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Notas de Rega & Drenagem FAEF-DER-1998

BACIAS DE INUNDAÇÃO

Uma bacia é um pedaço de terra plano cercado de diques, exemplo na fig. 4.2. O método de
bacias de inundação é extensivamente usado para a rega do arroz. A água pode ser mantida
na bacia a uma determinada altura para o tempo desejado.

Fig. 4.2: Bacia de inundação.

A inundação permanente requer solos argilosos com baixa velocidade de infiltração ou


terrenos onde o lençol freático esteja próximo da superfície, caso contrário as perdas de água
por percolação profunda diminuirão a eficiência da rega até níveis anti-económicos.
A altura da camada de água deve ser em média de 0,25 m e não inferior a 0,20 m.
O declive natural do terreno tem uma grande influência sobre o tamanho dos
compartimentos. Em regiões com declive pronunciado, as bacias deverão ser pequenas e
construídas aos terraços, veja fig. 4.3.

Fig. 4.3: Bacias de inundação em terraços.

Quanto maior for o declive maior será o custo do nivelamento, o risco de erosão será
também maior na possibilidade da falha do dique. No nivelamento deverá ter-se a cautela de
não expôr o subsolo infértil.

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O tamanho das bacias deverá permitir a inundação do terreno num tempo razoável para
que a aplicação da água necessária seja a um grau de uniformidade aceitável. A
tabela 4.4 mostra os tamanhos recomendados de bacias em diferentes solos e caudais de
inundação.

Tabela 4.4: Tamanho recomendado para bacias e caudal para diferentes solos,
caso de alagamento temporário (não aplicável para a cultura de arroz).

Tamanho da bacia (ha) Caudal (l/s)

Arenoso Areia Franco Argiloso


franca argiloso

0,02 0,06 0,12 0,2 30


0,05 0,16 0,30 0,5 75
0,1 0,30 0,60 1,0 150
0,15 0,45 0,90 1,5 225
0,20 0,60 1,20 2,0 300

Vantagem da rega por inundação:


- pode-se empregar grandes volumes de água
- destrói animais e erva daninha
- necessita pouca mão-de-obra.

REGA POR SULCOS

Consiste em fazer fluir a água em pequenos canais dentro da parcela a ser regada.
A água infiltra-se pelo fundo e pelos lados do sulco, sendo que uma parte do solo recebe
a água directamente e o resto humedece-se por infiltração lateral ou ascensão capilar.
O terreno é dividido numa série de sulcos paralelos superficiais, separados por
camalhões, veja exemplos nas figuras 4.4 (a), (b) e (c).

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Fig. 4.4 (a): Sulcos recém preparados.

Fig. 4.4 (b): Sulcos abastecidos por sifões plásticos

Fig. 4.4 (c): Eucaliptos regados por sulcos

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A rega por sulcos pode ser bem usada para culturas em linhas em todo o tipo de
solos com declive entre 0 e 5%. O comprimento dos sulcos varia entre 25 m em jardins
até cerca de 500 m no campo. Sulcos comumente usados são entre 100 e 200 m. Sulcos
muito longos originam perdas excessivas de água por percolação profunda e erosão do
solo. O espaçamento dos sulcos é basicamente determinado pelo espaçamento das
culturas.
A água é abastecida aos sulcos por canais de terra (o mais comum), flumes de
betão ou metal, sifões ou tubos no solo.

4.3 REGA SUBTERRÂNEA


Nalguns locais, as condições naturais do solo e as condições topográficas são favoráveis a
aplicação directa da água ao subsolo. Estas condições são: uma camada impermeável
próxima da superfície (a cerca de 2 m de profundidade), um solo de elevada
permeabilidade, topografia uniforme e declive moderado. Nestas condições um controlo
apropriado da água para evitar a acumulação de sais ou excesso de água na zona radicular
resultará num uso mais económico da água e baixo custo para a rega.

Este método exige experiência e muitos conhecimentos do fluxo não saturado de água e
de sais. Quando a drenagem natural é insuficiente para lavar o excesso de sais e evitar o
excesso de água na zona radicular será necessário construir um sistema de drenagem
apropriado. A fig. 4.5 mostra um exemplo de rega subterrânea.

