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Resumo:
Este artigo aborda a necessidade de racionalização da atividade do Ministério Público como fiscal
do ordenamento jurídico na área do Direito de Família, sobretudo após a vigência da Lei nº
13.105/2015 do Novo Código de Processo Civil (NCPC). Assim, procura-se analisar os casos cuja
intervenção ministerial como fiscal do ordenamento jurídico é obrigatória, bem como situações
cuja intervenção seria despicienda à luz do NCPC. Enfocamos a importância da racionalização da
atividade ministerial como forma de melhor resguardar os interesses sociais, coletivos e indivi-
duais indisponíveis, sobretudo de incapazes no âmbito do Direito de Família. Demonstramos as
consequências da não racionalização, principalmente os prejuízos à celeridade, economia e eficiência
do processo, em detrimento às premissas idealizadas pela Constituição Federal e pelo NCPC.
Palavras-chave:
Atuação, ministerial, efetividade, fiscal, celeridade.
Embora o Ministério Público no brasil tenha adquirido um novo relevo institucional com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, ocasião em que passou a ter autonomia e indepen-
dência para atuar nos processos de sua competência, seu surgimento no brasil data do período colonial,
corolário do Direito lusitano que, por sua vez, foi inspirado no Código Napoleônico.
Por outro lado, após a promulgação do Novo Código de Processo Civil (NCPC), e buscando
retomar o viés constitucional que lhe deu novo contexto como instituição, denota-se a importância da
efetiva racionalização nos casos de intervenção ministerial, no intuito de otimizar a atuação do Parquet,
definindo uma atuação estratégica coligada à celeridade e efetividade processual, já muito desgastadas.
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Assim, este trabalho objetiva analisar a função do Ministério Público como fiscal do ordena-
mento no âmbito do Direito de Família, especialmente após o novo repertório normativo introduzido
pelo NCPC, bem como sobre a necessidade de racionalização da atividade ministerial, a fim de retomar
a consecução dos objetivos que etimologicamente justificaram a criação e a remodelação do Minis-
tério Público como fiscal do ordenamento jurídico no Direito de Família.
Após mais de 40 anos de vigência do Código de Processo Civil (CPC) de 1973, anos esses
marcados por inúmeras mudanças pontuais, formou-se, no âmbito do Senado Federal, mais precisa-
mente no ano de 2009, uma comissão de notáveis juristas para elaboração de um anteprojeto de lei
visando a instituição de um novo diploma processual civil. Após sua conclusão, o referido documento
foi encaminhado e, em seguida, aprovado pela Câmara dos Deputados no ano de 2014, tendo retor-
nado ao Senado para aprovação definitiva no final do mesmo ano.
Embora o NCPC tenha mantido as previsões constitucionais relativas ao CPC, o que não poderia
ser diferente, o mencionado código trouxe mudanças sutis que podem ser encontradas em seu artigo 178:
Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como
fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos
processos que envolvam:
i – interesse público ou social;
ii – interesse de incapaz;
iii – litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. (bRASiL, 2015)
De igual sorte, o novo diploma processual, mais precisamente no em seu artigo 721, define
que a intervenção do Ministério Público como fiscal do ordenamento jurídico na jurisdição voluntária
somente deverá ocorrer diante da ocorrência de uma das hipóteses do artigo 178 do NCPC, o que cria
a possibilidade de não intervenção em uma série de ações que antes demandavam sobremaneira
atuação, dedicação, tempo e esforço do Parquet.
Somado a isso, seguindo o movimento vanguardista intentando não apenas pelo NCPC, mas
pelo ordenamento jurídico como um todo, concernente às causas quanto ao estado da pessoa, ao
julgar a ação direta de inconstitucionalidade (ADi) nº 4.275, o Supremo Tribunal Federal simplificou e
reconheceu a possibilidade de retificação do registro civil de transgêneros extrajudicialmente, possi-
bilitando a alteração de prenome e gênero diretamente nos cartórios, tornando-se despicienda não
apenas a intervenção do Ministério Público, que outrora se fazia indispensável, mas a própria judicia-
lização da matéria, objetivando assegurar efetivamente o alcance de direitos de uma forma mais
célere, eficaz e menos burocrática.
