema nervoso) e o diencéfalo.
PALAVRA-CHAVE
Homeostase: habilidade de manter
o meio interno em equilíbrio,
independentemente das alterações
que ocorram no meio externo.
27:42
Os neurônios
São formados, basicamente, por um corpo
celular e seus prolongamentos, dendritos e
axônio. A condução do impulso nervoso se
dá sempre na direção do dendrito, depois do
corpo celular e, finalmente, do axônio.
O corpo humano possui diferentes tipos de
neurônios, cada qual com sua função:
• Neurônios motores: conduzem impulso
nervoso para órgãos efetores (ou seja,
aqueles que demandam movimento;
como as glândulas exócrinas e
endócrinas e as fibras musculares.
• Neurônios sensoriais: recebem estímulos
sensoriais (seja do ambiente externo ou
do próprio organismo).
• Interneurônios: estabelecem conexões
entre neurônios, formando circuitos
complexos de informação.
00:26
11:11 A importância do cérebro
A importância do cérebro pode ser
observada a partir de uma análise breve de
suas características e funções. Podemos
mencionar, como exemplo, o fato de que o
cérebro, com destreza, controla as atividades
do corpo, mantendo a homeostase; e que,
ademais, em sua incrível neuroplasticidade,
faz com que o ser humano esteja sempre
apto a aprender e torna possível até mesmo
que, em caso de lesão em uma parte do
córtex, outra comece a desenvolver a
atividade perdida, desde que estimulada.
11:30
A composição do cérebro e do
sistema nervoso central
• Algo comum a todos os órgãos que
compõem este sistema é a presença de
35:47 uma substância cinzenta (composta
pelos neurônios) e uma substância
branca (composta pelos axônios ou
fibras nervosas dos neurônios).
• O córtex é composto, em sua maior
parte, por substância cinzenta – razão
pela qual é conhecido popularmente
como “massa cinzenta”. É possível
entendê-lo como a “casca” do cérebro,
dentro da qual há o “miolo” – o centro
branco medular, onde estão localizados,
como seu nome indica, os axônios.
• O tecido nervoso é composto
fundamentalmente pelos neurônios
(responsáveis pela transmissão de
informações através das sinapses) e
vários tipos de células da glia (que, entre
outras funções, sustentam os neurônios).
10

Complemento sobre o conteúdo
anterior
O professor inicia esta parte da aula
complementando alguns pontos sobre o
conteúdo da parte anterior, explicando
que o cérebro pode ser dividido em dois
hemisférios (o esquerdo e o direito), que
estão ligados pelo corpo caloso (uma
estrutura constituída por fibras mielínicas),
que permite a troca de informações entre
eles.
Cada hemisfério possui um córtex motor,
que controla a motricidade voluntária.
Em sua exposição, o professor nota algo
interessante: o lado esquerdo controla
os movimentos do lado direto do corpo,
enquanto o lado direito controla os
movimentos do lado esquerdo.
Nós somos sempre uma
unidade; você não pode
decompor o ser humano em
pedaços. Nós temos uma
espécie de unidade profunda,
que é sempre maior que a
soma do número das partes.
Do ponto de vista da
convivência humana, deixar
uma pessoa passando
fome significa diminuir sua
capacidade mental; e isso é
grave – com isso, ela perde
sua condição humana.
Muitas vezes nós avaliamos
as outras pessoas por
comportamentos e modos
de ser que, na realidade,
não são questões de
vício ou virtude; mas são
problemas relacionados aos
neurotransmissores.
AULA 1 • PARTE 3
00:25
04:47 Alguns dados sobre o cérebro
A partir da leitura desta matéria, o professor
destaca alguns dados relevantes sobre o
cérebro.
Em primeiro lugar, o fato de que a ciência
já foi capaz de pôr abaixo certos dogmas
com relação à sua composição; como, por
exemplo, a quantidade de neurônios nele
contida: se até alguns anos se acreditava
que o nosso cérebro possuía cem bilhões de
neurônios, hoje já se sabe que ele contém
cerca de 86 bilhões de neurônios – número
este que foi aumentando, até alcançar esta
marca, durante a evolução.
08:43 De qualquer modo, o texto da matéria
pontua – e o professor reforça o destaque
– que a ciência atualmente concebe o
cérebro como algo que vai além de um mero
amontoado de neurônios. Mais importante
que a quantidade de neurônios são as
conexões que eles mantêm entre si.
Outro ponto interessante sobre o cérebro é o
fato de que, embora pese aproximadamente
1,5 kg (que é um peso bastante pequeno,
20:00 considerando a totalidade de um ser
humano), ele consome cerca de 25% de
energia do corpo. Sendo assim, uma nutrição
alimentar adequada é fundamental para que
possamos usar, da melhor forma possível,
nossas capacidades mentais.
26:05 Os neurotransmissores
Consistem no meio através do qual os
neurônios se comunicam entre si e com os
33:37 tecidos sobre os quais atuam.
Como explica o professor, a célula pré-
sinaptica contém enzimas capazes de
sintetizar substância que compõe um
neurotransmissor, que é liberada por
impulsos nervosos e recebida por receptores
específicos na membrana pós-sináptica.
11

