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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

RELATÓRIO DE TIROCÍNIO DOCENTE ORIENTADO

Violão suplementar I

PABLO PÉREZ DONOSO

Salvador
Abril/2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

RELATÓRIO DE TIROCÍNIO DOCENTE ORIENTADO

Violão suplementar I

Relatório de atividades apresentado como


requisito parcial da atividade curricular
obrigatória Tirocínio Docente Orientado
(MUS 791).

Orientadora: Dra. Cristina Tourinho

PABLO PÉREZ DONOSO

Salvador
Abril/2017
Sumário
1. Introdução..............................................................................................................................3
2. Caracterização da turma.........................................................................................................4
3. Conteúdo programático desenvolvido...................................................................................5
4. Frequência e avaliação dos alunos.........................................................................................6
5. Conclusões.............................................................................................................................6
Referências..................................................................................................................................7
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1. Introdução
O presente trabalho corresponde às exigências da atividade curricular obrigatória
Tirocínio Docente (MUS 791) do PPGMUS-UFBA, realizado sob orientação da Professora
Dra. Cristina Tourinho. Nele abordarei minha experiência em sala de aula como professor
da disciplina de Instrumento Suplementar I (Violão), na graduação em música da
Universidade Federal da Bahia. As aulas foram desenvolvidas no semestre
correspondente a 2016.2, entre os meses de Novembro de 2016 e Março de 2017.
O objetivo principal da disciplina, segundo ementa, é de “habilitar os estudantes
não violonistas dos diversos cursos da EMUS a expressarem-se por meio do violão”.
Entre os objetivos secundários temos: preparação de peças cifradas e por partitura tanto
em formação grupal quanto interpretação solo; conceitos da técnica básica do
instrumento; improvisação elementar e criação de arranjos; e exercitar a leitura à primeira
vista. Para chegar aos objetivos foram realizados 11 encontros de 100 minutos cada,
semanais e grupais. Foi disponibilizado material via e-mail (partituras, cifras, etc) que
seria utilizado progressivamente durante as aulas. As etapas, repertório e processo
avaliativo foram pensadas a partir dos objetivos e necessidades pessoais dos estudantes.
A avaliação foi feita de forma processual, partindo do desenvolvimento individual de
cada estudante e sua interação nas aulas grupais. No último encontro foi realizada uma
avaliação final da interpretação do repertório solo e grupal, os estudantes tiveram também
a oportunidade de se auto avaliar. Foi feito um calculo simples das três notas para
determinar a nota final. A conclusão do semestre foi positiva, os alunos tiveram ganhos
significativos não só na questão técnica mas na compreensão do violão como um
instrumento que pode ser utilizado em diversos contextos artísticos e educativos. Um dos
