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TRIBOS URBANAS

O conceito de tribo urbana


Se é verdade que a sociedade actual tende para a globalização, também é verdade que
essa globalização incita à criação de subgrupos sociais diferenciados e diferenciadores.

Este aparente paradoxo é facilmente explicável à luz de um fenómeno sociocultural


relativamente recente que deu origem às chamadas “tribos urbanas”.

Sob o ponto de vista antropológico, as tribos eram formas de organização de pequenas


sociedades. Serviam, pois, para “arrumar” essas sociedades, de modo a que todos os
papéis sociais estivessem bem definidos.

O conceito de “tribos urbanas” ultrapassa esta origem antropológica. Se nas primeiras


sociedades as tribos contribuíam para a formação de uma aliança mais ampla, nas
sociedades modernas as tribos urbanas evocam particularidades que as distinguem do
resto da sociedade.

Os subgrupos que formam as tribos urbanas não existem no sentido de criar uma maior
aliança dentro das sociedades mas sim para se distinguirem dentro delas. A
globalização da sociedade originou um fenómeno contrário que é o da particularização
de determinados grupos socioculturais.

Assim, o carácter heterogéneo das tribos urbanas dá um novo colorido à


homogeneidade das grandes sociedades e faz com que, afinal, ainda existam
diferenças.

Um pormenor interessante é que também esta heterogeneidade criada pelas tribos


urbanas acaba por contribuir para a globalização. Isto porque as tribos não são
características de determinados países ou culturas mas sim da sociedade global!

Os Clubbers

Os clubbers são uma das novas tribos urbanas do séc. XXI. Surgiram em consequência
do panorama da música de dança e do chamado clubbing, que mais não é do que a
frequência assídua de determinadas casas nocturnas (clubs, ou discotecas) onde a
música dominante é o house, o techno, o trance, o drum n´ bass e por aí em diante.

Os clubbers surgiram com grande força em Inglaterra, o país de todas as inovações


estéticas, mas logo se expandiram pelo mundo, ao sabor das correntes da dance music.

Não estão associados a ideologias nem a políticas e a única coisa que os move e os une
é a paixão pela música de dança e pelo ambiente da noite. Correm o país e, por vezes,
o mundo, só para ouvirem os seus DJs favoritos.

Aliás, na club culture, o DJ deixa de ser um mero veículo de selecção musical para
passar a ser, ele mesmo, a maior estrela da noite. Os clubbers reconhecem no DJ um
ídolo, um artista a quem devem veneração e quase idolatria.

Distinguem-se dos demais noctívagos pelas roupas coloridas e irreverentes, pelos


acessórios ousados e pelos penteados e cortes de cabelo excêntricos. Também a sua
atitude se distinguem da dos restantes frequentadores da noite pois não saem para
“engatar miúdas” ou “beber copos” mas sim para cumprirem o ritual de ir “ouvir o seu
som”.

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Os Dreads
Os dreads são uma das tribos urbanas mais em voga actualmente. A sua atitude está
directamente relacionada com a música que ouvem e com a roupa que vestem, o que
faz com que muitos jovens se tornem dreads por uma questão de moda...

As roupas identificam de imediato um dread: calças muito largas (vários tamanhos


acima), a rojar no chão sobre os ténis de marca e descaídas na cintura a deixar ver os
boxers, camisolas ou t-shirts largas e, por vezes, o gorro ou boné (virado ao contrário).

Os dreads são por vezes associados à prática de desportos radicais, o que, na maioria
das vezes, é uma associação correcta. É muito comum encontrarem-se skaters
(praticantes de skateboarding ou de patins em linha), bikers (praticantes de BMX) ou
até mesmo surfistas com este tipo de indumentária.

Geralmente, andam em grupos muito grandes, dando à palavra tribo uma conotação
muito real. Por esse facto, são muitas vezes vistos com desconfiança por quem se
atravessa no seu caminho. Mas os dreads não são, por definição, violentos...

Em termos musicais, são bastante eclécticos. Embora prefiram o rap e o hip-hop, o rock
também lhes agrada.
O que é preciso é que o som seja possante!

Os Góticos

Os góticos distinguem-se das outras tribos urbanas pela predominância do preto nas
suas roupas e adereços. É toda a simbologia do preto que os acompanha e que pauta
todos os seus gostos.

