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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

PROGRAMA UNIFICADO DE BOLSAS


Relatório Final 2021-2022

““COLABORAÇÃO PIANÍSTICA PARA CANTORES:


Uma prática visando o aprendizado conjunto dos alunos de canto e piano”

Discente: Christian Yuki Yokosawa


Orientadora: Maria Yuka de Almeida Prado

Ribeirão preto
2022
1) Introdução

O pianista hoje apresenta diversas funções no âmbito musical, e isso exige dele uma
flexibilidade maior em relação às competências, sendo a colaboração pianística com cantores
uma delas. Entretanto, essa relação ainda se apresenta pouco explorada desde conservatórios
de música até em ambientes universitários, além de que pouco material ainda é
disponibilizado para estudo. Por conta disso, o projeto o qual foi posto em prática durante o
período de um ano, foi essencial para um maior aprofundamento do aluno tanto no aspecto de
revisão literária sobre os diversos materiais, quanto na atuação prática com alunos de canto da
universidade.

Como um exemplo de aluno com grande déficit na área da colaboração pianística,


consegui durante esse período explorar formas diferentes para aprimorar não apenas minha
leitura à primeira vista, mas a desenvolvimento de uma conexão com cantor para que fosse
realmente possível esse diálogo musical entre o pianista e cantor.

2) Objetivo

O objetivo basicamente foi no aprimoramento do aluno na atuação da colaboração


pianística a fim de possibilitar um trabalho mais dinâmico, e confiante por parte do pianista e
um aprofundamento na literatura a qual proporcionou melhor entendimento e maneiras mais
eficientes de trabalhar essa competência ainda em crescimento. Com isso é possível mostrar
também quais foram os benefícios para o aluno tanto de piano quanto de canto.
3) Métodos

O projeto foi dividido em várias etapas. A primeira delas foi a revisão bibliográfica,
em que se baseava em todos os meses adquirir novos materiais de autores que falavam sobre a
colaboração pianística, leitura à primeira vista, questão de mapeamento corporal, e as
competências necessárias para o pianista realizar as atividades. Junto a isso foram feitas
gravações de leitura à primeira vista de repertórios de canto e piano, e durante o ano de 2021,
em que estávamos um período pandêmico mais acentuado, não foi possível a colaboração
presencialmente, portanto, o repertório de canto dos alunos da graduação foi também gravado.

Após o retorno das aulas presenciais, foi possível pôr em prática a real colaboração
pianística, com as cantoras de graduação Brenda Grigol e Gabriela Vian do segundo ano de
graduação. As aulas eram ministradas nas terças-feiras e nas quintas-feiras e foi abordado
diversos aspectos da colaboração, desde a questão interpretativa, respiração e técnicas que
auxiliassem na correpetição, até treinos de leituras à primeira vista.
4) Resultados e indicadores de avaliação

Sobre o primeiro mês atuando na colaboração com os cantores, foi possível ter uma
noção razoável a respeito dos alunos da Licenciatura e Bacharelado do primeiro ano.

Devido a pandemia, toda a atividade se permaneceu a distância através de gravações


de vídeo as quais eram primeiramente feitas pelo piano e então enviadas aos cantores. Nos
primeiros vídeos, houve certos desencontros devido a atividade ter sido realizada à distância,
porém com o feedback dos cantores, foi possível ter uma noção melhor a respeito dos
seguintes aspectos:

1- Respiração
2- Tempo o qual seriam realizadas as fermatas
3- Andamento
4- Aspecto musical
5- Melhor compreensão do texto lírico

Além disso, foi possível também durante as aulas semanais, observar o nível em que
os cantores se encontravam, tendo alguns com mais dificuldades técnicas que outros. Os
alunos os quais estão sendo trabalhados são:

Licenciatura:

1- Tácristy Rodrigues
2- Nathália Claro
3- João Vitor
4- Ingridy Biscio
5- Fernando Vidal Munhoz
6- Debora Peyneau

Bacharelado:

1- Gabriela Vian
2- Carmen Costa
3- Fernanda Brochi
Com esses alunos, foram trabalhadas as obras: An die Musik – F. Schubert (Fernando
Vidal), Pietà Signore (Tácristy), Ici bas – Fauré (Ingridy Biscio), Vaga Luna (João Vitor),
Vieni, vieni o mio dilleto (Nathália Claro), Die Forelle – Schubert (Gabriela Vian e Fernanda
Brochi) e Heidenroslein – Schubert (Gabriela Vian, Carmem Costa e Fernanda Brochi).

Durante o processo de gravação, assim como mencionado no projeto, todas as obras


recebidas pelos cantores eram primeiramente gravadas à primeira vista no piano com apenas
uma tomada de vídeo, independentemente dos erros. Nessa prática os vídeos foram apenas
armazenados para que futuramente fosse possível analisar o progresso na leitura.