pontos mais positivos foi a experimentação de diversas possibilidades no estudo do
instrumento para repertórios variados, na preparação de arranjos e um pouco de
improvisação.
Este relatório está estruturado da seguinte forma: primeiro será feita uma
caraterização da turma, visando aspectos individuais, do contexto e da interação do
grupo; logo será apresentado o conteúdo programático desenvolvido; depois será feita
uma sumarização da presença dos alunos e realizado uma breve análise da relação
faltas/desenvolvimento; para finalizar serão tecidas algumas conclusões sobre a
experiência.
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2. Caracterização da turma
Alguns ajustes na matrícula dos estudantes terminou modificando a lista inicial de
alunos inscritos na disciplina, sem isto prejudicar muito pois o impasse foi resolvido antes
de iniciar as aulas. Com a configuração final ficaram matriculados dois alunas de
Instrumento Suplementar I e um aluno de Instrumento Suplementar III que estava sem
turma e que a professora Tourinho solicitou fosse remanejado neste grupo. Isto não
afetava a configuração das aulas, pelo contrário era favorável, pois as aulas foram
pensadas para serem grupais, no formato de aula de Violão coletiva, onde se preza muito
pela troca de experiências.
Neste relatório manterei o anonimato dos estudantes para evitar problemas éticos
futuros, os nomes serão trocados por letras: Aluno A, Aluno B e Aluno C. No primeiro
encontro os alunos preencheram um questionário que a professora Tourinho
disponibilizou para mim via e-mail. Este questionário tinha como objetivo sondar a
vivência anterior dos alunos com o violão e os objetivos que eles almejavam na disciplina.
Também foi feita uma pequena audição, não necessariamente deles tocando músicas
completas mas para saber em que nível estavam chegando.
O aluno A já tinha cursado outras disciplinas similares, tocava violão apesar de não
ser violonista, por ser estrangeiro tinha interesse em aprender algo do repertório popular
brasileiro, especialmente do choro. Ele escreveu no questionário que desejava
desenvolver sua técnica para aplicá-la depois na música popular. Na primeira audição
tocou uma música conhecida do repertório básico do violão brasileiro, apresentava alguns
problemas de postura e tensão especialmente na mão esquerda.
A aluna B tinha a flauta como instrumento principal, já conhecia alguns acordes no
violão mas nunca aprendeu a tocar nenhuma música. Ela indicou que queria aprender a
tocar violão para facilitar seu trabalho com crianças e por gosto pessoal. Sabia segurar o
violão mas apresentava problemas de postura e tensão nos ombros e mãos.
A aluna C desenvolvia trabalhos com musicalização infantil, o instrumento principal
dela era o piano. Ela queria aprender a tocar violão para usar ele nas aulas nas escolas
regulares pois o piano ou teclado eram de difícil locomoção. Chegou sem saber nada
sobre o violão e pediu para ensinar desde zero.
Foi uma turma que interagiu bastante bem, não houve nenhuma desistência e eles
se ajudavam constantemente com o material, com os avisos e com os estudos. As aulas
foram realizadas na sala 213 que dispõe de violões, estantes e apoios para o pé.
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3. Conteúdo programático desenvolvido