Nesse espeque, no intuito de implementar a racionalização almejada pelo NCPC, pela doutrina
e pela jurisprudência, o próprio Conselho Nacional do Ministério Público, por meio da Recomendação
nº 34/2016, destacou a necessidade de racionalizar a intervenção do Ministério Público no Processo
Civil, “notadamente em função da utilidade e efetividade da referida intervenção em benefício dos
interesses sociais, coletivos e individuais indisponíveis” (bRASiL, 2016).
Desse modo, o CPC/2015 mantém, com alguns pequenos ajustes, a regra genérica da inter-
venção do Ministério Público, mas não especifica, a fundo, as hipóteses. bem andou o legis-
lador, pois esta matéria não é afeta ao objeto do novo Código. Ao mesmo tempo, essa opção
legislativa preserva a independência funcional da instituição, eis que cabe ao CNMP, ouvidos
todos os órgãos de classe (como aliás tem sido feito), disciplinar de forma minudente tais
situações. (PiNHO, 2020, p. 384)
No mesmo sentido, o referido códex reiterou a previsão que constava do diploma processual
anterior (art. 83, inciso i, do CPC/1973), ao destacar, em seu artigo 179 que, nos casos de intervenção
como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Público terá vista dos autos depois das partes.
Logo, evidencia-se que o NCPC objetivou adequar a forma de atuação ministerial como fiscal
do ordenamento jurídico, deixando de prever expressamente situações cuja intervenção, anterior-
mente, se fazia obrigatória, bem como ratificando o adequado momento processual para atuação
104 ministerial, exigindo do Parquet intervir não apenas nos casos necessários, mas especialmente no
momento adequado, sob pena de comprometimento da eficácia e da celeridade processual, bem
como dos verdadeiros valores axiológicos que justificam sua atuação.
Tais alterações permitem ao Ministério Público não apenas deixar de intervir em situações
que antes condicionavam sua atuação exclusivamente em virtude da matéria, possibilitando uma
atuação a depender do caso concreto, dos sujeitos e dos direitos efetivamente envolvidos, sobretudo
ao possibilitar uma atuação pautada nos direitos indisponíveis de incapazes e curatelados, cuja
proteção lhe foi conferida pela Constituição Federal.
De proêmio, não é demais esclarecer que o Ministério Público pode atuar tanto como parte,
que pode ser material e processual, quanto como fiscal do ordenamento jurídico. Como parte, geral-
mente, compete ao Ministério Público pleitear direito próprio, a exemplo da autoria material prevista
nos casos de ação penal, ou mesmo como parte processual, quando atua como substituto processual
pleiteando em nome próprio direito alheio (bRASiL, 2015, art. 18).
No presente trabalho, ainda que delimitada à atuação do Ministério Público no âmbito do Direito
de Família (bRASiL, 2015, art. 698), vislumbra-se analisar sua função de fiscal do ordenamento jurídico
à luz do que precipuamente foi concebido pela Constituição Federal, consoante destacado pelo art.
127 da Constituição Federal.
Nesse espeque, insta destacar que o NCPC expandiu a conceituação terminológica de custos
legis (fiscal da lei) conferida ao Parquet no artigo 83 do CPC de 1973, passando a abordá-la como custos
juris, ou seja, fiscal do ordenamento jurídico (bRASiL, 2015, art. 179).
Conforme mencionado alhures, a intervenção do Ministério Público como custos juris se encontra
delimitada às hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e, especificamente, aos processos
que envolvam interesse público ou social, interesse de incapaz e, por fim, litígios coletivos pela posse
de terra rural ou urbana.
Logo, não seria demasiada a concepção de que a intervenção do Parquet nos casos envolvendo
partes incapazes encontra guarida na presumida vulnerabilidade desses sujeitos, mormente o possível
desequilíbrio de forças existente em uma relação jurídico-processual, competindo ao Parquet evitar 105
que tais sujeitos sejam prejudicados pela atuação inadequada do causídico ou mesmo do Poder Judiciário.
