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Três momentos com Peter Frampton

(Agamenon Magalhães Júnior)

F
oi no comecinho da década de 80 que ouvi, pela primeira vez, a música “Breaking All
Rules”, de Peter Frampton. Ela fazia parte de um comercial de cigarros. Reclame muito
bonito, diga-se, cheio de gente bonita, esportes aquáticos e som moderno e vibrante. E foi
justamente a trilha sonora que chamou minha atenção. Eu era muito jovem, não possuía
ainda opinião formada sobre música (muito menos sobre rock), mas, a partir daquela
propaganda, daquele primeiro contato com o som da guitarra, acho que minha tendência
musical por esta sonoridade se determinou para sempre.
Pouco tempo depois, a mesma música apareceria para me dar outro aviso. Na
transição da minha infância para a pré-adolescência, me tornei amigo dum colega de classe e
ele, um pouco mais velho do que eu, vivia me falando a respeito dos melhores grupos de
rock’n’roll, dos mais importantes vocalistas, das canções mais expressivas... Meu amigo
Ranildo Oliveira me apresentou sua coleção de long-plays (os famosos discos de vinil) e, ao
me aconselhar sobre o que eu deveria conhecer naquela nova aventura musical, disse: “Vou
lhe emprestar um clássico, um elepê com as melhores músicas de Peter Frampton”. E
completou: “Ouça desse disco a pauleira ‘Breaking All The Rules’, é genial”. Segui o conselho
do meu amigo, e a música foi o portal para a compreensão de todo um gênero ao qual eu me
vinculei.
“Breaking All The Rules” talvez sintetize, por si somente, tudo o que se espera do bom
rock. A composição apresenta uma introdução arrasadora, os acordes de guitarra são simples,
bonitos e contagiantes (exigência dos clássicos).
Analisando com detalhe, notamos que a música, por causa da natureza eclética de
Frampton, possui em sua estrutura elementos de outros estilos musicais: o próprio solo de
guitarra, belíssimo por sinal, passa pela sutileza do jazz, pelo pop mais elaborado, pelo
rhythm-and-blues tradicional e pela ajuda harmoniosa (às vezes fundamental) das notas
melodiosas do teclado. Som redondo.
Peter Frampton foi um garoto prodígio. Seu primeiro instrumento musical, a guitarra,
o fascinou tanto que já aos oito anos de idade ele chamava a atenção de todos pelos solos
criativos e acordes inspiradores. Criou algumas bandas na adolescência, conseguiu certa fama
no meio musical por causa de seu virtuosismo. Frampton chegou ao topo do mundo em 1976,
com o lançamento do brilhante álbum duplo ao vivo Frampton Comes Alive! – trabalho que
lhe garantiu a venda de 16 milhões de cópias e alguns milhares de dólares na conta bancária.
O ano de 76 se tornou tão marcante para o artista que ele foi cotado para substituir Mick
Taylor nos Rolling Stones (lugar ocupado pelo apenas razoável Ronnie Wood).
Alguns artistas criaram músicas que representaram bem determinado momento da
história; “Breaking All The Rules” surgiu para registrar a alegria e o alto-astral de todas as
gerações. E é essa atemporalidade da canção que me faz lembrar do meu terceiro e definitivo
(re)encontro com Frampton: desde sempre cantei essa música para minha filha. Certo dia,
quando estávamos numa festa e surpreendentemente tocaram esta canção, minha garota, que
mal aprendera a andar e estava do outro lado do salão de festa, correu ao meu encontro, com
os olhos arregalados, e disse: “Papai, papai, estão tocando a nossa música!” E me abraçou.
Curtimos como nunca antes aquele instante musical (e inesquecível). Para mim, essa música,
apesar do tempo, jamais desdourou. Os clássicos são eternos!

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