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PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

HOSPITAL MUNICIPAL RONALDO GAZOLLA


TESE DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO

GABRIELY RAMOS MENDES

O REGISTRO PSICOLÓGICO EM PRONTUÁRIO NO CONTEXTO HOSPITALAR:


UMA REVISÃO INTEGRATIVA

RIO DE JANEIRO
2023
RESUMO

INTRODUÇÃO. Com a recente Institucionalização da Atuação dos Psicólogos na


Rede de saúde, e em consequência no ambiente hospitalar, a instrumentalização da
profissão a partir dos aperfeiçoamentos teóricos e práticos seguem como um desafio
para uma atuação mais efetiva, nos aspectos intra e inter colaborativos. O objetivo
do atual estudo é apresentar um panorama geral da utilização prontuário psicológico
enquanto ferramenta de auxílio dentro do ambiente hospitalar.
METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Para o
levantamento científico foram consultados os seguintes bancos de dados: Biblioteca
virtual em Saúde (BVS) e Google acadêmico, por meio da seguinte pergunta de
pesquisa: “O que a literatura especializada diz sobre o prontuário psicológico no
ambiente hospitalar”. Ao todo foram selecionados 5 artigos principais, abrangendo
os anos de 2002 a 2023. RESULTADO: Os artigos indicam a importânca da
utilização do prontuário enquanto documento legitimo de auxílio na inserção da rede
institucional hospitalar e delimitação da prática nesse ambiente. Mas apontam
também uma falta de padronização quanto a coleta e seleção de informações a
serem compartilhadas neste documento.
CONCLUSÃO:

Palavras - Chave: Prontuário Psicológico, Psicologia Hospitalar, Psicologia da


Saúde.

INTRODUÇÃO

A inserção do Psicólogo nos serviços públicos de Saúde, como os hospitais gerais,


teve início na década de 50, ou seja, um período cronologicamente anterior à
regulamentação da profissão no País. Contudo, foram nas décadas subsequentes,
que houve a implantação institucionalizada dos serviços de Psicologia na saúde,
como na área da Atenção hospitalar (AZEVÊDO, CREPALDI, 2016). A exemplo, em
1976, o Ministério da Saúde deu início a elaboração programática das Residências
Multiprofissionais , por meio da Lei nº 11.129 de 2005, no qual a Psicologia estava
incluída, seguindo desde então ,por demais atualizações quanto a sua inserção nos
espaços da saúde, sendo um dos marcos nesse processo, o estabelecimento da
Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH), que iniciou publicações em
periódicos para auxiliar na clarificação da atuação e promover a integração dos
psicólogos em reuniões científicas (Romano, 1999 apud AZEVÊDO, Adriano;
CREPALDI, Maria,2016).
Atualmente, apesar do Conselho Federal de Psicologia, destacar através da
Resolução nº 02/2001 (CRP, 2001), a relevância da avaliação e acompanhamento
psicológico aos pacientes hospitalizados , bem como a seus familiares, por meio de
teorias e técnicas adequadas, é persistente o relato dos profissionais quanto as
dificuldades relacionados às práticas de atuação próprias do ambiente, como, por
exemplo, a ausência de um modelo padronizado de registro no prontuário do
paciente e dúvidas quanto a quais conteúdos são imprescindíveis no
compartilhamento de informações, haja visto os diversos campos de saber
presentes nas equipes de saúde.
1
O Prontuário do Paciente, no que tange a informações, organização e forma de
documentação, atravessou diversas mudanças ao longo dos anos desde sua
instrumentalização. Atualmente no contexto hospitalar, os documentos seguem a
tendência a serem redigidos coletivamente e de forma multidisciplinar, o qual pode
ser utilizado para os procedimentos efetuados desde o primeiro contato com a
instituição, até possíveis retornos a rede de saúde (Albuquerque, E. A. Y.,
Albuquerque, G. A., Souza, Santos, Rêgo, 2017; Neto et al., 2018 apud SCHÜTZ;
OLIVEIRA, 2020).
Além da importância apontada por Toledo e tal. (2021) e Schütz e Oliveira (2020),
quanto a função do Prontuário eletrônico do Paciente (PEP) como ferramenta
auxiliadora na prática da corresponsabilidade do cuidado, por meio do trânsito de
informações biomédicas e psicossociais para desenvolvimento dos planos de
tratamento dentro das equipes , os autores Pereira e Wagner (2023), e Schütz e
Oliveira (2020) também apontam para a importância do documento enquanto base
legal para ações dos profissionais de saúde, como subsídios jurídicos, tendo em
vista a declaração dos procedimentos efetuados ao longo permanência do paciente,
sendo igualmente importante instrumento de defesa dos direitos do usuário , caso
haja prejuízos ou reivindicações frente à instituição de saúde, ou quanto aos

