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Por que ir ao show de rock

(Agamenon Magalhães Júnior)

F
ui ao show do RPM (no último dia 24 de setembro) e, como eu já esperava, me encontrei lá
com alguns de meus mais jovens alunos. A pergunta mais frequente nos dias seguintes foi:
“Por que você foi ao show de rock, professor?” Fizeram tantas vezes essa pergunta que a
indagação me fez refletir por que eu teria ido ouvir aquela banda que fizera tanto sucesso em
meados da década de 80. O interessante é que o RPM atingiu o auge do sucesso num período
em que nem um só aluno meu sequer tinha nascido (prova de que o tempo só evidenciou a
vitalidade das canções).
Afora o pressuposto (óbvio) de gostar muito da banda, talvez três motivos principais
para eu ter passado uma hora e trinta minutos empolgadíssimo se destaquem:
O primeiro motivo: o fato de provar para essa garotada que se pode ir a um show de
rock e não se encher de drogas ou álcool. Bastaram-me apenas duas garrafinhas de água
mineral e meia dúzia de latinhas de refrigerantes. Verdade seja dita, eu nunca entendi a
atitude dos jovens perante o próprio modo como se divertem. Eles se embriagam e vão ao
show. O resultado não poderia ser pior: a possibilidade de eles arrumarem confusão
centuplica e, não menos imbecil, jamais se lembram (por causa da embriaguez) do que se
passou no show. Qual o prazer disso? Nenhum, claro!
O segundo motivo vem da satisfação de notar que o rock já não sofre tanta
discriminação quanto sofria antigamente. No show do RPM, notavam-se famílias inteiras
curtindo o som das guitarras elétricas: avôs, filhos e netos, abraçados, cantando canções
nostálgicas e estreitando os laços familiares por meio da música. Muito bacana.
O terceiro e último motivo para eu ter ido àquela cerimônia musical nasceu duma
motivação espiritual: a renovação de meus votos de felicidade comigo mesmo. Explico:
reavivei minhas promessas de juventude por meio da magia da música. Quando se é jovem,
as únicas coisas que são maiores do que a impulsividade são as promessas. Na juventude, fiz
meus juramentos, meus planos de conquistas, meus objetivos para o futuro. E eu os fiz ao
som da maior de todas as artes: a música. O rock’n’roll, mais especialmente.
Ter ouvido e cantado cada clássico da banda foi como ter um encontro comigo mesmo.
Eu encontrei com aquele Agamenon Júnior idealista da pré-adolescência, com aquele garoto
que, ao som de “Juvenília”, sonhou com um país melhor e se deslumbrou com a energia
visceral do rock bem tocado de “Olhar 43” e “Louras Geladas” ou, com bastante ingenuidade,
se deixou envolver em romances fugazes ao som de “London, London”, canção de Caetano
Veloso, interpretada de forma magistral por Paulo Ricardo.
O show me serviu de “elixir da longevidade” porque me fez atentar para uma verdade
da vida: embora o homem assuma responsabilidades na vida adulta ou, por questões
profissionais, ele passe a todos uma postura séria diante dos acontecimentos – seu espírito
continua juvenil, cheio de esperança, repleto de entusiasmo e movido pelo amor, pela alegria
de viver. Isso é imutável.
Naqueles 90 minutos de espetáculo de rock’n’roll, dancei, pulei, aplaudi cada música,
celebrei aqueles hinos que embalaram minha juventude... Entretanto, o momento foi
propício para eu ratificar a maior de todas as leis da vida: ser feliz... sempre.

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