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SEMINÁRIO CARA DE LEÃO

ANÁLISE DO ANTIGO TESTAMENTO II

Maurilio da Silva Júnior

SETENTA SEMANAS DE DANIEL

RIO DE JANEIRO
2023
Maurilio da Silva Júnior

SETENTA SEMANAS DE DANIEL

Trabalho apresentado da disciplina de Análise


do Antigo Testamento II Seminário Cara de
Leão.

Fap: Pr. Tomás Avelino

RIO DE JANEIRO
2023
As setenta semanas de Daniel como ficou conhecida, é um dos temas mais
polêmicos e debatidos entre os estudiosos devido a sua grande dificuldade de
interpretação.

No capítulo 9 do livro do profeta, Daniel nos mostra o que havia descoberto


estudando as profecias de Jeremias (Jr 29:10-14), que o tempo de cativeiro do povo
judeu na Babilônia duraria 70 anos.

Ao fazer tal descoberta, Daniel percebeu que o momento em que estava


vivendo já era a véspera do tão aguardado fim do exílio. Então percebeu ainda, que
o fim do exílio também estava diretamente relacionado ao arrependimento de seu
povo durante o período em que ficaram cativos.

Entretanto, ao analisar a situação de seu povo na Babilônia, Daniel concluiu


que o povo ainda estava impenitente. Então, se preocupou, pois ele entendia a
relação pactual do Senhor com seu povo, ou seja, onde bênçãos eram vistas na
obediência, e maldições na desobediência.

Foi neste cenário que Daniel orou ao Senhor. Sua oração consistiu
primeiramente em adoração a Deus por sua fidelidade e soberania, depois ele
confessou o seu pecado e o pecado de seu povo, também reconheceu a justiça de
Deus em seu julgamento do pecado, e, finalmente, fez uma grande suplica para que
o Senhor, pela sua misericórdia, restaurasse a cidade de Jerusalém tirando seu
povo do exílio.

A Bíblia diz que enquanto ele ainda orava, o anjo Gabriel veio ao seu encontro
com uma grande mensagem da parte do Senhor (Dn 9:21), onde lhe foi revelado os
propósitos de Deus acerca do futuro, e que seriam cumpridos durante 70 semanas.

O anjo Gabriel falou a Daniel que 70 semanas estavam determinadas sobre o


seu povo (Dn 9:24). O próprio anjo, na descrição da visão, organiza as setenta
semanas em três subdivisões: primeiramente 7 semanas, depois mais 62 semanas
e, por último, mais 1 semana.

Gabriel também fez referência a pelo menos dois personagens principais: o


primeiro aparece no versículo 25, e é o Ungido, também denominado como
“Príncipe”. Já o segundo aparece no versículo 26, e trata-se de um príncipe que
lidera um povo que destruiria a cidade e o santuário. A identificação destes dois
personagens da profecia varia nas mais diversas interpretações sobre essa profecia.

Basicamente, a profecia fala primeiramente acerca da restauração de


Jerusalém, e depois uma nova destruição haveria de acontecer. Também são
apresentados seis itens que deveriam ser cumpridos durante o período das 70
semanas, sendo eles: cessar a transgressão, pôr fim ao pecado, expiar a iniquidade,
trazer a justiça eterna, selar a visão e a profecia e ungir o Santíssimo (Dn 9:24). A
forma e o período em que esses itens são cumpridos também variam de acordo com
cada corrente escatológica.

Muitos também se perguntam o porquê de serem 70 semanas. A expressão


“setenta semanas” traduz o original “setenta setes “. Muitos estudiosos acreditam
que se trata de uma referência direta aos 70 anos de exílio que o povo foi
submetido, sendo então, estes 70 anos, multiplicados sete vezes, de acordo com o
padrão de tratamento pactual (cf. Lv 26:14,21,24,28).

Seja como for, todos os intérpretes consideram que as 70 semanas devem


ser entendidas não como semanas de dias, mas como semanas de anos, assim
como está em Levítico 25:8. Desta forma, a profecia das 70 semanas se refere a um
período de 490 anos (70×7).

Assim, a divisão das semanas estabelecida na própria profecia seria a


seguinte: 49 anos (7 semanas), 434 anos (62 semanas) e 7 anos (1 semana).

A profecia das setenta semanas de Daniel sempre foi muito debatida. Antes
mesmo das discussões entre as diferentes correntes escatológicas, tal profecia já
era alvo de debate entre intérpretes judeus, depois latinos e gregos.

São muitas interpretações, portanto, colocaremos ênfase apenas nas


principais interpretações dentro do cristianismo, que, de alguma forma, são
defendidas pelas diferentes posições acerca da escatologia bíblica.
Não há tanta discussão entre os cristãos a respeito das primeiras 69
semanas, apenas alguns debates acerca de datas e eventos históricos. As
discussões se concentram realmente no significado da septuagésima semana.
Sobre isto, existem três interpretações principais:

Interpretação literal e futurista:

Interpreta as semanas de forma literal, ou seja, representando um período


preciso, a saber, 490 anos exatos. Devido à interpretação estritamente literal, essa
linha entende que 483 anos já se cumpriram, o que corresponde a 69 semanas
(7+62) e a última semana, no caso a septuagésima, foi adiada e transferida para os
últimos dias da presente dispensação. Assim, existe um hiato entre a sexagésima
nona e a septuagésima semana, uma lacuna de tempo, um período indeterminado
que é a era da Igreja. Finalmente, a septuagésima semana começa quando a Igreja
for arrebatada e o Anticristo revelado, e corresponde aos sete anos de grande
tribulação. Esta é a principal interpretação entre os pré-milenistas
dispensacionalistas.

Interpretação preterista:

Essa interpretação entende que as 70 semanas já se cumpriram, e a


septuagésima semana corresponde ao período desde a morte de Cristo na cruz até
a destruição de Jerusalém em 70 d.C. pelo exército romano. Alguns preteristas
entendem que a destruição de Jerusalém não ocorre necessariamente dentro das 70
semanas, mas em algum momento depois dela. Muitos pós-milenistas defendem
esta interpretação.

Interpretação simbólica:

Essa interpretação defende que as 70 semanas devem ser entendidas de


forma simbólica. Apesar de ser simbólica, essa interpretação se mistura com
historicidade, ou seja, as 70 semanas se cumprem historicamente, porém não existe
a necessidade das datas serem exatas. Assim, a septuagésima semana é simbólica,
e se refere à época da Igreja, ou seja, ao período que compreende desde a primeira
vinda de Cristo até sua segunda vinda. Esta é a principal interpretação entre os
amilenistas.

Apesar de todas as dificuldades apontadas, vale ressaltar que na Bíblia não


há qualquer erro ou contradição, ou seja, as opiniões conflitantes não significam que
o problema esteja no texto bíblico, mas em nossas interpretações, que buscam
entender detalhes que Deus achou por bem não nos revelar de maneira tão clara.

Por fim, penso que antes de qualquer debate sobre detalhes específicos
dessa profecia, precisamos apontar para o glorioso cumprimento da mensagem
principal que ela nos traz, a saber, a obra redentora do Messias. Isso certamente
nos leva a admirar a verdade de que somente um Deus soberano, Senhor da
História, é quem poderia revelar mistérios tão profundos ao seu servo Daniel.

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