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A Feminilidade Bíblica e a Esposa

de Lutero

Valdecélia Martins
SU MÁ R IO

Capa

Créditos

APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

1 — A REFORMA PROTESTANTE E A MULHER

O feminismo — história e contexto

A doutrina bíblica da reforma

A condição da mulher na idade média

Lutero e a sua visão em relação às mulheres

2 — A TEOLOGIA DA FEMINILIDADE

A questão da igualdade

A missão da mulher

3 — A ESPOSA DE LUTERO

Seu nascimento

Acesso à fé reformada
A fuga do convento

Seu casamento

Vida familiar

Cuidados de esposa

Vida de devoção

Catarina e a maternidade

Hospitalidade, uma marca em Catarina Vonbora

Catarina, a dona de casa

A morte de Lutero

Contribuição e legado de uma mulher de deus

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

SITES PESQUISADOS

Nossos livros

Mídias
A Feminilidade Bíblica e a Esposa de Lutero

© Valdecélia Martins, 2017.

Editora CLIRE/Os Puritanos

1.a edição digital — agosto de 2017

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios sem
permissão por escrito dos editores, salvo em breves citações, com indicação de fonte.

Revisão: Erika Monteiro e Narah Vicente

Designer: Heraldo Almeida


A P R E S E N TA Ç Ã O

É notório que a Reforma Protestante está ligada ao nome de Martinho


Lutero de forma inseparável, no entanto, há muitas vozes por trás da
voz de Martinho Lutero que se ergueu em 31 de outubro de 1517.
Certamente ele não esteve sozinho. Muitos que viveram antes dele e
também seus contemporâneos ergueram suas vozes em protesto à
corrupção da igreja, e pode-se dizer que o eco dessas vozes se unira na
coragem assumida por Lutero quando se opôs contra inúmeras atrocidades
que a igreja cometia em sua época. Vários seguidores apoiaram Lutero:
homens de valor e coragem como seu amigo Philipp Melanchthon e
muitos outros. Mas Lutero não contou apenas com a contribuição de
homens; houve também muitas mulheres que investiram suas vidas para
que a Reforma se tornasse realidade. Mulheres solteiras, casadas, ricas,
pobres, plebeias e nobres; mulheres que tinham nome na sociedade e
também as que permanecem no anonimato até hoje. Mas, em especial,
dentre tantas, podemos citar uma figura imprescindível à Reforma, que foi
mais que a esposa de Lutero, ela foi Catarina Von Bora, a “estrela da
manhã de Wittenberg”, como foi chamada por seu esposo.
O objetivo de conhecermos a história dessa mulher é, além de dar
nome a ela como cooperadora da expansão da Reforma, é também
perceber em sua história de vida aquilo que pode inspirar-nos como
exemplo de vida cristã a ser seguido.
Que Deus nos ajude!
INTRODUÇÃO

N a Idade Média, as terras e o povo da Europa central formavam o


sagrado império romano, que foi palco de um dos grandes
acontecimentos na história da humanidade. Esse período histórico, que
fora profundamente marcado pelo domínio religioso da Igreja Católica
Romana na Europa Ocidental, foi também um período de profundo
misticismo, em que a religião pregava a lealdade incondicional ao
imperador e ao Papa. Os fiéis, constituídos pelo povo simples e na maioria
iletrados, acreditavam que havia sido o próprio Deus que estabelecera a
dupla autoridade sobre o cristão; eles aceitavam o imperador como regente
da vida na terra e a igreja como a intercessora do destino do homem no
mundo futuro. O Império Romano Germano era dividido em pequenos
reinos; as cidades alemãs eram livres, ricas e politicamente poderosas,
seus príncipes e conselheiros comandavam exércitos poderosos que
juravam defender o império e a sagrada igreja.
A igreja, em grande parte, havia se esquecido da misericórdia, em vez
disso enfatizava os julgamentos implacáveis de Deus como forma de
subjugar os fiéis. Em seus ensinos, Jesus Cristo era apresentado como um
vingador inflexível e o homem era tão cheio de pecado que deveria viver
permanentemente com medo de um Deus que castigava furiosamente.
Era um tempo de grandes superstições e medo, a religiosidade
supersticiosa se manifestava, sobretudo, na cultura e nas artes, em que
usavam o tema da eternidade, juízo e castigo eterno para manipulação do
povo simples, que não tinha acesso ao ensino e nem à leitura da Bíblia. O
povo sempre tinha diante de si as imagens vívidas do fogo e dos tormentos
do inferno. O cristianismo mesclava-se com elementos do paganismo e o
homem acreditava que o mundo estava cheio de demônios e espíritos
maus. Em troca de absolvição e proteção da condenação eterna, a igreja
exigia do povo obediência absoluta e total.
Séculos antes já se lutava por uma reforma na igreja; o
Renascentismo, o Humanismo, o movimento reformatório sob a liderança
de Jonh Wycliffe na Inglaterra, John Huss na Boêmia e Morávia, e, ainda,
Nicolau de Cusa na Itália, abriram caminho para a efetivação da Reforma
no século XVI.
CAPÍTULO 1
A R E F O R M A P R O T E S TA N T E E A M U L H E R

A história da Reforma Protestante faz 500 anos, isso é algo memorável


que tem chamado a atenção de cristãos de variadas profissões de fé e
também tem levado muitos escritores e pesquisadores a voltarem sua
atenção para este tema e, principalmente, para a histórias de mulheres que
foram imprescindíveis para que a Reforma Protestante pudesse acontecer.
É justo e oportuno que se fale sobre as mulheres da Reforma, pois segundo
Martin H. Jung1 “Sem o apoio das mulheres, a Reforma não teria
acontecido”2. É notório que muitas mudanças na igreja e na sociedade
ocorreram pelo movimento da Reforma encorajadas por Lutero. Mas é
importante lembrar que Lutero não lutou sozinho, porém contou com a
participação de homens e também de muitas mulheres para que a Reforma
se tornasse realidade.
Algumas dessas mulheres permanecem anônimas nos registros
históricos, mas a contribuição dada por elas não foi menos importante;
mulheres que contribuíram por meio de seu serviço dedicado, refletindo na
vida de seus maridos e filhos, como exemplo, podemos citar Anna
Reinhard, esposa de Zwínglio, que fora chamada por ele de “amada
assistente”. Mulheres como a Duquesa Renée de Este que com sua
influência e destemor contribuiu para que a Reforma chegasse à Itália.
Outras como Olympia Morata que fora reconhecida como erudita cristã e
através de seus escritos, composições e conhecimentos contribuíram para
divulgar conteúdo da Reforma. É preciso citar ainda mulheres como
Jeanne D’Alberte, rainha de Navarra, que com coragem e ousadia
contribuiu com sua influência política e familiar para que a Reforma fosse
expandida na França.
Embora não haja muitos registros históricos sobre as mulheres
atuantes na Reforma, sabemos que não fora pouca e nem mesmo
irrelevante a participação delas que, ao seu modo e nas devidas
proporções, foram indispensáveis instrumentos de Deus para que o
movimento de Reforma Protestante avançasse alcançando, não só a
Europa, como o mundo da época até aos nossos dias.
O historiador Martin H. Jung tem a convicção de que a ausência de
documentos históricos de relatos dos feitos das mulheres da Reforma, em
contradição com a abundância relativa aos homens, dá-se pela imagem
depreciativa que se tinha das mulheres na época. Isso pode sim ser uma
verdade, porém é importante observar que, do pouco que tem sido escrito
sobre a história das mulheres “reformadoras”, recebe um impulso forte a
partir do movimento feminista, que as retrata como militantes dos direitos
de igualdade com os homens, guerreiras insurgentes em um mundo
masculino, dispostas a mudar o mundo. Feministas inovadoras de uma
teologia que redefine a mulher em seu papel no lar, na sociedade e na
religião.
“Infelizmente, as suas histórias ficaram esquecidas, silenciadas e invisíveis. Foi com o
movimento feminista, a partir dos anos 60-70, que nasceu o interesse sobre a história das
mulheres e seu cotidiano e, assim, também começou um processo de recuperação das
histórias delas no movimento da Reforma.” Claudete Beise Ulrich 3

Faz-se necessário, porém, olhar para a história das mulheres atuantes


na Reforma, sem os óculos do feminismo, considerando ser esta uma
ideologia não condizente com os princípios bíblicos, haja vista que sua
teoria está baseada no empoderamento feminino, tirando da mulher a
função de parceira e auxiliadora estabelecida por Deus desde a criação (Gn
2.8). No entanto, para maior clareza, precisamos compreender melhor o
Feminismo em suas origens.
O FEMINISMO — HISTÓRIA E CONTEXTO
A história do Feminismo pode ser dividida em três “ondas”: a primeira
teria ocorrido no século XIX e início do século XX, a segunda nas décadas
de 1960 e 1970, e a terceira na década de 1990 até a atualidade. Numa
definição generalizada poderia se dizer que o Feminismo é um conjunto de
movimentos políticos, sociais, ideológicos e filosóficos que têm como
objetivo os direitos equânimes, numa vivência centrada na autoridade e
poder feminino e na libertação de padrões opressores denominados de
“patriarcais”, baseados em normas de gênero.
As ativistas feministas fizeram campanhas pelos direitos legais das
mulheres. A guerra do Feminismo lutou também pelo direito da mulher,
por sua autonomia e pela integridade de seu corpo, pelos direitos ao aborto
e pelos direitos reprodutivos, com o lema amplamente divulgado pelo
movimento chamado: “meu corpo, minhas regras”. Lutou ainda, pela
proteção de mulheres e garotas contra a violência doméstica, o assédio
sexual e o estupro; pelos direitos trabalhistas, incluindo a licença-
maternidade e os salários iguais, e todas as outras formas de
discriminação.
Tudo parece legal e legítimo quando se olha para as questões dos
“direitos da mulher”, e é preciso notar que muitos direitos sociais foram
resultados de lutas, inclusive das feministas. Porém, é preciso insistir na
ilegitimidade desse movimento, quando consideramos questões como, por
exemplo, o direito ao aborto, que nada mais é que uma agressão contra a
vida que pertence ao Criador (I Sm 2.6). Essa luta é ilegítima, pois pauta-
se numa motivação egoísta, totalmente desvinculada dos preceitos da
Bíblia e é mascarada pela luta por direitos sociais, tais como direitos de
contrato, direitos de propriedade, direitos ao voto. A luta do movimento
Feminista é, na verdade, um grupo de mulheres a guerrear por um mundo
feminista, onde seus desejos egoístas são satisfeitos e os homens estejam a
seu serviço.
Um pequeno recorte desses interesses egoístas do Feminismo é
retratado na história de Christabel Pankhust4 — A Pluma Branca e a
Tradição da História. O início do século XX foi marcado pela luta das
mulheres por diretos de igualdade, essencialmente pelo direito ao voto. O
movimento conhecido como sufrágio, que nada mais era que a
reivindicação das mulheres pelo direito do voto, essencialmente nos países
em que esse direito ainda não lhes havia sido concedido. Há registros de
grandes agitações realizadas neste sentido, com a presença de violência e
vandalismo.
Enquanto as sufragistas agitavam-se por seus “direitos”, muitos
homens lutavam e morriam na guerra por países onde os sufrágios para
homens também não existiam, pois apenas homens com propriedades
podiam votar em eleições parlamentares, e, antes da Lei de Reforma de
1832, apenas 2% dos homens no Reino Unido tinham esse direito5.
“O mínimo que os homens podem fazer é que cada homem na idade de lutar se prepare
para redimir sua palavra para com as mulheres e se prontificar e dar o seu melhor para
salvar as mães, esposas e filhas da Grã Bretanha, de uma agressão por demais horrível
sequer para se pensar” Emmeline Pankhurst6