Portanto, nas ações de família, revela-se plausível a intervenção do Ministério Público para
assegurar que os direitos dos incapazes e curatelados sejam legalmente e constitucionalmente
assegurados, nos termos do artigo 178 do NCPC, o que, por outro ângulo, revela-se despiciendo numa
relação entre partes maiores e capazes, especialmente se o litígio versar sobre direitos disponíveis.
Órgão agente, como autor, ou interveniente, como fiscal do ordenamento jurídico, o Ministério
Público brasileiro vem atuando intensamente nesses casos e se afirmando como uma insti-
tuição de garantia dos direitos fundamentais, que tutela os interesses sociais e individuais
indisponíveis de forma independente, até mesmo perante o Poder Público estatal. O neces-
sário equilíbrio entre as leis e a constituição e a vida dos homens e das instituições é a função
principal do Ministério Público brasileiro, que pretende fazer da palavra constitucional, da
poesia que emana da Constituição, o dia a dia das nossas instituições, transformando em prosa
cotidiana o respeito às instituições e aos direitos fundamentais. (ZANETi JúNiOR, 2018, p. 18-19)
Destarte, frente às mudanças implementadas pelo novo Código de Processo Civil, o que se
espera do Ministério Público, ainda que em sua atuação como fiscal do ordenamento jurídico, é uma
postura mais energética e efetiva, concentrando esforços em buscas do que lhe foi incumbido no
texto constitucional, auxiliar ativamente na instrução e no saneamento dos processos e, especifica-
mente nas ações de família, viabilizando o equilíbrio processual e a proteção de direitos no que diz
respeito aos interesses de incapazes e curatelados.
Todavia, não é possível abordar a relevância do Ministério Público na tutela dos direitos dos
incapazes e curatelados sem antes esclarecer quem são eles e quais as recentes alterações acerca do
tema.
Com as recentes modificações implementadas pelo NCPC, bem como com a promulgação
do Estatuto das Pessoas com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015), percebeu-se a
necessidade de adequação da incapacidade costumeiramente tratada no ordenamento jurídico
brasileiro.
Nesse espeque, uma das recentes alterações implementadas pelo NCPC foi a derrogação do
artigo 3° do Código Civil que trata especificamente dos absolutamente incapazes.
Se antes, o Código Civil previa que eram absolutamente incapazes de exercer os atos da vida
civil os menores de 16 anos, os que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos, bem como os que, mesmo por causa transitória, não
puderem exprimir sua vontade, agora, os absolutamente incapazes passaram a ser, tão somente, os
menores de 16 anos, conforme artigo 3° do Código Civil.
Por sua vez, o artigo 4° do Código Civil passou a tratar como relativamente incapazes a certos
atos ou à maneira de os exercer os maiores de 16 anos e menores de 18, os que por deficiência
106 mental, tenham o discernimento reduzido, os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo,
os ébrios habituais e os viciados em tóxico, aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade, bem como os pródigos.
Nesse ponto, ainda que se tenha reduzido expressamente as causas em que compete ao
Ministério Público intervir, o NCPC continuou prevendo a possibilidade de o órgão ajuizar ações de
interdição, especificamente diante da existência de doença mental grave, o que antes era possível, e
até mesmo esperado por parte da população, independentemente da gravidade da doença, o que
denota mais uma racionalização intentada pelo novo código.
inicialmente, insta frisar que o antigo CPC, assim como o Código Civil e demais ordenamentos
anteriores a Constituição Federal, tinham natureza individualista, de modo que muitas vezes se atribuía
ao Ministério Público manifestar em demandas de somenos ou com insignificante relevância social,
o que não mais se compatibiliza com os valores sociais e democráticos insculpidos na Constituição
Federal de 1988.
Não é demais frisar que a Constituição Federal de 1988 outorgou ao Ministério Público o status
guardião de valores e princípios asseguradores do Estado Democrático de Direito, conferindo-lhe o
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status de agente de transformação social.
Justamente nesse viés, conforme mencionado anteriormente acerca das inovações imple-
mentadas pelo NCPC, é que se definiu que compete ao Ministério Público atuar na defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis (bRASiL,
2015, art. 176).