“Inicialmente definido como Prontuário Médico e preenchido exclusivamente por esta classe
profissional,posteriormente foi chamado também de Prontuário Multiprofissional, Interprofissional, do
Paciente, Registro do Paciente, entre outros termos.” (PEREIRA, WAGNER, 2023)
profissionais. Assim como, serve a pesquisas clínicas ou levantamento de dados
para estudos epidemiológicos e a avaliação da qualidade do cuidado prestado.
(SCHÜTZ; OLIVEIRA, 2020).

Ademais, é fundamental indicar que o processo de implementação do Prontuário


Eletrônico do Paciente (PEP) como forma de registro padronizado e digital foi
iniciado no Brasil em 2002 (SIBIS,2012), em convênio com o Conselho Federal de
Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS),
passando por mudanças em seus parâmetros de utilização no decorrer do seu uso,
já que anteriormente possuía caráter exclusivo e interno das instituições, e evoluiu
para o conceito de Registro Eletrônico de Saúde (Res) (SIBI,2012). Dessa forma,
atualizando-se conforme os conceitos de ampliação da comunicação entre as redes
de saúde. Atualmente, segue os parâmetros da Resolução CFM 1821 de 2007, e é
composto por uma estrutura física e lógica (SCHÜTZ, OLIVEIRA,2021). A primeira é
estabelecida por tópicos referente à instituição, como os relacionados à internação e
alta do paciente. Enquanto a estruturação lógica refere-se às informações do
paciente, e contém dados socioeconômicos e administrativos, além dos dados
referentes a saúde física que também estão incluídas nesta categoria, tais quais:
anamnese, exame físico, hipóteses diagnósticas; relatórios e evoluções de
enfermagem, relatório do Serviço Social, da Psicologia, Nutrição e demais
especialidades (GONÇALVES et al., 2013 apud SCHÜTZ; OLIVEIRA, 2020).

Apesar das mudanças salientadas quanto a estrutura dos registros em prontuários,


ainda pode ser percebido cisões no registro informacional do paciente, com a
prevalência do modelo biomédico em detrimento ao aspecto multiprofissional do
compartilhamento das informações do planejamento integral do cuidado, como
relatado por Moerschberger e tal.(2017) a partir de suas experiências no programa
de residência multiprofissional em uma instituição hospitalar, onde havia uma divisão
em duas abas na plataforma: “médica” e “enfermagem” ,e neste último eram
registrados as demais especialidades da saúde, prejudicando, assim, a identificação
dos profissionais, o que poderia vir a comprometer o compartilhamento responsável
e ético das informações oferecidos pelas equipes, haja visto o risco de
incompreensões dos dados fornecidos sobre o paciente.
Além disso, Turra e tal. (2012), Pereira e Wagner (2023) ,Moerschberger e tal.
(2017) apontam a defasagem existente relativa à padronização da coleta de
informações do paciente ou familiares nesses documentos, além das dificuldades
encontrados para o compartilhamento claro e objetivo dessas informações,
considerando as orientações do código de ética estabelecido pelo Conselho Federal
de Psicologia, de forma que seja possível preservar o caráter subjetivo e humano
dos pacientes nestes documentos.

