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Será que se pode dizer que existe uma improvisação vocal na música brasileira?
Foi buscando essa resposta que cheguei a essa pesquisa, que se tornou produto do meu
mestrado profissional em Ensino das Práticas Musicais (PROEMUS) na UNIRIO (Rio
de Janeiro – RJ), orientada pelo prof. Afonso Cláudio Figueiredo.
Em julho de 2015, enquanto participava como bolsista do curso Jazz Clinics,
oferecido pela Berklee College of Music1 na Itália durante o festival Umbria Jazz2,
localizado na cidade de Perugia, comecei a auxiliar a professora de jazz e latin jazz
Nedelka Prescod, já que a grande maioria dos alunos participantes daquela aula gostava
de música brasileira e eu era, então, a única participante brasileira.
A partir daquele momento, comecei a ser chamada para lecionar a linguagem da
música brasileira em âmbito internacional, mas me deparei com a seguinte situação: não
encontrei muito material sistematizado sobre linguagem brasileira voltado para cantores
e muito menos qualquer livro que tratasse a voz como recurso instrumental na música
brasileira. Muitos alunos me pediam para trabalhar improvisação vocal nos repertórios
que explorávamos em sala de aula, baseado na performance de vários cantores
brasileiros que, em determinados momentos fazem variações vocais, numa espécie de
“brincadeira” vocal, tais como Elis Regina (1945-1982), Gilberto Gil (1942), Djavan
(1949), Elza Soares (1937-2022), Tânia Maria (1948) e João Bosco (1946) . Decidi me
debruçar e explorar para a confecção do que mais tarde viria a se tornar o produto do
meu mestrado: um livro que servisse de material de apoio para essas aulas e cursos que
continuo lecionando como professora, mas que também servisse para outras pessoas,
alunos e cantores que desejam começar a explorar a voz de forma instrumental em um
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Instituição de faculdade de música fundada em 1945 localizada em Boston, EUA. Disponível em:
https://college.berklee.edu/.
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Festival de Jazz que ocorre anualmente desde 1973 no mês de julho na cidade de Perugia em Umbria,
Italia. Disponível em: https://www.umbriajazz.it/.
repertório de música brasileira, através de exercícios que vão desenvolver uma
percepção musical que propiciará o inicio de um caminho para a improvisação vocal.
Deste momento em diante, comecei a buscar todas as referências que pudessem
me auxiliar nesse processo e descobri os livros Hear and Sing It!3 da professora Judie
Niemack (2004; 2012), professora no Jazz-Institut de Berlin4. Fui atrás dela para
conversar sobre o assunto e entender sua metodologia. Fiz algumas aulas e achei sua
proposta de livros com play-a-longs5 voltados para a linguagem de jazz e blues para
cantores muito interessante, fluída, divertida e dinâmica. Falei para ela sobre a minha
ideia de fazer um livro que tivesse uma abordagem semelhante na música brasileira e
ela me incentivou.
Além dos livros de Judie Niemack, me deparei com os livros de Bob Stoloff,
professor e vocalista de jazz americano, nos quais aborda a linguagem do scat singing6
americano, tais como Scat! (STOLOFF, 1998) e Blues Scatitudes (STOLOFF, 2003).
Achei fantástica a forma de organizar frases rítmicas com sílabas que expressassem a
sonoridade do jazz e comecei a transcrever solos vocais/instrumentais de cantores
brasileiros, tentando compreender os códigos rítmicos-silábicos dos quais eles se
utilizavam para tentar descobrir se eles mantinham algum padrão em comum. Através
dessas transcrições, percebi que a escolha silábica de cada cantor é muito pessoal, mas
também guarda certas “acentuações” e “articulações” próprias do repertório brasileiro, o
que foi inclusive o tema do meu artigo, escrito durante o curso de mestrado, Padrões
Silábicos do Scat Singing Brasileiro dos anos 60 (TENORIO, 2021), no qual explorei o
universo dos cantores Elza Soares (1937-2022), Leny Andrade (1943) e Johnny Alf
(1929-2010).
