Você está na página 1de 62

Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Negócios
Curso de Relações Internacionais
Trabalho de Conclusão de Curso

A GEOPOLÍTICA DA ÁGUA DOCE EM CENÁRIOS DE


ESCASSEZ: O CASO DA ÁGUA VIRTUAL EM
ISRAEL

Autora: Clarisse Maria de Carvalho Cipriano


Orientador: Prof. Dr. Fábio Albergaria de Queiroz

Brasília - DF
2017
CLARISSE MARIA DE CARVALHO CIPRIANO

A GEOPOLÍTICA DA ÁGUA DOCE EM CENÁRIOS DE ESCASSEZ: O CASO DA


ÁGUA VIRTUAL EM ISRAEL

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Relações Internacionais da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial para obtenção do Título
de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Albergaria de


Queiroz

Brasília

2017
Aos meus pais, irmãos, namorado, primos
e amigos que, com muito amor, carinho e
paciência, não mediram esforços para
que eu chegasse até esta etapa da minha
vida e estiveram sempre presentes
apoiando nos meus momentos de
angústia e de alegria.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Valmir e Cida, e aos meus irmãos,
Felipe e Analu, que estiveram sempre presentes me apoiando, confortando,
incentivando, dando amor, carinho e também fazendo críticas importantes em todo
esse processo de aprendizado. Muito obrigado por estarem junto comigo nessa
caminhada, por aguentarem meus estresses e por toda a dedicação, sem vocês eu
jamais teria conseguido.
Muito obrigado também ao meu namorado, Andrzej Jaxa-Kwiatkowski, que
mesmo longe compartilhou comigo todos esses momentos, sendo sempre muito
presente e parceiro. Obrigada por me aguentar, me incentivar, me dar forças e paz
na correria da vida. Obrigada por me mostrar que o amor ignora distâncias e é capaz
de transformar o mundo em um lugar pequeno.
Agradeço aos meus avós, tios e primos, por sua capacidade de acreditar em
mim, me estimular, me fazer sorrir sempre que possível, alegrar os meus dias e o
meu coração. Em especial à Janete, Iara e Najara. Muito obrigada pelo carinho e
pelo esforço em me entender, me ajudar e estar sempre a postos.
Agradeço também aos meus amigos e colegas da universidade e da vida, que
sempre torceram por mim e dividiram experiências importantes. Em especial à
Natalia Behr, Sissa Santos, Letícia Almeida, Marlem R., Victor Milhomem, Henrique
T., Erick A., Rafaela Campello, Tatiana Vaz e aos Lucas, que me acompanharam
desde o início e dividiram momentos de ansiedade, medo, angústia e alegria. Valeu
a pena toda a distância, sofrimentos, renúncias e espera. Obrigado por estarem
junto comigo em toda essa jornada para colher os frutos do nosso empenho.
Agradeço a todos os meus professores pela paciência, pelos ensinamentos
para a vida, pelas críticas que só acrescentaram no meu desenvolvimento e por me
proporcionarem o conhecimento de forma tão dedicada e preciosa. Em especial ao
meu orientador, Fábio Albergaria, pelo suporte, correções, incentivos, brincadeiras e
por sua excentricidade que tanto admiro.
Por fim agradeço a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha
formação e ao mundo por sua capacidade de mudar as coisas e as pessoas, por
nunca fazê-las da mesma forma, me proporcionando experiências, aprendizados e
contatos fundamentais para o meu crescimento como pessoa e como profissional,
além de permitir que eu dê continuidade a isso.
“The water wars that the popular media
would have believe to be inevitable, will
not be fought on the battlefield between
opposing armies, but on the trading floors
of the world grain markets between Virtual
Water warriors in the form of commodity
traders.”

Anthony R. Turton
RESUMO

Referência: CIPRIANO, Clarisse Maria. A geopolítica da água em cenários de


escassez: a água virtual em Israel. 2017. 62 folhas. Relações Internacionais –
Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2017.

A presente monografia objetiva analisar a geopolítica da água doce em cenários de


escassez tendo como objeto de estudo o caso da água virtual em Israel. Para tanto,
inicialmente será feita uma descrição dos fatos relacionados à distribuição da água
doce nas Relações Internacionais, buscando-se compreender a situação hídrica
mundial, para então expor o papel da água nas Relações Internacionais de Israel.
Continuamente, a partir dos dados apresentados, será feita a análise dos usos
práticos da água virtual em Israel e um possível cenário futuro para essa questão.

Palavras-chaves: Água doce. Escassez. Água virtual. Israel. Futuro.


ABSTRACT

This monograph aims to analyze geopolitics of fresh water in scenarios of scarcity,


having as object of study the case of virtual water in Israel. For this, there's first a
description of the facts related to the distribution of fresh water in International
Relations, trying to understand the water situation in the world, and then exposing the
role of water in the International Relations of Israel. Based on the data presented, an
analysis of the practical uses of virtual water in Israel and a possible future scenario
for this issue will be carried out.

Key-words: Fresh water. Scarcity. Virtual water. Israel. Future.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Distribuição da água no mundo ................................................................ 16

Figura 2 – A água doce no mundo ............................................................................ 17

Figura 3 – Consumo de água doce no mundo por setor ........................................... 19

Figura 4 – Utilização doméstica da água .................................................................. 21

Figura 5 – Escassez hídrica no mundo ..................................................................... 24

Figura 6 – Previsões de crescimento da população mundial em bilhões de habitantes


(2015-2100) ............................................................................................................... 25

Figura 7 – Quantidade de água virtual embutida em alguns produtos ...................... 26

Figura 8 – Consumo de água doce no mundo por setor ........................................... 29

Figura 9 – Vantagens e desvantagens da água virtual ............................................. 30

Figura 10 – Evolução do território Israel-Palestina (1917-2014) ............................... 33

Figura 11 – Distribuição geográfica de Israel em 2017 ............................................. 35

Figura 12 – Mapa de 2015 dos aquíferos na região de Israel ................................... 36

Figura 13 – Consumo de água em Israel por setores (2013) .................................... 37

Figura 14 – Consumo diário de água em Israel, Cisjordânia e Gaza, 2003 .............. 40

Figura 15 – Consumo de água em Israel, Cisjordânia e Gaza, em litros/por


pessoa/por dia, 2016 ................................................................................................. 41

Figura 16 – Pegada hídrica do consumo per capta, 2001 ......................................... 47

Figura 17 – População de Israel (1951-2015) ........................................................... 53


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição e uso da água doce por continentes e setores .................... 20

Tabela 2 – Balanço hídrico e importação de alimentos israelenses em números


aproximados (2009) .................................................................................................. 44

Tabela 3 – Pegada hídrica do consumo em números, 2001 ..................................... 47

Tabela 4 – Pegada hídrica d produção em números, 2001 ....................................... 49

Tabela 5 – Necessidades hídricas de Israel por produto ......................................... 51


LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

FAO - Food and Agriculture Organization

INED – Institut National D’études Démographiques

ONU – Organização das Nações Unidas

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UNICEF – United Nations Children's Fund

WWF – World Wildlife Fund


SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................ 12
Capítulo 1. A água doce nas Relações Internacionais ......................................... 16
1.1 Perspectiva histórica ..................................................................................... 17
1.2 Os usos da água........................................................................................... 18
1.2.1 Uso doméstico ....................................................................................... 20
1.2.2 Uso industrial ......................................................................................... 21
1.2.3 Uso agrícola ........................................................................................... 22
1.3 Escassez hídrica no mundo .......................................................................... 23
1.4 A água virtual como nova forma de entender os recursos hídricos .............. 26
1.4.1 Pegada hídrica ....................................................................................... 27
1.4.2 Comércio global de água virtual ............................................................ 28

1.4.3 Vantagens e desvantagens do conceito de água virtual ........................ 29

Capítulo 2. A geopolítica da água nas Relações Internacionais de Israel ......... 31


2.1 A formação do Estado de Israel.................................................................... 31
2.2 Cenário hídrico ............................................................................................. 34
2.2.1 Situação atual ........................................................................................ 35
2.2.2 Os usos da água em Israel .................................................................... 37
2.3 Mekorot ......................................................................................................... 39
2.3.1 Apartheid da água.................................................................................. 40
Capítulo 3. A água virtual em Israel: evidências empíricas e cenários
prospectivos ............................................................................................................ 43
3.1 O comércio de água virtual como um instrumento para alcançar a segurança
hídrica e o uso eficiente da água ........................................................................ 43
3.2 Pegada hídrica e os impactos na água ......................................................... 46
3.2.1Pegada hídrica do consumo ................................................................... 46
3.2.2 Pegada hídrica da produção .................................................................. 48
3.3 Quantidade de água virtual nos produtos ..................................................... 50
3.4 Cenários prospectivos .................................................................................. 52

Conclusão ................................................................................................................ 55
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 57
12

Introdução

A água é um dos recursos naturais mais importantes do planeta, estando


presente em aproximadamente 70% da superfície dele, porém é um recurso de
caráter essencialmente estratégico, ou seja, sua disponibilidade não é um privilégio
para todos os territórios sendo, pois, sua distribuição muito desigual entre as
diferentes regiões do mundo. Além disso, a parcela de água doce a que temos
acesso imediato corresponde a 0,3% da água total disponível, pois o restante está
contido em depósitos subterrâneos e nas geleiras e calotas polares (UN World
Water Development Report, 2017).
Quanto à sua distribuição, de acordo com a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), as regiões mais
afetadas pela escassez, são, igualmente, consideradas as áreas mais pobres do
mundo no que diz respeito aos recursos de água doce: Oriente Médio e África. Cabe
destacar que a escassez hídrica ocorre quando há um excesso de demanda de
água em relação à oferta disponível na região, e nesses casos, isso se dá por conta
do clima desértico, da falta de chuva nas regiões e também do crescimento
demográfico desordenado, o que faz com que as populações locais sejam
completamente dependentes das águas subterrâneas e dos mais importantes rios
que são compartilhados por vários países.
Quando se fala em escassez hídrica, existe uma relação direta com a
produção de alimentos e matérias-primas, pois sem água não é possível cultivar,
processar ou transformar qualquer alimento, ou seja, a falta de água tem alta
incidência na segurança alimentar, interferindo no desenvolvimento humano. Pode-
se dizer, então, que sem água é provável que, em casos mais sensíveis, a produção
tenha que ser realizada a partir do sacrifício de outras necessidades (Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, 2017).
Daí a importância de se tratar do tema, que se soma à previsão da
Organização das Nações Unidas (ONU, 2017) de que, até 2030, a demanda por
água no mundo aumente em 50%. Em Relatório divulgado pelo Conselho Mundial
da Água em março de 2017, revela-se, ainda, que, atualmente, 923 milhões de
pessoas já não tem acesso a água potável no mundo, com 3,5 milhões de mortes
por ano atribuídas a doenças ligadas ao consumo impróprio.
13

Nesse sentido, o presente trabalho objetiva avaliar a geopolítica da água doce


nos cenários de escassez por meio do estudo dos usos práticos do conceito de água
virtual em Israel, com a finalidade de entender essa estratégia de gestão hídrica no
país e como isso pode ser usado por países que possuam o cenário similar. Esse
conceito foi proposto por John Anthony Allan em 1993, e demonstra que os países
que possuem poucos recursos hídricos podem optar por importá-los através de
produtos alimentares, pois, desta forma, diminuem a pressão sobre as suas próprias
reservas, deslocando, então, o excedente gerado, para outros usos.
Israel, mesmo com os recursos de água doce limitados, tem uma indústria
variada e uma agricultura bastante extensa, sendo o único país do Oriente Médio
considerado desenvolvido (IMD's World Competitiveness Yearbook, 2010). Foi
também usado como uma das bases de aplicação do estudo de Anthony Allan e
citado diversas vezes em suas pesquisas sobre água virtual, por isso, a escolha do
país como objeto de pesquisa neste trabalho monográfico.
Nesse cenário, o estudo a ser realizado se debruça sobre a seguinte pergunta
de pesquisa: No contexto hídrico israelense, qual é a aplicabilidade da água virtual
como um instrumento de redução do cenário de escassez?
Considerando a relação existente entre segurança alimentar e escassez
hídrica, em busca de respostas partiremos da hipótese de que, no âmbito da
geopolítica da água doce, e no contexto da escassez hídrica israelense, quanto mais
eficiente for a internalização na cadeia produtiva do conceito de água virtual, menor
será a competição entre os usos da água em cenário de escassez.
Diante disso temos, como variável dependente, a eficiência do conceito de
água virtual aplicada no caso de Israel. Como variáveis independentes serão
examinadas: a escassez de água doce em Israel, o crescimento populacional da
região e a segurança alimentar do país.
Sendo assim, este trabalho será estruturado de acordo com o seguinte
desenho de pesquisa:
14
15