As sufragistas são vistas como heroínas da dignidade e da


democracia, porém, seus discursos cheios de ódio contra os homens
levaram-nas a iniciar um movimento denominado “Pluma Branca”, em
que as mulheres reclamavam o direito de informar aos homens dos
deveres deles, exigindo que cumprissem a obrigação que implicava a
restrição da cidadania plena deles e que cumprisse a obrigação de defendê-
las. Os homens, até mesmo jovens de 16 anos, que estivessem vestidos
civilmente, recebiam uma pena branca, num ato de coação e intimidação
para lutarem na guerra.
“A Sra. Pankhurst viajou por todo o país, fazendo discursos pró-recrutamento. Suas
apoiadoras entregaram a pluma branca a cada homem jovem que elas encontrassem
vestindo roupas civis e se reuniam no Hyde Park com cartazes dizendo: Prendam todos
eles.” Sylvia Pankhurst. 7

Para além disso, o Feminismo faz parte de uma agenda muito mais
perigosa que é o Marxismo Cultural8, que é um desdobramento do
marxismo, cujo objetivo fundamental é destruir a família, a religião, o
gênero e a raça.
(….) O feminismo é uma estratégia comunista criada com o propósito de minar a família e
todas as outras instituições tradicionais de modo a que a relação primária que os indivíduos
passem a ter seja com o Estado. (….) Ao destruir o casamento, criando um fosso entre os
homens e as mulheres, alienando os pais para longe dos seus filhos, dissolvendo a
autoridade paterna, chegando mesmo a dissolver a própria família, as barreiras para o
controle estatal de todas as pessoas são removidas. Paul Elam.9
O Marxismo10 sempre compreendeu o mundo como um grande palco
de lutas de classes, no entanto, foi abandonando a retórica de “luta de
classes” que envolvia as classes capitalistas e proletárias, e a substituíram
pelas classes opressoras e oprimidas11. As classes oprimidas incluem as
mulheres, as minorias, os grupos LGBT12, aí nasce o marxismo cultural,
que nada tem a ver com a liberdade, com o progresso social e nem mesmo
com esclarecimento cultural. Ao contrário disso, tem a ver com a criação
de indivíduos idênticos que não se confrontem entre si e que não troquem
ideias, operando como máquinas automáticas e sem emoção. O marxismo
fundamenta-se no princípio de que o ser humano nasce puro, não trazendo
em si a herança do pecado de Adão, portanto, não necessita de ser
redimido, ao contrário do que diz as Escrituras (Rm 3.10, 23; 5.12).
Justifica-se, então, o surgimento do Feminismo com objetivo de redenção
para o machismo.
“Deste modo, a teoria social marxista permite ao movimento feminista e aos estudos de
gênero instrumentalizarem-se para desnaturalizar as diversas opressões a que estão
submetidas as mulheres.” Mirla Cisne.13

Porém, não são apenas questões como estas que tornam o Feminismo
ilegítimo, mas também, e principalmente, por ser ele fundamentado no
conceito de que a mulher não precisa do homem. Na década de 1970, a
famosa feminista Glória Steinem14 disse: “Uma mulher precisa de um
homem, assim como um peixe precisa de uma bicicleta”. Esse conceito de
emancipação feminina nasceu com o pecado e foi desenvolvido no Éden,
quando a mulher passou à frente de seu marido e este não assumiu a
função de liderança que lhe fora dada por Deus (Gn 3.6-7). Quando o
Feminismo em sua ideologia, e através de suas militantes, menosprezam
os homens, o casamento e a família, estão negando uma verdade
fundamental da criação e rejeitam o princípio da feminilidade revelado na
função de complementariedade. O pecado não só trouxe uma inversão de
papéis, como também deteriorou na mulher esta função que o Senhor lhe
concedeu na criação. A compreensão dessas verdades leva-nos a um
posicionamento alinhado com o padrão bíblico.
A Reforma Protestante fundamentou-se, essencialmente, na volta a
este padrão bíblico, não apenas no que se refere à visão sobre as mulheres,
mas, sobretudo, um retorno às Escrituras como fundamento do viver
cristão e um melhor entendimento da relação do pecador com seu
Salvador, não como uma “nova doutrina”, mas como um redescobrimento
dos ensinos apostólicos. A Reforma Protestante, por assim dizer, foi um
retorno à doutrina bíblica.
A DOUTRINA BÍBLICA DA REFORMA
O advento da Reforma provocou uma revolução no contexto da Europa,
onde ocorreu, e seu ensino elucidou ao povo comum coisas simples, que
sempre estiveram presentes no conteúdo das Escrituras, mas que fora
ocultada a eles, como por exemplo: esclareceu sobre o meio de
aproximação do homem com o seu Salvador; reestabeleceu o ensino das
Escrituras para o centro do culto a Deus; viabilizou que o povo simples
pudesse ter acesso direto ao conhecimento bíblico; contribuiu para a
construção de escolas onde as crianças pudessem ter acesso à educação;
favoreceu para que a figura feminina fosse vista com dignidade na
sociedade e na família.
A Reforma já havia sido pleiteada muitos anos antes por homens
como John Wycliffe, John Huss e Sovonarola, porém, graças às façanhas
de um monge agostiniano chamado Martinho Lutero nasceu a Reforma
protestante e revolucionou a face da Europa.
As 95 teses fixadas por Lutero registram o início da teologia que
produziu a reforma na Igreja e representam um marco para a recuperação
da sã doutrina. Na verdade, Lutero não elaborou “novas doutrinas”, mas
estabeleceu a volta às Escrituras, considerando-as como fonte de
conhecimento teológico e espiritual e promoveu o resgate de verdades
apostólicas que foram sendo perdidas ao longo dos anos e que se
encontravam soterradas sob os escombros da tradição medieval. O ensino
de Lutero contrapunha-se a tudo que a igreja ensinava nesse período e deu
início às Doutrinas Reformadas que foram ampliadas e aprofundadas por
outros Reformadores como Zuínglio e Calvino.
Os ensinos de Lutero, inicialmente, faziam referência direta às falsas
doutrinas romanistas como: o purgatório, o papado, os santos e Maria
como mãe de Deus; em princípio, sem contestá-las, mas seus ensinos já
representavam o que seria as doutrinas que caracterizariam a identidade
protestante.
A teologia ensinada por Lutero estrutura-se em torno de três
doutrinas fundamentais: sola scriptura (somente a Escritura), sola gratia
(somente a graça) e sola fide (somente a fé):
sola scriptura (somente a Escritura): durante o período medieval, as tradições tornaram-se o
fator fundamental para determinar os conteúdos da fé e da moral. O ensino das falsas
doutrinas asfixiou a mensagem bíblica. A Reforma resgatou e restabeleceu a Escritura como
fonte suprema e final quanto ao conhecimento de Deus e da Sua vontade. Para o indivíduo
e para a igreja é a única autoridade sobre todos os assuntos de fé e prática. As Escrituras, e
somente as Escrituras, são o padrão pelo qual todos os ensinamentos e doutrinas da igreja
devem ser medidos (II Tm 3.16).

sola gratia (somente a graça): esta doutrina diz que a justificação pela graça de Deus,
mediante a fé, é que nós somos resgatados de Sua ira. Contestando a compreensão
romanista de salvação por mérito e obras, que tinha como símbolo distintivo a venda de
indulgências na época. Os ensinos bíblicos de Lutero diziam que a salvação (perdão,
aceitação diante de Deus e santificação) é concedida gratuitamente por Deus àqueles que
confiam em Jesus como seu Salvador (Rm 1.17; 5.1).

sola fide (somente a fé): afirma a doutrina bíblica de que a justificação é pela graça
somente, através da fé somente, por causa somente de Cristo. É pela fé em Cristo que Sua
justiça é imputada a nós como a única satisfação possível da perfeita justiça de Deus (Ef
2.8).

Os ensinos da Reforma também falavam sobre a centralidade de


Cristo, enfatizando que Ele é o único mediador entre Deus e os homens e
que unicamente Sua vida sem pecado e Sua obra de expiação substitutiva
na cruz são suficientes para nossa justificação e reconciliação com Deus;
que só Ele, Jesus Cristo, tem poder para perdoar pecados, intercedendo
junto a Deus, como advogado, por aqueles que nEle confiam.
A doutrina ensinada na Reforma também resgatou o ensino do
sacerdócio de todos os crentes, contrastando com o ensino de que somente
a hierarquia da igreja, ou seja, o clero, constituía o sacerdócio autorizado
para representar a Deus diante dos homens e os homens diante de Deus. A
Reforma falava do sacerdócio universal, isto é, que todos podem
comparecer diante de Deus, estudar a Sua palavra e ser agentes a Seu
serviço, pois todos os salvos são chamados a servir a Deus.
Essas doutrinas provocaram uma enorme transformação social,
porque, na verdade, foram a plataforma para a libertação pessoal diante de
Deus. Com esses ensinos e outras afirmações, Lutero e os demais
reformadores foram reaproximando a igreja medieval do modelo
observado no Novo Testamento e confirmado pela autoridade apostólica.
Sabe-se que, o que aconteceu na história da Reforma Protestante fora
apenas uma parte de um grande processo necessário à Igreja de Cristo, não
representa, contudo, uma obra pronta e acabada. No entendimento dos que
veem a Reforma como um processo divino que chama seu povo à
reaproximação da Sua palavra, reconhece-se que a igreja, o povo de Deus,
necessita estar constantemente se avaliando à luz do padrão bíblico. A
Reforma continua sendo necessária em nossos dias, assim como no
passado fora um marco para o resgate da genuína identidade da igreja que
vivia em um conturbado contexto religioso.
Em meio a todo esse alvoroço que o ensino das doutrinas Reformadas
trouxe à sociedade medieval, estava ainda a figura feminina. Nesse
período, as mulheres quase não tinham voz e menos ainda direitos, mas
elas estavam presentes na história e, como se sabe, vão contribuir
significativamente para a consolidação de mudanças no mundo de então.
A CONDIÇÃO DA MULHER NA IDADE MÉDIA
Para uma melhor análise do papel da mulher na Reforma Protestante, faz-
se necessário compreender como as mulheres eram vistas no contexto
histórico da Idade Média.
No século XVI, o espaço ocupado pelas mulheres era bastante
restrito: casa, convento ou prostíbulo. A casa oferecia a manutenção da
família, o convento dava oportunidade de educação e o prostíbulo era uma
forma de sobrevivência.
Além de exercerem o papel tradicional de esposas, mães e filhas, as
mulheres também se ocupavam de diversos outros papéis sociais. Algumas
tinham profissão e até conduziam determinada forma de negócio sem a
tutela de seus maridos, de forma autônoma. Porém, para a maioria, a vida
era de poucas alternativas e menos ainda atraente. Elas não tinham acesso
à educação; as filhas eram totalmente excluídas da sucessão; quando
contraíam matrimônio recebiam um dote constituído de bens que seriam
administrados pelo marido. O casamento era um pacto entre duas famílias,
seu objetivo era simplesmente a procriação. Como não havia
contraceptivos, as mulheres tinham muitas gravidezes e muitas morriam
durante o parto ou no puerpério.
Um outro aspecto muito forte desse período era a prostituição,
crescente e grandemente repudiada pela sociedade que corrompia a
integridade pessoal. Em nome da virtude moral pregada pela igreja, muitas
mulheres eram violadas por homens que mantinham suas aparências de
piedade, e, como não serviam mais para o casamento, entregavam-se à
vida de prostituição.
Uma alternativa que encontravam para fugir de tudo isso era ir para o
convento. A vida aprisionada representava, além da segurança, também a
oportunidade de educação, conhecimentos de latim, de música, de
medicina, de administração, conhecimento de cultura e de literatura. No
convento também aprendiam a cozinhar, costurar, cultivar e administrar
uma casa.
LUTERO E A SUA VISÃO EM RELAÇÃO ÀS
MULHERES
Segundo Martin Dreher15, Lutero também estava “profundamente preso à
estrutura patriarcal de seu tempo”, por isso não conseguiu ser coerente na
sua posição de igualdade dos sexos. Do ponto de vista da Reforma
Protestante, as atividades de um sacerdote ordenado não seriam superiores
às de uma mãe, no entanto, isso não significa que Lutero era um homem à
frente de seu tempo e que trazia uma reinterpretação do papel da mulher.
Neste sentido, para alguns, Lutero mantinha com que um descompasso
entre o “avanço teológico” e a aquiescência à cultura da época.
“Na ordem natural, o papel da mulher corresponde à sua função materna — e nisto Lutero
ecoa a visão medieval, onde a mulher era subordinada ao homem”. Wanda Deifelt.16