Na confecção deste artigo, começaram a surgir certas constatações como o fato
de que muitos dos cantores que usam esse tipo de abordagem em suas vozes sabem
tocar, mesmo que em nível básico, um instrumento harmônico (instrumentos nos quais é
possível tocar várias notas ao mesmo tempo, possibilitando a criação de acordes e
harmonias) como piano, violão e guitarra. O instrumento harmônico possibilita a
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Livros da prof. Judy Niemack voltados para improvisação vocal: Hear and sing it! Exploring Modal
Jazz e Hear and Sing it! Exploring the Blues.
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Instituição conjunta da Universidade de Música “Hanns Eisler” Berlin e da Berlin University of the Arts.
Disponível em: https://jib-berlin.de/lang,0,1,1&sprache=E.
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Acompanhamentos musicais para estudo.
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Segundo o New Grove Dictionary of Jazz, é “uma técnica de canto jazzístico em que sons
onomatopéicos ou sílabas sem sentido, são cantados sobre melodias improvisadas” (ROBINSON, 2002).
Tradução minha do original: “a technique of jazz singing in which onomatopoeic or nonsense
syllables are sung to improvised melodies”.
visualização mais clara de muitos conceitos ao cantor, facilita sua prática vocal e
possibilita mais recurso de exploração experimental de sua voz:
Como sempre toquei piano, decidi gravar exercícios que pudessem servir de
base, mesmo para aqueles que não sabem tocar e principalmente aos meus alunos, para
tais explorações.
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Sequência harmônica que se repete.
Assim, associei áudios, que serviram de base para a prática dos exercícios e que
pudessem trazer rapidamente a atmosfera e as sonoridades de alguns gêneros musicais
que compõem a música brasileira como já tinha visto em métodos americanos de
improvisação com acompanhamento só que voltados para a linguagem do jazz tais
como: Jamey Aerbersold, os livros de Judie Niemack e Bob Stollof já citados.
2. Durante o Curso
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são trechos independentes que podem ser "conectados" a DAWs para aprimorar sua funcionalidade.
(MATHWORKS, [s.d.]). Tradução minha do original: “Plugins are self-contained pieces of code that can
be "plugged in" to DAWs to enhance their functionality”.
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Disponível em https://www.daltoncoelho.com/.
mais específica nos tópicos abordados no livro e razão pela qual demorei a chegar num
caminho metodológico no presente trabalho.
Por fim, compreendi que o assunto inicial proposto no anteprojeto poderia
inclusive ser fonte de uma tese de doutorado, uma vez que existe muito a se explorar,
falar e pesquisar sobre improvisação vocal na música brasileira.
3. Qualificação
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Como a origem grega da palavra, a agógica representa a articulação dos sons, a alteração do
andamento. Portanto, o músico (compositor ou intérprete) se utiliza das modificações rítmicas para
“conduzir” a peça. O termo foi utilizado pela primeira vez neste sentido pelo musicólogo e compositor
Hugo Riemann, em 1884, para apresentar estes desvios do andamento formal como parte essencial do
ritmo e da métrica, necessários a compreensão das frases musicais (MAIA, 2013, p. 20).
O terceiro capítulo é o momento do e-book que entra no cerne do trabalho: o
Caderno de Exercícios. Esta seção, levantada pela banca, abarca muitas das transcrições
previamente feitas, que agora fazem parte de um capítulo maior com foco em seis
músicas brasileiras popularmente conhecidas, executadas por três cantores de vozes
distintas e três cantoras de vozes distintas. Inicialmente, a banca levantou como questão
conflitante a escolha de tonalidade dos exercícios para abarcar vários registros vocais:
dessa forma o livro contemplaria tipos vocais diversos e gêneros diferentes. Neste
capítulo, optei por apresentar um trecho da melodia original, um trecho de improviso e
uma série de exercícios em cima de tais trechos, fornecendo um acompanhamento final,
para então o aluno começar a criar livremente depois de ter desenvolvido alguns
parâmetros de improvisação/variação.
Por último, o capítulo de Exercícios Complementares contém exercícios de
aquecimento vocal no contexto das sonoridades e harmonias encontradas em alguns
gêneros brasileiros. Num segundo momento, há exemplos de vocalizações encontradas
em trechos de músicas brasileiras populares, com exercícios de mudança de direção
melódica e, depois, oferecendo o acompanhamento para o aluno improvisar livremente.
