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80 DOS CAVALEIROS

Os defensores são um dos três estados


porque Deus quis que se mantivesse o
mundo: e assim como aqueles que rogam
a Deus pelo povo são chamados
oradores e os que lavram a terra e fazem
aquelas coisas que permitem aos homens
viver e manter-se, são chamados
lavradores, outrossim, os que têm de
defender a todos são chamados
defensores. Portanto, os antigos
houveram por bem que os homens que
fazem tal obra fossem muito escolhidos
porque para defender são necessárias
três coisas: esforço, honra e poderio.
Afonso X, o Sábio. Las Siete
Partidas (II, t.XXI), op. cit., p.70.

81 A LINHAGEM DO CAVALEIRO (S
XIII)

Se um homem pretendesse ser


cavaleiro sem ser gentil-homem de
linhagem, mesmo que o fosse pela sua
mãe, não poderia sê-lo por direito; antes
o poderiam tomar os reis ou os barões
onde estivesse a castelania e mandar-lhe
por direito cortar as esporas sobre uma
estrumeira [...]; porque não é costume a
mulher nobilitar o homem, mas sim o
homem nobilitar a mulher. Na verdade,
se um homem de grande linhagem
tomasse por mulher a filha de um vilão,
o seu filho poderia bem ser um
cavaleiro de direito, se o quisesse.

Les établissemmnts de Saint


Lotais. cap.CXXXIV In:Viollet,
P. (Ed.). Paris: Société de
l'Histoire de France, 1881, t.II,
p.252-3. Apud Espinosa, op. cit.,
p.181-2.

82 A POSIÇÃO SOCIAL DO
CAVALEIRO (S. XIII)

Não é bastante para a grande honra


que pertence ao cavaleiro a sua escolha,
o cavalo, as armas e o senhorio, mas é
mister que tenha escudeiro e troteiro que
o sirvam e cuidem dos seus cavalos; e
que as gentes lavrem, cavem e
arranquem a maleza da terra, para que
dê frutos de que vivam o cavaleiro e os
seus brutos; e que ele ande a cavalo,
trate-se como senhor e viva
comodamente daquelas coisas em que os
seus homens passam trabalhos e
incomodidades.

[...] Correr em cavalo bem guarnecido,


jogar a lança nas liças, andar com
armas, participar em torneios, fazer
tábulas redondas, esgrimir, caçar
cervos, ursos, javalis e leões e outros
exercícios semelhantes, pertence ao
ofício de cavaleiro, pois com tudo isto
se acostuma a feitos de armas e a manter
a Ordem da Cavalaria. Por tanto,
desprezar o costume e uso por meio dos
quais o cavaleiro se dispõe para o uso
do seu ofício é menosprezar a Ordem da
Cavalaria.

Raimundo Lúlio. Libro de la


Orden de Caballería, 1, 9-10. In:
Llull, R. Obras literarias de...
Batllory, M., Caldewtey, M. (Ed.)
Madrid: B. A. C., 1948. p.110,
114-5.

83 A FUNÇÃO DO CAVALEIRO (S.


XIII)

Ofício de cavaleiro é manter e


defender o seu senhor terrenal, pois nem
rei, nem príncipe, nem alto barão
poderão, sem ajuda, manter a justiça
entre os seus vassalos. Por isto, se o
povo ou algum homem se opõe aos
mandamentos do rei ou príncipe, devem
o s cavaleiros ajudar o seu senhor, que,
por si só, é um homem como os demais.
E assim, é mau cavaleiro aquele que
mais ajuda o povo do que o seu senhor,
ou que quer fazer-se dono e tirar os
estados do seu senhor, não cumprindo
com o ofício pelo qual é chamado
cavaleiro. [...]

Ofício de Cavalaria é guardar a terra,


pois por temor dos cavaleiros não se
atrevem as gentes a destruí-la nem os
reis e príncipes a invadir uns a dos
outros. Mas o cavaleiro malvado que
não ajuda o seu senhor natural e terrenal
contra outro príncipe é cavaleiro sem
ofício [...]

Raimundo Lúlio. Libro de la


Orden de Caballería..., op. cit.,
p.114-5.

84 A PREPARAÇÃO DO CAVALEIRO
(S. XIII)

A ciência e a escola da Ordem da


Cavalaria é que o cavaleiro mande
ensinar o filho a montar a cavalo, na sua
mocidade, porque, se não aprender
então, não o poderá aprender na
maioridade. Convém também que o filho
do cavaleiro, quando escudeiro, saiba
cuidar do cavalo; não convém menos
que seja súdito antes de ser senhor e
saiba servir a um senhor, pois sem isto
não conheceria, quando cavaleiro, a
nobreza do seu senhorio. Por esta razão
o cavaleiro deve submeter o seu filho a
outro cavaleiro, para que aprenda a
adereçar e guarnecer as demais coisas
que pertencem à honra de cavaleiro.

Raimundo Lúlio. Libro de la


Orden de Caballería..., op. cit.,
p.111.
85 O INGRESSO NA ORDEM DA
CAVALARIA (S. XIII)

Do modo como o escudeiro (leve


receber a cavalaria

1 - Primeiramente o escudeiro, antes


de entrar na Ordem da Cavalaria, deve
confessar-se das faltas que cometeu
contra Deus [...]

