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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFG

CURSO DE DIREITO

DELTON JULIO SANTOS SOUZA

DISCRIMINAÇÃO ALGORÍTMICA NAS PLATAFORMAS DE E-COMMERCE:


ANÁLISE CRÍTICA DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS

Guanambi - BA
2022
DELTON JULIO SANTOS SOUZA

DISCRIMINAÇÃO ALGORÍTMICA NAS PLATAFORMAS DE E-COMMERCE:


ANÁLISE CRÍTICA DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS

Artigo científico apresentado ao curso de


Direito do Centro Universitário da Faculdade
Guanambi – UniFG, como requisito de
avaliação da disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso II.

Orientador: Prof. Me. Raphael de Souza


Almeida Santos.

Guanambi-BA
2022
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6

2. O ALGORITMO E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (ARTIFICIAL


INTELLIGENCE) ......................................................................................................... 7
3. O COMÉRCIO ELETRÔNICO (E-COMMERCE), PLATAFORMAS DIGITAIS
DE CONSUMO E A ECONOMIA DE DADOS (DATA-DRIVEN ECONOMY) .. 11
4. PRINCIPAIS PRÁTICAS DE DISCRIMINAÇÃO ALGORÍTMICA NO
ÂMBITO DAS PLATAFORMAS VIRTUAIS DE CONSUMO ............................ 14
4.1 PERFILIZAÇÃO (PROFILING) .......................................................................... 15
4.2 PRECIFICAÇÃO PERSONALIZADA ................................................................. 17
4.3 GEO-PRECIFICAÇÃO (GEOPRICING) E GEO-BLOQUEIO (GEOBLOCKING)
...................................................................................................................................... 18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 21
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 23
DISCRIMINAÇÃO ALGORÍTMICA NAS PLATAFORMAS DE E-COMMERCE:
ANÁLISE CRÍTICA DAS PRINCIPAIS PRÁTICAS

Delton Julio Santos Souza1, Raphael de Souza Almeida Santos ²

¹Graduando do curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário FG (UniFG)


² Doutorando em Direito pela UNESA/RJ. Mestre em Direito pela UNESA/RJ. Professor do curso de Direito do
Centro Universitário FG (UniFG)

RESUMO: Tendo em vista que presenciamos a Revolução 4.0 na qual os dados são matéria-
prima para a economia, pesquisa-se sobre o viés algorítmico a fim de analisar as principais
condutas discriminatórias na órbita das plataformas de comércio eletrônico. Para tanto, faz-se
necessário identificar o comportamento dos algorítmicos, classificá-los para estabelecermos
uma concernência com as práticas abusivas e suas consequências na esfera do consumidor.
Realiza-se, então, uma pesquisa dedutiva de revisão bibliográfica com finalidade qualitativa, o
que permitirá fomentar o debate acadêmico de modo que seja possível analisar de maneira
crítica as ideias centrais acerca da inteligência artificial e os danos no âmbito consumerista.
Diante disso, verificou-se que o mau uso dessas ferramentas enseja a discriminação negativa
do usuário, especialmente pela geodiscriminação através da geo-precificação e do geo-
bloqueio, além do perfilamento para fins vedados na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD),
impondo o incremento na disparidade e hipervulnerabilidade nas relações de consumo.

Palavras-chave: Discriminação algorítmica. Plataformas de comércio eletrônico.


Geodiscriminação. Hipervulnerabilidade.

ABSTRACT: Considering that we are witnessing the 4.0 Revolution in which data is a raw
material for the economy, research is carried out on the algorithmic bias to analyze the main
discriminatory behaviors in the orbit of e-commerce platforms. Therefore, it is necessary to
identify the behavior of algorithms, and classify them to establish a concern with abusive
practices and their consequences in the consumer sphere. A deductive bibliographic review is
then carried out with a qualitative purpose, which will allow us to foster academic debate so
that it is possible to critically analyze the central ideas about artificial intelligence and the
damages in the consumerist scope. Therefore, it was found that the misuse of these tools gives
rise to negative user discrimination, especially by geodiscrimination through geo-pricing and
geo-blocking, in addition to profiling for purposes prohibited in the General Data Protection
Law (LGPD), imposing an increase in disparity and hypervulnerability in consumer relations.

Keywords: Algorithmic discrimination. E-commerce platforms. Geodiscrimination.


Hypervulnerability.

Endereço para correspondência: Travessa São Benedito, 10, Centro, Lagoa Real – BA, Cep. 46.425-000.
1

