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Assunto
Cosmovisão Reformada
1
João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa,
São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.15), p. 116. “Devemos entender que Jesus Cristo deseja
governar sua igreja mediante a pregação de sua Palavra, à qual nós devemos dar toda devida
reverência” (João Calvino, Beatitudes; Sermões sobre as bem-aventuranças, São Paulo: Fonte
Editorial, 2008, p. 77).
2
Conforme já indicamos, inclusive com mais detalhes, a ideia da palavra traduzida por integridade é de:
perfeição (Sl 18.30); aperfeiçoar (Sl 18.32); retidão (Sl 101.6); irrepreensível (Sl 119.1,80); inculpável (2Sm
22.24).
3
Para uma abordagem mais detalhada da palavra, veja-se: Hermisten M.P. Costa, Vivendo com integridade:
um estudo do Salmo 15, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2016.
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 2
nosso viver, seja em que época e cultura for. Ela é suficiente para nos gerar de novo
e para nos conduzir em santificação nessa nova natureza e projeto de vida.
Nada lhe escapa, nada lhe é estranho. Ela tem princípios que sendo seguidos,
instruem, previnem e corrigem os nossos caminhos. “Ela não carece de nada que
seja indispensável à perfeita sabedoria”, conclui Calvino.4
A bem-aventurança da obediência
Ainda que possamos, pela graça comum de Deus, encontrar aqui e ali entre os
homens elementos de verdade que podem nos auxiliar a melhor compreender
aspectos da realidade,5 somente na integridade da Palavra temos o absoluto de
4
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 19.7), p. 424.
5
Calvino em passagem magistral, escreveu:
“Quantas vezes, pois, entramos em contato com escritores profanos, somos advertidos por essa
luz da verdade que neles esplende admirável, de que a mente do homem, quanto possível decaída e
pervertida de sua integridade, no entanto é ainda agora vestida e adornada de excelentes dons
divinos. Se reputarmos ser o Espírito de Deus a fonte única da verdade, a própria verdade, onde quer
que ela apareça, não a rejeitaremos, nem a desprezaremos, a menos que queiramos ser insultuosos
para com o Espírito de Deus. Ora, nem se menosprezam os dons do Espírito sem desprezar-se e
afrontar-se ao próprio Espírito.
“E então? Negaremos que a verdade se manifestou nos antigos jurisconsultos, os quais, com
equidade tão eminente, plasmaram a ordem política e a instituição jurídica? Diremos que os filósofos
foram cegos, tanto nesta apurada contemplação da natureza, quanto em sua engenhosa descrição?
Diremos que careciam de inteligência esses que, estabelecida a arte de arrazoar, a nós nos
ensinaram a falar com razoabilidade? Diremos que foram insanos esses que, forjando a medicina,
nos dedicaram sua diligência? O que dizer de todas as ciências matemáticas? Porventura as
julgaremos delírios de dementes? Pelo contrário, certamente não poderemos ler sem grande
admiração os escritos dos antigos acerca dessas coisas. Mas os admiraremos porque seremos
obrigados a reconhecer seu profundo preparo.
“Todavia, consideraremos algo digno de louvor ou mui excelente que não reconheçamos provir de
Deus? Envergonhemo-nos de tão grande ingratidão, na qual nem mesmo os poetas pagãos
incidiram, os quais têm professado que a filosofia é invento dos deuses, bem como as leis e todas
as boas artes. Portanto, se esses homens, a quem a Escritura chama [psychikoús – naturais, 1Co
2.14], que não tinham outra ajuda além da luz da natureza, foram tão engenhosos na inteligência das
coisas deste mundo, tais exemplos devem ensinar-nos quantos são os dons e graças que o Senhor
tem deixado à natureza humana, mesmo depois de ser despojada do verdadeiro e sumo bem” (João
Calvino, As Institutas (2006), II.2.15). Em outro lugar: “Reconheço que alguns grãos de piedade
sempre foram espalhados por todo o mundo, e que não pode haver dúvida – se nos permitir a
expressão – Deus semeou, pelas mãos de filósofos e escritores profanos, os excelentes sentimentos
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 3
Deus para todos os desafios próprios de nossa existência. Por isso, quem segue a
Palavra de Deus buscando praticá-la com integridade de coração será
irrepreensível em seu caminho, em todas as circunstâncias. Encontrará na Palavra
não apenas informação e conhecimento mas, o sentido da realidade em toda a sua
abrangência de vida e morte.
que serão encontrados em seus escritos” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos
Campos, SP.: Fiel, 2015, v. 1, (Jo 4.36), p. 186). Veja um testemunho interessante: Vern S.
Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.:
Monergismo, 2019, p. 39; Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo
todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 64. Kuyper a
definiu da seguinte forma: É a ação “pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição
que repousa sobre ele, suspende seu processo de corrupção, e assim permite o desenvolvimento de
nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador” (A. Kuyper, Calvinismo, São
Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 38-39).
6
A ideia básica do termo (vrD) (darash) é buscar com diligência. “Moisés diligentemente buscou (vrd)
(darash) o bode da oferta pelo pecado....” (Lv 10.16). (Vejam-se mais detalhes em: Leonard J.
Coppes, Dãrash: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 328-329).
A palavra buscar além deste sentido (Lv 10.16; Sl 22.26; 24.6 [duas vezes]; Sl 53.3), pode ser
traduzida por: Requerer (Dt 23.22; Sl 9.12); cuidar (Dt 11.12); investigar (Sl 10.4); se importar (Sl
10.13); esquadrinhar (Sl 10.15/Ec 1.12); procurar (Sl 77.2); considerar (Sl 111.2); empenhar-se (Sl
119.45); interessar-se (Sl 142.4).
O ímpio por se considerar autossuficiente, não se importa com Deus. Parte do pressuposto de sua
não existência, por isso mesmo, ele não examina a questão, não se empenha nem se interessa; esta
é uma questão decidida: Não há Deus!
“O perverso ([v'r') (rãshã’), na sua soberba, não investiga (vrD) (darash); que não há Deus são
todas as suas cogitações” (Sl 10.4).
O não investigar (vr;D') (darash) significa não se importar, não buscar a Deus. O ímpio acredita
não ter elementos suficientes para crer em Deus, contudo, paradoxalmente, sustenta ter razões
suficientes para negá-lo. Deste modo, o ímpio está satisfeito com a sua conclusão gratuita e,
arrogantemente propala isso com palavras e atitudes, sendo a sua ideologia reforçada pela sua
evidente prosperidade e impunidade que enchem os olhos dos menos avisados e também
precipitados em suas conclusões: “São prósperos os seus caminhos em todo tempo; muito acima e
longe dele estão os teus juízos; quanto aos seus adversários, ele a todos ridiculiza” (Sl 10.5).
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 4
Quando, porém, falamos das Escrituras, podemos ter a certeza de que a sua
“versão” é divina, e por isso, perfeita. Ela é completa, suficiente para todas as
nossas necessidades, em todos os tempos, em todos os momentos e circunstâncias
de nossa existência. A Palavra não precisa de complemento ou atualização. Ela é
perfeita (Tg 1.25).7 “A glória da Bíblia é que ela é suficientemente para cada época e
suficiente para casa pessoa”, aplica Schaeffer.8
7
“Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não
sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (Tg
1.25).
8
F.A. Schaeffer, O Deus que intervém, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 251.
9
“Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita (te/leioj), lei da liberdade, e nela persevera,
não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”
(Tg 1.25).
10
Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd
Publicações, 2007, p. 60.
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 5
das tuas palavras esclarece (rAa) ('ôr) e dá entendimento (!yBii) (bîyn)11 aos simples
(ytiP,) (pethiy) (= ingênuo, tolo, mente aberta)” (Sl 119.130).12
Para que possamos viver com discernimento, é necessário sair da influência dos
insensatos e buscar o caminho do Senhor: “Deixai os insensatos (ytiP.) (pethiy) e
vivei; andai pelo caminho do entendimento (hn"yB) (biynah)” (Pv 9.6).