Fig. 4.6: Um exemplo esquematizado de rega subterrânea

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4.4 REGA LOCALIZADA


Consiste numa rede extensiva de tubos plásticos de pequeno diâmetro perfurado que
abastece água filtrada directamente ao solo perto da planta. Os furos por onde sai a água
são chamados de gotejadores donde a água é espalhada lateralmente, estes são
dimensionados para emitir gotas e não jactos de água. O espaçamento dos gotejadores é
seleccionado para produzir numa faixa de humidade ao longo da fila das plantas ou a
cada planta individualmente.

O método é apropriado para aplicação de fertilizantes em solução sendo a sua


prática mais usual.
A grande vantagem deste método sobre os outros é o excelente controlo da taxa
de aplicação da água que providencia. A água é aplicada diariamente ao nível do
consumo da planta. A evaporação através do solo é mínima e a percolação pode ser
inteiramente evitada.
A sua operação é outra vantagem, uma vez instalada é simples de usar e exige
menos mão-de-obra.
Infelizmente o custo do equipamento é consideravelmente alto.
Potenciais problemas do sistema são: o entupimento dos gotejadores e sais têm
sido gradualmente acumulados no solo. Se a precipitação não for suficiente para a
lavagem dos sais ocorrerá a salinização.

4.5 REGA POR ASPERSÃO


A rega por aspersão é o método de rega que consiste em espalhar a água sobre a
superfície do terreno a semelhança da chuva através do fraccionamento de jactos de água
em gotas. O jacto de água e o fraccionamento são obtidos pela passagem da água sob
pressão através de pequenos orifícios. Para tal a água é conduzida e aplicada por meio de
equipamentos compreendendo motobombas, tubagem e aspersores.

A rega por aspersão garante uma maior economia da água e uma maior
uniformidade de distribuição de água no terreno.
Algumas condições que podem favorecer a rega por aspersão são:

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- solos arenosos ou em geral de maior capacidade de infiltração, não favoráveis a


boa distribuição de água pelos métodos de rega superficiais;
- solos pouco profundos ou muito ondulados que não permitam um bom
nivelamento;
- solos de grande declividade e facilmente erodíveis;
- necessidade de uso mais eficiente da água em caso de pouca disponibilidade
desta;
- pouca disponibilidade de mão-de-obra para a rega superficial;
- necessidade de instalação rápida do sistema de rega;
- necessidade de rega frequente com aplicação de pequenas quantidades de água.

O vento, a humidade relativa do ar e a temperatura são os principais factores


climáticos que afectam a rega por aspersão. O vento afecta a uniformidade de distribuição
e juntamente com a temperatura e a humidade relativa do ar afectam a perda de água por
evaporação. Assim em regiões sujeitas a ventos constantes e fortes, à baixa humidade do
ar e temperaturas elevadas, deve-se recomendar a rega por gotejamento ou superficial.

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5 REGA POR SULCOS

5.1 AVANÇO DA ÁGUA NO SULCO

A velocidade de avanço da água nos sulcos é função de:


- caudal aplicado no sulco;
- capacidade de infiltração do solo;
- declividade do solo;
- rugosidade do sulco e
- comprimento do sulco.
A determinação no campo do avanço da água no sulco deve ser feita na área em
que se fará a rega e em sulcos com condições similares aos da rega.
Normalmente, o avanço da água nos sulcos é representado por meio de curvas de
avanço ou de equações. Para determinar a curva de avanço deve-se escolher um sulco
representativo da área do projecto de rega e colocar estacas ao longo do sulco,
equidistantes e separadas entre si de 10, 20, 30 ou 40 m; colocar o caudal predeterminado
no sulco e anotar o tempo gasto pela frente de avanço para atingir as diferentes estacas.
Na tabela 5.1 são apresentados os dados de um teste, cuja distância entre estacas é de 40
m e na fig. 5.1 a curva de avanço deste teste.

Tabela 5.1: Exemplo de determinação do avanço de água no sulco

Estacas Distância Tempo de avanço


(m) (min.)

0 0 0
1 40 13
2 80 43
3 120 90
4 160 158
5 200 239

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Fig. 5.1: exemplo de curva de avanço e de recessão no sulco

Note-se que a curva de avanço (Fig.5.1) raramente é horizontal (só quando o


terreno é plano), geralmente considera-se uma linha recta com certo declive.