Com o intuito de estabelecer a relação entre as variáveis expostas para


determinar a validade empírica da hipótese levantada, o estudo será conduzido a
partir da revisão da literatura pertinente e da análise de artigos científicos em torno
dos dois conceitos orientadores (primário e secundário), deste trabalho: água virtual
e pegada hídrica, que tem como autores principais John Anthony Allan, Arjen Y.
Hoekstra e Mesfin M. Mekonnen.
Assim, para cumprir os objetivos traçados, o presente trabalho está dividido
em três capítulos. O primeiro, intitulado “A água doce nas Relações Internacionais”,
visa descrever os fatos relacionados à distribuição e gestão da água doce nas
Relações Internacionais, para que se compreenda como se dão os usos da água no
contexto hídrico mundial e, nele, qual o papel da água virtual.
O segundo capítulo, “A geopolítica da água nas Relações Internacionais de
Israel”, descreve o papel da água nas Relações Internacionais de Israel, de modo a
entender qual é a influência que as reservas de água doce israelenses exercem
sobre a política externa do país e sua formação.
Por fim, o terceiro capítulo, “A água virtual em Israel: evidências empíricas e
cenários prospectivos”, analisa os usos práticos da água virtual em Israel com a
finalidade de responder a pergunta de pesquisa e, para fins de exercício ontológico,
traçar cenários prospectivos acerca da situação hídrica do país.
16

Capítulo 1. A água doce nas Relações Internacionais

A água é um recurso natural essencial para a sobrevivência de todas as


espécies. Mas o fato é que, mesmo sendo um recurso renovável, a água, em muitas
situações, não se mantém com boa qualidade e é por isso que existe a crescente
preocupação com o equilíbrio entre a renovação e o consumo, o qual é fundamental
para que não ocorra o esgotamento das reservas hídricas.
A água ocupa aproximadamente 70% da superfície do planeta. Porém, 97,5%
dessa água é salgada. Da parcela de água doce, 68,9% encontram-se nas geleiras,
calotas polares ou em regiões montanhosas, 29,9% em águas subterrâneas, 0,9%
compõe a umidade do solo e dos pântanos e apenas 0,3% constitui a porção
superficial de água doce presente em rios e lagos (Secretaria de Recursos Hídricos
do Ministério do Meio Ambiente, 2015, p.27), conforme descrito na figura 1.

Figura 1 - Distribuição da água no mundo.

Fonte: Plano Nacional de Recursos Hídricos – Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente, 2015, p.27.

A distribuição da água doce pelo globo depende dos ecossistemas que


compõem o território de cada país, não estando uniformemente distribuída por eles,
como é possível perceber na figura 2. Na América do Sul, por exemplo, encontra-se
26% do total de água doce disponível no planeta e apenas 6% da população
mundial, enquanto o continente asiático possui 32% do total de água e abriga 60%
da população mundial (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura, 2016).
17

Figura 2 - A água doce no mundo.

Fonte: Portal Guia do Estudante, 2010.

Sintetizando, menos de 1% de toda a água doce do planeta é potável e


disponível para os diversos usos. Além disso, dados da WWF (2006) mostram que o
consumo vem aumentando nos últimos 100 anos. De 1900 a 2000, o consumo total
da água no planeta aumentou dez vezes (de 500 km³/ano para mais de 5.000
km³/ano) e aumentam em todos os usos, setores, continentes e países. Soma-se a
distribuição e acesso desigual entre os países e dentro de cada país.

1.1 Perspectiva histórica

Tradicionalmente, os usos econômicos mais importantes da água foram a


navegação e a produção de energia. Isto porque a escassez não era uma
preocupação de primeira ordem e, consequentemente, não havia necessidade de
preocupação com seus usos mais fundamentais: dispunha-se de recursos hídricos
para beber e para comer. Em outras palavras, como não havia problema quanto à
disponibilidade ou à qualidade do insumo, não era preciso computar o uso da água
para a dessedentação1 dos seres humanos ou dos animais, para a irrigação e a
produção de alimentos ou para a preservação das pescarias. Porém esse contexto

1
Dessedentação é a utilização da água para fins primários de subsistência, ou seja, consumo para
saciar a sede.
18

mudou drasticamente durante a década de 1980, depois de uma evolução lenta


começada a partir de 1815. (CAUBET, 2006, p.20)
No ano de 1815 a Congresso de Viena estabeleceu os parâmetros das
relações europeias e a questão da navegação fluvial culminou no descobrimento da
produção de energia elétrica a partir da água, no final do século XIX. Com isso, os
Estados foram se desenvolvendo na medida em que descobriam as possibilidades
energéticas dos rios, construindo barragens inclusive em rios internacionais.
Até o início dos anos 1970 e após a conferência de Estocolmo sobre
Desenvolvimento Humano e Meio Ambiente, em junho de 1972, não havia muita
preocupação, na esfera das relações internacionais, quanto à água doce como
insumo para a produção ou produto para exportação. Como dito, a tradição das
relações internacionais considerava a água um suporte para a navegação ou
elemento para a produção de energia hidrelétrica. Era de praxe: produto abundante
e de boa qualidade, insumo natural gratuito, a água não era um problema, ainda
que, em certas regiões, algumas tensões estruturais pudessem ser notadas.
(CAUBET, 2006, p.21)
A preocupação com os múltiplos usos concorrentes da água começou a
surgir, então, a partir da evolução das sociedades industriais, que geram um quadro
de degradação dos recursos disponíveis. No prelúdio do século XXI, a água eclode
como um recurso natural limitado para fins de consumo. Consumo esse que,
juntamente com o crescimento populacional, continua gerando externalidades
negativas sobre os recursos hídricos.
Deve-se observar, ainda, uma circunstância nova em relação aos efeitos
surgidos no século XXI. Em outras palavras, a ênfase colocada nas questões de
preservação dos recursos naturais, desde 1972 (conferência de Estocolmo),
considerada simultaneamente com o crescimento exponencial do consumo de
insumos de toda ordem, faz com que determinados produtos, tradicionalmente
abundantes e gratuitos, como a água, tenham se tornado elementos econômicos
ocultos nas transações comerciais internacionais. (CAUBET, 2006, p. 23).

1.2 Os usos da água

A utilização da água é fundamental para a sobrevivência humana, mas


também para a economia e desenvolvimento das nações, por exemplo, por meio de
19

atividades como o comércio e o agronegócio. Um fator que chama atenção é a


diferença na forma da utilização da água que, no geral, está determinada como
sendo a agricultura e a indústria responsáveis pela utilização de mais de 90% de
toda a água doce utilizada, como mostra a Figura 3.

Figura 3 - Consumo de água doce no mundo por setor.

Fonte: FAO, 2012.

Quanto aos usos ditos tradicionais, a utilização se dá ainda pela navegação,


que também tem seus riscos de ocorrerem acidentes que possam ter consequências
negativas para o meio ambiente; pesca e lazer, que dependem da qualidade da
água; e, mais recentemente, geração de energia.
No entanto, tal qual apontado na tabela 1, se observarmos os continentes a
partir do consumo de água, vamos perceber que as formas de utilização deste
recurso diferem bastante, pois enquanto a América do Norte utiliza
aproximadamente 30% dos recursos hídricos no setor agrícola, a Ásia e a África
utilizam mais de 80%. Ou seja, os continentes dependentes da agricultura, como a
América do Sul, por exemplo, podem se beneficiar ou ter problemas, de acordo com
a gestão que farão do seu recurso.
20

Tabela 1 - Distribuição e uso da água doce por continentes e setores.

Fonte: FAO, 2006.

Essa observação é importante para que possamos discutir o conceito de água


virtual, principal referência teórica, e suas possíveis implicações nas relações
internacionais daqueles atores que a adotaram em suas políticas externas.

1.2.1 Uso doméstico

Para que a água seja adequada para o consumo humano, ela deve
apresentar características microbiológicas, físicas e químicas que atendam a um
padrão que a caracterize como potável. É por isso que passa por diversos
tratamentos antes de estar apta ao consumo humano.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a quantidade de água
suficiente pra atender as necessidades básicas de um indivíduo é de 110 litros/dia,
porém o consumo médio diário por pessoa é de 170 litros se baseado em um padrão
típico de país industrializado (ECYCLE, 2016) que segue a distribuição da Figura 4.
Porém, uma em cada três pessoas no mundo ainda não têm acesso a
serviços de saneamento básico e água potável, cerca de 2,4 bilhões de indivíduos,
segundo um levantamento de 2015 do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF, na sigla em inglês).
O consumo doméstico é ainda responsável por uma alta taxa de desperdício
que se dá através de vazamentos por descargas desreguladas, instalações mal
21

colocadas como torneiras frouxas e falta de manutenção de equipamentos de redes


antigas; problemas que podem acarretar no desperdício de 96 mil litros de água por
mês com um buraco de 2mm nos canos. (SARTORI, 2017)
Além do desperdício gerado pelos fatores mencionados, existem outros
fatores que afetam o consumo da água como a taxa de crescimento da população;
as características da cidade, que pode ser turística ou industrial; o clima; os hábitos
e situação econômica da população; a disponibilidade e o custo da água; a
ocorrência de chuvas. Tudo isso exerce influencia na situação hídrica de um local,
contribuindo para a sua caracterização como sendo abundante ou crítica, escassa.

Figura 4 - Utilização doméstica da água.

Fonte: SANASA, 2010.

1.2.2 Uso industrial

Respondendo por 22% do consumo da água, as indústrias utilizam grande


quantidade de água limpa em usos que vão desde a incorporação da água nos
produtos até a lavagem de equipamentos e materiais. Sendo que, dependendo do
ramo da indústria e da tecnologia utilizada, a água resultante dos processos pode
ser contaminada com resíduos tóxicos altamente nocivos. Essa água contaminada,
22

quando lançada nos rios e mares, pode provocar a intoxicação dos peixes e outros
seres que dependam daquela água.
“[...] A água utilizada nas indústrias tem uma peculiaridade que é ser, ao
mesmo tempo, insumo e produto. Entretanto, o maior problema, sob o ponto de vista
econômico e ecológico, não está no reúso ou não da água, mas no desperdício que
ocorre nas instalações industriais.” (SIC) (ROTHBARTH, 2010)
O desperdício citado por Rothbarth costuma ocorrer pela falta do uso das
metodologias que tornam a verificação do desperdício possível. Essa metodologia,
segundo o mesmo, é feita a partir da medição da entrada de água bruta na indústria,
do volume de água tratada, dos efluentes líquidos que deixam o processo e dos que
ficam incorporados ao produto final. Esse é um processo fundamental para que a
indústria tenha o controle da sua situação hídrica e possa economizar e reutilizar o
recurso em seus processos.
Atualmente as indústrias vêm se preocupando cada vez mais com esses
processos, pois a água é um recurso indispensável para as suas atividades, mas
ainda existe muita negligencia também na questão da sua devolução em boas
condições para o meio ambiente.