Endereço eletrônico: deltonjulio9@gmail.com


1. INTRODUÇÃO

Nos últimos séculos o mundo experimentou vastas metamorfoses que ocasionaram o


avanço tecnológico, arbitrando mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais, ao oneroso
custo de guerras, genocídios e revoluções. A história moderna distingue quatro desses períodos,
chamando-os de revoluções tecnológicas, essas compõem um espaço de cerca de 250 anos que
produziram uma aceleração no desenvolvimento da ciência e a implementação de suas
conquistas no cotidiano das pessoas. O ponto de partida é a segunda metade do século XVIII
com a invenção do motor a vapor, e a continuidade na revolução industrial 4.0, situada em
meados dos anos 2000. Essa apontada por aplicações muito mais perfeitas, mais amplas,
profundas, complexas e sistêmicas, isso levou a provocar o desaparecimento das diferenças
entre as esferas física e digital.
Desse modo, a sociedade atual é cada vez mais dependente da inteligência artificial e do
uso de algoritmos para a realização de ocupações cotidianas. A internet das coisas ensejou a
intensificação da interação homem-máquina. Nesse sentido, o fenômeno da datificação permitiu
que experiências humanas fossem transmutadas em dados que a AI é capaz de interpretar. Desse
modo, ela está presente desde o ato simples de compra em uma plataforma digital, até processos
complexos que demandam um grau maior de subjetividade, como por exemplo, os carros
autônomos, aviões, decisões judiciais, concessões de créditos, entre outros. Entretanto, pouco
se discute sobre os possíveis malefícios advindos dessa tecnologia.
Dessa forma, o presente trabalho procura analisar as formas de discriminação
algorítmica presente no âmbito das plataformas digitais de consumo. Notadamente, acerca do
uso de dados sensíveis nas práticas mercatórias, principalmente as indevidas que acabam
agredindo não somente a legislação infraconstitucional, mas também princípios basilares da
Constituição Federal, como a liberdade, isonomia e a dignidade da pessoa humana. Não se visa
aqui a criminalização de condutas lícitas de mercado, muito menos etiqueta a inteligência
artificial como um mal a ser combatido, ao contrário, é nítido as inúmeras benesses acrescidas
por essa ferramenta. Porém, como será demonstrado a seguir, o uso irrestrito dessa tecnologia
pelo mercado eletrônico conduz a hipervulnerabilidade do consumidor.
Para Tal fim, realizamos um estudo crítico buscando identificar as principais práticas de
discriminação algorítmica cometidas no âmbito das plataformas virtuais. Por consequência,
selecionamos na literatura existente as classificações dessas condutas para melhor comparar a
relação de causalidade existente entre o viés algoritmo e a hipossuficiência do usuário,
descrevendo de forma crítica os efeitos e impactos jurídicos na esfera do consumidor. Dessa
forma, adotamos a metodologia dedutiva de revisão bibliográfica, com finalidade qualitativa o
que permitirá fomentar o debate acadêmico, de modo que seja possível analisar de maneira
crítica as ideias principais acerca da inteligência artificial e os malefícios na esfera dos direitos
do consumidor.
Primeiramente apontamos o conceito de algoritmo e de Inteligência artificial sobre a
perspectiva de diferentes autores. Logo após, apontamos como o surgimento da internet
permitiu a criação do e-commerce, o surgimento da economia de dados e das plataformas
digitais de consumo, como forma de melhor situar o âmbito de debate. Para em seguida tratar
do fenômeno do viés algoritmo e seu modus operandi.
É inequívoco os inúmeros benefícios acrescidos do progresso tecnológico, contudo, isso
não inibe de críticas os comportamentos que desvirtuam sua finalidade e acabam afetando
direitos fundamentais. Destarte, o sistema da tomada de decisão algorítmica tornou-se prática
comum e amplamente difundida, usamos para planejamento de tráfego, gerenciamento de
logística, diagnóstico de doenças e muito mais. Essas práticas, embora em um primeiro
momento possuem aspectos inofensivos, tem bastante potencial lesivo.
Portanto, é importante compreender essas novas praxes ofensivas à proteção
consumerista, estudar seus impactos jurídicos e possíveis formas de responsabilização. Haja
vista, que na modernidade as atividades estão cada vez mais complexas. Na sociedade de risco,
o direito deve modular as novas tendências para poderem proteger os mais vulneráveis,
principalmente o consumidor, tendo em conta que é objeto de tutela constitucional, art. 5º,
inciso XXXII, da CF/88.

2. O ALGORITMO E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (ARTIFICIAL


INTELLIGENCE)

Séculos atrás era inimaginável o uso de sistemas eletrônicos inteligentes para a


realização de atividades cotidianas. Todavia, presenciamos a era da Quarta Revolução
Industrial, ou Revolução 4.0, na qual a expansão da internet e dos instrumentos eletrônicos
concederam não somente a comunicação instantânea, mas também o surgimento da internet das
coisas. Destarte, grande parte dos objetos da nossa rotina está interligado à rede mundial de
computadores. Segundo Nilton C. S. Flores e Raphael S. A. Santos, a adoção de um conceito
de Inteligência Artificial (AI) acaba se tornando uma tarefa difícil e nebulosa:

A busca por uma definição incontroversa sobre o que seja Inteligência Artificial não
se mostra uma tarefa das mais fáceis, isso porque, o seu centro de discussão irradia-
se para diversas outras áreas de pesquisa – tais como a biologia, a psicologia, a
filosofia a matemática e a engenharia –, o que faz com que alguns autores trabalhem
conceitos tidos como indiscutíveis quando na verdade não o são. (FLORES;
SANTOS, 2020, p. 6).

Deste modo, o termo recebeu ao longo dos anos diferentes concepções, atualmente reúne
um amplo campo de pesquisa. Nas palavras do cientista da computação John McCarthy (1990),
a Inteligência Artificial é “a ciência e a engenharia de construir máquinas inteligentes”.
Entretanto, a principal relutância encontra-se na indagação a respeito do que seria inteligência,
dependendo do campo de conhecimento selecionado podemos chegar a distintos resultados,
mas ao contrário do pensamento comum à maioria das pessoas, a noção de criar uma
inteligência artificial não é contemporânea, muito menos do emprego de algoritmos para
facilitar processos.
Sempre que se fala em algoritmo automaticamente surge a idéia de uma tecnologia
advinda da modernidade, no entanto, sua concepção é tão antigo quanto a matemática, inclusive,
desvinculado da necessidade de um computador, exemplificando, no Antigo Egito, eles eram
aplicados na resolução de fórmulas matemática cuja finalidade era contribuir no controle do
nível da água do rio Nilo. Na filosofia estavam presentes nos pensamentos de Aristóteles e René
Descartes a possibilidade de o homem desenvolver objetos autômatos. Na literatura, a escritora
inglesa Mery Shelley produziu a obra “Frankenstein”, considerada por muitos a primeira obra
de ficção científica (ALENCAR, 2022).
Para o matemático e cientista da computação Alan Turing, as máquinas seriam
inteligentes quando conseguissem encenar o comportamento humano. Dessa forma, ele
desenvolveu o chamado “teste de Turing”, no qual consiste em testar a capacidade de uma
máquina simular comportamentos tidos como inteligentes semelhantes aos humanos. Para esse
fim, de acordo com Ana Catarina de Alencar:

Para dar conta desse problema, Turing propôs um experimento. Por meio do chamado
“teste de Turing”, três interlocutores conversariam entre si por um sistema. O
interlocutor “A” seria um entrevistado, enquanto o interlocutor “B” seria um
entrevistado e o interlocutor “C” um algoritmo que se passa por um ser humano.
Em síntese, a pergunta que o teste se propõe a resolver é a seguinte: “quando uma
máquina pode ser considerada inteligente”? E a sua resposta é: “sempre que ela
consiga simular o comportamento humano, confundindo seus interlocutores”
(ALENCAR, 2022, p. 8).

