Roda de Rima de Botafogo

Amálgama

Ana Luisa Guayer

Uma noite quente de terça-feira, encontro uma amiga para irmos para
a roda de rima de Botafogo. Nós duas estávamos com tênis cano alto e com
uma camiseta com silk.

Ao chegarmos vejo dezenas de pessoas confraternizando, como

habitual. Já ouço o som, uma batida que embala as vozes dos mc´s. Há um
grupo principal, onde está acontecendo o som e alguns grupos mais
espalhados, que estão sempre se cruzando. Há um movimento entre as
pessoas que nunca estão paradas.

Eu já havia ido à roda algumas vezes, mas dessa vez foi diferente, o
meu olhar era diferente. Fui querendo investigar, conhecer e não só fazer
parte daquele grupo, em que há diversos conhecidos meus.

Prestei atenção ao movimento, às vozes, aos sorrisos, às palavras.

Reparei em como é um momento de alegria para aquelas pessoas, poder
compartilhar seu som, sua arte, a nova roupa que fez, poder estar com os
amigos, tomar uma cerveja.

Vi tantas pessoas diferentes, de estilos diferentes, lugares diferentes.

Apesar de haver uma maioria com um estilo parecido, principalmente os
homens, havia uma infinidade, até difícil de descrever. Mas, o que realmente
me impressionou foi como todos interagiam com todos, sem distinção de
gênero, raça, classe social. Eu só tinha visto coisa parecida na Lapa, mas
não era daquela forma.

“As Rodas são uma conquista. É um espaço comum a todos,

destinado ao movimento artístico e cultural de rua. É um ambiente no qual a
Arte está apta a transitar livremente, independente da sua vertente, onde a
qualquer momento, pessoas sacam e tocam seus instrumentos, fazem seus
desenhos, jogam seus malabares, equilibram-se nos slack-lines, cantam
músicas, improvisam, e o mais importante, se falam e se respeitam”. Isso é
o que está escrito no facebook da roda é o que realmente pude observar e,
mais do que isso viver. O próprio nome da roda, Amálgama, que no
dicionário quer dizer: mistura de pessoas ou coisas heterogêneas, já diz ao
que eles vieram.

O rap feito pelos mc´s já não fala mais só sobre a criminalidade,

drogas e miséria. Hoje falam também sobre coisas do cotidiano, amor, bem
estar. Cada um rima ao seu jeito, uns de improviso, outros mostram suas
canções já produzidas. Mas, sempre exaltam a cultura de rua e o hip hop.

A roda acontece num espaço público, num espaço para todos.

Percebo que os que idealizaram aquele lugar querem que ali seja quase que
uma extensão de nossas casas, que possamos freqüentar a rua sem temer
a violência, que possamos utilizar aquele espaço que é nosso.

Fui conversando com algumas pessoas para saber o que elas

pensavam sobre a vida, sobre as rodas, suas crenças, suas idéias. Pude
reparar que compartilhavam um mesmo sentimento, o de promover a
cultura, o de ajudar o próximo, de fazer o rap com o que vem da alma.
 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

Construção de histórico particular

Há algum tempo, mais ou menos uns 10 anos, existem as rodas de rima.

Essa roda em particular, existe há um ano. O primeiro lugar foi na Rua
Farani, em Botafogo, numa praça. Começou com a idéia de alguns amigos
que estavam sentindo de falta de um lugar na zona sul para poderem
compartilhar seu som, fazerem uma rima de improviso e, claro, encontrar os
amigos. No inicio, era um encontro de algumas pessoas. Mas, elas
começaram a se organizar e a divulgar. Passaram a pedir que as pessoas
levassem seu instrumento, sua arte, sua poesia. Idealizaram um lugar que
as pessoas pudessem interagir e que isso ajudasse no seu crescimento
profissional e pessoal. E, pelo o que pude perceber, eles tem conseguido.

Os precursores dessa roda se aliaram aos precursores de outras rodas e

criaram algo maior, o Circuito Carioca de Ritmo e Poesia (CCRP). Então,
puderam trocar com pessoas de outros lugares e acabaram ampliando o seu
conhecimento. O CCRP é um circuito em que cada dia da semana acontece
uma roda em um lugar diferente da cidade. Os mc´s costumam freqüentar
essas rodas, estando sempre em contato com novas músicas, ritmos.

QUESTÕES DO GRUPO

1- Lugar Social
O grupo se enxerga como fazendo parte de um segmento da
sociedade que promove a cultura, que está ligado com as artes
 urbanas, música, poesia, etc. Acreditam que sua música tem o poder
de transformar.

