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BRITTO, Lemos. Colonias e Prisões
BRITTO, Lemos. Colonias e Prisões
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COLONIAS E PRISÕES
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Colonias e
Prisões
= NO RIO DA PRATA ---••••
Breve Exposição apresentada ao goreruo do Estado
da Bahia, em 5—8 — IÜ16
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( O Divorcio.. ~ e .zszsjmZ.v
a Sociedade Brasileira.
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«Conferenciou, honteni, com o
dr. Governador do Estado, no
Palacio do Governo, á Praça Rio
Branco, o sr. dr. José Gabriel de
Lemos Britio, que fez entrega a
S. Ex. da memória que escre
veu sobre as instailações peni
tenciarias nas Republicas Pla
tinas»— ( Diário Official do Estado
—6—9—916).
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—5—
—8-
apenas, a S. Paulo, o ensaio daquellas que o Codigo
medrosaraenle consignou.
Commentando as conclusões do Congresso de
'Wahinglon, em 1910, escrevia o dr. Armando
Claros: f
— « En matéria de legislación, se recomien-
da la sentencia de duración indeterminada, y la
celebración de Ira lados inlernacionales para
intercâmbio de. sentencia, y possibilidad de
calificar Ia reincidência >.
Fique, porém, consignada esla pessagem do escri-
ptor argentino: o Congresso não discutiu a liberdade
condicional. Porque?... Aqui vae a resposta:—
Porque— «ese principio, fruto de la fecunda
iniciativa norte -americana, consagrada em di
versos Congresos anteriores, se ha aplicado y
generalisado ampliamenle. Hoij forma parle in- -
tegrante de legislación penal de la mago ria de
las naciones adelanladas, habiendolo adoplado
Estados Unidos, Inglaterra, Francia.Ilalia, Bél
gica, Suiza, Hollauda, Alemania, Áustria, Es
pana y Japon.» (Nuevas tendências penales en
el Congreso Penitenciário de Washington—(1911)
Sobre o mesmo assumplo' o sr. Rodolpho Riva.
rola escreveu:
— «Se trata, pues, de una inslilución ya ex
perimentada, ó por Io menos acreditada en
la legislación contemporânea; y la precedente
enumeración revela sus progresos ano por
ano». (La Condena Condicional, B. Aires).
— 9 —
Sendo este trabalho mais expositivoque de doutrina,
são aqui perfunctoriamente tratadas certas questões
que dariam para largo debate nestas paginas. Entre
ellas está a relativa ás sentenças indeterminadas, a que
acima, e de passagem, alludi.
Julgo utii, todavia, insistindo um pouco demorada-
mente no ponto, mostrar como, no que se lhe referem,
chegaram a um accordo as quatro maiores summidades
conhecidas geralmente, no Brazil, em matéria de di
reito criminal e penal: — Van Hamel, professor da
Universidade de Àmsterdam, Prins, inspector das
prisões na Bélgica, von Liszt, o consagrado mestre
allemão, e Enrico Ferri, a festejada autoridade ita
liana.
Reconhecia Van IIamel que «o problema é dos
mais vastos, e que elle interessa, do ponto de vista
lheorico, a todas as questões fundamcntaes da crimino-
logia e do direito penal. «Para elle, porém, as sen
tenças indeterminadas são a consequência inevitável
do systema das penas privativas da liberdade. Como
um corollario das idéas humanitarias e scienliíicas,
entendia o illustre criminologo que a pena indeler-
' minada deve ser considerada como pena de reforma e
como pena de segurança.
Sob o primeiro destes aspectos, ha meio século que
ella tem defensores na Allemanha e na França; teve
sua consagração nos reformalorios americanos. Sob o
segundo delles, defendida mais tarde em vários con
gressos scientificos, encarnou-se no novo codigo penal
norueguês. Van Iíamel desenvolve uma solida e
larga argumentação em defesa de sua lhese, para logo
affirmar: —«Ora, é certo que a pena prefixa, a pena
2
- 10 —
determinada não basta a preencher, de modo satisfacto- ✓
rio, todas essas funcções. Admiltindo-se, mesmo, que
o juiz se julgue absolulamente esclarecido sobretudo
que entende, não somente com o acto praticado, mas
ainda com a própria personalidade do delinquente, — o
que, de resto, é bastante duvidoso, elle não pode julgar
senão o passado. Tudo que se tem de desdobrar no
futuro, lhe escapa».
O que aleraorisava certa classe de mestres e juizes '
era a absoluta indeterminação da pena. Van Hamel,
porém, iliuminou o caso com esta confissão:—«Eeu
ponho como um dos principios da organisação das sen
tenças indeterminadas que estas sentenças deverão ser,
em todos os casos, sentenças relativamenle indeter
minadas, no sentido de que o juiz pronunciará uma
pena minima » — (Exposição ao Congresso de Paris, de
1889)-.. .
Até essa data havia quem tivesse o grande Prins
como adverso a essa these. Elle respondeu ás ponde
rações do professor hollandès alludindo ao provérbio
de França: «L’ homme absurde est celui qui change
jamais;; —O que, na sua theoria, Van Hamel repu
tava uma «inconsequencia», Prins confessa não ser
mais do que um passo para a sentença indeterminada.
— «Para mim, concluía elle sua breve exposição ao
Congresso de 99, o essencial não é tanto a duração, mais
ou menos longa, do regime, quanto o proprio regime, que
se deve differenciar da pena propriamente dita».
E Von Liszt accrescenlava, nesse luminoso debate
de summidades: — « Estou convencido, agora, de que
nossa idéa das penas indeterminadas vae abrir caminho
—11 —
no mundo.» E dava como prova o discurso do proprio
mr. Prins.
A divergência deste notável penalogista não affe-
ctava a essencia da questão fundamental; era, tão só,
uma questão de terminologia. M. Prins fala de uma
medida de prevenção, de preservação, que não seria
mais ume pena, no verdadeiro sentido da palavra. Não
quero discutir esta questão de palavras; basta-me per-
feitamente qur na maior parte dos casos para que nós
pedimos as sentenças indeterminadas, mr. Prins nos
haja da^o uma medida de prevenção indeterminada».
A sentença indeterminada existe nos Estado-Unidos
dentro daquelle relativo de van Hamel. E’ assim que
Nova Yor<\, Massachussets, Pensylvania, Minnesota, Il
linois, Indiana, Ohio, e outros estados americanos o
adoptam, dentro de um máximo e de um minimura,
sem os quaes ella seria realmente absurda, por
entregar, discrecionariamente, ao critério do juiz ou de
um tribunal, de um lado, a segurança publica, de
outro a liberdade individual, que as constituições de
todos os paizes cercam de garantias fundamenlaes.
Feruí é da mesma opinião de van Hamel.
Em synthese, como registava o eminente escriptor
americano Samuel Barrows, o que constitue o prin
cipio fundamental do novo systema é que a punição
deve adaptar-se ao criminoso, e não ao crime.
Ora, sabido, como é, que o mesmo crime varia in
finitamente, conforme o individuo que o commette e
conforme as causas que o determinam, a pena fixa
parece estar, de modo definitivo, condemnada. Ella é
incompativel com o espirito de correcção e de reforma
da sciencia moderna, em facc dos delinquentes. Si é
-In
verdade que o unico conforto do preso é*ver approxi-
mar-se o dia fixo de sua libertação, também o é que
a rigidez da pena lhe tira o interesse de uma re
adaptação social, ao passo que a certesa de ver pre
miada, com a liberdade, a sua reforma, leva-o suave
mente a uma conducta nobilitadora, a um esforço
sincero para a conquista desta sonhada liberdade.
Igual destaque merece a liberdade sob palavra,
(parolc Ictw), a qual, se bem para alguns se confunda
com a liberdade condicional, delia se differencia, na
pratica, còmo é facil de verificai'-se.
Na republica do norte foi adoptada em primeiro
logar pelos Estados, que ali têm, o direito de legislar
sobre a pena, o que aqui se reservou ao Congresso
Federal. Mas, os resultados obtidos foram de tal
sorte animadores, que a União votou a liberdade
sob palavra, prestigiando os Estados, incorporando-a
á sua legislação. Experimentada no Reformatorio
de Elmira, em Nova-York, imitada 'por outros,
passou á União por lei de 25 de Junho de 1910,
conhecida pela denominação de Release on parole.
O mecanismo desta lei é simples: o recluso que
demonstra amor á disciplina, correcção de conducta,
devolamento ao trabalho, pode, uma vez completada
ou cumprida a terça parte da pena, ser posto em li
berdade, sob palavra.
Assim não praticamos o god time system, im:
plantado na legislação norte americana por acto
de 21 de Julho de 1902, e que se acha adoplãdo
no Uruguay. Essa lei de reducção do tempo da sentença
estabelece para os casos de exemplar procedimento o
desconto de um certo numero de dias por mez,
— 13r —
i
— 19 —
- Nem uma cousa repelle a outra. E creio que neste
ponto o sr. Braulio Xavier estará accorde, harmonico,
afinado com o meu pensamento. Façamos a colo-
nia e pugnemos pela reforma, quer sob o ponto de
vista do direito substantivo, quer no da organisação
judiciaria.
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— 23 —
ao menos o receptáculo das que passaram ao dominio
das realidades praticas.
Está isto nas mãos dos homens de sciencia e
daquelles que, no poder, têm o desejo de se perpetuar
na memória do povo por actos e serviços desse qui
late. (3)
%\
As penitenciarias
i
— 29 --
medio, ei caído bajo, ei império dc las leyes
por imprudência u occasión, con cl homicida
alevoso, con el delincucnte profesional, jovenes
que apenas traspasaran los 18 afios, con hom-
bres maduros y de toda condición». (Op. cif).
Si á luz dos últimos progressos em matéria penal,
a Penitenciaria de Buenos Aires justificava em 1914
a severa accusação do sr. F. Suníco, hoje está posi-
livamenle melhorada, e delia disse o illustre crimi-
nologo sr. Euzebio Gomez que é
— 32 —
vários pavilhões a que alludi, cellas muito ventiladas,
medindo 4 melros de fundo por2e vinte centímetros
de largo e 3 e 18 cs. de altura, com o teclo abobadado.
São caiadas de branco.
Visitando varias dellas, tive oplima impressão, pelo
asseio e medidas hygienicas adoptadas.
Todas têm uma janella que deita para um paleo
muito amplo, além da poria que mede 1 metro e 94 cs.
de altura por 0,82 de largo, em meio da qual hajnna
pequena abertura por onde o preso se communiea com 'mi
cr
o exterior ou recebe os alimentos.
Consta o mobiliário de cada cella de uma tarimba \
de madeira e ferro, mesa, tamborete, prateleira, não
i
contando os objectos indispensáveis ao asseio do roslo
e da cella. l
numental cárcere. 7
- 33 —
de sorte que, quando se penetra nas officinas, a im
pressão recebida é a de achar-se o guarda prisioneiro
dentro de sua jaula, e libertos os presos.
Todo o commando dos reclusos faz-se por meio do
apito, em toques ajustados, aos quaes obedecem au
tomaticamente.
Vejamos, com algumas minúcias, o que é, de faclo,
a grande Penitenciaria. Comecemos pelas officinas.
São estas: — Imprensa, encadernação, lythographia,
pholographia e phologravura, sapataria, colchoaria,
correiaria, alfaiataria, carpinteria, vernizaria, ferraria,
electricidade, machinas, fundição, chumbaria, lato-
eiria, escovaria c olaria, além das secções de fabrico
de massas, lavanderia, etc.
Chamo, aqui, a atlenção do leitor para o seguinte:
—a renda destas officinas, descontados o custo do ma
terial e as porcentagens devidas aos reclusos, é tal, que
custeia todos os serviços penitenciários e muita vez
ainda revertem sobras em beneficio do Estado. Poderá
. parecer absurdo ou exaggero o que estou avançando.
.
Nas próprias penitenciarias norte-americanas regista-se
o «déficit». Assim, e de relance, lembro:
Na Carolina do Norte:
Despesa em 1910. 220:000 dollares
Receita............... 119:837 »
Déficit................. 110:163 »
. Na Geórgia:
Despesa em 1912. 124:995 dollares
Receita............... 28:678 *
Déficit............... . 96:317 J>
5
— 34 —
Não écommum que deixem saldo, como acontece
No Mississipi ?
Despesa de 1909 a 1911 184:964 doliares
Receita....-........... ....... 286:390 »
Saldo TÕP926 »
Pois a Penitenciaria Nacional Argentina deixa, não
raro, grandes saldos.