2 - Para armar um cavaleiro convém


destinar-se uma festa das que de
preceito se celebram durante o ano [...]

3 - Deve o escudeiro jejuar na vigília


da festa [...] E na noite antecedente ao
dia em que há-de ser armado, deve ir à
igreja velar, estar em oração e
contemplação e ouvir palavras de Deus
e da Ordem da Cavalaria [...]

4 - No dia da função convém que se


cante missa solenemente [...]

9 - Quando o sacerdote tenha feito o


que toca ao seu ofício, convém então
que o príncipe ou alto barão que quer
fazer cavaleiro o escudeiro que pede
cavalaria tenha em si mesmo a virtude e
ordem da Cavalaria para com a graça de
Deus poder dar a virtude e ordem da
Cavalaria ao escudeiro que a quer
receber [...]
11 - Deve o escudeiro ajoelhar-se
diante do altar e levantar a Deus os seus
olhos corporais e espirituais e as suas
mãos. E então o cavaleiro lhe cingirá a
espada, no que se significa a castidade e
a justiça. Deve dar-lhe um beijo em
significação da caridade e dar-lhe uma
bofetada para que se lembre do que
promete, do grande cargo a que se
obriga e da grande honra que recebe
pela Ordem da Cavalaria.

12 - Depois de o cavaleiro espiritual e


terreal ter cumprido o seu ofício
armando o novo cavaleiro, deve este
montar a cavalo e manifestar-se assim à
gente, para que todos saibam que é
caval ei r o e obrigado a manter e
defender a honra da Cavalaria [...]

13 - Naquele dia se deve fazer grande


festim, com convites, torneios e as
demais coisas correspondentes à festa
da Cavalaria [...]

Raimundo Lúlio. Libro de la


Ordem de Caballería..., op. cit.,
p.126-8.

86 FESTEJO EM TORNO DE UM
NOVO CAVALEIRO (S. XIV)

[...1 Ordenou El-Rei de fazer conde e


armar cavaleiro João Afonso Tello,
irmão de Martim Afonso Tello, e fez-lhe
a mor honra em sua festa, que até àquele
tempo fora visto que rei nenhum fizesse
a semelhante pessoa; cá El-Rei mandou
lavrar seiscentas arrobas de cera, de que
fizeram cinco mil círios e tochas, e
vieram do termo de Lisboa, onde El-Rei
então estava, cinco mil homens das
vintenas para terem os ditos círios. E
quando o conde houve de velar suas
armas, no Mosteiro de São Domingos
dessa cidade, ordenou El-Rei que
daquele Mosteiro até aos seus Paços,
que é assaz grande espaço, estivessem
quedos aqueles homens todos, cada um
com seu círio aceso, que davam todos
mui grande lume, e El-Rei, com muitos
fidalgos e cavaleiros andavam por entre
eles dançando e tomando sabor, e assim
despenderam grã parte da noite.

Em outro dia, estavam mui grandes


tendas armadas no Vocio, cerca daquele
Mosteiro, em que havia grandes montes
de pão cozido, e assaz de tinas cheias de
vinho, e logo prestes por que bebessem,
e fora estavam ao fogo vacas inteiras em
espetos a assar, e quantos comer
queriam daquela vianda, tinham-na
muito prestes, e a nenhum não era
vedada e assim estiveram sempre
enquanto durou a festa, na qual foram
armados outros cavaleiros cujos nomes
não curamos dizer.
Fernão Lopes. Chronica do Senhor
Rei D. Pedro I. Introd. de Damião
Peres. 2.ed. Barcelos: Companhia
Editora do Minho, 1979. p.62-3.

87 A CONCESSÃO DA
CAVALARIA ANTESDE
UMA BATALHA (S. XIV)

Então mandou o rei anunciar entre a


hoste que quem quisesse tornar-se
cavaleiro avançasse, e ele daria a
Ordem da Cavalaria em honra de Deus e
de São Jorge. E parece-me, segundo
estou informado, que houve aí 60 novos
cavaleiros com os quais o rei teve
grande alegria e pô-los na primeira
frente da batalha dizendo-lhes:

"Belos senhores, a Ordem da


Cavalaria é tão nobre e tão alta que
ninguém, que seja cavaleiro, deve
pensar em impureza, vício ou covardia,
mas deve ser orgulhoso e ousado como
um leão quando tem o bacinete ou o
elmo na cabeça e vê os seus inimigos. E
porque quero que mostreis proezas onde
pertence mostrá-las, envio-vos e mando-
vos para a primeira linha da batalha.
Fazei pois de tal forma que aí tenhais
honra, porque de outra maneira as
vossas esporas não estariam bem
assentes." Cada novo cavaleiro
respondeu por sua vez e disse ao passar
diante do rei: "Senhor, faremos bem, se
Deus quiser, enquanto tivermos a Sua
graça e o vosso amor".

Froissart. Chroniques, hV.III, 37.


Mirot, L. (Ed.). Paris: Société de
l'Histoire de France. p.150. Apud
Espinosa, op. cit., p.179.

88 A CONCESSÃO DA
CAVALARIA DEPOISDE
UM COMBATE

O príncipe D. João é arnado cavaleiro


após da batalha de Arzila: 1471

[...] ali no Castelo, além de outros


nobres cristãos que com ferro morreram,

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