2- Participação Social
Por se verem como produtores da cultura, pelas suas músicas, artes,
protestos, crêem que eles têm a obrigação de promover a cultura
para as pessoas que não tem acesso. Logo, eles fazem mutirões em
favelas e comunidades, levando a arte urbana, a música e a poesia.
Mas também tem engajamento social, participam de protestos contra
corrupção, entre outros, sempre com o que melhor sabem fazer, que
é a música e a poesia. E, também, sempre fazem coletas de
donativos na roda para serem distribuídos para as pessoas que
necessitam.

3- Lançador ou seguidor de tendências

Essa foi uma difícil questão para o grupo responder. Eles não gostam
desses “rótulos”. Dizem que a sua arte não é feita para ser seguida e
que também não seguem ninguém, desenvolvem seus projetos com o
que “vem da alma”. Mas o que pude perceber pelo tipo de
comentários, respostas dadas e pela minha observação é que eles
são lançadores de tendência.

RELAÇÃO DE IDENTIDADE COM A SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA
1- Política
É um grupo, em sua maioria jovem, que está sempre envolvido as
questões sociais e políticas. Suas músicas falam bastante sobre
os problemas que o país está enfrentando. Eles usam o rap como
 uma ferramenta de protesto. E, nos últimos protestos contra a
corrupção, uma grande parte deles esteve lá, levando sempre a
música e a poesia. Eu tenho algum deles no facebook e sempre
recebo deles sobre os protestos que irão acontecer, vejo fotos do
que aconteceu no protesto. Eu os percebo como realmente
engajados com a política do país. E também já os observei
discutindo política na roda, como uma forma de ampliar o
conhecimento de todos. É grupo que está mais favorável a
esquerda política no Brasil.

2- Cultura
É um grupo verdadeiramente ligado a um segmento da cultura,
que é a cultura urbana, de rua. Eles, além de estarem antenados
com o que está acontecendo em relação a esse tipo de cultura,
também promovem esse tipo de cultura. Mas, também, apesar de
privilegiarem a cultura de rua, os percebi aberto a qualquer tipo de
cultura e intervenção cultural. Eles querem agregar quantas coisas
forem possíveis.

3- Gerações
Eu os vejo bastante preocupados em deixar para gerações futuras
e para as que estão crescendo agora, a conscientização de lutar
pelo o que acreditam, o engajamento político e o envolvimento
com o próximo.

DESENVOLVIMENTO DO PERFIL DE CONSUMO

 Este grupo é influenciado pela cultura de rua e pela cultura hip-hop,
desde as suas músicas até suas vestimentas e os produtos e serviços que
consomem. O grupo mistura essas duas tendências, tornando quase que
uma só para eles.

Por cultura de rua, quero dizer tudo aquilo que vem da rua, de uma
manifestação popular e urbana, qualquer tipo de cultura que é realizada na
rua, de forma literal e que, justamente por vir da rua, seja aberta ao público.
E por cultura hip-hop, não só a música, mas também a dança, as artes
plásticas, as roupas. Essas duas culturas se misturam tão bem por serem
expressões urbanas, que vem da rua.

Logo, o grupo consome produtos e serviços que estão ligados a

esses dois tipos de cultura. Desde bonés, blusas, tênis até as festas e
instrumentos e aparelhagens de som.

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

Desde que comecei a ir à roda de rima de Botafogo com o intuito de

investigar para o desenvolvimento deste trabalho, comecei também a
pesquisar sites, facebook sobre o movimento. Reparei que há muito material
sobre o tema na internet. Mas, também pude notar que não um site que
reúna tudo.

Pensei então em criar um site que oferecesse diversos produtos e

serviços para serem consumidos por eles. Além de reunir o que está
acontecendo pelas ruas, o site também vai ter uma marca própria que irá
promover festas. O site será feito para o público e pelo público que freqüenta
as rodas de rima.

O site vai ser composto por algumas sessões. Pensei em uma sessão
em que cada semana, um mc diferente escrevesse um artigo sobre o que
algum tema que ele ache importante para se exposto para os outros
usuários do site. Numa outra sessão, terá a exposição da arte feita por eles,
como os grafites ou as músicas que produziram. Numa outra sessão trará o
que está acontecendo pelo Rio de Janeiro, como exposições, cursos, mas
que sejam de graça ou por um pequeno valor. O site terá também um fórum,
para debate de temas, assim como sobre o que eles querem que o site traga
de informações. E numa ultima sessão, o site fará o anuncio de roupas e
festas.

Para as pessoas anunciarem no site a sua marca de roupa, sua festa

ou qualquer produto e serviço que queiram irão pagar uma taxa, que será
utilizada para realizar as festas do site. As festas serão feitas a partir de
resultado de pesquisas realizadas com os usuários, que irão dizer o que
querem que tenha nas festas (como: quem vai se apresentar, o tipo de
decoração) e dar sugestões sobre o lugar que querem que a festa aconteça.