No que tange à atuação dos psicólogos, em vista do encontrado na literatura, o


documento é peça fundamental para práticas essenciais da profissão, como: o
delineamento da avaliação psicológica; planejamento e delimitação de estratégias
interventivas, e avalição do serviço prestado. Além de facilitar a clarificação das
atividades desenvolvidas pela categoria para a equipe multidisciplinar e servir como
fonte de dados para possíveis pesquisas que facilitem a percepção e atuação dentro
dos ambientes de saúde.

Considerando o exposto acima, pode-se observar a existência de obstáculos em um


cenário considerado de recente inserção, a qual passa ainda por atualizações de
atuação, seja no âmbito das diretrizes da profissão ou das ferramentas utilizadas.
Faz-se necessário, então, a discussão e observação dos problemas emergentes de
interferência da prática dos Psicólogos. A partir disso, o presente estudo pretende
reunir a produção científica especializada no assunto para observar o panorama
atual, de modo que seja possível identificar os pontos de convergências e
dissonâncias, que possibilitem repensar as possibilidades de atuação com maior
efetividade dentro das instituições hospitalares.

Metodologia

A princípio, os autores Mendes e Galvão (2008) indicam que o modelo de revisão


integrativa está inserido no contexto das Práticas Baseadas em evidências (PBE), e
consiste em uma metodologia que busca proporcionar a síntese de um
conhecimento, e a partir disso proporcionar incorporação e aplicabilidade dos
resultados encontrados em estudos significativos. Esta revisão busca ser um
instrumento facilitador na atualização dos profissionais da Psicologia e dos demais
atuantes da saúde, de modo que possam utilizar o levantamento de forma eficaz.
A pesquisa foi realizada a partir da pergunta norteadora: “o que a revisão na
literatura diz sobre o prontuário psicológico no ambiente hospitalar?”. A busca foi
realizada nos seguintes bancos de dados: Biblioteca virtual em saúde (BVS) e
Google Acadêmico. Foram utilizados os seguintes descritores em português e
inglês: ("Prontuário Eletrônico") OR ("Prontuário Eletrônico do Paciente") OR
("Prontuário Médico") OR ("Prontuário") AND ("Psicologia Hospitalar") OR
("Psicologia") AND ("Hospital") OR ("Hospitalar").
Para a seleção dos artigos, foram realizadas buscas considerando títulos e resumos,
sendo estabelecidos critérios de inclusão, como: publicados em português; sem
limite de quanto ao ano de publicação, haja visto a escassa produção sobre o tema,
abrangendo artigos datados entre 2002 e 2023, com disponibilidade de texto na
íntegra online. Foram excluídos artigos duplicados em ambas as plataformas; e os
que analisam o tema de maneira geral ou valorizam outros ambientes da saúde,
gerando um desfecho diferente do objetivo da presente revisão. Além disso, ao
longo da busca dos artigos complementares para o embasamento da teoria foram
utilizadas as plataformas: Scielo, e o Portal de Periódicos UFSC, além de sites
informacionais oficiais como os: Conselho Federal de Medicina e Sociedade
Brasileira de Informática em Saúde.
Para a sistematização das etapas do trabalho, vide o prisma e a tabulação foram
utilizadas os seguintes Softwares: google planilhas e Word.

Análise de Dados

Os artigos extraídos foram lidos e tabulados (Tabela 1) com informações como: Tipo
de publicação, Título da pesquisa, Autoria e Ano, Considerações e Resultados
referentes à pergunta norteadora quanto a utilização e funcionalidade do registro
Psicológico no contexto hospitalar.

Análise de dados

N. de relatos identificados N. de relatos excluídos (n= 4):


nos bancos de dados de Artigos cujos resultados
buscas (n =13 ) expressados não se adequam
à questão norteadora
N. de relatos duplicados (n =4 )

N. de relatos pré-
selecionados (n =9 )

N. de artigos selecionados
integralmente (n =5 )
Figura 1: Processo de seleção e análise dos estudos primários encontrados para a revisão
integrativa segundo a recomendação PRISMA

Análise Bibliométrica (?) Análise de Conteúdo

Tipo de Periódico
Procedê Titulo do Autoria e
publica (vol, n°, pág Considerações/ Temática
ncia artigo Ano
ção ano)