Em 2014 o “chatbot” de nome Eugene Goostman passou por um adolescente de 13 anos,


em evento organizado pela Universidade de Reading no Reino Unido, ele convenceu 33% dos
juízes presentes (BBC, 2014). Algoritmos computacionais já derrotaram diversos campeões
mundiais de xadrez, jogos de cartas, damas, gamão, entre outros (The Guardian, 2022).
Em suma, podemos definir o algoritmo como um conjunto de instruções, passos
organizados de forma sequencial, lógica que determina como algo deve ser feito, ou como
resolver um determinado problema. Dessa forma, simples atividades cotidianas como o passo
a passo para escovar os dentes podem ser entendidas como algoritmos. Contudo, o objeto deste
trabalho são os algoritmos executados em dispositivos computacionais. Esses funcionam como
um bloco de informações que permitem que instrumentos como computadores, smartphones,
servidores, sites, possam desempenhar suas funções. São eles que realizam todos os atributos
dessas ferramentas similares a uma receita predeterminada (MENDES; MATTIUZZO, 2019).
Thomas Cormen (2013) diferencia o algoritmo executado por humanos dos
computacionais. Segundo ele, quando um motorista executa o trajeto para o trabalho seguindo
as etapas de forma sequencial e lógica está aplicando um processo algorítmico. Diferente do
computacional, o ser humano consegue tolerar quando a tarefa é descrita de forma imprecisa,
porém o computador não tem este atributo. Dessa forma, caso o tráfego de veículos esteja ruim
o motorista poderá se locomover para a via alternativa, todavia, a concepção de tráfego ruim
possui uma carga subjetiva, que para o algoritmo computacional é extremamente difícil de ser
valorada, por essa razão necessita de uma descrição precisa do que seria ruim dentro daquela
situação fática. O autor ensina o funcionamento dos algoritmos computacionais, segundo ele:
um algoritmo é qualquer procedimento computacional bem definido que toma algum
valor ou conjunto de valores como entrada e produz algum valor ou conjunto de
valores como saída. Portanto, um algoritmo é uma sequência de etapas
computacionais que transformam a entrada na saída.
Também podemos considerar um algoritmo como uma ferramenta para resolver um
problema computacional bem especificado. O enunciado do problema especifica em
termos gerais a relação desejada entre entrada e saída. O algoritmo descreve um
procedimento computacional específico para se conseguir essa relação entre entrada
e saída.
Por exemplo, poderia ser necessário ordenar uma sequência de números em ordem
não decrescente. Esse problema surge com frequência na prática e oferece um solo
fértil para a apresentação de muitas técnicas de projeto e ferramentas de análise
padronizadas. Vejamos como definir formalmente o problema de ordenação:
Entrada: Uma sequência de n números ⟨a1, a2, ..., an⟩.
Saída: Uma permutação (reordenação) ⟨a′1, a′2, ..., a′n⟩ da sequência de entrada, tal
que a′1 ≤ a′2 ≤ ... ≤ a′n.
Por exemplo, dada a sequência de entrada ⟨31, 41, 59, 26, 41, 58⟩, um algoritmo de
ordenação devolve como saída a sequência ⟨26, 31, 41, 41, 58, 59⟩. Tal sequência de
entrada é denominada instância do problema de ordenação. Em geral, uma instância
de um problema consiste na entrada (que satisfaz quaisquer restrições impostas no
enunciado do problema) necessária para calcular uma solução para o problema.
Como muitos programas a utilizam como etapa intermediária, a ordenação é uma
operação fundamental em ciência da computação e, por isso, há um grande número
de bons algoritmos de ordenação à nossa disposição. O melhor algoritmo para
determinada aplicação depende — entre outros fatores — do número de itens a
ordenar, do grau de ordenação já apresentado por esses itens, das possíveis restrições
aos valores dos itens, da arquitetura do computador e do tipo de dispositivo de
armazenamento que será utilizado: memória principal, discos ou até mesmo fitas.
Diz-se que um algoritmo é correto se, para toda instância de entrada, ele parar com a
saída correta. Dizemos que um algoritmo correto resolve o problema computacional
dado. Um algoritmo incorreto poderia não parar em algumas instâncias de entrada ou
poderia parar com uma resposta incorreta. Ao contrário do que se poderia esperar, às
vezes os algoritmos incorretos podem ser úteis, se pudermos controlar sua taxa de
erros (CORMEN, 2012, p. 3.

Segundo Berlinski (2002) os algoritmos são instruções precisas, porém entre sua
característica está a finitude, ou seja, em algum momento chegará ao fim sua capacidade de
determinar ações coerentes. Logo, expressões como bom ou ruim possuem uma carga de
subjetivismo e valoração praticamente impossível de ser descritas em todas as suas formas
através de dados, visto que exigiria prever todas as diretrizes ou instruções para aquela situação.
Consoante Mendes e Mattiuzzo (2019), o indeterminismo de certas expressões dificulta a
análise concisa. Dessa forma, ao realizar uma compra na internet, um consumidor com a
intenção de adquirir o “melhor smartphone” se depara com uma série de hipóteses em torno
desse termo, “melhor”, ele pode ser o mais barato, o mais tecnológico, o que tem um excelente
custo-benefício. Apesar disso, nas últimas três décadas a evolução tecnológica vem
demonstrando ser viável a execução de tarefas complexas com alto grau de valoração.
Assim, decisões como escolha de um currículo entre vários para admissão de um
trabalhador, a probabilidade de reincidência de um condenado, a admissão de um recurso pelo
tribunal, já há relatos de seu emprego até mesmo com fins bélicos. Portanto, na
contemporaneidade, algumas máquinas possuem a Machine Learning, ou seja, capacidade de
aprender por imensos bancos de dados. A inteligência artificial é definida, de maneira sucinta,
como a aptidão de dispositivos computacionais executarem tarefas típicas da inteligência
humana, isto é, compreensão, raciocínio, aprendizado, reconhecimento, entre outras. Portanto,
essa categoria de algoritmo possui como diretriz preestabelecida a capacidade de
interpretar dados, semelhante ao cérebro humano, aliás, esse modelo de aprendizagem baseou-
se nesse órgão.
Para haver aprendizagem é fundamental um amplo banco de dados, se um algoritmo
busca aprender como identificar um cachorro por imagens, é indispensável os dados das
características do animal de maneira prévia. Isso é, cria-se um padrão que pode ser usado para
comparar os dados existentes com a situação fática. Todavia, esse modelo de aprendizagem
possibilita falhas, para ilustrar, em 2018 a empresa Uber estava testando seus carros autônomos
de entrega, estes utilizavam a tecnologia GPS para se localizar, e diversos sensores que
possibilitavam identificar os objetos ao redor em 360°, adicionalmente dispositivos lasers e
radares contribuíam para o sistema. A par de todos esses dados eram possíveis os algoritmos
identificarem obstáculos, distâncias, e realizarem ações para evitar acidentes. Contudo, nada
disso impediu o sinistro, uma senhora foi morta ao atravessar a rua fora da faixa de pedestre, o
algoritmo detectou a vítima antes de atropelá-la, mas decidiu não parar e não reagiu
imediatamente para evitar o acidente (G1, 2018).
Isso denota que mesmo com quantidade enorme de informações e recursos as máquinas
não conseguem ter a mesma capacidade de raciocínio humano. O emprego dessas ferramentas
movimenta um mercado multimilionário, a finalidade principal é a substituição das decisões
humanas pelas das máquinas, tendo em vista que seriam mais eficientes e justas. O anseio pelo
desenvolvimento frenético de tais tecnologias corroboram para seu emprego imediato.
A sociedade atual, geralmente centrada na visão utilitarista, acaba aceitando de forma
tácita questões de cunho ético e jurídicos ainda pouco discutidas. Consoante Alexandre de
Morais da Rosa, é fundamental uma transformação digital do direito, cuja finalidade seria a
introdução no ambiente forense de fontes de informações claras para auxiliar no processo
decisório. Para Ana Frazão (2018) é difícil julgar de maneira ética e juridicamente o que pouco
se conhece. Segundo ela, a falta ou insuficiência de informações sobre seu poder de ação e
predição constituem verdadeiras “caixas pretas”.
Nesse sentido, os usuários que sofrem as consequências da referida decisão têm direito
de conhecer esse procedimento, o segredo industrial não pode ser impeditivo para evitar a
transparência e o acesso à informação, muito menos alavanca para práticas ofensivas a direitos
fundamentais. Para esse propósito o legislador pátrio criou a Lei nº 13.709, de 14 de agosto de
2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD) buscando conceder mais transparência
e proteção aos dados dos consumidores.