Sobre os hormônios
Com relação aos hormônios, o professor
tece algumas notas sobre a oxitocina,
conhecida popularmente como o hormônio
da afetividade. Do ponto de vista da
espiritualidade, este hormônio é muitas
vezes tido como uma espécie de princípio da
ética ou da moralidade.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Assinale a alternativa incorreta sobre
o cérebro humano:
Trata-se do principal órgão do
sistema nervoso e é composto
por duas partes: o diencéfalo e o
telencéfalo.
Atualmente, é entendido pela
ciência como um amontoado de
neurônios, cujo número pode ser
considerado como mais relevante
que as conexões que eles mantêm
entre si.
Com relação aos seus aspectos mais
fascinantes e relevantes, podemos
mencionar sua capacidade de
manter a homeostase entre as
diferentes atividades do corpo.
AULA 1 • PARTE 4
A tecnologia de imagens
Para concluir os apontamentos relevantes
Resposta desta página: alternativa 2.
sobre a neurociência, o professor trata da
tecnologia dos exames de imagem, que
proporcionaram à ciência um conhecimento
mais rico do cérebro humano.
• Eletroencefalograma (EEG): exame do
registro da atividade elétrica cerebral
para o diagnóstico de eventuais
anormalidades nessa atividade.
À título de exemplo, o professor menciona
36:22 quatro tipos de neurotransmissores, bastante
conhecidos:
• Acetilcolina: ampliamente distribuída
por todo o sistema nervoso. É o
neurotransmissor de todos os gânglios
autônomos.
• Dopamina: pode ser considerado como
o neurotransmissor da motivação;
além de regular o chamado sistema
de recompensa cerebral, regula
também o sono, o humor, a atenção e a
aprendizagem, por exemplo.
• Noradenalina: um dos principais
neurotransmissores do sistema
nervoso, a noradrenalina provém da
metabolização da dopamina. É uma
das monoaminas que mais influenciam
o humor, a ansiedade, o sono e a
alimentação.
• Serotonina: poucos neurônios são
capazes de produzi-la. A diminuição
deste neurotransmissor no sistema
nervoso central está associada a
transtornos psicológicos, como a
depressão e a ansiedade. Pode ser
chamado de “neurotransmissor da
motivação”.
00:25
CURIOSIDADE
01:52
Damásio e o erro de Descartes
O neurologista Antônio Damásio lançou, em
1994, uma obra bastante conhecida chamada
O Erro de Descartes, na qual, como o título
indica, o autor aponta o que ele acredita
ser um erro da teoria cartesiana: entender
o corpo e a mente como essencialmente
distintos.
12
• Imagem por Ressonância Magnética
(MRI): método de diagnóstico não-
invasivo mais sensível para avaliar partes
moles (particularmente, o encéfalo).
• Imagem por Ressonância magnética
Funcional (fMRI): técnica que detecta
alterações metabólicas que ocorrem
quando o cérebro está ativo.
• Tomografia por emissão de pósitrons
(PET-Scan): método usado para mapear
a distribuição de radiofármacos no corpo
para a realização de diagnósticos (como
a detecção de um câncer, por exemplo).
Reação de identificação
A partir deste exame, foi possível detectar
uma diferença na atividade cerebral de um
indivíduo ao contemplar, em um primeiro
momento, uma fotografia contendo um
rosto humano e, em seguida, uma fotografia
contendo uma casa. Isso pode sugerir,
como nota o professor, uma reação de
identificação ao observar um ser semelhante.
Do ponto de vista da espiritualidade, o
professor diz que seria de se esperar que
quanto mais se incentivar a socialização dos
indivíduos desde a infância, mais adequada
será a sua capacidade de socialização e de
ter empatia com relação aos demais na idade
adulta (descontando-se casos patológicos;
como indivíduos asociais).
Damasio coloca em questão certos
dualismos tradicionais (como entre a razão e
a emoção), oferecendo uma visão integrada
do corpo e da mente que compõem o ser
humano.
06:47 PET-Scan
Com relação a esses métodos, o professor
foca sua exposição no PET-Scan, mostrando,
através de imagens, como ele proporciona
informações interessantes sobre o cérebro e
reações nele observáveis em determinadas
situações.
07:46
CURIOSIDADE
11:38
Neurônio-espelho
Neurônio considerado como base das
habilidades sociais dos primatas na medida
em que entra em ação ao se observar (ou
tentar reproduzir) o comportamento de
outros seres da mesma espécie..
18:02 Reações ao meditar
Através de um PET-Scan, é possível observar
também diferenças na atividade cerebral
de um indivíduo quando está em uma
situação qualquer e quando está praticando
a meditação (ou contemplar um pensamento
com muita concentração).
Uma primeira diferença observável diz
respeito à área do cérebro responsável pela
orientação: quando estamos realizando
uma atividade corriqueira, nosso sentido de
orientação está presente; ao meditarmos,
por outro lado, esse sentido deixa de ser
ativado, por assim dizer.
13
 Com relação à atenção, a lógica é contrária:
Reações aos vícios 24:16 a área do cérebro responsável por ela
encontra-se mais irrigada ao meditarmos do
Por fim, o professor mostra como exames que normalmente estaria.
de PET-Scan permitem identificar diferenças
na atividade cerebral de indivíduos que
possuem algum distúrbio relacionado ao
vício (como o vício em álcool ou drogas,
como o cigarro e a cocaína) e de indivíduos
que não possuem.

25:50 Esse é um dado importante

que a gente sempre tem que
levar em conta quando lidamos
com seres humanos: os seres
humanos não são cópias uns
dos outros. Cada ser humano é
um universo por si mesmo.

Essas diferenças podem indicar, por exemplo,

as áreas do cérebro que são irrigadas pelo 34:14 Assim como o cérebro é
consumo excessivo de álcool e fazem com importante para a educação,
que seja, muitas vezes, sumamente difícil de ele também possui sua
abandonar o vício. importância na formação da
espiritualidade.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
O que as imagens registradas através
Respostas desta página: respectivamente, alternativa 2 e alternativa 1.

do PET-Scan podem nos dizer do EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

ponto de vista da espiritualidade?
Com relação à oxitocina, assinale a
Que é possível visualizar uma área alternativa correta:
específica do cérebro relacionada
às experiências místicas de modo
Trata-se de um hormônio que, do
geral, embora ainda não se tenha
ponto de vista da espiritualidade,
muito conhecimento sobre ela.
por vezes é entendido como um
princípio da ética.
Que atividades como a oração,
meditação ou contemplação
Trata-se de um neurotransmissor
podem produzir efeitos em áreas
que pode ser considerado como
do cérebro relacionadas à nossa
atenção. regulador da nossa motivação.

Apesar de produzir uma sensação Trata-se de uma substância que,

de bem-estar, atividades embora seja conhecida como “o
relacionadas à espiritualidade não hormônio da afetividade”, de
promovem nenhum tipo de efeito acordo com a ciência nada teria a
visível nas diferentes regiões do ver com a promoção deste tipo de
cérebro. sentimento.