Contextualiza a utilização e funcionalidade dos


Bibliotec prontuários em contexto hospitalar, levantando a
Registro AZEVEDO,
a virtual Pesquis reflexão acerca da conduta ética e sigilosa do
psicológi Fabiane; Rev. SBPH.
em a documento. Vincula à Psicologia uma possível
co em THOMAS, 5(1;2):26-28,
saúde bibliogr estruturação que possibilite a visualização dos
prontuári Caroline. jun/Dez 2002.
Brasil áfica aspectos emocionais enquanto percepção
o. (2002)
(BVS) integralizada na recuperação do paciente, além da
função de comunicação interdisciplinar.

Apresenta um protocolo de atendimento


Psicológico, elaborado através da rotina hospitalar
Protocolo
dos psicólogos nas enfermarias dos centros
de
TURRA, V.; de cirúrgicos do Hospital Universitário de
Pesquis Atendime
ALMEIDA, Brasília (EC-HUB). Estruturado
a nto
F. F.; Psico, [S. metodologicamente em cinco etapas. Obteve-se
Google qualitati Psicológi
DOCA, F. N. l.].43(4): 500- como resultado a escolha de 6 eixos a serem
acadêmi va co em
P.; COSTA 509, out/dez avaliados, a partir das necessidades do espaço e
co/ BVS (estudo Saúde
JUNIOR, 2012 pacientes. Observou-se como resultado a
de caso Orientad
Áderson L. organização e homogeneização do serviço de
(?)) o para o
(2012) psicologia, pelas ações coordenadas do
Problem
levantamento de dados e acesso prático a
a.
informações úteis, favorecendo: o planejamento,
intervenções, comunicação e ação interdisciplinar.

Pesquis Reflexõe MOERSCH Rev. SBPH. É realizado considerações no que tange o


a s acerca BERGER, 20(2) :89-100, compartilhamento de informações do paciente no
qualitati da ética Mayara Dez 2017. prontuário único, consoante às diretrizes éticas e
va e da Schirmer; suas lacunas no ambiente hospitalar. Como
(estudo qualidad CRUZ, resultado da pesquisa e experiência prática,
e dos elegeram algumas categorias (com sub-
registros definições) como primordiais para o
psicológi compartilhamento de informações. De modo, a
de caso Fabiana
cos em favorecer o cuidado integrado e a condução do
(?)) ou Rosa da;
prontuári caso. A coleta de dados segue a seguinte
estudo LANGARO,
o estrutura: solicitante,demanda principal, aspectos
Google qualitati eletrônic Fabíola
avaliados, ferramentas utilizadas; conduta do
acadêmi vo? (2017)
o psicólogo. Utilizaram o modelo SOAP (Subjetivo,
co multiprofi Objetivo, Avaliação, Plano) para o registro das
ssional informações colhidas.

Continua

Análise Bibliométrica (?) Análise de Conteúdo

Tipo de Periódico
Procedê Titulo do Autoria e
publica (vol, n°, pág Considerações/ Temática
ncia artigo Ano
ção ano)

Prontuári
O artigo discorre sobre as transformações
o
Google SCHÜTZ, ocorridas na ferramenta de coleta, denominada
Revisã eletrônic Revista
acadêmi Daiana; prontuário. Dando ênfase no modelo eletrônico do
o o: Uma Universo Psi.
co OLIVEIRA, Paciente, com suas vantagens e desvantagens,
históric visão 1(2): 17-32,
Daiane destacando a ausência de estudos produzidos
a histórica Ago 2021.
(2021)) sobre a utilização do PEP por profissionais da
interdisci
psicologia.
plinar
Levanta reflexões a partir dos desafios de atuação
encontrados ao longo da experiência Acadêmica
Pontos de Residência Hospitalar do Hospital
comuns Universitário da Universidade Federal de Juiz de
e Fora (HU-UFJF) – Minas Gerais, tais quais:
estratégi barreiras éticas, interlocução com demais
as para a categorias profissionais e ausência de
PEREIRA
Relato escrita procedimentos padronizados para avaliação
DE SOUZA, HU Revista,
de do psicológica e registro. . A partir de encontros
L.; [S. l.]. 48:1-7,
experiê psicólogo teórico-práticos, definiram procedimentos de
WAGNER, Fev 2023.
ncia em atendimento :1) anamnese; 2) acompanhamentos
D.(2023)
prontuári psicológicos (evoluções); e uma estrutura de
o único: organização na escrita nos prontuários. Como
Google relato de resultados, observaram um melhor manejo do
acadêmi experiên tempo, enfoque nos aspectos de maior relevância
co cia ao contexto do paciente, melhora da comunicação
multiprofissional e planejamento mais eficaz de
estratégias no cuidado.