O que se observa, no entanto, é que Lutero compreendia que o homem


e a mulher são iguais como imagem de Deus, o que se reflete
especialmente na ordem da redenção: ambos são justificados e chamados a
viver em Cristo (Gl 3.28). Porém, na ordem natural da criação, o papel da
mulher corresponde à sua função materna. Esse entendimento não
pertencia apenas a Lutero, mas, também a outros reformadores como
Calvino. A partir da Reforma, o casamento não é mais considerado um
sacramento, mas uma instituição, ou como a primeira ordem de Deus para
a agregação familiar, e é apresentado como novo modelo de vida colocado
como ideal para as mulheres (Gn.2.24).
Esse novo modelo ensinado pelos Reformadores, em que resgatava o
padrão bíblico do casamento e da família, que combatia severamente a
crescente prostituição e resgatava a sexualidade como algo a ser vivido
exclusivamente no contexto do matrimônio.
Os reformadores criticaram a vida monástica e via o celibato como
algo contrário à ordem natural ditada por Deus. Devido a isso, muitos
padres e sacerdotes também regularizaram a sua situação, pois mantinham
relacionamentos amorosos, e ainda tinham crianças que não eram
reconhecidas, pois não podiam casar devido ao celibato. Por este motivo
também, muitos monastérios e conventos foram extintos e muitos monges
e monjas saíram do convento, casaram e constituíram família.
Com a dissolução dos mosteiros, não só um modelo de vida feminina,
mas um novo padrão de vida para as mulheres começou a ser definido. Foi
determinado um novo espaço para a mulher: esposa, casa, maternidade,
cuidado das crianças. No ensino da Reforma, a maternidade e o
matrimônio eram o lugar natural das mulheres.
Mesmo com esse “novo ensino” e a redefinição do papel da mulher
na família, a situação para elas ainda não era fácil. O casamento sendo
considerado como uma missão ideal, apresentava muitas situações
contraditórias. Elas precisavam encontrar um homem com quem
quisessem se casar ou que quisesse casar-se com elas, para então,
tornaram-se esposas, donas de casa e mães.
Outra possibilidade para estas mulheres que saíam dos conventos era
voltar para a sua família de origem, mas muitas famílias já não as
recebiam de volta, pois elas voltavam sem nenhum bem. Sair do convento
tornava-se uma difícil decisão, pois isso significava deixar para trás uma
vida protegida, privilegiada e de acesso ao conhecimento. Além do mais,
nesse ambiente, elas não eram tuteladas por nenhum homem, não sofriam
os perigos físicos de violações e gravidez indesejada.
Assim, muitas freiras não sentiam a vida monástica como Lutero a
designara: uma “prisão eterna”. Embora viver num monastério não fosse
nada agradável, pois algumas freiras superioras eram muito rígidas —
lideravam a partir de um duro regimento, tinham que fazer o voto de
pobreza, obediência e castidade; contudo, houve mulheres que não
quiseram deixar a vida no convento mesmo tendo aderido à Reforma,
como foi o caso da abadessa Caritas Pirckheimer17, na cidade de
Nürmberg, na Alemanha. Algumas sentiam-se bem com a vida monástica,
pois estavam acostumadas e familiarizadas com os horários e as regras
fixas, com a vivência da espiritualidade e com as mulheres com quem
compartilhavam a vida religiosa.
Observa-se que os anos vividos na clausura dos monastérios até
proporcionava uma segurança as que ali se refugiavam, mas não lhes
davam a conhecer a visão bíblica da feminilidade e o papel da mulher na
criação e sua missão como esposa e mãe. Por isso, havia muitas que
valorizavam mais a comodidade dos conventos do que viver, segundo a
vontade de Deus, no mundo fora dos portões.
1 Martin H. Jung é um protestante teólogo e professor de Teologia Histórica e História
Eclesiástica em Osnabrück, Alemanha.
2 Jung, Martin H.. Keine Reformation ohne Unterstützung der Frauen. Disponível em:
www.buero-fuer-chancengleichheit.elk-wue.de.
3 A atuação e a participação das mulheres na reforma protestante do Século XVI /
https://www.metodista.br/revistas/revistas- ims/index.php/ER/article/viewFile/6846/5309
4 https://www.youtube.com/watch?v=lpRcMuwuuCA, consultado em 03/03/2017.
5 Steve Moxon, The Woman Racket (“True Sufferers for Suffrage”).
6 http://br.avoiceformen.com/recomendados/pankhurst-a-pluma-branca-e-a-traicao-dahistoria/
7 http://br.avoiceformen.com/recomendados/pankhurst-a-pluma-branca-e-a-traicao-dahistoria/
8 O marxismo cultural é o conjunto de ideias surgidas como forma de subversão contra valores
fundamentais como a família, a religião, o gênero, a raça, o nacionalismo e inclusive, a arte e o
bom gosto estético, que era considerado “atrasados”, “obsoletos” ou “opressivos”.
9 Paul Elam é um ativista por direitos dos homens e fundador da organização “A Voice for Men”.
10 Marxismo é um sistema ideológico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a
emancipação da humanidade numa sociedade sem classes e igualitária. As linhas básicas do
marxismo foram traçadas entre 1840 e 1850 pelo filósofo social alemão Karl Marx e o
revolucionário alemão Friedrich Engels (Fonte: https://www.significados.com.br/marxismo/ em
04/032017).
11 A Escola de Frankfurt, o marxismo cultural, e o politicamente correto como ferramenta de
controle http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2401em 03/03/2017.
12 LGBT (ou LGBTTT) é a sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e
Transgêneros.
13 Marxismo: uma teoria indispensável à luta feminista, Mirla Cisne
http://www.unicamp.br/cemarx/ANAIS%20IV%20COLOQUIO/comunica%E7%F5es/GT4/gt4m3
c6.PDF em 03/03/2017.
14 Gloria Steinem, jornalista conhecida por seu engajamento com o feminismo e sua atuação
como escritora e palestrante, principalmente durante a década de 1960, criou e editou a revista
feminista Ms (https://pt.wikipedia.org/wiki/Gloria_Steinem).
15 Dreher, Martin. Sexualidade: Matrimônio — Bigamia — Divórcio — Prostituição, Introdução
ao Assunto. In: Comissão Interluterana de Literatura São Leopoldo, Martinho Lutero. Obras
Selecionadas. 5. v., São Leopoldo e Porto Alegre: Co-Editoras Sinodal e Concórdia, 1995.
16 Um olhar feminino sobre a Reforma Protestante. Entrevista publicada na revista IHU On-Line
nº 496 em 31.10.2016. Wanda Deifelt é luterana, e atua como professora e coordenadora do
departamento de Religião da Luther College, na cidade de Decorah, estado de Iowa, EUA.
17 Caritas Pirckheimer (1467-1532) entrou aos 16 anos no mosteiro das Irmãs Pobres de Santa
Clara, em Nuremberg na Alemanha e tornou abadessa em 1503. Tornou-se adepta da Reforma
Protestante através de correspondências que mantinha com os reformadores, com quem discutia
assuntos relacionados aos temas da Reforma.
CAPÍTULO 2
A TEOLOGIA DA FEMINILIDADE

A s mulheres da Idade Média, e em vários períodos na história, como


referido no capítulo anterior, restringiam-se a uma posição
silenciosa e discreta que se manifestava apenas nos labores domésticos e
no cuidado do marido e filhos. Todavia, isto estava longe de ser uma
posição degradante ou discriminatória para reforçar a inferioridade
feminina.
Reconhecemos na história de mulheres como Catarina von Bora,
alguns aspectos da Teologia que nos faz entender que a mulher, no
cumprimento do seu papel familiar na vida dos filhos e do marido, alinha-
se devidamente com o plano divino estabelecido na criação. A má
compreensão das verdades bíblicas leva-nos a erguer uma bandeira em
nome dos “direitos femininos” desalinhada com as verdades bíblicas.
Obviamente que a referência aqui não diz respeito aos direitos sociais que
foram conquistados, como o direito a educação, ao voto, direitos
trabalhistas e outros, dos quais, não só as mulheres eram contempladas por
desigualdade no passado. No entanto, muitas dessas conquistas tornaram-
se alvo do desejo de “igualdade” com o masculino. Este tema deve ser
analisado à luz das Escrituras.
Compreendemos, assim, que a guerra travada ao longo dos séculos
pelas mulheres não era apenas uma guerra “feminina” por direitos sociais,
mas uma guerra “feminista” pelo “direito” de ser “igual” ao homem. O
que se conhece é que toda essa luta e conquistas que foram alcançadas, não
proporcionou a satisfação e a realização pessoal tão almejada. Isso nos faz
pensar que talvez essa luta por “direitos iguais” seja indevida ou traduza-
se numa “inversão de papéis”. Talvez estivemos lutando por um lugar que
não nos pertence, ou a luta feminista seja ilegítima por ser uma luta por
algo que não nos é devido.
Uma primeira compreensão que devemos ter é que, a Bíblia é a
Palavra infalível de Deus e não muda jamais. Diferentemente do que
vemos no desenvolvimento histórico das conquistas sociais empreitada
pelas mulheres, que foram modificando ao longo do tempo, ou seja, o
padrão de ideal almejado por algumas mulheres no século passado já não é
mais o mesmo deste século. Está escrito: “Passarão os céus e a terra, mas
as minhas palavras não passarão” (Mt 24.35). A Palavra de Deus é
atemporal e supracultural, ou seja, está acima do tempo e de qualquer
cultura. Ela não muda jamais. O que foi verdade nos dias de Adão e Eva
continua valendo para os nossos dias e é perfeitamente aplicável em nossa
cultura e em qualquer outra.
Tendo, portanto, a Escritura esse caráter de atemporalidade e
supraculturalidade, faz-se necessário conhecermos as questões da
feminilidade desde os tempos mais remotos da humanidade, desde a
criação, observando o paralelo entre homem e mulher sob a perspectiva da
igualdades e diferenças estabelecida por Deus.
A QUESTÃO DA IGUALDADE
Em Gn 1.27-31 lemos que Deus criou o homem e a mulher e ambos
possuíam igualdade diante de Deus como seres criados. Todos nós
estávamos em Adão e nele fomos criados, homens e mulheres, à imagem e
semelhança de Deus criados como coroa da criação. Ambos, homem e
mulher são colocados no paraíso, como vice-regentes de Deus junto à
criação. Então, homem e mulher são iguais porque:
1) Homem e mulher carregam a imagem de Deus. Homem e mulher
tem igual dignidade diante de Deus, porque ambos foram criados pelo
próprio Deus e ambos juntos partilham a imagem e a semelhança divina.
Não é a mulher ter um cargo, um título, uma função sacerdotal na igreja
ou uma posição na sociedade que vai dar dignidade à mulher. A mulher já
possui dignidade “per si”, pelo que ela é, pois foi criada à imagem e
semelhança de Deus, junto com o homem. A sociedade impõe que a
mulher só tem dignidade se ela fizer alguma coisa, se ela tiver um título,
ou uma posição que indique poder, se ela não trabalhar, não tiver uma
posição ela não tem dignidade. Mas, na Teologia, a mulher já tem
dignidade igual ao homem pelo que ela é, não sendo necessário
acrescentar nada a si mesma para ser contada como digna.
Deus os abençoou;

Deu-lhes três ordens: de serem fecundos, multiplicar e sujeitar a terra.