14

Introdução
Depois de realizar um percurso por questões
relevantes da neurociência para pensarmos
sobre o ser humano e alguns de seus
comportamentos, ao longo desta aula o
professora buscará expor, de maneira mais
estreita, a relação entre esses aspectos
científicos e a espiritualidade, a religião e a
teologia.
VÍDEO
Introdução ao estudo da rela-
ção entre a neurociência e a
espiritualidade
Fala do Prof. Dr. André Palmini,
neurologista e pesquisador do Instituto
do Cérebro do RS (InsCer) e chefe do
departamento de neurologia do Hospital
São Lucas da PUCRS (HSL), na qual
ele fala sobre como a espiritualidade,
manifestada através da oração, pode
ativar áreas do cérebro humano
relacionadas ao bem-estar.
CURIOSIDADE
Zero-parenting
Sob o comando do ditador Nicolae
Ceausescu, a Romênia passou a registrar
um número muitíssimo elevado de crianças
abandonadas em abrigos estatais.
AULA 2 • PARTE 1
02:12
02:27 Algumas distinções conceituais
Antes de mais nada, com relação a estes
últimos termos, o professor apresenta
algumas caracterizações distintivas:
• Religião: geralmente se trata de um
sistema organizado de pensamento, com
10:30 conceitos e tradições próprios.
• Religiosidade: corresponde à condição
humana de, de conectar-se, de
alguma forma (não necessariamente
estruturada), com a dimensão religiosa.
• Espiritualidade: refere-se à relação
que um indivíduo estabelece com o
mundo exterior e com as outras pessoas.
Mantém uma afinidade com a ética, a
estética e atividades contemplativas.
• Ciências da religião (teologia): estudo
sistemático e rigoroso dos fenômenos
religiosos.
Perspectivas neurocientíficas da
16:53
espiritualidade e valores sociais
O professor, tomando como base o
painel Perspectivas neurocientíficas da
espiritualidade e valores sociais ministrado
por Jaderson Costa da Costa e André
Palmini (disponível neste link), reforça
alguns pontos já abordados na aula anterior
23:34 e outros ainda não explorados sobre a
relação entre aspectos neurocientíficos e a
espiritualidade; tendo em mente agora, em
particular, certos valores sociais.
Com relação à aprendizagem:
• Durante o período gestacional, cerca
de 86 bilhões de peças, por assim dizer,
são comandadas pelos genes para os
primeiros passos da formação do ser
humano. Isso já evidencia, como pontua
o professor, a singularidade de cada
indivíduo.
15
Isto ocorreu em decorrência de uma série de
medidas severas de incentivo à natalidade
no país (como decretos que restringiam o
aborto e o acesso a métodos contraceptivos,
além da imposição de um imposto adicional
aos casais que não tivessem filhos).
Nesses abrigos, as crianças recebiam, no
máximo, cuidados no nível da necessidade
(alimentação, aquecimento e higiene básica).
Este cenário proporcionou aos cientistas as
bases para a formulação de um experimento
social conhecido como “zero-parenting”:
após análises minuciosas do funcionamento
do cérebro de muitas crianças
institucionalizadas, foram constatados
inúmeros danos, causados pela privação
de diversas experiências fundamentais
(sensoriais e emocionais, por exemplo),
especialmente durante os primeiros anos
de vida; muitos apresentavam baixos QIs e
problemas para relacionar-se com outras
pessoas, mesmo durante a vida adulta.
AULA 2 • PARTE 2
Duas abordagens neuroteológicas
O professor inicia a segunda parte da aula
fazendo a leitura de dois textos, com o
objetivo de ilustrar formas de abordar o
05:12
envolvimento de diferentes áreas cerebrais
durante uma experiência religiosa.
(1) O primeiro deles, escrito por José
Aparecido da Silva, professor visitante da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
e publicado na Tribuna de Minas, parte da
ideia de que a religião, por um lado, teria
se mostrado um importante elemento ao
longo da evolução das sociedades humanas,
contribuindo para o estreitamento dos
laços e da organização de certas ordens
sociais; por outro, muitas vezes é usada,
por determinados indivíduos e grupos, para
justificar atos de violência.
• Desde seus primeiros meses de vida, o
ser humano está apto para apreender
(seja de modo adequado ou insuficiente,
em contextos menos favoráveis)
elementos do mundo exterior, em razão
da incrível plasticidade do seu cérebro.
Nesse sentido, o professor enfatiza a
importância não só de uma educação
tradicional (relacionada a conhecimentos
escolares básicos), mas de educação
social (assim como de relações
interpessoais ricas em diversidade)
durante a infância, para que o indivíduo
possa desenvolver habilidades e práticas
sociais e éticas adequadas.
• A dopamina, neurotransmissor que, de
certa forma, pode ser entendido como
“regulador da felicidade”, também
está relacionado ao afeto dedicado aos
outros – neste sentido, sentimos efeitos
reforçados de bem-estar ao realizarmos
ações de caridade.
00:25
CURIOSIDADE
A molécula da moralidade
Paul Zak, Economista e diretor do Centro
de Neuroeconomia da Universidade
Claremont, é autor do livro A Molécula
da Moralidade, no qual defende a ideia
de que a oxitocina pode ser considerada
como a molécula da moralidade, na medida
em que essa substância seria uma das
principais responsáveis por comportamentos
considerados como moralmente aprováveis.
Neste sentido, a oxitocina teria uma
influência nos relacionamentos pessoais, na
sociedade como um todo, na nossa relação
com a religião e com a economia.
16
A procura por respostas científicas, partindo
das investigações da neurociência, torna-se,
nesse sentido, bastante interessante para
compreender a relação entre o cérebro
humano e a experiência religiosa.
Seja como for, Silva nota que, ao longo de
estudos realizados nos últimos dez anos,
embora os pesquisadores tenham percebido
o envolvimento e a ativação de várias partes
cerebrais durante experiências místicas, não
parece haver um correlato neural específico
para religiosidade (ou uma espécie de
“molécula de Deus”).
(2) No artigo Neuroteologia: efeitos da
experiência religiosa no cérebro, de Angela
Fernandes de Carvalho e Mozart Pereira
da Silva Neto, os autores, entre outras
coisas, destacam os efeitos em imagens
apresentadas pelo cérebro do indivíduo
que entra em contato com a experiência
religiosa.
Ciência, religião e a relacionalidade
humana a partir de Osorio
A partir do artigo de Vicente Valenzuela
Osorio, professor e pesquisador na
Universidad Santo Tomás, intitulado Teología
y neurociencias: una articulación para otra
comprensión de la especificidad interna de
la teología, o professor explora a ideia de
que devemos respeitar a especificidade e a
linguagem próprias tanto da ciência quanto
da teologia ao tentarmos estabelecer uma
articulação entre elas; isto evitaria, por
exemplo, transposições inadequadas de
metáforas e elementos próprios do discurso
religioso para a linguagem científica ou a
justaposição de visões de mundo distintas.
Com relação ao contexto da antropologia
bíblica, Osorio nota que a concretude
do ser-aí (ou da existência, experiência,
sensibilidade e relacionalidade humana)
foi tida como manifestando-se na carne
(basar), que realiza a presença de Deus no
mundo. Em razão disso, a carne emergiria
como fonte da experiência de Deus e,
consequentemente, como fonte primeira e
constitutiva da teologia.
Diferentes relações entre ciência
09:48
e religião
Antes de partirmos para uma análise mais
profunda sobre como a neurociência pode
contribuir para a compreensão de temas
relacionados à espiritualidade, o professor
apresenta uma distinção entre diferentes
tipos de relação que podem ser mantidas
entre a ciência e a religião:
• Relação de paralelismo: é possível
entender a ciência e a religião como duas
coisas distintas, que não se relacionam
nem se anulam; como o cientista que,
ao término do seu expediente, frequenta
algum tipo de centro religioso, sem
nunca misturar os dois âmbitos de sua
vida.
• Relação de antagonismo: é possível
entender que a ciência e a religião são
conflitantes, como se uma fosse uma
negação da outra.
17:40
• Relação de complementaridade:
é possível entender que a religião
e a ciência, de algum modo, se
complementam – como é o caso de
cientistas que assumem ou aceitam
certos elementos religiosos.
• Relação de aprendizagem mútua: é
possível que cientistas abram espaço
no cotidiano da sua pesquisa para a
dimensão religiosa, entendendo-a como
uma área capaz de enriquecer seu
conhecimento.
PALAVRAS-CHAVE
32:07
Ser-aí: Tradução do original “dasein”,
termo criado (e muito utilizado) pelo
filósofo alemão Martin Heidegger
(1889-1976), ao redor do qual gira
sua renomada obra Ser e Tempo
(1927). Refere-se, grosso modo, ao
ser humano existente, que está aí
concretamente, envolto nas mais
diversas situações e reflexões
cotidianas.
Solipsismo: forma radical de
subjetivismo de acordo com a qual
o eu e suas sensações constituem a
única realidade.
17
Esta carne, segundo o autor, está sempre
fazendo dos elementos do mundo ao seu
redor uma experiência vital. Neste sentido,
o cérebro humano emerge pela necessidade
de pôr-se em movimento, e é constituído
por uma plasticidade criativa que é
constantemente transformada por diferentes
conexões.
AULA 2 • PARTE 3
O corpo, a alma e o que nos torna
humanos
O professor se baseia nas obras Atem des
Lebens: Die moderne Neurologie und die
Frage nach Gott – Band 2: Die Seele (Sopro
de vida: a neurologia moderna e a questão
de Deus – Volume 2: a alma, em tradução
livre), de Eugen Drewermann, para abordar
algumas questões sobre a alma.
Um primeiro ponto relevante para a
discussão central da disciplina é a relação