Deus deseja que exercitemos o senso crítico (Pv 1.4; 14.15) deixando a paixão
pela “necedade” (Pv 1.22).13 MacArthur, pontua:
Um indivíduo simples é como uma porta aberta – ele não tem discernimento
sobre o que pode sair ou entrar. Tudo entra porque ele é ignorante,
inexperiente, ingênuo e não sabe discernir as coisas. Pode ser até que
tenha orgulho de ter uma ‘mente aberta’, apesar de ser verdadeiramente um
tolo. Mas a Palavra de Deus faz com que essa pessoa seja ‘sábia’. (...) Ser
sábio é dominar a arte do viver diário por intermédio do conhecimento da
14
Palavra de Deus e sabendo aplicá-la em toda situação.
11
O verbo (!yBii) (bîyn) e o substantivo (hn"yBi) (bîynâh) apresentam a ideia de um entendimento,
fruto de uma observação demorada, que nos permite discernir para interpretar com sabedoria e
conduzir os nossos atos. “O verbo se refere ao conhecimento superior à mera reunião de dados. (...)
Bîn é uma capacidade de captação julgadora e perceptiva e é demonstrada no uso do conhecimento”
(L. Goldberg, Bîn: In: L. Harris, et. al., eds., Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 172).
!yBii (bîyn) permite diversas traduções (ARA): Acudir (Sl 5.1) (No sentido de considerar); Ajuizado (Gn
41.33,39); Atentar (Dt 32.7,29; Sl 28.5); Atinar (Sl 73.17; 119.27); Considerar (Jó 18.2; 23,15; 37.14);
Contemplar (Sl 33.15); Cuidar (Dt 32.10); Discernir (1Rs 3.9,11; Jó 6.30; 38.20; Sl 19.12); Douto (Dn 1.4);
Ensinar (Ne 8.7,9); Entender/entendido/entendimento (Dt 1.13;4.6; 1Sm 3.8; 2Sm 12.19; 1Rs 3.12;1Cr 15.22;
27.32; 2Cr 26.5; Ed 8.16; Ne 8.2,3,8,12; 10.28; Jó 6.24;13.1; 15.9; 23.5; 26.14; 28.23; 32.8,9; 42.3); Fixar no
sentido de pensar detidamente (Jó 31.1); Inteligência (Dn 1.17); Mestre (no sentido de expert) (1Cr 25.7,8);
Penetrar (com o sentido de discernir) (1Cr 28.9; Sl 139.2); Perceber (Jó 9.11;14.21; 23.8); Perito (Is 3.3);
Procurar (Sl 37.10); Prudentemente (2Cr 11.23); Reparar (1Rs 3.21); Revistar (procurar atentamente) (Ed
8.15); Saber/Sabedoria (Ne 13.7; Pv 14.33); “Sisudo” em palavras (1Sm 16.18); Superintender (por ter maior
conhecimento) (2Cr 34.12). A LXX geralmente emprega a palavra Suni/hmi (syniêmi) para traduzir o verbo
hebraico. Suni/hmi (syniêmi) envolve a ideia de reunir as coisas, analisá-las, tentando chegar a uma
conclusão por meio de uma conexão das partes (*Mt 13.13,14,15,19,23,51; 15.10; 16.12; 17.13; Mc 4.12;
6.52; 7.14; 8.17,21; Lc 2.50; 8.10; 18.34; 24.45; At 7. 25 (duas vezes); 28.26,27; Rm 3.11; 15.21; 2Co 10.12;
Ef 5.17). Paulo instrui aos efésios: “....Vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como
sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão não vos torneis insensatos, mas procurai
compreender (Suni/hmi) qual a vontade do Senhor” (Ef 5.15-17).
12
Nas Escrituras, seguir a instrução de Deus é o mesmo que andar na luz: “Irão muitas nações e
dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os
seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR,
de Jerusalém (...) Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz (rAa) ('ôr) do SENHOR” (Is 2.3,5).
“Atendei-me, povo meu, e escutai-me, nação minha; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei o meu
direito como luz (rAa) ('ôr) dos povos” (Is 51.4). (Para um estudo mais pormenorizado do emprego da
palavra no Antigo Testamento, vejam-se: H. Wolf, ‘ôr: In: L. Harris, et. al., eds., Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 38-42; William
Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3. ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing
Co. 1978, p. 23).
13
“Até quando, ó néscios (ytiP) (pethiy), amareis a necedade (ytiP) (pethiy)? E vós, escarnecedores, desejareis
o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?” (Pv 1.22).