Consultando as eslalislicas de 1913, anteriores,
portanto, á grande guerra, encontro o seguinte quadro:
Receita. 1.422:261 pesos, papel
Despesa 817:635
Saldo... 605:226
O «peso» argentino está valendo, ao cambio actual,
1$900, o que dá, em moéda brasileira, o saldo que nos
parecerá fabuloso de
1,149:9308000.
Assim, uma direcção competente, activa, honesta
e capaz, realisa verdadeiros milagres.
Passando ao regime, devo lembrar que a Consti
tuição argentina determinou, cm um dos seus artigos,
que o caracter das prisões, no território nacional, fosse
o mais humano possível. A lei penal obedeceu, como lhe
cumpria, ao preceito constitucional. Não só as condi
ções de conforto, como as do trabalho e inslrucção mi
nistrada aos reclusos, provam este acerto. Elles têm
até sua banda de musica, sua bibliotheca, seus paleos
de jogos physicos.
Foi banido o regime ausburniano absoluto e adop-
tado o cellular mixto, sein prohibição de falar, salvo
nos casos especificados no regulamento.
— 35 -
Quando o penado entra, a Direcção procura infor*
mar-se do que ello foi e do que cllp c, para lhe dar
trato e destino especiacs, cabendo aos reincidentes um
pavilhão á parle. 0_ Instituto de Criminologia da Peni
tenciaria formula o boletim mcdico-psychologico do
criminoso, de accordo com a Classificação geral que
o sr. Ingegnieros estabeleceu e delimitou neste
quadro:
Psychopathologia dos delinquentes
ANOMALIAS MORAES
(Disiimias)
Congênitas — Delinquentes natos ou loucos mo
raes.
Adquiridas— Delinquentes habituaes ou pervertidos
moraes.
i Transitórias— Delinquentes de occasião.
ANOMALIAS 1XTELLECTUAES
Disgnosias
Congênitas— Delinquentes por loucuras constilu-
cionaes, etc.
Adquiridas — Delinquentes por loucuras adquiri
das, obcessões criminosas, etc.
Transitórias— Embriaguez, loucuras tóxicas, etc.
ANOMALIAS VOLITIVAS
i Disleniias
Congênitas— Degenerados, impulsivos natos, delin
quentes epilépticos, etc.
Adquiridas — Delinquentes alcoolalas, chronicos,
impulsivos, etc.
Transitórias — Impulsivos passionaes, delinquen
tes emotivos, etc.
- 36 —
TYPOS COMBINADOS
Affectivos intellectuaes: delinquen tes csthelicos.
Intellectuaes volilivos: obcessões volitivas.
Affectivos impulsivos: Impulsivos passionaes.
Affectivos intellectuaes: Degeneração completa de
caracter.
Esta classificação do delinquente não é feita de afo
gadilho. Os especialistas encarregados do serviço re
compõem, com dados qae lhes vêm da policia e da
justiça, o crime; os antecedentes do recluso são pos
tos em observação, quer os moraes, intellectuaes e
affectivos, quer os de sangue, remontando-se aos seus
antepassados.
Depois, fica elle submettido a um Tribunal de
Conducta, formado pelo subdirector do Cárcere, que o
preside, o director da Escola e o chefe da Secção
Penal, cujas reuniões são trimensaes. Tomando em
consideração o procedimento e o aproveitamento do
recluso, durante os tres mezes decorridos, em todos
os departamentos da Penitenciaria, suas tendências
reveladas, moralidade, etc., o tribunal faz-lhe a clas
sificação para o fim dos prêmios ou castigos, de con
formidade com as notas desta labella:
* Conducta exemplar
<c muito bôa
« boa
« regular
« má
« péssima
Destas notas, como disse, resultam prêmios ou cas
tigos, destinados a avivar as responsabilidades do pe
nado.
l
— 37 -
Os castigos são os seguintes:
Adraoeslação
Reclusão na própria ceila, de 1 a 15 dias.
Prohibição de receber as visitas regulamentares.
Reclusão na ceila de penitencia, de 1 a 15 dias.
Penitencia rigorosa, a pão e agua. de 1 a 15 dias.
Não ha castigos corporaes.
A Argentina aboliu-os, fiel ao principio da Consti
tuição. Ha, com tudo, quem ainda pregue o seu uso,
allegando que nos grandes estabelecimentos só elles
pódem manter a disciplina, intimidar os grandes re
beldes, Era o que um illuslre norte-americano, director,
dos mais celebres, de uma penitenciaria, dizia a Toc-
queville sobre o uso da chibata e do açoite para os
presos.
Eu sou contra o castigo corporal. Mas é preciso
que, abolindo-os, não se faça de tal abolição um so-
phisma, como na Italia, onde o governo poz os senten
ciados a fazer o saneamento da «campanha romana»,
afogando-os no tremedal, tantas vezes celebrado, en
venenando-os com os miasmas daquelles paúes secu
lares.
O Estado tem o direito de requisitar o trabalho dos
presos para obras publicas. Sou partidário disto. A
Argentina e o Uruguay requisitanwTo.
Mas esse trabalho não deve ser humilhante, perni
cioso á saúde. Si o é, o Estado mentiu aos seus de
veres, e o governante, que o impoz, merece um stygma
da Historia.
O recluso guarda, em Buenos Aires, uma caderneta
em que se lhe faz o assentamento de taes notas.
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- 38 —
Também se lhe faz o registo de seu pecúlio, e nella
são inscriptas cortas «ordens do dia» c artigos de Re
gulamento que eiles precisam ler sempre vivos e ní
tidos na mente. \
Xesta Penitenciaria, de faclo elevada á altura de
sua missão, os pavilhões estão assim occupados: os
de ns. 6 e 7 cabem aos indivíduos de 18 a 25 aiínos;
os de n. 1 e 5 aos de 25 a 30 annos; os de n. 2 e 4 \
aos maiores de 30 annos. Deslina-se o n. 3 nos reinci i
dentes.
Os sexagenários occupam salões especiaes. com
capacidade, cada qual, para 15 indivíduos.
Para auxiliar o trabalho criminologico, de sua natu
reza avduo e difficil,encontram-se, ahi, gabinetes radio- i
graphicos e clectrothcrapicos, montados a capricho, e
que constituem a ultima palavra na especic. :
Como se ve, o recluso não é, ahi, a viclima dn vin-
dicta social, destinada a humilhante sofiVimcnlo. A lei !
encarou-o como a um ente que aberrou, mas do qual a t
sociedade não prescinde, e que é passível de regeneração,
i
salvo em casos rarissinios. Respeita-lhe as aptidões, as
crenças, os sentimentos humanos; consente que se
falem, que recebam cartas e visitas, que se communi-
quem com os seus parentes e amigos, respeitadas as
prescripções legaes.
Por isso as cerimônias do culto chrislão tem na
Penitenciaria grande brilho, mas n Direcção respeita
as crenças de cada qual.
Também se não abandona o preso, uma vez cum
prida a pena. O patronato c uma realidade, e de-113
egressos que abandonaram o cárcere, num anno, GO
receberam collocação por interferência do Eslabeleci-
— 39 —
mento, 29 dispensaram o auxilio c 24 voltaram ao
campo.
O patronato é bem o complemento da Peniten
ciaria. Abandonar o preso á liberdade de que se dcs-
habituou, após largos annosde segregação da sociedade,
quando se sabe que todos se retraem deite, o evitam
e o apontam, é não ler em conta o que é o homem,
o que é a sociedade, e quanto custa a manutenção des
tas pesadas machinas que a lei armou em beneficio
dc todos os cidadãos.
Assim, a lei creou o patronato dos egressados, c este
ampara, á porta da Penitenciaria, os que, após 10, 20
e 30 aimos, voltam a gosar do maior bem humano,
que é a liberdade.
Antes de dar por terminada esta dissertação em
torno da Penitenciaria Nacional Argentina, devo cha
mar a allenção dos que me leem para o
Instituto de Criminologia.
do Cárcere, annexo áPenitenciaria, e a que me referi,
instituto este que foi creado por decreto dc 0 de
Junho de 1907.
Disse o sr. E. Gomez que. neste gcucro, o Instituto
de Buenos Aires foi o primeiro que, cm caracter
official, funccionou em lodo o mundo. Elle estuda
«o delicio e suas causas, o deliquenle e suas moda
lidades. » — Tres são as secções em que se repartem
seus trabalhos:
Etiologia criminal
Clinica criminologiea
Terapêutica criminal*
— 40 ~
Como é sabido, oecupa-se a primeira das investi
gações de mesologia criminal, isto é, de sociologia e
metereologia criminal, das de antropologia criminal,
(psychologia e morphologia) e de todos os estudos
que lhes são concernentes, indispensáveis á determi- j
nação das causas do delicio.
À segunda estuda a criminalidade nas varias for- ;
mas por que se manifesta, faz a clinica individual dos )
delinquentes, tratando de estabelecer o «grau de ina í
-1
daptação social e de temibilidade» dos mesmos. \
Tem por fim a terceira estudar as medidas de
prophylaxia e repressão da criminalidade, fazendo i
obra não tanto apreciável no presente, como em pro-
ximo futuro, no sentido de orientar as instituições {
preventivas, reformas penaes e systemas peniten s
ciários. V
;
Este Instituto edita a notável Revista de Crimino- \
logia, Psijchiatria e Medicina Legal o Boletim Medico 5
Psgchologico do penado, compostos e impressos nas \
ofEcinas penitenciárias, sendo que neste ultimo se faz l
:
o registo continuado das anomalias dos delinquentes, *
i
suas tatuagens, etc, :
A gloria de sua fundação cabe ao notável sr. José
Ingegnieros, a mais conhecida auctoridade que nós,
os sulamericanos, temos na matéria. Sua direcção
está a cargo do illustre psychiatra, sr. Helvio Fer
nandes.
Não dei aqui, convem repelil-o, senão os traços
geraes da grande Penitenciaria Argentina. O que se
acaba de ler, não passa de uma synthese aligeirada,
especie de instantâneo dessa notável construção des
tinada a servir de reformalorio dos que alli delinquem.
- 41 —
Não desci a grandes minúcias. Passei de relance
sobre os assumptos principaes. Não tratei da alimen
tação do preso, parle de que me occuparei em
descrevendo a Penitenciaria de Montevidéu, e que é
oplima, dosada segundo as regras scientificas. Não me
occuparei do vestuário, que é de bôa qualidade, ha
vendo a distribuição dos trajes de algodão para o
verão, e de lã para o inverno. Limitei-me a dar uma
impressão de conjunclo, ainda assim imperfeita.
-
i
:
I
l5
I
■
N
V
- 44 —
população livre.» — (Sciencia Penal e Direito
Positivo, § 719)
'
i
— 45 S
sociaes, de outro alliviam as Penitenciarias de numero
sos reclusos.
A organisação dos estabelecimentos penitenciários
e demais prisões deve estar de accordo com a clas^
sificação legal das penas. Parece que o governo do
Uruguay teve sempre em mira a celebre maxima ju
rídica, assim definida por Igegnieros:
— «Todos los estabelecimientos destinados a j
la reforma y secuestración de los delincuentes,
deben convertir-se en verdaderas clinicas crimi- ::
nologicas, donde se estudie á los recluidos y no
se omitan esfuerzos para favorecer la readapta- !
ción social de los sujetos reformables.»
tema penitenciário, pag. 11.)
i
Toda a organisação prisional uruguava obedece
aos princípios jurídicos da escola positiva.
Sua Penitenciaria póde servir de modelo.
Occupando uma area de muitos mil metros qua
drados, em todo caso inferior á de Buenos Aires, nada
tem a invejar desta ultima, no que toca á belleza da :
construcção, ao systema dos pavilhões, ao regime
adoptado e á hygiene.
E’ um monumento ao mesmo tempo elegante, ma-
gestoso e. sobrio.
Quando se abica a Montevidéu, descobre-se à dis !
tancia, na zona denominada Punta Carrêta, o vulto
6: da Penitenciaria cercada da altíssima muralha de cir»
circumvalação, que tem, em media, 12 metros de
altura.
Ha em Montevidéu a antiga e a nova Penitenciaria,
A antiga, hoje condemnada, era muito superior á
?
i
,— '46 —
nossa. De suas condições hygienicas escreveu o dr. Al
fredo Gembamh:
\
■
;
— 48 —
As cellas, entretanto, eram espaçosas, medindo
4 metros de fundo por 2 ms. 32 de largo e 3 ms. 38
de alto. Às paredes tinham, a externa — 60 cs. de es
pessura, a interna — 51 cs., as lateraes 35 cs.