Deus ficou satisfeito com tudo que fizera (v.31)

2) Homem e mulher são pecadores: a Bíblia é clara na afirmação de


que tanto o homem quanto a mulher são culpados diante de Deus.
Conforme Rm 3.23 “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.
Em I Tm 2.14 a Bíblia diz que Adão não foi enganado quando pecou, mas
a mulher, sendo enganada caiu em transgressão. Isso não coloca um em
condição diferente do outro no que tange ao pecado, mas elucida a forma
como cada um foi induzido ao pecado.
3) São criaturas salvas pela obra de Cristo: em Gálatas 3.28 o
apóstolo Paulo deixa claro que em Cristo não há “nem homem e nem
mulher”. Considerando o contexto, observamos que Paulo não está
tratando de valorização humanitária, nem de autoridade eclesiástica, nem
mesmo dos aspectos familiares, mas da justificação obtida pela fé na obra
redentora de Cristo que se fez maldição por “homens e mulheres” no
madeiro (Gl 3.13).
Reportando-nos novamente ao relato da criação em Gênesis 1,
compreendemos que Deus criou homem e mulher e os criou: IGUAIS. E
lhes deu ordem IGUAL, numa relação perfeita de interdependência. No
plano de Deus, homens e mulheres deveriam dominar sobre a criação que
havia sido preparado para eles.
Na continuação do relato da criação, no capítulo 2 de Gênesis, a
Bíblia vai explicar com mais especificidade o que acabara de dizer no
final do capitulo 1 acerca da criação. Há um detalhamento da criação do
homem e da mulher. Começando do v.7 a Bíblia diz que Deus criou o
homem do pó da terra e soprou o fôlego de vida em suas narinas e o
homem passou a ser alma vivente. No v.18 diz que o homem existia, mas
não havia companhia para ele. Então Deus, da costela de Adão criou a
mulher, Eva.
Deus criou o ser humano e de um fez os dois, mostrando assim a ideia
não só de igualdade, mas de complementariedade. Deus criou a mulher
porque viu que não era bom que o homem estivesse só. O homem embora
estivesse na plenitude do jardim criado por Deus e usufruísse da
companhia do Criador, faltava-lhe algo. E Deus então envia-lhe um
“socorro”. A mulher não foi criada como um acessório que faltava no
homem, mas como o socorro de Deus para o homem. Para ser auxiliadora,
para complementar a missão do homem como criatura divina.
É uma honra para uma mulher ajudar seu esposo, pois ajuda é uma
palavra usada frequentemente, com referência ao próprio Deus na pessoa
do Espírito Santo (Sl10.14; 22.11; 28.7; 46.1; 54.4; 72.12; 86.17;
119.173,175; 121.1-2). Se Deus não está envergonhado de ser uma ajuda
para pecadores decaídos, porque deveríamos nós olhar com desdém para
Eva por ser a “ajudadora” do seu não-decaído esposo? Ser uma ajudadora
idônea não é uma posição degradante.
A forma verbal desta palavra significa basicamente auxiliar ou suprir
aquilo de que um indivíduo não pode prover-se por si só. A Septuaginta18
a traduz com uma palavra que o Novo Testamento usa com o sentido de
“médico” (Mt 15.25). Ela transmite a ideia de socorrer alguém aflito. A
palavra auxiliadora é então, empregada especialmente para descrever a
ação de Deus que vem em socorro do homem. O homem precisava de
ajuda e Deus providenciou a mulher.
Ainda sobre a descrição da mulher, além de auxiliadora, ela seria
também IDÔNEA, que significa apropriada, correspondente, adequada,
apta. A palavra idônea é de origem hebraica que significa “oposto” e
literalmente quer dizer “de acordo com o oposto dele”. O sentido da
palavra indica que uma mulher complementará e corresponderá ao seu
marido. Esta é sua missão!
A MISSÃO DA MULHER
Diante do exposto, analisando, então, a missão de Deus dada a mulher,
observamos que é na maternidade que a feminilidade da mulher se cumpre
definitivamente.
“O papel de ser frutífero basicamente é cumprido pela mulher quando ela dá à luz — Isso é
uma bênção! Nesse papel que é singular à mulher, onde a feminilidade é expressa de uma
forma ímpar, ela jamais vai se esquecer dos efeitos do pecado à medida que experimenta as
dores de parto” George Knight.19

O exercício da feminilidade proposto pela Bíblia está relacionado ao


papel da complementaridade como auxiliadora idônea e a maternidade.
Nisto reside a ideia bíblica de submissão, que não é subjugação, mas de
auxílio, estar sob a mesma missão que o homem. A submissão não
inferioriza a mulher, nem mesmo a subestima. A submissão bíblica nada
tem a ver com dominação do homem e nem com a subjugação da mulher.
O papel de auxiliadora coloca a mulher em uma submissão, ou seja, em
missão de igualdade ao homem, aquela igualdade tão sonhada pelas
feministas está exatamente na submissão, ou seja, quando a mulher se
torna uma equipe com seu marido no cumprimento da missão dada por
Deus. E esta ideia de submissão se espelha na submissão de Cristo a Deus.
Há na própria Trindade um belo exemplo da submissão que é exigida no
casamento. O princípio do verdadeiro amor é submissão.
Assim, não há no plano de Deus espaço para competição ou conflito
de papéis. Cada um teria sua participação no projeto do Criador. Sabemos
que somos justificados e chamados igualmente, mas somos chamados
igualmente para exercermos papéis diferentes. Observamos que a
igualdade entre o homem e a mulher como seres criados por Deus passa a
se distinguir em seus papéis sociais. A distinção de papéis não nos
desqualifica, mas nos especializa.
A função de Eva era ser para Adão uma auxiliadora idônea e Adão ser
o líder. Mesmo antes do pecado a mulher já havia sido criada para ser
auxiliadora e companhia para seu esposo. A intenção original de Deus era
que Eva tivesse um papel diferente do de Adão. Não era uma questão de
quem era melhor ou pior, de manda ou quem é mandado, mas de papéis
diferentes. A masculinidade e a feminilidade identificam e complementam
seus papéis diferentes. Deus criou o homem para liderar e a mulher para
ajudá-lo em sua missão de liderança.
Até aqui, de acordo com o relato bíblico da criação, o pecado ainda
não havia entrado na raça humana e os papéis do homem e da mulher já
estão definidos: o homem teria a liderança e a mulher teria a maternidade
e seria a ajudadora idônea. O homem e a mulher, iguais como seres
criados, porém, diferentes em função no plano criador de Deus.
Em Gn 3.1-6 a Bíblia nos traz o relato da queda. Eva acreditou que
Deus estava negando-lhe alguma coisa. Ela alimentou aquele sentimento
descrito pela psicologia como a “falta”, que é aquele sentimento de que
sempre precisamos de algo mais, a sensação de insatisfação, de que tem
sempre alguma coisa faltando. Eva, então, movida pelo assédio da
serpente, começou a duvidar da bondade de Deus e assim como satanás,
desejou em seu coração ser igual a Deus. Ela rebelou-se contra o Criador,
e fez exatamente o que Deus havia lhes dito que não fizessem. Mesmo
tendo sido enganada pela serpente, ela sabia qual era a ordem de Deus.
Adão, quando viu que sua esposa havia traído o Criador, ao invés de
redimi-la, de dar sua vida por ela, diferente do segundo Adão — Jesus que
morreu exclusivamente por sua noiva — Adão foi fraco e entregou a Eva o
governo de sua vida, comendo também do fruto. Diferente de Eva, que foi
enganada, Adão pecou consciente, seguiu Eva no pecado. Como disse o
apóstolo Paulo: “E mais, Adão não foi enganado; mas a mulher sendo
enganada, caiu em transgressão” (I Tm 2.14).
Em Gn 3.14-19 há o pronunciamento do juízo devastador de Deus
sobre satanás, sobre Adão, sobre a terra e também sobre Eva. Toda criação
fora afetada pelo pecado e sofreu o juízo de Deus. Não nos deteremos na
descrição do juízo sobre cada um conforme a descrição do texto bíblico,
mas consideraremos a relação do juízo com a ordem anteriormente
descrita no que se refere a mulher. O pecado atingiu o propósito
fundamental para o qual a mulher foi criada: auxílio e maternidade. Ser
auxiliadora e mãe já estava na ordem da criação de Deus antes do pecado,
mas agora fora profundamente atingida, mas não alterada.

a maternidade, definida antes da queda, agora seria com dores;

a submissão, estabelecida no papel de auxiliadora, agora seria com um conflito “seu desejo
será para o seu marido e ele te governará” (Gn 3.16).
Parte do juízo de Deus direcionado a Eva dizia que o seu desejo seria
o de “passar à frente do seu marido”, conforme o v.16, contudo, Adão
dominaria sobre ela. A autoridade do homem sobre a mulher continuaria
assim como foi desde o começo, mas agora haveria uma luta pecaminosa
entre o homem e a mulher (esposo e esposa). A batalha dos sexos existe
por causa do pecado. O que antes havia sido um alegre cumprimento de
papéis, tornou-se um jogo de poder para obter o controle. Ver I Co 11.3,7-
9,11-12 “Cristo é o cabeça de todo homem e o homem cabeça da
mulher…”.
Na ordem da criação não há sobreposição de valores enquanto seres
criados, fomos igualmente criados por Deus, somos iguais e pessoalmente
culpados diante de Deus, mas nossos papéis são diferentes. Não se trata de
capacidade ou de habilidade. Comprovadamente podemos afirmar que, há
mulheres que são capazes de exercer atividades que são próprias aos
homens, inclusive aquelas que não exigem força física, mas que se deve
ser considerado não é a questão de capacidade, mas de especialidade, e o
que não se pode deixar de observar é o princípio estabelecido por Deus
desde a criação.
As influências do feminismo geralmente são muito sutis, mas essa
guerra nascida no Éden insiste e persiste em todo o tempo até os nossos
dias. Nem sempre nos damos conta, mas o feminismo sutilmente
influencia nosso dia a dia, nossa maneira de administrar nosso lar, criar
nossos filhos, a nossa maneira de vestir, nossas relações conjugais e até
mesmo nossa teologia.
Sem muito esforço, olhamos para a história e percebemos o quanto as
mulheres avançaram em suas conquistas ao longo do tempo. São notórias e
merecidas as conquistas sociais que lhes foram sendo outorgadas. A
própria Reforma contribuiu para que muitas mulheres dessem som às suas
vozes e, como sugerem alguns historiadores, saíssem do papel de apenas
procriadoras para se tornarem autoras de uma história que ainda não
tinham escrito. Assim, cada vez mais, a figura feminina tem ocupado
espaços significativos na sociedade, em diversos níveis, quer seja na
função de liderança ou não, nos mais diversos setores e organizações. Não
é o objetivo aqui ratificar esse comportamento, mas, faz-se necessário
considerar o expressivo aumento de mulheres com depressão e outras
doenças de origem emocional, nos fazendo perceber que é possível que
haja algo errado, pois, apesar de todas as conquistas registradas, a
realização, contentamento e liberdade que, desde o Éden foi almejada e até
mesmo pleiteada, ainda não foi alcançada. Se tais conquistas pessoais
fossem realmente determinantes para a realização e alegria feminina, o
curso da história seria diferente. Tudo nos indica que alguma coisa ainda
não está funcionando bem, parecendo haver um desalinhamento do que se
tem experimentado com o plano original do Criador. Na criação o Senhor
Deus deu um papel, uma função à mulher. Não cabe ao ser criado
determinar o que quer ser, o sentido da nossa existência não é uma decisão
nossa, mas de Deus, que conferiu à mulher um papel específico para a Sua
glória, e somente com a compreensão desta função é que vamos saber
atuar com excelência e contentamento na família, na igreja e na sociedade.
A compreensão dessa verdade foi evidencia na vida de Catarina von
Bora. É possível olhar para sua história e perceber que ela compreendeu
sua identidade em Cristo e o seu papel igreja, na sociedade, na família e
sobretudo na vida do reformador Lutero. Conhecer um pouco da sua vida
pode nos fazer perceber como a vida de uma mulher comum pode
contribuir grandemente para que os planos e a glória de Deus se
manifestem na história.