3. O COMÉRCIO ELETRÔNICO (E-COMMERCE), PLATAFORMAS DIGITAIS DE


CONSUMO E A ECONOMIA DE DADOS (DATA-DRIVEN ECONOMY)

O surgimento da internet no final dos anos 50 nos EUA conseguiu revolucionar a


comunicação e as diversas áreas humanas, visto que se tornou possível a troca de dados em
milésimos de segundos. Dessa forma, as extensões do nosso planeta não são mais obstáculos
para a troca de informações. No início, essa tecnologia tinha como objetivo o desenvolvimento
de uma rede de comunicação para as localidades mais remotas do sistema de defesa norte-
americano, já que estávamos no período da guerra fria (GOETHALS; AGUIAR; ALMEIDA,
2000).
Com isso ficou a cargo da ARPA (Advanced Research Projec Agency), a criação de
uma rede descentralizada que admitisse a comunicação entre computadores híbridos para em
caso de ataques formasse uma rede de comunicação alternativa. Apesar da origem
eminentemente militar nas décadas seguintes foi empregada na área acadêmica, posteriormente
por volta de 1987 com escopo comercial, difundindo para o que é atualmente. O avanço
tecnológico outorgou a transformação das transações e o surgimento da chamada economia de
dados, em inglês, data-driven economy, destarte, a informação no capitalismo se transformou
em commodity.
No Brasil é datado os primeiros registros em 1988 com caráter acadêmico, era utilizada
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo. Em 1995 foi autorizado o uso comercial, a partir desse ponto houve uma expansão
para todos os estados da federação. O funcionamento da internet consiste em interligar os
bilhões de dispositivos existentes, permitindo a comunicação entre esses aparelhos.
Assim sendo, quando diversos dispositivos estão interligados entre si, comungando
dados há uma rede, a ligação entre diversas redes forma o sistema global de comunicação
denominado como internet. Não se trata de uma única rede, mas de várias com abrangência
locais, regionais e internacionais, essas interconexões podem usar cabos ou sinais de ondas
(KELLER; VAZ; DA SILVA SANTANNA, 2020). Toda essa estrutura possibilitou o
surgimento do e-commerce (comércio eletrônico), este abrange as relações de negócios
concretizados por plataformas digitais, sites, destinados à venda de bens e serviços realizados
através da internet. Dessa maneira, basta que o consumidor esteja conectado à internet, para
poder realizar aquisições. (TEIXEIRA, 2015).
A aplicação da internet para fins comerciais, aliado à sua difusão com a globalização,
fez com que práticas comerciais até então limitadas pelo meio físico passassem a ser
transacionadas no ambiente virtual. Dessa forma, produtos e serviços são comercializados sem
que necessite de um contato físico entre comprador e vendedor. Para Kalakota e Whinston
(1996) ele é a compra e venda de produtos, serviços e informações através das redes de
computadores.
Porém, para Connolly (1997), essa é apenas a ponta do iceberg, é mais que apenas a
troca de dinheiro, para ele inclui pesquisa, desenvolvimento, marketing, publicidade,
negociação, vendas e suporte, entre uma variedade de elementos. Ele elenca a novidade do
sistema e o valor do investimento em experimentar a tecnologia da informação, como uma das
causas que levaram a criação dos primeiros websites para o comércio eletrônico. Assim, com a
evolução das redes houve o declínio dos custos de entrada no setor e o aumento do fluxo de
dados, tornando viável o “Web econômico”.
Nas palavras de Gilles Lipovetsky (2006), a sociedade atual é marcada pelo
hiperconsumo, fruto de três grandes fases. A primeira, que se iniciou no século XIX até o final
da Segunda Guerra Mundial, teve um grande desenvolvimento na logística de transportes,
expansão da produção e ampliação dos mercados, nascimento das embalagens, da publicidade
e das marcas. A segunda é um desdobramento da primeira, dos anos de 1945 a 1980, há uma
democratização de acesso a produtos, a “sociedade de consumo” em massa passa a se tornar
um projeto político, adota-se uma filosofia de que a felicidade estaria no consumo. Por fim, a
terceira fase tem início na década de 1980, a principal característica é o desenvolvimento do
"hiperconsumo", o autor destaca a diversificação de ofertas, não mais somente de produtos, mas
também de serviços, primordialmente os de entretenimento e mídia.
Conforme Herbert Simon (1971) “Uma riqueza de informações cria uma pobreza de
atenção”. Como resultado, o ambiente virtual constatou o aumento de filtros de dados e
instrumentos analíticos projetados para otimizar o uso da Internet. A economia de escala e
efeitos de rede tradicionais baseados em dados caracterizaram a evolução dos sistemas online
e levaram ao surgimento das principais plataformas digitais. Embora essa dinâmica seja bem-
vinda quando se trata de entregar maior eficiência, inovação e qualidade, a realidade nem
sempre é tão impressionante.
Com escala e poder as distorções surgem inevitavelmente, pois as principais plataformas
possuem monopólios de dados, desse modo usam suas posições privilegiadas para controlar o
fluxo de informações e dados para apoiar seus próprios negócios. A descentralização do
mercado o torna atrativo, porém por trás dessa fachada podem-se identificar distorções com o
potencial de minar alguns dos benefícios que se espera que o mundo online ofereça (EZRACHI;
STUCKE, 2018).
Portanto, embora as grandes plataformas não excedam nos preços cobrados por seus
serviços, diferentemente dos monopólios antes existentes na economia física, invadem o âmbito
de privacidade e autonomia do indivíduo, passando a ser um risco (EZRACHI; STUCKE,
2018). Com efeito, mesmo os serviços ditos “gratuitos” há sempre o risco de segundas
intenções. Ana Frazão e Carlos Goettenauer (2022), diferencia o mercado tradicional dos
mercados em plataformas, para eles no tradicional as empresas se valem de fornecedores para,
em seguida, revender ou repassar o serviço para o fornecedor, por outro lado, no mercado em
plataforma há uma intermediação realizada pela empresa, esta liga o fornecedor do serviço e
seu consumidor, de modo que ela fornece a infraestrutura para a relação entre os dois polos,
sem assumir internamente os riscos da transação.
A inteligência artificial passou a ser um risco para as democracias atuais, para ilustrar,
o pleito para presidência dos Estados Unidos da América, em 2018, ficou amplamente marcado
pelo escarcéu do emprego ilegítimo de dados apoiados pela inteligência artificial para
manipulação o eleitorado (THE GUARDIAN, 2018). A disseminação de informações falsas
(fake News), aliado a perfilagem das pessoas corrobora para manipulação da opinião do
eleitorado. Plataformas como a Google, apesar de oferecer uma infinidade de serviços sem a
necessidade de pecúnia, acabam captando informações do usuário, na era da informação elas
são o minério mais valioso.