Não obstante, é possível constatar que, mesmo diante das recentes alterações implementadas
pelo NCPC, o Ministério Público continua sendo demandando, costumeiramente, em questões de
somenos no âmbito do Direito de Família, como divórcios em que inexistem partes incapazes, sepa-
rações de corpos, partilhas de bens, ou mesmo sobre honorários advocatícios em ações diversas
correlatas, o que denota uma provocação equivocada, que vai de encontro às causas e ao interesse
público que justificam a atuação do órgão.
Todavia o que se observa no dia a dia forense é que basta ser uma ação que exija intervenção
do Ministerial para, antes mesmo do despacho citatório, ser aberta vista a instituição. Essa
praxe generalizada é equivocada, impede a celeridade processual com atos descabidos e
desnecessários, e ainda contraria a regra agora prevista no artigo 179, inciso i, que, a meu ver,
só comportaria exceção se houver na inicial o pedido de liminar, pois nesse caso, em razão
Ademais, o NCPC estipula o momento adequado para intervenção ministerial, prevendo que,
nos casos de intervenção como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Público terá vista dos autos
depois das partes, ou seja, a intervenção do Parquet antes da oitiva das partes, ainda que em uma
ação que demande sua intervenção (bRASiL, 2015, art. 178), revela uma atecnia que deve ser combatida
sob pena de comprometimento da celeridade, da ordem e da eficácia processual.
Não basta ao Ministério Público deixar de intervir em causas que não demandam sua atuação,
mas também combater sua equivocada provocação, o que muitas vezes ocorre de maneira desorde-
nada pelo considerável volume de processos que acometem a adequada tramitação dos autos no
âmbito do Poder Judiciário. é preciso que esse costume seja banido, demandando atuação efetiva
não somente dos membros, mas dos órgãos superiores, sob pena de tornar-se o Parquet um mero
assistente parecerista do Poder Judiciário.
Nesse espeque, urge frisar que a simples efetivação da racionalização da atividade ministerial
já consome intensa energia do promotor de justiça, especialmente diante das reiteradas remessas
de processos em que se faz necessária uma completa análise no sentido de identificar a inexistência
de matérias, sujeitos e situações que justifiquem sua intervenção, de modo que tal energia poderia
ser despendida adequadamente no mérito de um parecer em que presentes o interesse público ou
social ou, especialmente nas ações de família, naquelas demandas em que presentes o interesse de
incapaz.
108 Somado a isso, é de salutar importância que não se confunda a necessidade de intimação do
Ministério Público de todos os atos processuais com a incumbência ao órgão do dever de impulsão
do processo, o que muitas vezes ocorre no âmbito do Direito de Família. Ademais, pelo princípio da
impulsão do processo, entende-se que, uma vez que ele é iniciado, deve ser impulsionado pelo
Magistrado, independentemente da vontade das partes, não competindo ao Parquet ditar cada ato
do processo, ainda que lhe compita intervir naquele processo.
Desse modo, nas ações de família, ainda que presentes interesses de partes incapazes e
curateladas, compete ao Ministério Público, tão somente, intervir como fiscal do ordenamento jurídico
e não deixar que os interesses e direitos dessas partes vulneráveis sejam prejudicados, não lhe
competindo a função impulsionar o processo, que o ordenamento jurídico reservou ao Estado-juiz.
é preciso que a atuação ministerial esteja em consonância com suas funções institucionais,
cuja previsão encontra-se no próprio texto constitucional, pois uma atuação automatizada na elabo-
ração de pareceres e mesmo a realização de audiências, sem a definição de prioridades e direções
previamente definidas, coloca em xeque não apenas o ordenamento jurídico cuja fiscalização lhe
incumbe, mas o direito do cidadão e a própria atuação do Ministério Público.
Desta forma, ainda que haja expressa previsão legal acerca da necessidade de intervenção
ministerial em determinados casos, não é demais destacar que tais previsões devem ser analisadas
em consonância com o NCPC e com a própria Constituição Federal, possibilitando ao Ministério Público
deixar de intervir casuisticamente, quando ausentes interesses indisponíveis ou mesmo diante da
inexistência de partes incapazes e curateladas, por exemplo.