entre a alma e a expectativa de eternidade:
a ideia da morte pode não trazer grandes
angústias para um indivíduo que se identifica
fundamentalmente com a sua alma e a
entende como imortal; assim como Sócrates,
como menciona Drewermann.
Além disso, há um conceito que o professor
considera como chave, não só para a
obra de Drewermann, mas também para
discussões como aquela que está no centro
da disciplina: o conceito de pessoa. Neste
sentido, o professor enfatiza a importância
das relações (em especial as interpessoais)
para a formação de cada pessoa.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
A concepção ampla de uma relação
que um ser humano estabelece
com o mundo exterior a partir,
por exemplo, da ética, da estética
e de atividades contemplativas,
corresponde à:
Religiosidade.
Religião.
Espiritualidade.
00:25
06:13 A personalização acontece na
relacionalidade também.
Corpos e almas ou corpos
12:18
espiritualizados?
O professor menciona o livro Bodies and
Souls, or Spirited Bodies? (Corpos e almas ou
corpos espiritualizados?, em tradução livre),
de Nancey Murphy, no qual a autora aborda
a discussão científica, filosófica e teológica
a respeito de se os seres humanos possuem
algo de imaterial (uma mente ou um espírito
que transcendem a materialidade) ou não.
Resposta desta página: alternativa 3.
Na obra, Murphy argumenta que não há
dados científicos que provem, efetivamente,
a existência de uma mente (ou de uma
alma) imaterial; tampouco uma prova para
a impossibilidade de que exista algo do
tipo. Seja como for, a autora argumenta em
favor da ideia de que os seres humanos não
seriam híbridos de matéria e outro tipo de
substância – seriam organismos puramente
físicos.
18
 De modo geral, o professor afirma que a
concepção de que nós somos compostos
de um corpo e uma alma só faz sentido
na medida em que se propõe a exprimir a
condição concreta do ser-aí, que não seria
redutível à sua dimensão carnal – seria
também algo mais. Neste cenário, deve haver,
então, uma realidade para além do âmbito
material que possibilite a transcendência; e
isso seria assim, como pontua o professor,
mesmo no caso de entedermos “alma” em
sua concepção no grego original – “psyché”
–, que corresponde ao princípio da vida, ou
seja, aquilo que torna um corpo inanimado
em algo animado. Por essa razão, não basta
definirmos “pessoa” como um composto de
corpo e alma.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Com relação ao modo como Vicente
Valenzuela Osorio apresenta o
conceito de carne no artigo Teología
y neurociencias, assinale a alternativa
falsa:
Pode ser entendido como a
concretude do “ser-aí”.
Seria o modo de realização da
presença de Deus no mundo.
Seria uma fonte secundária da
teologia.
Resposta desta página: alternativa 3.
Liberdade da vontade
O professor inicia a última parte da aula
apresentando uma reflexão sobre o quão
livre seria, realmente, a vontade humana a
partir das perspectivas das neurociências e
da teologia.
Neurocientificamente falando, ele nota o
caráter condicionado da nossa liberdade;
seja por entraves gerados externa ou
internamente.
Isso não quer dizer, no entanto, que as
capacidades humanas sejam reduzidas a
processos neuronais – nós somos capazes
de nos conectarmos, de algum modo, à
dimensão sobrenatural, embora este tipo
de capacidade não possa ser mensurável
fisicamente.
Os conceitos de emergência e
25:02
aliança
O professor aborda o conceito de
emergência – mais precisamente, a ideia de
que, da condição carnal humana, emerge
a espiritualidade. Esta concepção se opõe
à ideia de que, em determinado momento,
Deus teria inserido uma alma em um ser que,
a partir de então, teria se tornado humano.
Este conceito está relacionado a outro,
cunhado pelo próprio professor – a ideia
da aliança que possibilita a personificação:
nós seríamos a outridade do divino; por ele
ter buscado a nós, tornamo-nos aquilo que
somos.
Para explicar melhor esta tese, o professor
faz uma analogia: assim como é preciso
que sejamos reconhecidos como pessoas
mediante o sistema jurídico para recebermos
proteção do Estado (e não sermos, portanto,
considerados como coisas), seria preciso
que Deus estabeleça uma relação conosco
para a nossa personalização.
AULA 2 • PARTE 4
00:25
01:17 A nossa liberdade humana é
hipercondicionada.
19
Se pensarmos novamente no caso de
uma criança que é, desde seus primeiros
momentos de vida, abandonada em um
abrigo sem receber cuidados para além do
nível da necessidade básica, observaremos
que, muito provavelmente, ela não
desenvolverá adequadamente uma série de
habilidades pessoais e sociais, de modo será
consideravelmente restrita em sua liberdade.
Dentro das condições do espaço no qual se
dá a nossa liberdade, podemos buscar, com
maior ou menor autonomia, por experiências
religiosas.
Considerando esse condicionamento, o
professor defende que aceitar a si mesmo,
a sua própria história, seria um ato de
liberdade básico, sem o qual estaríamos
restringindo a nós mesmos; o ato de
liberdade derradeiro, por sua vez, estaria
relacionado à aceitação da própria morte.
A espiritualidade é esse
desabrochar, esse abrir; esse
nascer de sólida luminosidade.
Nós temos esse conceito
de espiritualidade: rezar
o terço, fazer via sacra… e
esquecemos a primeira coisa:
o conceito fundamental
de espiritualidade é a vida
segundo o espírito. Por isso,
temos uma espiritualidade que
é pífia.
LEITURAS INDICADAS
O professor indica, neste momento, obras
que podem contribuir para os estudos da
questão central da disciplina; na sequência,
tece algumas notas sobre elas:
03:13 Dizer “eu aceito a mim mesmo,
a minha história, o meu
passado e o meu presente” –
isso é o meu ato de liberdade
fundamental do ponto de vista
existencial.
05:09 Os componentes da espiritualidade
O professor aponta que, de modo geral,
quando se estuda a relação entre a
neurociência e a espiritualidade, assume-se
como componentes desta última a oração,
a meditação, a contemplação e a dimensão
mística; contudo, ele a abordará de forma
mais ampla.
Antes de mais nada, ele nota que o termo
“espiritualidade” passou a se tornar comum
somente no século passado, a partir da
08:22 publicação do Dicionário da Espiritualidade,
de Ermanno Ancilli. O seu uso provém do
Novo Testamento (em particular, de Paulo),
a partir da ideia de uma vida segundo o
Espírito.
16:21
Esta compreensão básica da espiritualidade
abarcaria, para além de uma dimensão
mística, como as práticas de culto e
oração, um modo de ser e atuar no
mundo; através de ações virtuosas
(promovendo, especialmente, a caridade)
e da demonstração de sentimentos como a
empatia, por exemplo.
A capacidade de atuar no mundo de modo
condizente com o Espírito, porém, tem
20:56 suas bases neurológicas. Nesse sentido,
o professor mais uma vez reforça a
importância de se incentivar, desde muito
cedo, a viver um cotidiano pautado por
este tipo de ação e demonstração; assim,
cria-se o hábito da prontidão – ou seja, de
agir prontamente de modo moralmente
adequado.
20
(1) O primeiro deles (O Cérebro Espiritual,
de Mario Beauregard e Denyse O’leary),
embora seja, nas palavras do professor,
um tanto ambíguo, além de poder ser um
bom ponto de partida traz ainda algumas
seções interessantes: na décima, os autores
questionam se teria sido o cérebro humano
que inventou Deus ou se Deus haveria
criado o cérebro humano. Nesse sentido,
eles argumentam que o cérebro seria um
mediador, e não produtor, de experiências
religiosas.
Ainda nesta obra, cabe destacar que
os autores defendem uma visão não-
materialista da mente.
(2) A segunda obra (A Religião do Cérebro,
de Raul Martino Junior), considerada pelo
professor como mais acurada tecnicamente,
ainda que seja um tanto apologética.
Com relação a este livro, o professor destaca
a tese ali defendida de que não devemos
aceitar a ideia de que a ciência termina
onde a espiritualidade começa: pensar
teologicamente seria, segundo o autor,
deixar-se fazer parte do plano de Deus
através do uso da razão.
CURIOSIDADE
O capacete de Deus
O pesquisador Michael Persinger
desenvolveu o chamado “Capacete de
Deus”, que estimularia, através de campos
magnéticos de baixa intensidade e com
padrões específicos, o lobo temporal do
cérebro. Como resultado, 80% dos indivíduos
que testaram o capacete relataram uma
sensação de estarem acompanhados naquele
momento, embora estivessem sozinhos
na sala durante os testes. De acordo com
Persinger, esta sensação seria tal como a
experiência religiosa.
25:27 Referências da neuroteologia
Uma das primeiras ocorrências do termo
“neuroteologia” aparece, curiosamente,
em um livro de ficção do renomado autor
britânico Aldous Huxley A Ilha (1962), na
qual somos apresentados a uma ilha fictícia,
cuja sociedade persegue serenamente a
felicidade. Neste contexto, a palavra aparece
ainda sem seu significado estrito, mas
apenas como o nome de uma ciência listada
entre tantas outras em certo diálogo.
Cientificamente, o termo é utilizado pela
primeira vez por James B. Ashbrook no seu
artigo Neurotheology: The working brain
and the work of theology (Neuroteologia: o
cérebro em ação e o trabalho da teologia, em
tradução livre) (1984).
Com relação às suas ocorrências mais
modernas, o professor menciona, por
exemplo, o livro Principles of Neurotheology
(Princípios de Neuroteologia, em tradução
livre) (2010), de Andrew Newberg.
26:28
VÍDEO
00:00
A pesquisadora e psicóloga clínica
Lisa Miller fala sobre os benefícios
da espiritualidade para enfrentar
sofrimentos psíquicos, como a
depressão.
21