4. PRINCIPAIS PRÁTICAS DE DISCRIMINAÇÃO ALGORÍTMICA NO ÂMBITO


DAS PLATAFORMAS VIRTUAIS DE CONSUMO

A princípio o termo discriminação é comumente empregado para expressar ideia de


exclusão e injustiça, cabe ressaltar a palavra tem dupla acepção, uma positiva e outra negativa.
A discriminação positiva está ligada a busca pela isonomia material. Nesse sentido, são
exemplos as ações afirmativas, reconhece-se uma situação fática de desigualdade em que a
equidade entre as partes somente será possível caso ocorra tratamento desigual. É a pedra de
toque do princípio da isonomia material, dar tratamento igual aos iguais e desigualmente aos
desiguais, na medida de suas desigualdades, possui status constitucional, sendo cultuado nos
Estados Democráticos de Direito (NERY JUNIOR, 1999). Assim sendo, o Estado cria leis,
benefícios e incentivos, a exemplo da Lei 11.340/2011 (Lei Maria da Penha), Lei 8.078/1990
(Código de Defesa do Consumidor), das cotas em universidade e concurso público, dos
incentivos fiscais para as pequenas e médias empresas, entre outros.
Porém, o foco do presente trabalho está na discriminação negativa, especificamente na
causada pelos algoritmos computacionais na esfera de consumo. Esse fenômeno, conhecido
como "viés algorítmico" ou "discriminação algorítmica", consiste na diferenciação injusta ou
exclusão realizada por algoritmos, seja porque foram programados para operarem assim ou por
erro estatístico. Na era da computação eles são cada vez mais complexos e sofisticados, uma
das suas funções é resolver problemas ou realizar julgamentos baseados em dados estatísticos,
a carga de valoração dos algoritmos está cada vez maior, estes conseguem realizar atividades
de classificação, ranqueamento de perfis, entre outras (MENDES; MATTIUZZO, 2019).
Para Barocas e Selbst (2016), uma das causas de exclusão causada pela inteligência
artificia consiste na análise de dados imprecisos, inverídicos, ou que representa uma “verdade
objetiva”, esta é conceituada como a transição de uma discriminação real para dados estatísticos
de modo que o algoritmo não consiga fazer uma análise subjetiva. Tal como o fato de mulheres
ganharem menos que homens mesmo ocupando igual função, sabemos que este fenômeno é
fruto de fatores históricos de exclusão. Todavia, um algoritmo pode entender que elas são
menos competentes visto os dados objetivos transformando em “verdades objetivas”. São
práticas discriminatórias no comércio virtual, segundo as bibliográficas nacionais, a
perfilização, geo - tarifação e geoblocking.