Tabela 1: Panorama descritivo dos dados coletados

A. Instrumentalização (Definição de critérios?)

A partir do apresentado, entende-se que a instrumentalização dos profissionais da


psicologia dentro do ambiente hospitalar, ou ambientes da saúde pública, é de
extrema importância, haja visto seu processo recente de institucionalização dentro
de tais espaços. Isto posto, é possível mencionar atualizações em determinadas
diretrizes de orientação para o registro laboral de documentos, tal como o código de
ética do Psicólogo, em específico a resolução 001/2009, a qual consiste, segundo
site oficial do CRP-PR, na obrigatoriedade de registro dos serviços prestados. No
art.6 há orientações quanto ao serviço multiprofissional, como a ressalva para o
registro de informações estritamente necessárias para o bom funcionamento do
trabalho. Além disso, segundo o Art.2 da referida resolução, o prontuário deve conter
as seguintes informações:
I. Identificação do usuário/instituição;
II. Avaliação de demanda e definição de objetivos do trabalho;
III. Registro da evolução do trabalho, de modo a permitir o conhecimento do
mesmo e seu acompanhamento, bem como os procedimentos técnico-
científicos adotados;
IV. Registro de Encaminhamento ou Encerramento;
V. Cópias de outros documentos produzidos pelo psicólogo para o
usuário/instituição do serviço de psicologia prestado deverão ser
arquivadas, além do registro da data de emissão, finalidade e destinatário;
VI. Documentos resultantes da aplicação de instrumentos de avaliação
psicológica deverão ser arquivados em pasta de acesso exclusivo do
psicólogo. (Redação dada pela Resolução CFP nº 5/2010).

(Conselho regional de Psicologia do Paraná, 2023).

E, ainda é salientado que se necessário pode-se reproduzir expressões utilizadas


pelo paciente através de aspas ou a expressão “Sic”, conforme a análise técnica do
psicólogo, para o compartilhamento de informações úteis no conhecimento da
equipe multiprofissional, possibilitando um melhor delineamento do tratamento ou de
possíveis articulações em rede. (Conselho Regional de Psicologia do Paraná, 2023).
Além disso, houve a elaboração da resolução 06/2019, que atualiza e divide as
categorias de relatório psicológico, especificando aspectos do relatório
multiprofissional.
Dos artigos levantados, os autores TURRA e tal (2012), MOERSCHBERGER e tal
(2017), PEREIRA e WAGNER (2023), citam a resolução 001/2009 e 06/2019, como
base de seus estudos e discussões para o delineamento de uma estrutura funcional
e ética na documentação dos prontuários. Exceto o último artigo citado, o qual
menciona apenas a primeira resolução, haja visto sua data de publicação.
Todavia, apesar dos recentes aperfeiçoamentos em algumas diretrizes de
elaboração dos registros profissionais, MOERSCHBERGER e tal. (2017); PEREIRA
DE SOUZA e WAGNER; TURRA e tal. (2012), percebem lacunas de ordem técnica a
partir de suas respectivas atuações dentro das instituições hospitalares. A ausência
de critérios melhores estabelecidos para as práticas assistenciais, pelos órgãos
reguladores da profissão ,nos setores das enfermarias médicas, mas principalmente
nas alas de clínicas cirúrgicas são citados pelos autores mencionando, no qual, é
possível observar diferenças quanto a critérios de atuação, por exemplo no(s):
princípio de busca ativa2, itens a serem avaliados no sofrimento psíquico em

