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e nos restringirmos ao sentido militar da palavra "cavalaria", defini-la-emos


S essencialmente como um grupo profissional, o dos guerreiros de elite, ata-
cando impetuosamente, de lança ou espada em punho, em todos os campos
de batalha da Europa medieval: a cavalaria pesada, rainha das batalhas do
século XI ao XIV, antes que o progresso dos arqueiros e, mais tarde, da arti-
lharia viessem arruinar-lhe a supremacia e relegá-la à categoria de vestígio
prestigioso de tempos heróicos e veneráveis.
A esse aspecto militar liga-se ufu segundo sentido, mais freqüente, de
termos frani:eses e latinos. "Fazer cavalarià' (militiam facere) significa tanto
atacar quanto realizar grandes feitos de armas, proezas ... cavaleirescas.' Mas o
sentido militar não é o único em questão. Agrega-se a ele, desde a origem,
uma conotação social cada vez mais aristocrática. Na cavalaria não entra quem
quer! Reis e príncipes distinguem com sua autoridade essa confraria profissio-
nal, a que exigem controlar o acesso, filtrar a admissão. Sem dúvida não se
pode, como se fazia muito anteriormente, confundir a origem da nobreza e da
cavalaria. Contudo, é forçoso reconhecer, logo a nobreza controla e comanda
a cavalaria, empresta-lhe sua ideologia a ponto de, a partir do fim do século
XII, a cavalaria aparecer como expressão militar da nobreza, que a considera
território particular e alicia seus membros. Desde então, um cavaleiro não é
somente (e, posteriormente, nem tanto!) um guerreiro a cavalo, mas um
membro reconhecido da aristocracia. Cavaleiro torna-se título nobiliário.
A Igreja não fica indiferente ao progresso da cavalaria. Constatando o
enfraquecimento do poder central, especialmente na França dos séculos X e
XI, ela tenta proteger-se da fúria devastadora e saqueadora dos senhores da
guerra, que são os potentados locais, castelões à frente de seus cavaleiros. Ela
confia a defesa dos estabelecimentos eclesiásticos, de seus bens e pessoas, a ou-
tros castelões ou a outros guerreiros recrutados para essa finalidade. Esses de-
fensores de igrejas cumprem missão protetora antes reservada a reis e prínci-

1. Chevaleresque. o adjetivo "cavaleiresco" não está dicionarizado em português, mas


sendo usual não nos furtaremos de recorrer a ele ao longo desta tradução. (HFJ)