Não basta o cumprimento de metas quantitativas impostas pelos órgãos de controle, impul-
sionar um processo inadequadamente e/ou inoportunamente fere não apenas a boa prática processual,
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mas o dever legal e moral de fiscal do ordenamento jurídico, em nítido prejuízo do jurisdicionado.
Nada obstante, é comum que as Promotorias de Justiça com atuação nas varas de Família
sejam demandadas em situações inadequadas e inoportunas, como diante de casos envolvendo unica-
mente interesses disponíveis entre partes maiores e capazes, bem como em momentos processuais
inadequados, como antes mesmo da oitiva das partes.
Na ocasião, embora tenham a mesma área de atuação, com a mesma atribuição e com uma
distribuição equânime de processos pelas respectivas varas de atuação, verifica-se que uma promo-
toria é muito mais acionada do que outra.
Como exemplo desta constatação, é possível verificar a demanda dos últimos 12 meses da
56ª Promotoria de Justiça da Comarca de Goiânia, cuja atuação se faz presente perante a 1ª vara de
Família de Goiânia/GO, tomando como data de referência o dia 5 de fevereiro de 2019, em que consta
a intervenção em 2.294 autos judiciais, conforme gráfico da página seguinte:
Ainda que brevemente abordados os casos de intervenção do Ministério Público como fiscal
do ordenamento jurídico, revela-se necessária a fixação de padrões e diretrizes desta atuação pelos
órgãos de controle, a fim de que sejam fixadas as prioridades da instituição e, especialmente, que
sejam mais bem atendidos os anseios dos incapazes e curatelados como um todo.
O presente estudo objetivou abordar as recentes alterações implementadas pelo novo Código
de Processo Civil, sobretudo aquelas que repercutiram na racionalização da atividade do Ministério
Público como fiscal do ordenamento jurídico no âmbito do Direito de Família.
Não bastasse, ainda que presentes os motivos que justificam a atuação do Ministério Público,
muitas vezes a intervenção é provocada em momento equivocado, como antes da oitiva das partes,
fazendo-se necessária a devolução dos autos para respectiva regularização da tramitação, o que
compromete a eficácia e a celeridade processual.
Na mesma linha intelectiva, o constante niilismo que habita os órgãos de controle, sejam nas
112 corregedorias ou nos órgãos de administração superiores, seja no Conselho Nacional de Justiça e no
CNMP, deve ser combatido. A cultura do quantitativo em detrimento do qualitativo não pode imperar
nas esferas do Judiciário e do Ministério Público.
Todavia, é comum o surgimento de metas impostas pelos órgãos de controle que visam a
movimentação de um número cada vez maior de processos, sem, contudo, fiscalizar o conteúdo e a
resolutividade de tais atos processuais, o que costumeiramente atenta contra a eficácia e a celeridade
do processo. Há, portanto, a necessidade de definição de parâmetros por parte dos órgãos de
controle, para redefinição da atuação ministerial em consonância com a Constituição Federal e com
o novo conjunto normativo introduzido pelo NCPC.
Ainda que superada a discussão acerca de quais matérias competem ao Ministério Público
intervir, é necessária uma operacionalização desta racionalização, a fim de que sejam efetivamente
implementadas, já que manifestar pela não intervenção demanda do Parquet, muitas vezes, mais
tempo do que se tivesse que, de fato, adentrar no mérito de determinado assunto. O que se repete
não apenas em intervenções pontuais, mas também em audiências, atos extrajudiciais e outros atos
jurídicos despiciendos.
Logo, ainda que haja a racionalização direta dos órgãos intervenientes perante as varas de
Família, é inegável que muita energia é despendida como filtro do que não se deve intervir, o que, de
igual modo, prejudica consideravelmente a atuação dos órgãos ministeriais intervenientes nessas
varas e, por conseguinte, compromete o direito indisponível de partes menores e de curatelados.
Assim, revela-se de extrema valia que os próprios Ministério Públicos e, em especial, os Conselhos
Nacionais de Justiça e do Ministério Público envidem esforços no sentido de melhor regulamentar a
intervenção no âmbito do Direito de Família.
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