5.2 LÂMINA DE ÁGUA APLICADA

Na rega por sulco é fundamental que a água fique no final do sulco o tempo
suficiente para que infiltre a lâmina real de rega. Tem sido prática comum suspender a
aplicação da água no sulco, no momento em que a frente de avanço atingir o seu final.
Isto vai causar desuniformidade na dotação aplicada ao longo do sulco, com deficiência
de água no final. Deve-se reconhecer que a perda de água por percolação, no início do
sulco, e perda por escoamento superficial no final do sulco, é inerente ao próprio método
de rega por sulcos. O que é importante é dimensionar e manejar os sistemas de rega por
sulco, de modo a minimizar este tipo de perdas. A fig. 5.2 (a) e (b) ilustra a aplicação da
água na rega por sulco.

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Fig. 5.2 (a): Aplicação de água na rega por sulco.


L, o comprimento do sulco; Dc, a lámina infiltrada no início do sulco Df,
a lámina infiltrada no final do sulco, esta deve ser igual a dotação
pretendida.

Fig. 5.2 (b): Movimento da água a partir do sulco.

A lâmina infiltrada ao longo do sulco é função do tempo de oportunidade de


infiltração em cada ponto. O tempo de oportunidade de infiltração é a diferença em
tempo entre a curva de recessão e a curva de avanço nos diversos pontos ao longo do
sulco. O tempo de recessão é o tempo que a água leva a infiltrar num determinado ponto

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depois da aplicação da água ter iniciado. A curva de recessão pode ser considerada, sem
muitos erros, como uma linha horizontal, fig. 8.3. Embora em sulcos com declividade
maior que 0,5% a curva de recessão não seja uniforme, a diferença de tempo entre o
início e o final da curva da curva de recessão é muito menor quando comparada com a
curva de avanço. É possível nestas condições, sem grande erro, tomar-se a curva de
recessão como horizontal, veja a fig. 5.1.

As lâminas de água infiltradas em cada ponto do sulco são facilmente calculadas


pela equação da infiltração acumulada. A lâmina média aplicada durante a rega quando se
usar um caudal constante por sulco, pode ser calculada como:

ta * qs
d med =
L*W

Onde:
dmed = dotação média por sulco, (mm)
ta = tempo total de aplicação de água por sulco, (h)
qs = caudal aplicado por sulco, (l/h)
L = comprimento do sulco, (m)
w = largura da faixa humedecida - espaçamento entre sulcos para sulcos
próximos, (m).

A tabela 5.2 mostra os comprimentos de sulcos recomendados para diferentes


solos em função do caudal e declive do solo, para diferentes dotações.

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Tabela 5.2: Comprimento recomendado de sulcos e caudal para diferentes


tipos de solo, declive e dotação desejada.
(Fonte: FAO, 1984)

Declive Comprimento do sulco (L) Caudal


(%) médio
(l/s/sulco)

Argilosos textura media arenosos

0,05 300 400 400 400 120 270 400 400 60 90 150 190 12
0,1 340 440 470 500 180 340 440 470 90 120 190 220 6
0,2 370 470 530 620 220 370 470 530 120 190 250 300 3
0,3 400 500 620 800 280 400 500 600 150 220 280 400 2
0,5 400 500 560 750 280 370 470 530 120 190 250 300 1,25
1,0 280 400 500 600 250 300 370 470 90 150 220 250 0,6
1,5 250 340 430 500 220 280 340 400 80 120 190 220 0,4
2,0 220 270 340 400 180 250 300 340 60 90 150 190 0,3

Dotação
(mm) 75 150 225 300 50 100 150 200 50 75 100 125

5.3 VANTAGENS E INCONVENIENTESDA REGA SULCOS


Em resumo podem ser apontadas as seguintes vantagens da rega por sulcos:
- não interrompe todos os outros trabalhos enquanto se rega, a terra permanece
seca entre os sulcos;
- as plantas não se molham o que evita algumas doenças de fungos;
- reduzidos gastos em nivelamento de terras.

Possíveis inconvenientes poderão ser:


- os camalhões dificultam trabalhos de gradagem;
- as perdas de água podem ser excessivas em solos arenosos;
- muita exigência em mão-de-obra.

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