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pes. Ao mesmo tempo, e de várias maneiras, a Igreja tenta inculcar nesses ca- tar, acresceram-se da conotação principal de serviço em nível elevado, honra-
valeiros, -e depois em toda a cavalaria, um ideal elevado: a proteção das igre- do. Um serviço que, nas ordens, realiza-se pela oração dos monges; na corte,
jas, dos fracos e dos desarmados (inermes) no interior da Cristandade; a luta pela assistência moral, financeira, judiciária e, evidentemente, pelo serviço ar-
contra os infiéis, no exterior. A tentativa só em parte é coroada de êxito, e a mado dos vassalos. Miles também designa freqüentemente um vassalo, sobre-
Cruzada não chega a mobilizar longamente os guerreiros em uma "cavalaria tudo no singular, em textos anteriores ao século XII. No plural, designa geral-
cristã" a serviço da Igreja. O aspecto religioso não está ausente da ideologia ca- mente os guerreiros, no sentido geral do termo. Para calcular os efetivos de um
valeiresca, mas constitui apenas uma de suas facetas. exército, os cronistas escrevem, por exemplo, que ele compreendia certo nú-
De fato, é de ideologia que é preciso falar a propósito da cavalaria. Tal- mero de soldados (milites), entre os quais se distinguem os cavaleiros (equites)
vez mesmo de mitologia, de tal forma a palavra ficou carregada de conotações dos infantes (pedites). A Cavalaria, nesse tempo, ainda não existia realmente:
honoríficas, idealistas, éticas. A literatura, apropriando-se dela desde suas ori- é melhor falar de cavalaria. 2
gens, transfigurou-a pouco a pouco, através de heróis emblemáticos como Ro- Todavia, a partir do fim do século XI, e mais claramente em seguida, o
lando ou Lancelote do Lago, Alexandre ou o rei Artur; sonho e realidade mis- termo milites substitui equites, como se os verdadeiros guerreiros só pudessem
turaram-se assim para formar nos espíritos uma cavalaria que, mais que cor- estar a cavalo. Opõem-se desde então ds milites à infantaria (pedites), reconhe-
poração ou confraria, torna-se uma instituição, um modo de viver e de pen- cidamente útil para transformar uma vantagem em triunfo, mas cujas proezas
sar, reflexo de uma civilização idealizada. Um mito, de que se alimentou a ci- são esquecidas ou postas em segundo plano. Doravante, só a cavalaria ocupa
vilização ocidental durante séculos, inclusive até nossa época, apesar da cari- o cenário: do sucesso de Hastings (1066) ao desastre de Azincourt (1415), e
catura cruel que dela fez Cervantes em Dom Quixote, na época em que a ex- mesmo depois, apesar dos reveses, seu prestígio é incomparável.
pansão dos cavaleiros da indústria e dos conquistadores do comércio relega- A principal razão de tal privilégio é de ordem técnica, e até tecnológica.
vam às sombras os cavaleiros arruinados de uma Idade Média finda. Existia já há muito tempo uma cavalaria, e mesmo uma cavalaria pesada,
Isso quer dizer que não se pode facilmente definir o que foi a cavala- como testemunham vários documentos escritos ou iconográficos da época ca-
ria na Idade Média. Várias abordagens são necessárias para revelar suas rolíngia. O estribo, de origem oriental, generalizou-se na Europa desde o sécu-
múltiplas facetas. lo VIII, assegurando melhor posição ao cavaleiro, reforçada pelo uso de selas
mais fundas, com arções, solidamente fixadas ao cavalo por arreios que in-
CORPORAÇÃO DE GUERREIROS DE ELITE cluíam cilha-mestra, retranca e peitoral. Nos séculos IX e X, esses avanços di-
fundem-se e favorecem o combate a cavalo, com lanças ainda curtas (menos
Os textos latinos chamam milites os que a literatura românica chamará de 2,5 m), usadas como azagaias ou chuços. No início do século XII, no en-
chevaliers-. são portanto; antes de tudo, soldados, como indica o primeiro sen- tanto, um novo método de combate, o do choque frontal, surgido meio sécu-
tido do termo. Não sem ambigüidade, todavia, porque desde a Antigüidade lo antes, mas considerado até então secundário, impõe-se e chega a suplantar
clássica as palavras miles (plural milites), militia, militare revestiram-se de no- os demais: nele se usa a lança em posição horizontal fixa, que o cavaleiro se-
vos significados. Todos se referem a um serviço, que toma a forma de um gura firmemente encaixada sob o braço. Com este novo método, adotado de-
combate. É assim que os monges da Idade Média, como os mártires cristãos finitivamente pela cavalaria, a eficiência da lança não depende mais da força
da Antigüidade, se dizem soldados de Deus (milites Dez), comparam seu cin- do braço do guerreiro, mas da velocidade do cavalo: o cavaleiro forma um
to de corda ao cinturão militar dos soldados romanos (cingulum militiae) e o todo com sua montaria e esse "projétil vivo" beneficia-se da potência que lhe
fato de servir a Deus (militare Deo) ao serviço militar de recrutas. Esse voca-
bulário guerreiro, inspirado em São Paulo, influenciou grandemente as men-
talidades monásticas. Resultou disso que na Idade Média, sob a influência dos 2. O francês faz distinção entre Chevalerie, a ordem de cavalaria, inclusive em sentido
monges, as palavras militia, militare, milites, ,em perder seu significado mili- moral, e cavalerie, referindo-se a esquadrão, regimento, tropa. (N.T.)