18 Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné,
entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria. A tradução ficou conhecida como a
Versão dos Setenta, pois setenta e dois rabinos trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam
completado a tradução em setenta e dois dias.
19 “A Lei de Deus e a Mulher”, George Knight, Ed. Os Puritanos: https://www.os-
puritanos.com/downloads
CAPÍTULO 3
A ESPOSA DE LUTERO

M uito do que se sabe sobre Catarina von Bora resume-se ao fato de


ela ter sido uma freira, e por vezes acrescenta-se a esse fato que era
uma “freira fugitiva”. É injusto pensar sobre essa grande mulher apenas
assim. Há muito de sua vida, seu caráter e serviço cristão que constituem,
sem dúvida, um grande legado às novas gerações. Mais que uma freira, foi
uma esposa amorosa e dedicada a um grande homem que, sozinho,
enfrentou todo poder da igreja na Idade Média. Mais que uma “fugitiva”,
foi alguém que movida pela fé na verdade que abraçou, moveu-se do seu
estado de clausura e buscou viver de acordo com o que havia aprendido.
Se, de fato tivéssemos que descrever essa preciosa mulher, usaríamos
outros adjetivos como admirável, inigualável, ao invés de “freira
fugitiva”, seria “serva dedicada e corajosa”.
Não é o objetivo aqui laborar na tentativa de exaltar a pessoa de
Catarina von Bora, como se tivesse sido ela infalível. Isso seria uma
falácia. Todavia, considerando o que se tem registrado sobre sua vida,
reportamo-nos a imagem de uma mulher sábia, nos padrões de Provérbios
31.10-31 “...Estende as suas mãos ao fuso, e suas mãos pegam na roca.
Abre a sua mão ao pobre, e estende as suas mãos ao necessitado. Não teme
a neve na sua casa, porque toda a sua família está vestida de escarlata…”
Como qualquer uma de nós, Catarina foi passível de erros e pecados,
no entanto, sobressaiu em sua história de vida, sua entrega abnegada ao
Senhor. Ressalta-nos, ao conhecermos sua história, que sua dedicação
diária e contínua era para que o Senhor e unicamente o Senhor, fosse
glorificado. “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a
excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” ( II Co 4.7)
SEU NASCIMENTO
Catarina von Bora, nasceu em 29 de janeiro de 1499, em um povoado ao
norte de Leipzig, próximo de Lippendorf na região da Saxônia, Alemanha.
Filha de Hans von Bora e Katharina von Haubitz, uma família aristocrata,
porém empobrecida. Sua mãe morreu em consequência de um parto
quando tinha apenas três anos de idade. Seu pai, na expectativa de um
novo casamento, tendo já outros filhos pequenos, decidiu entregar a outros
os cuidados de sua pequena filha com apenas 6 anos, pois seria um fardo
levar uma criança dessa idade para um novo casamento. Ela foi então,
levada para estudar na escola do convento Beneditino, em Brehna, onde
vivia sua tia Madalena Von Bora. Aos 9 anos, Catarina entrou
definitivamente para um convento em Nimbschen. Foi assim que a
pequena e frágil menina iniciou sua vida monástica, distanciando-se de
seu pai e irmãos para viver em reclusão e abstinência. Pelo menos isso lhe
daria uma boa educação e segurança em uma vida que não havia escolhido
para si.
Os primeiros anos da infância no convento foram os difíceis, mas não
seriam estas as únicas dificuldades que enfrentaria ao logo de sua história.
A ausência da família, sendo vivida num ambiente hostil e de tamanha
rigidez, parecia impossível. A resignação e a austeridade da vida religiosa
não era uma decisão sua, dentro de si abrigava os sonhos e os anseios de
uma menina que queria ser livre; mas a vida de clausura e os dias repletos
de regras distanciavam-na do sonho de liberdade.
Catarina, mesmo não havendo optado por essa vida, nutria dentro de
si uma força além de si mesma, e submeteu-se logo à vida monástica,
dedicou-se profundamente aos estudos que a levou a adquirir muitos
conhecimentos dos quais as mulheres de sua época não podiam ter acesso.
Conhecimento formal era privilégio dado a poucas mulheres no seu tempo.
Ainda muito jovem aprendeu a ler e escrever, inclusive em latim, que era a
língua acadêmica da época. Adquiriu conhecimentos em administração,
aprendeu a cuidar de jardins, a cultivar e utilizar ervas medicinais, a
cozinhar, costurar, e tudo que era necessário para cuidar bem de uma casa.
Todos estes conhecimentos adquiridos, mais tarde seriam utilizados para o
serviço e glória do Senhor.
Além da vida repleta de atividades e aprendizados, Catarina cultivava
uma profunda vida religiosa. Dedicava longas horas à oração devocional e
ocupava-se da vida religiosa na igreja participando das missas
diariamente. Decorava e recitava salmos. Ela ainda não havia conhecido o
relacionamento com Deus por meio da graça, mas já desfrutava de uma
vida de devoção ao Senhor, que seria sua marca registrada por toda a sua
vida. No contexto cultural da Alemanha do século XVI, parecia que o
destino de Catarina estava selado, contudo, o Deus soberano já cuidava
para que a história desta pequena órfã redundasse para a Sua glória.
ACESSO À FÉ REFORMADA
Enquanto que, dentro do convento a vida parecia seguir seu ritmo natural
de normas e ritos, fora, a história tomava um curso mais intenso e tenso.
Catarina estava agora com 16 anos e também já havia se tornado freira
católica da ordem monástica cisterciense em Nimbschen, na Alemanha.
Embora estivesse limitada à monótona vida do convento, sua mente
galgava mais conhecimento que ultrapassava os muros que a rodeava.
Mesmo ali no convento, já se ouvia falar de Martinho Lutero, o doutor da
Divindade na nova Universidade de Wittenberg. Fora dali seus ensinos
mostravam que a justificação é pela graça mediante a fé, não sendo
necessárias as obras e os sacrifícios para alcançar a salvação, invadiam as
casas e as vidas das pessoas. Lutero já estava bem próximo de onde vivia
Catarina, em Grimma, cerca de 52 Km de distância. O relato de seus
sermões pregados nas igrejas começava a se expandir e não demorou para
que seus ensinos também adentrassem aos muros do convento, provocando
assim uma revolução de dentro para fora daqueles muros.
A maioria dos cultos naqueles dias papais não passavam de
procissões, cantos de coro e sacramento vazios e sem sentido, os
sacerdotes usavam os sermões para entreter o povo com lendas insensatas.
Mas agora, o conhecimento das doutrinas bíblicas trazia novo sentido a
muitos daqueles que outrora viviam na clausura da religiosidade imposta
pela igreja de Roma e seus sacerdotes. Estes ensinos alcançaram uma
freira chamada Madalena von Staupitz, que estava profundamente
convencida pelas doutrinas reformadas. Ela recebeu alguns escritos de
Lutero, que entraram cladestinamente no convento e decidiu compartilhar
secretamente com oito de suas amigas de monastério, Catarina era uma
delas. Em meio aos bordados e cultivo das ervas medicinais, estavam os
estudos das doutrinas pregadas por Lutero. Isso levou-as a concluir que
poderiam servir a Deus e serem livres, poderiam casar, ter filhos e família.
A partir daí esse pequeno grupo de freiras manteve-se mais atento às
notícias eclesiásticas do mundo exterior. Foi assim, lendo os ensinos de
Lutero sobre a Bíblia que Catarina conheceu a verdadeira liberdade
mesmo ainda enclausurada, conheceu a bondade de um Deus gracioso, seu
amor incondicional e libertador.
A essa altura o Papa Leão X, no intuito de levantar fundos para a
construção da Basílica de São Pedro em Roma, enviou para a Alemanha,
um homem chamado Tetzel para vender “indulgências” — que nada mais
eram do que a venda de perdão e absolvição de pecados, ou seja, por meio
da compra de um pedaço de papel assinado por uma autoridade
eclesiástica, poderia se ter todos os pecados perdoados, até mesmo os
futuros, bastava ter dinheiro. Conta-se a tradição que Lutero, no local onde
exercia seu sacerdócio junto a Igreja romana, foi confrontar um homem
que vivia uma vida dissoluta de pecados, e este homem, sendo exortado
por Lutero, ufanou-se de haver comprado o perdão de todos os seus
pecados, não precisando de pleitear mais por uma vida santa e mostrou-lhe
sua carta de indulgência. Isso deixou Lutero profundamente irritado e
disse-lhe que aquele papel não tinha valor aos olhos de Deus, pois o
verdadeiro perdão vinha de Deus por meio do arrependimento verdadeiro.
Situações iguais a esta e muitas outras semelhantes, levaram Lutero a
escrever 95 razões em que refutava veementemente a venda de
indulgência, declarando-as inúteis. Ele fixou suas teses na porta da
principal catedral construída em Wittenberg, onde se reuniam um grande
número de fiéis, às vésperas do dia de todos os santos, em busca do perdão
dos pecados por meio da compra das indulgências. Era 31 de outubro de
1517. Este não deveria ter sido um motivo de perseguição, nem havia
intenção de iniciar uma nova igreja, ou uma nova ordem, Lutero estava
apenas, mediante a Escritura, manifestando sua opinião e seu
descontentamento com os falsos ensinos que a igreja onde servia havia
abraçado.
Mas, em pouco tempo, graças à nova arte de imprimir, a partir da
descoberta da Imprensa por Gutenberg, assegurou a rápida disseminação
das novas ideias do Reformador Martinho Lutero. O papel fora levado para
a imprensa e logo inúmeras cópias espalharam-se por toda a Europa, e já
não se falava em outro assunto. Era inevitável, a Reforma Protestante
estava acontecendo e transformava o mundo da época.
A FUGA DO CONVENTO
Embora Catarina e suas amigas já não fossem as mesmas diante do que