1.2.3 Uso agrícola

Os múltiplos usos da água e as permanentes necessidades desse uso para


fazer frente ao crescimento populacional e as demandas agrícolas, na necessidade
do aumento na produção de alimentos, tem gerado uma pressão constante sobre os
recursos hídricos superficiais e subterrâneos. (BELIZÁRIO, SOARES, ASSUNÇÃO,
2014)
A agricultura é o setor que mais utiliza água doce no mundo, para a produção
de alimentos, devido à irrigação – 70% do recurso disponível no planeta, como
observado na figura 3. Segundo a FAO (2014), essa alta demanda está ligada ao
fato de que cerca de 60% da água utilizada em projetos de irrigação é perdida por
fenômenos como a evaporação. O órgão afirma ainda que uma redução de 10% no
desperdício poderia abastecer o dobro da população mundial.
De acordo com a ONU, a agricultura é vista como alvo prioritário para as
políticas de controle racional de água, pois ressalta que até 2025, cerca de dois
milhões de pessoas viverão em regiões de absoluta escassez. Sendo assim,
23

medidas de controle da quantidade de água aplicada através de técnicas que


melhorem a eficiência de aplicação da água pela irrigação são imprescindíveis para
reduzir os impactos sobre os recursos hídricos. (BELIZÁRIO, SOARES,
ASSUNÇÃO, 2014)
Além da quantidade, a qualidade da água é outro aspecto fundamental para a
sua utilização. O setor agrícola é responsável, nesse ponto, por afetar a qualidade
dos solos com a utilização de fertilizantes e pesticidas, que acabam sendo
arrastados pelas chuvas até os cursos d’água, causando a contaminação da água
superficial e também subterrânea, podendo causar a desertificação.
A desertificação é definida como um processo de degradação ambiental
causada pelo manejo inadequado dos recursos naturais nos espaços áridos e
semiáridos, que compromete os sistemas produtivos das áreas susceptíveis, os
serviços ambientais e a conversação da biodiversidade (Convenção das Nações
Unidas de Combate à Desertificação, 2010). De acordo com o Worldwatch Institute,
esse fenômeno afeta mais de 110 países, prejudicando a vida de mais de 250
milhões de pessoas.
Sendo assim, a porção de água consumida pela agricultura desperta a
atenção mundial. Não só porque é preciso achar formas mais eficientes de se utilizar
os recursos hídricos, tendo maior produtividade por gota de água, mas também
porque, se feita de forma sustentável, em conformidade com o conhecimento
científico que temos à disposição, a agricultura pode representar a chave para a
preservação da água no planeta, em quantidade e qualidade suficientes para todas
as necessidades básicas humanas. (RECURSOS HÍDRICOS E AGRICULTURA,
2013)

1.3 Escassez hídrica no mundo

A escassez hídrica física, também chamada de estresse hídrico, é um termo


utilizado pra descrever uma situação em que, em determinada localidade, a
demanda por água é maior do que a sua disponibilidade e capacidade de renovação
(PENA, 2015), gerando a necessidade de uma gestão eficiente do recurso e a
adoção de políticas de redução do consumo.
O fato ocorre devido a uma conjunção de fatores que envolvem desde a má
gestão, que gera o desperdício de água na distribuição e no consumo; até os fatores
24

naturais, como foram demonstrados. Soma-se a isso o fato de que, como já


apontado: a água não está presente igualmente em todas as regiões e essa
distribuição desigual, juntamente com o crescimento na demanda de uso e a
degradação da qualidade da água por processos antropocêntricos, agravam a
situação dessas regiões que se tornam mais vulneráveis a conflitos hídricos, como é
o caso de Israel, nosso universo de pesquisa.
Vale destacar esse crescimento na demanda de uso a partir da relação entre
o percentual de água e população, onde podemos inferir, a partir da figura seguinte,
que aqueles países que possuem uma população proporcionalmente maior que a
disponibilidade de água doce, estarão mais sujeitos a prováveis problemas de
escassez.

Figura 5 - Escassez hídrica no mundo.

Fonte: Portal Guia do Estudante, 2010.

A figura acima demonstra a disponibilidade de água no planeta, onde se


percebe que a África e o Oriente Médio são os grandes afetados pela escassez
desse recurso. Isso se dá devido ao fato de que essas regiões estão situadas em
25

zonas áridas, sendo que os fatores econômico e demográfico acentuam a situação


das mesmas.

Figura 6 - Previsões de crescimento da população mundial em bilhões de habitantes (2015-2100).

Fonte: Perspectivas da População Mundial: A Revisão de 2015, ONU.

Segundo a Science Advances (2016), cerca de 71% da população mundial,


ou seja, aproximadamente 4.3 bilhões de pessoas, vivem sob escassez de água por
um mês a cada ano. Somado a isso, as reservas hídricas do mundo podem encolher
40% até 2030 (UNESCO, 2015), pondo ainda mais em risco a segurança alimentar
de uma população mundial que pode chegar a 8,5 bilhões no mesmo ano, como
demonstra a figura 6.

1.4 A Água Virtual como nova forma de entender os recursos hídricos

Os dados analisados até agora permitem inferir que os usos da água são
concorrentes, ou seja, a água que é destinada para a agricultura pode, em muitas
situações, competir com a água utilizada pelas indústrias em seus processos
produtivos e também com o consumo doméstico. Então é necessário que se pense
26

em uma maneira de gerenciar melhor esse recurso, fazendo com que exista uma
política que ajude os países em situação de escassez a alcançar a segurança
hídrica e alimentar. É aí que entra a água virtual.
O conceito de água virtual foi proposto por John Anthony Allan (1993), que a
considera como sendo a quantidade de água doce consumida na produção de um
bem, produto ou serviço; é a medida indireta dos recursos hídricos consumidos por
um bem. Ou seja, é a água utilizada ao longo de toda a cadeia de produção de
alimentos e de diversos outros produtos como roupas, sapatos e até do chip de
celular.
A figura seguinte nos permite visualizar a importância da água virtual no
processo produtivo, demonstrando a quantidade deste recurso utilizado em algumas
commodities.

Figura 7 - Quantidade de água virtual embutida em alguns produtos.

Fonte: R.L.Carmo, A.L.R.O.; Ojima, R. e T.T. Nascimento; Hoekstra e Chapagain, 2015.

Entende-se, então, que ao comprar carne bovina, por exemplo, estamos


comprando também, a água que foi utilizada para a sua produção: a água virtual. E
assim funciona também no mercado internacional, onde se fala em importação e
exportação de água virtual: quando um país compra ou vende um bem, ali está
embutida a água que foi utilizada pra produzi-lo, então ele deixa de utilizar o recurso
do seu país na produção do mesmo e pode utilizar essa água em outros setores.
Nesse contexto, a água virtual é utilizada como estratégia de viabilidade
econômica de produção ou de importação de um bem que consuma muita água em
seu processo de produção, com o objetivo de ter uma maior eficiência no uso da sua
água doce, evitando-se, a partir disso, a sua escassez.
27

Em ‘Virtual Water: Tackling the Threat to our Planet’s Most Precious


Resource’, Anthony Allan (2011) faz uma reflexão acerca das principais áreas
produtivas comerciais que demandam um elevado índice de água virtual em sua
produção.
Atualmente essa análise está sendo reconhecida como uma das ferramentas
estratégicas fundamentais na política da água, pois, com o conhecimento da porção
de água oculta nas produções, os países podem optar por produzir produtos que
promovam vantagens econômicas e menos danos à disponibilidade de seus fluxos
hídricos. Em outras palavras, regiões do mundo que sofrem com a escassez de
água em seu território passam, com o conceito de “Água Virtual”, a investir em
processos produtivos que detêm valores menores da utilização de água em sua
produção, tornando-os menos custosos (SOUZA, FARIA, 2016).
Isso não quer dizer que os países importadores de água virtual deixem de
produzir roupas e tantos outros produtos. O que acontece é que eles importam
aqueles que demandam mais água em seu processo de produção como café,
açúcar e frutas cítricas, e a partir daí podem transferir a água que seria utilizada
nessa produção para outras áreas.

1.4.1 Pegada hídrica

Hoekstra e Chapagain (2007) afirmam que o termo água virtual está


estreitamente ligado ao conceito de pegada hídrica, criado por Hoekstra em 2002,
que representa todo o volume de água doce consumida para produzir bens e
serviços somado à água que será utilizada ao longo de todo seu ciclo de vida,
segundo os autores. Ou seja, a água virtual é o volume de água necessário para a
fabricação de um produto, enquanto a pegada hídrica é a soma da água virtual de
todos os bens e serviços consumidos por um indivíduo ou pelos indivíduos de um
país.
Esse conceito é importante por permitir que as empresas, países a até
mesmo os indivíduos possam calcular a quantidade de água que consomem em
determinadas atividades a partir dos dados de consumo de produtos e serviços, o
que pode ser útil na tomada de decisões quanto ao uso racional da água.
Segundo a Water Footprint, em estudo lançado em 2012, a pegada hídrica é
medida classificando a água doce em três componentes: água azul, verde e cinza,
28

que serão aprofundados no capítulo 3. Segundo Anthony Allan, é necessário que se


compreenda esses componentes para que se analise os impactos da água virtual no
ciclo hidrológico.
É importante também considerar a diferença entre consumo direto e indireto
da água: sendo o consumo direto a água utilizada no banho, para beber, cozinhar
lavar; e o consumo indireto, a água presente no ciclo de vida dos produtos que são
utilizados no dia a dia, ou seja, na fabricação das roupas, alimentos, veículos,
eletrodomésticos.

1.4.2 Comércio global de água virtual

A água virtual causou grande impacto na hidropolítica contemporânea. Além


de trazer a tona uma conscientização sobre o volume de água utilizado efetivamente
nos processos produtivos, esse cálculo inovou a dinâmica do atual comércio global,
principalmente no ramo da agricultura, o setor que mais utiliza recursos hídricos em
suas produções.
As relações comerciais começam a explorar a noção de abundância ou
escassez que possuem determinadas regiões como ferramenta decisiva sobre “o
que” e “onde” desenvolver seus processos produtivos. Hoje em dia, deixando de
lado o uso direto da água, o que está em voga no mercado mundial são os fluxos
hídricos comercializados de forma indireta entre os países. Nessa realidade, as
relações comerciais começam a buscar um equilíbrio entre os países produtores e
os consumidores de determinada linha de produção. (SOUZA, FARIA, 2016)
Tentando seguir a linha das novas tendências, os mercados que compõem o
comércio global tendem a realizar uma divisão do que e onde produzir, de acordo
com a sua disponibilidade hídrica. Assim, os países com maior índice de escassez
tendem a importar produtos que possuem maior índice de água virtual em sua
produção dos países que possuem maiores reservas, os quais são os grandes
exportadores de água virtual.
Tendo isso em vista, podemos identificar na figura abaixo os maiores
exportadores e importadores de água virtual no comércio internacional de acordo
com a quantidade de recursos que possuem em seu território a partir da observação
da distribuição da água doce em todo o planeta, tal qual analisado na figura 2.
29

Figura 8 - Comércio global de água virtual.

Fonte: Hoekstra & Chapagain, 2010.

1.4.3 Vantagens e desvantagens do conceito de água virtual

Como retratado, a água virtual é um elemento estratégico na situação


hidropolítica mundial, tendo como vantagem o fato de permitir a minimização de
quadros de escassez a partir da utilização eficiente da água doce, levando para os
países importadores a oportunidade de obter a segurança alimentar.
Porém, esse elemento possui também desvantagens como o fato de que a
produção de mais alimentos pra vender pra outras nações exerce pressão sobre os
recursos hídricos dos países exportadores, podendo estes, no futuro, sofrerem
também da escassez causada pelo uso contínuo que acaba por degradar o solo e a
água, como visto anteriormente.
Além disso, é necessário que o país importador tenha um nível econômico
que lhe permita comprar nos mercados internacionais os alimentos portadores de
água virtual – o Iêmen, que há anos tem as reservas domésticas comprometidas,
30

apresenta importações modestas simplesmente porque o país não possui a


demanda financeira suficiente para importar alimentos em um volume que compense
a falta de água em seu território. (ROCHA, 2012)
Também, de acordo com o Conselho Mundial de Água (WWC, na sigla em
inglês), o comércio de água virtual tem implicações geopolíticas e induz à
dependência entre países: sendo assim pode ser um estímulo para a cooperação e
a paz ou um motivo para potenciais conflitos.
Em síntese, tem-se o quadro abaixo:

Figura 9 - Vantagens e desvantagens da água virtual.

Fonte: Elaborado pela autora.

Tendo em vista as análises feitas até o presente momento, o Oriente Médio é


uma das regiões mais afetadas pela escassez hídrica devido ao pouco acesso que
tem ao recurso, somado à sua localização geográfica e ainda ao seu crescimento
populacional.
Essa síntese é importante para que avancemos para o próximo capítulo que
entrará, especificamente, na situação de Israel objetivando, assim, entender o papel
da água doce em suas relações internacionais.
31

Capítulo 2. A geopolítica da água nas Relações Internacionais de Israel

Israel é reconhecido, atualmente, como sendo um dos mais poderosos


Estados, econômico e militar, regionalmente. E apesar de sua curta existência – só
foi oficializado e reconhecido como país em 1948 -, foi protagonista de episódios
conflituosos ocorridos no Oriente Médio, sobretudo, com os países árabes e/ou
mulçumanos que circundam seu território. (FERNANDES, 2017) Uma das razões
desses conflitos é a água. Mas, para se compreender o seu papel nas Relações
Internacionais do país, e também a constituição da situação hídrica do mesmo, é
necessário que se conheça a sua formação.