2
contexto hospitalar, classificação de risco dos pacientes3; e por conseguinte
diferenças na prática dos registro protocolares dos pacientes.
A partir dos levantamentos executados pelos psicólogos, e levando em consideração
suas diversas referências teóricas ,e particularidades encontradas em cada
instituição hospitalar ,esses autores perceberam a necessidade de estabelecerem
estruturas protocolares para uma atuação coesa dentro das equipes de saúde, entre
elas : itens fundamentais para o modelo de entrevista psicológica, e a avaliação
crítica da equipe de psicologia quanto a quais informações são necessárias para o
compartilhamento multiprofissional e ético. De modo, que é possível observar
similaridades dentro de algumas categorias estabelecidas nas entrevistas
psicológicas, tais quais: “Análise da dimensão psicológica”, “aspectos avaliados”,
“suporte social/ enfrentamento/compreensão do quadro”. Em comum tais estruturas
apresentam: exame do estado mental, conforme as diretrizes do manual diagnóstico
e estatístico de transtornos mentais; aspectos emocionais; vínculos socioafetivos;
realidade psicossocial; estratégias de enfrentamento; postura e compreensão frente
à doença e hospitalização. No que se refere a divergências de itens na avaliação de
aspectos psicológicos/ dimensão psicológica, foi possível observar os seguintes
itens: Falta de informações do paciente quanto aos procedimentos e/ou diagnóstico,
estrutura egóica, traços de personalidade, crenças relacionadas à espiritualidade,
aspectos comportamentais anteriores e durante internação. Além disso, divergiu o
estabelecimento de uma categoria: A dor física, como critério de avaliação de
sofrimento, efetuado por meio de um questionário adequado e padronizado por uma
escala.

Os autores AZEVEDO e THOMAS (2002), MOERSCHBERGER e tal. (2017);


PEREIRA DE SOUZA e WAGNER (2023); TURRA e tal. (2012) indicam que dentro
desse cenário permeado pela ausência de modelos de orientação mais bem
estabelecidos para atuação e registro, se faz necessária primordialmente a
avaliação crítica do contexto pela equipe de psicologia para a seleção de

Estratégia para a redução da possibilidade de não captação de um caso de agravo ou doença de


notificação compulsória. Importante mecanismo na orientação dos profissionais da saúde quanto ao
preenchimento da ficha de investigação epidemiológica, da coleta de exames específicos para
diagnósticos, e das medidas preventivas frente ao caso. (Gov.br, 2020)
3

“Possui entre seus objetivos a identificação dos casos mais graves, permitindo um atendimento mais
rápido e seguro de acordo com o potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento.”
(Brasil,2018)
informações. A exemplo, o levantamento do perfil dos pacientes da unidade, as
demandas apresentadas pelas equipes multiprofissionais, e igualmente as
demandas principais dos pacientes. Turra e tal (2012) elaboraram um modelo
protocolar de Atendimento Psicológico, o: “Protocolo de Atendimento Psicológico em
Saúde Orientado para o Problema”, efetivado a partir dos seguintes levantamentos
informacionais: “articulação institucional, contato com as equipes e escuta dos
usuários internados e acompanhantes.” (p.502), de modo que se prosseguiu para a
semi-estruturação da entrevista para atendimento inicial e evolução.

Calegari et al. (2009), apresentaram a partir das experiências nas diferentes


unidades de internação de um Hospital Geral, a necessidade de elaboração de
instrumento padronizado para classificação e registro da categoria: complexidade
emocional. A partir da estruturação dos itens, o mesmo foi inserido no prontuário do
paciente, tanto o escrito quanto o digitalizado, e a partir disso apontaram maior
integração do cuidado e clarificação da avaliação e critérios da equipe, sendo o meio
digitalizado de registro indicado como importante ferramenta para o êxito da
implantação na unidade.