Vestem de preto, usam maquilhagem negra ou muito escura na cara e os cabelos


desalinhados.

Como quase todas as tribos urbanas, identificam-se com a música que ouvem – o
gótico – também pautada por imagens sombrias e sons que reflectem situações de
angústia.

De entre as inúmeras bandas/intérpretes que fazem parte das preferências desta tribo
referem-se: Bauhaus, Gene Loves Jezabel, HIM, Nick Cave and the Bad Seeds, Paradise
Lost, Siouxsie and the Banshees, The Cult, The Cranes, The Sisters of Mercy.

Os Hippies

Os hippies surgiram no final da década de 1960 a partir do movimento flower power. O


flower power teve a sua origem em São Francisco, nos EUA, e era caracterizado por um
estilo de vida anárquico - contra os valores estabelecidos pela sociedade da época -,
por um pacifismo condensado no lema peace and love, traduzido no mote make love
not war (faz amor e não a guerra), por uma grande preocupação pelas questões
ambientais e pela rejeição do materialismo ocidental.

O lema peace and love (paz e amor) englobava uma nova ética que defendia o
pacifismo (nos EUA, a guerra do Vietname estava no seu auge e muitos jovens
americanos partiam para uma guerra que não era sua para encontrarem a morte) e a
abolição das desigualdades de todo o tipo (sexuais, raciais, étnicas ou religiosas).

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No plano político, os hippies opunham-se de forma veemente ao sistema político e
económico vigente na altura, apoiavam todas as causas rebeldes em que acreditavam e
defendiam uma ideologia de esquerda que era apologista do regresso à natureza e à
vida em comunidade.

Facilmente identificáveis pelo seu sentido estético, que privilegiava a cor, os hippies
usavam cabelos muito compridos, roupa informal e colorida, calças à boca de sino e
sapatos com solas muito altas. Muitas vezes, enfeitavam-se também com flores,
lembrando sempre a designação do seu movimento.

Em termos musicais, Janis Joplin, Pink Floyd, Jimi Hendrix, The Grateful Dead ou
Jefferson Airplane, entre tantos outros, eram as suas referências.

Apesar de o movimento hippie ser muito característico dos anos 60 e 70, a verdade é
que o espírito do flower power e até mesmo a sua estética conseguiram atravessar
gerações.

Apesar de as “guerras” hoje serem outras, os hippies (ou neo-hippies, se preferirmos)


mantêm as ideias pacifistas e esquerdistas e as suas indumentárias são, muitas vezes,
escolhidas nos baús dos seus progenitores...

Os Motards
Ao contrário das restantes tribos urbanas, o que realmente une os motards não é o
estilo de música que ouvem nem o tipo de indumentária que vestem mas sim o amor
pelas duas rodas!

Vivem para a adrenalina e o seu lema é: “Live to Ride, Ride to Live” (Viver para andar
de mota, andar de mota para viver).
Percorrem centenas ou milhares de quilómetros em verdadeiras procissões motorizadas
para celebrar o ritual que são as concentrações motard.
A sua mota é a coisa mais importante do mundo e nada nem ninguém pode modificar
esse facto.

Em termos visuais, não se regem por regras estanques, pois o verdadeiro motard é
aquele que tem verdadeiro amor pelas motas e isso não é evidenciado pela maneira de
vestir.
No entanto, tendem a uniformizar as roupas, pelo menos em alturas de concentração,
vestindo roupa de cabedal (não porque seja moda mas porque é um material muito
resistente) e usando lenços ao pescoço (muito úteis para proteger a cara do frio quando
usam capacetes abertos).
Muitos exibem cabelos compridos “despreocupadamente” cuidados.
Seja como for, o que os distingue das outras tribos é mesmo o amor que têm às motas,
que tratam como se fossem o seu maior tesouro. Além disso, são imbuídos de um
espírito de solidariedade – o espírito motard – que faz com que nunca abandonem à
sua sorte um desconhecido com problemas na estrada...

O filme Easy Rider, protagonizado por Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson,
espelha bem o espírito da cultura motard e, para muitos, constitui um marco que
assinala um ponto de viragem na cultura americana nos anos 60 do século XX.