Introdução
O professor inicia sua exposição explicando
o tema central da aula: as diferentes
perspectivas do estabelecimento de um
diálogo, pouco comum no nosso continente,
entre a teologia e a física quântica.
Quando se lê de forma
adequada [textos sagrados],
percebe-se que não existe
uma discrepância entre aquilo
que a ciência empírica narra
e aquilo que a fé de muitas
igrejas tradicionais postulam.
Algumas notas sobre a física clássica
O professor começa seu panorama sobre
alguns aspectos relevantes da física clássica
pelo princípio do desenvolvimento da Teoria
Atômica no século XVIII, que teria aberto
as portas para o determinismo mecanicista,
que defendia a ideia de que as leis físicas
condicionariam o comportamento das
partículas que compõem tudo o que há
no universo; de sorte que seria possível
entender e prever todos os acontecimento
ao se analisar as forças físicas que formam a
cadeia causal de cada um.
Esta concepção, como pontua o professor,
traz algumas consequências problemáticas;
como a impossibilidade de termos,
realmente, um livre arbítrio.
Ainda que se acredite muitas vezes que o
determinismo mecanicista tenha tido origem
nas investigações de Newton, o professor
faz uma ressalva: o estabelecimento das
suas leis não exclui a possibilidade de que
pudesse haver alguma interferência externa;
como alguma ação de Deus no mundo.
AULA 3 • PARTE 1
00:25
Possíveis relações entre as ciências
05:37
e a religião
Há quatro tipos de relação que podem ser
estabelecidas entre estes estudos conforme
a classificação de Ian Barbour, considerado
16:21 um dos grandes pesquisadores sobre temas
relacionados à conexão entre as ciências e a
fé:
(1) Relação de conflito: relação
geralmente marcada por reducionismos
epistemológicos. Com relação à religião,
pode ter a ver com um literalismo bíblico –
ou seja, a postura de aceitar somente o que
está escrito nas sagradas escrituras; já com
relação às ciências, pode ter a ver com um
27:46 forte materialismo – ou seja, aceitar somente
o que é mensurável de alguma forma.
Em cada um dos casos, o reducionismo
leva o indivíduo a aceitar apenas uma das
dimensões, negando a outra.
À título de ilustração, o professor comenta
alguns casos clássicos, como a condenação
de Galileu Galilei pela Inquisição em razão
de sua defesa do heliocentrismo.
É de se destacar que, muitos séculos mais
tarde, em discurso feito ao final de 1992, o
papa João Paulo II reconhece publicamente
os erros cometidos pelo tribunal que julgou
Galileu, além de exortar uma postura de
mútua contribuição entre a religião e as
ciências.
Na sequência, o professor pontua ainda que,
ao longo dos séculos, parte dos religiosos
passou a adotar uma outra visão sobre as
escrituras sagradas, que não a assumia como
literal, respeitando a intenção do seu gênero
literário original.
22
 Com isso, podemos notar que o
estudos da física clássica não implicam,
necessariamente, a aceitação de um
determinismo.
Seja como for, a partir das investigações de
Pierre Laplace, inaugurou-se o pensamento
de acordo com a qual a ciência deve ser
entendida como um sistema fechado, que
não admite a aceitação de interferências
externas no mundo.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Assinale a alternativa que relaciona
corretamente um caso a certo tipo
de relação entre ciência e religião:
O caso de Galileu Galilei e a
Inquisição - relação de diálogo.
O caso da tese de Karl Barth sobre
a teologia natural – relação de
integração.
O caso da defesa do tratamento do
princípio antrópico por teólogos
naturais – relação de conflito.
AULA 3 • PARTE 2
Resposta desta página: alternativa 2.
Introdução à teoria quântica
Inaugurada em 1900 por Max Plank, a
Teoria Quântica recebe este nome a partir
do conceito de “quantum”, que se refere
04:16
à compreensão de emissão e absorção
eletromagnética por átomo (ou seja, nas
palavras do professor, de um pacote de
energia que não pode ser dividido).
(2) Relação de independência: ideia de
acordo com a qual, na verdade, não haveria
relação entre a ciência e a religião – cada
qual possui sua linguagem e métodos
próprios, não dialogando em nenhum
sentido.
Trata-se de uma tese defendida por alguns
teólogos, como Karl Barth (1886-1968), que
rejeitava a ideia de uma teologia natural
(que defendia a possibilidade de conhecer
a Deus através da natureza da realidade
criada e do uso da razão), destacando a
importância da revelação.
(3) Relação de diálogo: tipo de relação que
geralmente é estabelecida ao se assumir
certos pressupostos; como a ideia de que,
por um lado, as ciências não seriam tão
objetivas e, por outro, as religiões não seriam
tão subjetivas.
Com relação a certa objetividade da religião,
o professor destaca certas ocorrências
concretas (de milagres, por exemplo) que
não podem ser explicadas pelas ciências
empíricas.
(4) Relação de integração: ideia de que
as ciências empíricas e a religião não só
poderiam dialogar, como também poderiam
caminhar juntas, contribuindo mutuamente.
Esta ideia está presente na defesa de uma
teologia natural, por exemplo, e do princípio,
defendido por alguns cientistas, antrópico,
segundo o qual, grosso modo, a série de
elementos que tiveram de estar presentes
para possibilitar a vida inteligente no
universo apontam para uma sintonia entre o
cosmos e os seres humanos.
00:25
O experimento das duas fendas
Neste experimento, componentes micro-
atômicos são lançados na direção de uma
primeira barreira, onde foram abertas duas
fendas verticais.
23
O professor ilustra a complexidade deste
estudo a partir de citações de grandes
pesquisadores da área, como Niels Bohr
(1885-1962) que, em certa oportunidade,
afirmou que “se você não fica confuso com a
Física Quântica, então a verdade é que não
entendeu nada”.
Seja como for, na sequência o professor
abordará quatro experimentos científicos
bastante relevantes para uma compreensão
de alguns debates da área.
Princípio da incerteza de Heisenberg
Criado pelo físico Werner Heisenberg (1901-
1976) em 1927, este princípio consiste na
ideia de que não seria possível medir com
precisão estrita a posição e o momentum
(velocidade atrelada à massa) de um
elétron ao mesmo tempo; se medirmos um
destes aspectos com precisão, o outro será
infinitamente impreciso até ser observado.
Este princípio contrasta, como nota o
professor, com o determinismo laplaciano,
e contribui para que passe a vigorar a lei da
probabilidade nas relações subatômicas;
afinal, o princípio aponta a limitação
daquilo que podemos saber a respeito do
comportamento das partículas quânticas – o
máximo que podemos fazer neste contexto
são cálculos de probabilidades.
O professor indica, então, como esta ideia
poderia estar relacionada à consciência ou
a Deus: uma das formas de compreender
a ação de Deus no mundo é entendê-lo
como o determinador das indeterminações;
ou seja, ele seria quem determina qual
comportamento as partículas quânticas irão
assumir ao serem observadas.
O paradoxo EPR
Proveniente de um experimento mental
realizado pelos físicos Albert Einstein (1879-
1955), Boris Podolsky (1896-1966) e Nathan
Rosen (1909-1995) (daí EPR).
Neste experimento, considerou-se os
elementos gerados por uma decomposição
eletrônica (ou seja, de elétrons), que
seguiram em diferentes direções.
Atrás dela, há uma tela na qual será possível
observar a distribuição das partículas
que passam pelas fendas. Ao lançar
esses componentes, eles demonstram um
comportamento ondulatório, sobrepondo-
se ao passarem pelas fendas e formando,
na tela final, um padrão de ondas de
interferência.
No entanto, ao inserirmos um observador
(isto é, algum tipo de detector) do outro
lado das fendas, o resultado pode ser
diferente: os componentes podem parecer
ter um comportamento de partículas,
13:14
formando, neste caso, duas colunas de
interferência na tela.
Em razão disso, este experimento inaugurou
uma discussão na teoria quântica a respeito
do papel exercido pelo observador – que,
neste caso, parece ter influenciado o
comportamento das partículas, embora a
física ainda não tenha logrado explicar o
porquê desta influência, como pontua o
professor.
17:19 O Gato de Schrödinger
Experimento mental, desenvolvido em 1935
pelo físico Erwin Schrödinger (1887-1961).
Nele, supõe-se que um gato está dentro de
uma caixa fechada, que contém ainda um
recipiente com material radioativo e um
contador Geiger (um detector de radiação).
23:02 Caso perceba a presença de partículas de
radiação, o contador acionará um martelo
que, ao ser solto, romperá um frasco de
veneno, causando a morte do animal.
Considerando que a radioatividade pode se
manifestar em forma de ondas ou partículas,
antes de abrirmos a caixa para avaliar a
situação do gato, deparamo-nos com uma
espécie de dupla realidade:
24
Na sequência, foi observado que uma
medição realizada em uma partícula pode
acarretar, mais rápido que a velocidade
da luz (contrariando, portanto, a tese do
próprio Einstein de acordo com a qual
nada poderia mover-se mais rápido que a
velocidade da luz), um efeito na medição de
outra, independentemente da distância que
separa as duas partes; de modo que, a partir
da medição de uma parte, seria possível
prever os resultados para outra região: se,
na medição, uma partícula move-se para
cima, já podemos prever que a outra estará
movendo-se para baixo.
Este experimento chamou a atenção, no
campo da física quântica, para a existência
de uma inter-relação mais fundamental entre
as diferentes partes do universo que ainda
não pôde ser explicada cientificamente.
A teoria dos multiversos
Como pudemos observar a partir
de uma breve menção do professor
anteriormente, trata-se da ideia de que
todas as probabilidades relacionadas aos
comportamentos de partículas ao nível
atômico acontecem em algum universo; seja
no nosso ou em outro, paralelo.
Esta teoria pode ser interpretada de mais
de uma forma; seria possível pensar, por
exemplo, que a concretização não se daria
em diferentes mundos propriamente, mas
em diferentes mentes.
(1) o contador detecta a presença de
partículas radioativas, dando início à reação
em cadeia que culmina na morte do animal,
e (2) o contador não detecta uma partícula
de radiação e, em razão disso, o gato segue
vivo dentro da caixa.
O paradoxo consiste no fato de que,
enquanto a caixa não for aberta, o gato terá
de ser considerado como, por assim dizer
“vivomorto” (ou seja, “meio morto” e “meio
vivo”).
O professor explica que nós podemos
entender que uma ideia por trás deste
experimento seja tentar observar se haveria
alguma consequência visível cotidianamente
da dificuldade que temos, desde o advento
da física quântica, de compreender o
comportamento das partículas a nível
atômico.
30:26 Uma maneira de tentar responder ao
paradoxo apresentado pelo experimento
de Schrödinger é assumir a teoria dos
universos paralelos – ou seja, a ideia de que
cada probabilidade relacionada ao mundo
subatômico seria concretizada em algum
universo; se não for no nosso, será em algum
paralelo.
De todo modo, o professor nota que a
maior parte dos físicos não tende a assumir
esta teoria, na medida em que teríamos de
assumir a existência de uma infinidade de
universos para abarcar a concretização de
todas as probabilidades relacionadas ao
comportamento destas partículas.
25