14
John F. MacArthur Jr., Adotando a Autoridade e a Suficiência das Escrituras: In: J.F. MacArthur Jr.,
ed. ger., Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 39.
Veja-se também: J.F. MacArthur, Jr., Nossa Suficiência em Cristo, São José dos Campos, SP.: Fiel,
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 6
Ignorância injustificável
Deus concede esse discernimento “aos símplices (ytiP.) (pethiy) (= ingênuo, tolo,
mente aberta)”, sendo aqui aplicada a palavra às pessoas ingênuas que por não
terem desenvolvido uma mente discernidora, é aberta à qualquer conceito, 17 não
percebendo as armadilhas e contradições do seu mosaico inconsistente de
pensamento.
1995, p. 68.
15
Em outro contexto, Agostinho (354-430) comentou: “Pois a Sabedoria de Deus, tendo assumido
nossa fraqueza, não veio para reunir sob suas asas os filhos de Jerusalém, como a galinha reúne
seus pintinhos, para que sejamos sempre crianças, mas, sendo crianças quanto à malícia, deixemos
de ser crianças quanto à razão” (Sto. Agostinho. Comentário ao Gênesis, São Paulo: Paulus, 2005,
(Coleção Patrística; 21), I.17.36, p. 43). (Devo a lembrança desta passagem ao Rev. Mauro
Filgueiras Filho que, em correspondência particular, fez menção da mesma).
16
John MacArthur, Adotando a Autoridade e a Suficiência das Escrituras. In: John MacArthur, ed. ger., Pense
Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 39.
17
“O simples (ytiP.) (pethiy) dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta (yBi) (biyn) para os
seus passos” (Pv 14.15).
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Faz-se necessário que pensemos e, como nosso pensamento também foi afetado
pelo pecado, pensemos sobre o nosso pensamento, rogando o Espírito de sabedoria
concedido por Deus (Ef 1.17).19
Como escreve Piper, “pensar intensamente sobre a verdade bíblica é o meio pelo
qual o Espírito nos mostra a verdade”. 20 Devemos, portanto, aprender a refletir
sobre o ensino bíblico, suplicando o discernimento do Espírito.
Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, recorda o aprendizado que ele recebeu nas
Escrituras: “.... desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio
para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).
Diz o salmista:
18
Cf. Louis Goldberg, Petî: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1249. Para um estudo mais detalhado da palavra, veja-se: M.
Saebo, Pth: In: E. Jenni; C. Westermann, eds., Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento,
Madrid: Ediciones Cristiandad, 1985, v. 2, p. 624-628.
19
“Os cristãos precisam pensar sobre o pensamento. (...) A maioria dos seres humanos, contudo,
nunca pensa profundamente sobre o ato de pensar. (...) Devido à devastação intelectual causada
pela queda, temos a obrigação de pensar sobre o ato de pensar. Essa é a razão pela qual o
discipulado cristão é, também, uma atividade intelectual” (R. Albert Mohler Jr., O modo como o mundo
pensa: Um encontro com a mente natural no espelho e no mercado. In: John Piper; David Mathis,
orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 44,45,54).
“Você não precisa acreditar em tudo o que pensa, e a razão é simples: nós vemos o que
queremos ver. (...) O nervo óptico, o único nervo com ligação direta com o cérebro, na verdade
transmite mais impulsos do cérebro para o olho do que vice-versa. Isto significa que se cérebro
determina o que o olho vê. Você já está precondicionado. É por isso que, se quatro pessoas
presenciarem um acidente, cada uma vai relatar algo diferente. Precisamos nos lembrar, e ensinar
aos outros, que não devemos acreditar em tudo o que pensamos” (Rick Waren, A batalha pela sua
mente. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p.
27).
20
John Piper: In: John Piper; D.A. Carson, O Pastor Mestre e O Mestre Pastor, São José dos Campos, SP.:
Fiel, 2011, p. 64.
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98
Os teus mandamentos me fazem mais sábio (~k;x') (chakam) que os meus
inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre comigo. 99Compreendo mais
do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. 100
Sou mais prudente (!yBi) (biyn) que os idosos, porque guardo os teus
preceitos. 101 De todo mau caminho desvio os pés, para observar a tua
palavra. (Sl 119. 98-101).