2.1 A formação do Estado de Israel

Em 1917 o território que hoje é compreendido pelo Estado de Israel era


dominado pela Palestina, que abrigava uma população de um milhão de palestinos e
100 mil judeus e se encontrava sob o domínio do Império Otomano, mas que passou
a ser britânico após a Primeira Guerra Mundial, através do mandato recebido da
Liga das Nações, em 1922. Os britânicos fizeram a partilha do território que ficou,
em sua maioria, para o povo Palestino. Porém, com o fim da Segunda Guerra
Mundial, estabeleceu-se um novo cenário, que contava com o alto crescimento da
imigração judaica para a Palestina, fazendo com que se eclodisse um conflito interno
entre palestinos e judeus em 1947 (SACHAR, 1998).
A ONU, por sua vez, estabeleceu um Plano de Partição da Palestina
(Resolução 181 da ONU), o qual dividia o território em dois estados: um árabe e um
judeu. Mas os árabes não aceitaram a resolução e deram inicio ao conflito que gerou
a criação do Estado de Israel, a Guerra da Independência de 1948, período em que
terminou o mandato britânico da Palestina. (SACHAR, 1998) A guerra foi vencida
pelos judeus, que ampliaram o seu domínio no território e tiveram a sua
independência declarada.
Desde então, palestinos e israelenses vivem em conflito, que foi acumulando
motivos ao longo dos anos e deixou de ser apenas territorial, passando a ser
também, dentre outras variáveis, hidropolítico.
32

Através da contextualização geográfica do território, percebe-se que a


disponibilidade de recursos hídricos na região israelense é muito baixa. Israel
encontra-se no Oriente Médio, região extremamente afetada pela escassez, como
visto no capítulo 1. E após a criação do Estado, houve um aumento da imigração,
fazendo com que a população crescesse rapidamente, levando Israel a anunciar o
plano de bombear a água do lago Kinneret (conhecido também como Mar da
Galileia) para as regiões costeiras e para o deserto do Negev, para conseguir
atender as suas necessidades (SILVA, 2016, p.72).
Frente ao plano israelense:

A Jordânia, que é o país dentre os Estados árabes mais dependente das


águas do rio Jordão e o mais sensível em relação a retirada da água do
lago Kinneret por parte de Israel, fez um sério apelo para a adoção de uma
ação conjunta para coibir a execução do projeto israelense. Duas ações
possíveis foram cogitadas pelos árabes: o desvio das águas do rio Hasbani
e do Banias para o Líbano e para a Síria, o que diminuiria o fluxo da água
que abastece o lago Kinneret ou o confronto militar. Encorajados pelo Egito
de Nasser a não considerar naquele momento a segunda opção, sob a
alegação de que os Estados Unidos estaria disposto a ajudar Israel caso o
país sofresse uma agressão dos seus vizinhos árabes (LOWI, 1995, p.124),
Síria e Líbano começaram a desviar as águas dos tributários do alto rio
Jordão, em Dezembro de 1964. Além disto, planejavam construir um
reservatório para impedir que as águas do Yarmouk chegassem a Israel
(JAGERSKOG, 2003, p.85). Como reação a estas medidas por parte dos
árabes, Israel atacou as estruturas construídas para o desvio das águas do
Hasbani e Banias diversas vezes entre os anos de 1965 e 1966,
efetivamente interrompendo a construção. Estes incidentes são não
raramente vistos como o prelúdio da guerra de 1967. (JAGERSKOG, 2003,
p.85, versão livre). (SIC)(SILVA, 2016, p.72)

Esse desvio das águas do Rio Jordão foi debatido na Conferencia da Liga
Árabe, realizada em 1964 no Cairo, e foi a responsável pela construção perceptiva
do Estado de Israel como uma ameaça e que o desvio das águas do Rio Jordão
multiplicaria os perigos à existência árabe. A partir daí deu-se a elaboração de
planos, por parte dos árabes, para o enfrentamento de Israel. (SANTIAGO, 2012)
Em 1967, Egito e Síria iniciam um conjunto de ofensivas diplomáticas entre as
nações árabes para obter apoio para a batalha contra Israel, que acaba realizando
um ataque preventivo à força aérea egípcia, dando início à Guerra dos Seis Dias,
que contou também com a Jordânia apoiando o Egito. (SILVA, 2016, p.72)
Israel começou a guerra com 20.300km² de área sob sua administração, mas
depois do décimo dia de conflito contava com cerca de 102.400km², um aumento de
cerca de cinco vezes em seu território (SANTIAGO, 2012). Como resultado
33

apoderou-se da Cisjordânia, Faixa de Gaza, Península do Sinai, Colinas de Golã e


passou ainda a controlar as nascentes do alto Rio Jordão. A figura 10 sintetiza o
contexto histórico apresentado e dispõe a composição do território israelense desde
o ano 1917 até os dias atuais.

Figura 10 - Evolução do território Israel-Palestina (1917- 2014)

Fonte: INFOGRAFIA, 2014. Disponível online em: <http://www.redeangola.info/multimedia/evolucao-


do-mapa-da-palestina-e-de-israel/> Acesso em: 02 abril 2017. Editado pela autora.

É importante ressaltar que a ONU emitiu a Resolução 242 ainda em 1967, na


tentativa de fazer Israel abandonar os territórios ocupados. Mas, a resolução não foi
cumprida em grande parte. Houve a devolução do Sinai na década de 1970-80, mas
Israel ainda compõe, com seus vizinhos, um dos contenciosos territoriais mais
distantes de uma solução (SILVA, 2016, p.73).
Tendo em vista a breve história da formação do Estado de Israel, infere-se
que o acesso aos recursos hídricos foi de fundamental importância nesse processo,
tendo papel imprescindível na luta israelense pela sua existência. E atualmente não
é diferente, o país continua localizado em uma região escassa em água e ainda
objeto de conflitos. No entanto, conseguiu desenvolver maneiras que o levaram a
sanar as necessidades hídricas do país. Para entender como isso foi feito, é
34

necessário que se analise o estabelecimento do seu cenário hídrico e ainda como se


dão os seus usos da água de modo a atender a população atual.

2.2 Cenário hídrico

Segundo o cônsul de Israel em São Paulo, Boaz Albanares, em entrevista


para O Globo (2015), para assegurar o abastecimento de água para a população em
crescimento, pouco depois de formado e reconhecido como Estado, Israel aprovou a
Lei da Água (1959), a partir da qual se definiu que qualquer resquício hídrico
encontrado em residências pertence ao Estado e não ao proprietário daquele
espaço. O mesmo afirma que é ilegal fazer poços artesianos no país; que cabe ao
governo decidir o preço da água e que “em Israel 100% da água é monitorada, a
tecnologia ajuda muito a ver onde tem vazamento. E, por lei, os medidores de
consumo têm que ser trocados a cada cinco anos, para garantir que estão sempre
bem calibrados”.
Ainda na entrevista Albanares afirma que “Israel não tem nenhum tipo de
recurso natural: nem petróleo, nem ouro, nem água. A terra santa é santa, mas não
tem nada embaixo”, então além da Lei, o país investe em pesquisas, inovação e
conscientização da população. Ainda assim, os esforços não foram suficientes para
suprir confortavelmente as necessidades da população desde a sua constituição,
situação que se estendeu até a grande seca que atingiu o país e teve seu auge em
2009, com o esvaziamento das principais fontes naturais de água do país – o Mar da
Galiléia e os aquíferos das montanhas e do norte.
Durante esse período, “em todo o país, os israelenses foram orientados a
tomar banhos de no máximo dois minutos; lavar carros com mangueiras era proibido
e só quem era rico o suficiente para absorver o custo da manutenção de um
gramado foi autorizado a regá-lo e, ainda assim, só à noite” (KERSHNER, 2015),
mas mesmo com esse nível elevado de escassez, a água nunca deixou de chegar
efetivamente para a população.
Isso se dá pelo fato de a escassez de água não ser uma crise temporária,
mas a realidade de Israel. E isso tem sido um desafio que, ao longo dos anos, vem
sendo superado através da aliança entre investimentos para a descoberta de novas
tecnologias, o empreendedorismo e a cultura da população. (DIAS, 2015)
35

O país soube utilizar a água disponível de forma racional, fazendo um uso


eficiente, evitando o desperdício, se fazendo valer da água virtual, da reciclagem de
águas residuais e também da sua tecnologia de dessalinização. Elementos que
passaram a ser mais explorados e investidos a partir desse período de grande seca
e que se estendem até a situação atual do país.

2.2.1 Situação atual

Israel possui hoje mais de oito milhões de habitantes (THE WORLD BANK,
2015) dispostos em um território predominantemente desértico - 50% do território
corresponde ao Deserto de Neguev -, localizado em uma das regiões mais áridas do
planeta, como já visto.
As suas reservas de água doce (figura11) são representadas pela bacia do
Rio Jordão que inclui: as águas superficiais do Rio Jordão, o Mar da Galiléia, o Rio
Yarmuk e o baixo Jordão, e também pelas águas subterrâneas dos aquíferos da
Montanha (aquífero norte, totalmente sob o solo as Cisjordânia), de Basin (oriental)
e o Costeiro (aquífero ocidental). Além da água doce, Israel está situado em uma
região que é banhada pelos mares: Mediterrâneo, Vermelho e Morto (CRUZ, 2012);
como disposto na figura 12.

Figura 11 - Disposição geográfica de Israel em 2017.

Fonte: Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/rio-jordao/> Acesso em: 04 mar 2017. Editado


pela autora.
36

Figura 12 - Mapa de 2015 dos aquíferos na região de Israel.

Fonte: Disponível em: <http://geoplanetaonline.blogspot.com.br/2015/03/questao-de-oriente-


medio.html> Acesso em: 04 mar. 2017.

Ademais, em todo o Estado de Israel, anualmente, chove cerca de um bilhão


de metros cúbicos, enquanto o consumo populacional atinge quase o dobro disso.
Ao ano, o déficit de água em Israel é de 45%. Ainda assim, toda a população recebe
água em suas torneiras 24 horas por dia, 365 dias ao ano. (ALBARANES, 2015)
As reservas hídricas não são suficientes, sozinhas, para abastecerem todas
as áreas de consumo, então contam com o complemento das cinco plantas de
dessalinização da água do mar, com a água de reuso e com a importação de água
virtual – política já apresentada e que será aprofundada no capítulo 3.
A dessalinização é responsável por 70% da água doméstica consumida no
Estado, de acordo com Albanares. Porém, apesar do papel fundamental que as
usinas exercem sobre a atual situação hídrica do país, essa técnica não será
aprofundada nessa monografia, pois seu foco está na água doce.
Mesmo com todas as dificuldades hídricas e geográficas, Israel se tornou líder
mundial na gestão de tratamento e reciclagem de água, reutilizando cerca de 72%
de toda a água utilizada no país, sendo que a coleta advém do esgoto doméstico e
serve para a irrigação das plantas através do gotejamento, técnica que hoje é
bastante utilizada no mundo e que foi criada por Israel, em 1960, para direcionar a
37

água diretamente para a raiz das plantas, evitando o seu desperdício. A capacidade
israelense de reutilizar a água corresponde à maior taxa de reaproveitamento do
mundo, seguida pela Espanha com 12% (COPINI, 2015).
A importância da reciclagem hídrica para o país fica nítida quando se analisa
o seu consumo de água por setores. No capítulo 1 observou-se que o setor agrícola
é o que mais demanda água em uma escala mundial e em Israel não é diferente,
como ilustra a figura 13.

Figura 13 - Consumo de água em Israel por setores (2013).

Fonte: Adaptado pela autora a partir de:


<https://www.google.com.br/serch?q=uso+%C3%A1gua++israel&biw=160lBigB.> Acesso em: 04 abr.
2017.