O que era um capítulo de Preparação do estudo, que estava no fim do projeto, se
tornou parte do conteúdo inicial para auxiliar os usuários a potencializarem o uso deste
e-book, através de uma organização sugerida e escolhas que o cantor precisa ter em
mente antes de iniciar esse tipo de prática.
Na versão do livro anterior a qualificação, existia uma seção de glossário com
palavras musicais que seriam explicadas ao fim do livro, mas se chegou à conclusão que
esta parte seria desnecessária, uma vez que o trabalho teria um caráter mais prático do
que teórico. Logo, as palavras que têm uma significado mais técnico vêm explicadas em
notas de rodapé, assim como os links dos áudios das gravações originais exploradas ao
longo do trabalho.
4. Instrumentação
5. Considerações Técnicas
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No som e na música, samplear é a reutilização de uma parte (ou amostra) de uma gravação de som em
outra gravação. Os samplers podem incluir elementos como ritmo, melodia, fala, sons ou barras inteiras
de música e podem ser sobrepostas, equalizadas, aceleradas ou desaceleradas, repetidas, repetidas ou
manipuladas de outra forma. Eles geralmente são integrados usando hardware (samplers) ou software,
como estações de trabalho de áudio digital. Tradução minha do original: “In sound and music, sampling is
the reuse of a portion (or sample) of a sound recording in another recording. Samples may comprise
elements such as rhythm, melody, speech, sounds or entire bars of music, and may be layered, equalized,
sped up or slowed down, repitched, looped, or otherwise manipulated. They are usually integrated using
hardware (samplers) or software such as digital audio workstations”. (SAMPLING…, 2023).
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Disponível em https://musescore.org/pt-br.
6. Próximos Passos
7. Conclusão
COELHO, Dalton. Arranjo vocal: Técnicas básicas para coros a duas e três vozes
acompanhados por instrumentos harmônicos. Rio de Janeiro: Dalton Coelho, 2022.
MATHWORKS. What Are DAWs, Audio Plugins, and MIDI Controllers?. MATLAB &
SIMULINK. [site]. United States: The MathWorks, [s.d.]. Disponível em:
https://www.mathworks.com/help/audio/gs/what-are-daws-audio-plugins-and-midi-
controllers.html. Acesso em: 16 mar. 2023.
NIEMACK, Judy. Hear it and sing it! Exploring Modal Jazz. New York: Second Floor
Music, 2004.
NIEMACK, Judy. Hear it and sing it! Exploring the Blues. New York: Second Floor
Music, 2012.
ROBINSON, J. Bradford. Scat Singing. In: KERNFELD, Barry (ed.). The New Grove
Dictionary of Jazz. 2nd edition. New York: Oxford University, 2002.
STOLOFF, Bob. Scat! Vocal Improvisation Techniques. New York: Music Sales, 1998.
TENORIO, Heloisa. Padrões Silábicos do Scat Singing Brasileiro dos anos 60. Rio de
Janeiro, 2021. Artigo – Curso Proemus - Instituto Villa- Lobos, Centro de Letras e
Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
Disponível em : https://helotenorio.com/wp-content/uploads/2023/03/Artigo-final-
scat60-HT.pdf . Acesso em: 16 mar. 2023.
Referências adicionais usadas para o desenvolvimento do livro:
AEBERSOLD, Jamey The II-V-I progression – New Albany: Alfred Music, 2000.
CAMERON, Julia O caminho do artista: Desperte o seu potencial criativo e rompa seus
bloqueios. Editora Sextante 2017.
CHEDIAK, Almir. Harmonia e Improvisação II. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 2009.
GUEST, Ian. Harmonia – Método Prático. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 2006.
LEITE, Marcos. Método de canto popular brasileiro para vozes médio-graves. Rio de
Janeiro: Lumiar Editora, 2001.
LEVINE, Mark. The Jazz Piano Book. Berkley: Sher Music Co,1989.
The New Grove Dictionary of jazz. New York: ed. Barry Kernfeld, 3 vols, 2002.
WEIR, Michele. Jazz Singer´s Handbook – The artistry and mastery of singing jazz.
EUA: Alfred, 2005.