A sabedoria propiciada por Deus dá-nos discernimento para que possamos nos
valer do que for útil em todos os conhecimentos sem nos perder em meio às suas
contradições, tendo como elemento avaliador a Palavra de Deus.
A sabedoria divina oferece-nos um quadro de referência que nos conduz cada vez
à gratidão a Deus por tão grandiosa bênção. Para que possamos emitir um juízo de
valor é preciso ter valores e um quadro coerente de interpretação a partir de
determinado valor ou de um conjunto de valores. Notemos, portanto, que pensar
com clareza é uma grande bênção de Deus.21
Jesus Cristo afirma que aquele que deseja fazer a vontade de Deus deve
examinar a doutrina: “Se alguém quiser fazer a vontade (Qe/lhma) dele (Deus),
conhecerá (ginw/skw) a respeito da doutrina (didaxh/), se ela é de Deus” (Jo 7.17).
A falta de sentido
O poeta não deixa de ter alguma razão. Contudo, o problema maior está na falta
da visualização do todo: de um lado, sabemos que a história não pode ser
21
Veja-se: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 32.
22
Veja, 15/11/80, p. 6. Aqui Drummond, faz eco ao seu “Poema de Sete Faces”, onde ele diz: “Mundo mundo
vasto mundo,/ se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução....” (In: Carlos
Drummond de Andrade, Antologia Poética, 18. Ed. (Organizada pelo autor), Rio de Janeiro: José Olympio,
1983, p. 4). Do mesmo modo, em outro lugar, o poeta escreve: “Por que nascemos para amar, se vamos
morrer? / Por que morrer se amamos? / Por que falta sentido / ao sentido de viver, amar, morrer?” (C.D.
Andrade, Corpo, 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 47).
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A primeira percepção, que talvez seja a mais evidente – ainda que não em termos
totalmente bíblicos –, conduz o homem à angústia e desespero; a realidade passa a
não fazer mais sentido, senão enquanto sucessão de momentos que devemos
“bem” aproveitar antes que evaporem... Aí está, segundo nos parece, um dos
problemas do homem de todos os tempos, porém especialmente dos filhos de uma
sociedade secularizada: a ausência de significado fora do “aqui” e “agora”, que lhe
escapa desesperadoramente. "A secularização penaliza ao homem com a perda do
significado da vida", comenta van Riessen (1911-2000) 26
Conhecimento e significado
23
"O importante princípio que devemos manter sempre vívido na mente é que a única maneira de entender a
longa história da raça humana é dar-se conta de que ela é resultado da Queda. Essa é a única chave da
história, de qualquer espécie de história, tanto da história secular como desta história mais puramente
espiritual que temos na Bíblia. Não se pode entender a história da humanidade se não se leva em conta este
grande princípio. A história é o registro do conflito entre Deus e Suas forças, de um lado, e o diabo e suas
forças, de outro; e o grande princípio determinante é de imensa importância, não só para entender-se a
história passada, como também para entender-se o que está acontecendo no mundo hoje. É, igualmente, a
única chave para compreender-se o futuro. Ao mesmo tempo, é a única maneira pela qual podemos
compreender as nossas experiências pessoais" (D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 72).
24
“Nem sempre podemos ser capazes de discernir o propósito de Deus na história, mas que esse propósito
existe é um aspecto primordial de nossa fé” (A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1989, p. 41
25
D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas, 1992, p. 64.
26
Hendrik van Riessen, Enfoque Cristiano de la Ciencia, 2. ed. Países Bajos: FELIRE, 1990, p. 46. “Quando
esta temporalidade da criação [a vida aqui e agora], quando esse imediatismo de nossa natureza de criatura
sufoca todo o nosso senso de eternidade e ocupa toda a nossa mente, coração e atenção tem-se, então, o
secularismo. O secularismo nega o eterno e não permite a ideia de que qualquer coisa imediata tem
consequências eternas” (John Sittema, Coração de Pastor, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 62-63).