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leiro também fazem parte vários cavalos de combate (destriers), treinados para
confere o galope do cavalo. Doravante, a carga compacta dos cavaleiros, lan-
investidas e para o corpo-a-corpo sob gritos e toques de trompas. Pelo menos
ça estendida na horizontal, adquire terrível força de penetração, capaz de des-
um escudeiro (armiger ou, melhor, scutifer) encarrega-se de conservar as ar-
baratar as fileiras adversárias e provocar o medo, o pânico e a fuga do inimi-
mas, cuidar d.os cavalos e levá-los ao senhor, se ele for derrubado ou desarma-
go. É como se fossem os blindados na guerra contemporânea. Muito prova-
do durante os combates. No século XI, o posto de escudeiro continua muito
velmente, a cavalaria nasce da adoção de tal método, que ela aperfeiçoa sem
humilde, identificado ao do servo ou ao do cavalariço. Esse posto cresce jun-
lhe acrescentar modificações importantes, a não ser na lança, que se alonga
camente com a cavalaria: cada vez mais o escudeiro é um aprendiz de cavalei-
para atingir três, até quatro metros, nos séculos XIV e XV. Paralelamente, pro-
ro, de nascimento aristocrático. No século XIII e mais tarde, o escudeiro, jo-
cura-se a melhor maneira de mantê-la em posição fixa por meio do apoio da
vem nobre que não foi armado cavaleiro, possui, por sua vez, uma categoria
couraça, peça que permite ao cavaleiro aliviar o braço de uma parte do peso
própria. Não ocupa mais a sala de espera da cavalaria, mas é titular de uma
da lança. Estas são apenas melhorias pontuais, que quase não modificam um
patente, nos limites da nobreza. Essa mudança mostra bem a que ponto o as-
sistema que, desde o século XII, confere à cavalaria seus traços definitivos.
pecto profissional da cavalaria, inicialmente primordial, cedeu vez, no decor-
O equipamento do cavaleiro compõe-se de armas ofensivas, que são a
rer do século XII, aos aspectos sociais-~ jurídicos.
lança e a espada, esta empunhada quando a lança se parte no choque e é pre-
ciso combater de perto, no "improviso", no corpo a corpo. Da mesma forma
NOBREZA E CAVALARIA
que as lanças, as espadas alongam-se e com o tempo tornam-se pesadas, para
contrabalançar a evolução das armas defensivas. Nos séculos XI e XII, o cava-
Ainda hoje a questão das relações entre nobreza e cavalaria divide os
leiro protege seu corpo graças à loriga, cota de malha flexível de uns dez qui-
historiadores.
los, reforçada no ·século XIII, para ceder lugar, nos séculos XIV e XV, às arma-
A origem compósita da cavalaria parece pouco discutível. Longe de ser
duras rígidas mas articuladas, que transformam o cavaleiro em verdadeira for-
uma confraria igualitária, ela reúne, no século XI, as massas subordinadas que
taleza montada, quase invulnerável se ele estiver a cavalo, mas terrivelmente
a abastecem, os milites comuns, e os que os recrutam, armam, dirigem e em-
exposto e frágil quando, desmontado, ele fica no chão à mercê da adaga dos
pregam, a saber, os príncipes ou, em menor escala, os castelões. Se tais perso-
infantes (chamada, aliás, "misericórdià'), capaz de penetrar nos interstícios da
nagens aceitam, cada vez mais, serem designados pelo termo miles, que se tra-
couraça e conduzir à morte ou, pelo menos, à sua ameaça para obter rendição.
duz talvez sistematicamente demais por "cavaleiro'', é preciso ver nisso bem
O elmo evolui no mesmo sentido. Cônico e alongado por um nasal nos sécu-
mais, nessa época, um efeito da militarização da sociedade que um reflexo do
los XI e XII, tende a fechar-se no século XIII, deixando apenas alguns orifí-
valor jurídico ou social do vocábulo. O progresso da cavalaria resulta, em lar-
cios para os olhos, antes de adquirir formas mais complicadas e orifícios para
ga medida, dessa militarização que valoriza o papel dos guerreiros, ao mesmo
a respiração. Quanto ao broquei, ganha formas diversas, freqüentemente pon-
tempo que exalta a profissão dos cavaleiros, guerreiros de elite.
tudas na base. No século XI, era pendurado ao pescoço para se cavalgar mais
Muito antes do ano 1000, os grandes tinham se cercado de uma clientela
confortavelmente, mesmo para atacar, deixando aos braços maior liberdade de
formada por vassalos e combatentes profissionais, encarregados de protegê-los e
movimento para o manejo da lança. O escudo, bem como o estandarte preso
ajudá-los no exercício do poder público que eles encarnavam. As profundas mu-
na haste da lança, cobre-se de figuras emblemáticas e de brasões, ao mesmo
danças sociais do século XI ampliam o papel dos cavaleiros na nova sociedade,
tempo sinais de reconhecimento indispensáveis para atenuar o anonimato das
dita "feudal", que se estabelece e da qual a castelania constitui a moldura essen-
couraças e meios de afirmar sua categoria ou seu pertencimento a uma casa
cial. A autoridade pública, sobretudo na França, sem dúvida não desaparece to-
prestigiosa da qual portam "as armas" (armoiries). 3 Do equipamento do cava-
talmente, mas transfere-se aos príncipes, no século X, depois aos potentados lo-
cais, os castelões, senhores que fazem valer sua lei pela mão armada de seus mi-
3. Armoirie. conjunto de emblemas representados no escudo de armas; heráldica. lites, vassalos providos de terras ou servidores armados mantidos no castelo.
(N.T.)