Hostilidade ateia e agnóstica
O professor inicia esta parte da aula
abordando uma forma de relação conflitante
entre ciência e religião: a postura de
hostilidade com a religião em virtude de
um ateísmo ou de uma visão agnóstica do
mundo. Nesses casos, assume-se, muitas
vezes, um forte cientificismo materialista
(ou seja, de que tudo que existe pode ser
medido através das ciências empíricas).
Esta postura pode ser observada no
pensamento de Lawrence Krauss, Richard
Dawkins, Daniel Dennett e, especialmente,
de Baron d’Holbach.
No âmbito da teoria quântica, esta postura
pode aparecer em trabalhos sobre a
cosmologia quântica – isto é, o estudo que
relaciona os postulados da teoria quântica
aos primórdios do universo, buscando,
com isso, um maior entendimento dos
acontecimentos que sucederam o Big-Bang.
Respostas à teoria do Big-Bang
Ainda sobre o Big-Bang, o professor explora
algumas respostas possíveis a perspectivas
ateístas desta teoria elencadas por Ian
Barbour:
(1) Adeptos da teoria afirmam que poderia
ter existido, antes da atual era de expansão,
uma era de contração; e que esta relação de
oscilação teria ocorrido desde o princípio.
No entanto, hoje a cosmologia entende
que há mais indícios para se considerar a
teoria do “universo aberto” (ou seja, de uma
expansão sem fim), do que a do “universo
fechado” (de uma expansão que se mantém
por um período muito longo antes de
retornar à contração).
(2) De acordo com a teoria dos “múltiplos
domínios isolados”, é possível que um
único Big-Bang tenha produzido múltiplos
domínios de existência simultânea, que
seriam como bolhas que se expandem
de modo incomunicável. Esta teoria é, no
entanto, cientificamente inverificável.
AULA 3 • PARTE 3
00:25
PERSONALIDADE
01:48
Baron d’Holbach
Paul-Henri Thiry d’Holbach (1723-1789) foi
um pensador proveniente do Iluminismo
francês. Em sua obra filosófica (como em
System of a Nature, ou Sistema da Natureza,
em tradução livre) desenvolveu uma visão
materialista e determinista do mundo,
que serviu como fundamento para a sua
crítica à religião. Em razão disso, pode
ser considerado como o pai do ateísmo
08:00
moderno.
14:58 Fundamentalismo
A partir de agora, o professor passa a tratar
sobre teorias e posturas desenvolvidas
assumindo-se uma independência entre a
ciência e a religião; começando pela análise
do fundamentalismo.
Trata-se de um fenômeno mental básico,
que pode ocorrer no âmbito religioso,
político ou científico, no qual se assume
certas crenças ou verdades parciais como
a totalidade da verdade; especialmente em
momentos nos quais se sente a iminência de
alguma ameaça: um religioso, sentindo sua
crença ameaçada pelo avanço da ciência,
por exemplo, pode defender ferrenhamente
certas teses bíblicas.
Esta postura pode levar, novamente, a uma
relação conflituosa entre ciência e religião.
26
 (1) Hugh Everett (1930-1982) propôs a
“teoria quântica da multiplicidade dos
mundos”, que diz que haveria uma infinidade
de mundos sendo criados, a partir da divisão
de outros em vários ramos, a cada evento
de indeterminação quântica em um átomo.
Trata-se, porém, de uma teoria altamente
especulativa.
(4) Segundo a “teoria das flutuações
quânticas no vácuo”, o vácuo seria como
um oceano de atividade, no qual partículas
virtuais aniquilam umas às outras de modo
quase imediato. Novamente, trata-se um
caso no qual aceita-se como fato uma tese,
sem verificação científica.
Mística desfigurada
O professor explica que, quando originou-
se, a partir das discussões da física quântica,
a compreensão de que o sujeito e o objeto
não estariam tão desvinculados quanto uma
concepção clássica da física poderia supor,
passou a haver uma especulação a respeito
da mística; especialmente da mística oriental,
com a ideia holística de que tudo estaria
relacionado de algum modo.
Neste sentido, muitas vezes há uma
desfiguração do verdadeiro sentido de
“mística” em tentativas de relacionar, sem
muitos critérios, a teoria quântica à religião.
Da maneira como a entendemos comumente
no ocidente, não se trata tanto de uma
relação sobrenatural e miraculosa com Deus,
mas de assumir aquilo que se crê na vida.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
Qual dos autores abaixo dedicou-se
ao estudo não só da física, mas da
sua conexão com a teologia?
Resposta desta página: alternativa 3.
Baron d’Holbach.
Hugh Everett.
Ian Barbour.
Max Plank.
17:07 “Deus-das-lacunas”
Postura assumida pelo crente religioso
de tentar explicar, a partir da suposição
de eventos sobrenaturais ou intervenções
divinas, aquilo que a ciência não consegue
explicar.
O professor aponta que esta postura era
bastante comum nas sociedades gregas e
romanas; como exemplo, podemos pensar
no deus Baco, da mitologia grega, que era
tido como responsável pela transformação
das uvas amassadas em vinho. Com o
tempo, descobriu-se que, na verdade, a
transformação se dava pela ação de certos
microorganismos.
24:44
Há, porém, versões mais complexas e atuais
desta ideia – como a concepção de um
“design inteligente”, que surge de uma
dificuldade em se explicar os “saltos” que se
dão entre os diferentes estágios da evolução
das espécies.
No que se refere aos mistérios que
circundam a teoria quântica, o professor
menciona uma ressalva apresentada
pelo pesquisador Thomas Tracy de que
falar da ação de Deus em nível quântico
não significa cair no mesmo erro que os
gregos, por exemplo; pois, de acordo
com as atuais interpretações da mecânica
quântica, as lacunas nas explicações não
refletem simplesmente o fato da teoria
ser incompleta, mas a própria estrutura da
natureza. Ademais, a proposta teológica
sobre a ação divina no nível quântico não
reivindica que as ciências, para seus próprios
propósitos, devam assumir o conceito de
Deus.
36:23
Deus e o acaso
Para finalizar esta parte da aula, o professor
discorre sobre diferentes teses a respeito
de se existe, de fato, o acaso, ou se seria
Deus quem determina as indeterminações
constatadas na física quântica.
Uma parcela minoritária dos físicos
acreditam, como Einstein e Max Planck
acreditavam, que futuramente descobertas
científicas serão capazes de explicar
aquilo que ainda não somos capazes de
27
compreender.
 EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO Estes estudiosos, muitas vezes, assumem
um determinismo, apontando, como o fez
Assinale a alternativa que contém Einstein, que Deus não jogaria dados. Esta
uma conclusão que não pode ser compreensão remete à ideia de um Deus
extraída a partir das investigações da que planeja tudo e, em seguida, sai de cena;
física quântica: o que é, como nota o professor, bastante
diferente de uma concepção comum
Há indeterminações em certos
religiosa.
aspectos de elementos da realidade
que não podem ser explicadas
cientificamente.