Fazendo-se a necessária operação, encontra-se, para
cada cella, a cubagem de cerca de 31 metros de ar. A
ventilação fazia-se, nellas, não só pela abertura das
portas, destinada á communicação dos presos com os
guardas, como por uma janella gradeada,
O surto prodigioso da bella cidade platina, cujos
serviços públicos estão todos mstallados em palacios,
é que não podia tolerar uma penitenciaria para a qual
os competentes, nacionaes e extrangeiros, tinham pa
lavras de censura e de reprovação, e contra a qual
falavam os dados estatísticos. Apezar de augmentado,
melhoràdoe transformado, o enorme cárcere estava des
locado em meio dos grandiosos edifícios e sobevbos
serviços da capital.
O presidente Báttle y Ordonez subira ao poder.
Homem illustre, de vistas largas, iniciou a constru-
cção da Nova Penitenciaria, cujo projecto foi orga-
nisado pelo architecto Sanguinetti, sendo as obras
concluídas, no governo Williman, pelo engenheiro mi
litar Emílio Conforto.
E’ um verdadeiro monumento.
Nelle, o systema de pavilhões de raios concêntricos
foi abandonado, adoptando-se o systema rectangular,
que ali alguns justificam por ser mais econo-
mico e de possível desenvolvimento, ao passo que,
não se podendo estender, demasiadamente, por
anti-hygienicos, os pavilhões em raios, seria preciso
UJL
— 49 —
construir nova penitenciaria quando o augmento da
criminalidade exigisse novas cellas.
Sob o ponto de vista da lopographia, tanto as con
dições planiometricas, quanto as altimetricas, sãoexcel-
lentes. O edifício está proximo do mar, ou melhor,
das aguas do Rio da Prata.
Recebe de través o violento pampeiro de sudo-
es!.e, fazendo-se em optimas condições a ventilação e
renovamento do ar em todos os pavilhões.
Como aconteceu com o capitulo relativo ao gran
de cárcere argentino, eu não farei, aqui, minuciosa
descripção desta penitenciaria. Darei, todavia, uma
ideia approximada do que ella é, e de certos aperfei
s
çoamentos, que se me afiguram aproveitáveis, no caso
í de reformas parciaes a tentar nos nossos absoletos e
condemnados edifícios de detenção, bem como nos
' systemas repressivos.
O pavilhão de presos conta 384 cellas, medindo
cada qual 4 ms. de fundo por 2 ms. 5 de largo e 3
ms. 20 de alto, o que lhes dá uma excellente cubagem
de ar. Estas cellas correspondem a um pavimento
terreo e a tres andares altos, separados, em suas duas
fachadas internas, por amplos corredores de 6 metros
de largura, sendo que nos andares superiores correm,
marginando as cellas, terraços gradeados, com um
r
largo espaço de permeio, e ligados por passadiços de
ferro. A illuminação é feita por meio de clarabóia.
Dão accesso a esses pavimentos algumas esca
darias de mármore e ferro, além de dous elevadores.
^Nq centro do pavilhão, defendidos por fortes gradis
2
— 50 —
de ferro, estão os postos dc vigilância, as habitações
dos vigilantes de guarda, os serviços de agua, luz e
bombas contra incêndios.
Correspondem aos presos duas secções de 50 ba
nhos, sendo aproveitada a agua do Rio da Prata, su
gada e elevada por uma bomba centrifuga, movida a
electricidade.
Pateos e dependencias outras completam o pavi
lhão dos penados.
A nova Penitenciaria havia custado, até 1910,
660.000 pezos, ou seja, raoéda brasileira, ao cambio
actual, cerca de 2.900 contos de réis.
/
Durante a visita que íiz, ao passar por um dos
pateos, observei que em algumas janellas havia certos
signaes circulares, pintados de vermelho. Tive logo a
explicação dos mesmos. Nenhum preso pode abrir a
veneziana, e se o faz, a sentinella, que vive a cruzar
no alto das muralhas de circumvalação, dá o grito
de alarma.
Os doentes, convaleccntes ou penados que obtêm
esta mercê, ou carecem de mais luz, recebem auctori-
sação para as abrir, e enlüo aquelle signal vermelho
previne a sentinella para que não chame ás armas.
Nessa penitenciaria, como em todas as que tal
nome merecera, as construcções oíferecem toda a se
gurança contra a fuga dos reclusos.
Mas o amor á liberdade duplica a argúcia e aviva
a intelligencia dos encarcerados.
Quando cheguei a Buenos Aires, os jornaes, noti
ciavam a fuga de numerosos presos de um cárcere do
interior da Republica. E o director da Penitenciaria i
:
de Montevidéu, emquanto percorríamos a parte supe-
1
í
(
'
/
J
- 51 —
rior da muralha de circumvalação, narrava-me o se
guinte, que deverá figurar como prova de que a pri
vação da liberdfid* é de grande effeito para o penado,
tanto que empregam esforços estupendos para a logra
rem de novo, fugindo:
—Um dos ângulos do pavilhão de presos dista
sete metros da muralha, que tem na base tres melros
de largura, sobre muitos de alicerce e doze de al
tura.
Üm grupo de reclusos, condeinnados a largas penas,
architectou o plano^de fuga. Só uma ancia irresistivel
de libertar-se daria coragem e encoiraçaria o animo
desses penados para a terrível em preza, que deverá ter
custado annos de penosissimo trabalho:—abrir uma
galeria que desceu beirando o alicerce do pavilhão,
pelo lado de dentro, o atravessou pela base, seguiu
em direitura da grande muralha, vencendo os sete
metros do paleo, mergulhou ainda mais, venceu os
tres melros relativos á largura do alicerce, e buscou
a superfície!...
Era gigantesco!
Não se pode avaliar o tempo gasto nesse trabalho,
não pela obra de excavação propriamente dita, mas
pela impossibilidade de conduzir a terra que iam re
tirando, é transportavam, desfarçadamente, em porções
imperceptíveis, aos punhados, uma vez por dia, ati-
rando-as nos \v. c. e nos lavalorios.
Também espanta que ali tivessem podido trabalhar,
não só sem serem percebidos, como por ser irrespi
rável o ambiente no fundo da galeria, onde, mais
tarde, não se conseguiu manter qualquer chamraa.
0 resultado dessa obra sobrehumana foi, entre-
— 52 —
tanto, nullo. Tudo fracassou devido a um desvio da
linha que partia do cárcere para o muro.
Quando vieram á superfície, os encarcerados viram
que estavam precisamente junto á grande muralha,
mas... pela parte interna!
Surprehendidos, foram presos, e em vez da pla-
nicie illimitada tiveram a cella de penitencia, a pão
e agua, além da perda das vantagens da lei para a
diminuição da pena.
Voltemos ás cellas.
Como na de Buenos Aires, o serviço de illumi-
nação,aqui, é completo. Póde-se illuminar ou reduzir
à treva todo o estabelecimento, de um jacto, ou os
pavilhões e cellas separadamente. A lampadado preso
tem sua ligação no exterior, eco vigilante que lhe dá
ou tira a luz.
Ha nas pequenas aberturas das portas, que são de
madeira chapeada, um vidro vermelho que permitte
ao vigilante observar o preso sem ser presentido.
. O que, ahi, muito diífere da Penitenciaria de
Buenos Aires, é a collocação ®de um w. c em cada.
cella. A construcção e modelo desses apparelhos são
tão perfeitos que não ha o menor perigo para a saude
dos penados, nem se sente qualquer exalação desagra
dável.
Também diífere da de Buenos Aires o syslema dos.
leitos. Nesta, os leitos são tarimbas aperfeiçoadas. Na
que estamos descrevendo, não. De cadajado da cella,
ao fundo, ha duas argolas de ferro fortemente embuti
das na parede. A cama, de lona, com travessas de ma
deira ás cabeceiras, c atada por meio de correias ás ar
golas, de modo a ficar perfeita mente estirada. Pela
I «JUJL
- 58—
manhã, dado o toque de despertar, o preso levanta-se e
enrola a lona com os lençoes, deixando-as pendentes de
duas das referidas argolas. Istoas segara a vantagem de
conservar desempedido e arejado, durante o dia, todo
o cubículo.
Cada recluso dispõe de banca, tamborete, e prate
leira para livros e objeclos de seu uso: escova, sa
bão, etc.
Penitenciaria modelo, mesmo em confronto com
as similares extrangeiras, esta possue uma bibliolheca
que os penados frequentam dentro das determinações
do Regulamento.
As classes escolares funccionam á noite, e o pro-
gramma é idêntico ao de Buenos Aires, havendo
grande empenho em desenvolver os sentimentos cívicos
fe do encarcerado, pelo estudo ameno da historia palria.
Tanto aqui quanto na Argentina, esse estudo só é obri-
í; gatorio para os nacionaes, o que é logico.
: As classes são organisadas como nas escolas pu
I
blicas.
iI Ha uma sala para conferências, com projecções
i cinematographicas. Ahi, ao lado de mappas, retratos
dos pro-homens do Uruguay, quadros de batalhas, etc., '
veem-se pelas paredes telas curiosas, desenhos inte
ressantes, da aucloria dos reclusos.
No gabinete do Direclor, que é eslimadissimo de
.•
todos elles, vi um desenho, ou aquarella, dedicado a
. esse alto funccionario da Justiça: é um portico majes
toso, encimado pela deusa da equidade, e pelos capi
í
teis, remates e coruchéos, pilastras e columnas; abaixo
da expressiva dedicadoria, espalham-se centenas dc
assignaturas dos penados.
s
1
- 54 —
Quanto ás officinas, ficam aquem das argentinas,
no que se refere a tamanho, número e machinismos.
Não quero com isto dizer que sejam officinas de
segunda ordem; o que lhes falta é a grandesa e sum-
ptuosidade daquellas.
São estas as officinas que actualmente funccio-
nam: — ferraria, carpintaria, alfaiataria, escovaria,
sapataria, lytographia, typographia e encadernação.
Entre outros, merecem destaque os trabalhos de
modelagem e torneamento de aço e ferro. Vi, fabri
cados nellas, ferrôlhos, fechaduras de aço, applicadas
ás portas das cellas; são admiráveis pelo engenho e
resistência que offerecem, podendo, com a mesma se
gurança, fechar hermeticamente a porta ou deixal-a
com uma larga frincha de cinco a seis pollegadas.
Sob o ponto de vista financeiro, a Penitenciaria de
Montevidéu lambem dá grandes resultados; notei,
porém, que, devido á crise, havia pouco trabalho nas
officinas. 0 governo uruguayo costuma aproveitar o
trabalho dos presos nas obras publicas, o que, de certo
modo, compensa a diminuição do labor nos talleres *
penitenciários. •
As revistas criminaes são impressas ali; as leis, .
regulamentos do Estado e os annaes do Congresso
saem igualmente das officinas penitenciarias.
0 regimen é o do silencio nas officinas e cellas. -
Ninguém póde falar alto ou cantar, e como ha especia-
lisação de trabalho, um penado não tem que dizer ou
perguntar ao visinho. Às ferramentas são distribuídas
ao começar a faina, e recolhidas em armarios, ao fim
do dia. Si falta alguma dellas, o pessoal não sae
antes que appareça,
2
L II HIL ~ZZ.; "■ *
— 55 —
0 recluso obedece, não discute, seja qual fòr a
ordem. Mas, nos recreios, aos domingos e dias santi
ficados, permitle-se-lhes que falem, por grupos.
Ha duas solilarias para castigos dos presos insub
missos. Raros, porém, vão ler a esses cubículos, aliás
espaçosos, e nos quaes a frialdade vale por um ap-
parelho de tortura, apezar de asseiados. O chão das
cellas de penitencia é, como o dc toda a penitenciaria,
ladrilhado.
À legislação da Republica Orientai é adrairavel uo
/particular de provocar a regeneração ou readaptação
social dos delinquentes. O penado que procede de
modo exemplar na Penitenciaria terá descontado até
um terço da sua pena.
Está, pois, nas suas próprias mãos, reduzir enorme*
* mente o captiveiro, o que faz com que o numero dos
que não se aproveitam do beneficio legal seja diminuto,
e insignificante o de reincidentes.
Adoçada a indole do delinquente pelo trabalho,
pelas lições dos mestres e praticas religiosas, deixa-se
que elle se corresponda com os seus, e receber visitas,
com as quaes conversam no compartimento apropriado.