Os Punks
O movimento punk teve origem em meados da década de 1970 e era caracterizado por
uma atitude assumidamente de ruptura face à sociedade, que se repercutiu na música

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a que deu origem.

Este movimento, que teve uma visibilidade incrível, principalmente na Grã-Bretanha,


caracterizava-se como anti-racista e anti-sistema. Tanto a música punk como a
aparência dos seus adeptos reflectiam esse espírito.

A música era agressiva, consistia num formato de três acordes e temas de três minutos
e tinha como expoentes máximos os Clash e os Sex Pistols.

A aparência de um punk era pautada por roupas rasgadas, t-shirts das bandas
preferidas, cabelo espetado em crista com a ajuda de sabão (!) ou cola (!!) e acessórios
como pulseiras ou colares de picos, cadeados, alfinetes de ama e correntes metálicas.

Ao contrário de outras tribos urbanas de inspiração musical, os ideais punk ainda se


encontram representados em bandas actuais como os Offspring ou os Green Day.

Os Skinheads
Embora sempre associados a políticas de extrema-direita e a sentimentos nacionalistas,
xenófobos e racistas, a verdade é que, na sua origem, os skinheads em nada
coincidiam com as características que hoje os definem.

A origem internacional do movimento skinhead remonta a finais da década de 1960,


quando grupos de jovens oriundos do proletariado suburbano londrino começaram a
organizar-se em grupos que partilhavam os mesmos sentimentos: sentido de território,
paixão pelo futebol e, em geral, por todas as formas de divertimento tradicional da
classe operária.

No início, a cena skinhead misturava a música ska, punk e reggae com a violência,
alguns mods e os hooligans.
Apesar de actualmente a designação de skinhead estar directamente associada a
grupos fascistas e neo-nazis, os skinheads originais têm estado, na maior parte das
vezes, à margem destas atitudes racistas ou xenófobas.

Na sua origem, eram apenas grupos urbanos provenientes de bairros operários, onde
existia a convivência pacífica de raças, que partilhavam o gosto pelo ritmo ska, um som
“negro” e de ideologia contrária à hippie. A cabeça rapada e as botas de biqueira de aço
compunham o seu ideal estético.

Uma das características desde sempre inerentes aos skinheads era o uso frequente da
violência e do vandalismo. Talvez por isso se tenha feito a associação do movimento
skinhead ao racismo, devido a confrontos que os “cabeças-rapadas” tiveram com
algumas minorias étnicas.

A conotação política de extrema-direita surge com o aproveitamento que a Frente


Nacional faz do movimento. Este partido de extrema-direita consegue aliciar para a sua
causa alguns skins e punks.
Assim surgem os skinheads nazis, também conhecidos como boneheads. As juventudes
fascistas revêem-se na estética skinhead e juntam-se aos boneheads.

Muitos skinheads não aceitam esta viragem fascista e nazi dos seus antigos
companheiros e formam os redskins, que, em vez da cruz suástica, adoptam a foice e o
martelo.

Actualmente, existem vários tipos de skinheads, com ideologias divergentes mas um


visual comum: cabeça rapada, blusões com remendos e crachás, calças de ganga com

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dobra (para mostrar as botas), suspensórios (a maioria das vezes descaídos sobre as
calças) e botas de biqueira de aço.

É, de facto, a ideologia que distingue os vários grupos de skins:

- Boneheads – Os skinheads neo-nazis.


- Casuals - São os skinheads mais discretos. Evitam o excesso da simbologia e, nos
estádios de futebol, preferem não se misturar com as claques.
- RASH – Red & Anarchist Skinheads (Skinheads Vermelhos e Anarquistas) – Grupo de
skinheads que junta esquerdistas, comunistas e anarquistas.
- Redskins – Reivindicam-se como herdeiros do antigo movimento comunista. Um dos
seus objectivos é a criação da V Internacional.
- SHARP – Skinheads Against Racial Prejudice (Skinheads Contra o preconceito Racial)
– Grupo de skinheads opositores aos boneheads, cujo objectivo é mostrar a verdadeira
cultura skinhead e expulsar os boneheads.
- Trads – É a designação dada aos skinheads tradicionais, sem conotações políticas
nem ideológicas.

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