As leis da física clássica, ainda que

demandem uma atualização, ainda
logram explicar por completo o
comportamento dos elementos a
nível atômico.

Diferentes experimentos apontam

para uma relação mantida pelos
elementos mais básicos do universo.

AULA 3 • PARTE 4

Concepção instrumentalista da
00:25
teoria quântica

O professor começa a última parte da

aula apontando, em primeiro lugar, que há
três posturas epistêmicas que podem ser 05:37 A física quântica na teologia
assumidas no âmbito da ciência:
As constatações da física quântica
• Realismo clássico: ideia de que as teorias
sobre o papel do observador para o
físicas poderiam fornecer uma descrição
comportamento das partículas abriram
completa da realidade tal como ela é,
portas para a concepção de uma inter-
independentemente do observador.
relação criativa entre elas. Com isto em
• Instrumentalismo (ou interpretação de mente, emerge a pergunta sobre como se
Copenhagen): ideia de que as teorias daria a determinação das indeterminações
físicas seriam construções humanas quânticas.
Resposta desta página: alternativa 1.

convenientes, que servem à obtenção

O professor apresenta algumas tentativas de
do controle técnico; neste sentido, os
resposta:
fundamentos da realidade não seriam tão
relevantes. • Proposta de Eugene Winger: destaca
o papel da consciência humana na
• Realismo crítico: tese defendida pela
construção da realidade – para ele, a
maioria dos estudiosos da relação entre
consciência, em sua introspecção e auto-
a ciência e a teologia, como Ian Barbour;
referência, avalia seu próprio estado,
consiste na ideia de que as teorias seriam
interrompendo, assim, a corrente de
representações parciais, e não absolutas,
coordenações estatísticas.
da realidade.