2.2.2 Os usos da água em Israel

Como ilustrado, o setor agrícola israelense não se difere da análise do


consumo mundial por setor no que diz respeito à sua maior porcentagem frente aos
outros, mas no caso do setor industrial é diferente, sendo o de menor porcentagem
de uso no país. A indústria israelense é voltada, principalmente, para o segmento
bélico e de informática (FREITAS, 2017) e utiliza apenas 6% dos recursos hídricos
do país.
No setor agrícola, que será aprofundado no capítulo 3, Israel tem o desafio de
produzir muito, em pouco espaço e com pouca água. Seu território possui baixa
quantidade de terras aráveis, portanto “um passeio entre algumas cidades pode
38

revelar um pouco do perfil agrícola israelense: planta-se em qualquer pedaço de


terra agricultável, até em terrenos nas alças de acesso de rodovias, e todas as
lavouras têm irrigação ou estão em estufas”. (SOUZA, 2009, p.2) O que se tem é um
sistema intensivo de produção.
É por conta disso que Israel é líder mundial em pesquisa e desenvolvimento
agrícola, possuindo empresas especializadas em tecnologias e soluções para toda a
cadeia produtiva - desde as estufas e processos de irrigação à colheita final.
(SOUZA, 2009) Essa conjuntura levou o país a um grande aumento na quantidade e
qualidade das suas lavouras.
Uma das tecnologias desenvolvidas pelo país é a irrigação por gotejamento,
já citada, que permite que o agricultor distribua de maneira pontual a água e os
elementos nutritivos às raízes em quantidades suficientes para atender as
necessidades das plantas. Esse processo significa o uso de menor quantidade de
água – pois esta não será perdida no escorrimento e evaporação, como acontece no
método tradicional de irrigação - e fertilizantes, e ainda permite a obtenção de
produtos de melhor qualidade.
Com isso, apesar do setor agrícola ser o que mais consome água no país, o
mesmo o faz de maneira eficiente e aliada à política de reuso, o que é fundamental
para que não falte recurso para o suprimento dos outros setores.
Na questão do setor doméstico, o diretor da Autoridade de Água de Israel,
Alex Kushnir, afirmou que houve uma conquista importante nessa área, que
conseguiu chegar a uma economia significativa, em que se diminuiu o consumo
médio de 102m³/ano para os atuais 87m³/ano em poucos anos. Uma economia de
aproximadamente 15%.
Essa diminuição se deu tanto pela valorização dos recursos hídricos pela
população, fato que está enraizado na cultura israelense, quanto pelo
aperfeiçoamento dos métodos de não desperdício com o monitoramento dos
medidores de consumo e a detecção de vazamentos.
Diante disso, é possível concluir que a gestão hídrica israelense tem papel
imprescindível na sua formação como país e também na forma como o mesmo é
visto pelos outros Estados. Como foi apresentado, o Estado de Israel teve a
composição do seu território modificada, por consequência de fatos já sabidos, e por
fim se apoderou de importantes fontes hídricas que também abastecem outros
Estados.
39

O próximo tópico será dedicado, então, às críticas que são feitas a essa
gestão, tendo em vista que pra compreensão da água virtual, é importante entender
a distribuição que o Estado faz do recurso como forma de alocação eficiente. Pra
isso é necessário entender os mecanismo que agem em nome do Estado como a
empresa Mekorot - que já foi denunciada na ONU por implementar o que se
denominou “apartheid da água”.

2.3 Mekorot

Mekorot (palavra que vem do hebraico e significa ‘’fontes’ em português) é a


empresa estatal israelense, fundada ainda em 1937, responsável por 90% da água
potável que chega aos cidadãos do país. Segundo consta na página eletrônica da
empresa (http://www.mekorot.co.il), a mesma se encontra sob a competência do
Ministério da Energia e Água e do Ministério das Finanças do Estado de Israel e a
gestão e o abastecimento são controlados pelo mesmo.
Ainda de acordo com a página, Mekorot fez uma profunda contribuição
nacional para facilitar essencialmente a vida em Israel, através da infraestrutura e
das enormes fábricas de captação e tratamento de água. Além disso, informa que a
empresa sempre considerou o desenvolvimento do Estado e que, paralelamente aos
projetos de infraestrutura e de abastecimento de água, que constituem a base para a
existência de um país sustentável e próspero, realiza operações em curso para um
abastecimento de água regular e que seja fornecido a todas as partes do país, de
acordo com as necessidades.
As atividades exercidas pela estatal estão incluídas nas seguintes áreas:
abastecimento de água, gestão de recursos hídricos, qualidade e segurança da
água, dessalinização, hidrologia e perfuração, recuperação de efluentes, tratamento
de água poluída, melhoria da chuva, captação de água de tempestade,
desenvolvimento e tecnologias da água e desenvolvimento sustentável.
A Mekorot é a empresa líder, mas é constituída também por duas
subsidiárias, desde 2007: Mekorot Development and Enterprise, que inicia e
promove projetos de água em Israel e no exterior, onde tem parceria com vários
países no mundo em áreas como a dessalinização e gestão da água; e EMS
Mekorot Projetcs, uma das principais empresas israelitas em Israel para a realização
de infraestrutura hídrica que inclui instalação e implementação de sistemas para o
40

tratamento de água, perfuração e bombeamento, reabilitação de poços para


melhorar o fluxo da água, produção e instalação de bombas de água para o fluxo de
melhoramento da chuva.
“O Mekorot Group fornece atualmente aproximadamente 1,5 bilhão de metros
cúbicos de água por ano para cerca de 4800 clientes e cerca de 7 milhões de
usuários finais por meio de 3000 instalações e mais de 12000km de dutos”, segundo
consta no site da estatal. Além disso, em virtude dos acordos diplomáticos
assinados pelo Governo de Israel, a empresa também fornece água para a Palestina
e a Jordânia, que reclamam do não cumprimento de Israel no acordo e denunciam
violações no seu direito à água, fato que será aprofundado no tópico a seguir.

2.3.1 Apartheid da água

O consumo médio diário de água dos palestinos é de cerca de 70 litros por


pessoa, enquanto a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de
que esse consumo seja de, pelo menos, 100 litros. Em contrapartida, o consumo
médio dos israelenses é de cerca de 300 litros por dia, aproximadamente quatro
vezes mais que a média palestina (B’TSELEM STATISTICS, 2016), como ilustrado
nas figuras 14 e 15, onde se pode comparar a situação em 2003 e em 2016.

Figura 14 - Consumo diário de água em Israel, Cisjordânia e Gaza, 2003.

Fonte: Brilliant Infographic. Disponível em: <http://remikanazi.tumblr.com/post/80389491486/brilliant-


infographic-on-water-consumption-for> Acesso em: 10 abr 2017.
41

Figura 15 - Consumo de água em Israel, Cisjordânia e Gaza, em litros/por pessoa/por dia, 2016.

Fonte: B’TSELEM STATISTICS. Disponível em: <http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/03/22/


dia-mundial-del-agua-el-apartheid-del-agua-en-palestina/> Acesso em: 10 abr. 2017.

A partir da comparação das imagens, é possível perceber um processo de


evolução de 2003 para 2016, onde Israel tem uma diminuição no consumo, porém o
cenário palestino continua o mesmo. Estes dados vêm sendo apresentados em
fóruns internacionais e em veículos online por organizações pró-palestina, que
pedem que as leis internacionais sejam cumpridas contra a violação dos direitos
humanos e que denominam a situação de ‘apartheid da água’, pois afirmam que a
Mekorot opera cortando o abastecimento de água das famílias palestinas e
denunciam que até os canos de abastecimento palestino tem diâmetro menor que os
das casas israelenses (BARENHO, 2012).
Segundo Barenho (2012), “o controle dos elementos naturais é ponto-chave
do apartheid israelense. E se ainda não o controlam, tratam de degradá-los a ponto
de tornar a vida insustentável para as famílias palestinas, que acabam abandonando
as áreas degradadas”. Essa afirmação é em relação ao fato de que Israel controla
todas as fontes de água potável na Cisjordânia e, segundo os Acordos de Oslo
(1995), deve permitir o acesso de pelo menos 20% para os palestinos. Porém, o que
acontece é que, de acordo com Mattar (2012), “dos aquíferos disponíveis no
território palestino ocupado, Israel utiliza 73%, os palestinos 17% e os
assentamentos judeus ilegais, 10%. Por conta da distribuição desigual, os palestinos
da Cisjordânia têm de comprar pelo menos metade da água consumida da Mekorot”.
42

Além disso, a Figura 13 traz outro elemento: o fato de que os palestinos não
só tem um consumo significativamente menor que os israelenses, como o acesso
que eles têm à água é limitada também em sua potabilidade, obrigando-os a
consumir água contaminada para sobreviver.
Na Cisjordânia, Israel desvia as fontes de água das comunidades palestinas
para os assentamentos e plantações israelenses. Além disso, os palestinos estão
proibidos de cavar poços sem licença, a qual raramente é concedida pelo governo
de Israel. E na Faixa de Gaza, o aquífero costeiro está contaminado em 90% por
conta do despejo de esgotos e se encontra em perigo de colapso, segundo Mattar -
que traz ainda dados de que entre 60 e 80 milhões de litros de esgoto não tratados
ou tratados parcialmente desembocam no Mar Mediterrâneo e nas bacias
existentes, dificultando o acesso à água limpa.
A expressão ‘apartheid de água’ apareceu em reportagem do Le Mond em
2012, que tratou do tema colocando a água como uma arma de guerra. Segundo a
reportagem Israel alega boa fé, ressaltando que dobrou a alocação de água aos
palestinos em relação às cotas previstas no Acordo de Oslo, mas que o argumento
não tem fundamento, tendo em vista que cedia aos palestinos apenas 18% do lençol
freático que era o principal recurso dividido e que a população palestina aumentou
muito desde então.
Vale ressaltar ainda que fontes israelenses (RODRIGUES, apud
BENVENISTE E GVIRTZMAN, apud SAFIAN, 2010, p.153) refutam esta versão
argumentando que o consumo israelense é maior devido à incapacidade palestina
de gerenciar seus recursos e ainda que parte dos recursos hídricos consumidos em
Israel é de direito, baseado no princípio de que não há uma ocupação ilegal.
Tendo em vista os pontos apresentados, infere-se que a água nas Relações
Internacionais de Israel é uma variável de inegável importância, um elemento da alta
política do país. O fato é que teve função fundamental na formação do país e ainda
nos dias atuais, onde segue sendo objeto de intensas negociações quanto ao seu
acesso e, por isso, um tema cujos conflitos que envolvem tal disputa ainda
reverberam. Com isso, segue o capítulo 3, que objetiva analisar os usos práticos
que a água virtual tem, especificamente, em Israel e como isso influencia na
minimização do quadro de escassez em que os usos da água competem entre si.
43

Capítulo 3. A água virtual em Israel: evidências empíricas e cenários


prospectivos

3.1 O comércio de água virtual como um instrumento para alcançar a


segurança hídrica e o uso eficiente da água

Segundo Hoekstra (2003, p.14), o conceito de água virtual tem basicamente


dois tipos principais de uso prático: o comércio de água virtual como um instrumento
para alcançar a segurança hídrica e o uso eficiente da água, e o impacto do conceito
de pegada hídrica de consumo e de produção nos recursos hídricos.
Segundo Turton (2001), antes que possamos compreender completamente as
implicações da água virtual, é preciso entender o papel dos recursos hídricos na
sociedade no contexto de um país desenvolvido, como é o caso de Israel. Nessa
questão, levando em consideração a análise dos usos da água no país, feita no
capítulo 2, o chamado vínculo população-alimento-comércio está no cerne do
assunto.
O entendimento se dá a partir de questões importantes como o crescimento
populacional, o qual pode ser considerado o motor fundamental da escassez de
água (TURTON, 2001, p.2). A partir desse crescimento, a demanda de água
aumenta, colocando em risco a segurança alimentar do país, e leva à reflexão do
que se conhece por consumo de fração de água visível e consumo de fração de
água invisível – ou consumo direto e consumo indireto, vide capítulo 1 -, sendo a
primeira aquela contabilizada a partir do recurso hídrico disponibilizado para as
casas (para beber, lavar roupa) e a segunda contabilizada a partir da água utilizada
nos processos de produção dos produtos usados pelos indivíduos (água virtual).
Em termos desta análise,

[…] one human being can survive on 2-5 liters per day for drinking purposes;
between 25-100 liters per day are needed for domestic use such as
sanitation services, washing of clothes and cooking utensils, etc; and
between 1,000 - 6,000 liters per day are used for food and biomass
production. From this it is evident that the volumes of water that a local
authority would need to supply - the so-called visible fraction of water
consumption - is in the order of 27-105 liters per person per day. This pales
into absolute insignificance when compared to the invisible fraction of water
consumption for that same person, which according to Ohlsson (1999:180)
ranges between 1,000 - 6,000 liters per day (depending on where that
person lives and what type of diet is taken as being normal). Stated
differently, at the lowest end of the scale, the invisible water fraction (for
food) is 37 times greater than the visible fraction. At the highest end of the
44

same scale, the invisible fraction of water in the form of food is a staggering
2
57 times greater than the visible fraction. (TURTON, 2001, p.5)

O caso de Israel é uma evidência dos fatos apresentados, pois a quantidade


de água disponível no país não é suficiente para que a produção abranja a
totalidade das necessidades alimentares da população (BECKER, 2013, p. 53). A
Tabela 2 demonstra isso através de um cálculo simples baseado na abordagem da
água virtual desenvolvida por Antony Allan, segundo a qual o comércio de alimentos
ou produtos é na verdade o comércio de água utilizada nos processos de produção,
como apresentado no capítulo 1.

Tabela 2 - Balanço hídrico e importação de alimentos israelense em números aproximados (2009)

Fonte: BECKER, Nir. Water Policy in Israel: context, issues and options, 2013, p.54.