27
“A ciência é moralmente imparcial precisamente porque é moralmente cega, colocando-se a serviço do
ditador que quer forçar seu governo opressivo por meio das armas de destruição em massa; e, da mesma
forma, colocá-la a serviço dos que desejam curar uma humanidade destruída e enfraquecida por meio de
novas drogas e procedimentos médicos. Precisamos de narrativas transcendentes para nos fornecer orientação
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 10
McGrath comenta:
O fato que somente Deus por meio de sua Palavra pode conferir ordem e
estrutura ao aparente caos; à paisagem da história e vida humana. Conhecimentos
verdadeiros não são necessariamente significativos em momentos extremos da vida.
moral, propósito social e senso de identidade pessoal. Embora a ciência possa nos fornecer conhecimento e
informação, ela é impotente para conferir sabedoria e sentido” (Alister E. McGrath, Surpreendido pelo
sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 14. Veja-se também: Alister McGrath,
A fé e os crentes, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 15ss.).
28
Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo:
Hagnos, 2015, p. 10-11. “Os seres humanos anelam por fazer sentido das coisas – identificar padrões
na rica estrutura da natureza, fornecer explicações do que ocorre ao redor deles para refletir sobre o
significado da própria vida. É como se nossa “antena” intelectual estivesse sintonizada para discernir
pistas sobre o propósito e o sentido ao nosso redor, pistas essas incorporadas na estrutura do
mundo” (Alister E. McGrath, Ajuste fino do Universo: Em busca de Deus na Ciência e na Teologia,
Viçosa, MG.: Ultimato, 2017, p. 19).
“Uma vez despertadas nossas suspeitas de que há mais na vida do que a paisagem desolada do
secularismo moderno, estes sinais de transcendência ou ecos de uma voz divina não provam nada
em si e por eles mesmos, mas fazem muito sentido quando vistos dentro do contexto do grande
panorama cristão” (Alister McGrath, A Fé e os credos, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 31).
“O mundo pode parecer uma terra de sombras; todavia, Deus é luz que ilumina nosso caminho
enquanto viajamos” (Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das
coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 15).
29
Alister McGrath, A Fé e os credos, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 14-15.
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A Palavra de Deus é uma verdade viva, que tem a mesma vivacidade de quando
foi revelada por Deus aos seus servos, que a registraram inspirados pelo Espírito
Santo. Ela continua com a mesma eficácia para os questionamentos existenciais do
homem moderno. Ele continua sendo o poder de Deus (Rm 1.16). Essa Palavra
confere sentido à nossa vida.
Jesus Cristo, a Palavra encarnada, nos diz: “Eu sou a luz (fw=j) do mundo; quem
me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz (fw=j) da vida” (Jo 8.12/Is
49.6).30
A Lei de Deus continua sendo o princípio norteador de toda a vida cristã. Deus
continua ordenando que nós não adulteremos, não roubemos, não matemos, que
honremos os nossos pais, que o adoremos com exclusividade. Por isso, somente na
Palavra temos o caminho de vida seguro que nos conduz à satisfação de Deus.32
30
“Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os
remanescentes de Israel; também te dei como luz (rAa) ('ôr) para os gentios, para seres a minha salvação
até à extremidade da terra” (Is 49.6).
31
Alister McGrath, A Fé e os credos, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 22.
32
Veja-se: R.P. Shedd, Lei, Graça e Santificação, São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 90.
33
David M. Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2. ed. Rio de Janeiro:
Textus, 2004, p. 13. “Uma coisa muito maravilhosa que transparece quando você lê a Bíblia e
aprende a conhecê-la inteiramente é descobrir que ela é um livro atualizado e muito contemporâneo.
É um livro que fala a todas as épocas e gerações, porque a humanidade permanece a mesma em
todas as suas qualidades essenciais, e Deus continua o mesmo. Assim, a mensagem de Deus para o
mundo é ainda esta velha mensagem, e eu quero mostrar-lhe quão relevante ela é para o mundo de
hoje” (David M. Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, p. 12). Veja-se
também um desenvolvimento deste assunto em: D. Martyn Lloyd-Jones, Romanos: Exposição sobre
Capítulo 12 – O comportamento cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p.
11-27.
Tentando pensar e viver como um Reformado: Reflexões de um estrangeiro residente - Rev. Hermisten – 02/11/2023 – 12
luz (rAa) ('ôr) da aurora, que vai brilhando (rAa)34 ('ôr) mais e mais até ser dia
perfeito” (Pv 4.18).
34
A grafia de “luz”, “ser luz”, “tornar-se luz” e “brilhar” é a mesma no hebraico.