Na atualidade é possível observar diversas propostas que se apresentam como
alternativas ao ensino tradicional de instrumento nos múltiplos espaços onde ele
acontece. Não sendo o objetivo central da disciplina formar concertistas a metodologia
deve ser diferenciada de disciplinas que sim tem esse objetivo. Dessa forma, as aulas
aconteciam coletivamente, entendendo aqui o ensino coletivo como o momento no qual
acontece a “transposição inata do comportamento humano de observação e imitação para
o aprendizado musical” (TOURINHO, 2007, p. 2), ou seja um momento no qual todos
aprendem com todos por meio da observação, imitação e diálogo. A disposição dos
alunos na sala era em forma circular, de maneira que todo mundo pudesse ver o que os
outros faziam, incluído o professor.
Como relatado anteriormente, no primeiro encontro tivemos conversas e um
questionário que permitiram desenhar o conteúdo a ser desenvolvido e a forma como ele
seria administrado. Tivemos 11 encontros ao longo do semestre para os quais pensamos
em atividades que pudessem dar aos alunos experiencias com o violão em diversas
facetas. Cada aula era separada por momentos que envolviam práticas distintas, assim:
havia um momento para preparar repertório em partitura, outro para ler cifras, outro para
analisar as músicas, outro para ensaiar a música grupal. A todo momento os alunos
trocavam ideias sobre o que sabiam do assunto.
Por se tratarem de atividades que na maioria dos casos se desenvolviam como
processos e não podiam ser finalizadas numa única aula, foi pensado tratar os conteúdos
em blocos maiores. Assim, da primeira até a terceira aula a atenção foi voltada mais aos
aspectos da técnica básica do violão. Conversamos sobre o uso do corpo para tocar um
instrumento, aproveitei o momento para apresentar ideias que estou desenvolvendo na
minha pesquisa sobre como o corpo e a mente funcionam integrados na prática de um
instrumento e sobre como é importante respeitar os limites dos nossos corpos. Ensinei
algumas técnicas de aquecimento e alongamentos e trabalhamos a postura da forma
como Fernandez (2000) propõe, a partir do corpo de cada um e sem interferência do
professor. Na terceira aula já era notória a diferença em relação a problemas de tensão
muscular nos membros superiores apresentados no início.
Da quarta aula até a sexta fizemos um trabalho mais focado na leitura de partitura
e cifras no violão, a exceção do aluno A as outras alunas não sabiam ler partitura no
violão. Criei uma série de jogos de perguntas e respostas envolvendo as casas do violão,
o nome das notas e sua grafia na partitura. Cada aluno perguntava ao outro
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aleatoriamente e o outro respondia. Algo que notei foi que com esses jogos não havia
fixação por uma região específica do violão como quando se aprende do jeito tradicional
(nas primeiras cinco casas durante bastante tempo), pois sendo um jogo eles tentavam
dificultar a pergunta para o aluno que fosse responder e as casas mais utilizadas foram as
da região aguda, além da quinta casa. Depois dessa atividade realizávamos leituras à
primeira vista de músicas pequenas, escolhidas por mim antes da aula. Neste instante
estávamos somente trabalhando com melodias simples. Em relação às cifras trabalhamos
a partir de “desenhos” dos acordes que eles imitavam e tentavam reproduzir. As músicas
escolhidas foram: Jorge do Fusa de Anibal Augusto Sardinha “Garoto” para o Aluno A;
Andante de H. Pinto para a Aluna B e Poco Andante de N. Coste para a Aluna C as duas
músicas extraídas do livro de Pinto(1978).
Da sétima aula em diante já era possível fazer um trabalho mais criativo. Os alunos
analisavam trechos pequenos das músicas e pensavam como estes podiam ser
transpostos a outras tonalidades. Também realizavam análises da harmonia das músicas
para pensar como os acordes se relacionam dentro do contexto tonal. Nesta etapa
também focamos mais na preparação do repertório que consistia em uma música solo e
uma grupal, pensando no recital final e na avaliação. Apresentei para eles diversas
técnicas de estudo: estudo lento e com metrônomo, seleção de passagens segundo o
fraseado, estudo de seções, estudo com repetição. Sempre visei por que eles fizessem
uma prática variada, fazendo um pouco de cada coisa em seções curtas.
Os alunos não puderam participar do recital final por questões pessoais e de
horários, pelo qual fizemos uma pequena apresentação interna na sala e no horário da
aula. Gravei as interpretações em video que eles assistiram logo depois para ter uma
visão externa da sua interpretação. Seguidamente cada um fez uma auto avaliação que
devia finalizar com a sugestão de uma nota para eles mesmos. Depois eu falei para cada
um do processo e avanços que tiveram, das dificuldades e das facilidades e sugeri uma
nota pelo processo que eles podiam contestar. Todos sugeriram notas menores que as
que eu pensava dar, demonstrando forte auto crítica. Dessa forma chegávamos a um
comum acordo sobre as notas do processo de aprendizagem, essas notas, valendo 80%
seriam somadas à nota da avaliação final (10%) e de assiduidade (10%).
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4. Frequência e avaliação dos alunos