Na primeira parte da Tabela 2, a quantidade de água necessária para


alimentar a população de Israel é de 7,800 milhões de m³ (CM) de água por ano,
acrescida do setor doméstico, urbano e industrial, totalizando 8,600 milhões de m³
de água/ano. Enquanto a água disponível é de 3,000 milhões de m³/ano – sendo

2
Ou seja, considerando que um indivíduo necessite de 3000 calorias de alimentos por dia e que, em
média, leva cerca de um litro de água pra produzir uma caloria de alimentos, seriam 3000 litros de
água por pessoa para a fração invisível de produção de alimentos. O que é 60 vezes mais que a
fração visível normalmente contabilizada. Ainda seguindo esse raciocínio, por ano seriam necessárias
1133 toneladas de água para uma única pessoa, das quais apenas 18 estariam relacionadas com a
fração visível. Logo, não é possível sustentar uma população de 8 milhões de indivíduos alocados em
uma região escassa através da agricultura irrigada por si só, sem a utilização do comércio de água
virtual (TURTON, 2001, p.6).
45

1,500 de água subterrânea; 2,000 de água de reuso e 500 de recurso exportado –,


ou seja, o déficit anual é de 5,600 milhões de m³, que são supridos pela importação
de água virtual.
A segunda parte exibe as importações de água virtual, onde, por exemplo, há
uma importação de 492 mil toneladas de açúcar por ano. A quantidade de água
necessária para produzir 1kg de açúcar é de 1.5 m³, de modo que o açúcar
importado contém 738 milhões de m³ de água virtual.
Segundo Becker (2013, p.54), o Estado de Israel exporta e importa muitos
produtos que contêm água virtual e mesmo que a Tabela 2 não esteja completa,
tendo em vista que não abrange todo o setor alimentar, a conclusão à que se chega
é a de que Israel não pode ser independente no fornecimento de alimentos, já que
os recursos hídricos do país são suficientes pra produzir menos do que a quantidade
demandada para suprir a necessidade alimentar da sua população; e mesmo com a
dessalinização ocorrendo em larga escala, a situação não muda, pois

The additional food that we consume is produced abroad, and we import it


against exports of industrial products, services, and knowledge (virtual water
can also be quantified in imported and exported industrial products). Other
countries in our region also need to import food, that is, virtual water. Tony
Allan found that the Middle East is more dependent than any other region on
virtual water imports. He remarked that this import added in the prevention of
war: if we did not import food, the region’s inhabitants would have fought
desperately for every drop of water. (BECKER, 2013, p.54)

Portanto, a importação líquida de água virtual em uma nação escassa em


recursos hídricos pode aliviar a pressão sobre as reservas disponíveis da própria
nação. De acordo com Hoekstra (2003, p.14), a água virtual pode ser vista como
uma fonte alternativa e se utilizar dela pode levar o país a atingir a segurança
hídrica. O comércio de água virtual de uma nação onde a produtividade da água é
relativamente alta para uma nação onde a produtividade da água é relativamente
baixa implica que são feitas poupanças globais de água real.
Infere-se, assim, que a utilização do conceito de água virtual influencia
fundamentalmente no vínculo população-alimento-comércio, citado anteriormente,
pois a diminuição da pressão humana sobre os recursos naturais, através da
importação de água virtual, pode potencialmente diminuir o risco de insegurança
hídrica e alimentar.
46

3.2 Pegada hídrica e os impactos na água

O segundo uso prático do conceito de água virtual diz respeito à pegada


hídrica, conceito apresentado no capítulo 1, e reside no fato de que o teor de água
virtual de um produto diz algo sobre o impacto ambiental do consumo deste produto.
Ou seja, conhecer o conteúdo de água virtual embutida nos bens e serviços faz com
que se tenha a consciência do volume necessário para produzi-los, propiciando a
ideia de quais bens mais impactam no sistema de água e onde a poupança hídrica
pode ser alcançada (HOEKSTRA, 2003, p.14).
De acordo com a National Water Footprint, a pegada hídrica pode ser vista
sob duas perspectivas: de consumo e de produção. Conjuntamente, levam à
compreensão sobre o uso da água de uma nação e a dependência de recursos
hídricos externos, que podem ser usados para ajudar os governos a gerenciar seus
recursos hídricos, bem como compreender os vínculos entre seu desenvolvimento
econômico, segurança alimentar, relações comerciais internacionais e água.

3.2.1 Pegada hídrica do consumo

A pegada hídrica de consumo é calculada para todos os bens e serviços que


são consumidos pelas pessoas que vivem em um país – podendo estar dentro ou
fora dele, dependendo se os produtos são produzidos internamente ou se são
importados. Para tanto, a mesma é dividida em pegada hídrica interna, que é o
volume de água que se usa para produzir os bens e serviços consumidos dentro do
país; e pegada hídrica externa, que é a água consumida de bens importados, ou
seja, é a água virtual – as exportações do país não são contabilizadas na pegada
hídrica.
Na Figura 16 é possível ver a pegada hídrica do consumo de alguns países.
Em vermelho temos Israel.
47

Figura 16 - Pegada hídrica do consumo per capta, 2001.

Fonte: Relatório Planeta Vivo, 2008, p.18.

Infere-se da Figura que Israel tem uma pegada hídrica de consumo externa
que representa mais de 50% da sua pegada hídrica nacional, ou seja, é dependente
desse recurso para suprir as necessidades internas. Logo, reafirma-se que a
externalização da pegada hídrica, que é feita através do comércio de água virtual,
pode ser uma estratégia eficaz para um país que sofre de escassez hídrica. A
Tabela 3 expressa em números essa informação.

Tabela 3 - Pegada hídrica do consumo em números, 2001.

Fonte: Relatório Planeta Vivo, 2008, p.34. Adaptado pela autora.


48

A população israelense atual é de aproximadamente 2 milhões a mais de


indivíduos do que continha em 2001, quando a pesquisa expressa na Tabela 3 foi
feita pela WWF. Porém, o cenário do país continua o mesmo quanto à pegada
hídrica, pois não houve modificação na extensão territorial, hídrica ou na pegada
ecológica – área total de espaço produtivo requerido para produzir os bens e
serviços consumidos por uma determinada população (Relatório Planeta Vivo, 2008,
p.18) - do país.
Por fim, conclui-se que a pegada hídrica de consumo é uma ferramenta de
gestão de recursos hídricos que indica o consumo de água doce com base em seus
usos diretos e indiretos e que Israel é um país que depende do comércio
internacional para suprir suas necessidades hídricas, mas é preciso entender a
composição da pegada hídrica de produção para examinar a pressão que se exerce
sobre os recursos hídricos do país.

3.2.2 Pegada hídrica da produção

A pegada hídrica da produção é a quantidade de recursos hídricos locais que


são usados para produzir bens e serviços dentro do país, a mesma mede a
quantidade de pressão que está sendo aplicada a esses recursos e reflete o padrão
de vida e as escolhas de estilo de vida dos moradores. Compreender o quanto
dessa pegada hídrica é interna e o quanto está sendo importada é fundamental para
analisar a dependência externa do país e sua influência sobre a alimentação e
outras formas de segurança (National Water Footprint).
Reafirmando o que foi apresentado no capítulo 1, a mesma é medida a partir
da composição de três usos: água azul (de superfície, como rios e lagos, que é
utilizado, mas não recuperado), água verde (volume de águas pluviais armazenado
no solo e que se evapora) e água cinza (água poluída, incluindo a água necessária
para diluir a poluição proveniente do processo produtivo). (RPV, 2008, p.20) De
acordo com o RPV (2008, p.20),

A pressão que se exerce sobre os recursos hídricos azuis calcula-se com a


razão entre a pegada hídrica total da produção – subtraída do componente
verde – e o total de recursos hídricos renováveis disponíveis no país. Cerca
de 50 países já experimentam uma pressão hídrica entre moderada e
acentuada durante todo o ano, enquanto muitos mais se veem afetados
pela escassez de água durante uma parte do ano. Noutros países, a
pressão que se exerce durante todo o ano sobre as águas azuis é reduzida,
49

o que indica que existe potencial para melhorar a produtividade agrícola


através do regadio em áreas apropriadas. (RELATÓRIO PLANETA VIVO,
2008, p.21)

É preciso levar em consideração as fases do processo de produção e os


locais por onde o produto passou ao analisar a pegada hídrica, pois esta varia de
acordo com a quantidade de recurso hídrico disponível na região ou nas regiões
onde o produto vai ser fabricado. Por exemplo, uma camiseta pode ser vendida nos
Estados Unidos, mas ter o algodão cultivado no Brasil e transformado em tecido na
China. A partir disso a pegada hídrica permite que se faça uma ligação entre o
consumo em um país e o impacto no sistema hídrico de outro país, onde o produto
foi produzido.
No caso de Israel, a pressão sobre os recursos de água azul era de 112,28%
no ano de 2001, de acordo com a Tabela 4, o que significa uma situação de estresse
severo, segundo o Relatório Planeta Vivo (2008, p.20). Neste contexto, a importação
de água virtual habilita o país a lidar com o déficit hídrico, dado que o mesmo possui
um efeito devastador sobre a agricultura, tendo em vista que a água é o principal
constituinte vegetal, sendo o mais limitante para a produtividade agrícola.

Tabela 4 - Pegada hídrica da produção em números, 2001.

Fonte: Relatório Planeta Vivo, 2008, p.35. Adaptado pela autora.

O comércio global de bens permite, então, que Israel usufrua dos recursos
hídricos de outros países para atender às necessidades de seus habitantes tendo
50

uma dependência desses recursos externos de 82%, de acordo com o National


Water Footprint Accounts (2011, p.30).

3.3 Quantidade de água virtual nos produtos

Para ter-se um parâmetro real do volume de água virtual comerciada entre


países e também a pegada hídrica dos produtos, Hoekstra e Hung (2002)
elaboraram um estudo com o objetivo de estimar a quantidade de água necessária
para a produção agrícola em vários países do mundo e colocar a água virtual na
balança comercial das nações (PERES, 2017, p.90). Para isso, se utilizaram de
quatro cálculos:

1) Cálculo da demanda específica de água por tipo de produto agrícola do


país específico: SWD = CWR / CY, onde: SWD = demanda específica de
água (m³/ton); CWR = água necessária na produção (m³/ha); CY =
rendimento da produção (ton/ha).
2) Cálculo do comércio de água virtual e da balança comercial de água
virtual: VWT = CT * SWD, onde VWT = comércio de água virtual (m³/ano);
CT = comércio da produção agrícola (ton/ano); SWD = demanda específica
de água (m³/ton).
3) Cálculo da Pegada Hídrica do país: Water Footprint = WU +/- NVWI,
onde Water Footprint = pegada hídrica ou consumo “líquido” de água do
país (m³/ano); WU = consumo interno de água (m³/ano); NVWI = importação
(+/-) líquida de água virtual (m³/ano). É negativo para casos de exportação
de água virtual (ex. Brasil).
4) Cálculo da escassez nacional de água, e dependência ou
autossuficiência em água: WS (%) = WU / WA *100, onde WS = escassez
de água; WU = consumo interno de água (m³/ano); WA = disponibilidade de
água (m³/ano).(PERES, 2017, p.91 apud Food and Agriculture Organization
of the United Nations)

Com base nesses cálculos, segundo Peres (2017, p.93), chegou-se a


conclusão de que “para se produzir 1kg de grão em um país com clima favorável
(alta humidade e baixa evapotranspiração), são necessários cerca de mil a 2mil kg
de água, enquanto em um país de clima seco, serão necessários de 3 mil a 5 mil kg
de água”.
No caso de Israel, tem-se a estimativa da quantidade de água necessária
para a produção agrícola de alguns bens - disponível na Tabela 5 -, através do
estudo disponibilizado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations
(FAO) em seu site www.fao.org.
51

Tabela 5 - Necessidades hídricas de Israel por produto.

Fonte: Adaptado pela autora a partir de: http://waterfootprint.org/media/downloads/Report11.pdf.


Acesso em: 08 de maio de 2017.