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Na sociedade laica daquele tempo, doravante tudo opõe, na castelania, os quista da Inglaterra e da Sicília pelos normandos, Reconquista na Espanha, Cru-
que ex~rcem os poderes político, econômico e judiciário, então concentrados zadas etc.). Pode-se, portanto, falar da cavalaria como um fenômeno europeu,
nas mãos dos senhores, e os que se sujeitam ou toleram taxas, impostos e exa- mesmo se não se encontram traços específicos da cavalaria francesa por toda par-
ções senhoriais, ou seja, os camponeses. Os milites, auxiliares armados dos no- te. É por isso que no Império germânico, onde o poder central manteve-se por
vos poderosos, ao mesmo tempo que escapam às exações, separam-se também mais tempo, a cavalaria continua claramente distinta da nobreza, mais estreita-
da massa anônima dos trabalhadores da terra, de onde a maioria deles saiu. Ro- mente subordinada ao poder real. Lá, contrariamente ao reino de França, cava-
deando a aristocracia a que servem de armas na mão, os cavaleiros tendem a dis- laria e servidão não são incompatíveis ainda no século XIII. Os ministeriais, ca-
solver-se nela pela combinação de costumes e mentalidades comuns, assim valeiros servos, poderosos mas não livres, exercem em nome dos príncipes e do
como pela elevação de sua condição socioeconômica, acelerada por alianças ma- imperador um poder administrativo e militar considerável. Trata-se de uma ver-
trimoniais vantajosas. Sem se confundir ainda com a nobreza, que permanece dadeira aristocracia de função, que permanece em mãos dos soberanos alemães
questão de sangue, de nascimento, de linhagem, a cavalaria ganha em dignida- e permite-lhes, em certa medida, opor-se à influência da Igreja e controlá-la.
de e logo compõe uma classe hereditária, que constitui, por sua vez, uma aris- Na França, em compensação, Igreja e cavalaria relacionaram-se desde
tocracia, na qual se entra por adubamento,4 rito cavaleiresco por excelência, que cedo, em razão do enfraquecimento do poder real nos séculos X e XI. A Igre-
se reserva cada vez mais apenas aos filhos de cavaleiro: só são armados cavaÍei- ja tentou controlar a ordem pública /impregnar a cavalaria com seus ideais e
ros os filhos de pai cavaleiro e de mãe nobre. Por essas disposições, a nobreza ritos, sem consegui-lo totalmente.
controla a entrada na cavalaria e reserva o acesso a ela a seus próprios membros,
numa época em que a dignidade cavaleiresca acrescenta distinção àquele que a IGREJA E CAVALARIA
recebe. Cavalaria e nobreza acabam por se fundir ou por se confundir. No fim
do século XIII, a ·retomada do poder pelos príncipes e sobretudo pelos reis acen- O ideal de não-violência praticado por Jesus e pelo cristianismo primiti-
tua ainda mais esse fenômeno, sem contudo levar a uma identificação de nobre- vo não sobreviveu, pelo menos na Igreja oficial, à chegada ao poder dos im-
za e cavalaria: as cartas de nobilitação concedem uma qualidade hereditária, a peradores cristãos. Desde o século V, Santo Agostinho justifica o recurso à
nobreza, "aptidão para se tornar cavaleiro"; o adubamento, cerimônia honorífi- guerra empreendida por autoridades legítimas para proteger a "pátria" (logo
ca, faustosa e cara, torna-se mais rara a partir da segunda metade de século XIII, assimilada à Cristandade e à Igreja) ou para recuperar um bem injustamente
particularmente no meio da pequena nobreza. Aparecem, então, termos especí- espoliado. Essa defesa da comunidade compete aos imperadores no Império
ficos designando os filhos de nobres que não foram e nem serão feitos cavalei- Romano decadente, depois aos reis e aos príncipes no mundo "bárbaro" que
ros: esquire, pajem, donzel ou Edelknecht. A cavalaria, nesse momento, represen- o sucede no Ocidente. A proibição de derramar sangue persiste para os ecle-
ta um ornamento honorífico que se acrescenta à nobreza e que herda conota- siásticos e, sobretudo, os monges, que em vários campos aparecem como her-
ções ideológicas adquiridas ao longo dos tempos. deiros e continuadores dos primeiros cristãos de quem perpetuam certos va-
Esse aspecto honorífico da cavalaria difunde-se fora da França, sua terra de lores, particularmente os da não-violência. A sociedade cristã, desde então,
origem, graças à fama e ao prestígio adquiridos pelos cavaleiros do reino de cinde-se em dois grupos de homens, cujos ideais não são mais os mesmos. Os
França nos diversos campos de batalha da Europa e do Oriente Próximo (con- monges e os clérigos, milites Dei, servem a Deus no mosteiro por meio da ora-
ção, ou no mundo por meio dos sacramentos; os leigos, milites saeculi, vivem
no "século", mantêm os primeiros ou protegem-nos. A essa divisão em dois
4. Este termo técnico (adoubement) não está dicionarizado em português, mas o verbo estados, laico e eclesiástico, superpõe-se, a partir do século X, uma divisão
adubar nas acepções de "equipar'', "preparar", "temperar", decorre destes mesmos senti-
funcional representando as três ordens que subsistirão até o fim da Idade Mé-
dos do francês adouber (significativamente surgido em 1080 na Chanson de Roland'J, do
qual derivou por volta de 1150 aquele substantivo para indicar a cerimônia de entrega dia e mesmo até a revolução de 1789: expressa-se pela célebre fórmula de
das armas e equipamento que fazia de alguém um cavaleiro. (HFJ) Adalberon de Laon, no começo do século XI, segundo a qual a casa de Deus,