Após o processo da leitura à primeira vista, foi realizada a gravação a qual seria
enviada para os cantores. Para uma melhor performance, foram feitas análises tanto na
tradução quanto na interpretação do texto lírico a fim de alcançar resultados melhores na
gravação. Conforme foram sendo regravadas as peças, tanto os cantores quanto a professora
Dra. Yuka observaram melhoras consideráveis em relação às primeiras gravações de cada
peça, apresentando evolução no aspecto musical, e melhor fluidez nos andamentos.

Durante o segundo e terceiro mês houve menos gravações para os cantores, tanto do
bacharelado quanto da licenciatura devido a necessidade apenas de ajustes nas peças as quais
foram já enviadas para a avaliação semestral. Foi possível, durante as aulas semanais, ter uma
melhor troca de ideias a respeito das obras, tanto com a docente quanto com os alunos,
facilitando também um melhor feedback em relação ao mês passado. Durante as discussões
eram feitos debates sobre a tradução e a interpretação das obras, auxiliando a regravação das
peças.

A seguir estão as gravações feitas durante o período de pandemia para os cantores e as


gravação de leitura à primeira vista:

Leitura à primeira vista:

https://drive.google.com/drive/folders/19VomAUOM6qzhTeOXXEpn6fA87pHaG7R7?
usp=sharing

Gravações Bacharelado:

https://drive.google.com/drive/folders/1JlhV4O-C_lbathksDGggLxQb7vuIvpgw?usp=sharing
Gravações Licenciatura:
https://drive.google.com/drive/folders/1j2rkEq4aQt92ExRo_Yx34QSYkEU8E5J8?
usp=sharing

Após o retorno das aulas presenciais, as alunas que passaram a ser correpetidas foram,
Gabriela Vian e Brenda Grigol. Felizmente, com o retorno das aulas, foi realmente possível
obter um progresso maior na prática da colaboração pianística e isso possibilitou uma fluência
e facilidade maior tanto na leitura quanto na questão auditiva de estar sempre prestando
atenção aos diversos elementos durante a música, visto que a colaboração pianística apenas é
realmente possível quando feita presencialmente e de forma síncrona. As aulas iniciaram em
março e foram até o mês de julho, tendo sido trabalhado vários repertórios em aulas e para
avaliações, como:

Danza, danza, fanciulla gentile, Gia il sole dal gange, La pastorella, Lasciatemi morire,
Sull’aria, Amarilli mia bella e Vergin Tutto Amor.

Revisão literária

Sobre a revisão literária, foi realizada uma leitura de diversos autores tanto brasileiros
quanto estrangeiros que abordavam assuntos sobre as dificuldades enfrentadas, competências
necessárias, e o preparo mental para a atuação na colaboração pianística.

Segundo Sousa (2016), na prática da colaboração, a respiração do cantor deve ser


totalmente respeitada pelo pianista, o conhecimento fonético e a compreensão do texto são
essenciais para uma interpretação mais profunda, pois muitas obras apresentam variedades
não apenas de personagens, mas de ambientes o qual devem ser incorporados durante a
execução. Além disso, Sousa destaca a importância de uma boa relação entre o pianista e o
cantor, no aspecto de empatia, equilíbrio e gentileza que são elementos os quais geram maior
segurança, principalmente durante uma situação de performance. O pianista colaborador
precisa estar sempre ciente da necessidade de dar o apoio em qualquer momento da
performance. Um dos métodos que os cantores usam para comunicar suas intenções para o
pianista é na utilização/ manipulação de ar. A ingestão de ar cria o movimento corporal, o
que, por sua vez, dá ao acompanhador a noção do ritmo e da intensidade.

Adler (1965), Katz (2009) e Risarto (2010), em seus artigos, fazem uma série de
competências necessárias para atuação nessa área da colaboração os quais foram listados por
Luciana (2014) em seu artigo:
1. Habilidade motora, que se reflete na técnica instrumental por meio do estudo
contínuo;

2. Habilidade motora ocular: velocidade dos olhos, varredura de frases, motivos e


identificação de unidades sonoras para concepção da fraseologia e sentido musical;

3. Habilidade em utilizar visão periférica para seguir as respirações e expressões


corporais e faciais do solista;

4. Habilidade de entendimento e antecipação da leitura em relação à execução: ver e


imaginar imediatamente quais são as próximas notas, acordes ou até compassos que virão e
como soarão;

5. Habilidade de dar continuidade e/ou corrigir erros da partitura inconscientemente,


inclusive alterando “tropeços” ou “esbarrões” para criar coerência, rápida capacidade de
reação;

6. Habilidade de antecipar, completar ou adivinhar acordes, se necessário;

7. Habilidade de reconhecimento do teclado pelo tato e pela visão periférica;

8. Habilidade de monitoramento visual, auditivo e rítmico na leitura à primeira vista


para governar a execução à primeira vista e executar a música em tempo real;

9. Habilidade de incluir aspectos expressivos na leitura à 1ª vista: representação


mental da dinâmica na partitura, concepção das frases;

10. Habilidade em simplificar ou modificar uma passagem nos seguintes casos:

 Grande dificuldade técnica no trecho;

 Carência da essência da parte orquestral original;

 Necessidade de horas excessivas de prática para alcançar o resultado.