— Não devendo passar adeante sem occupar-me
da organisação e do pessoal que ali concorrem para
esse perfeito funccionamento, direi que, no Uru-
guay, a Penitenciaria não está subordinada á vontade
ou direcção do chefe de Policia, e sim do Conselho
Penitenciário, nos termos da lei de 4 de Abril de
1891.
Depende do Executivo apenas no que se refere aos
regulamentos e administração, e do Judiciário nos ter
mos dos Codigos Penal e de Instrucção Criminal.
- 56 —
0 pessoal completo dc Ioda a vasta penitenciaria
è o seguinte:
Um direclor
Um sub direclor
Um intendente
Um secretario
Um prosecrelario
Um auxiliar
Um mestre de oíficinas
Tres vigilantes de l.a classe.
Vinte e cinco vigilantes de 2.* classe.
Um medico, que é ao mesmo tempo direclor do
gabinete de Anlhropologia Criminal.
3
Dous praticantes de Medicina, ou internos. .
Um pharmaceutico. r
j
Um padre.
Um professor. I
Seis serventes.
Um electricisla e gazisla.
:
Ao iodo 48 pessoas, abrangendo todos os serviços, :
do Direclor ao servente.
-
Deste pessoal, todavia, não s^o effectivos, mas í
simplesmente contraclados, o Intendente, os vigilantes, i
os subalternos, o que vale dizer:—dessas 48 pessoas \
apenas 14 são funccionarios públicos.
:;
Os empregados effectivos lem por si as garantias
constitucionaes; o Conselho Penitenciário, comtudo, ■:
i'
pódc suspendel-os dos cargos ou prival-os dos venci-
menlos, em casos previstos pelo regulamento. Os con- I
Iractados são demissiveis pelo Conselho, por proposta
do Direclor, convindo frizar que o empregado demit- i
\
!
:
:
t
*
i
:
i
i
> ■
i
i
:•
iUIL
— 57 —
tido não póde voltar a occupar cargo no estabeleci
mento.
No que respeita ás vagas, serão estas preenchidas
pelo Executivo, por proposta do Conselho, de accordo
com o Director.
Existindo na legislação penal uruguaya a liberda
de sob palavra e condicional, cabe ao Director da
Penitenciaria informar annualmente, e com provas,
para juizo do Tribunal Superior, quaes são os reclusos
que a merecem.
O penado, uma vez recolhido ao Cárcere Peniten
ciário, é inscripto no livro do Registo, e acompanhado,
estudado, observado em todos os seus passos, antece
dentes, hábitos, moléstias, etc., pelo medico, de sorte
que, a qualquer momento, o visitante ou a auctoridade
póde ter toda a historia reconstituída e os caracteres
anthropologicos do delinquente A ou B.
A lei segrega o Estabelecimento á visita de estra
nhos, salvo concessão especial cio Conselho Peniten
ciário.
1 Não carecem de licença especial: — o Presidente
da Republica, os Ministros de Estado, os Juizes, Se
nadores, Deputados, o Arcebispo, os Membros do Con
selho Penitenciário, o Presidente da Junta Economico-
Adininislrativa da Capital, o Presidente da Commissão
• Nacional de Caridade, com séde em Montevidéu, o
Chefe Político e de Policia, os membros das socieda
des de Patronato reconhecidas pelo Governo.
Quando o recluso é auctorisado a receber as visi
tas regulamentares, de seus parentes e amigos, os visi
tantes ficam numa pequena sala, onde ha bancos de
espera, e o preso, sob as vistas dos guardas, fica num
— 58 —
dos corredores laleraes, conversando através das
grades.
Como se observa em Iodas as penitenciarias que
obedecem a uma classificação scientifica das penas,
aqui ha prêmios e castigos para os reclusos.
As recompensas variam deste modo, de accordo
com o art. 109 do Regulamento Geral do Cárcere Pe
nitenciário, publicado a 21 de Maio de 1910:
a) Elogio pelo Director, deante dos empregados.
6) Permissão para retirar livros da bibliotheca.
c) Permissão para obter luz na cella, por mais
tempo que o especificado no Regulamento.
d) Prolongação do tempo de recreio ou des- S
\
canso.
e) Prolongação do tempo para receber suas vi-
í
sitas. .
f) Auctorisação para receber seus parentes em ?
sala reservada.
g) Recomraendação especial do Conselho Peni i
tenciário. i
:
Os castigos, constantes do artigo 89 do Regula :
mento, são estes:
:
a) Reprehensão particular pelo Director. í
b) Reprehensão publica.
c) Cella ordinaria, de 1 a 20 dias, com privação
i
S*
:
de leitura e Communicação, e com annotação de !
um ponto diário de demerito.
d) Cella ordinaria a pão e agua, de 1 a 8 dias,
sem leitura nem communicação, e annotação de dous ?
;
pontos de demerito, diariamente. »
e) Cella a meia ração, de 10 a 20 dias, sem lei- l
\
:
{
I
i
i
I
I
•-
'
- ►
— 59 -
tura, objectos de trabalho ou communicação, e anno-
tação de tres pontos de demerito.
/*) Cella escnrn. a pão e agua e meia ração, alter
nando a juizo do Dhcclor, de 5 a 15 dias, com annota-
ção de 5 pontos de demerito.
g) Reclusão em cella de 1 a 3 mezes, e classifica
ção de incorrigível.
Os penados são classificados em tres graus. Podem
ganhar por mezaléCO pontos de mérito por trabalho,
e 40 por bòaconducla. Os pontos de demerito destróem
na mesma proporção em que são dados os de mérito,
anleriormenle adquiridos.
Os penados incorrigíveis são privados da escola.
Todos os demais são obrigados a ella.
Os reclusos incluídos na Classe de Mérito não po
dem ser requisitados para as obras publicas, fora do ~
estabelecimento.
— Occupemo-nos, já aqui, da alimentação. Ella é,
sem lisonja, muito bòa. O Director leve a preoccupa-
ção de mostrar-me o deposito de generos, a carne
verde, a agua. Tudo de primeira qualidade. O pão,
principalmente, que experimentei, rivalisa com as
melhores marcas do mercado, e é fabricado nos fornos
da Penitenciaria. Em nada, sob este ponto de vista, a
de Buenos Aires excede a sua congenere oriental.
Como geralmente se sabe, e é ponto incontroverso,
«é induvitavelqueno tratamento da criminalidade deve
conceder-se um logar de relevo ao regimen alimentar,
porque, segundo alguém disse, o caracter póde estar
strictamenle ligado com a modificação dos tecidos, e
os tecidos podem modificar-se artificialmente submi-
nislrando-se aos indivíduos, e em doses regulares, nos
— 60-—
alimentos, muito oxygenio, muito carbono, muito hy-
drogenio ou muito nitrogênio». (Gomez, op. cit.f pag.
51) Dahi o estar de accordo com a nova escola penal
fornecer aos reclusos boa alimentação. Em Buenos-
Aires, é esta a ração diaria de um preso, segundo pude
observar e se verifica das estalisticas penitenciarias:
Carne gorda, com ossos, na media de 33 °/0 de
ossos, pesando 401 grammas, ou seja liquido:
282 grammas de carne produzindo 0922 calorias
600 » » pão » 1818 I
296,80 * » batatas 0290 » ?
62,00 » » arroz 0223
115,76 » » macarrão 0318
36.00 » :
» assucar » 0143 » :■
Calorias.............. 4.414 *
A distribuição destes alimentos faz-se de accordo ‘
com um cardapio que varia todos os dias da semana.
:
Na Penitenciaria de Montevidéu a differença não é
de molde a provocar uma dissertação. I •
O Dr. Geribàldi, entretanto, fundamentando lar- ■
- 61 —
1.° Os presos, recolhidos por effeito de condemna-
ção ou por castigo, deverão ser racionados com o
estrictamenlo necessário á sua subsistência.
2.° Para os presos destinados a trabalhos públicos
ou nas oflicinas, urge instituir a ração de trabalho.
3.° O regimen excessivamente carnivoro, tal como
hoje se pratica na maioria das penitenciarias da Ame
rica do Sul, é physiologicamente improprio; deve ser
temperado pelo uso proporcional dos hydro-carburados,
na confecção do rancho. v
4.° Sob o ponto de vista hygienico e economico,
o café é improprio como complemento da alimenta
ção do preso.
A observação ultima só me parece rasoavel quanto
á parle economica, uma vez que o Uruguay não produz
calé. Em que será o café prejudicial á hygiene do
recluso ? No inverno, principalmente, sendo o café
um poderoso estimulante, nada o condemna para uso
dos presos.
Aqui está, o que me ficou da rapida visita que fiz
ás duas grandes penitenciarias do Rio da Prata.
Como já por vezes repeti, não se trata de uma
informação exacta, impossivel de dar por quem não
teve por missão esse estudo, e só o fez pelo que lhe
valem a vontade e os altos intuitos que presidem a
essa vontade.
Não serão, ambas as penitenciarias, a ultima pa
lavra no assumplo, uma vez que os paizes novos, que
muito têm a fazer, não podem, por escassez de re
cursos, empregar sommas excessivas num só serviço,
quando outros estão a reclamar a acção do Estado.
— 62 —
Mas, em ■verdade, e com justiça, honram as duas ca-
pitaese a civilização sul-americana.
E aqui aproveito a opportunidade, não porque
os Governos as possam desconhecer, mas pelo que se
possa aproveitar da sua propaganda,para chamar par
ticularmente a attenção para os princípios norteado-
res do regimen penitenciário, votados pelo Congresso
Internacional de Washington, em 1910.
Além dessa justificai iva, encontro, para a revive-
scència de taes conclusões, a do alheiamento de nosso
publico e de numerosos intellecluaes a esta questão
carceraria, imbuídos, quasi todos, da falsa idéa de
que o criminoso não merece cuidados especiaes, tendo
apenas, com o direito à vida, a obrigação de trabalhar
para diminuir ao Estado o peso de seu sustento.
O Congresso Penitenciário Internacional de Wa
shington resolveu:
A—I — Nenhum indivíduo, quaesquer que sejam
sua idade ou antecedentes, deve ser considerado in
capaz de emenda.
II—E’ de interesse publico, não só impor uma
condemnação que tenha caracter retribuitivo e um
certo effeito intimidativo, como também envidar sérios
esforços para emendar e corrigir os delinquentes.
III —Esta emenda poderá effectuar-se melhor sob
a influencia de uma instrucção religiosa e moral, de
uma educação intellectuai e phYsica, e de um tra
balho apropriado para assegurar ao detido a possi
bilidade de ganhar a vida no futuro.
IV — O systema reformativo é incompatível coim
a applicação de penas de curta duração; e um período
relativa mente demorado de tratamento reformativo é
I
I ill l_______
•— 63 —
=
:
1
T
Os systemas prisionaes
— 65 —
esse desdobramento das penitenciarias, afastará por
largo tempo a salutar reforma que taes sábios acon
selham, satisfazendo os pavilhões especiaes nura só
estabelecimento. Em compensação, porém, já se vão
definindo os institutos de caracter”especial que nós, a
Bahia, a maioria dos Estados, infelizmente, apenas
conhecemos na theoria, atra vez das paginas de Ferri,
Garofalo, Garraud, e outros cujas obras são o farto
manancial de que se abebera a mtelle.ctualidade bra
sileira.
São estes os typos modernos de prisões:
—- Os asylos de confraventores, cujas variantes po
deríam ser os asylos para ebrios, vagabundos e men
digos, para auxiliares do delicio, etc., destinados es
pecialmente á prophylaxia e tratamento dos indiví
duos antisociaes que ainda não tenham delinquido,
dos de má vida, etc.
— Os asylos de menores, cuja eonducta antisocial
faça indispensável uma pedagogia correctiva e uma
sequestração provisória, antes de serem legalmente
delinquentes.
— As prisões de processados, que a lei presume in-
nocentes, e que não convem misturar com delinquen
tes já condemnados ou provadamente criminosos,
— Os manicômios criminaes, para aquelles delin
quentes que soffram de alienação mental e requeiram
um regime ou tratamento clinico, regime que não é
possível dar-se-lhes nos estabelecimentos penitenciários.
— Os cárceres de mulheres, organisados de accordo
—
* com as indicações especiaes determinadas por seu
3
sexo.
— 66 —
No trato do assunipto, que nos vae agora preoccu-
par. e pela impossibilidade de alongarmos ainda mais
esta Exposição, occupar-meei somente dos typos que
a Republica Oriental adoptou.