4.1 PERFILIZAÇÃO (PROFILING)

Perfilização é uma palavra que deriva do termo em inglês profiling, cujo significado é
“o ato ou processo de extrapolar informação sobre uma pessoa baseado em traços ou tendências
conhecidas” (ZANATTA, 2019). A criação de perfil é definida como o registro e classificação
sistemática e intencional de dados relacionados a indivíduos, um perfil é, portanto, uma
compilação de dados referentes a uma pessoa. Na era do Bigdata houve uma expansão dos
metadados, isso fez com que os algoritmos explorassem padrões correlatos de dados, assim,
produzem novos conhecimentos a partir de uma fonte de informações existentes. Para Rafael
A. F. Zanatta (2019), esse processo envolve as seguintes etapas (i) registro de dados, (ii)
agregação e monitoramento de dados, (iii) identificação de padrões nos dados, (iv) interpretação
de resultados, (v) monitoramento dos dados para checar resultados e (vi) aplicação de perfis.
O Wall Street Journal, publicou um artigo em 2010 no qual seguradoras da cidade de
Nova York estavam definindo o preço de suas apólices através de análise dos perfis das redes
sociais dos clientes. Desse modo, aquelas pessoas que postam fotos fumando, praticando
esportes radicais, ou qualquer hábito de vida considerado arriscado para a IA teria um aspecto
considerado propenso a maiores gastos e menores lucros para essas companhias. Não obstante,
se a pessoa exibisse fotos na academia, com um dispositivo de rastreamento de
condicionamento físico ou comidas saudáveis, teriam um preço pelo serviço menor em relação
ao que tinha estilo de vida tido por mais arriscado.
Matthias Leese (2014) ao estudar as “caixas pretas dos algoritmos” e o fracasso das
salvaguardas antidiscriminatórias na União Europeia, sustenta que o crescente uso de sistemas
algorítmicos dinâmicos seriam menos visíveis e rastreáveis, levando à diminuição da
responsabilização, em outras palavras, essas ferramentas estão mais ocultas e sensíveis. Com a
internet das Coisas há um aumento dos metadados, seus dispositivos podem captar, armazenar
e compartilhar uma grande variedade de informações, o que permite a criação de perfis mais
detalhados dos usuários.
Com o avanço das decisões automatizadas, o regime jurídico buscou maneiras de
proteção dos consumidores. Consoante Rafael A. F. Zanatta “o direito de requerer uma
explicação, em segunda instância, sobre uma decisão automatizada e o direito de obter uma
auditoria externa sobre aspectos discriminatórios dos algoritmos, como os de credit scoring”.
Observou o autor que a nossa Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/2018) não
trouxe um conceito jurídico de perfilização, diferentemente dos conceitos de dados pessoais,
dados pessoais sensíveis, tratamento, titular, controlador, operador, encarregado, anonimização,
consentimento, bloqueio, transferência internacional. Vale lembrar, essa prática não é
considerada ilícita desde que não extrapole a finalidade, adequação e necessidade do uso dos
dados, nesse sentido a LGPD inovou com importantes institutos que reforçaram o sistema de
proteção, conforme o princípio da isonomia inseriu no seu art. 6, o princípio da não
discriminação vedando práticas de tratamento de dados para fins discriminatórios ilícitos ou
abusivos.
Nessa esteira, Rafael A. F. Zanatta (2019) identifica três obrigações derivadas da
perfilização. A primeira de índole informacional, caracterizada como a obrigação de dar ciência
da existência do perfil e garantir sua máxima transparência. A segunda de natureza
antidiscriminatórias, ligada à obrigação de não utilizar parâmetros de raça, gênero e orientação
religiosa como determinantes na construção do perfil. Por último, a dialógica, esta consiste na
obrigação de se engajar em um “processo dialógico” com as pessoas afetadas, garantindo a
explicação de como a perfilização funciona, sua importância para determinados fins e como
decisões são tomadas, já que esses são os destinatários da decisão.
A principal crítica sustentada pela doutrina é o aumento da vulnerabilidade das minorias
nas relações consumeristas. A exemplo das seguradoras nova-iorquinas, grupos como os idosos
podem ser identificados como mais predispostos a utilização de planos de saúde, levando assim
ao aumento do preço do serviço, assim dados etários, de locomoção em farmácias e ambientes
hospitalares podem ser processados durante a criação do perfil do usuário, inclusive, para uma
análise utilitarista que visa o lucro. Nesse diapasão, o direito constitucional à saúde e a não
discriminação do consumidor estaria afetado, violando os padrões mercadológicos de boa-fé
nas relações de consumo.
O viés algoritmo pode ser encontrado desde a origem do desenvolvimento do produto,
colocando grupos específicos em risco de vida. A vista disso, os cintos de segurança, apoios de
cabeça e airbags em carros são projetados mormente com base em dados coletados de testes em
manequins assimilados ao físico masculino. Desse modo, os seios das mulheres e o estado de
gravidez não entram nas medidas consideradas padrão. Como resultado, as mulheres têm 47%
mais chances de saírem seriamente feridas, 17% mais probabilidade de morrerem em relação
ao homem em um acidente semelhante (NIETHAMMER, 2020).
Nas plataformas digitais é comumente utilizado a perfilização para criar anúncios
personalizados por cookies, esses são ferramentas usadas para melhorar a experiência do
usuário porque deixa salvo na página acessada preferências do internauta, porém, permitir a
extração de informações e modulação do seu comportamento. O consentimento do usuário é a
manifestação livre, informada e inequívoca pela qual o titular concorda com o tratamento de
seus dados pessoais para uma finalidade determinada. A destinação desses dados para fins
diversos, de acordo com Ana Frazão, leva a uma perda de liberdade do consumidor. Assim
dizendo, há uma ausência de livre arbítrio do consumidor, já que seu comportamento nas redes
é moldado por algoritmos. Afirma Shoshana Zuboff (2018), o “capitalismo de vigilância” busca
modificar o comportamento humano como meio de produzir receitas e controle de mercado.

4.2 PRECIFICAÇÃO PERSONALIZADA

No século XIX, ao comprar um produto era comum o preço ser estipulado segundo as
vestes e feição do consumidor (KOGA,2021). Atualmente, os preços são expostos por etiquetas,
não exercendo mais qualquer influência no quantum as especificidades do comprador. Com a
ampliação dos mercados digitais, principalmente nas duas últimas décadas, as grandes
plataformas de comércio eletrônico delimitam os preços dos produtos e serviços ofertados
através de algoritmos de precificação, esses, consoante Ana Frazão e Carlos Goettenauer
(2022):
são aqueles que utilizam o preço no processo de geração contínua de conhecimento
computacional, seja a partir da coleta de dados relativos ao preço, seja por meio da
formulação de políticas de atribuição de preço a produtos como objetivo específico
ou seja, por fim, pela indução de comportamentos à adequação das ofertas
apresentadas.