É a partir desses dados que Israel tem consciência de quais produtos podem
deixar de cultivar por consumirem muitos recursos hídricos, como a laranja, por
exemplo, passando, então, a importá-los, de forma a promover uma maior eficiência
na alocação da água em diversos setores. Logo, quanto mais eficientes forem esses
cálculos, melhor será a aplicação do conceito da água virtual, possibilitando ao país
diminuir os efeitos da escassez hídrica.
52

3.4 Cenários prospectivos

A segurança hídrica israelense depende de como o seu cenário atual e ainda


o mundial irão se desenvolver. No caso, o que se pode fazer são exercícios quanto a
prováveis cenários futuros. As principais variáveis independentes que tem incidência
sobre os recursos hídricos e que vão estar contidos nessas imagens prospectivas
são o crescimento populacional, os hábitos da população, a possibilidade de se ter a
água como uma commodity, a dinâmica do mercado nacional e internacional, a
dinâmica de uso e ocupação do solo, a atividade industrial, a agricultura irrigada, a
pecuária e a eficácia no uso da água.
No mundo existe um maior consumo de produtos que demandam muita água
na sua produção, como o arroz e a soja, por exemplo. Enquanto outros produtos,
como o milho, que demanda menos água na produção, são menos consumidos.
(World Water Council, 2015) Ou seja, uma reestruturação nos hábitos da população
nesse sentido possivelmente diminuiria a pressão nos recursos hídricos, tendo em
vista ainda que uma dieta vegetariana consome menos água que a dieta de proteína
animal (Agência de Notícias de Direito dos Animais, 2015). Porém, não se tem ainda
uma previsão quanto à mudança dos hábitos alimentares das pessoas nesse
aspecto, o que se pode esperar é que exista uma maior conscientização.
Em relação ao uso e ocupação do solo, em Israel isso é feito de maneira
racional, de modo que se tem a agricultura até mesmo no deserto. Além disso, se
utilizam técnicas que não envolvem pesticidas na agricultura, e isso influencia na
qualidade do solo. Tendo isso em vista, futuramente é provável que não se tenham
problemas com o solo fértil em Israel, o que também incide nos recursos hídricos, já
que no deserto não é possível se produzir uma quantidade variada de produtos,
então se o solo fértil sofrer uma desertificação por mau uso, por exemplo, a
quantidade de água virtual a ser importada seria maior.
A atividade industrial também gera impactos sobre a quantidade e a qualidade
da água. Tem-se que monitorar toda a ação industrial quanto ao que será feito com
a água resultante dos processos de produção, que podem carregar resíduos tóxicos.
Em relação a isso, espera-se que as empresas estejam sempre inovando e tentando
utilizar a quantidade mínima de água nos processos, o que vem acontecendo em
todo o mundo. A projeção futura para essa área é positiva, no sentido de que as
empresas buscam cada vez mais a sustentabilidade e a manutenção da qualidade
53

da água.
Quanto à dinâmica do mercado nacional e internacional, a demanda por
alimentos influencia em toda a cadeia hídrica, então o crescimento populacional é
fundamental nessa questão. Segundo o Instituto Francês de Estudos Demográficos
(Ined) (2015), a tendência é de que a população mundial chegue perto dos 10
bilhões de habitantes em 2050. No caso de Israel, de acordo com o Country Meters
(2017), a população vem aumentando anualmente, como se pode perceber na
Figura 17.

Figura 17 – População de Israel (1951-2015)

Fonte: Country Meters, 2017. Disponível em: < http://countrymeters.info/pt/Israel> Acesso em: maio
de 2017. Adaptado pela autora.

Com o aumento da população, a pressão sobre os recursos hídricos deve


aumentar. O que se espera é que a partir da conscientização que vem sendo feita
desde já quanto ao uso racional e sustentável da água, as populações mudem seus
hábitos e isso tenha influência na cadeia hídrica mundial. Porém, as projeções
futuras são negativas. De acordo com o relatório da WaterAid pelo Dia Mundial da
Água (2017), atualmente 663 milhões de pessoas estão sem água potável e a
previsão é de que 40% da população global tenha problemas com abastecimento de
água potável até 2050. Além disso, o estudo também prevê que doenças como
cólera e malária se tornem mais comuns e que a desnutrição deve aumentar, uma
vez que as comunidades agrícolas enfrentam problemas para cultivar alimentos e
54

criar animais em meio a altas temperaturas.


Em meio a essas projeções existe o debate da água como sendo uma
commodity no futuro, e a possibilidade de mudança do status da água de bem
natural para produto negociado traria diversos efeitos, especialmente para os
indivíduos mais pobres, e implicaria em custos significativos para diversos setores
industriais. Nesse caso os países mais ricos em água teriam vantagem no mercado,
mas também exerceriam maior pressão sobre os seus recursos hídricos, enquanto
os países mais escassos, como Israel, sofreriam as consequências econômicas da
“commoditização” (KAUFMAN, 2012).
As projeções para os cenários futuros da água, então, estão em torno dos
diversos elementos que afetam os recursos hídricos e não são de todo positivas,
apesar dos pontos categóricos como uma possível reestruturação alimentar da
população. O fato é que de acordo com Seifert (2014), “faz-se necessária uma
profunda revisão da questão do hiperconsumo e da ideia de desenvolvimento
ilimitado, não condizente com um planeta de recursos finitos, o que envolve uma
mudança de cultura e educação importantes”.
55

Conclusão

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como a


implementação do conceito de água virtual em Israel pode ser uma alternativa de
política de gestão hídrica para os países que se encontram em situação de escassez
desses recursos. Além disso, também proporcionou a compreensão de como a água
doce se encontra distribuída no mundo e a influência que isso tem na segurança
alimentar e territorial das populações que estão localizadas nesses estados.
Nesse sentido, a análise da distribuição de água e do crescimento
populacional em cada região, permitiu compreender que o Oriente Médio é pouco
contemplado com recursos hídricos, sendo uma zona árida e com regime irregular
chuvas, o que contribuiu para a situação predominante de escassez. Por conta
disso, no caso de Israel, viu-se que o país não possui a quantidade de água
necessária para a produção de alimentos de maneira a suprir a demanda da sua
população, mas verificou-se que por meio da importação de água virtual, Israel
consegue compensar esse déficit.
Adicionalmente, foi possível observar que a formação do Estado de Israel
exerceu influência sobre a sua situação hídrica e também sobre a consciência da
sua população em relação à utilização das reservas do país. O fato de que o país
recebeu uma grande quantidade de imigrantes e foi ator-chave em conflitos
envolvendo disputas por fontes hídricas, fez com que o mesmo se desenvolvesse já
em meio a estratégias de reutilização da água e economia por parte da população.
Assim, voltamos à pergunta de pesquisa: No contexto hídrico israelense, qual
é a aplicabilidade da água virtual como um instrumento de redução do cenário de
escassez?
Verificou-se que a aplicação é feita a partir da implementação de dois usos
práticos do conceito de água virtual: o comércio internacional e o impacto da pegada
hídrica de consumo e de produção nas reservas hídricas. O comércio internacional
de água virtual se dá por meio de commodities, produtos que necessitam de
bastante água em seus processos de produção. Assim, Israel compra produtos
intensivos em uso de água, deixando de produzi-los em seu território, ou seja,
aliviando a pressão sobre as suas poucas reservas e, por conseguinte,
direcionando-as para outros usos.
56

Em relação ao entendimento do segundo uso prático, o teor de água virtual


presente nas commodities, somado à água que vai ser utilizada em sua preparação
futura, formam a pegada hídrica, por meio da qual é possível mensurar o impacto
que esse produto tem no ambiente, ajudando Israel a gerenciar os produtos,
sabendo onde a poupança hídrica pode ser alcançada.
Logo, a hipótese de que no âmbito da geopolítica da água doce, e no contexto
da escassez hídrica israelense, quanto mais eficiente for a internalização na cadeia
produtiva do conceito de água virtual, menor será a competição entre os usos da
água em cenário de escassez, fica comprovada neste estudo de caso, pois de
acordo com os dados apresentados, quanto mais o país tiver conhecimento da
pegada hídrica de cada produto e aplicar esse entendimento na compra das
commodities, maior será sua capacidade em alocar os recursos hídricos de maneira
eficiente, diminuindo, portanto, a competição entre os usos da água.
A partir desse entendimento, a contribuição desse estudo é no sentido de que
os usos práticos do conceito de água virtual possam ser implementados por outros
países como estratégia de diminuição de quadro de escassez. Porém, como
demonstrado no capítulo 1, há o risco de que esta estratégia induza países em
cenários de escassez a se tornarem dependentes dos exportadores de produtos
intensivos em uso de água, sobretudo, commodities.
Ademais, os estudos que envolvem pegada hídrica e água virtual são ainda
pouco desenvolvidos no campo acadêmico e o que se tem não é muito recente,
vindo logo após a apresentação dos conceitos em seu estágio inicial, o que acaba
limitando as pesquisas nesse sentido, mas também motivando a execução de
trabalhos futuros que envolvam o tema, visto que a escassez hídrica tem sido
colocada cada vez mais em pauta, fazendo com que a busca por novas alternativas
de gestão hídrica tenha como foco uma utilização mais eficiente da água doce.
57

Referências Bibliográficas

Agência de Notícias de Direito dos Animais - ANDA. Estudos apontam que falta de
água pode tornar o mundo vegetariano. 2015. Disponível em:
<https://www.anda.jor.br/2015/01/estudos-falta-agua-tornar-mundo-vegetariano/ >
Acesso em maio de 2017.

ALBANARES, Boaz. As lições de Israel que sofre com escassez de água há 67


anos, para São Paulo. São Paulo, O Globo, 28 abr. 2015. Entrevista a Mariana
Sanches. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/as-licoes-de-israel-
que-sofre-com-escassez-de-agua-ha-67-anos-para-sao-paulo-15995107>. Acesso
em abr. 2017.
ALLAN, J. A. The Middle East Water Question. Hydropolitics and the Global
Economy. London: I.B. Taurus & Co. 2002.
ALLAN, J. A. ‘Virtual Water’: a long term solution for water short Middle Eastern
economies? 1997. Disponível em:
<https://www.soas.ac.uk/water/publications/papers/file38347.pdf> Acesso em mar.
2017.

BARENHO, Cíntia. Mekorot, e a privatização das águas. 2012. Disponível em: <
https://centrodeestudosambientais.wordpress.com/category/agua/>. Acesso em abr.
2017.

BECKER, Nir. Water Policy in Israel: Context, Issues and Options. 2013, p.54.
Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=SQRAAAAAQBAJ&pg=PA155&lpg=PA155&
dq=fishelson+1994+israel&source=bl&ots=u4z5yrWa1X&sig=2QZuVLgp3WK1ZwblZ
A-MV9nZ_8M&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwiTlInrxLbSAhXHiZAKHYXTAz4Q6AEIHjAB#v=snippet&q=v
irtual%20water&f=false> . Acesso em abr. 2017.

BELIZÁRIO, Talita; SOARES, Mara; ASSUNÇÃO, Washington. Qualidade da água


para irrigação no projeto de assentamento Dom José Mauro, Uberlândia –MG.
Revista Getec, v.3, ..5, p.53-73. 2014. Disponível em:
<file:///C:/Users/usuario/Downloads/430-1649-1-PB.pdf> Acesso em abr. 2017.

B’TSELEM STATISTICS. Discriminatory water supply. 2017. Disponível em: <


http://www.btselem.org/water/discrimination_in_water_supply> Acesso em 10 de
abrl. 2017.

CAUBET, Christian G. A água doce nas relações internacionais. 1. ed. Barueri,


SP: Manole, 2006.
CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. Dia
Mundial da Água: os impactos da crise hídrica na segurança alimentar e nutricional.
2017. Disponível em: <
http://www4.planalto.gov.br/consea/comunicacao/noticias/2017/dia-mundial-da-agua-
os-impactos-da-crise-hidrica-na-seguranca-alimentar-e-nutricional> Acesso em maio
de 2017.
58

CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO. 3ª


edição brasileira. 2010. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_desertif/_arquivos/unccd_portugues.pdf>
Acesso em abr. 2017.

COPINI, Luana. A gestão da água em Israel, exemplo para o Brasil. 2015.


Disponível em: <http://www.cidadessustentaveis.org.br/noticias/gestao-da-agua-em-
israel-exemplo-para-o-brasil>. Acesso em abrl. 2017.

CORRADIN, Camila. Israel: Water as a tool to dominate Palestians. Aljazeera,


jun. 2016. Disponível em: <http://www.aljazeera.com/news/2016/06/israel-water-tool-
dominate-palestinians-160619062531348.html>. Acesso em abr. 2017.

CRUZ, Miguel Antonio Brandt. A água como arma de guerra no Oriente Médio.
2012. Disponível em: <http://oykosmiguel.blogspot.com.br/2012/11/a-agua-como-
arma-de-guerra-no-oriente.html> Acesso em abr. 2017.
DIAS, Marli Barros. A gestão da água em Israel, exemplo para o Brasil. Maio 2015.
Disponível em: <http://www.jornal.ceiri.com.br/pt/a-gestao-da-agua-em-israel-
exemplo-para-o-brasil/>. Acesso em mar. 2017.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. 2017. Disponível
em: <http://www.fao.org/brasil/fao-no-brasil/en/> Acesso em abr. 2017.

