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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ - CAMPUS

BELÉM
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR II
PROFº. RAYME TIAGO RODRIGUES COSTA
03 ABR. 2023
ANDRÉ FREIRE NASCIMENTO
RESUMO “A EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAPITAL”, ISTVÁN MÉSZÁROS
O deslocamento do processo de exclusão educacional não se dá mais principalmente
na questão do acesso à escola, mas sim dentro dela, por meio das instituições da
educação formal, que praticam e agravam o apartheid social, através da reprodução da
estrutura de valores que contribui para perpetuar uma concepção de mundo baseada
na sociedade mercantil, pois as classes dominantes impõem uma educação para o
trabalho alienante, com o objetivo de manter o homem dominado. Já a educação
libertadora teria como função transformar o mundo. Educar para além do capital
implica pensar uma sociedade para além do capital, condenando as mentalidades
fatalistas que se conformam com a ideia de que não existe alternativa à globalização
capitalista. Uma reforma significativa da educação só é possível, se mudar o quadro
social da sociedade, pois os processos educacionais e os processos sociais de
reprodução estão intimamente ligados, o autor critica os reformistas, pois segundo ele,
o capitalismo fará somente ajuste menores do sistema, apenas para corrigir um
detalhe defeituoso da ordem social imposta, para que possa assim se garantir o bem-
estar da estrutura fundamental da "lógica global" do sistema de produção já imposto.
No capitalismo não há lados opostos ou rivais, já que todos irão proteger o sistema
capitalista, seja no âmbito de produção ou educacional/cultural, portanto é impossível
reformular a educação partindo de um pressuposto capitalista, já que as soluções
criadas por pensadores utópicos defensores do sistema, apenas pensavam em
remediar os piores efeitos, sem mudar o sistema antagônico de maneira significativa, o
capital é irreformável devido a sua própria natureza como totalidade reguladora
sistêmica, se tornando incorrigível, mesmo que medidas corretivas sejam compatíveis
e benéficas elas apenas visam a sua sobrevivência continua por pura necessidade, o
capital deve sempre transparecer incontestável, conforme cita o autor: “Limitar uma
mudança educacional radical às margens corretivas interesseiras do capital significa
abandonar de uma só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma transformação
social qualitativa. ”, ou seja, é preciso romper com a lógica do capital para se criar uma
alternativa educacional significativamente diferente. Outra parte do problema é a
educação institucionalizada que serviu apenas para educar a população para gerar
futuros trabalhadores que além de trabalhar, foram ensinados a defender os valores
que legitimam o sistema dominante, tendo até que falsificar e esconder fatos
históricos para poder defender o sistema, Mészáros também se propõe a contra-
argumentar os argumentos de Locke, onde o mesmo creditava que o crescimento da
pobreza era devido ao “relaxamento da disciplina e a corrupção dos hábitos” e
também propunha que “o primeiro passo no sentido de fazer os pobres
trabalharem[...] deve ser a restrição da sua libertinagem mediante a aplicação estrita
das leis estipuladas contra ela ”, Locke também propunha que para solucionar o
problema de desvirtualização dos pobres e da pobreza em geral, os filhos dos
trabalhadores tinham que ser obrigados a frequentar escolas profissionalizantes a
partir de 4 a 13 anos em igrejas, o que os faria ter uma compreensão de religião, ou
seja, ficariam menos suscetíveis a corrupção dos hábitos. As medidas que Locke, como
outros pensadores propunham com relação a como lidar com as pessoas mais pobres
era diferente quando se tratavam da classe burguesa, como o autor diz, que no final
apenas se tratava das relações de poder que antigamente eram mais brutais e que
tiveram de ser abandonadas não devido ao racionalismo, mas porque a classe
burguesa as julgou como medidas nada lucrativas. Para que haja o domínio do capital,
é necessário que cada indivíduo seja “internalizado”, os indivíduos agiriam de acordo
com que as classes dominantes desejam, enquanto os indivíduos se comportassem de
tal maneira assegurando o sistema de produção do capital, o uso de brutalidade e
violência desenfreada permaneceriam em segundo plano, no entanto, nunca serão
abandonadas por completo, já que foram fundamentais para a implementação de
valores e desenvolvimento do capitalismo moderno, voltando à tona apenas em
momentos de crise. Essa “internalização” é fomentada pelas instituições formais
globalmente, e faz com que a sociedade enraíze o conformismo nas cabeças dos
indivíduos, apenas a mais consciente das ações coletivas seria capaz de romper com a
lógica do capital, o que segundo o autor seria um milagre monumental. O autor utiliza
uma frase de Gramsci e a considera modelo, segundo ele todo ser humano contribui,
de uma forma ou de outra, para a formação de uma concepção de mundo
predominante, além de que tal contribuição pode cair nas categorias contrastantes da
“manutenção” e da “mudança”. Pode não ser apenas uma ou outra, mas ambas,
simultaneamente. A dinâmica da história não é uma força externa misteriosa qualquer
e sim uma intervenção de uma enorme multiplicidade de seres humanos no processo
histórico real, na linha da “manutenção” e/ou “mudança”, no momento que houver
uma grande elevação na intensidade de confrontos hegemônicos e antagônicos – de
uma dada concepção do mundo que, por conseguinte, atrasará ou apressará a
chegada de uma mudança social significativa. A concepção de mundo de determinada
época não pode ser mudada, um processo coletivo inevitável, de proporções
elementares, não pode ser expropriado definitivamente, se não fosse por este fato,
evidenciado por Gramsci, o domínio da educação institucional formal poderia reinar
para sempre a favor do capital. Muito do processo continuo de aprendizado se
encontra fora das instituições educacionais formais, e estes processos não podem ser
manipulados e controlados de imediato pela estrutura educacional formal legalmente
salvaguardada e sancionada, e eles comportam tudo, desde o surgimento de nossas
respostas críticas em relação ao ambiente material, ao nosso encontro com a arte,
pelas experiências de trabalho, em conflitos e confrontos, e até disputas morais,
políticas e sociais. Somente uma pequena parte disso tudo está ligado diretamente à
educação formal, 1984 de George Orwell não seria possível, pois a maioria de nossas
experiências constitutivas permanece fora do âmbito do controle e da coerção
institucionais formais. Embora as escolas possas causar um grande estrago, pode-se
encontrar alimento intelectual, moral e artístico em outros lugares. Torna-se
necessário se criar uma “contrainternalização”, coerente e sustentada, e que defina
seus objetivos fundamentais, como a criação de uma alternativa abrangente
concretamente sustentável ao que já existe. O autor junto de um historiador e
pensador político filipino, Renato Constantino, montaram um volume chamado “A
identidade neocolonial e a contraconsciência”, visando dar ênfase à tarefa histórica de
produzir um sistema de educação alternativo e duradouro, completamente à
disposição do povo, muito além do âmbito educacional formal, a constituição de uma
contraconsciência descolonizada envolvia diretamente as massas populares no
empreendimento critico, não é contemplativa, é ativa e dinâmica e abrange a situação
objetiva, assim como a reação subjetiva das pessoas envolvidas, precisa-se adotar a
totalidade das práticas político-educacional-culturais, na mais ampla concepção do que
seja uma transformação emancipadora. Desse modo que uma contraconsciência,
poderia realizar sua grandiosa ação educativa contra a internalização dominante.

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