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Amor de perdição linguagem e estilo

A linguagem e o estilo de Camilo Castelo Branco na obra Amor de Perdição caracterizam-se


pelos seguintes aspectos:

 Coexistência de uma linguagem culta ao mesmo retórica em que predominam os


períodos longos, com uma linguagem mais popular, corrente e dinâmica com períodos
curtos;
 Linguagem adaptada à caracterização das personagens (por exemplo, natural em
Mariana ou João da Cruz, mais cuidada e estilizada em Simão e Teresa);
 Linguagem poética, sobretudo nas cartas;
 Presença de metáforas ao serviço da intensificação dos sentimentos;
 Presença da ironia na crítica social;
 Concisão dos diálogos;
 Uso recorrente de vocabulário do campo semântico de amor, dor, morte, sofrimento;
 Construção frásica com pouca subordinação; Relevância do uso expressivo do verbo;
 Utilização do pretérito perfeito e do pretérito imperfeito que permite um relato mais
rápido e conciso. Os diálogos: Os diálogos em Amor de Perdição são acção, pois
derivam para os pontos essenciais da intriga. Há vários tipos de diálogo com a função
de: Informar sobre determinadas circunstâncias;
 Fazer a expansão sentimental;
 Permitir a confrontação;
 Comunicar decisões tomadas. Os diálogos são também importantes na caracterização
das personagens porque o narrador, através deles, transmite as diferentes visões do
mundo e as diferentes sensibilidades dos protagonistas.

Nota se a preocupação de Camilo em conseguir o efeito de verosimilhança atraves dos


diálogos que marcam os momentos quer de tensão, quer de paixão, quer ainda de
sofrimento amoroso.

Os dialogos são também instrumentos únicos de descodificação das caracteristicas


específicas de deter. minado grupo social, nomeadamente da nobreza/burguesia (com um
registo cuidado) e do povo (coma sua linguagem coloquial e familiar).

• Diálogo marcado por forte tensão dramática e que:

 acentua as características românticas de Teresa;


 reforça a sua rebeldia e inconformismo face à vontade de seu pai e face às
convenções sociais da sua época;
 reitera os contornos trágicos deste amor.

Salientam-se:

 as frases curtas e incisivas, que refletem a tensão vivida entre pai e filha;
 o uso de reticências a sugerir a pausa no discurso, para reflexão, provando o confronto
de ideologias antagónicas;
 as frases exclamativas de Tadeu ou as de Teresa, mostrando estas a exasperação da
jovem perante a presença de Baltasar;
 o recurso a um registo cuidado, adequado à posição social das personagens, marcando
a distância geracional.
O ESTILO
Amor de perdição é classificada pelos críticos como uma novela passional. Em novelas
passionais, Camilo Castelo Branco apresentou três fases: a 1 foi à fase melodramática, de
grande pobreza psicológica onde predominaram temas como ódio, vingança e crimes. Produziu
novelas criadas basicamente para o entretenimento.Na 2 fase (onde se insere Amor de
Perdição) é representado o melhor de sua obra. A linguagem apresenta-se mais direta e por
vezes irônica. A leitura é estimulada através de um suspense bem dosado e de um enredo
conciso aproximando mais o leitor da obra que passa a acompanhar as jornadas das
personagens. O tema amor reina absoluto. Na 3 fase as novelas passam a constituir romances e
modificam-se apresentando características realistas como as sátiras, críticas sociais e as
observações minuciosas da realidade. Temas como o adultério passam a ser explorados. A
linguagem torna-se mais popular. Na novela passional Amor de Perdição, o amor funciona
como uma espécie de destino e de fatalidade que domina e orienta tanto o a vida quanto a
morte das personagens que passam a seguir cegamente os seus impulsos amorosos. Não
podemos esquecer que a novela se enquadra no período literário do Romantismo
apresentando-se como ótimo exemplo de literatura da época. O amor é o tema central.
Apresenta-se desenfreado, profundo, além das forças e dos limites, trazendo consigo o
sofrimento por chocar-se frontalmente com as necessidades e convenções sociais. A paixão
passa a justificar toda sorte de condutas, até mesmo o enlouquecimento num tom
profundamente trágico e passional. Existe toda uma luta por parte das personagens para
alcançar a felicidade amorosa, que em contrapartida apresenta-se em vão contra a sociedade
injusta da época. A ideia de que o sentimento deve sobrepor-se a razão é levada até as ultimas
consequências nesta história. A presença de "mártires do amor" demonstra a angustiosa
procura pelo sofrimento como razão de viver, característica marcadamente ultra-romântica. O
casal luta, sofre todo o tipo de provação onde permanece a ideia de que o amor só será
conquistado através do sofrimento e da morte. As personagens possuem a consciência de que
não deveriam se apaixonar, porém não conseguem abdicar de sua paixão. Enfrentam tudo e
todos mesmo quando a felicidade apresenta-se cada vez mais longínqua até que o destino
realmente lhes fala mais alto. Chegando a morte, ocorre também a sublimação do amor das
personagens através dela. O destino trágico do protagonista já nos é apresentado pelo autor
logo na introdução do livro: "Amou, perdeu-se e morreu amando". Funcionou como uma
espécie de Romeu e Julieta lusitano (apresentando vários traços Shakespereanos, como o
drama de Romeu e Julieta, a obra focaliza dois apaixonados que têm como obstáculo para a
realização amorosa a rivalidade entre as famílias.) muito bem recebido pela sociedade
portuguesa da época..

O próprio autor justifica o sucesso de seu romance: "Rapidez das peripécias, a derivação
concisa do dialogo para pontos essenciais do enredo, a ausência de divagações filosóficas, a
Ihaneza de linguagem e o desartifício das locuções".

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