FERNANDES, Cláudio. Criação do Estado de Israel. Brasil Escola. Disponível em:


<http://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-criacao-estado-israel.htm>. Acesso em
abr. 2017.

FREITAS, Eduardo de. Atividade industrial no Oriente Médio. Brasil Escola.


Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/geografia/atividade-industrial-no-
oriente-medio.htm>. Acesso em 06 abr. 2017.

HOEKSTRA, Arjen; CHAPAGAIN, A. K. The water footprint of coffee and tea


consumption in the Netherlands. 2007. Disponível em: <
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S092180090700105X> Acesso em
abr. 2017.

HOEKSTRA, Arjen; HUNG P. Virtual water trade: a quantification of virtual water


flows between nations in relation to international crop trade. Value of Water
Research Report Series No.11, IHE, The Netherlands, 2002. Disponível em:
<http://waterfootprint.org/media/downloads/Report11.pdf>. Acesso em: mar. 2017.
HOEKSTRA, Arjen. Virtual Water Trade, Proceeding of the International Expert
Meeting on Virtual Water Trade. Fevereio. 2003. Disponível em: <
http://waterfootprint.org/media/downloads/Report12.pdf> Acesso em abr. 2017.

IMD’S WORLD COMPETITIVENESS YEARBOOK. 2010. Disponível em: <


http://www.financeisrael.mof.gov.il/FinanceIsrael/Pages/En/News/20110518.aspx>
Acesso em abr. 2017.
59

INED. População mundial chegará aos 10 bilhões em 2050. 2015. Disponível em:
<http://2015/09/populacao-mundial-chegara-aos-10-bilhoes-em-2050-segundo-
estudo.html>. Acesso em maio 2017.

KAUFMAN, Frederick. Future market: Wall Street’s thirst for water. 2012. Disponível
em: <https://www.nature.com/nature/journal/v490/n7421/490469a/metrics> Acesso
em: maio de 2017.
KERSHNER, Isabel. Após anos de crise hídrica, Israel derrota a seca. 2015.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/06/1637877-apos-anos-
de-crise-hidrica-israel-derrota-a-seca.shtml>. Acesso em abr. 2017.
KUSHNIR, Alex. Resolvemos a Crise da Água. Jul. 2016. Entrevista a Rodrigo
Constantino. Disponível em: <http://rodrigoconstantino.com/artigos/israel-
resolvemos-crise-de-agua/>. Acesso em abr. 2017.

LIMA, Adriano José de. Água virtual: Mecanismo de Aprofundamento das Relações
Comerciais Desiguais. 2008. Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/ARQUIVOS/GT12-793-472-
20080504133526.pdf> Acesso em abr. 2017.

MANUAL para apresentação de trabalhos acadêmicos da Universidade Católica de


Brasília. 9. ed. Brasília, DF: 2016. Disponível em:
<http://www.biblioteca.ucb.br/arquivos/manual_apresentacao_trabalhos_2016_9ed.p
df>. Acesso em maio 2017.
MATTAR, Marina. Consumo médio de água de um israelense equivale ao de
quatro palestinos. 2012. Disponível em: <
http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2012/12/consumo-medio-de-agua-de-um-
israelense-equivale-ao-de-quatro-palestinos>. Acesso em 11 abr. 2017.

NINOMIYA, Michael. A guerra pela água e o conflito árabe-israelense. 2011.


Disponível em: <https://mkninomiya.wordpress.com/2011/10/04/guerra-pela-agua-
conflito-arabe-israelense/>. Acesso em abr. 2017.
PENA, Rodolfo F. Alves. Estresse hídrico. Mundo Educação. 2015. Disponível em:
<http://brasilescola.uol.com.br/geografia/estresse-hidrico.htm>. Acesso em 14 mar.
2017.
PERES, Renato de Toledo. A água como recurso territorial na agricultura: o caso
de Holambra/SP. Rio Claro, SP: abril 2017. Disponível e:
<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150415/peres_rt_me_rcla.pdf?s
equence=3&isAllowed=y>. Acesso em abr. 2017.
POPULAÇÃO de Israel. Country Meters. 2017. Disponível em: <
http://countrymeters.info/pt/Israel> Acesso em: maio de 2017.
Portal Consórcio PCJ. O quadro mágico do Saneamento em Israel: planejamento,
perdas hídricas baixas, reuso e recarga do lençol freático. 2015. Disponível em:
<http://agua.org.br/o-quadrado-magico-do-saneamento-em-israel/>. Acesso em abr.
2017.
60

Portal do Ministério do Meio Ambiente. PLANO Nacional de Recursos Hídricos,


Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente. 2015. p. 27.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/secex/_arquivos/3%20-
%20mcs_agua.pdf>. Acesso em mar. 2017.

Portal Ecycle. Os usos da água: conheça quais tipos existem e os fatores que
influenciam a demanda. 2016. Disponível em:
<http://www.ecycle.com.br/component/content/article/63-meio-
ambiente/lb=no&utm_source=eCycle&utm_campaign=d25a48f2fb-
Newsletter_200_29_01_2016&utm_medium=email&utm_term=0_ca1df616f8-
d25a48f2fb-150575977> Acesso em abr. 2017.

Portal Guia do Estudante. A água doce no mundo. 2010. Disponível em : <


http://guiadoestudante.abril.com.br/tudo-sobre/crise-hidrica/> Acesso em abr. 2017.

Portal Mekorot Israel National Water Co. Disponível em:


<http://www.mekorot.co.il/Eng/newsite/Pages/default.aspx>. Acesso em abr. 2017.

Portal Mundo Estranho. O volume de água existente na Terra é constante?.


Redação Mundo Estranho, abril, 2011. Disponível em:
<http://mundoestranho.abril.com.br/ambiente/o-volume-de-agua-existente-na-terra-e-
constante/>. Acesso em mar 2017.

Portal Stop Mekorot. Porquê boicotar a Mekorot? 2014. Disponível em:


<http://stopmekorot.org/6-reasons-to-boycott-mekorot/?lang=pt>. Acesso em abr.
2017.

Portal Toda Matéria. Rio Jordão. Disponível em:


<https://www.todamateria.com.br/rio-jordao/>. Acesso em abr. 2017.

QUEIROZ, Fábio Albergaria de. Hidropolítica e Segurança: as bacias Platina e


Amazônica em perspectiva comparada. Brasília: FUNAG, 2012.
RECURSOS HÍDRICOS E AGRICULTURA. 2013. Disponível em:
<http://www.fundacaobunge.org.br/jornal-
cidadania/materia.php?id=12095&/recursos_hidricos_e_agricultura>. Acesso em abr.
2017.
ROCHA, Luiz Antonio Batista da. Água Virtual. 2010. Disponível em:
<http://outorga.com.br/pdf/Artigo%20293%20-%20%C3%81gua%20virtual.pdf>
Acesso em abr. 2017.
RODRIGUES, Gilberto Souza. Geografia Política e os Recursos Hídricos
Compartilhados: o Caso Israelo-Palestino. São Paulo, 2010. Disponível em:
<file:///C:/Users/usuario/Downloads/2010_GilbertoSouzaRodriguesJR.pdf>. Acesso
em abr. 2017.

ROTHBARTH, Arno. O desperdício e o reuso da água na indústria. 2010.


Disponível em:
<http://www.meiofiltrante.com.br/edicoes.asp?id=594&link=ultima&fase=C&retorno=c
>. Acesso em abr. 2017.
61

SANASA – Sociedade de Abastecimento de Água e Sneamento. A água no nosso


planeta. 2010. Disponível em: <
http://www.sanasa.com.br/noticias/not_con3.asp?par_nrod=525&flag=PC-2> Acesso
em 13 de mar. 2017.

SACHAR, Howard. A history of Israel: From the Rise of Sionism to Our Time. New
York: Alfed A. Knopf, 1998.

SANCHES, Mariana. As lições de Israel que sofre com escassez de água há 67


anos, para São Paulo. São Paulo: O Globo. 28 abr. 2015. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/sociedade/as-licoes-de-israel-que-sofre-com-escassez-de-
agua-ha-67-anos-para-sao-paulo-15995107>. Acesso em abr. 2017.

SANTIAGO, Emerson. Guerra dos Seis Dias. 2012. Disponível em:


<http://www.infoescola.com/historia/guerra-dos-seis-dias/> Acesso em abr. 2017.

SARTORI, Hiram. Vazamentos domésticos e o desperdício de água. Jan. 2017.


Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/vazamentos-domesticos-e-o-
desperdicio-de-agua> Acesso em abr. 2017.

SEIFERT, Fred. As projeções sobre o futuro da água. Fev. 2014. Disponível em:
<http://www.revistaforum.com.br/2014/02/03/as-projecoes-sobre-o-futuro-da-agua/>.
Acesso em abr. 2017.

SILVA, Leonardo Luiz Silveira. A anexação dos territórios ocupados por Israel na
Guerra dos Seis Dias (1967) a partir da perspectiva dos jogos em múltiplas
arenas. Revista Conjuntura Astral. Porto Alegre. v.7, n.35. p. 67-77. Abr./maio 2016.
Disponível em:
<file:///C:/Users/usuario/Downloads/A%20ANEXA%C3%87%C3%83O%20DOS%20
TERRIT%C3%93RIOS%20OCUPADOS%20POR%20ISRAEL%20NA%20GUERRA
%20DO%20SEIS%20DIAS%20(1967)%20A%20PARTIR%20DA%20PERSPECTIVA
%20DOS%20JOGOS%20EM%20M%C3%9ALTIPLAS%20ARENAS.pdf> Acesso
em abr. 2017.

SOUZA, Karen Regina de; FARIA, Ana Maria Jara B. A importância do uso do
conceito “Água Virtual” à luz da atual crise de recursos hídricos no Brasil.
Volta Redonta, junho, 2016. Disponível em: < http://admuff10.com.br/sppma/wp-
content/uploads/2016/06/20.pdf>. Acesso em mar. 2017.

SOUZA, Niza. Israel ensina a cultivar no deserto. O Estado de São Paulo, mar.
2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,israel-ensina-a-
cultivar-no-deserto,336869>. Acesso em abr. 2017.

THE WORLD BANK. Population, total. 2015. Disponível em: <


http://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL?locations=IL > Acesso em abr.
2017.

TOGNA, Renato João BaptistaDella. Recursos hídricos em Israel água


subterrânea em São Paulo. São Paulo: Revista D.A.E.E. Disponível em:
62

<http://revistadae.com.br/artigos/artigo_edicao_87_n_505.pdf>. Acesso em mar.


2017.

TURTON, Anthony R. A Strategic Decision-Makers Guide to Virtual Water. 2001.


Disponívelem: <http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.474.1771&
rep=rep1&type=pdf>. Acesso em abr. 2017.

UNESCO. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos


Recursos Hídricos: água e emprego, fatos e números. 2016. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002440/244041por.pdf > Acesso em mar.
2017.

UNESCO. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos


Recursos Hídricos: água para um mundo sustentável. 2015. Disponível em:
<http://www.unesco.org/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/SC/images/WWDR2015Executiv
eSummary_POR_web.pdf> Acesso em mar. 2017.

UNICEF. Dia Mundial da Água: Prto de 750 milhões de pessoas continuam sem
acesso a água potável. 2015. Disponível em:
<https://www.unicef.pt/18/site_pr_unicef-dia_mundial_da_agua_2015-3-20.pdf>
Acesso em abr. 2017.

UN WORLD WATER DEVELOPMENT REPORT. 2017. Disponível em: <


http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002471/247153e.pdf> Acesso em: maio
2017.

WATERAID. Água selvagem, a situação da água no mundo. 2017. Disponível em:


<file:///C:/Users/usuario/Downloads/Agua%20selvagem%20A%20situacao%20da%2
0agua%20no%20mundo%202017.pdf > Acesso em maio de 2017.

World Water Council. Hábitos alimentares. 2015. Disponível em: <


http://www.worldwatercouncil.org/index.php?id=1> Acesso em maio de 2017.

WWF. Relatório Planeta Vivo. 2008. Disponível em:


<file:///C:/Users/usuario/Downloads/lpr_2008_portuguese_final_lores_2_%20(4).pdf>
. Acesso em abr. 2017.

ZECCHINI, Laurent. Em Cisjordanie, même l’eau est une arme. Le Mond, mar.
2012. Disponível em: <http://www.lemonde.fr/planete/article/2012/03/11/en-
cisjordanie-meme-l-eau-est-une-arme_1655720_3244.html>. Acesso em abr. 2017.

Você também pode gostar