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que se crê una, está na verdade dividida em três, uns rezam, outros combatem, para a alma; ao contrário, exalta os que, por Deus, deixam a família para liber-
outros trabalham. tar o sepulcro do Senhor. Os que viessem a morrer em tal expedição de pere-
Existe portanto, realmente, um ordo militum,. uma ordem de guerreiros. grinação guerreira alcançavam infalivelmente as palmas do martírio. Os cava-
Aos olhos da Igreja, sua importância cresce na proporção que dela necessita. leiros cruzados, como os mártires outrora e os monges recentemente, podem
Depois da era carolíngia, estabeleceu-se no Ocidente uma nova sociedade, de- portanto ornar-se com o termo milites Chrísti. Mas a Cruzada não é a cavala-
nominada feudal, caracterizada pelo declínio do poder central, sobretudo na ria! Os cavaleiros não são todos cruzados e quando dela participam, é por uma
França, e pelo desenvolvimento dos principados, depois das castelanias {sécu- espécie de penitência, para remir os pecados de ... sua cavalaria!
lo X-XI). Doravante, a ordem pública está nas mãos dos castelões, assistidos A Igreja conseguiu institucionalizar a Cruzada, mas não totalmente a ca-
por seus guerreiros. São eles que comandam, julgam e recebem as taxas. Eles valaria. A criação das ordens dos monges-guerreiros, Templários ou Hospita-
que fazem reinar a ordem ou a desordem. lários, testemunha essa derrota. Contudo, ela tentou por outras vias, em espe-
A Igreja, para defender seus membros e bens e para tentar refrear a vio- cial a liturgia do adubamento. Para proteger-se, desde o século X os estabele-
lência desses guerreiros (milites), começa por brandir as armas espirituais de cimentos eclesiásticos recrutaram guerreiros (milites ecclesiae) ou confiaram-se
que dispõe: a privação dos sacramentos coletiva (interdito) ou individual {ex- à proteção de senhores laicos, nomeadªos como defensores ou advogados (de-
comunhão). Do século X ao XII, com as instituições de paz, ela tenta induzir fensores, advocatz). Foi por ocasião des~as investiduras de tipo vassálico, que a
os guerreiros a prestar juramento de não atacar, roubar ou extorquir os que Igreja organizou rituais reunindo fórmulas de bênção das armas e estandartes,
não podem se defender: eclesiásticos, mulheres nobres não acompanhadas, outrora reservados a reis e príncipes, por isso impregnados da antiga ideologia
camponeses e camponesas, pobres e desprotegidos em geral. É a "paz de real de proteção das igrejas e dos fracos. O ordo de Cambrai (século XI) é o
Deus", de origem meridional {Le Puy, 975; Charroux, 989; Narbonne, 990 que melhor representa esses rituais. Estas fórmulas ainda estão em grande par-
etc.); pouco depois·, a "trégua de Deus" tenta subtrair à violência não somen- te ausentes dos testemunhos que possuímos para o século XII de rituais de
te os seres vivos, mas também as datas: festas solenes, dias santos, descanso se- adubamento de cavaleiros "comuns". Em compensação, no século XIII e mais
manal, depois estendido, em lembrança da paixão de Cristo, ao período da ainda no XIV, elas invadem os rituais de adubamento e contribuem para in-
quinta-feira à noite à segunda de manhã. Pode-se comparar essa limitação vo- troduzir no conjunto da cavalaria o antigo ideal régio de proteção da Igreja,
luntária imposta aos guerreiros a uma verdadeira ascese, porém insuficiente da viúva, do órfão e dos fracos em geral.
para assegurar a ordem. Testemunham-no a multiplicação de concílios e as- Assim, a ideologia cavaleiresca agrega-se tardiamente à cavalaria. Além
sembléias de paz. O objetivo dessas instituições de paz não é colocar a guerra disso, trata-se aqui apenas da faceta religiosa desta ideologia. Existe uma ou-
fora da lei~ sendo ela privada, mas reservar seu uso a um período limitado e a tra, aristocrática e laica, profana, que se mistura àquela para conferir à cavala-
uma categoria determinada de indivíduos, que praticam entre eles esse espor- ria a ética que lhe é própria.
te perigoso: os guerreiros profissionais. Trata-se de promulgar regras para eles,
um código deontológico impregnado de valores cristãos. Ü ADUBAMENTO DO CAVALEIRO
A Igreja logo enfatiza o escândalo que constitui a guerra no interior da
Cristandade. ''.Aquele que mata um cristão derrama o sangue de Cristo" {Nar- As fontes da história medieval, na maior parte de origem eclesiástica, va-
bonne, 1054). Revezando-se com os mosteiros da Ordem Cluniacense, opa- lorizam excessivamente os aspectos religiosos dos fatos que relatam. É o caso,
pado esforça-se para empenhar os cavaleiros no combate contra os muçulma- especificamente, do adubamento dos cavaleiros, que de bom grado é descrito
nos, na Espanha (Reconquista) ou na Terra Santa (Cruzadas). O sermão de Ur- em rituais litúrgicos tardios como uma cerimônia puramente religiosa, por
bano II em Clermont {1095) situa-se na linha direta das instituições de paz, e meio da qual a Igreja, onipresente, admitia um postulante no seio da cavala-
a primeira cruzada pode ser considerada como sua conseqüência lógica. O papa ria cristã, verdadeira "ordem" impregnada de seus valores, instituição inteira-
condena os guerreiros cristãos que se matam por algumas moedas, com risco mente dedicada à causa da Igreja. Essa visão das coisas corresponde muito