haviam aprendido, a vida dentro do convento seguia normalmente, porém,
fora dali a vida de Lutero tornava-se um reboliço. Ele mesmo não tinha
intenção de romper com a Igreja de Roma, em seu romantismo acreditava
na reforma da igreja, mas a realidade era bem diferente. No ano de 1520
fora condenado pela bula papal Exsurge Domine, contudo, foi lhe dado
uma oportunidade de se retratar perante o Clero numa assembleia
conhecida como Édito de Worms, ocorrida em 27 de janeiro de 1521.
Martinho Lutero compareceu à assembleia e diante de todos recusou-se a
retratar-se e reafirmou que não reconhecia qualquer outra autoridade senão
a Bíblia, a única Palavra de Deus, e, sendo forçado a negar seus ensinos,
teve a coragem de reafirmá-los e ainda acrescentou: “Não posso fazer
outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!” A partir daí ele
foi declarado herege pela igreja e tornou-se fugitivo. Sua atitude
emocionou a Alemanha e toda a Europa, pois, sozinho, havia conseguido
desafiar o Papa.
Catarina agora tinha 18 anos e todos esses acontecimentos haviam
mexido com ela. Sendo ela já uma mulher adulta e com tantos
conhecimentos adquiridos, passou, juntamente com suas amigas, a ter
novas perspectivas de vida, pois agora conheciam a graça de Deus!
Mediante tudo isso, decidiram romper com a vida monástica, queriam ser
realmente livres do peso da religiosidade para gozarem a verdadeira vida
cristã que haviam conhecido através do Evangelho. Inicialmente, cada
uma escreveu aos seus familiares, dividindo com estes os sonhos e as
expectativas de liberdade. No entanto, nenhuma atitude fora tomada, no
sentido de elas serem retiradas do convento por parte de seus familiares.
Mas elas não desistiram e buscaram outro meio para sair da clausura.
Martinho Lutero, que era agora notícia em todos os lugares,
perseguido, mas também ovacionado por muitos, havia se tornado a
inspiração do poder de luta dessas jovens noviças. Mas, por onde andaria a
essa altura? Ele, simplesmente, havia desaparecido! Por dez meses nada se
sabia acerca dele. Na verdade, seus amigos, temendo por sua vida, o
esconderam no Castelo de Wartburg. Lutero ali ficou, longe das trincheiras
onde se travavam as batalhas que o queriam fazer calar para sempre.
Contudo, este não foi para ele um tempo ocioso de medo e dúvidas. Este
foi um período de muita produtividade, no qual dedicou-se a traduzir o
Novo Testamento para o Alemão. Em setembro de 1522, ele reaparece com
sua primeira tradução impressa e colocada à disposição do povo.
Mediante o acalmar da situação, Lutero reaparece no cenário dos
acontecimentos e o grupo de freiras, agora encabeçado por Catarina,
decidiram escrever-lhe uma carta pedindo ajuda. A própria Catarina
redigiu a carta. Martinho Lutero tomou conhecimento da condição delas e
decidiu ajudá-las a fugir do convento.
Para pôr em ação o plano de fuga, pediu a ajuda de um amigo
comerciante de Torgau, que tinha acesso ao convento quando ali ia levar
alimentos. Seu nome era Leonardo Koppe. Então, em 14 de abril de 1523,
Catarina e suas amigas, 12 noviças, aguardavam para fugir para longe dos
muros do convento, rumo à uma nova vida. Viajaram agachadas em um
barril de peixes, lutando corajosamente pela verdade que agora conheciam,
passando pela cidade de Grimma, levando-as até Torgau, a qual ficava
cerca de 52 Km de Nimbschen, de onde saíram.
Do pequeno grupo de noviças fugitivas, três voltaram para suas
famílias e nove seguiram viagem para Wittenberg, situada cerca de 50 km
de Torgau, e ali foram bem recebidas. Eles procuraram por famílias que
pudessem acolhê-las e depois de um tempo, algumas delas casaram-se,
tiveram filhos, arranjaram emprego, todas ajudadas por Martinho Lutero e
Filipe Melanchthon. Cada uma delas foi se arranjando na nova vida, e, em
dois anos após a fuga, todas já haviam encontrado seu caminho, exceto
Catarina. Ela permaneceu um tempo na casa de Lucas Cranach, o pintor
que fez o seu famoso retrato e tornou-se uma grande amiga de Barbara
Cranach.
SEU CASAMENTO
Em Wittenberg, diz a tradição, que Catarina conheceu o que viria a chamar
de primeiro amor, um jovem chamado Hieronymus Baumgärtner.
Acredita-se que estiveram apaixonados e planejavam casar-se, Lutero
aprovava a relação, porém, a família do rapaz não autorizou o casamento
do filho com uma ex-freira. Esse episódio fora, sem dúvida, doloroso para
Catarina, mas, sendo ela uma mulher forte conseguiu superar logo. Não
demorou para que Lutero arranjasse-lhe um novo pretendente, o Pastor
Glatz, mas ela recusou-se a casar-se com ele, uma vez que não havia
casado com aquele que julgava amar.
Por vezes dizia: “Só me casarei com o Dr. Lutero ou com alguém
muito parecido com ele”. Lutero ouvia isso como uma piada engraçada,
pois, apesar de condenar o celibato clerical, não nutria interesse pessoal
pelo casamento. No entanto, a convivência foi gerando uma conveniência
e juntando a isso a insistência dos amigos, inclusive de seu pai, Martinho
Lutero terminou cedendo e propôs casamento à jovem Catarina.
Em 13 de junho de 1525 ficaram noivos e, doze dias depois, em 25 de
junho, casaram-se! Todos os amigos da Reforma alegraram-se com o
casamento de Lutero. A Universidade de Wittenberg, que devia a sua fama
e prosperidade quase inteiramente a Lutero, presenteou-lhes com um copo
de ouro fino, e a cidade deu-lhes uma ‘adega’ considerável de vinho do
Reno, Borgonha e cerveja. Porém, a decisão de casar causou surpresa a
muitos, e para alguns pareceu ser uma atitude precipitada. Inclusive
Melanchton, escrevendo a um amigo disse: “Inesperadamente, Lutero
desposou Bora sem querer mencionar seus planos ou consultar seus
amigos”. Muitos outros antagonistas de Lutero tinham a abundância de
coisas maliciosas que dizer. A postura contrária de muitos ao casamento
de Catarina e Lutero tinha várias razões: primeiro, nessa altura era
inadmissível que um religioso contraísse casamento, essa era uma decisão
escandalosa! Segundo: a insegurança da vida de Lutero. Ele travava uma
grande batalha com Roma. Sua posição era de herege e excluído. Sua vida
era de constante perigo e fuga. Haviam outras razões que tornavam o
casamento deles uma decisão escandalosa, Lutero era muito mais velho
que Catarina. Quando se casaram, ele tinha 42 e ela 26 anos de idade.
Acusavam Lutero de entregar-se às paixões do matrimônio, enquanto os
camponeses faziam guerras como resposta à igreja por causa da Reforma
Protestante. Se Lutero havia se casado, apenas para dar ênfase ao seu
ensino das escrituras, que era contrário ao celibato, logo ele descobriu que
o casamento trouxe ricas bênçãos ao robusto guerreiro da Reforma. Ele
descobriu uma ternura cativante em seu caráter tempestuoso que nunca
poderia ter conseguido sem o casamento. Ele escreveu em dada altura: “A
maior bênção que Deus pode conferir ao homem é a posse de um boa e
piedosa esposa com quem possa viver em paz e tranquilidade; a quem ele
pode confiar inteiramente seus bens, até mesmo a sua vida e bem-estar, e
que dar-lhe filhos”.
Catarina também fora difamada e criticada por esta união, contudo,
em meio a todas adversidades, ela e seu precioso marido estavam prestes a
viver os 21 anos mais felizes de suas vidas, até a morte do reformador.
Lutero escrevendo a um amigo sobre o início de sua vida matrimonial,
declarou: “Existem algumas coisas com as quais precisamos nos
acostumar no primeiro ano de casamento; o sujeito acorda de manhã e
encontra um par de tranças postiças no travesseiro, onde antes não havia
nada!” Entretanto, após um ano de casado, escreveu: “Minha Kathe é, em
tudo, tão dedicada e encantadora que eu não trocaria minha pobreza pelas
maiores riquezas do mundo”.
A casa onde foram viver era parte do mosteiro que Agostinho tinha
entrado quando ainda era jovem. Esta fora concedida a Lutero na
qualidade de palestrante da universidade de Wittenberg. A festa de
casamento fora realizada ali. Lutero estava muito feliz no dia que trouxe
Catarina para sua casa. Ali também, teve a alegria de receber seu velho pai
e mãe, a quem amigos secretamente trouxeram para a celebração.
V I D A FA M I L I A R
Catarina tornou-se uma maravilhosa esposa e uma excelente dona de casa.
A vida cotidiana da família de Catarina e Lutero era sempre muito
movimentada, pois além de todos os afazeres, a casa deles era sempre
muito frequentada e habitada. Houve ocasião em que 25 pessoas moravam
em sua casa e mais o casal, os filhos e os 11 órfãos de quem cuidavam.
Ela havia aprendido no convento a arte de administrar e se tornara
exímia na administração das finanças da família. De fato tinha que ser
muito perspicaz em sua gestão, até porque Lutero mantinha-se sempre
aberto a ajudar e acolher amigos, alunos e a todos que necessitassem,
nunca se negava em ajudar a alguém; sua caridade, muitas vezes excedia a
capacidade dos recursos que possuíam, ela esmerava-se em gerenciar
sabiamente o excesso da caridade de Lutero e a escassez. Com sabedoria
eles mantinham uma vida simples e hospitaleira, sempre rodeados dos que
precisavam de suas atenções e cuidados.
CUIDADOS DE ESPOSA
Sua amizade pelo marido iniciou desde que ouvira falar a seu respeito,
quando ainda estava no convento e sua admiração por ele aumentava a
cada dia ao ler seus escritos e ao vê-lo palestrar ou pregar.
Durante sua vida Lutero sofreu com muitos transtornos decorrentes
de sua vida anterior de austeridade e em parte pelos seus trabalhos
excessivos. Catarina cuidava de seu marido com dedicação monástica;
sempre fazia uso de seus conhecimentos de medicamentos à base de