Direi que, excepção dos manicômios criminaes, o
Uruguay legislou sobre Iodos os demais typos prisio-
naes adoptados pelas nações cultas, Elle possue o Car-
cele de Mujeres, e dispõe de logares especiaes para os
processados, tendo construído grande e bello edifício
para o Carcele Correcional y Preventivo.
Aqui, a Casa de Correcção, onde se internam as
mulheres condemnadas, é uma verdadeira affronta á
civilisação. O facto de achar-se entregue â municipa
lidade da capital, cuja missão não se compadece
muito com a de guarda de penados, além das próprias
condições do edifício, sordido, hediondo, repugnante,
faz com que a referida prisão, onde de cambulhada
com indivíduos do oulro sexo, criminosos ou não, se
atiram as mulheres, entre as quaes muitas na me-
noridade. mereça a critica mais severa, tal a que se
contém nas paginas do meu obscuro livro — Um pro-
blema gravíssimo.
O Cárcere Correcional e Preventivo, de Monlevideu,
onde se internam os que ainda não são legalmenle
delinquentes, ou os que se fizeram passíveis de pe
nas correcionaes, é modelar. Inslallado num bello
edifício, de construçç^o recente, attesta o zelo do go
verno dessa republica pela sorte dos transviados, par
tindo do principio de que todo indivíduo deve e pode
ser util a seu paiz, á humanidade, sendo obrigação do
Estado envidar todos os esforços para readaptar os
que se incompatibilisaram com o ambiente social.
— 67 —
Ser-me-ia facil descrever essas instituições de ca
racter repressivo; deixo de o fazer por aquellc impe
rioso motivo que alleguei logo ás primeiras linhas
deste capitulo.
O problema em loco para o governo é, penso eu,
além da reforma penitenciaria, eda prisão de mulheres,
o da Colonia de Menores. Eu não conheço tarefa mais
digna, e brilhante, e capaz de assegurar a gloria de um
governo, neste Estado, como em qualquer outro, que
a de levantar esse monumento ao futuro, na salvação
das crianças e dos jovens que por ahi andam, a en
cher as ruas, viciados, abandonados, immundos, ver
dadeiros desprotegidos dos paes e das leis, consti
tuindo a vanguarda do crime.
Deixo, pois, o Cárcere Preventivo e o Cárcere de
Mulheres, este constituindo uma necessidade palpitante
para a Bahia, e passo á descripção, succinln, do que
vi, relativamenle a menores, no Uruguav.
Para melhor comprehensão do problema, e por
uma questão de. melhodo, dividirei tal estudo em qua
tro partes dislinctas:
As colonias de menores e sua historia na America.
A Colonia Educacional de Varones, de Snaréz, nos
► arredores de Montevidéu.—Descripção.
A Colonia E. de Varones.—Leis e regulamentos.
O que deve ser a nossa Colonia.— Conclusão.
I
L
Às colonias de menores —Sua historia
na America
Cabe aos Estados Unidos a gloria de haver sido o
paiz onde se exercitou a protecção mais efficaz aos
menores delinquentes ou abandonados.
Desde os tempos coloniaes que este problema do
mina o espirito de muitos de seus homens. Em 1660,
no Massachusetts mandava-se recolher a estabeleci
mentos especiaes os orphãos e os desamparados. Este
regimen redundou, infelizmente, mau grado os bons e
generosos intuitos que presidiram a sua creação, numa
verdadeira exploração dos menores ali recolhidos.
Veio depois o Asylo das Ursalinas, em Nova Or-
leans, e mais de cem annos decorridos, o de Char-
leston, na Carolina do Sul, mantido pelas rendas pu
blicas desde 1729.
Nova York fundou em 1824 uma casa de refugio,
e ainda ahi se levantava outro estabelecimento, sob os
auspícios da Sociedade Protectora das Crianças, em
1853.
A semente, arrebatada pelas refegas da propaganda,
e cuidada pelos processos mais aperfeiçoados, ger
minava célere em todo o paiz.
Em 1395 estava organisada a Republica de Jovens,
The George Junior Republic, em Treville. Era a ul
tima palavra no assumpto: o governo da colonia pelos
proprios menores!
;
.
i
í
I
II IHBlUtU.
— 69 —
0 espirito arrojado dos yankees teria ido longe de
mais na sua ansia de innovação e de reforma? Não.
E tanto isto é a verdade que logo Redigton, na
Pensylvania, Annapolis, Junclion, no Maryland, Leit-
chfield, no Conneticut, Clino, na Califórnia, e Fle-
mington Junclion, em New Jersey, a imitaram com
successo.
Essa proliferação dos reformatorios de menores
por todo o paiz tocou o brio do Massachussetts.
Elle havia tido a iniciativa dessa protecção; tem
hoje, ali, o primeiro logar, quer quanto ao numero de
colonias, quer quanto ás excellencias destas. O refor-
matorio de Westboro é a ultima palavra no as-
sumpto.
Não é de mister pormenorisar todos os estabe
lecimentos desse genero, nos Estados Unidos da Ame
rica do Norte. Direi, apenas, quanto a estas colonias,
que para a Bahia e para quasi lodo o Brazil constituem
doirada e fugidia aspiração, acharem-se de tal sorte
diffundidas na portentosa republica, que vários Esta
dos as possuem nos principaes condados e municípios
de seu território.
k
O systema predominante, nestas construcções, nos
E. Unidos, é o dos pavilhões separados, posto seja
muito mais dispendiosa a respectiva construcção que
a dos edifícios de um só corpo para contingentes*
elevados.
Falando delle, escreveu Fernando Cadalso, na
sua obra intitulada—Institnciones penitenciarias cn tos
i
Estados Unidos:
1
— «Constilue um grau intermediário entre o
regimen collectivo e o de collocação em fami?
J
i
I
— 70 -
lias, e por elle se inclinam as pessoas de maior
auctoridade na matéria. A reforma adoptada
pelo Estado, (Ohio) para seus menores, fez-se
extensiva aos condados, estabelecendo escolas
desta classe nos mais importantes centros de
população, já nas cidades, já no campo, dentro
da respectiva jurisdicção. Os hospícios que além
dos desamparados albergam os delinquentes,
têm poucos partidários, e existe uma corrente
favoravel para os substituir pelos referidos pa
vilhões e a collocção em familia.»
Também a União construira os seus reforinatorios
de menores em Washington, não só para os do sexo
masculino como para as raparigas.
Em 1913, existiam nos E. Unidos 93 destes estabe
lecimentos, com uma população de 23.034 reclusos, de
6 a 21 annos. dos quaes 13.177 do sexo masculino c
4.857 do sexo feminino.
O desenvolvimento desses estabelecimentos educa
tivos não se limitou ás exlerioridades dos edifícios ma-
gestosos, muitos dos quaes notáveis pela sua sum-
pluosidade.
Veja-se a que extremos dê perfeição chegou a or-
ganisação da Gcnrge Junior Republic, no Estado de
Nova York.
Constituída por 12 pavilhões isolados, além dos
que se destinam a capelia, escola e officinas, a George
Republic constituo verdadeira cidade, assentada numa
area de 500 acres, cultivados pelos menores, que além
da lavoura se entregam a criação do gado e de aves
domesticas,
i
I i|l WJI1I..
— 71 -
Seus jovens habitantes tratam-se por cidadãos
e são conhecidos pelo nome de republicanos.
Acompanho, aqui, a descripção magistral de Ca-
ualso:
f
!
í
I - >
— 73 —
$
;
\
II I 111 IMU.
— 77 —
50 tinham madrastas e não mães.
110 descendiam de paes intemperantes.
13 descendiam de mães intemperantes.
20 de paes e mães entregues á embriaguez.
418 vinham de paes cuja linguagem era licen-
ciosa.
219 de paes truões.
Este quadro deve impressionar vivamente os ho
mens de Estado. O alcoolismo, a má educação e o
abandono são os principaes factores da criminalidade
infantil.
Quanto á idade, os 745 reclusos estavam assim
distribuídos:
De 7 a 10 annos 23
De 10 a 15 » 339
De 15 a 18 » 359
De 18 a 19 » . 24
Delles, como se verificará do primeiro quadro,
eram orphãos 288
E’ uma situação lastimável para os povos esta que,
dados os meios de corrupção moderna, a cuja frente
*
está o cinemalographo, mais tende a aggravar-se.
No Brazil o quadro não é outro. Temos crianças
que ferem e que matam; dezenas de crianças que rou
: bam; centenas que furtam; milhares que enchem as
ruas entregues a toda sorte de vicios.
- O dr. Cândido Motta registou este phenomeno
quanto a S. Paulo; e S. Paulo mostrou que sua colonia
de menores, hoje está á altura das boas instituições
deste genero. (O menor delinquente e seu tratamento no
Estado de S. Paulo),
— 78 —
0 dr. Evaristo de Moraes, por sua vez, mostra
como no Rio de Janeiro e demais cidades do Brazil
a situação não varia. (Criminalidade da Infancia e da
Adolescência—1916).
/ Em Buenos Aires, dizia o dr. F. Sunico ao Con- „
gresso Penitenciário Nacional, ha cerca de 40.00Ü
menores desoccupados, que fornecem uma dolorosa
porcentagem ás estatitisticas do crime e da vagabun
dagem. (Actas e Trabajos dei Congreso P, Nacional—
1910).
Si a Bahia tivesse uma colonia, por maior que ella
fosse, não seria grande de mais. O espectáculo das
nossas ruas é pouco edificante. Nellas, como ás
portas das vendas e tavernas, ou á sombra das arvo
res, no interior, se está formando uma juventude
frouxa, inerte, incapaz, e que, pelo caminho que o
destino lhe reserva, não fugirá á lei que diz: o indi
víduo é um producto do meio, da educação e dos
factores ancestraes.
Os dados que acima transcreví têm, pois, uma
expressão vivíssima para os homens de consciência.
Por elles vemos que a idade mais perigosa é a que vae
dos 10 aos 18 annos, precisamente nessa em que os
paes costumam abandonar os filhos e em que na alma
humana se dá o mais violento embate dos instinctos,
assim que Henry Joly escreveu:—*Quand un ado-
lescenl se jette dans le crime, il ne sy jette à moitié.»
E esse quadro da colonia do Ohio é de um valor
tal na prova de que os governos devem amparar as
crianças e adolescentes abandonados, em vez de as
punir, que eu me abstenho de commental-o mais
desenvolvidamente; limito-me a dizer que o disposto
— 79 —
na i a
— 80 —
(O século das crianças, trad. deM. Mir. vol. II,
pags. 114 e 115. )
No Brazil, só o Districto Federal fez alguma cousa
no que respeila ao palpitante problema; e S. Paulo
resolveu-o com a galhardia que o caracterisa no amplo
seio da federação brasileira.
Relativamente á Bahia, por certo deveis saber o
que temos feito em tantos annos de republica:—uma j
lastimai
Aos ensaios succedeu a apathia. Aos projectos em ,
chusma, animados do desejo de acertar, sobrepuzeram- ■
- 81 —
levando-as para a imitação a que se referiu Tarde ou
para a admiração de que tratou Iíropotchine em celebre
relatorio...»
E o saudoso jornalista, que foi na sua terra um
generoso apostolo do bem, apresentou á Gamara o Pro-
jecto n. 160, infelizmenle longe de corresponder, pelo
evidente receio da impossibilidade de conseguir mais,
âs exigências do direito, aliás, a esse tempo, não tanto
evoluido como agóra. (10)
:
V
li
fj
Ié
LU._ ..~v- .
- 83 —
Era chefe da segurança publica o sr. dr. JoÂo
Santos. Alarmado com o estado da Colonia que então
possuíamos, um simples arremedo que a boa vontade
debuxára visando a sua reforma immediala, para elle
«vazada em moldes condemnados, erroneos, inconveni
entes», submetteu á consideração da Assembléa es
tadual um bello projecto, que infelizmente não se fez
lei.
Era synthese:
Todas as tentativas abortaram.
A Colonia Correccional não se fez. Os governos,
todos elles, passaram aligeiradamente sobre a idéa,
sem coragem dea praticar.
Os menores, de qualquer idade, presos ou conde
mnados, são ainda enviados para a Penitenciaria ou
Casa de Correcção. E as menores, uma vez que a Pe
nitenciaria é só para homens, vão de roldão com os
demais criminosos para a outra das nossas prisões
que eu appellidei, parodiando Dostoiewsky, de Casa
dos Mortos.