Todas essas competências, obviamente, são trabalhadas simultaneamente durante a


prática da colaboração, visto que, ao passo em que o aluno vai evoluindo no aspecto da
colaboração e da leitura, este consegue ter reflexos e macetes mais rápidos quando se deparam
com repertórios novos.
Durante a revisão literária de Risarto (2010) foi possível notar que este faz uma análise
bem profunda da metodologia de Wilhem Keilmann a qual será mencionada a seguir:

O método de Wilhelm Keilmann basicamente é uma metodologia focada em aprimorar


a leitura à primeira vista do pianista. Esse método foi proposto por Keilmann, um pianista,
regente e compositor, o qual via uma enorme necessidade de trabalhar essa área essencial no
piano, visto que muitas vezes é tratada de maneira superficial. Dentro de seu método,
Keilmann aborda diversos exercícios como: reconhecimento táctil das teclas brancas e pretas,
treinamento de saltos, acidentes e intervalos harmônicos até acordes com quatro notas e suas
inversões. Nessa fase do ensino, o pianista recomendava que o teclado fosse totalmente
coberto para que fosse evitado ao máximo esse vício de sempre olhar para as teclas.

Um dos pontos relatados por Keilmann é sobre a questão de ser necessário um


trabalho totalmente mental quando se está lendo, procurando sempre encontrar padrões e
agrupar as notas rapidamente, identificando compassos, ritmos, acidentes, contorno melódico
e tonalidade. ‘Nos exercícios de Keilmann é trabalhado também a questão rítmica através de,
incialmente, solfejos rítmicos simples, até a exercícios que exigem não apenas a leitura
rítmica, mas também melódica pois isso auxilia tanto na compreensão harmônica quanto no
desenvolvimento auditivo. Após um certo avanço, é então proposto ao aluno exercícios os
quais usam os cinco dedos em posição fixa a fim de que não seja necessário, inicialmente, se
preocupar com o dedilhado, evitando sempre olhar para as mãos. Nos seus 123 exercícios,
Keilmann vai progressivamente acrescentando mais detalhes e ritmos cada vez mais
diferenciados e diz sobre a necessidade de tentar o máximo que possível tocar as peças de
forma bem musical, mesmo sendo à primeira vista.

Todos esses pontos apresentados pelos autores, possibilitaram um norteamento sobre


quais seriam os focos durante a prática do projeto, visando um estudo eficiente dessa prática
tão importante.
5) Conclusões

Sobre a colaboração pianística:

“Collaborative piano is a recent specialty that has existed as a college


major only since the second half of the 20th century, compared to a music degree
that had been in existence for an entire century prior. (BINDEL, 2013, p. 22)

Isso mostra que a área da colaboração é, de fato, muito recente e devido a isso, pouco
explorada ainda. Contudo o projeto possibilitou, acima de tudo, uma compreensão mais
profunda sobre essa área, e como trabalhá-la o que tornou o processo do aprendizado e
aprimoramento muito melhor. A união das aulas, tanto durante a situação pandêmica e
presenciais, com as pesquisas a respeito da área foram de imenso auxílio para meu
desenvolvimento.

Como afirma BINDEL (2013), o colaborador, até hoje, ainda sofre por uma falta de
igualdade e na maioria das vezes é julgado como inferior e por esse fato acaba sendo menos
explorado. Mas a realidade é oposta, visto que hoje o que é majoritariamente procurado no
mercado de trabalho é um bom pianista colaborador, o qual está presente não apenas para
acompanhar, mas também para ensinar e ser o personagem o qual as obras necessitam.
Referências Bibliográficas:
KATZ, Martin. The complete collaborator: The pianist as partner. Oxford University
Press, 2009.
MUNDIM, Adriana Abid. O pianista colaborador: a formação e atuação performática
no acompanhamento de flauta transversal. 2009. 135 f. Dissertação (Mestrado em
performance Musical) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2009.
RISARTO, Maria Elisa Ferreira. A leitura à primeira vista e o ensino de piano.
Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. São
Paulo, 2010.
ADLER, Kurt. The art of accompanying and coaching. In: The Art of Accompanying
and Coaching. Springer, Boston, MA, 1965. p. 182-240.
LINDO, Algernon. The Art of Accompanying. New York: Schirmer, 1916
SOUSA, Luciana Mittelstedt Leal de. Interações entre o pianista colaborador e o
cantor erudito: habilidades, competências e aspectos psicológicos. Dissertação (Mestrado),
Universidade de Brasília, Departamento de Música, 2016.
PIANO, LEITURA À. PRIMEIRA VISTA AO. PRISCILA LOPES BOMFIM
MUNIZ.
BINDEL, Jennifer. The collaborative pianist and Body Mapping: A guide to healthy body use
for pianists and their musical partners. Arizona State University, 2013.

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