Aborto espontâneo em mulheres ocupacionalmente expostas aos

anestésicos inalatórios: revisão sistemática.

Lara Andrade Oliveira (aluna-autora), Mariana Gobbo Braz (orientadora), Reginal El Dib (colaboradora),
Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Curso de Ciências Biomédicas (IBB/UNESP-Botucatu),
laraaoliveira1803@gmail.com, Bolsa de Iniciação Científica CNPq-PIBIC (PIBIC/PIBIT 2016/2017), pedido
37028.
Palavras Chave: Anestésicos inalatórios, exposição ocupacional, aborto espontâneo.

Introdução mulheres, e o aborto foi definido como a perda do feto a

A exposição ocupacional aos anestésicos inalatórios tem
sido associada a diversas alterações, como indução de
danos no material genético, no sistema imunológico, além
de problemas reprodutivos. Existem vários trabalhos a
respeito de aborto espontâneo em mulheres expostas
ocupacionalmente aos anestésicos inalatórios, porém não
há, até o momento, uma revisão sistemática atualizada
sobre o tema que tenha sido realizada utilizando as diversas
bases de dados existentes.
Objetivos
Considerando a relevância do tema e a importância de se
avaliar todas as profissionais ocupacionalmente expostas
aos anestésicos, objetivou-se realizar revisão sistemática
sobre a possível associação entre exposição aos
anestésicos inalatórios e a ocorrência de abortos
espontâneos.
Material e Métodos
A estratégia de busca foi realizada nas seguintes bases de
dados: MEDLINE, Embase, LILACS, SciELO, Web of
Science, Scopus e CINAHL, além de busca manual,
incluindo palavras chave e seus sinônimos como aborto
espontâneo, anestésico inalatório e exposição ocupacional.
Todos os estudos observacionais, sem restrições de
a a
partir da 20 até a 28 semana de gestação.
Onze estudos (57,9%) não mostraram associação entre
exposição ocupacional aos anestésicos inalatórios e aborto
espontâneo, enquanto oito estudos (42,1%) demonstraram,
de forma significativa, essa associação.
Possíveis fatores de confusão, como idade materna
avançada, abortos prévios e tabagismo foram ajustados em
58% dos estudos, com alguns estudos (15,7%) mostrando
aumento nas taxas de aborto quando esses fatores estavam
1,2,3
presentes . Análises de subgrupo também foram
realizadas em alguns estudos considerando alguns fatores,
entre eles a exposição simultânea aos anestésicos
inalatórios e outros agentes. Profissionais expostas aos
anestésicos inalatórios, ao formaldeído e à radiação
ionizante apresentaram maior risco de aborto que àquelas
1
expostas a apenas dois agentes , o que indica que a co-
exposicão contribui para o aumento das taxas de aborto.
Outro fator destacado referiu-se à maior ou menor
exposição aos anestésicos inalatórios. Assistentes de
dentista expostas ao óxido nitroso por 1-8 horas semanais
ou > 8 horas semanais tiveram maior taxa de aborto que as
3
profissionais não expostas ; em outro estudo, para essa
mesma categoria de profissionais expostas ao mesmo
anestésico, observou-se maior taxa de aborto quando a
exposição era superior a 3 horas semanais em salas sem
sistema de exaustão de gases em comparação às
profissionais expostas por menor tempo .
4

idiomas, que reportaram o desfecho avaliado em

profissionais expostas aos anestésicos inalatórios e Conclusões
atuantes em centro cirúrgico humano e veterinário, além de
consultório odontológico, foram identificados e analisados Considerando que a literatura sobre o tema abordado é
conforme os critérios de inclusão e exclusão, com bastante heterogênea e apresenta algumas limitações
consequente extração dos dados. metodológicas, não se pode concluir que exista associação
entre exposição ocupacional aos anestésicos inalatórios e
Resultados e Discussão indução de aborto espontâneo. Entretanto, ressalta-se que
mais de 40% dos estudos demonstraram, de forma
A busca identificou 3.270 estudos dos quais 19 artigos do
significativa, essa associação, especialmente para
tipo caso-controle foram incluídos na revisão. A grande
maioria dos estudos foi realizada na América do Norte e profissionais que trabalham por maior tempo em ambiente
Europa, sendo apenas dois da Ásia, compreendendo as sem sistema de exaustão adequado, ou seja, com altas
décadas de 1960 a 2000. A população estudada concentrações de resíduos de gases anestésicos, o que
compreendeu médicas e veterinárias anestesiologistas, pode favorecer a ocorrência de aborto espontâneo nessa
médicas residentes, cirurgiãs, enfermeiras, técnicas, população.
dentistas e assistentes, com idade variando de 18 a 48 1
anos. Os anestésicos mais citados foram halotano e óxido Saurel-Cubizolles, M. J.; Hays, M. e Estryn-Behar, M. Int. Arch. Occup. Environ.
Health. 1994, 66, 235.
nitroso, porém apenas cinco estudos (26,3%) especificaram 2Axelsson, G. e Rylander G. Int. J. Epidemiol. 1982, 11, 250.
os tipos dos anestésicos. A unidade de análise para 3Cohen, E. N.; Brown, B. W.; Wu, M. L. et al. J. Am. Dent. Assoc. 1980, 101, 21.
avaliação da frequência de aborto incluiu tanto o número 4Rowland, A. S.; Baird, D. D.; Shore, D. L.; et al. Am. J. Epidemiol. 1995, 141,
total de gravidezes (maioria dos estudos) quanto o de 531.

XXVIII Congresso de Iniciação Científica