plantas, aprendido no convento, para aliviar suas dores nervosas. Ela
também tinha que lidar com as constantes perdas de humor dele, quando
se entregava à tristeza profunda. Ás vezes escrevia secretamente para o
seu amigo, Justus Jonas20, que sabia, por vezes, como restaurar a alegria e
o ânimo a Lutero, usando um pouco de brincadeira e assim, aliviando a
pesada nuvem de tristeza que pairava sobre ele. Conta-se que, em uma de
suas profundas crises emocionais, Catarina, preocupada com o estado
depressivo em que definhava seu marido, tentou retirá-lo do seu estado de
angústia e prostração usando uma estratégia para atrair-lhe a atenção.
Resolveu aparecer diante dele vestida de preto, como se estivesse de luto.
Ao vê-la vestida daquela maneira, quis saber quem havia morrido, ao que,
apressadamente respondeu: “Deus. Deus morreu!”. Tentando recuperar-se
do susto, respondeu-lhe Lutero: “Mas, Deus não morre! O que você quer
dizer com isso?” Quando se deu conta que seu plano havia dado certo,
Catarina disse-lhe: “Ah, é... Lutero! Olha, eu o vi tão cabisbaixo, triste e
desanimado, que pensei que Deus tivesse morrido!”. Isso trouxe Lutero de
volta à razão, permitindo-se sair do estado de tristeza que se encontrava,
assimilando a preciosa lição dada por sua sábia esposa. Lutero abraçou e
beijou sua esposa e em lágrimas agradeceu a Deus por sua companheira,
por ela ter sido usada como instrumento de restauração da sua fé e
confiança da direção divina em sua vida.
Catarina cuidou de Hans Lutero, seu primeiro filho, ao mesmo tempo
em que seu esposo passava por uma terrível depressão. Houve uma
ocasião, dois anos depois de seu casamento que Lutero ficou gravemente
doente e, apesar de todos os cuidados de sua bondosa esposa que dia e
noite mantinha-se dedicada a cuidar dele, sentia que iria morrer. Por
precaução queria que seus dois melhores amigos recebessem sua
declaração de fé, para se proteger das calúnias dos seus inimigos, caso
anunciassem ao mundo, após a sua morte, que ele havia se retratado da sua
fé. Então, ele disse: “Onde está minha querida Katy? Onde está o meu
pequeno coração?”. Ela veio para o lado da cama e ele abraçou a mãe e o
bebê. “Ó meu querido filho,” ele disse com lágrimas: “Eu encomendo a
Deus, você e sua boa mãe, minha querida Katy. Vocês não têm nada, mas
Deus vai cuidar de vocês. Ele é o Pai de órfãos e viúvas… “, acrescentou
depois, “você sabe que eu não tenho nada para deixá-lo”. Mais uma vez
Catarina encorajou-o, lendo algumas passagens das Escrituras, e, como
para si mesma, disse: “Meu querido, se for a vontade de Deus, então, eu
preferiria que você estivesse com o nosso amado Senhor Deus do que
comigo. Mas não é tanto eu e meu filho que precisamos de você como
muitos cristãos devotos. Confio-vos à vontade divina, mas eu confio em
Deus, que ele, misericordiosamente irá mantê-lo”. Catarina não foi
decepcionada em sua esperança de recuperação do esposo. Nessa mesma
noite, ele começou a sentir-se melhor.
VIDA DE DEVOÇÃO
Catarina por sua devoção e amor a Deus havia desenvolvido um caráter
cristão que a aproximava do perfil da mulher sábia que a Bíblia descreve,
era devota na edificação de sua casa, priorizava o cuidado doméstico de
sua família e fazia disso seu serviço ministerial ao Senhor de sua vida.
Vê-se em Catarina uma esposa dedicada, entregue à missão de Deus
dada ao seu marido. Mesmo quando ele desvanecia em suas forças, devido
à suas enfermidades, ela mantinha-se firme e, com graça e sabedoria,
soerguia seu esposo para o lugar da sua missão. Regularmente ela se
sentava ao seu lado e lia a Bíblia para ele, edificando o seu coração.
Lutero dedicava as primeiras horas do seu dia à oração e estudo, e
Catarina tinha o cuidado de que ele tivesse esse tempo sem nenhuma
perturbação. Ela conciliava as tarefas da casa, de hospedagem, mãe,
esposa com a árdua tarefa de ajudá-lo na tradução das escrituras para o
alemão. Ouvia os seus desabafos e sabia que cada vez que ele saía para
pregar, podia não o ver voltar, pois quanto mais pregava, mais inimigos
Lutero ganhava. Expandir o Reino e as verdades bíblicas significava para
Catarina poder ficar viúva. Mas ela sempre o encorajava: “Deus cuidará
de nós. Não tema! Pregue!” Ela realmente é admirável. Sua postura
permitia Lutero pregar livremente e arriscar sua vida pela Verdade que
defendia a custo da própria vida!
Contudo, Catarina possuía uma sensibilidade especial e usava isso
para o bem da família e do seu marido. Em certa ocasião, Lutero foi
convidado para o casamento de seu amigo Spalatin. Ela estava ansiosa
com sua saída da cidade para fora e implorou para ele não ir. Então ele
escreveu: “As lágrimas da minha Katy impedem que eu venha. Ela acha
que seria perigoso”. Suas “premonições” se mostraram corretas. Lutero
tinha provocado o ressentimento de quatro jovens nobres que perderam
parte de sua herança, através de seus pais, recebendo de volta suas irmãs
resgatadas do convento de Freiberg. Descobriu-se que esses homens
tinham conspirado para tramar e assassinar Lutero em seu caminho para o
casamento.
C AT A R I N A E A M AT E R N I D A D E
Catarina von Bora deu à luz seis crianças: João (1526), Elizabeth (1527),
Magdalena (1528), Martin (1531), Paul (1533) e Margarete (1534). Ela
chegou a ver seus filhos atingirem a idade adulta, alcançando posições de
influência na sociedade, exceto aqueles que morreram na infância, que
fora grande sofrimento para o casal. Catarina e Lutero perderam duas
filhas, a primeira foi Elizabeth que morreu aos 8 meses de idade, e a
segunda foi Madalena que faleceu aos 13 anos. Quando Madalena adoeceu
gravemente, Lutero orou: “Senhor, eu amo muito a minha filha, mas seja
feita a Tua vontade”. Ajoelhando-se junto à cabeceira de sua cama, falou:
“Madalena, minha menina, eu sei que você gostaria de permanecer aqui
com seu pai, e também sei que gostaria de ir encontrar-se com o seu Pai
no céu”. Ela, sorrindo, respondeu: “Sim, papai, como Deus quiser”.
Finalmente, depois de alguns dias, ela faleceu em seus braços, e no seu
sepultamento, Lutero disse chorando: “Minha querida e pequena Lena,
como você está feliz! Você ressurgirá e brilhará como o Sol e as estrelas…
É uma coisa esquisita — eu saber que ela está feliz e em paz, e ainda
assim, me sentir tão triste!”
Quanto aos outros filhos de Lutero e Catarina, foram todos guiados e
preservados por Deus, e, apesar da pobreza que se abateu sobre Catarina
após a morte de seu esposo, todos os seus filhos foram bem-sucedidos em
suas vidas pessoais. O mais velho, Hans estudou Direito e tornou-se
conselheiro de estado do eleitor John Frederick II. O segundo, Martin,
estudou Teologia. O terceiro, Paul, era o mais talentoso, tornou-se um
médico famoso, foi professor de Medicina da Universidade de Jena e mais
tarde tornou-se um médico da Corte. E, a quarta filha, Margareth casou-se
com um rico prussiano21, um grande admirador de seu pai e teve nove
filhos. Alguns dos descendentes de Lutero que ainda vivem, descendem de
sua filha Margareth, dentre eles, Paul Von Hindenburg, que presidiu a
Alemanha de 12 de maio de 1925 a 2 de agosto de 1934.
Catarina e Lutero eram pais diligentes, “disciplinando seus filhos, em
amor”. O lar deles era famoso pela vitalidade e felicidade ali reinantes e
dessa forma, tornou-se um modelo para as famílias cristãs alemãs por
muitos anos. Lutero considerava o casamento como a melhor escola para
moldar o caráter e a vida familiar, um método excelente e apropriado para
treinar e desenvolver as virtudes cristãs da firmeza, paciência, bondade e
humildade.
O casal viveu em Schwarzes Kloster durante 20 anos com filhos,
filhas, familiares, estudantes, convidados, visitas, pessoas foragidas e
também pessoas que trabalhavam com a família.
Eles cuidaram ainda de uma parente de Catarina e, em 1529, uma
irmã de Lutero faleceu. Então receberam em sua casa mais 6 crianças
órfãs, que se juntaram à família. Além dos familiares e de um cachorro de
estimação, era comum haver mais de 30 pessoas no mosteiro, entre
hóspedes, viajantes em trânsito e estudantes que costumavam receber ali,
que pagavam pelos seus estudos, ajudando no orçamento doméstico.
H O S P I TA L I D A D E , U M A M A R C A E M C AT A R I N A
VON BORA
Na Língua Portuguesa hospitalidade se define como o ato de hospedar, ou
seja, receber e cuidar de alguém que pertença a um ambiente diferente do
anfitrião. Essa definição se amplia no grego do Novo Testamento, que
significa “amor pelos estranhos. O filósofo Emmanuel Levinas22 disse que
“Hospitalidade é o acolhimento do outro”. Levinas vai um pouco mais
além e define o ser feminino como o acolhedor por excelência, como o
acolhedor em si, a sua ideia é associar a mulher ao acolhimento
hospitaleiro. Seguindo o mesmo entendimento, o filósofo Jacques
Derrida23, interpreta Levinas e diz que hospitalidade e responsabilidade
são dois termos inseparáveis, duas palavras femininas que, em seu
vocabulário ético e político, se ligam ao pensamento do feminino. Neste
sentido, Derrida diz que a ideia de acolhimento inserida na hospitalidade
se manifesta na feminilidade da mulher.
“A casa que funda a posse não é posse no mesmo sentido que as coisas móveis que ela
pode recolher e guardar. Ela é possuída, porque ela é, doravante, hospitaleira ao seu
proprietário. O que nos remete à sua interioridade essencial e ao habitante que a habita antes
de todo habitante, ao acolhedor por excelência, ao acolhedor em si — ao ser feminino.”
(LÉVINAS, 2000, p. 140, citado em DERRIDA, 2004b, p. 60).