A Bahia, culta, generosa, que mantém hospitaes,
que tem a Maternidade modelo, que levantou o seu
Instituto de Protecção á Infancia, que instituiu a Gota
de leite e vae fundar o Hospital para creanças, a Bahia
não deu um passo quanto aos menores culpados ou
abandonados. (11) *
\
— 84 —
Nossa situação, neste particular, póde resumir-se
neste facto: — A menor Maria da G1 ori a, _ condemnada
era Cachoeira, e que obteve habeas-corpus no sentido
de não ir bater ás porias da Casa de Correcção, não
teve uma casa pia, uma instituição beneficente, um
azylo official, a que se recolhesse. O sr. dr. Álvaro
Cova, Chefe da Segurança Publica, não encontrando
onde a internar, acabou por collocal-a sob a protecção
de sua familia, recebendo-a no seu proprio lar!
Si estes factos e exemplos não bastam para se co
nhecer da necessidade de construirmos a colonia para
menores, que falem outros, os mais convincentes e
eruditos, que eu ficarei para applaudir, do rez do chão
de minha humildade, a victoria das suas predicas!
Já houve quem dissesse que a creação de colonias
correccionaes para menores era, nos Estados, incon
stitucional. Os que assim murmuram desconhecem,
por certo, o decreto legislativo federal, n. 145 de 12
de Junho de 1893, que, no artigo 9, estatuiu: — «Os I
Estados poderão fundar, a sua custa, colonias cor
reccionaes agricolas, na conformidade das disposições
desta lei, correndo somente as despesas por conta da
União, quando nas leis annuaes se votar verba espe
cial para ellas».
Foi assim que S. Paulo creou o sèu reformatorio,
hoje remodelado, honrando sua cultura e desenvol
vimento. (12) s
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— 88 —
da qual circulam os coches, os automóveis, e, até ao
sitio denominado Parada, os bondes eléctricos.
Chegamos ás 10 horas a Suaréz, debaixo de um
frio cortante e denso nevoeiro, que alli, no immensu-
ravel descampado, lembrando os nossos taboleiros,
mais flagicía os viajantes.
A Colonia começou a funccionar a 26 de Outubro
de 1912, tendo, portanto, apenas 4 annos.
Sua capacidade era, então, de 62 menores.
.Quando, atravessada uma alameda, saltei do auto
móvel, tive uma impressão singular, proveniente da
paisagem morta, das arvores sem folhas, do solo secco,
numa apparencia de absoluta esterilidade.
Turmas de menores, de dolman e gòrro, lavravam
a terra. As veredas do parque e do jardim, tão certas =
e lisas, pareciam de asphalto.
O Director, um «genlleman», que me apparecera
na vespera, solemne e de cartola, ali estava de brim
kaki, chapéu de amplas abas, cothurnos amarellos;
era o homem do trabalho, entregue á sua missão com
verdadeiro tino e alta intuição do complexo serviço.
Vive na Colonia e para a Colonia. Fiscaliza os cam
pos, surge inesperadamente nas officinas, perlustra os
livros da intendencia, e, quando a noite chega, estuda
os problemas criminaes, as questões carcerarias, a
psychologia infantil. O que não o prohibe de, á noite,
sorpreender os vigilantes nos vários pavilhões, pu
nindo, sevéro, os que dormem ou desertam do posto.
Após os cumprimentos do estylo, começamos a
percorrer a Colonia*
Em primeiro Iogar, as hortas e os jardins, que
— 89 —
occupam uma enorme extensão. Tudo lembrava nos
sos campos após a devastação das «queimadas».
Extensa sebe viva, de cipós retorcidos, com a qual
haviam cingido a horta, seria, dentro em breve, com
a primavéra, um dos . mais bellos roseiraes do Uru-
guay! Tudo aquillo não demoraria em reflorir, em
tomar um viço e côres magníficos.
Sobre a sombria paysagem, o sol, que eu, debalde,
nesse dia, buscava, recomeçaria a sua obra divina de
renovação.
A impressão para meu espirito de brasileiro, ha
bituado ao eterno encanto da natureza, é que não
podia ser outra. Aquella desolação e aquella planura
sem limite abafavam-me.
Os drs. Bôrro e Mendivil explicavam-me a orga-
nisação dos serviços, emquanto caminhavamos. Os
menores, no campo, distribuem-se por turmas, nem
sempre predominando o critério da idade, mas o das
classes a que pertencem, sob o ponto de vista das
causas que determinaram sua inclusão no Estabele
cimento.
<• Todos elles de apparencia magnífica, e, na quasi
i totalidade, de côr branca; em raros advinhejmaus ins-
tinctos nas linhas physionomicas ou no turvo olhar
mysterioso.
Cada turma tem o seu vigilante, que zela pela or
dem e moralidade, ao mesmo tempo que instrue os
reclusos.
Passamos á Escola do primitivo estabelecimento;
má impressão. O edificio, velho, acaçapado, era escassa
mente illuminado. O dr. Bôrro, comprehendendo-me,
fazia notar que eram dependencias antigas, condemna-
ís
- 90 —
das, que se tratava de abandonar por completo; mas,
infelizmente, fôra impossivel, até então, arrazal-as, por
não se achar concluída a edificação de todos os novos
pavilhões.
Deixando estes compartimentos, onde, além disto,
vi um refeitório e um dormitorio arejados, mas igual
mente de mau aspecto, volvemos ao automóvel, e por
largos caminhos chegamos á verdadeira Colonia de
Suarez.
Estava-me reservada uma surpresa, no contraste
que agóra se me offerecia, entre os obsoletos pavilhões
visitados e aquelles que se erguiam ante os meus
olhos. A impressão, que ahi recebi, só teria de ser
excedida nessa excursão pela Colonia de Retardados
Mentaes de Torres, na Argentina.
Vários pavilhões, verdadeiros palacetes, de estylo
norte americano, largos, altos, de dous andares, além
do rez do chão, occupado pelas secções de forneci
mento, secretaria, etc., alli estavam, junto a um pe
queno bosque de eucalyptus, sem symetria, um tanto
afastados uns dos outros.
Logo adiante lobriguei um outro pavilhão inaca
bado: seria a nova cosinha. Além, os alicerces de outro,
as officinas eléctricas, onde serão montados os moto
res, provisoriamente installados em acanhado com
partimento, e que dão luz a toda a Colonia e fornecem
energia ás officinas.
Um grupo de menores entregava-se a jogos numa
area contígua ao lindo «chalet» do director; e como
fosse dia util, e não estivessemos em momento
de folga, extranhei o facto. Logo colhi que se tra
tava de convalescentes, em ferias forçadas por deter-
I
— 91 —
minação medica, dentro da letra do Regulamento
Interno.
Aqui, como no campo, os rapazes e crianças esta
vam em labuta, uns trabalhando de pedreiros, outros
de ajudantes.
Também as ofíicinas se encontravam em activi-
dade.
As que ainda não dispõem de novos pavilhões,
estão alojadas em galpões cobertos de zinco, sem la
drilho no solo. E ainda, da mesma sórte que no campo
e nas construcçÕes, os menores porafivam, debruçados
sobre os motores, sobre os tornos, guiavam metaes e
pranchas que as serras cortavam, iam e vinham, por
entre a agitação das correias, o rodar dos volantes,
% o chispar da electricidade.
As ofíicinas são diversas, mas as que mais me
impressionaram foram as de ferraria, carpintaria e
laloeiria.
Uma das verbas mais volumosas da receita da
Colonia está na que resulta da fabricação de objectos
de estanho, feitos de latas de petroleo, gazolina,
leite condensado, que ella adquire depois de esvasia-
das, no mercado, aproveitando-as com arte, ou que
lhe são generosamente enviadas. Esses objectos, pro
duzidos aos milhares, são pintados a esmalte e sobre
elles gravam figuras pelo processo da adherencia.
\ A carpintaria prepara moveis, alguns dos quaes
muito artísticos, secretárias, estantes, bancos, cartei
ras, etc. Nem tudo, porém, se faz por meio de machi-
nismos. E a razão é para altender e meditar:—como
os menores, voltando aos campos ou ás cidades, não
puderão dispôr de apparelhos, ter-se-ia que em nada
i
i iffiTni
- 92 —
lhes seria utiTa aprendizagem feita na Colonia. Assim,
não.
Os que saem pódem mesmo levar os seus instru
mentos, comprando-os com o dinheiro de seu pecúlio.
A ferraria fabrica as peças de aço e ferro mais
delicadas, complicadas e difficeis, engrenagens de
machinas, instrumentos agrarios, etc. Para isto dis
põe de tudo quanto era necessário importar, tornos,
serras, plainas, polidores, uma collecçao de machinas
modernas que se movem céleres, á electridade, em-
quanto os metaes chispam e pelo chão se acumulam
as piçarras e razuras.
Estas officinas dão bons resultados; mas é prová
vel que a agricultura venha a produzir mais que a
secção industrial.
Não ha creação de gado, propriamente dita, na Co
lonia de Suarez; os menores cuidam, porém, do gado
destinado á engorda para matança, dos bois de carro
e arado, e das vaccas estabuladas para producção de
leite.
A instrucção profissional visa preparar em cada
qual delles um homem apto para o trabalho, conhe
cendo todos os manejos destinados a ganhar a vida,
e especialmente o officio de sua predilecção, compa
tível com a vida que irá ter, lógo que se lhe abram
as portas da Colonia e reconquiste a liberdade.
Entremos nos pavilhões'.
Elles têm, como disse, dous andares.
Nos pavimentos baixos estão os banheiros, lavabos,
latrinas, mictorios, numa secção especial de cada edifí
cio, e noutra os refeitórios. Nestes refeitórios os me-
IIIB
9£ —
nores são obrigados a obedecer ás regras do bom ton,
e cada semana uma turma cuida da mesa e serve aos
companheiros.
Em cima, estão os dormilorios, àmplos, arejados. De
ferro, pintados a esmalte branco, são os leitos. A prin
cipio tinham a forma de berço, ou cima, com gradil aos
lados. Como, porém, esses gradis difficultassem a vi
gilância nocturna, o director mandou retiral-os, e estava
aproveital-os no ajardinamento da praça que fica
entre a sua residência e o primeiro pavilhão.
Ahi, como em todas as modernas construcções de
seu genero, não ha soalhos; tudo é de ladrilho, sys-
tema norte americano. O asseio é muito mais facil.
Mais segura a hygiene. Pelo inverno, porém, tem o
inconveniente de resfriar tanto que atormenta e insen-
sibilisa os pés, logo que se deixe de os ter em movi-
vimento.
Na Escola ministra-se instrucção elementar suffici-
ente, com alguns cursos de applicação pratica, como
agricultura, pomicultura, electricidade, zootechnia.
A historia patria e a educação civica têm o seu
7* logar muito distincto neste programma, bem como os
exercidos de gymnasticas sueca e militar.
Em 25 de Janeiro de 1913 ampliou-se a primitiva
Colonia, dando-se-lhe capacidade para 87 menores. Era,
porém, muito pouco, e o governo resolveu levantar a
soberba colonia actual, que constitue motivo de orgulho
para a prospera nacionalidade.
Assim, em 14 de Fevereiro de 1915, inauguraram-se
os novos pavilhões, e hoje póde comportar 300 me
nores, lotação provisória, pois, conforme verifiquei do
— 94 —
Plano Geral da Colonia, esta, com os annos, se tornará
igual á de Torres, pelo numero de pavilhões.
O plano geral está sendo alterado, apezar de ser
obra de mestres. A pratica vae suggerindo modifica
ções no primitivo traçado.
Fazendo um pouco de estatitisca, direi que de sua
fundação até esta data entraram no grande estabeleci
mento de Suarez 508 menores, egressando 221. Dos
que ficaram, 4 estão recolhidos ao Manicomio de Vi-
lardebé, 1 falleceu, 8 são reincidentes, 19 evadiram-se,
13 foram remettidos por incorrigiveis á Colonia Cor-
reccional, existindo, á data de minha visita, 242.
Dos 19 evadidos, observou-me o dr. Bôrro, 15
foram recapturados, e dos reincidentes apenas 6
haviam deixado a Colonia.
A Colonia Educacional de Yarones rege-se pelo
systema mixto,istoé—agricola-industrial, sob o ponto ;
de vista do ensino profissional. i
t Além das officinas em que se applica a parle indus
trial do programma, dos refeitórios, dormitorios, e
outros departamentos já mencionados, visitei alli a
pharmacia, o salão-hospital, o almoxarifado, a secre
taria, etc. Tudo revelava methodo e ordem.