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pouco à realidade. Não faltam, com efeito, textos históricos ou literários des- tui uma das quatro circunstâncias de assistência financeira aos vassalos, além
crevend_o o adubamento como uma cerimônia secular, laica, aristocrática, na do resgate, da partida para a Cruzada e do casamento da filha mais velha.
qual a Igreja desempenha papel menor, até acessório: nessa cerimônia, trata-
se antes de tudo de admitir, no seio da corporação aristocrática dos guerreiros TORNEIOS E EXERCÍCIOS DE CAVALARIA
de elite, o jovem "aprendiz" que provou sua capacidade para unir-se aos com-
panheiros de armas. Neste sentido, o adubamento reveste-se do duplo aspec- O cavaleiro aprendiz, antes de ser adubado, serve "pelas armas", quase
to de um rito de iniciação e de um rito de passagem. Ele se realiza geralmen- sempre como escudeiro, a um senhor de seu parentesco, de preferência um tio
te no fim da adolescência, no limiar da idade adulta, e herda provavelmente materno, de posição superior à sua. Polindo-lhe as armas, esfregando-lhe os
certos traços que antigamente assinalavam a entrega das armas aos jovens cavalos, assistindo-o nos combates, servindo-o à mesa e na caça, ele familiari-
guerreiros das tribos germânicas. É também um rito social, já que a cavalaria, za-se com o essencial da vida cavaleiresca. Pode assim treinar para combate
como todas as corporações, mas bem anteriormente a elas, tende a se fechar e nos exercícios de quintaine, em que se procura atingir com a lança um mane-
a reservar o acesso a seu interior apenas aos filhos de seus membros, consti- quim ou um escudo, e de behourds, justas de treinamento mais próximas do
tuindo assim uma classe, e mesmo uma casta. Essa evolução acentua-se no combate real. Quanto aos cavaleiros, aperfeiçoam sua técnica em torneios,
século XIII e a cavalaria tende então, como já foi dito, a confundir-se com a que surgem a partir de meados do século XI e se multiplicam no século se-
nobreza, de que constitui a expressão guerreira por excelência, justificando guinte, apesar das repetidas proibições da Igreja (Clermont, 1130). Até o fim
seus privilégios: nos campos de batalha, a nobreza derrama o tributo do san- do século XII, esses torneios não se diferenciam das guerras verdadeiras, de
gue, que a dispensa de qualquer outra cobrança. que são réplica codificada. Como na guerra feudal, dois campos se opõem, em
O adubamento é, de início, uma simples entrega de armas, de caráter lai- combates coletivos feitos de ataques compactos e de emboscadas destinadas a
co e utilitário, rrias logo se carrega de traços honoríficos, éticos e religiosos, isolar do grupo alguns indivíduos, se possível bem nascidos ou de prestígio, a
que traduzem a dupla influência exercida sobre a cavalaria: a da aristocracia fim de capturá-los para obter resgate ou desmontá-los para se apossar de seu
laica e a da Igreja. Alguns ritos permanecem puramente seculares (a entrega cavalo. O objetivo, nos torneios como na guerra, consiste mais em acumular
das esporas, por exemplo), mas outros atraem rapidamente o interesse da Igre- o saque e ampliar a glória do que em matar o adversário, mesmo que tais aci-
ja. Assim, a entrega das armas características da cavalaria (a lança com o estan- dentes não sejam raros, tão completa é a semelhança entre torneios e comba-
darte, símbolo da "casa" a que se serve, o escudo adornado com o brasão, a es- tes guerreiros. É também a oportunidade para os cavaleiros pobres de atrair a
pada) dá lugar a bênçãos sobre as quais ressaltamos acima a origem régia e as atenção de algum patrono rico e entrar para sua "equipe", a seu serviço. O
colorações ideológicas, destinadas a confiar à cavalaria uma missão a serviço prestígio da façanha cavaleiresca também pode ganhar os favores de uma rica
da Igreja. O banho que precede a cerimônia, de origem utilitária e até mesmo viúva e, graças ao casamento, assegurar a promoção social do herói. Pelo me-
profana, assume simbolismo cristão envolvendo o tema da pureza. No fim do nos este é o sonho dos cavaleiros pobres.
século XII, aparece a vigília das armas, ascese iniciática e meditação religiosa Utilitários, mas prestigiosos desde a origem, os torneios tornam-se mais
do postulante. Todavia, apesar das tentativas de impregnação eclesiástica, a ca- faustosos e menos perigosos com o decorrer do tempo, com o surgimento das ar-
valaria não se sujeita. Ela é considerada, conforme escreve Chrétien de Troyes, maduras e das armas "para diversão" (sem ponta de ferro) que, sem anular total-
"a mais alta ordem", que deve existir "sem vilania". Seu código de valores, in- mente os riscos, distanciam, contudo, os torneios da verdadeira guerra. A proeza
cutido pela Igreja, não é dela originário. torna-se mais individual, mais teatral, e os grandes torneios "flamejantes" dos sé-
Acompanhada de festejos, pompas e liberalidades ostentatórias, o adu- culos XIV e X:V tomam rumos suntuários: a nobreza procura neles se afirmar,
bamento apresenta também um aspecto suntuário que seduz e lisonjeia a aris- tranqüilizar e distrair ante a crescente ameaça econômica e social da burguesia.
tocracia. Ele ocasiona despesas consideráveis e não é surpreendente verificar Destinados a aumentar a coesão dos esquadrões de cavaleiros por meio
que, desde o século XII, o adubamento do filho mais velho do senhor consti- de exercícios em conjunto, da camaradagem guerreira e dos prazeres compar-