É interessante ver na obra desses dois filósofos, a relação entre


hospitalidade e feminilidade. No entanto, não necessitaríamos
essencialmente de ideias filosóficas para compreendermos a hospitalidade.
A escritura está repleta de exemplos que nos traz claras definições e
práticas da hospitalidade. Em II Reis 4.8-10 vemos que a mulher sunamita,
que era uma mulher rica, construiu e mobiliou um quarto em sua casa para
hospedar o profeta Eliseu. Temos ainda o exemplo em I Reis 17.8-16 de
uma viúva pobre da cidade de Serepta, que viva em escassez, mas que, por
muitos dias, alimentou o profeta Elias com o pouco que tinha. Poderíamos
citar diversos exemplos bíblicos de hospitalidade, no entanto, mais que
exemplos, a Bíblia nos apresenta a hospitalidade como um dever que fora
praticado pelos patriarcas (Gn 18.3) antes mesmo da prescrição da Lei (Lv
19.33,34).
O contexto da Igreja Primitiva tornava os cristãos especialmente
dependentes da hospitalidade uns dos outros e, assim, todos os seguidores
de Jesus deveriam praticar a hospitalidade como expressão de amor e
como sinal de vida cristã. A hospitalidade tornou-se a marca registrada da
vida cristã no Novo Testamento (Romanos 12.13; 1 Pedro 4.9; Hebreus
13.2). A hospitalidade foi um meio de expansão do Evangelho. Na igreja
primitiva era importante que as casas estivessem abertas para aqueles que
estivessem de passagem pudessem ter um local para descansar, comer e se
hospedar. Não só nesse tempo, mas em todo tempo em que a igreja foi
perseguida, cristãos recebiam outros cristãos em sinal de amor e
participação na expansão do reino. Isso é bem notado no período de
expansão da Reforma Protestante em que os cristãos, fugindo da
perseguição da igreja, buscavam refúgio e segurança na casa de outros.
Assim, a casa de Lutero e Catarina, era, além de tudo, um lugar de
hospedagem a peregrinos, viajantes e estudantes que podiam contar
sempre com a diligenciosa atenção de uma esposa que servia a todos com
amor. A hospitalidade era uma marca em Catarina, que foi capaz de
transformar seu lar em um abrigo a todos os que necessitavam. Ela e
Lutero tornaram seu lar uma fortaleza para os oprimidos. Monges, freiras,
padres que abriam seus corações para verdade de Deus e se tornavam
adeptos da Reforma podiam buscar refúgio contra a perseguição no lar de
Catarina e Lutero. Mesmo que isso os expusesse a uma invasão em seu
próprio lar, nunca se negavam em fazer o bem e nem de ajudar a um
necessitado. Além de abrigar os renegados da igreja romana, sempre
ofereciam dinheiro a quem precisava, chegaram até mesmo a vender as
lindas porcelanas que Catarina ganhou de presente de casamento, e assim
usaram o dinheiro para abençoar aqueles que lutavam pela causa de Cristo.
C AT A R I N A , A D O N A D E C A S A
Catarina cultivava uma vida dada ao trabalho em que estava “atenta ao
andamento da casa e não come o pão da preguiça” (Pv 31.27). Lutero
costumava chamá-la de “a estrela da manhã de Wittenberg”, já que
diariamente levantava às 4 horas da madrugada para dar conta de suas
muitas responsabilidades. Com muita frequência, o reformador caía
enfermo, e Catarina cuidava dele não simplesmente como esposa, mas
quase como enfermeira, devido aos grandes conhecimentos médicos que
possuía. Conhecimentos de medicina na idade média era considerado
muito importante; ela provavelmente possuía uma rica farmácia
doméstica, que contava com uma grande variedade de espécies cultivada
na sua horta.
Catarina tinha então, uma rotina diária bastante atarefada. Ela era
uma dona de casa no sentido exato que a palavra significada em seus dias.
“Hausfrau”24 ou “dona de casa” que significava ser a administradora de
todos os bens da família. Ela controlava o orçamento da família com
muita dedicação e sabedoria. Tinha uma horta, um orquidário,
confeccionava material para pescaria, e acabaram, posteriormente,
adquirindo uma pequena fazenda em Züllsdorf, onde criavam gado,
galinhas e fabricavam cerveja caseira e ainda alugou um açude para a
criação de peixes. Ela, sem dúvida, contribuiu de forma efetiva para a
prosperidade da família e cuidava inclusive da produção intelectual do
marido, pois era ela quem negociava com os editores sobre seus escritos.
Catarina reformou o mosteiro e o administrou, o que veio a permitir
que Lutero gozasse de relativa paz e ordem em sua vida privada. Ela
dirigia e administrava as finanças da família, para que ele pudesse
dedicar-se às tarefas que essencialmente lhe competiam: escrever, ensinar
e pregar. Ela foi uma esposa dedicada e diligente, a quem Lutero
frequentemente se referia como “Kathe, minha patroa”.
Ela também gostava de ler e de bordar. Entretanto, sua vida não era
somente dedicada a coisas materiais. Seu marido a encorajava em seus
estudos bíblicos devocionais e sempre sugeria algumas passagens
particulares para que memorizasse.
Em termos de recreação, Lutero gostava de participar de jogos ao ar
livre com a família, e também apreciava os jogos de mesa, como o xadrez,
além de jardinagem e música.
A MORTE DE LUTERO
Lutero morreu no dia 18 de fevereiro de 1546. Ele havia feito de Catarina
sua única herdeira e responsável pelos filhos e filhas em seu testamento.
No entanto, esse desejo de Lutero não condizia com as leis da época, pois
uma viúva necessitava de um tutor. O testamento de Lutero foi contestado
e assim Catarina perdeu o direito sobre muitos dos bens da família. O
tempo de viuvez foi muito difícil, ela ainda viveu por mais 6 anos após a
morte de seu marido, porém, no mesmo ano da morte de Lutero ela deixou
Wittenberg e fugiu para Dessau, devido à guerra smalkaldiana25. Uma
grande peste se abateu sobre a cidade de Wittenberg e, em 1552, Katharina
von Bora retirou-se com sua filha Margarete para a cidade de Torgau, na
Alemanha. Em direção a Torgau, ela sofreu um acidente no caminho e foi
jogada para fora da carroça, ficando gravemente ferida. Ela não se
recuperou e, em consequência deste acidente, veio a morrer três meses
depois, em 20 de dezembro de 1552. Antes de morrer disse: “Vou me unir
com meu Senhor e Cristo”. Ela foi enterrada na Igreja de Maria, em
Torgau.
CONTRIBUIÇÃO E LEGADO DE UMA MULHER
DE DEUS
Catarina von Bora, sem dúvida foi uma das figuras femininas mais
importantes da Reforma Protestante do Século XVI. Não que ela tenha
praticado qualquer grande ato heroico, se envolvido pessoalmente em
grandes controvérsias ou sido martirizada em virtude da sua fé. Embora
haja quem queira atribuir a ela títulos de teóloga, doutora ou pregadora,
um de seus biógrafos disse a seu respeito: “ela não escreveu nenhum livro
nem jamais pregou um único sermão, mas seu inestimável auxílio
possibilitou que seu marido fizesse tudo isso como poucos na história da
igreja”26.
Catarina teve oportunidade de se relacionar com a intelectualidade do
período da Reforma, pois, abrigava em seu pensionato em Schwarzes
Kloster, estudantes de várias regiões da Europa, além dos muitos hóspedes
internacionais, que vinham discutir com Lutero questões relativas à
teologia e ao movimento da Reforma que estava em curso. Como grande
parceira que era de seu marido, seguramente participou de muitas
discussões e conversas teológicas que aconteceram ao redor da mesa em
sua casa com estudantes e reformadores, mas isso não conferiu a ela
nenhum título ou posição diferente daquela que a Teologia Reformada que
Lutero pregava, dava-lhe.
Deseja frisar aqui, depois de tudo que já fora dito sobre esta grande
mulher, três aspectos de sua vida devotada a Deus:
A ajudadora idônea: Catarina demonstrou em sua vida que havia compreendido seu papel
ao lado de seu esposo como ajudadora idônea. Nota-se nos relatos de sua vida e nos
registros feitos por Lutero a seu respeito que ambos se completavam como uma equipe no
papel de servir a Deus, à família e às pessoas. Não se nota qualquer vestígio de competição
ou de desagrado em Catarina em estar debaixo da missão que Deus havia dado ao seu
esposo.

Em um mundo de tantas competições entre homens e mulheres, onde


os casamentos tornam-se, muitas vezes, como ringues de competições, é
preciso entender qual o nosso papel como ajudadora idônea, na perspectiva
do Criador.
Hospitalidade cristã: O serviço de hospitalidade cristã exige esforço, abnegação e
dedicação a serviço de outros. Observa-se na história de Catarina a sua entrega total de sua
vida a serviço do próximo, essencialmente, por meio da hospitalidade. A casa da família
constituía-se um refúgio e abrigo a todas que necessitava.

O serviço cristão em favor dos outros tira-nos de nossa zona de


conforto e leva-nos a desgastar-nos para que outros sejam servidos. É
mesmo um serviço de amor aos outros. Mais que uma opção, servir aos
outros é uma ordenança bíblica que cabe a todo cristão praticar.
Vida diligente: Na vida de Catarina não havia espaço para o ócio. Sua vida diligente no
serviço da casa, no cuidado do esposo, filhos e agregados, não lhe permitia tempo para
vulgaridades. Mesmo com todos os afazeres, administração e cuidado com a vida
ministerial do esposo, ocupava-se ainda da vida devocional, meditação e memorização de
versículos bíblicos. Certamente na sua rotina não havia espaço para sentimentalismo,
dúvidas e temores. Suas energias eram focadas em suas atividades diárias. A praticidade da
vida doméstica de nossos dias nos tem assegurado tempo para ociosidade e, até mesmo,
vulgaridade. Na maioria das vezes vivemos como se nunca tivéssemos tempo e o tempo
livre que possuímos não o aplicamos devidamente em nosso crescimento pessoal e
espiritual. A exemplo de Catarina, a vida diligente em nossos afazeres pode livrar-nos de
uma vida medíocre, espiritual e pessoalmente.

20 Justus Jonas, o Velho (1493-1555) foi jurista, humanista, historiador, teólogo e reformador
alemão. Foi tradutor da Bíblia e compositor de hinos. Teve papel significativo na tradução do
Velho Testamento, que fez parte da Bíblia de Lutero.
21 Natural da Prússia. O nome Prússia deriva dos prussianos. No século XIII, os cruzados
alemães, os Cavaleiros Teutônicos, conquistaram os “prussianos”.
22 Emmanuel Levinas (905/ 1995), foi um filósofo francês nascido numa família judaica na
Lituânia.
23 Jacques Derrida (1930/2004), filósofo francês.
24 Hausfrau significa “dona de casa” em alemão. Mas hausfrau cuidava não apenas da casa, mas
de todos os bens da família.
25 Liga de Esmalcalda ou de Schmalkalden (Schmalkaldischer Bund, em alemão) era uma
aliança defensiva de príncipes protestantes do Sacro Império Romano criada em 27 de fevereiro
de 1531. Recebeu o nome da cidade de Schmalkalden, na Turíngia (atual Alemanha), onde foi
proclamada. A liga foi fundada por Filipe I de Hesse e João Frederico, Eleitor da Saxônia, que se
comprometeram a defender-se mutuamente caso seus territórios fossem atacados pelo imperador
Carlos V. para poder desafiarem a autoridade de Carlos com força militar.
26 Citando James I. Good em As grandes Mulheres da Reforma p.134
CONCLUSÃO

C atarina von Bora certamente foi uma mulher admirável em seu


tempo; uma esposa sensível e uma dona de casa aplicada, cujo
legado e testemunho de vida ainda inspira mulheres deste século. Ela foi
um grande apoio para seu marido e proporcionou-lhe um ambiente
familiar que lhe deu as devidas condições de avançar nos estudos e ensino
da doutrina bíblica. Como Lutero mesmo disse a um amigo: “Minha
querida Katy me mantém jovem e em boa forma também (risos). Sem ela eu
ficaria totalmente perdido. Ela aceita bem minhas viagens e, quando volto,
está sempre me esperando. Cuida de mim nas depressões. Suporta meus
acessos de cólera. Ela me ajuda em meu trabalho e, acima de tudo, ama a
Jesus. Depois de Jesus, ela é o melhor presente que Deus me deu em toda a
vida”.
Um dia, já perto de sua morte, Lutero abraçou a esposa e,
acariciando-lhe o cabelo, disse: “Acredito que Deus tenha usado minha
vida para mudar a história da igreja, mas eu não poderia ter feito nada
sem você. Se um dia escreverem a história da Reforma da Igreja, espero e
oro para que seu nome apareça junto ao meu.” Tudo que Catarina falou ao
ouvir isso foi: “Tudo que tenho sido é esposa e mãe, e acho que uma das
mais felizes de toda a Alemanha! ”
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https://bereianos.blogspot.pt/2011/10/as-mulheres-na-reforma-protestante.html. Acesso em:
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http://www.germany.travel/pt/especiais/luther/contemporaries/seguidores.html. Acesso em:
03 de março de 2016.
http://www.atendanarocha.com/2011/10/lider-da-reforma-protestante-katarina. html. Acesso
em: 03 de março de 2016.
https://www.youtube.com/watch?v=lpRcMuwuuCA. Acesso em: 03 de março de 2017.
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• A Ceia do Senhor (Thomas Watson)

• A Confissão de Fé Belga

• Adoração Evangélica (Jeremiah Burroughs)

• A Família na Igreja (Joel Beeke)

• A Igreja Apostólica (Thomas Witherow)

• A Igreja de Cristo (James Bannerman)

• A Igreja no Velho Testamento (Paulo Brasil)

• A Palavra Final (O. Palmer Robertson)

• As Bases Bíblicas para o Batismo Infantil (Dwight Hervey Small)

• As Três Formas de Unidade das Igrejas Reformadas

• A Visão Federal (Alan Alexandrino)

• Crente Também Tem Depressão (David Murray)

• Cristianismo e Liberalismo (J. Gresham Machen)

• Fazendo a Fé Naufragar (Kevin Reed)

• Figuras do Varão, um diálogo... (Manoel Canuto)

• Governo Bíblico de Igreja (Kevin Reed)

• João Calvino era Assim (Thea B. Van Halsema)

• Neocalvinismo — Uma avaliação crítica (Cornelis Pronk)

• No Esplendor da Santidade (Jon Payne)


• O Catecismo de Heidelberg

• O Espírito Santo (John Owen)

• O Espírito Santo (Sinclair B. Ferguson)

• O Livro da Vida (Valter Graciano)

• O Modernismo e a Inerrância Bíblica (Brian Schwertley)

• O Que Toda a Mãe Gostaria de Saber Sobre Disciplina Bíblica (Simone Quaresma)

• Os Cânones de Dort

• Perspectivas Sobre o Pentecostes: Estudos sobre o Ensino do Novo Testamento Acerca


dos Dons (Richard Gaffin)

• Por que Devemos Cantar os Salmos (Joel Beeke; Terry Johnson; Daniel Hyde)

• Quando o Dia Nasceu (Pieter Jongeling)

• Que é um Culto Reformado (Daniel Hyde)

• Reforma Ontem, Hoje e Amanhã (Carl Trueman)

• Todo o Conselho de Deus... (Ryan McGraw)

• Um Trabalho de Amor: Prioridades pastorais de um puritano (J. Stephen Yuille)

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