O mais curioso é que a Colonia não tem mura
lhas de resguardo nem tapumes intransponíveis, ou
vallados. E’ aberta. O menor, uo campo, está em
liberdade. Si não foge é porque ou se afeiçoou ao tra
balho, ou teme fugir. A força que o detem é a moral,
a energia serena da direcção. As turmas numerosas
têm no campo um vigilante. Apezar disto, em todo
o tempo transcorrido, somente 19 se evadiram.
— 95 —
Antes de deixar o estabelecimento, quiz ver o ser
viço do campo.
As turmas entregavam-se a diversos misteres.
Vi menores conduzindo carros tirados a bois,
outros guiando arados, outros movendo descaro-
çadores da terra, outros lavrando o chão a enxada,
tudo sob frio cortante, a que não estavam acostuma
dos, tanto que, a começar pelo Director, todos alli
tinham as mãos e braços rôxos e escoriados, como se
fora o tegumento de morpheticos.
Em Suarez não ha soldados, ha apenas guardas
e vigilantes.
Este anno, pelas festas do Carnaval em Montevi
déu, o Director quiz experimentar o systema, numa
prova decisiva. E deu alta aos menores para irem á
capital e volverem a hora aprazada, no dia immediato.
E’ de imaginar-se com que anciedade esperou o dr.
Borro pela hora do regresso, quando nenhuma oppor-
tunidade seria melhor para a fuga que a do Carnaval,
em meio a compacta multidão de mascarados,
Pois no dia e hora determinados lá estavam todos,
sem falta de um só.
O systema estava sufficientemente garantido.
Nessas colonias o exemplo dos empregados, a dis
ciplina do trabalho c os zelos da Direcção é que fazem
o milagre.
Quanto ao aproveitamento, é sorprendente.
As officinas eléctricas já estão a cargo de 10 me
nores, sob a inspecção de um mecânico.
Os mais peritos no campo e nas officinas passam
a contramestres.
:
!
i
r
— 96 —
Aquillo move-se naturalmente, cada empregado
cumpre os seus deveres com interesse, ou então sáe.
Como observei, ha maior numero de avisos aos
empregados que aos menores.
O silencio é obrigatorio nos refeitórios e dormi to
nos, por necessidade de ordem, não por castigo. Nos
recreios falam-se, palestram, bem como aos domingos,
Por isso mesmo que se trata de eclacação e não
de correcção, os menores podem receber visitas aucto-
risadas, ler na Bibliotheca.
Sua distribuição é por classe, uma vez que ali se =
w
recolhem: "
—Menores delinquentes,
—Menores abandonados, moral e materialmente, í
— Vagabundos,
—Insubordinados á Assistência Publica,
—Menores rebeldes entregues pelos paes. V
Esta ultima classe não está na Lei; mas a lei í
deve ser interpretrada, sempre, com elasticidade, toda
v
vez que essa interpretração possa augmentar o circulo
dos benefícios que ella procura distribuir. Foi o que se 3
:
*
fez alli. A lei não fala na acceitação de taes menores,
mas a direcção, de accordo com os poderes públicos !
;
e a Sociedade das Prisões, recebe-os.
!
Não tem este programma de instrucção fantasias :
de reclame; está de accordo cora o ministrada nas
escolas primarias, com o accrescimo do ensino pro :■
:•
fissional. I
Dizendo, como disse, que na Colonia Educacional !
í
são recolhidos menores delinquentes, devo esclarecer que
especie de delinquentes é a que se costuma internar.
Pela lei, só se admittem alli os menores que ainda
r*
;
n Ilt
&
— 97 —
não completaram 16 annos, si perpetraram delicto
que merecesse pena de penitenciaria, e até 18, si delidos
passiveis de penas de prisão e multa; os reincidentes,
os que infringem as posturas municipaes e de policia,
quando essas infracções caem sob a jurisdicção dos
■
■
!
13
A Colonia E. de Yarones—Montevidéu—Leis
e Regulamentos
Parece-me supérfluo accentuar que a legislação da
Republica Oriental do Uruguay é das mais adeanta-
das da America do Sul. Não ha exaggero nisto. s
Nós, os brasileiros, ainda desconhecemos o peque
no grande-povo que habita a região outrora provín f
L
cia do Brasil; e, entretanto, está alli, em absoluto viço, h
uma das mais formosas civilisações contemporâneas. t
Compulsemol-a,no que se prende aos menores, e,
especialmente, à Colonia de Suarez. r
.
— O Codigo Penal, promulgado em 1889, no Uru !
guay, diz, no artigo 17, que: ;
L
:
— São isentos de responsabilidade: :
N. 2—O menor de 10 anno3; *
5
N. 3 — O maior de 10 annos e menor de 14, a
não ser que conste haver obrado com discernimento. *
E accrescenta: \
«O juiz fará declaração expressa sobre este :;
ponto, para lhe impôr a pena ou declaral-o
irresponsável. Neste ultimo caso, o juiz poderá
ordenar que o menor seja collocado numa casa :
de educação ou correcção de menores, por es :
paço de tempo não superior a dois annos, ou
que seja entregue a seus pais ou responsáveis, :
•
com a obrigação de vigiarem sua conducta sob i
— 99 —
.
i
1
.
1
í
i
í
■ V
- ;í f.S.V“
v.^- \-2
>• •v: >
..• . ' ■; \t—*
- 100 —
J •- cV i'5 j«=»
•^V'' jcS Conselho de Protecção de Menores, pelo tempo
£3yque os regulamentos estabeleçam e até a maiori
dade, devendo ser submettidos a um tratamento
educativo em estabelecimentos públicos ou fóra
delles, na forma prescripta nesta lei.
Art. 34-. — Os menores de 16 annos que in
corram em delictos castigados com penas de
Penitenciaria (art, 36 do Codigo Penal), ficarão
igualmente sob a guarda da auctoridade publica
até a maioridade, seguindo-se, quanto a elles, e
emquanto fòr efficaz, 0 mesmo regimen indicado
no artigo precedente,
Art. 35—Os que, tendo menores debaixo de
seu poder, ou sob custodia ou vigilância, lhes
ordenem, incitem, estimulem ou permittam que
implorem a caridade publica, ou tolerem que
outros se utilisem delles para esse fim, serão
castigados com multa de 50 a 500 pesos, ou
prisão equivalente.
Os menores ficarão sob a guarda da auctori
dade publica pelo tempo que os regulamentos
determinem, sem prejuiso do estabelecido pelo
art. 2.°, 2 e 3, e 0 que acerca da tutella se
dispõe no Capitulo II do Titulo I desta lei.
Art. 36. — Os menores reincidentes em in-
fracções municipaes e de policia, que caiam
sob a jurisdicção dos juizes, e os que iucorram
em faltas previstas pelo Codigo Penal, ficarão
também sob a guarda da auctoridade publica
até a idade igualmente estabelecida nos Regu
lamentos.
Para comprovar as reincidências, conservar-
— 101 —
V -
— 102 —
problemas que interessam á infancia e aos adoles
centes.
Como se vc Jos artigos tvanscriptos, a lei uruguaya
está muito adiantada. Não põe fóra do Codigo o me
nor até os 16 annos, mas tem por elle carinhos espe-
ciaes, e quando sujeito a penas de penitenciaria manda
que se lhes dê, até quando fòr efficaz, o tratamento
• educativo.
Registo, satisfeito, o adiantamento da legislação
oriental neste particular, mas, em que peze ao meu
desvalor, opino pela formula constante da these que
apresentei ao Congresso Pan Americano da Criança,
que acabo de recordar: os menores até os 16 annos
não devem estar sujeitos a penas, sim a reforma,
A proposito, lê-se na recente obra do sr. Evàrísto
de Moraes, tão rica em citação dos principaes aucto-
res do novo Direito Criminal:
— «Naturalmente pensando na grande parte
da responsabilidade social que todo crime in
fantil ou juvenil envolve, o magistrado italiano
Canonico proclama abertamente, perante o Con
f-
gresso Internacional de Paris (1895): —
*Pour moi, un mineur nest jamais un criminel.
Por isso Canonico viu um abysmo entre a pena
e a educação, parecendo-lhe ser necessário tirar
do espirito da criança transviada a idéa de pena,
que envilece e degrada.
Era o magistrado italiano acompanhado, no _
mesmo Congresso, pelo seu collega russo Drill,
que bradava:—Nada de prisões, nem de outras
penalidades; é preciso, apenas, completar ou
- 103 —
a-
refazer a educação. » (Criminalidade da Infancia
= . e da Adolescência, Rio, 1916, pag. 93 e segs).
3
- Estes princípios foram discutidos esustentados victo-
riosamente no Congresso Penitenciário de Buenos Aires.
Elles vão dominando as legislações cultas.
-
- Volvamos, porém, ao Uruguay, que eu aqui sou
= apenas um expositor, e não um escriplor, ou o com-
: ;
= mentador dominado pela idéa de fazer proselytos.
A Lei de 2k de Fevereiro não se limitava a crear o j
1
:
;
■
;
i
!.'V
V >
'
— 100 —
14.° O menor, além de seus paes,* tem parentes e
pessoas que possam velar ou interessar-se por elle? '
lõ.° Póde suppòr-se ou acreditar-se que o menor
lenha sido arrastado ao delicio ou ao vicio por seus
paes, parentes ou pessoas que exerciam sua auctori-
dade sobre elle?
Boletim de antecedentes do menor
1.° Nome e appellido do menor.,
2.° Logar e data do nascimento.
3.° No caso dc ignorar a datado nascimento, idade
approximada.
4.° Vivia com os paes? Em caso negativo, com
quem vivia; desde quando e onde está domiciliada
esta pessoa.
5.° E’ filho legitimo,legitimado,filho natural reconhe
cido ou não reconhecido, filho de paes desconhecidos. !
6.° Si aprendeu algum officio; em caso contrario,
em que se occupava. ;
7.° Qual é o seu estado de saude: si padece de 1
■
— 107 —
; 14.° Que"delicto ou faltá motivou sua prisão; em
caso negativo, porque se o pòe sob a guarda do Con
selho?
15.° Si foi anleriormente preso ou condemnado,
porque motivos, quantas vezes? Dar explicação suscinta
dos factos.
16.° Subministrar outras datas a respeito do pas
sado do menor, susceptíveis de ler importância sob o
ponto de vista de sua educação e correcção.
Deixo de minuciar aqui os demais regulamentos
para evitar que esta Exposição mais se amplie e alar
gue. No caso de se levar por diante a idéa da creação
da nossa Colonia, eu poderei prestar ao Governo, da
melhor boa vontade, os esclarecimentos que se façam
mister e estejam ao meu alcance.
í Uma lei não posso, ainda, esquecer, comple
mento das demais a que me referi: é a lei da vaga
bundagem, de uma inílexibilade digna de nota.
Não se poderá dizer que essa lei, que foi publica
da a 15 de Julho de 1882, exlinguisse os vagabundos
em Monlevideu e no lerritorio uruguayo. Nenhuma
lei tem caracter absoluto, e si assim fosse a crimina
lidade estaria varrida da superfície da terra. Appli-
cada, como é, no entanto, poupa as ruas da capital
ao espectáculo que as nossas offerecem, de centenas .
de menores maltrapilhos, viciados e perigosos.
O artigo 14, de tal lei, prescreve:
«Os menores presos por vagabundos ou de íí
:
u
— 108 —
Em caso de'reincidência, os ditos menores
serão entregues á Escola de Artes e Officios.»
Tendo sido conslruida a Colonia Educacional,
este dispositivo teve na pratica suas modificações,
mas a Escola Nacional de Aries y Officios merece que
eu a relembre, accenluando suas organisações.
Actualmente está passando por uma reforma.
Dirige-a o dr. Pedro Figari, phylosopho e crimi-
nalisla, auctor de varias obras notáveis.
Os menores, que alli são recolhidos, entregam-se
ao estudo profissional, mantendo o estabelecimento
esplendidas officinas, inclusive de ceramica, obras de
talha, esculptura, gravura e pintura.
Os menores fazem exercidos militares.
Quando alcançam a liberdade, o patronato de me
nores recebe-os, collocando-os.
E assim esta Escola, que tinha um aspecto de
cárcere e vae tomando novo aspecto encantador, como
tive opporlunidade de verificar, completa o mecanismo
educacional-correctivo dos menores abandonados, vici
osos e delinquentes no Uruguay.
s
0 que deve ser a nossa Colonia—Conclusão
!
.
----
I
- 110 —
- 111 —
0 crilerio da defesa social poz de parle,
era relação aos menores, (até 18 annos, pelo
menos) a consideração, mera mente objectiva,
dos actos por elles praticados.» (Op. cit.
pag. 91).