28
Neste sentido, assumem como indispensáveis
as teorias físicas para a compreensão da
realidade, mas também que a totalidade
desta compreensão seria inatingível – não
tanto por uma falha humana, mas pela
própria natureza da realidade.
Holismo quântico
De acordo com o professor, o holismo
quântico seria uma realidade física que
indica a inter-relação entre todas as coisas;
14:30
inter-relação esta que se daria não somente
pela subjetividade, mas pela característica
fundamental da matéria: a comunicação
simultânea.
Uma expressão de holismo no nível
atômico é o Princípio da Exclusão de
Pauli, estabelecido por Wolfgang Pauli
(1900-1958) em 1925, que postula que, em
qualquer sistema, apenas uma partícula
do mesmo tipo pode estar em um dado
estado quântico. Sendo assim, no raciocínio
quântico, o elétron, por exemplo, assume
o estado do sistema, e não um estado
independente.
De acordo com Jean Staune, estes aspectos
da teoria quântica, que apontam para a
inacessibilidade da realidade a partir das
ciências empíricas, revelariam outro nível de
realidade, conectado ao nosso; podendo,
assim, participar de uma refutação do
materialismo (na medida em que mostra que
existiria algo para além do nível material)
e abrir caminho para que se possa falar de
Deus.
Uma postura semelhante, de tentar integrar
a ciência à teologia, foi adotada pelo
físico e clérigo William Pollard que, na
década de 1950, propôs que Deus agiria
na realidade através da determinação das
indeterminações quânticas. Esta forma de
ação divina, por um lado, não violaria as leis
naturais; por outro, não seria cientificamente
detectável.
Diante da proposta de Pollard, o professor
menciona alguns questionamentos possíveis;
como, por exemplo: se Deus age em cada
evento quântico deste modo, não cairíamos
nos problemas do determinismo?
• Proposta de John Wheeler: entende
que o universo teria sido criado
pelo observador; de modo que a
determinação das indeterminações
se daria por meio de um acordo
intersubjetivo.
09:23
Teses de John Polkinghorne
Em seu livro intitulado Explorando a
Realidade: o entrelaçamento de ciência
e religião, Polkinghorne afirma a
inacessibilidade da realidade, criticando,
neste sentido, a radicalidade como a pós-
modernidade tendeu a assumir a natureza
da realidade como construída a partir do
sujeito, superando a visão de uma realidade
objetiva; visão esta que teria, de algum
modo, atingido as ciências.
O autor também aborda alguns pontos sobre
a escatologia – ou seja, sobre o estudo das
coisas últimas (como o destino final dos
seres e do universo). Antes de mencioná-
las, o professor pontua algo importante:
muitas vezes, a teologia parece se omitir
frente a questões chave sobre o universo;
afirmando a existência de um reino de Deus
que se seguiria ad eternum, sem haver um
ponto de inflexão. No entanto, investigações
cosmológicas preveem a explosão do Sol
em aproximadamente 10 bilhões de anos,
causando a destruição do nosso planeta.
Sobre a visão escatológica de Polkinghorne,
o professor menciona a ideia de acordo
com a qual as pessoas não devem ser
identificadas apenas com a coleção de
átomos que lhe compõem – afinal, eles são
substituídos constantemente pela renovação
celular até a morte do corpo. Com relação
ao destino final dos seres humanos, o
autor afirma que há a esperança de que
Deus o preservará em sua memória divina,
reconstituindo a encarnação da alma no ato
escatológico de ressurreição.
29

Experiência religiosa é sempre
muito ampla; não se trata
apenas de oração ou de
sentir-se em paz na presença
de Deus – também se trata
da nossa realidade corpórea e
existencial como um todo.
A fé do cientista
O professor dedica os últimos minutos da
aula à apresentação de uma série de físicos
que conciliaram, em seus estudos, a ciência
e a religião. Dentre eles, há dois nomes
bastante visitados ao longo da aula:
Ian Graeme Barbour (1923-2013), que é um
dos maiores nomes no campo de estudos
sobre a relação entre a ciência natural e a
teologia, graduou-se em física e doutorou-se
na área dos raios-cósmicos. Em 1953, iniciou
seus estudos em teologia e ética e passou a
lecionar, por muito tempo, tanto na área da
ciência natural quanto da teologia.
John Charlton Polkinghorne (1930-2021)
graduou-se em matemática e doutorou-se
em “física-matemática”. Sua aproximação
com a fé cristã se deu através da “União
Cristã”, grupo não denominacional com
tonalidades de cristianismo. Mais tarde,
em contado com a Igreja Anglicana,
preparou-se para a diaconia e, em seguida,
ao presbiterato. Posteriormente, retornou
a Cambridge, onde atuou durante a maior
parte de sua vida acadêmica.
Por fim, cabe mencionar ainda algumas
17:36 notas de Polkinghorne sobre a mística cristã.
O professor, antes de mais nada, explica
o que se quer dizer por “mística cristã”:
a postura de assumir, na vida prática, a
verdade de certos preceitos, respeitá-los e
agir de acordo com eles.
Neste sentido, parece haver uma diferença
clara entre ciência e religião: se no campo
24:24 da ciência tende a haver consensos
sobre tópicos importantes a respeito da
estrutura da realidade, na religião há uma
multiplicidade de crenças assumidas como
verdades. Um possível ponto frutífero
de encontro, de acordo com o autor,
poderia estar nas crenças religiosas que
compartilham algum terreno comum sobre
a forma como entendem as descobertas
da ciência moderna relacionadas às suas
compreensões teológicas tradicionais; de
qualquer modo, estabelecer uma inter-
relação mais estreita será uma muitíssimo
longa.
32:58 Aquilo que deve pautar o
diálogo e a inter-relação entre
teologia, experiência religiosa
e as ciências empíricas é a
sincera busca pela verdade.
30
 Resumo da disciplina
Veja, nesta página, um resumo dos principais conceitos vistos ao longo da disciplina.

AULA 1

Tentamos fazer aquilo que historicamente

é tido como problemático: analisar o
espiritual como vinculado à condição
concreta do humano pensante. A espiritualidade não tem a ver apenas
com a expectativa da transcendência
da vida, mas também se volta para o
Muitas vezes avaliamos outras pessoas aqui e o agora.
por comportamentos e modos de ser
que, na realidade, não são questões
de vício ou virtude, mas problemas
relacionados aos neurotransmissores.

AULA 2

Assim como o cérebro é importante

Em uma compreensão, a personalização
acontece também na relacionalidade
humana com o divino.
para a educação, ele também possui
sua importância na formação da
espiritualidade.
Embora compreendamos a
espiritualidade como relacionada a
rezar o terço, fazer via sacra e etc.,
não podemos esquecer que o conceito
fundamental de espiritualidade de uma
vida segundo o espírito.

AULA 3
Quando se lê de forma adequada textos
sagrados, percebe-se que não existe uma
discrepância entre aquilo que a ciência
empírica narra e aquilo que a fé de
muitas igrejas tradicionais postulam. A experiência religiosa pode ser muito
ampla; não se trata apenas de oração
ou de sentir-se em paz na presença de
Deus, mas também da nossa realidade
corpórea e existencial como um todo.
Aquilo que deve pautar o diálogo entre
teologia e as ciências empíricas é a
sincera busca pela verdade.

31
 Avaliação
ca-

-
Veja as instruções para realizar a avaliação da disciplina.

Já está disponível o teste online da disciplina. O prazo para realização

é de dois meses a partir da data de lançamento das aulas. ​

Lembre-se que cada disciplina possui uma avaliação online.

A nota mínima para aprovação é 6. ​

Fique tranquilo! Caso você perca o prazo do teste online, ficará aberto
o teste de recuperação, que pode ser realizado até o final do seu curso.
A única diferença é que a nota máxima atribuída na recuperação é 8. ​