Entendemos que a precificação por algoritmos não é nada ruim, como elucida Frazão e
Goettenauer, citando um estudo empírico realizado no início do século XIX, sobre o mercado
automotivo americano, constatou-se que minorias étnicas (afro-americanos, hispanos e nativos
norte-americano) pagavam aproximadamente 2% a mais por veículo comprados no varejo
tradicional, nas plataformas digitais essa desigualdade não ocorria. No nosso país, no campo da
saúde, o Google conseguiu detectar epidemias de gripe antes mesmo do Sistema Único de
Saúde, graças a análise de dados do buscador. Contudo, em certas conjunturas é inequívoco as
mazelas concebidas pela distorção da finalidade desses instrumentos.
Em 2012 o consumidor ao acessar o site da agência de viagens norte-americana Orbitz
com um aparelho da Apple pagava 30% a mais em suas compras em relação aos demais clientes
(WALKER, 2017). O algoritmo da plataforma tomava como parâmetro para a diferenciação os
dados obtidos por Cookies. Não negamos que a inteligência artificial possa beneficiar os
consumidores em algumas situações, há diversos mecanismos de busca na rede que ajudam a
escolher o melhor preço. Todavia, em concordância com Ezrachi e Stucke (2018), os
computadores em conluio é um perigo, embora as leis de longa data impeçam as empresas de
fixar preços, os algoritmos orientados por dados agora podem monitorar rapidamente os preços
dos concorrentes e ajustar seus próprios preços de acordo, isso, sob certas condições de
mercado, também levar a conluio tácito.
Então, o que é aparentemente benéfico, maior transparência de preços ironicamente
pode acabar prejudicando os consumidores. Um segundo perigo é a discriminação
comportamental, assim, as empresas rastreiam e traçam o perfil dos consumidores para levá-
los a comprar mercadorias pelo preço mais alto que estão dispostos a pagar. A ascensão das
superplataformas e seu relacionamento de inimizade com desenvolvedores de aplicativos
independentes levanta um terceiro perigo. Ao controlar as principais plataformas (como o
sistema operacional dos smartphones), os monopólios orientados por dados ditam o fluxo de
dados pessoais e determinam quem pode explorar potenciais compradores.
Os algoritmos podem alterar a dinâmica do mercado e facilitar o conluio tácito, preços
mais altos e maior desigualdade de riqueza. Em tal realidade, as empresas podem ter um
incentivo distinto para mudar as decisões de preços de humanos para algoritmos. Por isso que
políticas públicas precisam criar freios e contrapesos para diminuir os riscos de conluio
algorítmico tácito e impedir vantagem manifestamente excessiva, que nos termos do CDC é um
comportamento abusivo. O télos do diploma consumerista é a possibilidade de regular o
equilíbrio de interesses, principalmente o de índole patrimonial. Busca evitar circunstâncias que
colocam o consumidor em desvantagem exagerada, já que carrega potencial para ferir a boa-fé
objetiva e a equidade.

4.3 GEO-PRECIFICAÇÃO (GEOPRICING) E GEO-BLOQUEIO (GEOBLOCKING)

Temos atualmente como consumidores a falsa percepção que somos “cidadãos da rede”
global. Consequentemente, diferente do que ocorria antigamente, ficamos mais sensíveis à
precificação geográfica, principalmente as relacionadas a mídias digitais. Outrora conteúdos de
entretenimento, como filmes, músicas e livros, eram comercializados a preços definidos dentro
de determinada divisa, sem se importar o consumidor com o preço que o mesmo item era
comercializado para fora daqueles limítrofes, isso ainda é uma realidade, porém, cada vez mais
ameaçada pela internet.
Diz Justinm Malbon (2016) que “um e-mail para um vizinho exige o mesmo esforço
financeiro de alguém do outro lado do planeta”. Desse modo, o custo de produção, sobretudo
de transmissão dos entretenimentos digitais pela internet são mormente os mesmos para
diferentes localidades. Apesar da existência de inúmeros mercados, a rede mundial de
computadores transmite a ideia de unicidade.
A discriminação geográfica é geralmente implementada através de duas práticas
diferentes. A primeira forma ocorre pela manipulação da estrutura de código do algoritmo
utilizado para selecionar e disponibilizar ofertas aos consumidores na rede internacional de
computadores. As empresas de tecnologia da informação contam com esses algoritmos para
processar grandes quantidades de dados, a estrutura de código dos algoritmos contém instruções
programadas para que a tecnologia facilite a disponibilização de ofertas adequadas aos
consumidores de acordo com seu perfil. No entanto, em muitos casos as empresas registram
informações sobre a origem geográfica do consumidor, utilizam os proxy de origem nacional
para discriminar consumidores, bloqueando ofertas ou aumentando o preço dos produtos em
detrimento de consumidores de diferentes nacionalidades, bastante presente no mercado
hoteleiro.
A precificação geográfica é a precificação de diferentes ofertas com alicerce na gênese
geográfica do usuário. A literatura econômica cita como uma forma de discriminação de preços,
nada mais do que o exercício comercial de vender a mesma mercadoria a preços diferentes para
consumidores de diferentes localidades. O bloqueio geográfico ou geo-bloqueio é definido
como um grupo de práticas comerciais que impossibilitam determinados clientes de ter acesso
e/ou adquirir produtos ou serviços ofertados por meio de uma interface online com suporte na
localização do cliente. Acrescente-se que tal bloqueio pode ser executado de diversas formas,
como bloqueio direto de determinado conteúdo na interface online (bloqueio geográfico
estrito), redirecionar os consumidores para uma interface diferente, restrição de cadastro na
interface online, recusa de entrega de um produto em determinado local, recusa de pagamento
ou meio de pagamento de um determinado estado, ou localidade, entre outros (FORTES;
MARTINS; OLIVEIRA, 2021). Nesse sentido, são abusivas a elevação de preço sem justa
causa para produtos ou serviços, busca-se tutelar a relação pré-contratual ou produtos e serviços
tabelados. Quanto a alteração do preço do produto pelo critério de localização do comprador é
importante salientar que não se trata de frete.
Recentemente o Ministério Público acusou a empresa Decolar.com de priorizar
consumidores estrangeiros através do georreferenciamento (JOTA, 2018). Essas espécies de
discriminação, conforme o vanguardista Código de Defesa do Consumidor, art. 39, são
consideradas práticas abusivas, anticompetitiva, além do mais atenta conta o princípio da boa-
fé objetiva. Visando resguardar o interesse difuso dos consumidores o Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro ajuizou a Ação Civil Pública n.º 0111117-27.2019.8.19.0001, no qual
narra detalhadamente este tipo de prática, a tabela abaixo foi retirada dos autos da ação em
comento:
Hotel Preço (Brasil) Preço (Argentina) Diferença
Fasano (São Paulo) US$ 619,71 US$ 413,75 49 %
Tulip Inn Rio US$ 136,65 US$ 95,66 42 %
Belmond US$ 541,53 US$ 386 40 %
Copacabana Palace
Ramada (Recife) INDISPONÍVEL US$ 98,83 N/A
Best Western US$ 82,09 US$ 60,26 36 %
(Recife)
Safari (Natal) US$ 54,18 US$ 38,77 39 %
Petras (Curitiba) US$ 59,93 US$ 45,55 31 %