Sobre esta questão não ha duas opiniões accei-
laveis.
Eu opino pela Colonia Educacional. A Casa de
Correcção, que François Coppée sligmatisou nos seus
romances, seria uma tentativa inglória, valendo por
uma involução.
Quanto á denominação a dar-se a uma instituição
desse genero, parecerá, do primeiro lance, que se trata
de um faclo secundário, devendo, por isso mesmo,
ficar para a ultima demão do Executivo.
Os que assim pensam, porventura, enganam-se.
O faclo é relevante, e, no Congresso que se reuniu
no Chile, o dr. Cândido Motta, delegado de S. Paulo,
disse, applaudido por todos os congressistas, que a
denominação inílúe extraordinariamente no exilo des
sas colonias.
Para readaptar-se, reformar-se, o menor carece de
não ser humilhado, quando se podería facilmente
rebellar, frustando todos os meios empregados para
salval-o.
Penetrando numa dessas Colonias, elle deve ter a
impressão de que vae para a escola e a officina. Si,
porem, no alto da portada, descobre a palavra Correc
ção ou Corrcccional, levará a certeza de que transpõe
os humbraes de um cárcere, o que, na opinião dos
psychologos, será de funestos effeitos.
— 112 —
Por outro lado o publico, assimilando a idéa de
Colonia Correccional á de Casa de Correcção, verá
sempre nos que dalli sahirem, mesmo que não sejam
delinquentes, lypos repudiaveis, dos quaes se retran-
zirá, no seu eterno egoismo. Aos que se interessem por
este problema, recommendo por isso, as palavras
do sr. Cândido Motta. (O menor delinquente e seu
tratamento no E. de S. Paulo), p-
■
t
;
i
I
- 113 —
produzem trabalho, que não contribuem para o des
envolvimento das riquezas, e estão precisamenle na
classificação do economista M, A. D’ Ambrosio, que
os denomina de economicamente passivos. Manlio An
dréa D’Aambrosio—La passivitá economica —1902).
" Abstrahindo, aliás, do ponto de vista financeiro,
duas outras razões imperiosas militam em pról de
/
uma organisação que não seja meramente industrial:
á) as necessidades agrícolas do Estado.
b) a índole e origem dc grande numero dos me
nores que alli lerão de ser recolhidos.
As industrias, aqui, não possuem ainda o desen
volvimento que era para desejar. As fabricas que possuí
mos, merecedoras desse titulo, são as de assucar e
as de tecidos.
E’ obvio que não poderiamos preparar, numa co-
lonia, operários para as fabricas de fiação e tecidos,
sinão montando uma officina completa, o que seria
fantasmagórico e ridículo.
As usinas de assucar jogain, excepção de meia duzia
de lechnicos, com o pessoal da lavoura, a gente dos
campos.
Não seria rasoavel queprclendessemos preparar ar
tistas ou artífices que, ao deixar a Colonia, ficassem
sem ter em que applicar a sua especialidade.
O que se impõe ao governo é, alem do mais, a con
dição, a origem dos reclusos.
Donde vem essa casta de gente que enche as ruas
da capitai e de nossas villas e cidades do interior?
Vem dos campos, dos arredores dellas, ou são
filhos de operários pobres ou incapazes, de paes sem
profissão, de mães ignorantes ou desnaturadas, por-
16
-- 114 -
que, em verdade, o pauperismo ainda não póde ser
invocado como faclor de abandono da prole pelos
paes, no Brazil.
O Eslado, recolhendo os menores abandonados ou
condemnados, ha de indagar dessa origem e do des- v
tinò que o menor terá ao sahir da Colonia.
Especiliasará tanto quanto possível as funcções de
\
cada qual. Assim, dos menores da cidade, fará jardi
neiros, horlaleiros, pedreiros, carpinteiros, marcinei-
ros, sapateiros, alfaiates e lypographos. Aos dos cam
pos, dará uma instrucção profissional agricola, de
accordo com as suas possíveis necessidades, islo é, re-
lativamenle á cultura da canna, do algodão, do fumo,
do cacau, etc. São todas aquellas officinas de facil
montagem, não só pela possível acquisição de ma
terial barato, como pelos proveitos, medialos e im-
mediatos, a tirar dellas.
E’ assim que, abatendo gado necessário á ma
nutenção do pessoal e reclusos, a Colonia aproveitará,
como na do Uruguay se faz, os couros para os tra
balhos da sapalaria, que poderá conter uma secção
especial, de grande utilidade para o Estado, destinada
á confecção de correame para a cavalhada policial.
O Eslado compraria o producto pelos preços do
mercado, e ahi, como nas outras officinas, os saldos
reverteríam para a verba—custeio da Colonia.
Merece umas linhas á parle a ofíicina lypographica,
por mim indicada como essencial.
O Eslado faria delia, uma vez habilitados os meno
res, uma especie de secção annexa á Imprensa Of/icial.
N'Os menores typographos trabalhariam, alli, para a
ofíicina official, e receberíam seus salarios por folha,
- 115 —
como os typographos contractados, todas as semanas.
Descontada a verba do pecúlio de cada qual, as so i
:
bras passariam áquella verba, custeio, auxiliando po
derosamente a manutenção do serviço.
Confio tanto nesse mecanismo que seria capaz
de garantir-lhe o exilo após um anno de funcciona- A
'
mento, quando a receita da Colonia andaria próxima
da despesa respectiva.
Tudo isto dependerá, exclusivamenle, da Directoria/
do pessoal, da montagem das offlcinas e do local em
que se a estabeleça.
Uma Direcção modelar é condição sine-qua para
o bom exilo de uma Colonia dessa especie. Na escolha
do Director deve ser banida qualquer preoccupação
de ordem partidaria.
Não se afigure que estou a insinuar uma orienta
ção nova ao governo, com descabida impertinência.
Não! Si o assumplo é versado nesta Exposição é
porque elle sahiu já do trato da imprensa, para cahir
no dominio da sciencia, dos livros, dos Congressos,
tão graves males podem resultar para a sociedade e
"n
para o governo de uma direcção inepta, incapaz, e
i
sobretudo sem dedicação, nessses estabelecimentos.
Todos sabem que os partidos fazem pressão aos j
5
1
i
I
116 —
Esta verdade preoccupou tanto os sábios, que foi
levada aos congressos scienlificos, approvando o 4.°
Congresso S. Pan Americano, reunido em Santiago
do Chile, em 1909, a seguinte conclusão:
:
I
;
!
• 1
\ — 118 —
dos, em regra, polos governadores, nos Estados, ou pelo
presidente da Republica, na união. (Op. cit. pag.
368).
A Colonia ha de dispor, aliás, de uma secção para
os menores, sem o que seria defeituosa, incompleta.
Nesta, com os trabalhos da lavoura, poder-se-ia
estabelecer uma lavanderia, além de uma officina que
poderiadar resultados práticos,de accôrdo como meio:
a de costurar roupas chamadas de carregação, «roupas
feitas», que o commercio dá a preparar a uma infini
dade de mulheres. De facil montagem, esta secção não
carecería de matéria prima própria. Bastariam as 1
machinas.
São conceitos meus, nascidos da observação e bem i
póde ser que desautorisados; mas eu cinto que, em
se procurando montar uma colonia de caracter pratico,
e modesto, elles não são para despresar.
Pelo que succinlámenle expuz, entendo que a nossa
Colonia deve ser íiiixta; e, quanto ao pessoal,—que,
excepção do Direclor, os principaes cargos deverão
ser preenchidos por concurso, convindo accrescenlar
que o systema de casaes, adoptado nos E. Unidos,
para os guardas e vigilantes, desafia ser imitado.
Nessas obras de educação de menores a mulher
afigura-se-me elemento indispensável, principalmente
as mães de familia. }
*
A Colonia será apenas para menores delinquen
tes, VICIOSOS E abandonados, ou abrangerá os vaga :
bundos, DESORDEIROS, etC.V !
v
A resposta não pode deixar de ser negativa, quanto
á ultima parle deste enunciado. ;
;
— J19 —
A promiscuidade de menores e adultos nos estabe
lecí menios disciplinares é hoje condemnada pela una^
nimidade dos críticos.
Todos os criminalistas verberam semelhante mis
tura de crianças ou jovens com adultos já conhece
dores da vida, e em cujas almas está muita vez asylada
a maior das perversidades.
Eu podería estudar, aqui, dezenas de opiniões rela-
livamenle aos perigos da promiscuidade. Mas o assum-
pto está de tal sorte exgotado que julgo dispensável
fazei-o.
Não se allegue, como se fez nos últimos projectos
apresentados á Assembléa Estadual, que os maiores
leriam uma secção á parte. Fora mister construir um
pavilhão ou pavilhões .especiaes, o que valeria por outra
Colonia, e então seria melhor construil-a fóra do
raio da primeira. Dado o caracter de «educação e
readaptação», da Colonia, esse asylamento de desor
deiros, ebrios, capoeiras e mendigos válidoí, além
dos 18 ou, mesmo, dos 21 annos, teria por consequên
cia inutilisar os esforços empregados para o fim prin
cipal, nobilissimo fim de prevenir a criminalidade.
Transformar-se-ia numa casa de correcção, com
lodo o seu cortejo de males, e o publico depressa :
$
começaria a descrer da efficiencia de um serviço tão
longamenle acariciado, assim desvirtuado, por mes
quinharia financeira, nos seus altos intuitos. 1j
Si, na opinião auclorisada de sir Charlton Lewis»
presidente, desde os vinte annos de idade, da Associação !
das Prisões dos Estados Unidos, « a experiencia mos ■?
1
■
J
— 120 —
fabricar criminosos», (Apnd Carpenter, pag. 49)que
esperar desse oulro processo que visa confundir na
mesma colonia o menor abandonado com o bebedo de
profissão, o delinquente impulsivo de 16 ou 18 annos
com o vagabundo profissional?
O que eu penso c que, estabelecida a Colonia, o
governo poderá, á requisição do Director da mesma,
enviar-lhe sempre que preciso seja, e sob guarda poli
cial, as turmas de vagabundos, mendigos validos, ca
poeiras e desordeiros que atulham as prisões, para os
serviços de campo e construcção nella realisados.
Só isto.
Colonia para menores e. adultos, não é aconse-
1 havei. *
1-
O LOCAL E O EDIFÍCIO l
- 121 —
Conclusão
:
Jf
I
- 122 —
12.° À lei de auctorisação para a installação da
colonia apenas deverá determinar quaes os menores
que ahi serão recolhidos, em que condições, e tornar
imperativos os princípios acima exarados. O mais, por
muito complexo, será matéria regulamentar, obrigado
' o governo a fezel-o dentro da legislação congenere dos
;
povos cultos.
v
í.
*
•P >
IXTXDIQE
Pgs.
Introducção......................................................... 1
Os novos Iiorisoulcs pcnaes............................ 8
As penitenciarias................................................ 24
A penitenciaria de Huenos Aires..................... 27
A penitenciaria Nacional do Uruguay........... 43
r Os svslemas prisionacs...................................... 0-1
As colonias de menores — Sua historia na
America........................................................... 08
À colonia Educacional dc Varoncs, Montevidéu 87
O'que deve ser nossa colonia.......................... 107
’
i
:
A
••
1;
í
I
i
Impõe-se-nos uma corrigenda.
Dentre os senões inevitáveis da revisão, alguns, por
contrariarem o original e alterarem o sentido, exigem que
os apontemos ao leitor.
Pagina 11—As aspas da linha 5.a veem depois da pala
vra terminologia, e não antes.
Pagina 20—Onde se lê—allegar o que é, leia-se—allegar
que o c.
Pagina 28—5.a linha—leia-se—irmãos—typo. Penúltima
►
linha—E’ Carlyle, e não Carlyb.
Pagina 31—Antepenúltima linha, leia*se—e desses, nem
1 % mereceu.
Pagina 70—Leia-se: á 3.» linha—sociologia e melereologia
criminaes, e á I3.a, quanto e/n, em vez de como em.
Pagina 55—e receba visitas, em vez de—e receber visitas.
Pagina 62—5.a linha—em vez de para chamar é cha-
mando.
Pagina 68—Onde se lê—mais de cem annos decorridos,
leia-se—mais de sessenta annos decorridos—e onde está 1395
é 1895.
Pagina 72—Em vez de—Leventeanth leia-se—Sevcnleenlh.
Pagina 75—Em vez de—Não contagie, é não contagiem.