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tilhados, os torneios contribuíram incontestavelmente para criar a mentalida-


de caval~iresca e elaborar uma ética própria à cavalaria: culto da coragem e do to e desdenhando o ciúme. Pelo que já se disse, deve-se ver aí uma elaboração
heroísmo, respeito ao código deontológico que poupa, por interesse ou por ideológica da pequena nobreza? É possível. Mas pode-se também sustentar que
ideal, o homem desarmado ou caído por terra; respeito à palavra dada; zelo os príncipes e senhores usaram os modelos cortesãos em proveito próprio, para
pela reputação, ampliada pela bravura de uns e pela generosidade de outros. atrair os cavaleiros. Em troca, está claro que o ideal cortesão se opõe radicalmen-
te à moral tradicional da Igreja: ele canta o amor sensual, o apelo aos favores da
Ü MITO DA CAVALARIA dama casada, a procura do luxo e da moda, o brilho dos tecidos, das riquezas e
das cores, a bravura guerreira desinteressada, o porte imponente, a altivez, mes-
Ao longo da Idade Média, e desde seu surgimento, as literaturas em lín- mo a arrogância aristocráticas. O fato de essas colorações cortesãs não terem ces-
gua vulgar celebram a cavalaria e transformam-na em mitologia. A interpreta- sado de impregnar as obras literárias, diz muito da influência laica e mundana
ção sociológica das obras literárias, frutífera e plena de promessas, revela-se que se exerce sobre a mentalidade da cavalaria e penetra sua ideologia.
contudo delicada, às vezes sujeita a intermináveis controvérsias. As origens célticas e míticas da "matéria da Bretanhà' contribuem ainda
Em compensação, não há dúvida de que as canções de gesta, por exem- mais para aumentar essa influência. Os romances arturianos exalam um pertur-
plo, que nascem na França no início do século XII e cuja popularidade vai até bador perfume de maravilhoso pagão! que a posterior cristianização de alguns
o século XIV, apossaram-se para sempre da personagem ideal do bravo cava- de seus temas não dissipa totalmente. Eles idealizam um novo tipo de herói, o
leiro, heróico até ao exagero como Rolando, valente e sábio como Olivier, ou cavaleiro errante em busca de aventuras, furça sobrenatural que, como o amor,
infatigável defensor do rei e da fé como Guilherme. Através da diversidade dos o impele a ultrapassar, a dilatar ao máximo os limites do inacessível. Lancelote
modelos sociais que preconizam, é sempre a cavalaria que elas exaltam. A mo- representa o modelo dessa cavalaria mundana. Nele reúnem-se as virtudes guer-
narquia triunfa graças às virtudes cavaleirescas, a valentia guerreira a serviço reiras dos heróis épicos e os valores corteses dos romances antigos. Esse ideal ca-
da fidelidade vassálica. A Cristandade ameaçada só rechaça os infiéis graças à valeiresco, totalmente profano, de moral ambígua, marca profundamente as
bravura dos cavaleiros do Ocidente. No fim do século XII, no reinado de Fi- mentalidades dos escritores da Idade Média, de Chrétien de Troyes a Froissan.
lipe Augusto, lê-se em algumas epopéias, romances, fábulas ou pequenos con- Evidentemente, a Igreja opõe-se-lhe e condena-o. Mas é tal a aceitação
tos, uma vigorosa apologia da cavalaria aristocrática que toma ares de violen- desses romances junto ao público, aristocrático ou não, que seria impossível re-
tos requisitórios antiplebeus. Devemos ver aí obras de propaganda em favor frear semelhante torrente; melhor tentar revertê-la. Assiste-se, então, à cristiani-
dos Plantagenetas, campeões dos méritos cavaleirescos e rivais políticos dos zação da maior parte dos temas arturianos. É assim que o Graal, profano no iní-
reis da França, que de bom grado se apóiam na burguesia? Provavelmente; po- cio, ganha cores religiosas, e que sua demanda se reveste de sentido eucarístico.
rém, mais ainda, a expressão de um mal-estar geral da nobreza, inquieta pela Galaaz, piedoso, místico e puro, encarna a cavalaria "celestial", cuja imagem a
ascensão econômica e social de uma burguesia que ela despreza e cuja ameaça Igreja tenta impor à cavalaria "terrena" de Alexandre, Lancelote e Percival.
progressiva pressente. Ela encontra refúgio na ideologia, erigindo barreiras ju- Ao mesmo tempo, começa a idealização da Cruzada e o ciclo épico de Go-
rídicas que a protegem, ou desvanecendo-se no sonho de uma sociedade ideal dofredo de Bulhão populariza seu herói, o cavaleiro cruzado. Em meados do
e mítica, onde ocuparia o lugar que lhe é devido: o primeiro. século XIII, o tema dos "Novos Bravos" faculta a elaboração de um espécie de
Os romances de aventuras traduzem essa tendência. Tomam, inicialmen- história santa da cavalaria, que, através da Antigüidade e de seus modelos (Hei-
te, a forma dos romances antigos, de que Enéias, Heitor ou Alexandre represen- tor, Alexandre, César), liga os heróis da cavalaria cristã (Artur, Carlos Magno e
tam os heróis. Repõem a Antigüidade em moda e introduzem nas mentalidades Godofredo de Bulhão) aos da cavalaria bíblica Qosué, Davi e Judas Macabeu).
elementos da moral laica, sobretudo um ideal novo, que também se encontra Trata-se de uma tentativa de recuperação ideológica. Ao longo da sua
nos trovadores provençais: a cortesia, que exalta as boas maneiras, o serviço à se- história, a cavalaria não deixou de venerar valores que a Igreja oficial conde-
nhora, o amor dito "cortesão", naturalmente adúltero, desprezando o casamen- nava. Esta podia, sem dúvida, aprovar a fidelidade vassálica ou monárquica,
as virtudes do companheirismo, a exaltação da coragem moral e física dos