É evidente a disparidade de preços, consumidores brasileiros interessados em reservar


quartos de hotel para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 tiveram algumas opções
bloqueadas e outras com preço muito superior em comparação aos consumidores argentinos.
Apesar de alguns estudiosos sustentarem que do ponto de vista legal não haver nenhum ato
normativo que trate expressamente sobre o assunto, é inegável que o art. 6, II, do CDC, traz
como direito básico do consumidor a não discriminação, a liberdade de escolha e a igualdade
nas contratações. O inciso III, do mesmo artigo, cria a obrigação de fornecimento de
informações adequadas, transparência, o IV a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva
e os métodos comerciais coercitivos ou desleais. A LGPD incorporou a legislação pátria o dever
de boa-fé, não discriminação, prevenção, segurança, transparência, livre acesso ao tratamento
de dados, regras que são aplicadas a todos os dados pessoais coletados no território nacional. A
coleta é considerada nacional quando o titular, pessoa natural a quem se referem os dados que
são objeto de tratamento, esteja em território nacional.
Outrossim, a falta de um diploma legal específico sobre as práticas de geoprecificação
e geobloqueio não impede a atuação estatal, já que as ilegalidades da geodiscriminação violam
os alicerces gerais de proteção consumerista e o marco civil da internet, este permite a aplicação
das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na internet
(art. 7, XIII, da Lei 12.965/2014). Em relação à geodiscriminação, não há desculpa aceitável
para a diferenciação, maiormente quando examinada no caso Decolar.com, onde o custo do
serviço prestado, hospedagem, não é influenciado pela nacionalidade do consumidor, já que o
serviço será prestado no mesmo local pelo mesmo fornecedor, não sendo assim relevante a
localização do cliente.
O inciso IX, do art. 39, do CDC, veda a prática de recusar a venda de bens ou a prestação
de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,
ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais. No cenário do viés
algoritmo, a recusa de venda pode surgir de forma indireta, como na filtragem do produto. Desse
modo, é possível que um produto disponível no mercado e de interesse do consumidor se torne
inacessível justamente pelos dados do sistema. É comum que consumidores de serviços de
streaming façam valer-se da tecnologia VPN (Virtual Private Network), em tradução literal -
Rede Privada Virtual - para acessarem produtos e serviços que somente são disponíveis por
essas empresas em determinados países.
Consoante o inciso II, do art. 39, do CDC, é abusiva a prática de recusar atendimento às
demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e ainda, de
conformidade com os usos e costumes. Aqui o fornecedor tendo disponível o produto ou
capacidade de executar o serviço não pode sonegar de fornecer, com isso, evita que a falsa
escassez possa ser utilizada para fundamentar preços descabidos. Nesse aspecto, constitui crime
contra as relações de consumo a conduta de sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-
los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim
de especulação, nos termos do inciso VI, do art. 7°, da Lei 8.137 de 1990.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se inferir que a sociedade digital usufrui dos bons frutos da inteligência artificial,
a revolução tecnológica ocorreu em ritmo acelerado, em contrapartida, questões éticas e
jurídicas acabam sendo negligenciadas. Em alguns casos são utilizados uma perspectiva
utilitarista, desprezam-se os impactos negativos em prol dos positivos de modo tácito. Adota-
se a datificação, assim, experiências humanas se convertem em dados, decisões complexas com
alto nível de subjetividade viram números e operações aritméticas. Esse fenômeno pode levar
a discriminação algorítmica nas plataformas de consumo caso adotado um viés desproporcional
sem respeito a legislação e as boas práticas mercatórias.
A crescente subjetividade das decisões da AI não significa mais justiça em seu
julgamento, apenas maior discricionariedade. É notório que os algoritmos trouxeram inúmeras
benesses, porém isso não evita que em determinadas situações haja violação de direitos,
consequentemente colocam pessoas em circunstâncias ferrenhas, como visto, são modelos a
geodiscriminação, a precificação personalizada e a perfilização do consumidor de forma
desproporcional. Práticas essas que se não seguirem os limites impostos pela LGPD e o
ordenamento jurídico como um todo acarreta o desequilíbrio da relação contratual, ocasionando
atos ilícitos.
Por isso, mostra-se imprescindível o estudo dos seus impactos, não somente para
identificar e analisar novos danos e formas de proteção do consumidor, mas também para a
adequação das empresas que atuam no setor. Os algoritmos computacionais são recentes e estão
em constante expansão, há um campo fértil e virgem sobre as práticas abusivas decorrentes
dessa tecnologia. Se a Inteligência artificial é responsável por decidir algo que tenha impacto
nas nossas vidas, nada mais justo que tenhamos o direito de fiscalizar e sermos informados de
maneira transparente sobre o processo de tomada de decisão.
Assim, buscamos demonstrar como essas máquinas reproduzem discriminações
humanas negativas. Na sociedade de massa os efeitos desse fenômeno são incalculáveis. No
setor privado, as decisões podem afetar seriamente os consumidores pertencentes às camadas
mais vulneráveis da sociedade. A título individual não apresenta ser um grande problema a
pessoa pagar 5% a mais no preço de um smartphone comprado em uma plataforma de e-
commerce. Todavia, mostra-se de grande lesividade se as camadas mais vulneráveis da
sociedade pagam valores distintos simplesmente por pertencerem a esses grupos, são
inadmissíveis a diferenciação de preços por algoritmo e a criação de castas pelos mesmos.
A LGPD é o instrumento jurídico mais relevante para combater a discriminação ilegal,
se efetivamente aplicada pode ajudar a proteger as pessoas. Mas alguns tipos de decisões
algorítmicas escapam às leis atuais, principalmente aquelas originarias de algoritmos
complexos com capacidade de causar exclusões silenciosas, difíceis de serem comprovadas na
esfera judicial. Por isso seria interessante adotarmos leis específicas para cada área, como a
segurança do trabalho, proteção ao consumidor, meio ambiente, ente outas. Em diferentes
setores, os riscos mudam, e diferentes normas e valores estão em jogo. Portanto, a proteção
ideal deveria ser específica para cada setor.
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