B. Aspectos subjetivos e componentes éticos

E, ainda, é válido citar, conforme discorrem os autores Pereira e Wagner (2023) que
para além do caráter informacional de coleta de dados, o prontuário possui
primordialmente o caráter comunicativo, seja dentro da equipe de saúde, seja entre
equipe e paciente. Nesse sentido, é uma ferramenta fundamental para o processo
de socialização e preservação das subjetividades produzidas dentro desses
espaços. (Apud Silva, D'Agostino & Petramale, 2015.)
Ainda sob esse aspecto, RODRIGUES et al (2017) ao relatarem suas experiências
dentro das equipes de Saúde da Família , que igualmente registram informações em
prontuários coletivos, levantam o questionamento sobre a possibilidade e
necessidade de um registro individual dos casos, haja visto os conflitos e
preocupações em detalhar o acompanhamento do usuário e seus familiares, frente
aos cuidados éticos de compartilhamento de informações, de modo que não
prejudique a longitudinalidade do cuidado. Consoante a isso, a teoria dos Filósofos
Deleuze e Guattari que aludem à subjetividade a morfologia Rizomática, enquanto
multiplicidade, sem um marco de início ou fim, dado que é produzida através de
práticas e papéis sociais, dentro das diferentes instituições, a exemplo a familiar.
(SOAERES; LOBO; 2009).O sofrimento que se apresenta à equipe de psicologia
dentro do ambiente hospitalar não será desvencilhada de fatores externos, o que
pode fragilizar a percepção de algumas instruções do sigilo ético dentro da lógica do
cuidado, tal como citam RODRIGUES et al (2017) em situações em que surgem
questões de violência doméstica, violência sexual ,questões jurídicas, que
necessitam perpassar pelo diálogo entre equipe em questionar e ponderar quais
informações são importantes de serem compartilhadas com a equipe
multiprofissional de modo que permita a segurança do paciente e a prática do
cuidado integral e sua longitudinalidade.

1. Formação profissional e capacitação tecnológica

Além disso, Pereira e Wagner (2023) e Moerschberger e tal. (2017) levantam


reflexões quanto a formação na graduação de psicologia, que advinda de uma
prática clínica e individual, pode ainda oferecer poucas disciplinas que orientem
sobre a atuação em contexto da saúde e hospitalar, desde o conhecimento das
diretrizes éticas à práticas possíveis, o que por conseguinte pode afetar na
comunicação e compartilhamento dentro de uma equipe multidisciplinar. Dentre as
dificuldades encontradas, Pereira e Wagner (2023) apontam:

Outro ponto importante a ser destacado se refere à dificuldade apresentada


pelos residentes frente à tarefa de entrevistar, avaliar e documentar o que
foi realizado na esfera hospitalar. Tal situação pode ser resultado de uma
formação acadêmica ainda muito inclinada ao modelo clínico tradicional a
despeito do observado crescimento da atuação dos psicólogos em outras
áreas de atuação.

Segundo Tonetto e Gomes (2007 apud Moerschberger etal. 2017) a clareza em


relação à própria função por parte do profissional e a habilidade de comunicação,
são fatores essenciais para a atuação coletiva e compartilhamento do trabalho
executado e possível planejamento de ações inter e multiprofissional.

Ainda sob esse viés, Rodriguez-Marín (2003 apud MOERSCHBERGER e tal. (2017)
sintetizou seis tarefas básicas do psicólogo hospitalar, entre elas estariam: “função
de interconsulta: atuando como consultor, auxiliando outros profissionais a lidarem
com o paciente; função de enlace: intervindo com outros profissionais por meio do
delineamento e execução de programas”. Sob esses aspectos, e consoante ao
indicado pelos autores deste levantamento bibliográfico, apesar do prontuário
eletrônico não substituir a comunicação e orientação direta com os demais
profissionais, o prontuário eletrônico é um fundamental facilitador no que tange a
comunicação e compartilhamento.