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.' Cavalaria
Diciondrio Temdtico do Ocidente Medieval

- - - · A sociedade cavaleiresca [1988]. Tradução brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
guerreiros cristãos colocando a espada a serviço da pátria e da Cristandade.
_ _ _. Guilherme Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo [1984]. Tradução brasileira. São Paulo:
Mas a essas virtudes sempre se misturaram aspectos mais aristocráticos, mais
Graal, 1987.
claramente profanos, como a busca exacerbada da façanha guerreira, a preo-
FLORI. Jean. l'fdéologie du glaive, préhistoire de la chevalerie. Genebra, 1983.
cupação com a glória e o nome, o sentido excessivo de honra e linhagem fa-
_ _ _ . L'Essor de la chevalerie (XI'-XllI' siecles). Genebra, 1986.
cultando a faide, a vingança, os costumes mundanos da cortesia, sua exaltação
_ _ _ . La Chevalerie. Paris, 1998.
do amor como valor supremo, seu desprezo pelo casamento etc. A própria li-
beralidade era ambígua. Aliás, ela é antes uma virtude aristocrática que ca- _ _ _ . Chevaliei> et chevalerie au Moyen Âge. Paris, 1998.

valeiresca: a nobreza proporciona jantares, oferece torneios e festas suntuosas, _ _ _ . Croisade et chevalerie. Bruxelas, 1998.

cede cavalos e armas, ouro e prata, tecidos e vestimentas preciosas. Contraria- GAUTIER, Léon. La Chevalerie. Paris, 1884 (ainda indispensável).

mente à burguesia "cúpidà', que acumula, a nobreza dilapida, resplandece. KEEN, Maurice. Chivalry. Londres, I 984.
Ela redistribui as riquezas, mas os cavaleiros são na verdade os primeiros, mes- PARISSE, Michel. Noblesse et chevalerie em Lorraine médiévale. Nancy, 1982.
mo os únicos beneficiários das generosidades ostentatórias. Porque generosi- RUIZ DOMENEC. Rose Enrique. La caba/leria, o la imagen cortesana dei mundo. Gênova, 1984.
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dade não é caridade, e dádiva não é esmola. STANESCO, Michel. fettx d'mance du chevalier méàiéval, aspects ludiques de la fanction guerriere dans la li-
Todos esses valores profanos, aristocráticos e mundanos misturam-se ao térature du Moyen Âge jlamboyant. Leyde, 1988.
ideal de luta pela fé cristã ou de proteção das igrejas, das viúvas e dos órfãos, que
a Igreja tentava há muito tempo imputar à cavalaria como sua missão particu-
lar, transferida dos reis. Sem recusá-la, do século XI ao XIV a cavalaria fabricou
uma ideologia muito mais complexa, multiforme, cambiante e fascinante.

]EAN FLORI
Tradução de Lênia Márcia Monge/li

REMISSÕES

Feudalismo - Guerra e _Cruzada - Jerusalém e as Cruzadas - Nobreza -


Senhorio

Orientação bibliográfica

BUMKE, Joachim. The Concept ofKnighthood in the MiddleAges (1964]. Tradução inglesa. Nova York,
1982.
CARDINI, Franco. Alie radiei dei/a cava/leria medievale. Florença, 1982.

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DUBY, Georges. As três ordens ou o imagindrio do feudalismo [1978]. Tradução portuguesa. Lisboa: Estam-
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