A relação de frequência e notas dos alunos é a seguinte:
Nome Faltas Nota final
Aluno A 4 9
Aluno B 3 8
Aluno C 5 7

No final do semestre foi possível ter uma visão da relação entre as faltas de cada
estudante e seu desempenho durante o processo, o qual foi cristalizado nas notas finais.
Realizarei aqui uma breve análise do processo de cada estudante.
O Aluno A chegou já sabendo tocar, com experiencia anterior no violão clássico
mas apresentava bastantes problemas técnicos, especialmente de falta de relaxamento e
problemas posturais. Como ele foquei mais nesta parte, já que seu maior interesse na
disciplina era desenvolver sua técnica. Fomos gradualmente, desde como sentar na
cadeira, até a preparação final de uma obra que ele escolheu. Cabe aqui mencionar que a
obra escolhida tinha um nível bastante alto e que seria necessário muito esforço para
conseguir finalizá-la. Aceitamos o desafio e vi ele bastante motivado por isso. Apesar das
faltas era visível que eles estudava em casa e seguia as indicações com cuidado. Seu
desempenho foi ótimo e no fim conseguiu tocar a peça quase sem erros e inserindo
aspectos de interpretação a partir da análise harmônica que desenvolveu nela.
A aluna B tinha facilidade com a mão esquerda e alguns problemas na mão direita
que tensionavam sua postura. Ela queria desenvolver conhecimentos mais gerais no
violão, para ensinar a crianças. O trabalho com ela esteve mais focado em descobrir
como o violão funciona e como é construída cada etapa de aprendizagem, desde a
técnica até a interpretação musical. Enquanto ela descobria os caminhos a partir de dicas
e deduções ia compreendendo melhor a dinâmica e pensava em como aplicar esses
conhecimentos em futuras aulas. O trabalho em aula foi bastante produtivo, infelizmente
ela não tinha violão em casa e isso freou os avanços que poderia ter tido na parte da
execução. Mesmo assim, pela facilidade técnica que possuía conseguiu tocar de forma
aceitável as músicas na avaliação final.
A Aluna C chegou sem saber nada de violão, demonstrava bastante interesse em
aprender e aproveitava bem os momentos da aula. No início demonstrava ter dificuldade
em relação à postura que com o tempo foi melhorando. Focamos mais na leitura pois foi
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algo que atrasava um pouco os avanços dela com as peças. Até a metade do semestre
demonstrava avanços significativos que se viram reduzidos quando teve devolver o violão
emprestado que ela tinha e também por questões no trabalho que começaram a ocupar
seu tempo. Foi uma aluna muito assídua até a metade do semestre e depois começou a
faltar. Essas faltas e a falta de violão em casa terminaram afetando seu desempenho final.

5. Conclusões
Para concluir alguns aspectos positivos e negativos são levantados. Desde minha
perspectiva, como aluno do doutorado em Educação Musical, toda oportunidade de
realizar trabalhos de ensino são produtivos e esta não foi uma exceção. Entre os aspectos
positivos posso destacar o trabalho coletivo com ensino de instrumento em contextos
diferentes aos que estou acostumado, como a preparação de instrumentistas de concerto.
A estrutura foi boa e permitiu ter aulas de forma sossegada e concentrada, o material
também foi suficiente para o trabalho desenvolvido. Um aspecto negativo e que
prejudicou bastante foi a falta de instrumento dos estudantes para sua prática individual
em casa. Se bem é verdade que um estudante de música deve pensar na compra de
instrumentos como investimento às vezes isso não é possível no nosso contexto,
instrumentos aceitáveis não são baratos. Alguns lugares emprestam instrumentos para
que os alunos levem para casa ou estudem nas instalações da instituição. Sem entrar em
questões internas, talvez seja algo a ser pensado pelos responsáveis futuramente, sem
deixar de lado os problemas que isso possa trazer, um debate é necessário ao respeito.
Em relação aos objetivos iniciais e os resultados finais, posso qualificar a
experiencia como positiva. Os estudantes demonstraram no final do semestre ter aptidão
para conseguir se expressar por meio do violão, utilizar ele em aulas ou tocar algo. A
parte da compreensão do processo, ou saber aprender no violão, foi o que mais superou
minhas expectativas. Todos os alunos mostraram muito mais interesse pelo caminho que
leva aos resultados e entenderam que sem isso não é possível simplesmente tocar algo
do nada. A paciência é fundamental na aprendizagem de um instrumento e conseguir
enxergar todo o processo antes, planejando o que vai ser feito e entender porque será
feito ajuda a manter o foco.
Algumas recomendações para experiencias futuras tem a ver mais com a
organização do material previamente. Mesmo usando a experiencia e expectativas dos
alunos como alicerce para o conteúdo programático, há coisas como o repertório que não
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pode se abrir tanto pois muitas peças são novidade para eles, é necessário também
apresentar conteúdo novo e não só trabalhar com o que é familiar.

Referências

FERNANDEZ, E. Técnica, Mecanismo y Aprendizaje: una investigación sobre como llegar a ser
guitarrista. Montevideo: Art Ediciones, 2000.

PINTO, H. Iniciação ao violão: princípios básicos e elementares para principiantes. São Paulo:
Ricordi, 1978.

TOURINHO, C. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenças, mitos, princípios e um pouco


de história. In: ENCONTRO NACIONAL DA ABEM. 16., 2007, Campo Grande. Anais… Campo
Grande: [s.n.], 2007.

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