É válido ainda, relembrar que os avanços da tecnologia, em particular da internet,


impactaram na forma de registrar informações no ambiente hospitalar, do escrito
para o modelo eletrônico, possibilitando o compartilhamento de informações de
forma inter e multi-instituição, dentro de uma região, ou ainda, entre um grupo de
hospitais. (Sibis,2012). Além de ser ferramenta importante para gestão na
organização hospitalar e do Estado, coleta de informações sobre a saúde, e apoio
ao ensino dos profissionais. (Schütz e Oliveira, 2020). Em perspectiva das
mudanças de registro, se faz necessário mencionar as considerações que Macedo
(2005, p.298, apud Mota 2006) realiza sobre o conceito de competência
informacional:

capacidade em interagir em redes de computadores; selecionar


equipamentos, softwares e programas de treinamento; definir políticas de
segurança e manutenção da rede, dos equipamentos e dos conteúdos;
trabalhar com equipes multidisciplinares.

Contudo, Schütz e Oliveira (2020) em sua pesquisa indicaram a carência de


estudos e produções científicas com psicólogos, que discorreram sobre o uso do
prontuário eletrônico do paciente pela categoria, indicando a necessidade de
produções sobre esse tema, haja visto os conflitos éticos de uma categoria
profissional que administra informações sigilosas. A exemplo de importância das
tecnologias informacionais para atuação de psicólogos no contexto hospitalar, Turra
e tal. (2012) na descrições das etapas de produção do protocolo de atendimento
orientado ao problema, demonstraram a utilidade desses avanços para a confecção
de uma base de dados , para o armazenamento das informações obtidas nos
atendimentos dividido em dois momentos: na utilização de um modelo de arquivo
digital (Microsoft Word) para anotações específicas da Psicologia e para
posteriormente o compartilhamento no prontuário eletrônico a partir da estrutura
estabelecida , e (2) uma planilha digital para registrar o qualitativo e quantitativo
desses dados. Os autores ainda apontaram a importância dessa sistematização
para a rotina da Psicologia, observação do fluxo das ações desenvolvidas e revisão
crítica do trabalho prestado. Desse modo, além da do prontuário transdisciplinar,
com ênfase nas capacitações eletrônicas, constituir uma ferramenta de troca e
produção de vínculos, promove também a padronização e organização das
informações, a otimização do trabalho, e a possibilidade de produção de novas
pesquisas e materiais para órgãos como as comissões de Prontuário, Óbito e Ética.
(BOMBARDA, JOAQUIM, 2022). Desse modo, torna-se um importante investimento
no processo da ampliação dos recursos na Saúde

Conclusão

Os artigos indicam a importância do modelo protocolar dentro da atuação Hospitalar,


e principalmente no modelo eletrônico. Mas relatam a necessidade de uma
estruturação no modo de registrar as informações em prontuário em cada instituição
de saúde, já que a padronização segundo percebido, e conforme às adequações
elaboradas pelas equipes de psicologia em casa ambiente de atuação, foi
fundamental para a observação da melhora na comunicação entre profissionais;
interlocução entre os sabers no delineamento dos casos; e na análise crítica dos
resultados obtidos pelos itens selecionados para as avaliações e intervençoes
psicológicas. Ressaltam, também que a estruturação não se aproxima de modelo de
rigidez, no qual adaptações a partir dos pacientes e modo de funcionamento dos
ambientes hospitalateres, são importantes elementos a serem considerados na
aplicações de avaliações e formas de intervir no cuidado. É preciso que haja uma
comunição intra-equipe e inter-equipe para tomadas de decisões que envolvam a
preservação e a melhor de atuação na assistencialidade do cuidado.

REFERÊNCIAS
Busca ativa para os pacientes internados e atendidos no pronto atendimento e
ambulatório da unidade hospitalar, para a detecção das doenças e agravos de
notificação compulsória. Portal Gov br, 11 mar. 2020. Disponível em :
https://www.gov.br/pt-br/servicos-estaduais/busca-ativa-para-os-pacientes-
internados-e-atendidos-no-pronto-atendimento-e-ambulatorio-da-unidade-hospitalar-
para-a-deteccao-das-doencas-e-agravos-de-notificacao-compulsoria-1.
Acesso em: 01/11/2023.

Prontuários eletrônicos devem seguir regras do CFM. Conselho Federal de


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